Claro que sou suspeito por ter participado da conversa, mas a entrevista com Mano Brown para a revista Fórum (aqui e aqui) vale a pena ser lida pela contundência e transparência de suas análises, que vão muito além do que pensam alguns acadêmicos encastelados de nossas universidades. Contudo, fora a política, tema tratado por ele em boa parte do papo, Brown também fala sobre outra questão atinente a este blogue: o futebol.
"Ah, melei mesmo, contrata a Xuxa também" (Foto Guilherme Perez)
Torcedor fanático do Santos, ele conta como "vetou" a contratação do atacante Rafael Moura, vulgo "He-Man" pelo time da Vila. "Inviabilizei a
contratação do Rafael Moura, ah, melei mesmo, contrata a Xuxa também, tá
de brincadeira [risos]. Aquela reunião [com alguns dirigentes do clube] foi treta, aí eu sugeri: 'Traz o
André aí'."
Brown ainda fez outra crítica à forma como o estádio da Vila Belmiro, já há algum tempo, vem sendo modificado pelos dirigentes. "O Santos tá com um complexo de pobreza que eu não
compreendo, esse negócio ridículo de colocar vidro no estádio inteiro,
não dá pra ouvir as vozes da torcida, diminui a pressão. Os caras ficam
batendo nos vidros, ficam parecendo loucos, esse negócio de colocar
televisão nos camarotes", criticou. "O setor Visa é vazio o ano inteiro, eu já
perguntei ao presidente pra quem que é bom o marketing da torcida vazia,
abre a câmera e o estádio está vazio."
Sobre Neymar, o rapper não poupa elogios. "O Neymar é sensacional, melhor coisa que
aconteceu no Brasil depois da eleição do Lula", diz. "Só poderia ter nascido no
Santos mesmo, é foda, não cabe em outro time, mano."
Dava pra ver, pelos
primeiros cinco minutos de partida, qual era a proposta de cada um
dos times que jogavam no Pacaembu hoje. De um lado, um Santos sem
Dracena, Bruno Peres e Arouca procurando o ataque, principalmente
pelos lados, e, do outro, um São Cetano em situação agonizante no
campeonato com um esquema defensivo, esperando um vacilo do rival
para tentar a sorte na partida.
E o vacilo aconteceu
cedo. Em uma bola que voltou rebatida do meio de campo, Durval falhou
grotescamente deixando o caminho para o gol livre para Jael. O
defensor teve que fazer falta e o atacante, ex-Portuguesa e Flamengo,
vulgo “o cruel”, fez o tento com uma bela cobrança, ao lado da
barreira, mal montada por Rafael.
A partir daí, a toada
seguiu a mesma, com o Peixe pressionando e o Azulão recuando. Os
mandantes criaram inúmeras chances de gol, com Neymar mais de uma
vez, com Giva, chegando com Cícero... E nada de o gol sair. Um
domínio inconteste na etapa inicial, com o Alvinegro tento mais de
68% de posse de bola, e doze finalizações contra duas do São
Caetano.
O técnico Daniel
Martine resolve levar o manual do ferrolho muito a sério e
substituiu o meia Éder Marcelo pelo volante Moradei aos 34 minutos.
Foi contestado à distância pelo goleiro Fábio e, no intervalo,
pelo capitão Eli Sabiá, que disse à imprensa que discordava do
treinador. A decisão quase se mostrou errada em cinco minutos, tempo
no qual Moradei tomou um cartão amarelo e só não tomou o segundo
ao fazer uma falta por trás em Neymar porque o juizão preferiu a
advertência verbal.
Na segunda etapa, a
pressão deu resultado, com um belo gol de falta anotado por Neymar,
aos 7 minutos. O São Caetano até tentou sair mais para o jogo, mas
conseguiu no resumo da etapa final mais duas finalizações, enquanto
o Peixe, que tentou e criou muitas oportunidades, em especial até os
30 minutos, finalizou mais 15 vezes e não conseguiu a virada.
A troca feita por
Muricy no intervalo, de Giva por André, não surtiu o efeito
desejado pelo comandante. Apesar de o atacante ter feito uma função
diferente, fazendo mais o pivô, muitas vezes seus passes – muitos
de calcanhar, o que irritou um pouco o torcedor por serem mal feitos
– atrasavam o lance ao invés de aprofundar a jogada.
