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segunda-feira, dezembro 28, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 91

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CRISÂNTEMO
(Emicida/Dona Jacira/Felipe Vassão)

EMICIDA & DONA JACIRA

ele bebeu, bebeu
tipo vencedor
e depois riu, riu
como Bira do Jô
cumprimentou
todo mundo à la vereador
e subiu o morro estilo viatura
ele nos deu, nos deu
toda a fé de um pastor
depois sumiu, sumiu
deixando só a dor
ignorou o aviso
devagar com o andor
e flertou por sobre a vida dura

trafegou aéreo, dançou sério, pala
serpente rasteja, credo, pobre mestre-sala
cigarro no bolso, barro, Für Elise embala
no solo onde impera, qualquer bonde é vala
toma outro drink, se é o que lhe resta
toma outro drink, a vida é uma festa
viaja Amyr Klink, faz eterna sua sesta, vai
nem deu tempo pra dizer bye bye

a vida é só um detalhe (4X)
é tudo, é nada, é um jogo que mata
é uma cilada
a vida é só um detalhe (2X)

padeceu, desceu
como na seca, flor
e nóis seguiu, seguiu
juntando o que restou
uns retrato, disco
foi morar de favor
bem quando vi que o mundo é sem
calma

aconteceu, teceu
como Deus desenhou
no que surtiu, surgiu
um peito sofredor
era rato, bicho, mofo, fedor
mais saudade, que é sentir fome com a alma

e na ceia migalhas, no júri mil gralhas
não jure, quem jura mente, pra sempre, fé falha
vida, morte, números, de neguinho
aqui é cada um com a sua coroa de espinhos
qual a sua droga? TV, erva?
qual a sua droga? Solidão, cerva?
onde você se esconde? Onde se eleva, hein?
o que é seu em terra de ninguém?

e a vida é só um detalhe (4X)
é tudo, é nada, é um jogo que mata
é uma cilada
a vida é só um detalhe (2X)

"Era dia de Cosme, madrugada, chovia lá fora. De repente, alguém chama: 'Jacira, sou eu, Luiz'. Pressenti: 'Miguel morreu'. O que mais poderia ser? Além do mais, meu coração já estava apertado, prevendo desgraça. Na festa do terreiro, a certa hora, o Erê subiu. E quem desceu foi seu Sultão da Mata. Me chamou e disse: 'Pegue os meninos, vá pra casa'. Disse: 'Prepare o coração e seja forte, vá'. Levantei, abri a porta e a desgraça se confirmou. Uma briga, o tombo. O Seu Zé do Doce socorreu. Seu Zé é a representação do Estado no Jardim Fontális, talvez ainda, até hoje. Notícia pra dar, vaquinha pra enterrar. Domingo. Justo eu, que me criei sem pai. Perder o pai já é uma tragédia, perdê-lo na infância é sentir saudade. Não do que viveu, mas do que poderia ter vivido. O enterro, a volta, o olhar do menino marejando, pensando longe. Sem entender. E o meu coração apertado, sem conseguir explicar. O tempo foi encaixando tudo. Os pertences dele sempre no mesmo lugar, o velho chinelo abandonado respondem: 'Ele não vai voltar'. Os dias são escuros mesmo com sol quente. O silêncio de Miguelzinho cala, cada vez mais fundo no peito da gente. Quando o pai morre, a gente perde a mãe também. Eu já sabia o que era isso. Como pode alguém morrer no mesmo dia que nasceu?"


(Do CD "O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui", Laboratório Fantasma, 2013)




quarta-feira, dezembro 02, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 90

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TODO ENROLADO
(Edenal Rodrigues)

Noriel Vilela


Quem eu devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado
A quem devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado...

Já não acredito em mais nada
Na vida só estou dando azar
Pra frente eu só vou quando eu tropeço
Ou se alguém me empurrar

Quando eu quero bicar alguém
Dizem logo: 'Suncê já está manjado!'
A pior coisa que tem no mundo
É pedir dinheiro emprestado

Quem eu devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado
A quem devo, espera, porque eu pago!
E no momento eu estou todo enrolado...

