Destaques
quarta-feira, março 11, 2015
Me engana que eu NÃO gosto
sexta-feira, junho 07, 2013
Por que o movimento pela redução da passagem dará em nada
Compartilhe no Facebook
por William Maia*
Vendo as imagens da batalha de ontem na Paulista, uma pergunta não me saía da cabeça: por que só pararam a Paulista agora, se o reajuste vem sendo anunciado há meses? A resposta, como sempre, está no passado: em 2006, ainda no começo da gestão Kassab, participei de algumas manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus. Na época, o reajuste foi de R$ 2,00 para R$ 2,30.
Tinha acabado de entrar na faculdade, não sabia de muita coisa, mas a causa me parecia justa e o movimento, democrático –qualquer um podia participar e não havia liderança hierarquizada clara. Os protestos começaram bem, fechamos a Paulista algumas vezes e bloqueamos o terminal Parque Dom Pedro; tudo de forma pacífica, a despeito da agressividade da polícia.
Conforme os dias e semanas passavam sem que a Prefeitura desse o menor sinal de que poderia reverter o aumento, o público das passeatas foi minguando. Ainda assim, eram muitas pessoas, a maioria sem ligação com partidos ou sindicatos. Gente realmente interessada em um transporte público de qualidade a preço justo –ou a preço nenhum. Certo dia, fui a uma reunião da coordenação do movimento na sede do Partido Humanista, em Santa Cecília.
Cheio de entusiasmo juvenil, me inscrevi para falar na plenária, e defendi que encarássemos a realidade e mudássemos a bandeira do movimento. Já não adiantava imaginar que o valor da passagem regredisse depois de tanto tempo. Portanto, deveríamos aproveitar aquela reunião de pessoas bem-intencionadas e defender investimentos na melhoria dos ônibus, no aumento da frota para mitigar as superlotações, e nos prepararmos para enfrentar um novo reajuste no futuro, ANTES que este entrasse em vigor. A chance de barrá-lo seria muito maior, evidentemente.
A proposta foi bem aceita num primeiro momento, com discordâncias pontuais, até que tomou a palavra um militante da juventude do PCO (Partido da Causa Operária) – sim, eles existem –, que chamou o discurso pela melhoria das condições do transporte de “coisa de tucano”, e defendeu que continuássemos as passeatas pela redução da tarifa, que no mínimo manchariam a imagem do Kassab. Confusão instalada, todos falando ao mesmo tempo, troca de acusações etc.
Eis que em determinado momento, alguém propõe uma votação para definir os rumos do movimento: continuaríamos as passeatas com cada vez menos pessoas ou buscaríamos uma alternativa? E foi então que a realidade me deu um tapa na cara. Vendo que a militância presente pendia para a segunda opção, os camaradas do PCO e outros descontentes começaram a retardar a votação, enquanto telefonavam chamando mais gente para comparecer à plenária e assim ganhar o controle do movimento.
Fui embora e nunca mais voltei.
Ali percebi que, apesar da boa intenção da maioria, não se tratava apenas de um movimento contra o aumento da passagem, mas de disputa de poder entre correntes do movimento estudantil, algumas delas, marionetes de partidos. Em 2009 e 2011, a coisa se repetiu. Protestos contra o aumento foram às ruas DEPOIS de o reajuste entrar em vigor. Começaram fazendo barulho e depois desapareceram.
Dessa vez não será diferente.
Leia também:
segunda-feira, janeiro 24, 2011
'O nós é mais importante do que o eu'
Compartilhe no Facebook
Muitas vezes, ao externar nossas posições políticas, somos taxados de "esquerdinhas", "petistas", "comunistas" etc. Sim, é fato: na própria apresentação do blogue, deixamos claro que, "sem tanta homogeneidade, todos pendem para a esquerda". Ou então poderíamos cravar, em resumo, que ninguém aqui apoia o campo conservador da direita. Mas tudo isso, no final das contas, é rótulo e reducionismo. O sentido é muito maior que isso. Porque nossa opção política, na verdade, é pelo social. Pelos valores coletivos e públicos, como alertou certa vez, com propriedade, a psicanalista Maria Rita Kehl.
E foi exatamente dessa forma que o falecido cantor e compositor Gonzaguinha (foto) definiu, numa entrevista, seu posicionamento político e a disposição de seguir lutando, até mesmo contra a descrença. "A política, desde 1964, distanciou-se cada vez mais do povo e tornou-se algo repugnante. Mas sei que ninguém faz nada sozinho. O nós é mais importante do que o eu", diz o artista, em trecho do livro "Gonzaguinha e Gonzagão - Uma história brasileira", de Regina Echeverria (Ediouro, 2006).
E já que falamos sobre "antes o que nos une do que o que nos diferencia", Gonzaguinha comentava, sobre o PT: "O que eu acho importante é que não vejo dentro dele uma juventude de ideias conservadoras". Concordo. Prova disso foi a baixaria sem limites do campo da direita, nas últimas eleições presidenciais, com apêlo para o que há de mais retrógrado, arcaico e nojento - e principalmente na internet, território dos jovens. Por isso seguimos lutando do lado de cá, mesmo com todos os problemas, erros e dificuldades. E vamos à luta!
E VAMOS À LUTA
(Gonzaguinha)
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão (como é que não?)
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta é com essa juventude
Que não corre da raia à troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói a manhã desejada
Aquele que sabe que é negro o couro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha, entra no botequim
Pede uma Brahma gelada, e agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode e sacode a poeira
Suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira - e nós estamos pelaí...
quinta-feira, outubro 07, 2010
José Serra não tolera um "delito" de opinião
Compartilhe no Facebook
Ontem eu já tinha escrito aqui sobre mais um "ato democrático" do fascista e ditador José Serra, conhecido por ligar em redações pedindo a cabeça de jornalistas. É óbvio que não há indícios de interferência direta do nefasto político na demissão (agora confirmada) de Maria Rita Kehl (foto) do jornal O Estado de S.Paulo, devido a um artigo em que elogiava o programa federal Bolsa Família. Mas, considerando o que Serra fez com Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli na TV Cultura, tá com todo o cheiro de ser obra dele...
Hoje, o Terra Magazine publica uma entrevista de Maria Rita Kehl a Bob Fernandes. Ele pergunta se a demissão teve a ver com as eleições e a psicanalista vai direto ao ponto: "Acho que sim. Isso se agravou com a eleição, pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas". Ela acrescenta que o motivo alegado foi "análise de comportamento e reação". "O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram", ironiza.
E aí ela reagiu com o óbvio: "Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável...". Sobre o sentimento que fica, a psicanalista desabafa: "A imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um 'delito' de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?".
Pois é. O problema é que José Serra nunca aceita uma opinião diferente. Principalmente em um jornal que confessa fazer campanha para ele.