Apesar do empate em
casa, pode-se dizer que o time fez uma boa apresentação. O
destaque, pra variar, foi Neymar, que mandou na partida
principalmente no segundo tempo, fazendo as vezes de meia e deixando
Monitllo, Léo ou Pato Rodríguez na esquerda. Um resultado que não
faz muita diferença para o Santos, mas que afunda ainda mais o São
Caetano, agora um pouco mais perto do rebaixamento. Próxima parada,
Piauí, contra o Flamengo local, pela Copa do Brasil.
“Você esteve duas
frente à frente do goleiro Renan [e não fez os gols]. Ele
levou a melhor?”
“Claro que não, meu
time ganhou de 2 a 1.”
Foi assim que um
espirituoso Neymar respondeu a uma das perguntas feitas por
jornalistas na saída do gramado da Vila Belmiro. Mais de uma vez,
também, o craque sugeriu, sorrindo, que “cada um cuidasse da sua
vida”, ao comentar um suposto atraso no treino de sexta, não
confirmado pelo Santos, mas ventilado por jornalistas ou por alguém
com interesse na venda do atleta.
De qualquer forma,
Neymar está voltando. Depois de duas semanas sem jogar por conta de
suspensão, voltou a apresentar jogadas plásticas, como um chapéu
em cima de Ademir Sopa, e também dribles desconcertantes sobre os
rivais. Sim, foi egoísta em algumas jogadas, especialmente no final
da partida, quando chegou a incomodar os torcedores na Vila Belmiro.
E a marcação do Guarani por vezes facilitou o trabalho, como no
segundo gol santista, quando Neymar roubou uma bola no meio de campo
e passou por dois adversários para dar uma assistência daquelas
paternais a André, que marcou.
Neymar poderia ter
jogado mais, mas foi melhor do que vinha sendo. Assim como Montillo,
que foi o melhor em campo não só pelo primeiro gol (seu segundo pelo time), uma bela
finalização após pedalar num contra-ataque armado por Arouca. Ele
também o “arco” da equipe, ora tentando bolas longas, ora
conduzindo a redonda até o campo adversário. Ainda fez por diversas
vezes a cobertura do lado direito, onde Bruno Peres, pra variar,
ofereceu verdadeiras vias expressas para o ataque bugrino.
Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC
Aliás, foi pelas
laterais que o Guarani, após o zagueiro Tiago Pagnussat marcar seu gol em escanteio aos 13 do
segundo tempo, forçou as entradas na defesa peixeira. Em dados
momentos, a pressão campineira parecia que ia resultar em gol, já
que a vontade dos comandados do treinador Branco (sim, o
de 1994) parecia superior à dos santistas, que não tinham
nenhuma compactação entre ataque e defesa e chegaram a ficar no
mano a mano com o ataque adversário algumas vezes.
Quando a equipe
da Vila se postou para aproveitar os contra-ataques e jogar no (s)
erro (s) do Guarani, criou chances. Uma, duas, três... Como as que
Neymar não aproveitou diante do goleiro Renan, como lembrou o
repórter na saída da partida. A propósito, Renan é aquele mesmo,
convocado quando estava no Avaí por Mano Menezes em seu primeiro
jogo pela seleção, contra os EUA. Contratado pelo Corinthians em
2011, estava no Estoril de Portugal mas ainda pertence o Alvinegro da
capital paulista, que paga o
salário do arqueiro.
Não foi uma peleja
digna de nota, mas valeu por Montillo e pela volta de Neymar, que vai
desfalcar o Santos contra o Mirassol, dia 21, e o Palmeiras, dia 24,
porque estará na gloriosa seleção canarinha de Felipão. Mas não
valeu pela atuação irregular de André, que, apesar de marcar um
gol, continua jogando mal e teve que escutar a torcida aplaudindo
Giva, que o substituiu aos 24 da etapa final, em seu primeiro lance.
Hoje, o Santos dorme na
liderança da competição, embora possa acordar depois do fim de
semana na mesma quarta posição em que estava antes do jogo. E
seguimos em busca de um futebol melhorzinho...
Perto do final da
partida, Felipe Anderson, que havia entrado no lugar de Montillo,
carrega a bola pelo lado direito do ataque. Sem opção de passe, nem
do lado, nem à frente, nem atrás, resolve tentar um passe longo no
meio do ataque santista. A defesa do Atlético de Sorocaba retoma a
posse de bola e Muricy grita com seu pupilo que ele devia ter
segurado a bola para gastar o tempo e assegurar a vitória.
