Destaques

segunda-feira, novembro 08, 2010

Atlético-MG e Santos, Dorival e a reflexão tardia

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O empate em 2 a 2 do Santos com o Atlético-MG traz algumas reflexões. Como a disputa pelo título já havia sido praticamente sepultada após o empate como Vitória no meio de semana, restava ao Peixe fazer uma apresentação digna diante do ameaçado Galo. Garra e determinação não sobraram ao Santos (nem ao Atlético), mas faltou algo que sobrava ao time no primeiro semestre: a volúpia de ir à frente.

Claro que a comparação pura e simples com aquele time pode ser cruel, pois hoje o Alvinegro não conta com Wesley, André, Robinho e o contundido Paulo Henrique Ganso. Mas, mesmo quando jogava com o time misto ou quase todo reserva, a vontade ofensiva se fazia presente no Santos de alguns meses atrás, muito por conta da forma de jogar proposta por Dorival Junior. Na partida em Sete Lagoas, Marcelo Martelotte tinha seis jogadores fora de combate, mas tinha Alan Patrick como opção para o meio. Preferiu atuar com três volantes, estreando Possebom junto às entradas de Rodriguinho e Adriano.

Diante da escalação santista, só restava ao Atlético-MG fazer o óbvio: pressionar a saída de bola peixeira. Conseguiu se manter boa parte do jogo no campo santista, mas sofreu o primeiro gol em jogada individual de Neymar. Mesmo sem criar grandes chances, ainda que dominando as ações, a equipe mineira chegou ao empate com Diego Tardelli.


O espaço entre o gol santista e o do empate foi simbólico. Um time pressionava e o outro se defendia, sem conseguir acionar os rápidos contra-ataques que caracterizaram a equipe há alguns meses. Isso em função não apenas da escalação defensiva do técnico, mas também da falta de mobilidade de Marquinhos, que, sem a companhia de Ganso para dividir a armação, não mostrou desde a contusão do parceiro condições de exercer essa função sozinho. Fez mais uma partida pífia e sua substituição por Alan Patrick na segunda etapa foi mais que tardia.

Na segunda etapa, a virada merecida fez com que finalmente o comandante santista alterasse o time. Além de Patrick, Marcel também entrou na equipe e o esquema com três volantes se desfez. O time chegou ao empate com Neymar novamente, em uma falha do goleiro, assim como no segundo gol do Galo. Uma chance ou outra de definir o jogo de cada lado, mas o empate permaneceu ao final. Justo pelas condições técnicas apresentadas por cada um, injusto pela maior vontade de vencer do Atlético-MG. Mas só vontade não ganha jogo.

*****

Foco de toda a mídia antes da partida começar, o abraço de Neymar e Dorival Junior é menos relevante do que o fato de todos os atletas santistas terem ido abraçar o ex-treinador. Fica a impressão de que não havia desgaste (além do natural) entre o comandante campeão paulista e da Copa do Brasil com o elenco. Sua demissão de fato se deu em função de um episódio que se desdobrou em vários. À quebra de hierarquia de Neymar, se sucedeu a quebra de hierarquia de Dorival, querendo punir o atelta mais do que o acertado com a diretoria. E a direção santista, assim como o ex-técnico, exagerou na punição.

Tal desprendimento dos diretores à época poderia ter mais de uma leitura, como a de que o Alvinegro tinha um técnico em vista e não queria seguir com Dorival em 2011. No entanto, a manutenção de Martelotte no cargo deixou evidente também que a diretoria do Santos tinha desistido do Brasileiro. Ou que fez a aposta de que um interino poderia dar novo gás à equipe, a exemplo do que aconteceu com o Flamengo em 2009. Contudo, a principal diferença é que aquele Flamengo era um time de cobras criadas, enquanto o Santos tem muitos garotos que não podem prescindir de um treinador com alguma tarimba.


O resultado é que, mesmo com as séries ruins de Fluminense e Corinthians, o interino santista conseguiu a medíocre marca de 39,4% de aproveitamento em 11 rodadas, índice semelhante ao do Flamengo. Dorival, mesmo assumindo um time arrasado pelo “gênio” Vanderlei Luxemburgo e pelas contratações da diretoria mineira, conseguiu até agora 50% dos pontos disputados (contra 29,8% do hoje treinador flamenguista), o que deu alento para uma equipe antes quase fadada ao rebaixamento.

Aliás, é a segunda vez seguida que Dorival tenta consertar a "obra” de Luxemburgo. No Santos do "gênio", Neymar era mais reserva do que titular, Ganso não tinha a confiança de Luxa, André mal sentava no banco de reservas e muitos na Vila não queriam a volta de Wesley, emprestado a pedido do ex-treinador. A equipe de Luxemburgo também era montada vez e outra com três volantes, assim como a que enfrentou o Atlético-MG. Por isso, a equipe que jogou contra o Galo lembra mais (em números e no jeito) o time do “profexô” do que o do primeiro semestre. Sem vontade ofensiva e igualmente sem padrão de jogo. Espera-se um técnico para 2011.

sábado, novembro 06, 2010

Uma ideia para Aécio

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O Aécio Neves está falando aos jornais em refundar o PSDB, para que o partido “recupere o seu sentido”. Eu não estou entendendo mais nada. Mas não foi o PSDB que saiu fortalecido dessas eleições? O partido que perdeu mas levou? Que governará a maior parcela de eleitores? Não foi o PSDB que inspirou, com seu candidato e segundo o próprio, a formação de uma “trincheira pela liberdade e pela democracia”? Por que refundar o que está dando tão certo?

Pois eu achei que isso era a coisa mais surpreendente que eu poderia ler na manhã de hoje. Mas não, imaginem. Quem conduziria esse processo? Notáveis do partido. Quem seriam esses notáveis, FHC? Sim, claro, FHC, juntamente com José Serra e Tasso Jereissati. Depois de me benzer, tentei entender o que é que está passando na cabeça do Aécio. Afinal, por que chamar para recriar as bases de um partido esse trio que, além de aposentado pelas urnas, consegue ser a reunião das figuras mais desagregadoras de que já ouvi falar?

Foi essa foto mesmo, dos sem-Serra, que eu não aguento mais a cara do cidadão

Aécio é um cara bacana, deve estar preocupado em arrumar assunto para os amigos veteranos, agora desocupados. Eu tenho uma ideia melhor, Aécio: chama mais um - por exemplo, o Caetano Veloso ou o Hélio Bicudo - e arma uma caxeta, buraco, truco, dominó, porrinha...

sexta-feira, novembro 05, 2010

Globo News, previdência e a pauta do governo Dilma

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A entrevista da GloboNews com a professora Lena Lavinas, da UFRJ, cumpre duas funções. Primeiro, mostra como a grande mídia está tentando novamente influenciar a agenda do governo eleito, inserindo uma pauta conservadora no debate, apesar da clara mensagem das urnas em favor de políticas de combate à desigualdade. Aqui, cabe lembrar que o pessoal de esquerda (também conhecido como "nóis") precisa cumprir o mesmo papel e puxar o governo para a pauta que nos interessa, especialmente uma ação mais forte no combate à desigualdade.

Aliás, já que a presidenta está falando em reforma tributária, que o debate passe pela introdução de maior progressividade nos impostos, diminuindo a carga sobre os mais pobres (e a classe média deve se beneficiar aqui, creio, do alto de minha ignorância tributária) e aumentando sobre os mais ricos. Se houver conhecedores do tema entre os leitores, por favor, contribuam.

A segunda razão para ver o vídeo é dar destaque mais uma vez à absoluta contradição entre a chamada "Dilma terá que lidar com rombo milionário na previdência" e a argumentação da professora, que nega desde o início a existência do tal rombo. Nesse ponto, destaque para o baile que as jornalistas globais levam de Lavinas, que dá uma verdadeira aula sobre previdência e seguridade social.

A terceira razão é a supracitada aula sobre um tema dos mais importantes para quem acredita na construção e consolidação de um aparato de proteção social no Brasil. Não consegui achar um jeito de reproduzir o vídeo direto aqui, por isso vai o link:

http://globonews.globo.com/videos/v/dilma-tera-que-lidar-com-rombo-bilionario-na-previdencia/1366939/

Coerência

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O acirramento desmedido da oposição no processo eleitoral traz frutos amargos para o país após o encerramento do pleito. A aliança feita por José Serra e sua campanha com os setores mais reacionários deu fôlego para manifestações preconceituosas de um pessoal que já vinha colocando as asinhas de fora antes. Agora, então, aguenta.

A nova pedra de toque do discurso reaça é “culpar” o Nordeste pela eleição de Dilma Roussef. Os nordestinos seriam ignorantes e comprados, vagabundos que inventam filhos para ganhar o dinheiro do “Bolsa 171” pago pelo governo federal às custas dos impostos de São Paulo. Sim, é uma galerinha de São Paulo que tem difundido com mais energia esse tipo de idiotice preconceituosa.

A proposta é separatista e, em alguns casos, clama por assassinatos. São Paulo e o “sul maravilha” se separariam e viveriam felizes para sempre longe do atraso do Norte e do Nordeste. Não sei bem onde ficariam Minas e Rio de Janeiro, onde Dilma deu uma bela surra no tucano, mas também não dá pra cobrar muito poder de análise desse pessoal.

Porém, serei ousado e cobrarei outra coisa: coerência. Pois se o Nordeste é todo uma porcaria, cheio de imbecis manipuláveis, nada que venha de lá deve ser bom.

Assim, os valorosos militantes destas horrorosas ideias deveriam repudiar os shows e CDs de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Raul Seixas, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Chiclete com Banana, Dorival Caymmi, Zé Ramalho, Jorge Mautner, Luiz Gonzaga, Chico Science e Nação Zumbi e muitos outros. Aliás, nada de forró (universitário ou não), axé, coco, maracatu, embolada, frevo. E não esqueçamos das micaretas e trios elétricos.

