Compartilhe no Facebook
No clima seco do cerrado, Barbosa 'molha a palavra' (Foto: Ed Ferreira/AE) |
No clima seco do cerrado, Barbosa 'molha a palavra' (Foto: Ed Ferreira/AE) |
Deu no Blog do Rovai (veja aqui). Na recepção ao Papa Francisco, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, cumprimentou o chefe religioso e ignorou solenemente a presidenta da República, que apresentou o ministro ao pontífice. A atitude me fez lembrar alguns momentos da história brasileira.
José Sarney não recebeu a faixa presidencial do último presidente da ditadura militar, João Baptista Figueiredo, que não tinha muito apreço pelo povo, pela democracia e muito menos por ritos institucionais. Já Sarney entregou a faixa a Fernando Collor. Muita gente tinha dúvidas se o então presidente estaria presente na cerimônia de posse a seu sucessor. Ele havia sido criticado por todos os candidatos à presidência, em menor ou maior grau, mas o presidenciável do PRN ia muito além da crítica. Cansou de desancar o mandatário não economizando no palavreado chulo e nos palavrões em comícios, tendo chamado Sarney de filho da p... e mais alguns termos nada elogiosos. Achava que, sendo a "voz do povo", conseguiria amealhar votos.
Sarney entregou a faixa a quem cansou de xingá-lo |
Do jornalista e candidato a vereador pelo PSOL em São Paulo, Gilberto Maringoni, em seu Twitter:
O Supremo Tribunal Federal vive dias agitados – e dessa vez com notícias positivas. Para começar, manteve o (ex?) governador do Distrito Federal José Roberto Arruda na prisão, para espanto meu e de outros colegas deste fórum que esperavam uma rápida passagem do cara dos panetones pelo cárcere.
Além disso, o STF elegeu, no último dia 10, o ministro César Peluso para a presidência da Casa – Carlos Ayres Britto foi escolhido para vice. Peluso toma posse no dia 23 de abril, em substituição a Gilmar Dantas - quer dizer, Mendes -, cuja atuação à frente da Suprema Corte foi marcada por opiniões emitidas antes de pareceres e julgamentos de processos, além da prestreza com que sempre atendeu pedidos de soltura de certos banqueiros. Daniel Dantas, aliás, recebeu outra má notícia da Justiça essa semana, com a decisão do Superior Tribunal de Justiça de negar o pedido de afastamento do juiz Fausto De Sanctis do processo que envolve o banqueiro.
Mas o que mais me agradou foi uma atitude do ministro Ricardo Lewandowski, encarregado de julgar a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186, movida pelo partido Democratas contra a reserva de cotas raciais em universidades. O ministro decidiu convocar uma audiência pública para debater o assunto, permitindo às partes interessadas expressarem seus pontos de vista. Foram recebidos 252 requerimentos de inscrição, segundo o site do STF, mas o ministro selecionou 38 representantes para diminuir o tempo da coisa.
As audiências aconteceram entre os dias 3 e 5 de março e certamente ajudaram a explicitar posições e dar clareza aos argumentos de todos os lados, produzindo algumas pérolas. Se a ação movida pelo DEM não servir para mais nada – como de fato acho que não serve: ou é derrotada e irrelevante ou vitoriosa e danosa para o país –, vale por ter jogado o tema de forma tão pesada na discussão pública.
Uma das citadas preciosidades certamente foi o depoimento do senador Demóstenes Torres (DEM-GO, na foto ao lado), relatado em reportagem de Laura Capriglione e Lucas Ferraz, da Folha de S. Paulo. O excelentíssimo parlamentar soltou duas frases que já rodaram bastante, mas valem a lembrança (extraídas da matéria da Folha):
Disse Demóstenes sobre o tráfico negreiro: “Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (…) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana.”
Sobre a miscigenação: “Nós temos uma história tão bonita de miscigenação… [Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.”