O treinador não se
incomodou com o fato de o meia-atacante peixeiro estar sozinho.
Deveria dar bronca nos colegas dele. Mas não o fez. Pouco depois,
Patito Rodríguez, que havia entrado no lugar de Giva, recebeu bola
na esquerda. Sozinho, fez algumas firulas, sem ninguém se aproximar
dele. E foi o “desobediente” Felipe Anderson que apareceu ao
lado, recebeu e, de forma arredia, passou por dois adversários e
quase marcou o terceiro gol santista.
Felipe Anderson não é
um cracaço, mas se movimentou e apareceu pra receber, atravessando o
campo, quando o companheiro tinha a bola. Faltou muito isso para o
Alvinegro durante todo esse ano de 2013, e parece que Muricy se
incomoda mais se um atleta não segura a bola do que com o fato de
que ele não tenha opção de passe. Mesmo tentando compactar o campo
com uma linha de impedimento perigosa, na primeira etapa o Peixe
permitiu aos donos da casa o ataque fácil no meio da zaga e pelos
lados, onde a marcação em geral era feita no mano a mano. Menos
culpa dos laterais e muito mais da forma de jogar. O destaque sorocabano era Bruninho, habilidoso e rápido, mas que sumiu no segundo tempo.
Mas se o jogo alvinegro
não fluía, foi em dois contra-ataques capitaneados pelos dois meias
que caíam pelos lados que os visitantes fizeram dois a zero no tempo
inicial. Primeiro, com Montillo, que marcou seu primeiro gol pelo
Santos depois de uma jogadaça de Arouca, que saiu de trás, tocou e
recebeu de volta de Bruno Peres e cruzou para o portenho fazer. Quase
no fim do primeiro tempo, Cícero deu um belo drible no lado canhoto
e cruzou com consciência para André, até então apagado, marcar.
O Atlético fez o seu
logo no começo do primeiro tempo com Tiago Marques, uam bela cavadinha justamente depois de uma tentativa
malsucedida da defesa peixeira de desenhar a tal linha de
impedimento. Mas ficou ali. O Santos controlou a partida, dominou a
posse de bola e quase chegou ao gol em três ocasiões ao menos.
Montillo jogou talvez seu melhor jogo, deu um grande passe para André
desperdiçar e acertou outros bons passes. Sem Neymar, que tomou o
terceiro cartão amarelo contra o Corinthians, o argentino foi a boa
notícia da partida porque, de resto, o Santos mostrou uma falta de
contundência que irritou quem esperava um desempenho digno da
superioridade que um time tinha sobre outro no papel e nas contas
bancárias.
Valeu pela vitória,
dirão os mais otimistas. Sinceramente, uma vitória pela diferença
mínima contra o Sorocaba, que se ofereceu para ser sacrificado com
requintes de crueldade na etapa final, é algum feito que se preze? O
torcedor espera mais conjunto, mais futebol bem jogado, e também um
pouco mais de ímpeto ofensivo para superar um rival inferior técnica
e fisicamente como ocorreu hoje.
Após a execução –
entenda como quiser – do hino nacional pela dupla Hugo e Tiago,
aqueles que resistiram puderam assistir à peleja entre Ituano e
Santos. A equipe visitante foi ao interior com três mudanças:
Arouca e Renê Júnior foram poupados (mas já, professor?) e cederam
lugar a Adriano e Miralles. Foi a terceira formação tática
distinta de Muricy Ramalho no Paulista, depois de ter usado na
segunda etapa do jogo contra o Bragantino o 4-4-2 clássico com Renê
Júnior jogando mais à frente do lado de Arouca (ver mais neste
post do Blog do Carlão).
Outra alteração foi a
entrada do zagueiro Jubal, citado aqui,
no lugar de Neto, que tomou um pisão no aquecimento (!). O moleque
de 19 anos atuou bem, com a tranquilidade que lhe é característica,
mas outros companheiros não atuaram tão bem. Guilherme Santos, como
na partida contra o Bragantino, mostrou que tem dificuldades para
defender o lado esquerdo. No esquema de Muricy com o losango do meio
de campo, é justamente essa área que recebe a cobertura do meia que
defende menos, Cícero, que não é mau marcador, mas “pega”
menos que Renê Júnior e Arouca. Por ali, o Ituano tentou chegar
mais, ainda que não tenha criado chances efetivas, daquelas de fazer
o torcedor gritar “uh” durante os 90 minutos.