Tô devendo a escola das crianças
O armazém que fiou bóia pra mim
A padaria da esquina
E devo também no botequim

A casa já vai para seis meses
Devo a vizinhança um bom 'cacau'
Meu apelido aonde eu moro
Passou a ser cara de pau
Mas que o meu apelido aonde eu moro
Passou a ser...

Pode deixar que eu pago, eu já disse!
Deixa comigo, eu vou pagar, mas devagar, hein!
A maré aí não tá boa ainda
Segura a conversa, depois eu conto
Viiiige!
Deixa isso pra lá...
Falô! 

(Compacto simples - Copacabana/1971)





terça-feira, novembro 17, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 89

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O QUE EU BEBI


Clarice Falcão

O que eu bebi por você
Dá pra encher um navio
E não teve barril
Que me fez esquecer

O que eu bebi por você
Nunca artista bebeu
Nem pirata bebeu
Nem ninguém vai beber

O que eu bebi por você
Quase sempre era ruim
E bem antes do fim
Eu já tava à mercê

O que eu bebi por você
Me fazia tão mal
Que já era normal
Acordar no bidê

Cada dono de boteco
E catador de lata
Agora te sorri agradecido

Se seu plano era contra o meu fígado
Meu bem, você foi bem sucedido
Parabéns pra você


(Do CD "Monomania", Casa Byington/Sony Music, 2013)





quarta-feira, outubro 14, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 88

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É CARA DE PAU
(Ednardo/Brandão)

Ednardo


É cara de pau
E você acha que eu posso fazer
Fazer mais do que eu fiz
Ajudei essa louca a viver
E ela mesma é que diz
Que quer me ver frito
Que quer me ver morto
Estendido no chão
Pus o bagulho de lado, quebrei o estrado
E toquei fogo no colchão

A gente se amarra
Aconselha os pivetes, faz até oração
Porém, chega um dia
Que se toma uma beer
E também se faz a nossa confusão
Ele não tem consciência, quer me ver andar duro
E com toda a decência
Mas em sã consciência
Qualquer malandro manja
Essa falsa inocência

É cara de pau!


(Do LP "Cauim", WEA, 1978)



terça-feira, setembro 29, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 87

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O GÁS ACABOU
(Luiz Américo - Braguinha)


LUIZ AMÉRICO


O gás acabou, tem pouca comida,
Acabou meu dinheiro
Pagamento está longe,
Ainda não pintou o décimo terceiro
As pratinhas do Zé
Que ele juntou pra comprar a chuteira
Se o vale gorar
Já dá pra inteirar a despesa da feira

E aqui estou eu
Pedindo carona pra ir trabalhar
Pensando na nega mãe dos meus moleques
Que nunca se queixa
E está sempre a cantar
Seja lá o que Deus quiser

Pobre é esse sofrimento
Recebe só vale no seu pagamento
Pobre é esse sofrimento
Recebe só vale no seu pagamento

O dia de ontem, somado ao de hoje é a mesma rotina
E pra disfarçar minha distração é o boteco da esquina
Conversa fiada, que não leva a nada só pra distrair
E a gente se cansa, depois vai pra casa jantar e dormir

E aqui estou...

(Do LP "Cartão vermelho", RCA, 1977) 




terça-feira, agosto 25, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 86

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MISERERE NOBIS

Gilberto Gil

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Já não somos como na chegada
Calados e magros, esperando o jantar
Na borda do prato se limita a janta
As espinhas do peixe de volta pro mar

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Tomara que um dia de um dia seja

Para todos e sempre a mesma cerveja
Tomara que um dia de um dia não
Para todos e sempre metade do pão

Tomara que um dia de um dia seja
Que seja de linho a toalha da mesa
Tomara que um dia de um dia não
Na mesa da gente tem banana e feijão

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Já não somos como na chegada
O sol já é claro nas águas quietas do mangue
Derramemos vinho no linho da mesa
Molhada de vinho e manchada de sangue