Na mesma linha, é dever cívico pra essa galera repudiar o carnaval em Salvador, Recife, Olinda e qualquer outra cidade nordestina. Aliás, é de suma importância deixar de lado as férias em Porto de Galinhas, Natal, Fernando de Noronha, Lençóis Maranhenses e outros cantos dessa terra esquecida por Deus.

Deveriam também banir das bibliotecas a literatura de Jorge Amado, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Ariano Suassuna, Gonçalves Dias, Manuel Bandeira e uma cacetada de outros escritores dispensáveis, demonstrando com clareza a falta de cultura da região.

Cabe também ignorar os trabalhos de Paulo Freire na pedagogia, Josué de Castro na sociologia, Celso Furtado na economia. E deixar de lado ainda o trabalho do neurocientista Miguel Nicolelis, paulista de nascimento mas que escolheu instalar em Natal seu Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, referência mundial em estudos na área. Um traidor como esses deve certamente ser desconsiderado.

(Atualizado às 15h do dia 5/11)

quinta-feira, novembro 04, 2010

São Paulo ajuda - e enfrenta - o Corinthians

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Provando que, seja lá por que raio de motivo, sempre joga bem contra o Cruzeiro, o São Paulo venceu ontem por 2 a 0, em Uberlândia, e ajudou o Corinthians a ultapassar os mineiros e a assumir a vice-liderança, só um ponto atrás do Fluminense. O que dá contornos de decisão de campeonato para o clássico do próximo domingo, que reunirá justamente os dois rivais paulistas. Se o São Paulo vencer, praticamente elimina as chances do Corinthians. Caso contrário, na minha humilde opinião, ninguém conseguirá evitar que a taça vá para o Parque São Jorge.

Sobre ontem, duas observações: o Cruzeiro poderia ter matado o jogo caso tivesse um centroavante mais eficiente do que o ex-palmeirense Robert, além de a equipe demostrar ser muito "Montillo-dependente", algo semelhante ao que ocorre com o Conca no Fluminense (quando esses gringos não estão inspirados, seus times não vão bem); já o São Paulo venceu num lance de inspiração individual do instável Lucas (foto de Rubens Chiri/SPFC), auxiliado pelo sempre útil Dagoberto. O pênalti em Ricardo Oliveira, convertido por Rogério Ceni, não existiu. Foi fora da área e nem falta foi, ele se jogou.

Para o domingo, espero um jogo digno do último confronto entre São Paulo e Santos. Acho que as equipes vão para o ataque com tudo no Morumbi, pois empate é ruim para os dois. E nessas circunstâncias, e sendo um clássico, é impossível prever resultado. Caindo na vala comum, quem errar menos define a fatura. Espero que Ricardo Oliveira esteja num dia mais inspirado. Porque do outro lado o adversário é muito forte e, inegavelmente, Bruno César é o nome do campeonato. Jogador espetacular. E pensar que disputou a Copinha pelo São Paulo, em 2009, e foi dispensado. Ah, Juvenal, ah, Juvenal...

A saudação dos canalhas

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Relendo a saga "O tempo e o vento", de Érico Veríssimo (uma edição do Círculo do Livro, de 1982), atentei para uma fala do personagem Rodrigo Terra Cambará, bisneto de "um certo capitão Rodrigo" e que torna-se um político corrupto da "côrte gaúcha" no primeiro governo de Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945. Quando o presidente é deposto, ele volta às pressas para a imaginária cidade de Santa Fé, onde convalesce de um ataque cardíaco. Uma de suas amantes, Sônia, está hospedada num hotel e o político canalha pede ao amigo e alcoviteiro Neco que leve um bilhete dele para ela (o grifo é nosso):

Dobrou o papel, meteu-o num envelope e, sorrindo, entregou-o ao barbeiro:
- Capitão Neco, aqui está a mensagem. Veja se consegue passar as linhas inimigas... Se for preso, engula a carta. Viva o Brasil!


E eis que, para minha surpresa, o discurso do candidato José Serra, do PSDB (foto), após a confirmação de sua derrota nas eleições de 31 de outubro, terminou da seguinte forma (com novo grifo nosso):

- Por isso a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua. Viva o Brasil!

Coincidência?

'É preciso criar o Partido dos Trabalhadores'

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Viciado em biografias, resolvi esta semana arriscar o "Nem vem que não tem - A vida e o veneno de Wilson Simonal", de Ricardo Alexandre (Editora Globo, 2009). E não me arrependi. Além de extremamente bem escrito e econômico, com uma pesquisa de dez anos muito completa, o livro cumpre até o fim o papel de esmiuçar a maior tragédia na vida do cantor, compositor, apresentador e showman Simonal: o nebuloso episódio em que teria mandado dois amigos seus, agentes do DOPS (um dos principais órgãos de repressão e tortura da ditadura militar), espancar e torturar um de seus ex-funcionários para que ele confessasse que desviava dinheiro. Pior de tudo é que, quando a vítima resolveu registrar a ocorrência em uma delegacia e a bomba estourou na imprensa, em agosto de 1971, Simonal achou que limparia a barra se acusasse o ex-funcionário de terrorista, em declaração oficial firmada no próprio DOPS. E nesse documento, inacreditavelmente, o artista assinou embaixo do seguinte texto:

"(...) QUE O DECLARANTE aqui comparece visto a confiança que deposita nos policiais aqui lotados e visto aqui cooperar com informações que levaram esta seção a desbaratar por diversas vezes movimentos subterrâneos subersivos no meio artístico; QUE O DECLARANTE quando da revolução de Março de Mil Novecentos e Setenta, digo Sessenta e Quatro aqui esteve oferecendo seus préstimos ao Inspetor José Pereira de Vasconcellos;"

Foi o suficiente para que Simonal fosse taxado para todo o sempre como o maior dedo-duro e informante da ditadura, o que arruinou sua (brilhante) carreira e, de maior astro nacional no final da década de 1960, campeão absoluto de venda de discos e de audiência televisiva, maior até do que Roberto Carlos e Elis Regina naquela época, único capaz de comandar um côro de 30 mil pessoas no Maracanazinho, de lançar discos nos EUA, Itália, Argentina, de dividir o palco com Sarah Vaughan e de representar oficialmente o país na Copa do México, com um prestígio igual ao de Pelé (foto acima), depois da pecha de dedo-duro, chegou a ser preso e foi banido do cenário artístico e isolado totalmente da TV e dos grandes centros urbanos entre 1975 e 1992, período em que mergulhou na depressão e no alcoolismo.

O livro procura mostrar que, de fato, Simonal tinha amigos no DOPS, policiais que costumavam fazer bicos de segurança para vários artistas. O famigerado Sérgio Paranhos Fleury, um dos torturadores mais notórios, chefiou a segurança dos artistas na TV Record e era chamado por Roberto Carlos de "Tio Sérgio". Simonal teria se aproximado de Mário Borges - policial acusado da tortura e morte de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel, e acusado em mais nove processos semelhantes daquele período - ao ser chamado ao DOPS, em 1969, para explicar a presença de uma bandeira da então União Soviética no cenário do show "De Cabral a Simonal". Depois disso, Borges e outros asseclas passaram a fazer bicos para o cantor/compositor. Nada leva a crer que, de fato, ele fosse informante do órgão repressor.

Mas o poder que obteve e a suprema arrogância de achar que, naquele momento, podia fazer o que bem entendesse, o levou a usar policiais para "dar uma prensa" num ex-funcionário, dentro de um órgão público, e, pior de tudo, achou que se mentisse declarando que era "ajudante" do DOPS, o governo militar livraria sua cara. Foi o beijo da morte. Longe de querer inocentar Simonal, o autor do livro condena essas suas atitudes mas pondera que, junto com a fama de "dedo-duro", o "linchamento" público do artista também foi impulsionado pelo seu poder, sua arrogância, como se dissessem "tá na hora de acabar com esse negro insolente de uma vez por todas". A classe artística se esqueceu que ele teve a coragem de se solidarizar, em seu programa de TV, ao vivo, com os atores da peça de teatro "Roda Viva", espancados em 1968. Só se lembraram de suas músicas ufanistas, "Brasil, eu fico", "País tropical" etc (todas de autoria do "bonzinho" Jorge Ben). Mário Borges, o torturador, foi inocentado. Simonal escapou da cadeia, mas "morreu em vida".

Curioso é que, sem entender muito de política e sempre querendo evitar se envolver com isso, o ex-favelado Simonal declararia, em 1979, um ano antes de Luiz Inácio Lula da Silva comandar a fundação do PT:

"O MDB e a Arena são uma farsa, é preciso criar o Partido dos Trabalhadores."

Mas aí ninguém mais lembrava que ele existia. Há um documentário que foi lançado ao mesmo tempo que o livro, "Ninguém sabe o duro que eu dei". Achei um trailler, em que até o Pelé dá seu pitaco:

Pensamentos esparsos sobre Lula, Dilma, FHC e a oposição autofágica

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Lembro bem, quando Lula venceu a eleição de 2002, a primeira ação orquestrada da mídia foi tratar de “separá-lo" do PT. Isso se intensificou quando iniciou o governo com nomeações (como o Henrique Meireles) e medidas econômicas tidas como "ortodoxas", elogiadas como a continuidade de FHC – o que mostrou ser de grande prudência, já que uma mudança drástica fatalmente teria consequências indesejadas –, e ao mesmo tempo se falava em "radicais do partido" sempre desenhados como monstros rapinosos. O que se desenhou o tempo todo no discurso (e ainda permanece) foi que Lula estava acertando por continuar FHC e que isso acontecia contra a vontade de seus correligionários. A mídia, assim como a oposição, permaneceu cega quanto a todas as novidades que foram introduzidas, e acredito que haja aí uma boa dose de ilusão.

Nos tempos de FHC, aprendemos a acompanhar de perto a tal da "taxa de juros", que seria o grande instrumento do Estado para interferir na economia. Acho que muita gente chegou a acreditar (e ainda acredita) que o tal do tripé câmbio livre (praticado apenas no segundo mandato de FHC, diga-se), meta de inflação e superávit primário resuma o que o Estado pode fazer para interferir na economia. Talvez no mundo do Estado mínimo, desejado pelos tucanos, isso até seja de algum modo verdade. Não quero aqui desconsiderar que os grandes economistas tucanos ignorem a importância de outros fatores, mas é fato que a discussão ficava enrolada em torno desse ponto.