O Alvinegro também
teve dificuldades ofensivas. Neymar não estava inspirado, embora
tenha quase feito um gol fantástico no segundo tempo, e Monitllo
criou muito pouco. André mais uma vez decepcionou, e foi substituído
ainda no intervalo por Felipe Anderson. A mudança deu certo e o
Santos tomou conta do jogo durante os primeiros 15 minutos do segundo
tempo, período em que saiu o belo gol de Cícero, uma finalização
de longa distância que deu um efeito inusitado na bola. O meia fez
seu terceiro gol no Paulista e é um dos artilheiros da competição.
Foi o suficiente para o Peixe levar o jogo em banho maria, com os
donos da casa té tentando uma pressão infrutífera a partir dos 30
minutos. Mas faltou futebol.
Em uma partida na qual
Neymar brilhou mais uma vez, marcando, dando assistências e fazendo
lances vistosos, o Santos mostrou mais entrosamento e alguns
jogadores começaram a se mostrar mais adaptados à camisa alvinegra.
Cícero combinou com o Onze peixeiro no primeiro tempo, deu e recebeu
passe, assim como Montillo, que deu um presente para o ainda
hesitante André não marcar.
Neymar: um chapéu diferenciado (Reprodução)
Mas o destaque dos 3 a
0 do Peixe sobre o Botafogo não foi um dos homens de frente, e sim o
volante Renê Júnior, que também causou ótima impressão em suas
outras duas partidas. Mesmo quando a equipe se arriscou à frente e
abriu a retaguarda, ele não permitiu que os botafoguenses ameaçassem
a zaga santista. No jogo, seus números são excelentes: foram 12 desarmes e
52 passes certos, sem nenhum errado. Teve seu nome gritado em sua
primeira peleja na Vila, e deixa a situação de Adriano, que ainda
não renovou seu contrato, um pouco mais difícil.
Mais uma vez apagado,
André deu lugar ao argentino Miralles no segundo tempo e, também
mais uma vez, o reserva marcou. Muricy insiste com o garoto não
somente para dar ritmo de jogo a ele, mas também porque é um atleta
querido pelos companheiros. Rafael puxou aplausos para o nove quando
este foi substituído e a torcida, até então impaciente, atendeu ao
apelo. Mas a paciência, do torcedor e do técnico, tem limites...
Abaixo, os gols e o
inusitado chapéu de Neymar no centroavante botafoguense Nunes.
Falta de interesse. DE
jogadores, do técnico, mas não de muita gente que compareceu ao
estádio do Bezerrão, no Gama. Muita gente foi ver Neymar, que
apareceu em duas oportunidades: no lance em que achou André, que
serviu Bruno Rodrigo no gol do Santos; e outra vez em uma jogada na
qual conseguiu o drible, mas finalizou para a defesa de Márcio.
Neymar não brilhou, e
o Alvinegro fez uma partida pavorosa, porque só sendo abaixo da
crítica para tomar uma virada do rebaixado Atlético-GO em quatro
minutos, perto do final da partida. Claro que se pode atribuir parte
da responsabilidade ao árbitro Emerson de Almeida Ferreira, que agiu
de modo variado na peleja. Primeiro, não marcando falta em Neymar no
lance que originou o primeiro gol do Dragão. Depois, deu uma
“assistência” (calcanhar, coisa fina) para o ataque goiano, na
jogada que terminou em pênalti para os donos da casa. Obviamente que
a arbitragem não justifica a derrota, mais que merecida, mas é bom
anotar o nome do juizão, que é ruim demais.
Dessa vez, Muricy
Ramalho teve uma parcela de culpa considerável. Não só pela
apatia, semelhante à dos jogadores, mas pela falta de capacidade de
mudar o ânimo da equipe. E a composição da equipe. Quando colocou
Victor Andrade, foi no lugar de André, que jogava mal (para variar),
no entanto preocupava um pouco a zaga adversária. Poderia ter tirado
um dos três volantes do time, já que o meio foi o ponto fraco do
Alvinegro: Arouca, mais à frente, não foi o elemento surpresa que
costuma ser, Henrique foi nulo e Adriano... foi Adriano. Como os
atleticanos não se portaram como
o Cruzeiro, dando espaços para as subidas santistas, era mais
interessante colocar alguém que soubesse tratar melhor a bola no
meio para chegar com um mínimo de qualidade na frente.