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Bê, rê, a - Bra
Zê, i, lê - zil
Fê, u - fu
Zê, i, lê - zil
Cê, a - ca
Nê, agá, a, o, til - ão

Ora pro nobis


(Do LP "Panis et circensis", Philips, 1968)


quarta-feira, abril 08, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 85

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LÁ SE VAI O CAMPEONATO


Domingo, chegou o grande dia
Meu time nas finais, uma tarde de alegria
No boteco, com os camaradas
A cerveja lidera a invasão da arquibancada!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

Nossa torcida cumpre seu papel
Cantamos e cantamos, nosso time lá no céu
A defesa é como uma muralha
Nosso ataque corta como uma navalha!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O jogo segue empatado
O adversário luta e por isso é respeitado
E então um pênalti é marcado
Vamos ao deliro, chacoalhamos o estádio!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

A tensão congela nossas almas
E o nosso atacante corre para a bola
O nervosismo estampado nos seus olhos
O chute muito alto e a bola vai pra fora!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O empate não é nosso resultado
Um pênalti perdido, lá se vai o campeonato!
A raiva nos toma o coração
Queremos quebrar tudo, mas beber é a opção

Olê!Olê!Olê!Olê!.....

Cantando, vamos para o bar
Lembrar as nossas glórias, a mágoa afogar
Apesar da alegria, ninguém pôde esquecer
Que o maldito campeonato, acabamos de perder!

(Do CD "Canções de batalha", gravadora TRREB, 2004)




sexta-feira, março 27, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 84

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 PRECISO DE ALGUÉM

 (Composição: Evaldo Gouveia e Fagner)


FAGNER


Quando fiquei só
Tudo ao meu redor
Foi perdendo a graça pra mim
Claro que sofri
Quase enlouqueci
Nunca me senti assim

Mas depois passou, tudo se acalmou
Foi só um momento ruim
Essas fases más, de falta de paz
De insônia e de botequim
Mas cansei de vagar, fiquei farto de bar
De perfume vulgar, cigarro e gin


Eu não tenho ninguém, mas preciso de alguém
Pra evitar o meu fim
Eu não posso ocultar o que o amor me fez
Eu não quero passar por tudo outra vez
Pra sofrer e chorar mais uma ilusão
Eu me ajeito com a solidão

Mas cansei de ficar completamente só
Essa falta de amar também já sei de cór
Só me resta esperar que a chama da paixão
Volte ao meu coração


(Do CD "Fortaleza", Som Livre, 2007)


terça-feira, março 17, 2015

Socialismo e anarquismo - para crianças

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Chiados e riscos nostálgicos na estante da sala
Ao embutir uma estante na parede da sala, e instalar, nela, um aparelho de som com toca-discos, passei uma noite inteira deleitando os ouvidos com velhos LPs, observando as artes das capas gastas pelo tempo e curtindo até os nostálgicos chiados e riscos que os CDs eliminaram. Discos bem antigos da Simone, Toquinho & Vinicius, Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Milton Nascimento, trilhas de novelas e de filmes, duplas caipiras, música brega, rockinho brasileiro dos anos 80, coletâneas de tangos e de canções italianas, música andina, blues, jazz, guarânias, mela-cueca, enfim, uma miscelânea anárquica e heterogênea que catei aqui e acolá nos últimos 20 anos. Tem até um LP do (falecido) ator Cláudio Cavalcanti, de 1971, em que ele declama poemas e canta várias canções, como "Let it Be", dos Beatles (!). A última parada foram os discos infantis, para que minha filha Liz, de 12 anos, se familiarizasse - e se divertisse (muito!) - com o manuseio dos anacrônicos vinis e do toca-discos. E conhecesse, por tabela, o som que as crianças consumiam em tempos idos: Patotinhas, Arca de Noé, Pirlimpimpim, Balão Mágico etc etc.