Também não há dúvida de que hoje a discussão está muito mais rica. Fala-se em infraestrutura, em microcrédito, em ampliação do mercado interno (vamos nos lembrar que foi Lula que fez os empresários brasileiros a aprenderem a lidar com a classe C e D, que passou a consumir) com o aumento do poder de compra dos salários mais baixos. Outra coisa que muitos não percebem: não creio que Lula seja contra privatizações "por princípio", mas sim porque quando o Estado não participa de igual para igual nas disputas no mercado os consumidores ficam à mercê de interesses privados (que naturalmente é o interesse das empresas). O Estado perde poder de pressão. Mas Lula mostrou, com a Vale, que o Estado deve defender seus interesses enquanto "sócio" que é da empresa (embora isso seja tratado como ingerência por muita gente).

Li isso por esses dias (não me lembro onde, que me perdoe a fonte não citada aqui). Enquanto FHC injetou dinheiro na economia pelo topo, por meio das privatizações, Lula injetou pela base, com microcrédito e aumento da renda das classes mais pobres. Por isso a política de FHC era essencialmente excludente (e o desemprego e as perdas salariais eram vistas como "o preço a se pagar pelo desenvolvimento") e a de Lula, essencialmente inclusiva. E mais segura, porque pulverizada, não concentrada.

O Bolsa Família, na verdade, embora importante, não é o grande diferencial. Dilma (e Serra também, vejam só) fala sempre nele porque sabe que é um programa que pegou, tem um potencial marqueteiro forte. Mas ela sabe muito bem que o principal está em outra parte.

Agora, com a vitória de Dilma, estão tentando consolidar o entendimento de que ela ganhou roubado, porque quem moveu as peças foi o Lula, que agiu "ilegalmente", já que "um chefe de Estado" não pode ser líder de partido. Obviamente, um dos requisitos normais de um chefe de Estado é que ele seja líder de partido. Mas o que espanta é que essa ilegalidade só existe na cabeça deles. É tão disparatado isso que me vejo obrigado a imaginar a situação de um presidente disputando reeleição sem poder fazer campanha para si mesmo, já que o hábito de chefe de Estado não permite. Ouvi de um tucano ainda que "o FHC não fez isso" quando Serra disputou pela primeira vez a presidência. Não custa lembrar que nas três últimas campanhas presidenciais, FHC foi escondido pelo "seu" candidato, já que suas aparições sempre resultaram em perda de votos por parte daqueles em cuja defesa ele vem.

Além disso, todos os olhos gordos agora estarão sobre Dilma, a tentar capturar cada um de seus deslizes, cada ameaça de titubeio que será anunciada como fraqueza e incapacidade. Não faltará veneno a cada dia. Tentarão desrespeitar Dilma, como o fizeram tantas vezes com o "presidente analfabeto". E se qualquer líder político trombar com a Dilma, isso poderá ser eventualmente ignorado, mas cada gesto do Lula será interpretado como uma mensagem para Dilma, que sem ele não saberia o que fazer. Mais ou menos como um jogo de truco político.

Acabou a eleição, mas a campanha apenas começou, alertou o vampiresco Serra. Vem mais chumbo por aí, podemos esperar, e darão todo o espaço que Serra desejar para falar (já dão para o FHC, imagine para alguém não senil...).

Enquanto isso, fecham os olhos para o fato de que a oposição (anunciada como a grande vitoriosa dessas eleições, tipo "perdeu mas levou") está se devorando a si mesma. Serra já tenta matar o Aécio, que não é bobo mas não terá tanta bala na agulha quanto dizem. Serra também não terá tanto apoio assim de Alckmin, que não vai esquecer as rasteiras que levou do colega careca; ao contrário, o opus dei vai reduzir o serrismo em São Paulo ao "mínimo indispensável". FHC dá show de declarações non-sense, e mostra justamente a desunião do partido. Sergio Guerra e Eduardo Jorge fatalmente se enrolarão nos desdobramentos do escândalo do Arruda. "Líderes" outrora importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes foram excluídos da cena principal. O Kassab já fala em sair do DEM, que agoniza.

Há que trabalhar muito agora, pois ganhar espaço nas eleições municipais de 2012 será mais um passo importante para o gradual desaparecimento do DEM. Enquanto isso, estarão em estado de "vale tudo", em desesperto pela sobrevivência, apegados a um passado que não existe mais, mas que insiste em assombrar-nos.

Mais uma boa rodada pro Timão

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Eita rodadinha boa, esta! O São Paulo ajudou vencendo bem o Cruzeiro, e o Flu empatou com o Inter. O Timão, com a bela vitória por quatro gols sobre o Avaí, embolou mais a disputa com os dois rivais carioca e mineiro, e ganha fôlego para essa reta final. A tabela ainda é mais favorável ao Flu, senão por outra razão, pelo fato de que Corinthians e Cruzeiro se enfrentam. Vai ser uma final antecipada mesmo, como já havia alertado o Marcão – diga-se, mesmo que quem vença o campeonato seja o Flu, nenhum jogo será tão decisivo.

Agora, só o gol do Bruno César já deveria valer um ponto extra. E o segundo gol, com uma jogada maravilhosa do Alessandro, que eu nunca imaginei que ele fosse capaz, com o arremate muito bonito do Elias. O terceiro gol também, uma bela jogada do Dentinho, o passe correto do Roberto Carlos e um chute do Ronaldo de quem sabe. Pode descontar esse pelo quarto, um pênalti injustamente marcado.

Apreciem:



Que as rodadas continuem boas como esta.

quarta-feira, novembro 03, 2010

A piada do dia OU fala mais, FHC, fala mais!

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Na Folha de S.Paulo, materinha surreal: "FHC diz não endossar mais PSDB que não defenda a sua história" (uma pausa para o espanto: !!!!!!!!!! e outra para a gargalhada incontida: kkkkkkkkkkkk!). Minha nossa senhora, será que não tem um assessor, um parente, um amigo ou alguma outra alma caridosa pra poupar o homem de tanto vexame? Eu, sinceramente, estou ficando com vergonha alheia do Fernando Henrique Cardoso. Um ex-presidente do Brasil! Quanta papagaiada sai da boca do cidadão, Deus pai! Porém, no meio de tantos disparates, pelo menos uma verdade o tucano disse: "(Serra) Não fez diferente do que se esperaria de Serra como um candidato". Exatamente! Mas vamos aos melhores - ou piores - momentos de sua nova sequência de patacoadas estapafúrdias (os grifos são nossos):

"Não estou disposto mais a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história. Tem limites para isso, porque não dá certo. Tem de defender o que nós fizemos. A privatização das teles foi bom para o povo, para o Tesouro e para o país. A privatização da Vale foi um gol importante, porque, além do mais, a Vale é uma empresa nacional. A privatização da Embraer foi ótima. Então por que não dizer isso? Por que não defender? Privatizar não é entregar o país ao adversário, pegar o dinheiro do povo e jogar fora. Não. É valorizar o dinheiro do país. Tudo isso criou mais emprego, deu mais renda para o Estado." (Deu mais renda para o Estado?!!??? Como assim?!?)

"O presidente Lula desrespeitou a lei abundantemente. Do ponto de vista da cultura política, nós regredimos. Não digo do lado da mecânica institucional - a eleição foi limpa, livre. Mas na cultura política, demos um passo para trás, no caso do comportamento [de Lula] e da aceitação da transgressão, como se fosse banal." (Então o Serra avacalha vergonhosamente a campanha e, pra variar, a culpa é do Lula...)

"Aqui está havendo outra confusão. Pensar que a democracia é simplesmente fazer com que as condições de vida melhorem. Ela é também, mas não se esqueça que as ditaduras fazem isso mais depressa." (Ah, entendi: melhorar as condições de vida é só um detalhe, nada de muito essencial ou indispensável.)

"O Estado é laico, e trazer a questão religiosa para primeiro plano de uma discussão política não ajuda. Todas as religiões têm o direito de pensar o que queiram e de pregar até o comportamento eleitoral de seus fieis. Mas trazer a questão como se fosse um debate importante, não acho que ajude." (Ué, então o Serra errou? Isso não seria um bom título, senhor editor?)

"A pesquisa é útil não para você repetir o que ela disse, mas para você tentar influenciar no comportamento, a partir de seus valores. Suponha uma pesquisa sobre privatização em que a maioria é contra. A posição do líder político é tentar convencer a população [do contrário]." (Outro momento de sinceridade: pesquisa só serve para influenciar votação. Na cara larga!)

"Aqui, fora da campanha, só o governo fala. Quando fala sem parar, o caso atual, e sob forma de propaganda, fica difícil de controlar. No meu tempo, também era o governo que falava. Como não tenho o mesmo estilo e não usava uma visão eleitoreira o tempo todo, não aparecia tanto." (Nossa, o maior pavão de nossa política diz que não gostava de aparecer! Cara larga hors concours!)

"O que a mídia em geral transmitiu ao longo desses oito anos? Lula, violência e futebol." (Bom título para um blog. Aliás, trocando violência por cachaça, fica bem parecido com o nosso. O que você tem contra a gente, Fernandinho?)

"Esses 44 milhões [votação de Serra no domingo] não são do PSDB. É uma parte da sociedade brasileira que pensa de outra maneira. E não se pode aceitar a ideia de que são os mais pobres contra os mais ricos. Nunca vi uma elite tão grande: 44 milhões de pessoas." (Como se a elite, a mídia e o extremismo político de direita não influenciassem ninguém...)

"No tempo que cheguei lá, eu escrevi o que ia fazer e fiz. Nunca mudei o rumo. O Lula mudou o rumo." (Sim, não mudou "nada". Só disse, ao assumir o cargo: esqueçam tudo o que eu escrevi".)