Ou seja, se os negros foram escravizados, a culpa é deles. Bravo! A reportagem nos deu ainda o prazer de ver um duplo absurdo no mesmo jornal: o sociólogo, ex-comunista, conviva do Instituto Milenium e recente especialista em relações raciais (sic) Demétrio Magnoli publicou na página 3 do jornal dos Frias artigo defendendo o nobre senador e atacando os repórteres, por ele chamados de “delinquentes”. Ou seja, além de defender o indefensável, o artigo aparentemente terceirizou da Folha a função de passar um pito nos repórteres "abusados" e no editor que deixou passar o texto, como avalia o Leandro Fortes.
A fala dos dois é oportuna para deixar claras as posições. Nada contra quem não gosta das cotas. O problema é quando o argumento vai na linha do Ali Kamel, manda-chuva da Globo, que diz, resumidamente, que não existe racismo no Brasil. Que somos todos iguais e que os que advogam políticas afirmativas querem “implantar” a discriminação. Ora, isso não é argumento, é negar a realidade.
Mas o que eu realmente queria destacar é a fala do historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor da Sorbonne e autor do livro O Trato dos Viventes, obra de referências sobre a escravidão. O parecer de Alencastro traz pontos importantes dessa história para sublinhar um ponto central: a escravidão e a violência contra o negro não vitimaram apenas os negros, mas toda a sociedade brasileira, que se acostumou a um tratamento de chibata contra os desfavorecidos, distorcendo o nosso conceito de democracia. Disse ele:
(...) os ensinamentos do passado ajudam a situar o atual julgamento sobre cotas universitárias na perspectiva da construção da nação e do sistema político de nosso país. Nascidas no século XIX, a partir da impunidade garantida aos proprietários de indivíduos ilegalmente escravizados, da violência e das torturas infligidas aos escravos e da infracidadania reservada ao libertos, as arbitrariedades engendradas pelo escravismo submergiram o país inteiro. Por isso, agindo em sentido inverso, a redução das discriminações que ainda pesam sobre os afrobrasileiros -, hoje majoritários no seio da população -, consolidará nossa democracia.
A argumentação completa é excelente e leva a questão para um outro patamar. Vale muito a leitura completa.
Outro sucedâneo da discussão é muito mais surpreendente em sua origem. A economista Miriam Leitão, crítica contumaz do governo Lula e da esquerda em geral, escreveu um belo artigo em defesa das cotas. Disse ela:
A temporada da coleção de argumentos velhos que reaparecem para evitar que o Brasil faça o que sugeriu Joaquim Nabuco, morto há 100 anos, em frase memorável: “Não basta acabar com a escravidão. É preciso destruir sua obra. Diante de qualquer proposta para reduzir as desigualdades raciais, principal obra da escravidão, aparece alguém para declamar: “Todos são iguais perante a lei.” E são. Mas o tratamento diferenciado aos discriminados existe exatamente para igualar oportunidades e garantir o princípio constitucional.
Logo após, porrada no Demóstenes. Roubo de Miriam o encerramento do texto, que traduz algumas de minhas preocupações nesse debate. Bora pensar nisso:
“O que me incomoda é a incapacidade reiterada que vejo em tantos brasileiros de se dar conta do crime hediondo, do genocídio que foi a escravidão brasileira. Não creio que as ações afirmativas sejam o acerto com esse passado. Não há acerto possível com um passado tão abjeto e repulsivo, mas feliz é a Nação que reconhece a marca dos erros em sua história e trabalha para construir um futuro novo”.
A capa do jornal Correio Braziliense desta sexta-feira traz um cartão vermelho estourado com a seguinte chamada "Cartão Vermelho à gastança do Senado".
Logo abaixo vem uma foto do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com uma "espécie de nariz de palhaço", tanto na versão impressa quanto na virtual, e a seguinte manchete "STF libera candidato Palocci". Vale lembrar que está semana, o senador Eduardo Suplicy (PT), em mais uma ação midiática, deu um cartão vermelho para o senador José Sarney e pediu sua renúncia.
A pergunta que não quer calar é: Quem acredita que foi erro na impressão?
