Destaques

quinta-feira, junho 28, 2007

Transposição, ocupação... greve de fome

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

A transposição de águas do rio São Francisco para bacias do Nordeste Setentrional começou, com escavações no ponto de tomada de água do Eixo Leste do projeto em Cabrobó (PE) na segunda, 25.

Taí um assunto nada simples.

Na terça, 1.200 manifestantes de diversos movimentos, organizados numa Articulação pelo São Francisco, ocuparam a área na fazenda Toco Preto. Na quarta, outros 300, em caravanas, chegaram. São 1.500 acampados. É gente.

Foto: Jesus Carlos/ImagenLatina

O pescador Leleco, de Juazeiro (BA), em frente à estátua do
Nego D'Água, numa das melhores fotos do Jesus Carlos do rio


Mudas foram plantadas no local, e enterraram (com direito a sepultamento e cruz fincada) os marcos de concreto instalados pelo 2º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército.

Nesta quarta-feira, o bispo de Barra (BA), Dom Luiz Cappio, que fez greve de fome em setembro e outubro de 2005, chegou ao local. Os manifestantes prometem ficar até que o governo desista da transposição. A princípio, pacificamente, mas que é imprevisível a consequência de uma ofensiva de reintegração de posse, por exemplo.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) diz que a decisão política é irreversível, que já mandou um funcionário do Ministério para negociar – sem sucesso – e que a Advocacia Geral da União entrou com pedido de reintegração de posse na 20ª Vara Federal, de Salgueiro (PE).

Resumo feito. Um acampamento de 1.500 pessoas é considerável. Em maio, Ruben Ciqueira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), declarou que a ação pacífica de protesto era o penúltimo recurso. O último, seria a greve de fome. "Do bispo?", perguntei. "Não sei. Se o bispo for, outros vão com ele. Se não for, outros vão em seu lugar".

Vai ou racha?
Politicamente, fazer a obra é desgastante. Não fazer, neste momento, também é. Um recuo sério, uma vitória impressionante do movimento. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previa a transposição como uma das obras de infra-estrutura.

As águas seriam usadas predominantemente em loteamentos voltados para o agronegócio. As áreas atingidas seriam 12% do território do Semi-Árido brasileiro – que se estende de Minas Gerais aos nove estados do Nordeste – em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Será usada ainda para indústrias do Porto de Pecen, próximo de Fortaleza (CE) e no Rio Grande do Norte. Para chegar a todo esse aproveitamento, a estimativa é de 20 anos, já que há necessidade de intervenções de sub-canais e adutoras que capilarizem a rede.

O rio, que doa as águas, está poluído. Aos paulistanos: não é o Tietê, dá até para beber direto (não todo dia, claro, mas estou vivo, certo?). O assoreamento é grave, faltam obras de tratamento de esgoto em toda a bacia e de abastecimento em muitas cidades. Assoreamento por causa do desmatamento também está na lista. Não há previsão de quanto tempo seria necessário para a recuperação do São Francisco.

Em outras palavras: obra gigantesca com impacto inicialmente pontual relevante (empregos diretos e indiretos e movimentação da economia local), contratos milionários com empreiteiras e resultado demorado, aparentemente sem riscos de secar o rio (pelo menos logo de cara).

Ações pontuais de gestão hídrica (cisternas familiares e comunitárias, barragens subterrâneas etc.) teriam resultados mais adequados, mas implicam políticas descentralizadas e difusas. Só dá voto com muito mais trabalho.

A transposição, se sair, não impede as ações pontuais. Se não foram priorizadas até agora, não é com uma obra do tamanho dessa que vai desencadear ações difusas. Ao contrário.

É isso que me preocupa. Não resolve, mas concentra renda.

Foto: Jesus Carlos/ImagenLatina

8 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, que fotos lindas. Mal aí não comentar o texto, mas elas roubaram a atenção...

Anônimo disse...

hola.
acá nosotro estamos muy tristinhos con selección brasileña por su derota.
MEXICO 2 brazil 0
ARGENTINA 4 USA 1

la verdad nosotro estamos la esperar oportunidad de provar nuestra gran superioridad en relación la medilcre y decadiente selección brasileña.

usted brazucas y prensa brasileña va mucho ter que hablar , elogiar y nos idolatrar.

aprendan como si joga un verdadiro fútbol.

perdón la sinceridad y portuñol, más su fútbol no es más miesmo .
es la verdad un fútbol medilcre y decadiente.

baben brazucas , poden la babar mucho porque nuestra superioridad es sin de meter mucho miedo para usted.
Esteban Crustille
cordoba

Anselmo disse...

grande boludo esteban! só não digo que estavamos com saudades do pseudo argentino, pq seria mentira.

sobre as fotos, são do jesus, o mito. ele fez uma exposição delas em 2006 no centro cultural caixa econômica federal...

Glauco disse...

Quanto às ações difusas, há controvérsias. Elas são importantes e defendidas por muita gente, mas conversei com pessoas da Fundação Banco do Brasil e Petrobras (que financiam a maior parte dessas ações pontuais no Semi-Árido, junto com a ASA) que acham a questão da transposição algo que seria complementar a elas. Ou seja, uma não exclui a outra e, trabalhadas de forma conjunta, poderiam ser otimizadas. Claro que há outras questões como impactos ambientais e revitalização do rio, mas não fazer a transposição não melhoraria em nada também a situação do combalido São Francisco.
E o Jesus mandou muito bem, grandes fotos.

Nicolau disse...

É, me parece que, se a transposição não resovle o problema das pequenas propriedades, as ações locais não criam condições para um desenvolvimento econômico mais forte. As duas são necessárias. O problema, como aponta o Anselmo, é concentrar recursos e esforços em uma única alternativa. Tudo ao mesmo tempo agora.

Anselmo disse...

glauco,

não fazer a transposição não melhora o rio, de fato. o que resolve é fazer saneamento básico (ao que consta, a codevasf tá bancando o saneamento nas 101 cidades... é um começo), revegetação reduz o desbarrancamento e o assoreamento -- que só se arruma com dragagem.

claro que a transposição não é conflitante com ações difusas no mundo das idéias. o medo, insisto, é que a transposição, que não impede as ações pontuais, tampouco favoreçam que estas ações sejam priorizadas agora. Não priorizadas em relação à transposição, mas enquanto política pública.

"Não é com uma obra do tamanho dessa que vai desencadear ações difusas." quero ver verbas alocadas e liberadas pra essas ações difusas nas áreas distantes dos canais da transposição.

num universo de políticas clientelistas (que não é exclusividade do Nordeste, registre-se), imaginar que essas ações vão ganhar escala é beeeeem difícil.

Nicolau disse...

Um possível ponto positivo da transposição é levar uma série de investimentos na tal da revitalizaçao do São Francisco. Especialmente se for rolar saneamento básico nas cidades do entorno.

Andreia disse...

Olá!

Em busca de imagens em que aparecia o Nego D´Água, encontrei esta belissima tomada, que me encantou. Gostaria apenas de lembrar que o autor da estátua do Nego é Ledo Ivo, um grande artista que tem o dom de materializar lendas em lugares públicos. Acredito que ele mereça esta atenção.

Obrigada!

Andreia