"O Lula deixou de falar em trabalhador para falar em pobre. Mudou. Nós descobrimos uma tecnologia de lidar com a pobreza, mas estamos por enquanto mitigando a pobreza." (Mas qual o problema de o pobre ser o foco do governo? Tirar 28 milhões da linha da miséria é "mitigar" a pobreza?)

"Está se perfilando, no PT e adjacências, uma predominância do olhar do Estado, como se o Estado fosse a solução das coisas." (Mas se não for o Estado, quem vai olhar por nós? Os empresários?)

"A nossa tradição é de corporativismo estatizante, e isso está voltando. É uma mistura fina, uma mistura de Getúlio, Geisel e Lula. O Lula é mais complicado que isso, porque é isso e o contrário disso. Como é a metamorfose ambulante, faz a mediação de tudo com tudo." (Hã?!!?)

"A crise global deu a desculpa para o Estado gastar mais." (Sim, qual o problema disso? Foram os bancos públicos e o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, que nos protegeram da crise, os Estados Unidos estão tentando criar um BNDES para sair do caos.)

"Veja o discurso da Dilma de ontem [domingo]. Ela beijou a cruz." (Ah, tá: Serra desenterra a pauta medieval do aborto, dá voz aos piores e mais obscuros setores da sociedade, manda fazer santinho escrito "Jesus é a verdade", envolve a CNBB e até o Papa na campanha mais suja, pérfida e nojenta das últimas décadas e, para o FHC, o problema é a Dilma! Inacreditável.)

O círculo vicioso das eleições

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por Djalma Oliveira

Com a vitória de Dilma Roussef para a presidência da república do Brasil, encerra-se mais uma espetaculosa campanha política, a qual, desde 1989, não era tão disputada e rasteira. Após breves conjecturas, seria a hora de reflexões, esperanças e merecido descanso do cidadão, extenuado pelo massacrante noticiário eleitoral. Primeira mulher a presidir o país; segunda política brasileira a ganhar a presidência do Brasil sem nunca ter disputado uma eleição anteriormente; fenomenal transferência de votos do presidente Lula a uma tecnocrata competente, mas desconhecida; receio inevitável ao imaginar o astuto e insípido Michel Temer vice-presidente e a avidez de seu partido (PMDB) por cargos e poder etc.

Nada diferente do que seria se o outro candidato tivesse ganhado a disputa (com o agravante de que seu partido posa de "vestais do cenário político", inclusive com a obsoleta cafajestagem de utilizar religião em assuntos laicos). Porém, preocupa a impossibilidade da reflexão tão necessária e fundamental para a evolução dos principais interessados nesse acontecimento democrático: nós, o povo. Ocorre algo parecido com a diferença entre o cinema e a televisão. Ao terminar um bom filme no cinema o próprio "apagar das luzes" nos remete a reflexão, remoem-se as mensagens num saudável exercício evolutivo. Em contrapartida, mesmo assistindo a algo profundo na televisão, com o seu término, o processo de ponderação é interrompido abruptamente por uma nova atração.

Partindo do disposto no parágrafo único do primeiro artigo da Constituição Federal, o qual diz que: "todo o poder emana do povo...", abordemos os direitos sociais previstos e tutelados por aquela carta - direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e infância, e a assistência aos desamparados), e vamos ao debate, às proposições, às cobranças, e brademos: estamos aqui! Por que assumirmos a posição de meros coadjuvantes nos processos eleitorais, meros espectadores do show de marketing político? Ao contrário disso, somos bombardeados imediatamente ao pleito por uma nova campanha.

Toda a imprensa dedicou quase que exclusivamente seu espaço à biografia da futura presidente e as manobras que já se iniciaram visando as próximas eleições. E o objetivo principal disso tudo, que seria nossa evolução social? A campanha para as prefeituras em 2012 já está à todo vapor: Netinho de Paula se lança candidato e força Luiza Erundina a lançar-se também. José Aníbal antecipa-se ao "cadáver insepulto" José Serra e diz que disputará a convenção do PSDB. E, para 2014 Aécio Neves (com sua raquítica biografia nem de longe comparável a de seu avô Tancredo Neves) sai fortalecido como candidato; Beto Richa assanha-se; Alckmin não convence nem o mais incauto dos cidadãos com o aceno positivo às costas de Serra, ao ouvi-lo dizer que a briga está apenas no começo.

E estamos envolvidos novamente em disputas eleitorais, relegando o sentido disso tudo à segundo plano. Basta, quero sinceramente sentir a política no meu cotidiano e não apenas o subproduto que ela infelizmente produz. Um abraço!

Djalma Oliveira se define como "brasileiro nato, contestador visceral, otimista incorrigível. Optante pelo caminho árduo, movimentado; o do homem inteiro, não o do homem mutilado. Remando contra a maré, lutando contra o 'Leviatã'. Lançando palavras ao vento, seguindo Clarice Lispector: 'Porque há o direito ao grito, então eu grito; grito puro e sem pedir esmola'. (djalmaoliveir@gmail.com)"

Olhei nos olhos da minha filha e disse: você pode

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De tudo o que a nova presidente da República, Dilma Rousseff, falou em seu primeiro discurso depois de eleita, o que me emocionou profundamente foi:

- Eu gostaria muito que os pais e as mães das meninas pudessem olhar hoje nos olhos delas e dizer: sim, a mulher pode!

Ato contínuo, eu olhei nos olhos da minha filha Liz, de 8 anos, e disse isso. Nossos olhos se encheram de lágrimas. Liz nasceu no ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez. Para mim, é muito simbólico: tudo melhorou após seu nascimento, em todos os sentidos. E a vitória de Dilma é a certeza e a confirmação de que tudo seguirá melhorando. Principalmente para a Liz e para a sua geração, que viverão num país muito mais justo, democrático e feliz. Com direitos garantidos e oportunidades para todos.

A esperança venceu o ódio.

Escrevi esse texto chorando. De alegria.

Obrigado, Liz. Obrigado, Dilma.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Dilma venceria mesmo sem o Nordeste

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Não quero de modo algum minimizar a importância do voto nordestino, ao contrário. Mas é interessante ver que o peso do voto de estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde Dilma ganhou de lavada, já seria o suficiente para derrotar o candidato tucano.

Quer dizer, quem sustentar que foi o Nordeste que elegeu Dilma – afirmação que tem grande conteúdo de verdade, mas que geralmente é usada para reafirmar o velho preconceito contra o "voto do pobre" ou dos "analfabetos", já que nordestino por muitos "sulistas" é historicamente identificado com esses qualificativos – está intencional ou ingenuamente (sim, os tucanos também são enganados) ignorando a ampla votação que ela teve no Sudeste.

Veja os números do segundo turno:

Total de votos válidos: 99.462.514

Total de votos de Dilma: 55.752.092
Total de votos de Serra:
43.710.422

Votos de Dilma no Nordeste:
18.380.942
Votos de Serra no Nordeste:
7.673.776

Votos de Dilma excluindo o Nordeste:
37.371.157
Votos de Serra excluindo o Nordeste:
36.036.646

Assim, excluindo o Nordeste, Dilma venceria por 51% a 49%. Uma vitória apertada, mas ainda assim incontestável, por mais de 1 milhão de votos. Como o Nordeste existe, Dilma abriu a ampla vantagem de 12 milhões de votos.

sábado, outubro 30, 2010

Felipão, o Serra dos bancos de reserva

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É questionável o título, mas quem mais deu xilique com jornalista na campanha foi o candidato da oposição, José Serra (PSDB). Por coincidência, trata-se de um palmeirense. Só por isso a piadinha.

Luiz Felipe Scolari reclamou da insistência dos representantes da imprensa em relação à fibrose do chileno Valdívia, que impediu o atleta de atuar mais do que 18 minutos na última quarta-feira, no empate com trapalhada da arbitragem com o Atlético-MG.

Na partida anterior, Felipão já havia soltado um palavrão a respeito do mesmo tema (ele disse "merda", ao que responderam, com um "afe! Que horror!", as iminentes diretoras da liga das senhoras da Pompeia).

Neste sábado, 30, véspera do segundo turno presidencial, quando o Palmeiras venceu o pujante Goiás, penúltimo colocado do Brasileirão, por 3 a 2, veio a reação.

Não, não há menção aqui à reação do Palmeiras sem Valdívia e muito menos à do Goiás. Trata-se de uma mobilização da categoria dos jornalistas esportivos setoristas do Palmeiras (Jesp, na sigla que eu acabei de inventar).

A turma apareceu para trabalhar na Arena Barueri com nariz de palhaço. A resposta foi um sorrisinho irônico de Felipão, que não soube (ou não quis responder) o que dizer. Pouco tempo depois de sua chegada aos domínios alviverdes neste ano, o técnico havia desagradado os profissionais da imprensa por decretar a lei do silêncio entre os jogadores na saída do gramado. Tudo para evitar que os cabeças-quentes acionassem líguas desatadas que, a seu ver, prejudicariam o grupo.

Segundo Carlos Augusto Ferrari, alguns veículos anunciaram que seus repórteres estão de folga – quer dizer, não vão participar de coletivas do treinador – até que haja um pedido de desculpas. Provavelmente o mundo fique melhor na próxima semana, ainda segundo o jornalista do GloboEsporte, quando um almoço (boca-livre) para setoristas selará o fim dos atritos.
Pra pensar

Diferentemente de Serra, no Felipão eu voto. Bom, para a sucessão de Luiz Gonzaga Belluzzo, se eu votasse, talvez até optasse pelo tucano se o concorrente fosse, por exemplo, o Mustafá Contousi. Mas feliz ou infelizmente, o estatuto da Sociedade Esportiva Palmeiras impede que alguém que não tenha sido conselheiro do clube esteja apto a disputar a presidência. Assim sendo, segue o jogo.