Os laterais foram mal
atacando e marcando. Galhardo passou boa parte do segundo semestre no
departamento médico, até se justifica o desempenho, e Gérson
Magrão, hoje meia, foi pífio pela canhota. Noves fora, sobrou
Neymar. Que mesmo jogando abaixo do que pode, é quem busca o jogo.
Nem sempre faz milagre, e poderia receber ajuda de vez em quando dos
companheiros. Hoje, não foi o caso.
Compensa? -
Outro dado que vale para a arbitragem em geral, não apenas para esse
jogo, pôde ser verificado num lance com o garoto Victor Andrade. Ele
sofreu falta do zagueiro Gustavo, que já tinha cartão amarelo.
Carrinho, daquelas infrações bem doídas só de assistir. Mas o
garoto, assim como Neymar, parece antever o lance e ameniza a
brutalidade adversária. Ao invés de ficar no gramado para
evidenciar a falta, se levantou rapidamente e perdeu a bola dois
segundos depois. Não se sabe se o árbitro não viu a falta ou se
deu a vantagem inexistente. O que se sabe é que levantar e buscar a
bola não foi bom negócio para o jogador. Compensa esse procedimento
com o nível de arbitragem que temos por aqui?
Além de ser excelente
com a bola nos pés (ou na cabeça, na canela, no joelho...), Neymar
também está um pouco acima da média quando concede uma entrevista
pós-jogo. Aguenta inclusive várias perguntas pouco amistosas e a
repetição ad nauseam da questão eterna sobre transferência
para fora do Brasil. Se fosse certo candidato a prefeito, talvez
mandasse o repórter perguntar para o árbitro, o Muricy, o Laor, o
adversário, mas o garoto aprendeu a ter paciência. E a refletir
diante dos microfones.
Ainda no gramado,
depois do tenebroso embate entre Santos e Náutico na liberada Vila
Belmiro, o atacante deu o diagnóstico da partida, pelo lado
alvinegro. Sobre ter reclamado no primeiro tempo com os colegas de
time, que não se mexiam para receber a bola, declarou: “Eu peço
para os companheiros jogarem, não para ficarem olhando para minha
cara esperando eu jogar. É só correr um pouco para confundir a
zaga”.
Era o que o torcedor,
na Vila diante da TV, queria que os santistas fizessem. Que se
movimentassem um pouquinho só. Mas André, no meio dos zagueiros,
lembrava os últimos dias de Ronaldo no Corinthians, ainda que a
diferença de idade e de “integridade” física não justificasse
a imobilidade do moleque. Patito até corria, mas não sabia pra
onde, enquanto Felipe Anderson falhava sempre que se esperava algo
dele, parece tremer diante da pressão da torcida, do técnico, dos
colegas... Miralles, contundido, foi ausência sentida.
Só, somente só (Santosfc)
Um time lento, que
viveu de lampejos de Neymar e, pasmem, de subidas do zagueiro Bruno
Rodrigo ao ataque no tempo derradeiro, mais eficiente que seus
parceiros de frente. Na primeira etapa, o Náutico conseguiu encaixar
contra-ataques e, em uma jogada grotesca de Gerson Magrão (que
estava cobrindo o lateral do outro lado, diga-se), teve um pênalti a
seu favor. Talvez pelo ímpeto saltitante do arqueiro Rafael, o
atacante Kieza conseguiu ser tão bizonho quanto o lance que originou
a penalidade, mandando pra fora a bola. É, a partida não merecia um
gol...
No segundo tempo, o
Santos melhorou e os visitantes foram recuando e praticando o
tradicional antijogo, tolerado pela arbitragem brasileira. Um, dois,
três, quatro, cinco jogadores caíram no gramado no terço final do
segundo tempo, nada que quase qualquer outra equipe daqui não
fizesse em situação semelhante. O jogo teve 50 faltas e várias não
marcadas, o que pode mostrar que o problema dos árbitros brasileiros
talvez não seja o de “marcar qualquer faltinha”, mas sim de
tolerar sequências de faltas, às vezes de um mesmo atleta, sem
punição. Todos ficam à vontade para bater, de forma sutil ou de
forma viril.
Jogo tétrico, o jeito
para o santista é esperar 2013.