Capa do vinil lançado no Brasil há 38 anos
Foi aí que encontramos o LP "Os Saltimbancos", de 1977, versão brasileira do musical inspirado no conto "Os Músicos de Bremen", dos Irmãos Grimm, com letras do italiano Sergio Bardotti e músicas do argentino Luis Enríquez Bacalov. Aqui, as letras em português foram feitas por Chico Buarque, e interpretadas, no LP, por Miúcha, Nara Leão, Magro e Ruy (ambos do MPB4). Liz já tinha ouvido essas músicas, mas sem prestar muita atenção. Daí eu expliquei o caráter político do musical, com o personagem Jumento representando a classe trabalhadora, a Gata os artistas e libertários, o Barão a elite conservadora, e daí por diante. A tese central, no enredo que conta a união de quatro animais contra o jugo de seus donos, é marxista: "Todos juntos somos fortes/ Somos flecha e somos arco/ Todos nós no mesmo barco/ Não há nada pra temer" (da música "Todos juntos", sintetizando o que o velho Karl quis dizer com "Trabalhadores do mundo, uni-vos"). Mas eu mesmo nunca tinha atentado para a ousadia do Chico Buarque. Como é que isso passou pela censura da época?

Chico e sua filha Silvia, em 1977: ousadia
Na letra de "Um dia de cão", que apresenta o personagem Cachorro, a provocação aos militares é escancarada: "Lealdade eterna-na/ Não fazer baderna-na/ Entrar na caserna-na/ O rabo entre as pernas-nas". E mais: "Fidelidade à minha farda/ Sempre na guarda do seu portão/ Fidelidade à minha fome/ Sempre mordomo/ E cada vez mais cão". A zombaria (pesada) à obediência canina e nunca questionada dos militares é arrematada com a frase "Sempre estou às ordens, sim, senhor!". Por algo muito semelhante - os versos "Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão", de "Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando e cantando)" - o Geraldo Vandré tornou-se o inimigo musical nº 1 dos militares e sofreu forte perseguição. Mas as sutilezas de "Os Saltimbancos" não param por aí. Na música que apresenta a personagem Galinha, Chico Buarque ironiza (os grifos são meus): "Pois um bico a mais/ Só faz mais feliz/ A grande gaiola/ Do meu país". Hoje isso pode parecer uma bobagem sem importância, mas, naqueles tempos bicudos, isso era uma provocação pra lá de temerária. Só que, de alguma forma, passou pela censura.

Raul: anarquia para crianças (na Globo!)
Outro LP revisitado, dessa vez muito menos político, foi o "Plunct, plact, zum", trilha sonora de um especial infantil exibido pela TV Globo em 1983. Tinha no elenco os humoristas José Vasconcelos e Jô Soares, as cantoras Fafá de Belém e Maria Bethânia e os cantores/compositores Eduardo Dusek e Raul Seixas. E foi este último que, pra variar, "carimbou" ali, naquela inocente atração global para crianças, um componente político inusitado. Encarnando o "Carimbador Maluco", Raul compôs uma canção homônima que fez enorme sucesso (tirando-o de um ostracismo de três anos sem gravar) e que botou na boca das crianças - e do povo - os versos iniciais "Tem que ser selado, registrado, carimbado/ Avaliado, rotulado/  Se quiser voar!". Pois isso foi tirado simplesmente de um texto anarquista, "Ser governado", de Pierre-Joseph Proudhon, publicado em 1851 no livro "Idée générale de la révolution au XIX e siècle" ("Ideia geral de revolução no século XIX"). Diz o filósofo e político francês: "Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenceado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido". Isso mesmo: anarquia para crianças! E na Rede Globo! Grande Raul. A Liz adorou tudo isso.


segunda-feira, março 09, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 83

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O DIA QUE O DIABO ROUBOU O BAR DO PORTUGUÊS
(Arnaud Rodrigues/ Renato Piau)

ARNAUD RODRIGUES


Mil novecentos e sessenta e oito
Corria um boato de arrepiar
Contavam que um nego com um 38
Roubou 50 contos do Mané do bar

E deu no calcanhar
E deu no calcanhar

O nego foi pro morro, se escondeu num canto
Havia um pai de santo naquele lugar
O nego disfarçou e se escondeu no manto
E disse que era ogan e pôs-se a batucar