Já pensou a moda pega? Se um jornalista for cobrir candidato à Presidência da República com nariz de palhaço, terá mais do que sorriso irônico. E vai ter gente achando que é coisa de comunista.
E se a moda pegar para outros grupos? Por exemplo, se, em vez de gritar "or, or, or, queremos jogador", a torcida comparecer às arquibancadas com esferas vermelhas diante das narinas? Bom, aí os jornalistas – com ou sem o nariz postiço – vão estampar: "Crise no Palestra Itália".

Enquanto isso não acontece (ufa!), na décima posição, a quatro do quarto lugar Botafogo, os 3 a 2 sobre o vice-lanterna foram um bom resultado – obrigatório, mas bom. Os gols saíram de duas jogadas individuais e de um cruzamento para gol de cabeça. O adversário frágil ainda fez mais do que lhe deveria ter sido permitido. Mas a vitória é o que interessa nesse caso.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Mudança de rumo na campanha de José Serra

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Para ver mais charges do Ohi, clique aqui.

Priorizar a base, mas com cautela

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Casemiro é um bom volante e um dos garotos que o São Paulo decidiu profissionalizar para valorizar as categorias de base, a exemplo de Lucas, Zé Vítor, Diogo e Lucas Gaúcho, entre outros. Campeões da Copinha em janeiro, todos merecem o prêmio e seguem a excelente estratégia do Santos, que tem revelado inúmeros talentos e que, no primeiro semestre deste ano, deu show nas competições e resgatou aquele tradicional futebol brasileiro de encher os olhos. Esse é o futuro e a maior esperança do esporte nacional - e merece incentivo e aplausos. Mas é preciso ter cautela. Muitas vezes, esquecemos que eles ainda são garotos.

Ontem, o São Paulo vencia o Atlético-PR por 1 a 0, gol de Ricardo Oliveira, depois de uma roubada de bola de Casemiro no meio do campo. Cheio de moral, o jovem volante abusou da confiança e resolveu dar um passe temerário para Miranda, naquilo que o jargão convencionou chamar de "na fogueira". A bola foi interceptada por Guerrón, que partiu sozinho para chutar no canto de Rogério Ceni e empatar o jogo. Casemiro sentiu a besteira que fez. No intervalo, Ricardo Oliveira reclamou: "Nós temos que ser sérios. Não dá para ficar com esses toquinhos com a posse de bola. Ou joga em Rogério, ou joga na frente para a gente correr".

Foi então que, para o segundo tempo, Paulo César Carpegiani o substituiu por Marlos. Com isso, tomou duas atitudes sábias: preservou o garoto, que não deve ser crucificado por uma noite ruim (e que poderia tornar-se péssima, se ele continuasse em campo), e tirou um volante para colocar um meia armador, ousadia que seria premiada com o segundo gol, da vitória, marcado por Miranda. Gostei da atitude do treinador. E espero que os garotos continuem aparecendo no time titular.

Quanto ao São Paulo, vamos ver se escapa "vivo" após as pedreiras chamadas Corinthians, Cruzeiro e Fluminense - simplesmente os três melhores times do campeonato. Estou pressentindo que o time de Carpegiani será o fiel da balança na definição de quem levantará a taça.

Tipos de cerveja 55 - As Dunkelweizen

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Variação escura das típicas cervejas de trigo alemãs, as Dunkelweizen possuem, no entanto, um característico sabor de banana e limão, sendo possível identificar também um paladar de chocolate e de cereais torrados (provenientes da adição de malte escuro). Segundo o site parceiro Cervejas do Mundo, são cervejas bastante equilibradas, um meio termo entre as "robustas e invernais" Weizenbocks e as leves e refrescantes Hefeweizens. Habitualmente, o teor de álcool varia entre os 4,8% e os 5,6%. "A quantidade de gás pode ser elevada, ao contrário do carácter amargo que não é muito substancial. Estas cervejas podem criar algum resíduo, pelo que é aconselhável rodá-las ligeiramente antes de servir", adverte Bruno Aquino, do site português. Para experimentar, ele sugere a Franziskaner Hefe-Weissbier Dunkel, a Victory Sunset Dunkelweizen e a Andechser Dunkles Weissbier (foto).

quinta-feira, outubro 28, 2010

Liberdade de imprensa no dos outros é refresco

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Liberdade de imprensa e de expressão é um dos temas frequentemente discutidos e reportados aqui no Futepoca, até porque somos nove profissionais da comunicação e o próprio blogue é mais um espaço a defender a pluralidade de informações e opiniões. Recentemente, o governo Lula vem sendo atacado por supostamente querer "controlar" ou, mais explicitamente, "amordaçar" a mídia. Mentira - e ninguém melhor para botar os pingos nos is do que o próprio presidente: "Muitas vezes, uma crítica que você recebe é tida como democrática, e uma crítica que você faz é tida como anti-democrática. Como se determinados setores da imprensa fossem acima de Deus e que ninguém (deles) pudesse ser criticado. (...) No Brasil, a imprensa deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e que tem um partido. E que falasse. Seria mais simples, mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", disse Lula, para o site Terra.

"Mas eles preferem fingir que não têm lado e fazem crítica à todas as pessoas que criticam determinados comportamentos e determinadas matérias. (...) Quando nós tomamos a decisão de fazermos a Conferência da Comunicação, determinados setores da imprensa não quiseram participar e acharam que aquilo era anti-democrático. Eu não sei qual é a preocupação que as pessoas têm de a sociedade discutir comunicação. Mas o Brasil vai ter que estabelecer um novo marco regulatório de telecomunicações", acrescentou (veja a ÍNTEGRA AQUI).
Lula cutucou onde a ferida mais incomoda os donos do meio de comunicação: a apregoada liberdade de imprensa defendida por eles é totalmente relativa, pois o foco depende do lado político que eles defendem ou atacam. Mais precisamente sobre o candidato José Serra, do PSDB, conhecido pela hipocrisia com que defende a tal liberdade da imprensa ao mesmo tempo que não dialoga e chega mesmo a calar jornalistas que não o agradam.

Em 27 de setembro, a então candidata à presidente Marina Silva, do PV, já advertia: "Tenho ouvido reclamações nos últimos dias que o ex-governador José Serra tem ficado nervoso quando fazem perguntas que ele não gosta. Ouço também relatos de que há uma tentativa de intimidação dele aos jornalistas. Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa. Uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. Outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma coisa, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule. Serra constrange e tenta intimidar jornalistas". Não por acaso, Marina usa hoje seu blogue para criticar o "vale-tudo" de Serra nessa campanha eleitoral.

Sendo assim, por estarmos a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial, penso ser interessante apontar esse jogo sujo (mais um) da chamada "grande mídia" brasileira, que tenta construir um Lula "ditador" e "censor" contra o verdadeiro merecedor desses adjetivos, o candidato tão protegido e blindado pelos próprios meios de comunicação. Reproduzo abaixo uma reveladora sequência de eventos que mostram o quão defensor da liberdade de imprensa José Serra é (e que poderia ser ainda pior, se investido do poder de presidente da República), a partir de uma lista feita pelo jornalista Antônio Biondi para o blogue O Escrevinhador. Vale a pena ler até o final. A arrogância e tirania impressionam pela constância e pelo descontrole emocional:

29 de maio de 2009
Vítima: Estadão/ repórter Sandro Villar. Escreveu o Estadão: "A entrevista coletiva foi tumultuada. A segurança reprimiu os jornalistas com certa dose de truculência. O governador fugiu das perguntas políticas. Ao ser perguntado pelo repórter do Estado se faria dobradinha com Aécio Neves na eleição para a presidência, Serra se irritou. "Pensei que você veio para perguntar sobre o hospital", respondeu (em referência a uma pauta publicada). Um segurança agarrou o repórter na frente do governador, que condenou a atitude do jornalista (!) e soltou um sonoro palavrão impublicável. Villar declarou, em correspondência a Luis Carlos Azenha: "Não faz muito tempo surgiram informações de que o Serra foi submetido a um cateterismo realizado secretamente na calada da noite. Eu queria perguntar isso ao governador para ele desmentir ou não. Mas, pela segunda vez, fui agredido pela segurança de Sua Excelência. Protestei e disse que nem na época da ditadura militar fui tratado com tanta truculência".

10 de maio de 2010
Vítima: Rádio CBN/ comentarista Miriam Leitão. Em entrevista pela manhã, Miriam perguntou se o presidenciável respeitaria a autonomia do Banco Central ou se presidiria também a instituição, caso vencesse a eleição. Serra primeiro respondeu que a suposição da jornalista era "brincadeira". Em seguida, disse, ríspido: "Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência!". Questionado se interviria na instituição ao se deparar com um erro, Serra interrompeu Miriam: "O que você está dizendo, vai me perdoar, é uma grande bobagem".

10 de maio de 2010
Vítima: Rádio Nacional. Relato da Folha de S. Paulo: "Um repórter da Rádio Nacional, emissora estatal, perguntou se o tucano acabaria com o Bolsa Família. Serra reagiu de forma ríspida. 'Por que a pergunta? Porque disseram para você que eu vou acabar? Então eu gostaria de saber a fonte. Isso é uma mentira total', afirmou. Em outro momento de irritação, Serra não quis detalhar sua posição referente à divisão dos royalties do pré-sal. 'Não vou ficar repetindo.' Assessores de Serra procuraram repórteres para pedir desculpas pelo tom do tucano, que chegou ao evento com 40 minutos de atraso".

22 de junho de 2010
Vítima: TV Cultura/ mediador Heródoto Barbeiro. "Como o estado poderia prestar serviço não cobrando pedágios tão caros como são cobrados no estado de São Paulo? A gente viaja por aí e as pessoas reclamam que para ir de uma localidade à outra custa R$ 8,80″, questionou o jornalista. "Você tá transmitindo o que o PT vive dizendo", acusou Serra. O candidato afirmou que o modelo de privatização de rodovias de São Paulo passou por mudanças em seu governo. "Nós mudamos o modelo de concessões e os pedágios baixaram em relação aos elementos anteriores". Ao final da discussão, Serra classificou as indagações do jornalista de "trololó petista" e condenou Barbeiro por não apresentar resultados do governo tucano em São Paulo. "Essas perguntas têm sempre de vir acompanhadas de resultados", exigiu o tucano. Logo depois, Barbeiro deixou a bancada do programa, dando lugar a Marília Gabriela.

