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quarta-feira, março 05, 2008

EUA x "Terroristas": Escolham bem seus medos

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A manchete da Folha de S. Paulo de hoje (aqui, para assinantes) traz George W. Bush declarando seu esperado apoio à Colômbia na crise que ela mesma criou e criticando o que chama de "provocações" de Hugo Chávez. Apoio esperado por dois motivos. Primeiro, porque os Estados Unidos são os grandes financiadores de Uribe na luta contra a guerrilha. De acordo com o próprio jornal, já foram US$ 4 bilhões nos últimos quatro anos para combater "o narcotráfico e a guerrilha" (até a Folha separa as duas coisas).

O outro motivo é mais amplo. Os EUA nunca viram problema nenhum em invadir e bombardear o territóro alheio, desde que isso sirva a seus propósitos. Foi assim recentemente no Iraque, onde a ocupação atroplelou proposições de todos os organismos multilaterais. Foi assim na Nicarágua, no Panamá, no Afeganistão e quase foi em Cuba, no mal sucedido episódio da Baía dos Porcos.

Lutam contra a ditadura no Iraque, mas vendem (e compram) tudo o que podem para a China. Criticam o "atraso" no Afeganistão, nos apavorando com burcas, e abraçam com ardor o petróleo da Arábia Saudita, ditadura sangrenta onde as mulheres (mesmo estrangeiras em visita) não podem dirigir, ocupar cargos importantes ou andar na rua com a cabeça descoberta (mais detalhes em reportagem da revista Fórum). Ameaçam o Irã (que é muito mais liberal em termos de costumes) por pretender possuir bombas nucleares, mas guardam muito bem as suas além de entopir Israel com tudo que podem. Atacam as prisões polítcas de Cuba e torturam prisioneiros em Guantánamo, rasgando códigos e convenções internacionais de guerra.

Tem uma galera aí contra o "terrorismo" das Farc, ou seja lá o que for. Não foi nenhum grupo guerrilheiro que apoiou o golpe militar no Brasil, nem na Argentina, nem no Chile, onde o presidente foi assassinado na sede do governo (por aqui, alguns devem se lembrar – meu pai certamente se lembra –, terroristas e subversivos eram os termos utilizados pela ditadura militar para desiginar quem lutava contra ela, pela democracia). Também não foi nenhum grupo guerrilheiro que colocou Saddam Hussein no poder para tirá-lo anos depois, nem que financiou o Taleban e Osama Bin Laden contra os soviéticos para transformá-los mais tarde na encaração das hordas do inferno.

Hoje, da mesma foram que bancam a guerra interna de Uribe (e bancarão um conflito regional também), bancam o massacre (não há outra palavra) que Israel promove contra o povo palestino, classificado coletivamente como "terrorista".

Os Estados Unidos foram e são o maior fomentador de guerras e massacres nesse mundo, não se enganem. Consideram um direito (e de seus aliados) fazer o que quiserem, do jeito que quiserem, onde quiserem. Atropelam soberanias nacionais, direitos humanos, convenções internacionais, democracia e o que quer que esteja em seu caminho. Cuidado com seus medos.

13 comentários:

Glauco disse...

Cuidado que você vai acabar sendo acusado de comunista.

Anônimo disse...

Alguns clichês e um quê sofista podem, realmente, levar alguns a acusá-lo de comunista.

Uribe, Correa e Chávez são faces da mesma moeda, além de péssimos vizinhos.

Nicolau disse...

Não sou comunista, mas não acho que isso seja acusação, pelo menos não em regimes democráticos. Sobre clichês e sofismas, Antonius, a bem do debate, peço que os identifique.

Olavo Soares disse...

Incoerências americanas à parte, as Farc são, sim, terroristas e precisam ser dizimadas do mapa. Não é porque quem as combate é sujo também que elas passam a ser mais limpas.

maurício disse...

É Antonius, você foi muito lacônico. Solta o verbo aí pra gente poder debater.
Pois pra mim dizer que Carrea, Uribe e Chaves são "faces da mesma moeda" (a parte essa moeda de três faces, que deve ter vindo da China. é um sofisma daqueles brabos, que só servem a conservadores que não querem ou não podem enxergar o papel que cada uma dessas figuras vem tendo no encaminhamento da política internacional americana e mundial.

maurício disse...