Se tem um assunto que merece discussão ampla e adequada é o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. O tema torna-se ainda mais pertinente, urgente e também delicado, num momento como o atual, em que a internet abriu a possibilidade para qualquer pessoa criar seu próprio “veículo de comunicação”, por meio dos blogs. Todos nós blogueiros nos sentimos um pouco jornalistas... Mas entre esse “um pouco jornalista” e o exercício de fato do jornalismo vai uma boa diferença. Acontece que essa diferença nem sempre é visível por aqueles que não conhecem, por formação ou proximidade, os meandros da profissão do jornalismo. Nem sempre é fácil perceber tudo o que está em jogo na elaboração de uma reportagem, que de modo algum se confunde com “escrever bem”, saber opinar ou estar “plugado” com o que está acontecendo. Bem, a Brunna já mostrou a que níveis de escrotidão pode-se chegar em tema tão importante.
Outro fator, que reforça a sensação de que qualquer um que escreve sobre as coisas que acontecem já é jornalista, é a crise de qualidade e credibilidade que assola o jornalismo tido como “grande”, que muitas vezes se confunde com assessoria de imprensa escamoteada de certas figuras políticas ou grupos econômicos, para não entrar em detalhes aqui. Muitas vezes por se ver obrigado a submeter seu texto a um editor comprometido com interesses que se mostram maiores que a qualidade jornalística, outras vezes por alinhamento com a “concepção de jornalismo” desse mesmo editor, jornalistas veem-se exercendo papéis que se distanciam dos princípios básicos da profissão.
Embora ainda não tenha avaliado todas as consequências dessa “liberação do diploma” promovida pelo STF, de minha parte, por princípio, vejo com bons olhos a desregulamentação. Afinal, o jornalismo é muito mais um ofício que uma profissão. Não dá para comparar com a química, a enfermagem, a medicina, a engenharia ou a arquitetura, só para citar algumas. Grandes jornalistas nunca cursaram jornalismo; me lembro de cabeça do Aloysio Biondi, que até onde eu sei nunca se formou em nada, e foi um jornalista de peso.
Eu mesmo, que tenho formação em música e letras, já fui jornalista algumas vezes, quando realizei algumas reportagens. Além de mim, no Futepoca, blog escrito basicamente por jornalistas, tem ainda a Brunna Rosa, que é socióloga de diploma, mas que teve sua formação na lida diária como jornalista na revista Fórum. Tanto ela quanto eu, estou certo, aprendemos muito com o convívio com jornalistas de ofício. E foi assim que pude começar a entender o que significa elaborar uma reportagem, reunir diferentes depoimentos para construir a versão de uma história, entender como lidar com uma fonte e dar conta de que as várias partes envolvidas sejam ouvidas, a diferença entre fatos, dados e opiniões, a clareza nas referências... Nada disso é óbvio para quem não é do ramo. E é aí que se percebe a diferença entre saber escrever e ser jornalista.
A questão para mim, agora, não é tanto ser a favor ou contra a obrigatoriedade do diploma, mas como fazer para divulgar o máximo possível os princípios da atividade jornalística e, com isso, ampliar a capacidade de julgamento do público leitor em relação à qualidade da comunicação. É sem dúvida assunto para os educadores, mas não só. Os próprios comunicadores têm a sua responsabilidade na formação dos leitores, para que a desregulamentação não redunde em desrespeito. E para que ela se torne uma real oportunidade de democratização da comunicação, e não motivo para precarização do ofício do jornalista.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes (foto), adiantou ontem que pretende concluir ainda neste ano a votação do mérito da Adin (Ação de Inconstitucionalidade) contra a lei seca, segundo integrantes da Frente Parlamentar do Trânsito Seguro. O ministro estaria preocupado com "interesses da coletividade". Mas digamos que seja uma "coletividade privada": a constitucionalidade foi questionada pela Abrasel (Associação Brasileira de Restaurantes e Empresas de Entretenimento). A lei pune quem dirige com qualquer quantidade de álcool no sangue e impede a venda de bebidas nas áreas rurais de rodovias federais.