Julho de 2010
Vítima: Rádio Mirante AM, do Maranhão/ repórter Mário Carvalho. Serra irritou-se quando foi perguntado sobre o que faria para diminuir sua rejeição no Nordeste. Respondeu: "Onde você viu essa informação? Você está fazendo campanha para Dilma". "No Ibope e no Datafolha", disse Carvalho. "De qual emissora você é?", inquiriu Serra. "Da Mirante AM". "Não é rádio do Sarney? Eu não sei aonde você viu isso. Vamos fazer uma coisa, você quer fazer propaganda pra Dilma? Eu acho legítimo que sua rádio e você faça campanha para Dilma. Não tenho nada a me opor. Agora não venha falar mentira. Tudo bem, faz a campanha direto", despejou, gritando, o candidato do PSDB.

16 de julho
Vítima: TV Globo/ Fábio Turci. Segundo Mino Carta, o repórter dirigiu à Serra uma pergunta sobre juros. O perguntado não escondeu sua irritação, e indagou com a devida veemência: "De onde você é?". Turci esclarece ser da Globo. E Serra, de pronto: "Ah, então desculpe".

7 de agosto de 2010
Vítima: TV Cultura/ Gabriel Priolli. No final da tarde, Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo, chamou Priolli à sua sala para comunicá-lo de seu afastamento da direção de jornalismo da emissora. O episódio aconteceu apenas 5 dias depois de Priolli assumir o cargo. Ele havia encomendado uma reportagem sobre pedágios no estado de São Paulo. A Folha escreveu sobre o episódio: "Nos corredores da emissora e na blogosfera, circula a informação de que, por trás da saída de Priolli, está uma reportagem sobre problemas e aumento nos pedágios. A reportagem teria sido 'derrubada' – jargão para o que não é veiculado – por Mello. 'A reportagem não foi ao ar na quarta-feira por uma razão simples: não estava pronta', diz Mello. 'Eram ouvidos só [Geraldo] Alckmin e [Aloísio] Mercadante. Em período eleitoral, somos obrigados a ouvir todos os candidatos. Foi isso que fizemos', acrescenta." Escreveu o Observatório da Imprensa: "Explicações complicadas terão que ser dadas pelo candidato à presidência José Serra – acusado de ter pedido a cabeça dos jornalistas."

23 de agosto de 2010
Vítima: TV Brasil. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se irritou com uma pergunta de uma jornalista da TV Brasil, emissora estatal, sobre o fato de a propaganda na TV completar uma semana hoje e a expectativa
do tucano de conseguir reagir nas pesquisas. "Pergunta lá pro seu pessoal na TV Brasil. Eles têm uma opinião", disse Serra.

15 de setembro de 2010
Vítima: CNT/Gazeta/ entrevistadores Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Serra irritou-se durante gravação e ameaçou deixar o programa "Jogo do Poder", da CNT, comandado por Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Ele não gostou de perguntas feitas e depois de dizer que estavam "perdendo tempo" com aqueles assuntos, passou a discutir com Márcia. Disse que, em vez de tratarem do programa de governo, estavam repetindo "os argumentos do PT". Em seguida, levantou-se para deixar o estúdio. "Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim", disse Serra, reclamando que a entrevista não era um "troço sério". Logo depois, pediu que os equipamentos fossem desligados e disparou: "Isso aqui está um programa montado." A apresentadora negou com firmeza a acusação e teve uma conversa reservada com Serra. Só então o candidato aceitou voltar ao estúdio.

28 de setembro de 2010
Vítima: Folha de S.Paulo/ repórter Breno Costa. Em Salvador, diálogo entre o repórter Breno Costa, da Folha, e o candidato do PSDB. "Candidato, nesses últimos dias de campanha, qual deve ser a [sua] estratégia?". Resposta de Serra: "Certamente não é perder tempo com matéria mentirosa como a que você fez". Sobre a matéria, explicação da Folha: "Serra referia-se à reportagem que mostrou ressalvas feitas por técnicos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo no ano de 2009, quando ele era governador. As objeções técnicas do TCE-SP, que aprovou suas contas, referiam-se a ações que, hoje, fazem parte da lista de promessas do tucano".

13 de outubro de 2010
Vítima: Valor Econômico/ repórter Sérgio Bueno. O repórter fez pergunta sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. E ouviu do candidato: "Seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral. Eu sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos". Horas depois, a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, ensinou: "O jornalista [Sérgio Bueno] só estava fazendo o trabalho dele, que é perguntar. Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem".

Que esses fatos lamentáveis ajudem os eleitores a pensar muito bem até o próximo dia 31.

Diferença abissal entre o pré e o pós Lula

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Ontem listei, no post sobre o aniversário do presidente Lula, alguns exemplos de como seu governo ultrapassou todas as expectativas na distribuição de renda e no combate à desigualdade social. Naquele mesmo momento, o sociólogo e jornalista Joelmir Beting listava outros cinco índices que comprovam o sucesso desse projeto econômico e político (no vídeo abaixo). Assim, fica muito fácil decidir em quem votar no dia 31.

Água gelada (potável) e cerveja aguada (bebável)

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Conversando com meu colega carioca João Lacerda (legítimo sobrinho-neto daquele Lacerda), perguntei o motivo de a Skol ser a cerveja preferida no Rio de Janeiro. Resposta sincera:

- É que o Rio tem clima quente o ano todo, dá muita sede e todos acabam preferindo uma bebida alcoólica que lembre água gelada...

Depois, o João me mostrou um post do professor de Linguística da Unicamp, Sírio Possenti, sobre uma propaganda dessa mesma marca de cerveja:

BEBABILIDADE? - Uma fábrica de cerveja botou propaganda na praça dizendo que seu produto não dá aquela sensação de barriga estufada. Termina afirmando que sua cerveja tem bebabilidade. Não quero discutir com publicitários (se nem com os de campanhas políticas, imagine com os de cervejas!). Mas aproveito a deixa para uma consideração. "Beber" é verbo da segunda conjugação (como "mexer"). Uma coisa que pode ser bebida é uma coisa bebível (potável, claro, mas essa é outra história), assim como uma coisa que pode ser mexida é mexível.

Se uma coisa é bebível, ela tem... bebibilidade. Para ter bebabilidade, a cerveja teria que ser bebável, de um hipotético verbo "bebar". Talvez o "erro" se explique. A conjugação produtiva é a primeira. Todos os verbos novos (neologismos ou estrangeirismos) são da primeira conjugação. Pode ser por isso que uma palavra nova, inventada, mas derivada de um adjetivo que deriva de um verbo, "faça de conta" que se trata de um verbo da primeira conjugação. Mas eu preferia que a cerveja fosse bebível. Cerveja não pode ser só potável.




Curioso é que a tal propaganda de um "novo tipo" dessa marca (acima) diz que ela "não estufa e não empapuça". Ora, bolas, então reconheceram que não é mesmo cerveja de verdade! Pelo menos para o meu paladar, de potável só tem a (cada vez mais predominante) água. Bebível ou bebável, deixo para os cariocas.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Lula 65 - Início na política com futebol e cachaça

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Hoje o nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemora 65 anos com mais de 80% de popularidade e terminando sua gestão com a certeza absoluta de que o Brasil está hoje, inegavelmente, milhões de vezes melhor do que há sete anos, quando iniciou seu primeiro mandato. Os 28 milhões que saíram da linha da miséria, os mais de 30 milhões que ascenderam à classe média, os quase 15 milhões que conseguiram emprego com carteira assinada, as milhões de crianças e famílias amparadas pelo Bolsa Família, os mais de 700 mil que realizaram o sonho de chegar à faculdade pelo ProUni, além dos milhares que tiveram acesso à energia elétrica e que puderam comprar ou reformar sua casa própria com as facilidades inéditas da Caixa Econômica Federal são as principais testemunhas da transformação fantástica da sociedade brasileira no período. E de que, com certeza, "nunca antes na História deste país", o estado fez tanto para tantos - e o mais importante, para os tantos que mais precisam.

No esporte, entre múltiplas iniciativas, o governo Lula marcou verdadeiros gols de placa ao disputar de conquistar o direito de sediar a próxima Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas de 2016. Há dez anos, se alguém dissesse que o Brasil tinha 0,0001% de chance de trazer um evento de projeção mundial desse porte, seria taxado de louco e rechaçado às gargalhadas. Lula resgatou o orgulho de ser brasileiro, de saber que podemos e fazemos, que confiamos no nosso taco. Algo parecido com o que sentíamos no final da década de 1950 e que logo em seguida foi destroçado pela subserviência da ditadura militar aos ditames de Washington. E esse projeto político que deu e dá certo no Brasil teve e tem suas raízes nos movimentos populares, entre eles, o sindical, dos trabalhadores organizados. Que tomou impulso e direção a partir do momento em que Lula assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, no ABC Paulista, em 1975.

E o mais interessante, que registro aqui nesse post a partir do título, é que o gênio político e intuitivo de Lula buscou no futebol e na cachaça sua primeira estratégia de atuação. Logo, nosso presidente tem tudo a ver com o Futepoca, ou seja, Futebol, Política e Cachaça. No livro "O sonho era possível - A história do Partido dos Trabalhadores narrada por seus protagonistas", compilação de entrevistas feita pela jornalista e pesquisadora chilena Marta Harnecker (Editora Mepla/Casa América Livre, Cuba, 1994), Lula afirma que sua primeira decisão no sindicato foi a de ir às fábricas, em vez de ficar esperando que os trabalhadores comparecessem às assembleias, o que nunca acontecia. Aliado a isso, ele imaginou uma forma infalível de fazer com que os operários fossem conscientizados politicamente ao mesmo tempo que se divertiam. Diz Lula, no livro:

Um dia, discutimos na diretoria como é que íamos fazer para o trabalhador pegar confiança na gente. Sabe o que eu fiz? Eu marcava campeonato de futebol: a diretoria do sindicato contra a seção de uma fábrica. A gente ia e antes de começar o jogo eu falava cinco minutos com os trabalhadores. Depois a gente tomava umas cervejas, tomava chope, fazia churrasco. Em pouco tempo conseguimos criar uma nova consciência: a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) era uma lei, a Constituição era uma lei, mas tem um espaço político importante para a gente atuar. Em pouco tempo, um sindicato que era esvaziado e que ninguém participava, lotava em todas as assembleias.