Pôs-se a batucar
Pôs-se a batucar

O dono do terreiro fez descer um santo
E começou um ponto para Iemanjá
O nego, que era ateu, já foi ficando branco
Cuspindo labareda, querendo agradar

Querendo agradar
Querendo agradar

O português custou mas chegou no recinto
O nego, vendo aquilo, disse: - Saravá!
E vendo o português com um canhão no cinto
A pólvora subiu, ele sumiu no ar

E até hoje Mané jura
Mané diz: - Foi o diabo que roubou o bar!

E até hoje Mané jura
Mané diz: - Foi o diabo que roubou o bar!


(Do LP "Som do Paulinho", RCA, 1976)



quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 82

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O ÚLTIMO TRAGO
(Marciano/Darci Rossi)


Pedro & Paulo


Às vezes um homem precisa beber
Por causa de alguém que não pode esquecer
Sozinho na casa onde já viveu bem
Não come, não dorme, não é mais ninguém

A casa vazia parece assombrada
Enxerga nas coisas a imagem de alguém

Por isto o que houve quando ela partiu
Perdi a cabeça em um mundo vulgar
De tanto sofrer, com fé aprendi
Que os pecados dela não devo pagar

Depois de algum tempo de dar cabeçada
O homem aprende a escolher sua estrada
Encontra outro alguém, recomeça a amar
Percebe que o amor é possível trocar

Reúne os boêmios no último trago
Explica a vitória e despede do bar

Por isto o que houve quando ela partiu
Perdi a cabeça em um mundo vulgar
De tanto sofrer, com fé aprendi
Que os pecados dela não devo pagar


(Do LP "Pedro e Paulo - Volume 03", Veleiros/CBS, 1981)



quinta-feira, janeiro 08, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 81

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Totalmente em prantos

(Evandro Mesquita/Ricardo Barreto)

BLITZ

Baby, andei bebendo por aí
E sei que não devia ter voltado
Mas é que eu tenho
Outra vez o coração atropelado
Me desculpe se eu te amolo
Baby, please me dê colo

Todo vestido bonitinho
E não tenho onde cair
Todo vestido bonitinho
E sem nenhum lugar pra ir

Eu tenho um fusca meia nove que fala
Tem headfone, toca-fitas no porta-mala
Eu tenho um quarto de gasolina no tanque
Várias gatas do ranking
Baby, eu tenho quase tudo que quero
Só não tenho você

Quando dei por mim
Estava perto do fim
À beira do abismo
Chorava pelos cantos
Quando dei por mim
Eu estava totalmente em prantos

Eu vi sua foto numa revista para homens
Proibida pra menores de vinte e um
Na folhinha de janeiro
Na parede do borracheiro

Eu chorei quando vi

Baby andei bebendo por aí...

Eu trouxe um vinho tinto barato
Barato mas bom me disseram
Eu tenho um pouco fumo
Que uns amigos me deram
Baby, eu tenho quase tudo que quero...

Só não tenho você

(Do LP "As aventuras da Blitz", EMI, 1982)


sexta-feira, novembro 28, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 80

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MIRA IRA (NAÇÃO MEL)
(Lula Barbosa e Vanderlei de Castro)

LULA BARBOSA, MIRIAM MIRAH, TARANCÓN e PLACA LUMINOSA


Mira num olhar
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...

Mira Ira, raça tupi,
Matas, florestas, Brasil

Mira vento, sopra continente
Nossa América servil
Mira vento, sopra continente
Nossa América servil...

Mira num olhar,
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...

Mira ouro, azul ao mar
Fonte, forte esperança
Mira sol, canção, tempestade, ilusão
Mira sol, canção, tempestade,
Ilusão...