Foram três bolas que
tocaram ou resvalaram a trave, só na primeira etapa. Em outras
ocasiões ela também rondou perigosamente a área do Santos, e
parecia questão de tempo para o Botafogo marcar no Engenhão, tal a
superioridade na maior parte do primeiro tempo.
A partir daí, pense em
bordões do futebol do tipo “Quem não faz, toma” (ou “leva”,
de acordo com o gosto do freguês). E, você, torcedor, que mesmo
ateu, sabe que no futebol existem uns deuses gozadores que adoram
brincadeira, lembre de outro chavão, aquele que diz que tem coisas
que só acontecem com o Botafogo. Está aí a receita algo metafísica
que fez o Santos bater os donos da casa, com um segundo tempo no qual
fez dois, mas poderia ter feito pelo menos outros dois. Tudo o que os
alvinegros cariocas não fizeram na etapa inicial.
Mas seria injusto
colocar só na conta do imponderável a vitória peixeira. Desta vez,
Muricy Ramalho tem sua cota de méritos. Trocou Bernardo, perdido
taticamente, ainda no fim do primeiro tempo e colocou Henrique em seu
lugar. Ganhou o meio de campo e contou com a fragilidade defensiva
botafoguense, que marcava em linha e deu muitas oportunidades para os
visitantes depois do intervalo.
Miralles fez o segundo (Ricardo Saibun/Santos FC)
André marcou o
primeiro, em cobrança de escanteio de Felipe Anderson escorada por
Ewerton Páscoa. Mesmo com pouca mobilidade, o centroavante continua
fazendo o seu vez ou outra, o que o livra das críticas mais severas
da torcida. Seu companheiro de ataque, o argentino Miralles, fez o
segundo com uma bela assistência de Felipe Anderson, cuja evolução
é notável nas últimas partidas, não se sabe se por conta do
“tratamento de choque” do pouco afável técnico ou da saída de
Ganso que não lhe faz mais sombra do departamento médico.
Parte da torcida da
casa já havia desistido antes da partida, dado o comparecimento de
pouco mais de quatro mil pessoas. E quem estava lá já protestava
antes da metade da segunda etapa, pedindo a volta de Loco Abreu à
equipe. O Botafogo até batalhava em campo, mas as almas já estavam
longe dali. Antes a torcida pedisse Garrincha...
O Santos perdia
chances, com André, com Miralles, com Felipe Anderson. Até o
improvável Patito Rodrigues levou perigo quando entrou. Foi uma das
raras vezes que os jogadores santistas pareciam saber o que faziam
nesse campeonato. Ainda que tenha sido por pouco mais de 45 minutos.
Destaque para Arouca que, mais solto, parecia – ou era – dono do
time, conduzindo e organizando o meio de campo, o que não é sua
característica. Às vezes a personalidade e a confiança valem mais
do que a técnica.
Assim o Santos bateu o
Botafogo, a primeira vitória fora de casa sem Neymar. Sim, foi sem
Neymar. Porque tem coisas...
Esse aí era o tuíte
do ex-atacante do Corinthians entre 2009 e 2011 após o clássico em
que o Santos venceu o Corinthians na Vila Belmiro, hoje. Procurei,
mas não achei nenhuma reclamação do empresário em duas partidas
de 2010 envolvendo as duas equipes, a não ser o queixume em relação
a uma peleja do campeonato paulista, quando reclamou que alguns
meninos santistas estariam “fazendo
gracinha”. Hoje, ele ganha dinheiro com a imagem de um desses
meninos e talvez pudesse até ganhar mais alguma coisa, caso a
transferência do garoto para o Real Madrid tivesse dado certo.
Mas as duas partidas
das quais Ronaldo não reclamou naquele ano foram um Corinthians 4 X
2 Santos, no Pacaembu, e um Santos 2 X 3 Corinthians, na Vila. Na
primeira, Marquinhos fez o tento que seria o de empate para o time
praiano (aqui e aqui). Já no segundo jogo, um impedido Danilo fez o
passe para Paulo André marcar o gol da vitória corintiana (aqui e
aqui). Também não lembro de nenhum repórter se portar indignado
“exigindo” atitudes do treinador da equipe prejudicada, como vi
hoje com um sentimento de vergonha alheia na coletiva dada por Tite.
Erros acontecem, é
justo o prejudicado se mostrar indignado. Mas parte da mídia
esportiva e do meio futebolístico levam a coisa ao limite tão
desnecessário quanto o empurrão de Guilherme em Neymar no final do
jogo. Mais “equilibridade”, Tite.