Convenhamos: é ou não é um craque? Show de bola na política - e na cachaça também! Vamos brindar ao Lula e à sociedade civil organizada, que já mudou e que vai continuar mudando este país para muito melhor. Saúde, Lula!

Prossegue a campanha de esgoto do PSDB

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Daí eu pergunto, senhor José Serra: isso é ser "do bem"?

terça-feira, outubro 26, 2010

Polvo Paul bate as (oito) botas

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Assim como alertamos há três meses, o badalado polvo Paul não durou mesmo até a Eurocopa e foi comer alga pela raiz, digo, faleceu ontem na Alemanha, causando comoção mundial. Curioso é que sua morte ocorre somente alguns dias após um parente seu, brasileiro, ter se metido a fazer "advinhações" duvidosas sobre política. Teria esse fato desagradável causado tal desgosto no original inglês que acelerou sua morte? Nunca saberemos. O fato concreto é que, no final, tudo vira paella. Ah, e alguém advinha se vamos ou não beber o morto? Se bobear, com direito até à "dança do polvo bêbado":

Elementar, meu caro garçom!

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Essa foi a informação que faltou na materinha preconceituosa de Larry Rohter sobre o presidente Lula: pessoas inteligentes bebem mais! Isso mesmo. Dois estudos, um do National Child Development Study, no Reino Unido, e outro do National Longitudinal Study of Adolescent Health, dos Estados Unidos (pátria de Rohter), revelaram que crianças e adolescentes de até 16 anos avaliadas como mais inteligentes, quando cresceram, passaram a beber com mais frequência e em maiores quantidades do que as menos inteligentes. Em ambas as pesquisas, os grupos pesquisados foram divididos em cinco classes cognitivas: "muito burro", "burro", "normal", "esperto" ou "muito esperto" (muito científico, não?).

Os hábitos alcoólicos das crianças estadunidenses foram acompanhados por sete anos após o início do estudo; já as inglesas foram monitoradas por mais tempo, até os 40 anos. Na Inglaterra, aliás, os "muito espertos" se tornaram adultos que consumiram quase oito décimos a mais de álcool do que os colegas "muito burros". E isso mesmo considerando as variáveis que poderiam afetar os níveis de bebedeira, como estado civil, formação acadêmica, renda, classe social etc. Ainda assim, o resultado foi inplacável: crianças inteligentes bebem mais quando adultos.

A conceituada revista Psychology Today avaliou a possibilidade de que essa relação entre álcool e inteligência seria um traço evolutivo que começou há cerca de 10 mil anos, quando finalmente surgiu o álcool bebível. Até aquela época, o único jeito de encher a cara era consumindo frutas apodrecidas (talvez a Kaiser seja uma recuperação nostálgica desse paladar...). De minha parte, não faço muita ideia sobre o que relaciona a tendência a beber mais com a "esperteza" de cada um. Sou muito burro pra isso. Vai daí, preciso urgentemente beber alguma coisa!

segunda-feira, outubro 25, 2010

Do vinho e da verdade

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Nas últimas semanas, estive absorvido na elaboração de um livro sobre a pianista Cristina Ortiz, uma das maiores solistas do mundo. Fui visitá-la em sua casa de veraneio na região de Bordeaux, na França, e, em mais de 20 horas de entrevistas, gravadas neste computador, tive o privilégio de compartilhar com ela reflexões sobre tudo o que envolve a arte musical de concerto.

Seria muito tratá-la como um Pelé do piano, mas sem dúvida é algo assim como um Zico. Ou seja, alguém que, como muito poucos, conheceu cada detalhe de sua arte, magnetizou grandes plateias, venceu os maiores concursos, tocou ao lado das mais reputadas orquestras e dos melhores regentes nas principais salas de espetáculo dos cinco continentes. Suas palavras têm o lastro de quem esteve lá, viu, viveu, venceu, e nunca abriu concessões naquilo que é a razão de sua vida: a música.

Essa breve introdução é apenas um pano de fundo, que talvez explique a mim mesmo o quão sensível estive, durante aqueles dias na França, à verdade das coisas. Um elemento indispensável participou de minha intelecção: vinho farto e excelente. Conversávamos regados a vinho local, e quando uma garrafa chegava ao fim, quase que imediatamente eu era interpelado: “Acabou? Qual você quer abrir? Tem este de um chateau a dois quilômetros daqui, este outro quem faz é um amigo que me deu quando toquei lá em etc. etc.”. Tive a oportunidade rara de viver uma imersão no vinho, coisa que, pela tradição latina, é o mesmo que uma imersão na verdade. In vino veritas, diz o bordão. A verdade do próprio vinho, a verdade das coisas que o vinho traz à tona.

Pude, pela primeira vez, acompanhar com minha própria língua a abertura de um vinho. Há vinhos que abrem. Tem gente que prefere esperar que ele se abra antes de começar a degustá-lo. Mas eu, desavisado e ignorante, servi e logo dei minha talagada. Um amargor sanguíneo atiçou as regiões embaixo da língua, fez-me pensar em uma textura áspera. A luz da tarde incidia sobre a velha casa com delicadeza, estava linda, o que aumentava o contraste com meu paladar. Fui caminhando pelo gramado, sentindo a bebida afetar cada parte de meu corpo à medida que seu aroma se revelava com nitidez e ganhava espessura ao redor de mim.

Algo aconteceu. Não era ainda que eu o conhecia, mas sim uma sensação comparável a quando de repente se toca a pele da mulher que começa a se envolver no jogo de sedução. Como se o vinho, depois de apresentado a mim, me oferecesse algo que naquele momento era só nosso, e que me capturava para dentro dele.

Sorvi devagar, contornando a casa pelo jardim, e ao encher a boca e depois o peito, um sabor frutado e doce foi brotando de dentro do sangue. Eu, cada vez mais envolvido, vivendo o paradoxal sentimento de pisar mais firme sobre a terra e, a um só tempo, transcender a pele das coisas, me percebi amando o vinho, que se abria cada vez mais surpreendente, com um sabor claro, impactante e nuançado. Este encontro erótico durou ainda alguns minutos.


Sentindo a alma límpida, deixei o copo vazio descansar sobre um tronco e sai a caminhar. Uns passos além do portão e já se margeia os campos de vinhas, que ali estão, sem qualquer proteção de cercas ou muros. Bem próximo de mim, galhos pendiam ao peso dos cachos de uvas pretas de tão maduras. Tomei-as delicadamente nas mãos e constatei o óbvio. Como eu, qualquer um poderia arrancar e deliciar-se com aqueles frutos. No entanto, ninguém o faz, e a prova era aquele cacho em minha mão, frágil, desprotegido. Os vinhedos, que a princípio me pareceram feios e excessivamente disciplinados, com o sol quase horizontal transluziram, como um vitral de igreja ou caleidoscópio, tonalidades de vermelho amarelo e verde.

Devolver as uvas cuidadosamente ao seu lugar foi, para mim, participar do sagrado. E o sagrado, embora experienciado por cada um, só pode ser algo que se compartilha em irmandade. Tive a certeza de que, num lugar onde existe tamanho respeito por aquele elemento mágico que une a todos igualmente em torno de uma mesa para celebrar a comunhão promovida pelo que oferecem generosamente o sol, as chuvas, a terra e seus frutos, as pessoas sem dúvida podem olhar-se nos olhos com simplicidade e dizer o que pensam, sonham e desejam, sem recalcar sua própria casca de convívio num mundo de hipocrisia.

A verdade é, necessariamente, simples.

O olhar direto e cristalino, a palavra clara e o gesto indúbio são coisas que teremos que reconquistar na terra da cachaça, depois do pleito de 2010.

Folha de S.Paulo diferencia o PT, que 'paga' militantes, do PSDB, que só 'dá ajuda de custo'. Ah, tá...

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Sempre disse e continuarei observando que, involuntariamente, o governo Lula acabou fazendo outro enorme benefício para o Brasil: o de desmascarar completamente a mídia elitista, retrógrada e golpista. Veículos de comunidação que tempos atrás - mesmo pendendo para uma posição política de situação e/ou de centro-direita - já foram considerados "progressistas" ou minimamente "sérios" e "equilibrados" na hora de bater ou elogiar, tiraram a máscara e revelaram-se de forma nua e crua com suas essências mais execráveis e grotescas. Exemplo maior é a revista Veja, capaz de armações, distorções e calúnias de proporções nunca publicadas antes de Lula subir a rampa do Palácio do Planalto. Tirando os conservadores, fascistas e demo-tucanos mais empedernidos, a maioria dos antigos leitores hoje têm indisfarçável vergonha de assumir que leem ou já leram essa nojenta publicação.

Mesmo o Jornal Nacional, que surgiu há 41 anos como "boletim oficial" da ditadura militar, passou a ser ainda mais explícito em suas manipulações de pauta e edições vergonhosas de matérias nos últimos sete anos (só pra lembrar de cabeça, a campanha golpista e insistente sobre o "mensalão" do PT, a tentativa de incriminar o governo Lula com "caos aéreo" no acidente da Gol e, agora, o carnaval que envolveu até perito para justificar a falácia da agressão de bolinha de papel contra José Serra). Entre os jornais impressos, o Estadão também teve momentos constrangedores, mas não chega a surpreender porque sempre foi uma voz assumida dos ricos e poderosos. Porém, seu concorrente direto, a Folha de S.Paulo, revelou-se de forma espantosa como o maior libelo de tudo o que não presta e não se deve fazer em termos de "jornalismo".