Mira num olhar
Verso frágil tecido em fuzil
Mescla morena

Canela, CACHAÇA, bela raça, Brasil

Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira

Canela, CACHAÇA, bela
Canela, CACHAÇA, bela
Canela, CACHAÇA, bela raça, Brasil



(Do LP "Festival dos Festivais", Som Livre, 1985)




quarta-feira, novembro 19, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 79

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A MARIA COMEÇA A BEBER

(Folclore/ Adaptação: Maria Aparecida Martins)


CLEMENTINA DE JESUS


A Maria começa a beber
No domingo de manhã
A Maria começa a beber
E vai até o anoitecer

A Maria começa a beber
No domingo de manhã
A Maria começa a beber
E vai até o anoitecer

A Maria começa a beber
E vai até o anoitecer

A Maria começa a beber
E vai até o amanhecer


(Do LP "Clementina, cadê você?" - Museu da Imagem e do Som, 1970)


terça-feira, outubro 14, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 78

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GOTA DE SANGUE
(Angela Ro Ro)

ANGELA RO RO


Não tire da minha mão esse copo
Não pense em mim quando eu calo de dor
Olha meus olhos repletos de ânsia e de amor

Não se perturbe nem fique à vontade
Tira do corpo essa roupa e maldade
Venha de manso ouvir o que eu tenho a contar

Não é muito nem pouco eu diria
Não é pra rir mas nem sério seria
É só uma gota de sangue em forma verbal

Deixa eu sentir muito além do ciúme
Deixa eu beber teu perfume, embriagar...
A razão, por que não volto atrás?
Quero você mais e mais que um dia...

Não tire da minha boca esse beijo
Nunca confunda carinho e desejo
Beba comigo a gota de sangue final
Beba comigo a gota de sangue final


(Do LP "Angela Ro Ro", Polydor, 1979)


quinta-feira, setembro 11, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 77

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Candeia
VOCÊ, EU E A ORGIA
(Candeia e Martinho da Vila)

Beth Carvalho

Escute, benzinho
Você não pode me deixar
Este triângulo de amor
Não pode acabar
Não vamos nos separar
Somos versos da poesia
Você e eu, orgia...

Acredito nos versos
Por isso te peço mais compreensão
Me conheceste no samba, no meio de gente bamba
Pandeiro na mão
Quando estou vadiando
Neguinho reclama sua companhia
Você e eu, orgia

Se eu morrer na orgia
Tô certo, neguinho, que vou lá pro céu
Vou orgiar lá em cima com Silas
Com Ciro Monteiro, com Zinco e Noel
Quero morrer nos seus braços
Porque você é minha estrela da guia
Você e eu, orgia

Orgia é aquela folia
É aquela esticada pela madrugada
É um papo bom, discussão, violão
No fim de semana aquela feijoada
Cachaça é uma água mais benta
Do que a que o padre batiza na pia

Você e eu, orgia

Quem leva a mulher pro samba
É o cara que paga pra ver e confia
Você e eu, orgia
Somos a realidade
E somos a fantasia
Você e eu, orgia
Somos a Santa-Trindade, neguinho
E somos a trilogia
Você e eu, orgia
Somos um papo furado
E somos a filosofia
Você e eu, orgia
Que será, mas o que de nós será?
Você e eu, orgia
Separar, mas pra que separar?
Você e eu, orgia

(Do LP "Beth Carvalho - De pé no chão", RCA, 1978)


sexta-feira, março 28, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 76

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NA BATUCADA DA VIDA
(Ary Barroso / Luís Peixoto)

CARMEN MIRANDA

No dia em que apareci no mundo
Juntou uma porção de vagabundo da orgia
De noite teve choro e batucada
Que acabou de madrugada em grossa pancadaria

Depois do meu batismo de fumaça
Mamei um litro e meio de cachaça, bem puxado
E fui adormecer como um despacho
Deitadinha no capacho na porta dos 'Injeitados'

Cresci olhando a vida sem malícia
Quando um cabo de polícia
Despertou meu coração
Mas como eu fui pra ele muito boa
Me soltou na rua à toa
Desprezada como um cão

Agora, que eu sou mesmo da virada
E que eu não tenho nada, nada
E por Deus fui esquecida
Irei cada vez mais me 'esmulambando'
Seguirei sempre cantando na batucada da vida