*************
A partida em si foi um
jogo movimentado, rápido, que mostrou coisas novas e nem tanto. Em
relação ao Corinthians, uma equipe concentrada, que no início dos
dois tempos marca no campo adversário e depois joga no erro do rival.
Forte nas bolas paradas à frente, já o Santos pena no mesmo tipo de
lance atrás, o que não é novidade. Novo é o time da capital tomar
gol desse jeito, assim como o Peixe fazer.
Meninos curtem a casa (Ricardo Saibun/Santosfc.com.br)
Também é nova a
movimentação santista no ataque, com Patito Rodriguez no lugar de
Henrique e Adriano assumindo uma função praticamente de terceiro
zagueiro. Embora na etapa inicial isso tenha criado um buraco no meio
de campo no qual o Timão deitou e rolou, no segundo, a equipe foi um
pouco mais compacta, dificultando as ações adversárias, com Ganso voltando mais e particpando mais da partida, o que fez pouco na etapa inicial.
Pelo lado peixeiro, bela atuação do goleiro Rafael, que foi bem em duas finalizações de Romarinho, e
de Neymar, que fez uma senhora jogada no primeiro gol do Santos, deu
assistências e cobrou o escanteio do gol da vitória de Bruno
Rodrigo. André já se mostra à vontade na casa que foi sempre sua e
Patito cai nas graças da torcida pelo estilo impetuoso de atuar, sem
tremer em seu clássico de estreia. Bons augúrios pelos lados da
Baixada.
Logo depois de disputar
o amistoso pela seleção brasileira contra a Suécia (valeu, Mano),
o atacante Neymar retornou, de jatinho fretado, para o Brasil. Após
14 horas de viagem, chegou às dez, pela manhã, desta quinta. Querendo
jogar. A decisão de entrar em campo hoje foi do craque alvinegro,
segundo a diretoria do Santos. O atleta e seus patrocinadores, não o clube, bancaram sua
viagem de volta.
Sou contra um jogador
atuar com tão pouco tempo de descanso. Mas parece que o menino
queria esquecer as Olimpíadas, chegar logo no lugar em que se sente
à vontade. Sua “casa móvel”. Ver seus amigos, reencontrar
André, o filho pródigo. E quem não gosta de chegar em casa depois
de uma situação estressante? E há quem julgue e condene o garoto
até por gostar do seu lar.
Perdeu um gol incrível,
aos 29 da primeira etapa. Pensei: “tá vendo, não é pra ele estar
jogando, nem deu pra se adaptar ao fuso horário”. Logo depois, o
volante Túlio, notório carniceiro, deu um carrinho sem bola no Onze. Cartão vermelho que equilibrou o jogo, pois o lateral Juan tinha sido expulso aos 9, depois de uma falha coletiva impressionante
do Santos na qual o atleta (desta vez) foi dos que teve menos culpa.
De resto, Rafael, na sua reestreia após a contusão da seleção
brasileira (valeu, Mano), fez pelo menos duas defesas importantes.
Na etapa final, o gol
do Figueirense parecia querer confirmar o medonho retrospecto
peixeiro fora de casa, aos 3 minutos. No entanto, Neymar, em jogada rápida e
depois de passar por dois marcadores, fez o
primeiro tento do Santos no Brasileirão fora de casa. Sua rapidez daria o ar da
graça em outras jogadas e a defesa do Figueirense foi sendo minada
até ruir em jogada individual de Bruno Peres. A defesa catarinense
se preocupou com Ganso e Mirales, enquanto o lateral marcou o gol (requintado) da
virada.
Boas recordações para o santista. Farão igual? (Twitter)
E Ganso, apagado na
partida, também fez o seu depois de fazer um belo passe para o santo
Neymar, que devolveu com sobras o presente para o meia alvinegro.
Rafael chegou a evitar um segundo gol dos donos da casa, mas o Peixe,
agudo, também foi algumas vezes à frente ameaçando a meta do
Figueirense.
Depois do apito final,
o torcedor teve esperanças de, talvez, chegar a uma Libertadores em 2013. Com Neymar jogando livre e não
confinado a um quinhão do gramado (viu, Mano?) o Santos é uma outra
equipe, mas as novas peças da equipe podem permitir a Muricy fazer
uma equipe que jogue um pouco mais bonito do que as formações que
vinham atuando ao longo do Brasileiro.