Depois de esconder o mensalão do PSDB como "mensalão mineiro", de tentar amenizar a ditadura brasileira apelidando-a de "ditabranda", de dizer que Dilma Rousseff seria uma das cabeças do sequestro de Delfim Netto (que não houve!), de publicar um artigo impublicável com a insinuação de que Lula teria tentado violentar (!) um companheiro de cela quando foi preso pelo governo militar, e de responsabilizar Dilma pelo prejuízo que os brasileiros tiveram com o apagão elétrico do governo Fernando Henrique Cardoso (!!), o jornal da família Frias foi descendo ladeira abaixo até quase o mesmo (ou o mesmo) patamar de ridículo e de descredibilidade da Veja. E hoje temos mais uma prova de que, no governo Lula, a Folha, que antes tentava se vender como tendo "rabo preso com o leitor", assumiu o lado político onde prendeu seu rabo e perdeu de vez sua vergonha.

Hoje temos mais um exemplo da cara-de-pau e da canalhice desse "jornal". Em materinha sobre a campanha eleitoral do PT, o título já entrega a maldade: "Idolatria por Lula e militância paga motivam petistas" (o grifo é nosso). Além de apresentar os petistas como "fanáticos", ou seja, sem razão e facilmente manipuláveis, a Folha força a mão na tecla de que trata-se de uma militância que só funciona a base de dinheiro. "Na ausência do presidente, a campanha precisou recorrer a militantes pagos ou de movimentos sociais amigos para encher o salão de festas onde a candidata discursou (no Iate Clube, em Belo Horizonte)". Já a materinha espelhada sobre a campanha pró-Serra é um elogio só, a começar pelo título: "Ideal, antipetismo e ajuda de custo movem tucanos".

E o que seria essa "ajuda" dos "bondosos" tucanos? O mesmo "maldito pagamento" do PT: "Entre tantos militantes 'ideológicos', ainda se vê, no meio das hostes serristas, o velho cabo eleitoral remunerado, aquele sujeito que, em troca de R$ 50, agita durante seis horas consecutivas as bandeiras do PSDB", diz um trecho do texto.

Com licença, vou ali vomitar e nem sei se volto...

Lula com a palavra

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Que me perdoem os que eventualmente discordem, mas é muito emocionante este discurso do Lula, proferido no evento de premiação de empresas organizado pela Carta Capital.

Gostaria que aqueles que o chamam de analfabeto fossem pegos de surpresa por este discurso: a qualidade de seu português, o uso preciso da língua portuguesa, sem nada de empolado, mas com um vocabulário riquíssimo, usado com desenvoltura, a capacidade de manejar o humor e a ênfase, de conquistar a cumplicidade do público e de trazê-lo consigo em sua argumentação, de mostrar apenas com sua presença o homem que é, cuja trajetória e realização não encontra paralelo em ninguém que eu consiga imaginar aqui. Me ajudem, se puderem. Pelé, talvez.

Enumeraria aqui cada trecho, mas seleciono apenas este: “Eu governei oito anos tendo que provar a cada dia a minha existência. (...) A elite brasileira não precisa provar nada, eles erram, afundam o Brasil, e não têm que provar nada. Termina o mandato, vai passar três, quatro anos na Europa, volta e está tudo a mesma coisa. Eu é que tive que provar a cada dia que este país podia dar certo.”



Para se aguardar o seu discurso de despedida da presidência, no dia 1º de janeiro de 2011.

Vida longa!

A rodada ideal

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Vencer o Palmeiras é o que o Corinthians precisava neste momento. Em crise depois de sete partidas sem vencer, com mudança de técnico e a visão da taça se afastando cada vez mais, depois de estar muito mais próximas das mãos alvinegras, vencer o rival de casa revigora a alma e traz de volta a confiança abalada.

Não vi o jogo, mas os melhores momentos abaixo mostram um Corinthians claramente melhor no primeiro tempo, quando fez o gol com Bruno César, e um Palmeiras que se recupera e quase empata no segundo, com a bola parada de Marcos Assunção e bela defesa de Julio César.



Ronaldo quebra o tabu de ainda não ter vencido contra o Palmeiras e Tite tem a melhor recepção possível. Jucilei também se destacou com sua raça e habilidade, como tem sido a regra desde que começou a atuar pelo Timão.

Na tabela, ajudaram bastante a derrota do Cruzeiro para o surpreendente Atlético Mineiro e os empates do Flu e Inter, além da igualmente surpreendente derrota do Peixe.

Agora o negócio é manter a concentração, pois cada jogo será uma final. Que belo campeonato!

domingo, outubro 24, 2010

Patética capa da Veja comprova: a munição acabou

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Uma única coisa me contenta na patética capa da Veja desta semana: a história é tão bizarra, tão non-sense, que comprova que as "cartadas finais" da mídia serrista para virar a eleição, na verdade, não existem. É verdade que isso pode ser perigoso. Sem munição, Serra pode ser capaz de tudo. E não se sabe o efeito que "tudo" pode ter, quando não há tempo para retrucar. Há que ficar a postos.

Para economizar nosso tempo, copio abaixo o post em que o Luis Nassif desconstroi a bravata da ocasião. Quem quiser ler lá no blog dele, clique aqui.

E quando tudo passar, em nome de nossa sanidade e das futuras gerações, teremos a obrigação de fazer um cuidadoso levantamento do que foi essa campanha eleitoral, sobretudo nesses dois últimos meses. Definitivamente, não pode passar em branco.

Veja e a estratégia de Mister M

AS ILUSÕES PERIGOSAS DA REVISTA MISTER M

Veja blefa mais uma vez: não existe fita provando que Abramovai falou o que não disse. Não existe grampo legal nem perícia nem nada. Só cascata.

Veja publicou uma reportagem de 1.581 palavras das quais apenas 14 realmente interessariam se fossem verdadeiras: "Não agüento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês". A suposta frase foi atribuída ao secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovai, ganhou destaque na capa da revista, que circulou no sábado, e reproduzida instantaneamente no programa de José Serra na TV.

Se fosse verdadeira, a frase revelaria um fato gravíssimo, de interesse público e com evidentes repercussões no processo eleitoral. Seria motivo para uma rigorosa investigação policial e uma ação do Ministério Público, com vistas a esclarecer que pedidos seriam esses, a quem aproveitavam, quais seriam os alvos, quem seriam os agentes e os mandantes da produção de dossiês.

Ocorre que nem a frase foi pronunciada nem Veja tem como sustentar a veracidade do que destacou na capa (gostosamente reproduzida por Estadão, Globo e Folha). A negativa de Abramovai está escondida no quinto dos nove longos parágrafos da matéria.

Trata-se de mais uma reportagem ao estilo Mister M, que tem caracterizado a produção recente da que já foi a mais importante revista brasileira. É o jornalismo ilusionista, que recorre a uma série de truques para distrair a atenção do leitor e fazê-lo acreditar nos poderes mágicos da reportagem mentirosa.

O primeiro truque, clássico, é socorrer-se do testemunho de sua fonte, o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. Veja sabe que Tuma Júnior não tem credibilidade para sustentar uma acusação desse teor. Ele foi afastado do governo numa investigação sobre seu envolvimento na concessão fraudulenta de vistos a estrangeiros. É um rancoroso.

O outro truque de Veja é misturar o suposto de diálogo entre Abramovai e Tuma Júnior com uma fitalhada de conversas pela metade envolvendo o próprio Tuma, o ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto e sua chefe de gabinete Gláucia de Paula.

Veja recebeu mesmo algumas fitas. Malandramente, porém, a revista induz o incauto a acreditar que as 14 palavras atribuídas a Anbramovai fazem parte do mesmo lote de fragmentos de conversas gravadas.

Veja dá-se ao desplante de afirmar que as conversas teriam sido "gravadas legalmente", como tantas outras fitas que chegam às redações desviadas ilegalmente de inquéritos policiais e do Ministério Público. Nesse caso, a revista teria de informar de que inquérito ou ação penal elas teriam sido extraídas, mas não pode fazê-lo porque sabe que isso é falso.

Elas reproduzem fragmentos de conversas entre mais de duas pessoas. Não são grampos, são escutas ambientais, feitas por alguém presente no local da conversa – e Romeu Tuma Júnior é o mínimo múltiplo comum de todas essas conversas.

Se Veja tivesse a fita com a frase atribuída na capa a Abramovai – as 14 palavras que realmente interessam – este áudio já estaria circulando, no site da própria revista, na rede de blogs auxiliares da desinformação, na CBN, no Jornal Nacional e no programa de José Serra.

Antes que o desavisado preste atenção a esse detalhe, está na hora de chamar uma dançarina ao palco. Ricardo Bolina, o perito multiuso, entra em cena para atestar a veracidade das gravações obtidas com exclusividade por Veja. Seu lado é apresentado em fatias, é um biquíni que mostra muito mas esconde o essencial: ele não comprova coisíssima nenhuma.

Vamos exibi-lo quadro a quadro, como está no facsimile da revista:

1) O perito recebeu dois arquivos de áudio

2) O perito tem de verificar se as vozes de Luiz Paulo Barreto e Pedro Abramovai ocorrem nessas amostras e se houve algum tipo de montagem

3) O perito constata que não houve alteração ou trucagem nos arquivos

4) O perito constata que as vozes dos arquivos conferem com as de Abramovai e Barreto, numa comparação com entrevistas dos dois personagens veiculadas na televisão.

Percebeu o truque? Nem o perito diz nem veja mostra que o áudio examinado contém as 14 palavras que realmente interessam e que foram peremptoriamente negadas. Diz apenas que recebeu uma gravação com a voz de Abramovai dizendo sabe-se lá o quê.

Há muito tempo que Veja não faz jornalismo, faz prestidigitação, fiando-se em duas máximas: as mãos são mais rápidas que os olhos; se colar, colou.

É triste lembrar que esta já foi a mais importante e mais acreditada publicação da imprensa brasileira. Veja não passa hoje de uma revistinha mandraque, para iludir os incautos e os que pagam para assistir seu espetáculo mambembe.