(Gravação em 78 R.P.M., RCA Victor, 1934)



quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 75

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TODA BÊBADA CANTA
(Composição: Silvia Machete)

Silvia Machete

Cheguei em casa
Toda descabelada
Completamente arrependida
Do que aconteceu
Tomei cachaça
E fumei como maria fumaça
Completamente arrependida
Do que aconteceu

Não teve a menor graça
Tudo isso eu sei que passa
Mas não passou...
Eu não sou nenhuma santa
Eu não sou nenhuma santa
Eu não sou nenhuma santa
Eu não sou nenhuma santa

Cheguei em casa
Toda descabelada
Completamente arrependida
Do que aconteceu
Tomei cachaça
E fumei como maria fumaça
Completamente arrependida
Do que aconteceu

Não teve a menor graça
Tudo isso eu sei que passa
Mas não passou...
Eu não sou nenhuma santa
Eu não sou nenhuma santa
Eu não sou nenhuma santa
Eu não sou nenhuma santa

Eu não sou nenhuma santa...
Toda bêbada canta!

(Do CD 'Bomb of Love', Digipack, 2006)


quarta-feira, dezembro 18, 2013

Som na caixa, manguaça! - Volume 74

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TAMANCO MALANDRINHO

(Composição: Tom e Dito)

TOM & DITO

Vista sua mortalha azul-turquesa
Mais bonita que a beleza
Mais humana que o perdão
Calce seu tamanco malandrinho
Pintado de azul-marinho
Que é a cor da solidão
Transe,
Carnaval são só três dias
DE CACHAÇA E DE FOLIA
De alegria e emoção
Chore,
Quando chegar a terça-feira
Peito estoura de saudade
Estraçalha o coração
Que eu quero ver

Eu quero ver
Meu bloco na avenida sete
Encontrar você
Eu quero ver, eu quero ver
Na arquibancada da vida
Você se perder

Transe,
Carnaval são só três dias
DE CACHAÇA E DE FOLIA
De alegria e emoção
Chore quando chegar a terça-feira
Peito estoura de saudade

Dilacera o coração

(Do LP "Se Mandar M'imbora eu Fico" - Som Livre/1974)
* Música finalista do Festival Abertura, de 1974 , incluída no LP "Festival da Nova Música Brasileira - As Finalistas da Abertura".



quinta-feira, novembro 14, 2013

Som na caixa, manguaça! - Volume 73

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SOY LATINO AMERICANO

(Composição: Zé Rodrix)



ZÉ RODRIX

Não acordo muito cedo
Mas não fico preocupado
Muita gente me censura
E acha que eu estou errado
Deus ajuda a quem madruga
Mas dormir não é pecado
O apressado come cru
E eu como mais descansado...

Soy latino americano
E nunca me engano
E nunca me engano
Soy latino americano
E nunca me engano...

Meu caminho pro trabalho
É um pouco mais comprido
Eu vou sempre pela praia
Que é muito mais divertido
Chego sempre atrasado
Mas eu não corro perigo
Quem devia dar o exemplo
Chega atrasado comigo
E diz:...

Soy latino americano
E nunca me engano
E nunca me engano
Soy latino americano
E nunca me engano...

É legal voltar pra casa
Mas eu não volto correndo
Quem tem pressa de ir embora
No transporte vai morrendo
E eu que não me apresso nunca
PRO MEU BAR EU VOU CORRENDO
E encontro a minha turma toda
Sentada na mesa dizendo assim...

Soy latino americano
E nunca me engano
E nunca me engano
Soy latino americano
E nunca me engano...

Quando eu abro a minha porta
Muita gente está jantando
Quando eu ponho a minha mesa
Muita gente está deitando
Eu me arrumo e vou pra rua
E na rua vou achando
Muita gente que trabalha
Se divertindo e cantando
Assim:...

Soy latino americano
E nunca me engano
E nunca me engano
Soy latino americano
E nunca me engano...

(Do LP "Soy latino americano", EMI-Odeon, 1976)