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terça-feira, março 04, 2008

Divagações sobre a crise entre Colômbia, Equador e Venezuela ou Lembranças dos anos 60

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O governo colombiano de Álvaro Uribe parece estar metendo os pés pelas mãos de forma grotesca nos últimos dias. Primeiro, bombardeou parte do território do vizinho Equador em busca de acampamentos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo que uns dizem ser de guerrilha marxista outros de narcotraficantes), em clara violação da soberania do país. É como se, digamos, “inimigos internos” (para usar um termo da época da ditadura) da Argentina se escondessem no Mato Grosso e os platinos mandassem bombas no Pantanal. Acho que nós brasileiros não iríamos gostar nem um pouco.

Depois do malfeito, Uribe pediu desculpas meio acanhadas pela invasão. Com a reação de Rafael Correa, presidente do Equador, e do mandatário venezuelano Hugo Chávez, aliado próximo do governo equatoriano, que envolveu inclusive movimentação de tropas para as fronteiras e retirada de embaixadores, Uribe divulgou informações de que tanto Correa quanto Chavéz teriam acordos com as Farc, o que provaria que a Colômbia estava sendo atacada por “terroristas”. Do jeito que eu entendo, isso quer dizer que os dois são inimigos do governo colombiano, o que nos coloca num cenário de guerra.

Hoje, o vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos, disse que as Farc estavam tentando adquirir material radioativo para fabricar uma “bomba suja”. Quer dizer, o que nenhum grupo terrorista do mundo, nem a poderosa Al Qaeda, teve coragem ou recursos para fazer, lançar uma bomba atômica. E em seu próprio país! Não parece fazer muito sentido.

A Colômbia faz tempo que é ponta de lança dos interesses americanos na América do Sul. O plano de combate às drogas de Uribe é financiado com dinheiro estadunidense, segue suas orientações e prevê presença militar dos States no território. Com a chegada ao poder de vários governantes mais independentes de Washington, a proximidade deve ter aumentado. Por isso, talvez, Uribe esteja sentido-se mais a vontade para botar suas mangas de fora.

As décadas de 60 e 70, quando ocorreram intervenções das mais variadas por parte dos EUA nos países da América Latina, vêm à memória numa situação dessas. Uma operação como essa contra o Equador, aliado do segundo maior adversário dos EUA na América (Cuba ainda é o primeiro, simbolicamente, apesar da Venezuela ter muito mais bala na agulha) não tem cara de ser sem motivo, tem? As análises que eu li acham improvável que os três países cheguem à vias de fato, ou seja, uma guerra. Tomara que tenham razão.

10 comentários:

Anônimo disse...

Se Uribe está metendo os pés pelas mãos, o que dizer de Chavez e Correa aliando-se a terroristas e narcotraficantes!

Se fosse prá escolher entre os dois lados, preferia estar ao lado dos colombianos e estadunidenses.

Anônimo disse...

Uma ação dessas, em pleno ano eleitoral nos EUA em que o Bush corre o sério risco de não fazer o seu sucessor, não é de se estranhar. Os EUA, principalmente a direita americana, está doidinha pra enviar tropas à Amazônia e tomar conta de tudo. Querem uma justificativa. Pra invadir o Iraque, alegaram fabricação de armas químicas. Depois, vimos o tamanho da mentira. Agora, essa história de urânio enriquecido por guerrilheiros em plena selva... Só digo o seguinte: os narcotraficantes nunca nos ameaçaram. Já os EUA...

Anônimo disse...

A mídia “oficial”, capitaneada por Dona Miriam Leitão e outros indivíduos detestáveis, está descendo o porrete no fato do mandatário venezuelano cumprir com sua obrigação, deslocando tropas para regiões fronteiriças, no intuito de defender seu território de uma agressão colombo-ianque.
É incrível como, a exemplo do reizito fascista, que nem imagina o que é ser eleito, querem calar e desqualificar a todo custo o presidente de um país vizinho (irmão), soberano e democrático.

Anselmo disse...

Ah, o mundo de dois lados. Que fácil! Ou está do lado de Uribe-Bush ou de CHávez-Correa-Farc.

O que é louco é que o Raúl Reyes era o número 2 das Farc e o mais moderado, o mais pró-diálogo. Lembre-me do episódio da AUC, instância partidária dos guerrilheiros cujos 300 principais líderes foram assassinados, um a um, na década de 60. Mais detalhes aqui

Antes que alguém grite, não se trata de defender as Farc, até porque, não dá pra ter certeza do compromisso deles com a institucionalização ou mesmo com a negociação.

Mas toda vez em que houve um flerte com uma solução pacífica para o conflito, o outro lado mostrou que não tem muito interesse na paz negociada.

Vale lembrar que as conversações com Chávez eram apoiadas pelo governo brasileiro, argentino e francês. Tudo comunista-sujo? O premier francês Sarkozy lamentou a morte de reyes, pq era com quem o governo daquele país tinha negociado.

Então, se fosse prá escolher entre os dois lados, eu acharia um terceiro pra condenar políticas falidas de combate ao narcotráfico.

Glauco disse...

Pra ter uma idéia da recpção da atitude do Uribe, o ex-marido da Ingrig Betancourt, seqüestrada pelas Farc, classificou a morte de Reyes como "asquerosa" e diz que o presidente colombiano tinha combinado om o Sarkozy não fazer nada contra o líder, que negociava a libertação dos reféns. Homem de palavra.

Segundo o pai dos filhos da seqüestrada, Uribe tenta sabotar sempre quando se chega perto de uma solução para os reféns. Quem disse foi ele, nenhum cokmunista...

fredi disse...

Outro fato que chama a atenção. Todos foram mortos dormindo. Ou seja, não houve nenhum interesse em capturar e julgar, a idéia era matar.

Pode-se argumentar que terroristas, se tivessem chance, também matariam. Essa é a questão, o Estado democrático de direito pode se igualar a terroristas?

Outra questão: imagine Chavez invadindo o território brasileiro para caçar os golpistas, matando todos no território nacional?

O que nossa direita pediria? No mínimo que bombardeássemos Caracas. É só lembrar a negociação do Brasil com a Bolívia pelo gás, Lula era acusado de frouxo por negociar...

Ah, mas direito internacional, soberania etc. só vale quando é a favor dos aliados dos EUA. É isso?

Anônimo disse...

Ah, o mundo ser uma surreal moeda de três lados... Que fácil!

Anônimo disse...

Guerra é guerra, não é mesmo?

As Farc não se dizem "força insurgente"? Não pegaram em armas prá fazer "revolução", sequestrar gente, torturar e matar?

É o preço a pagar...

Nicolau disse...

Mue comentário cresceu, cresceu e acabou virando outro post (http://www.futepoca.com.br/2008/03/eua-x-terroristas-escolham-bem-seus.html). Que prossiga o debate.

Marcão disse...

Curioso é que, ao entrevistar o Zé Dirceu, no início de dezembro, ele frisou que o Brasil deveria voltar todas as suas atenções, no campo econômico, para a Colômbia. Disse que o país tem o melhor mercado consumidor potencial e que atraí-lo para o Mercosul seria a melhor forma de consolidar um bloco coeso na América do Sul. Dois meses e meio depois, porém...