Aliás, Olavo, cuidado.
Eliminar toda a complexidade de um movimento como as Farc sob o rótulo de "terroristas" é meio caminho pro fascismo, seja lá com que cores. Lembre-se também que, quando as Farc criaram um partido político e passaram a disputar eleições, foram de fato dizimados, num dos maiores massacres de que se tem notícia. É compreensível que escolham o caminho das armas, mesmo que eu não acredite que isso resolva qualquer coisa. O caminho, a meu ver, é radicalizar a paz, mas para isso é primeiro necessário eliminar do mapa concepções simplistas de coisas que envolvem seres humanos, e seus conflitos.

Nicolau disse...

Olavo, eu não estava necessariamente defendendo as Farc, apesar de naõ ter certeza sobre seu papel na Colômbia. Mas mesmo que se considere que se trata de uma organização terrorista que deva ser dizimada, esse fim justifica qualquer meio? A Al Qaeda é uma organização terrorista e das bravas. Mas deve ter matado pelo mundo muito menos que os EUA só na guerra do Iraque. E essas "incoerências" dos EUA custam vidas e mais vidas, sem falar no desenvolvimento de países, como o nosso, ainda hoje vítima do monte de merdas que sairam da ditadura bancada pelos States. Que Uribe combata as Farc, mas que não invada o território de outros países.

Nicolau disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcão disse...

C O M U N I S T A !!!

Anônimo disse...

Maurício e Nicolau, as Farc sequestram pessoas e tal, vocês sabem disso. O fato dos EUA serem filhos da puta - o que é tão óbvio e não precisa de discussão - não tira a culpa das Farc. São terroristas e pronto.

maurício disse...

Devo entender que a conseqüência lógica do "são terroristas e pronto" é que "devem ser dizimadas do mapa". De fato, atualmente, nestes tempos de extrema pobreza no debate de idéias e de inacreditável obscurantismo, chama-se de terrorista aqueles que se deseja eliminar do mapa. Acho estranho que você, Olavo, queira eliminar particularmente as Farc do mapa, deixando os EUA num genérico "filhos-da-puta".
Não estou defendendo Farcs, porque na realidade acho que esse tema (não a defesa das Farc, mas o terrorismo) deve ser matéria pra aprofundar em outro post, pra não ficar nesse lugar comum reaça.
O que acho absolutamente espantoso é que se defenda tão sem pudores a morte de gente que está lutando por seus ideais, num país cuja história conturbada merece um mínimo de respeito para que se compreenda de que se trata.
Cada vez é mais fácil acusar de terrorismo e desejar a morte, e não é de qualquer um, é de certos grupos. Acho isso grave.

Olavo Soares disse...

A partir de um comentário você já fez toda uma constatação do meu juízo, da minha pessoa, do meu caráter. Sensacional.

Eu não tenho essa profundidade toda de raciocínio, lamento. Daqui, do alto da minha mediocridade, só leio as notícias e com base nelas faço meus juízos.

E o que leio das Farc são que elas sequestram, roubam, matam, etc.. Eu não consigo aprovar isso. E, sim, as qualifico como um grupo terrorista.

Daí pra frente é com você.

maurício disse...

Pois é, a coisa fica no não aprovar e achar justo se as mais de 50 mil pessoas que compõem as Farc sejam dizimadas. Afinal, são terroristas, logo menos humanos. Esta frase final acrescento eu, mas é o que eu deduzo.
O que eu estou procurando chamar a atenção, Olavo, se você não tratar isso como ofensa pessoal, é para o fato de que chamar alguém ou algum grupo de terrorista é normalmente adquirir carta branca para cometer as maiores atrocidades, os maiores crimes contra a humanidade.
O exemplo das Farc é notório. Repito, quando declararam um cessar fogo, nos anos 80, e buscaram a via eleitoral constituindo um partido, cerca de 1300 membros foram assassinados. Resultado: voltaram às armas.
O que não se pode ignorar, mesmo condenando as práticas do grupo guerrilheiro, é que muito daquilo pelo qual lutam é justo. O Estado colombiano está longe de ser democrático, está todo corrompido e infiltrado pelo narcotráfico. O famigerado, belicista e fracassado Plano Colômbia precisa de narcotraficantes e terroristas para se justificar, quando na realidade ele é responsável por grande parte do terror que vigora por ali.
O assunto vai longe, mas eu acho sinceramente que esse tipo de julgamento "simprão" só alimenta aqueles que, na realidade, só têm a ganhar com o terror que se alastra pelo nosso mundo. E as Farc, até onde vai meu conhecimento, bem que gostariam que houvesse paz na Colômbia. Não parece ser o caso de Uribe, nem dos EUA que declararam apoio à invasão do território equatoriano pela Colômbia e que vê em Hugo Chávez o maior dos perigos. Praticamente um terrorista.