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terça-feira, novembro 17, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 89

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O QUE EU BEBI


Clarice Falcão

O que eu bebi por você
Dá pra encher um navio
E não teve barril
Que me fez esquecer

O que eu bebi por você
Nunca artista bebeu
Nem pirata bebeu
Nem ninguém vai beber

O que eu bebi por você
Quase sempre era ruim
E bem antes do fim
Eu já tava à mercê

O que eu bebi por você
Me fazia tão mal
Que já era normal
Acordar no bidê

Cada dono de boteco
E catador de lata
Agora te sorri agradecido

Se seu plano era contra o meu fígado
Meu bem, você foi bem sucedido
Parabéns pra você


(Do CD "Monomania", Casa Byington/Sony Music, 2013)





terça-feira, setembro 29, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 87

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O GÁS ACABOU
(Luiz Américo - Braguinha)


LUIZ AMÉRICO


O gás acabou, tem pouca comida,
Acabou meu dinheiro
Pagamento está longe,
Ainda não pintou o décimo terceiro
As pratinhas do Zé
Que ele juntou pra comprar a chuteira
Se o vale gorar
Já dá pra inteirar a despesa da feira

E aqui estou eu
Pedindo carona pra ir trabalhar
Pensando na nega mãe dos meus moleques
Que nunca se queixa
E está sempre a cantar
Seja lá o que Deus quiser

Pobre é esse sofrimento
Recebe só vale no seu pagamento
Pobre é esse sofrimento
Recebe só vale no seu pagamento

O dia de ontem, somado ao de hoje é a mesma rotina
E pra disfarçar minha distração é o boteco da esquina
Conversa fiada, que não leva a nada só pra distrair
E a gente se cansa, depois vai pra casa jantar e dormir

E aqui estou...

(Do LP "Cartão vermelho", RCA, 1977) 




quarta-feira, abril 08, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 85

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LÁ SE VAI O CAMPEONATO


Domingo, chegou o grande dia
Meu time nas finais, uma tarde de alegria
No boteco, com os camaradas
A cerveja lidera a invasão da arquibancada!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

Nossa torcida cumpre seu papel
Cantamos e cantamos, nosso time lá no céu
A defesa é como uma muralha
Nosso ataque corta como uma navalha!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O jogo segue empatado
O adversário luta e por isso é respeitado
E então um pênalti é marcado
Vamos ao deliro, chacoalhamos o estádio!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

A tensão congela nossas almas
E o nosso atacante corre para a bola
O nervosismo estampado nos seus olhos
O chute muito alto e a bola vai pra fora!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O empate não é nosso resultado
Um pênalti perdido, lá se vai o campeonato!
A raiva nos toma o coração
Queremos quebrar tudo, mas beber é a opção

Olê!Olê!Olê!Olê!.....

Cantando, vamos para o bar
Lembrar as nossas glórias, a mágoa afogar
Apesar da alegria, ninguém pôde esquecer
Que o maldito campeonato, acabamos de perder!

(Do CD "Canções de batalha", gravadora TRREB, 2004)




quarta-feira, maio 29, 2013

Na seca por 18 meses, há 10 anos

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Meu fígado sempre foi meu orgulho. Quando a médica pediu uma ultrassonografia de abdome superior para ver o estado hepático não hesitei na piada: "Tá de quantos meses? Nasce quando, doutora?"

Não fui eu quem riu por último.

Quando peguei o resultado do exame, o diagnóstico parecia nada bom. "Esteatose hepática difusa grave".

Grife-se o "Grave".

Foto: Marcelo Reis/Wikicommons


Uma consulta ao Doutor Google aconteceu antes que eu pensasse que isso não ajudaria. Na lista das primeiras páginas listadas à época, abri tudo quanto era tipo de artigo. O mais marcante era de um zootécnico, que descrevia o fenômeno em bovinos. "Será que de tanto beber que nem um porco você vai terminar virando uma vaca?", ouvi de um interlocutor, ainda em mesa de bar.

Faz dez anos neste mês de maio de 2013 que este outrora assíduo ébrio -- atualmente um moderado, como todos os leitores do Futepoca -- recebeu a recomendação médica de parar de beber. "É pelo bem do seu fígado. Você não gosta dele, não gosta?"

Eu gostava...

O terror e pânico da médica foram calculados para assustar um embriagado de 22 anos. O medo assegurou 18 meses sem ingerir bebida alcoólica nem gordura. Minto: fiz uma incursão fura-lei-seca depois de sete meses, para celebrar a conclusão da graduação na faculdade. Bastou um chope para ficar feliz-feliz. Os lipídios não tiveram a mesma sorte.

A parte feliz do "causo" é que, em um ano, o fígado estava novo, pronto para outra. Em seis meses adicionais, a liberação para voltar a atuar como profissional. Nesse tempo, uns 30 quilos se perderam.

Foto: Carla Salgado/Flickr
Um universo de cachaças para um simples manguaça


Fato é que, passada uma década, ainda mais quilos a menos, nunca voltei a desempenhar o mesmo papel dentro das quatro linhas da mesa quadrada de alumínio dos botecos do mundo. Houve esforço, mas as obrigações etílicas passaram a parecer maiores do que minha capacidade.

Muitos botecos vieram e virão, visto que tudo isso deu-se na era pré-Vavá, Espeto, Moscão e Roxão. O que significa que ao boteco voltei, tentei, insisti. E como insisti.

Na mesa do bar, naquela hora em que se separam os homens dos meninos, há muito que fico com a criançada.

Felizmente, a fama de manguaça permanece.

sábado, setembro 22, 2012

Promessa dramática

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– Ô, rapaz, tirou a barba – abordou-me o palmeirense no corredor da firrrma.

– Tirar é bondade sua. Só aparei, viu? – respondi, deixando claro que os pelos na cara seguem como marca registrada, até no calor do Centro Oeste.

– Mas foi promessa?

– Não. Até pensei em oferecer a barba como promessa caso o Palmeiras não caia, mas desisti. Uma reles penugem dessas seria insuficiente para sensibilizar o imponderável...

– É fato. Só se você prometesse cortar... – pausou meu palestrino interlocutor, causando suspense e me deixando sem respirar – os pelos do saco.

Entre o alívio, por ter me poupado do destino de eunuco de um lado, mas ainda chocado pelo fim escatológico da proposta de promessa, preferi não responder. A tréplica veio de graça:

– Do jeito que nosso time está, precisaria de uma promessa mais dramática.

sábado, setembro 15, 2012

Lula toma água em comício e manda militância tomar cerveja no boteco

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No primeiro comício da campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva declarou não poder mais tomar cachaça para refrescar a garganta e sugeriu que a militância vá às ruas e tome cerveja nos botecos para angariar votos para o candidato do PT.

Faltando 22 dias para a eleição, Lula debutou em comícios, uma prática comum no século XX como forma de políticos populares demonstrarem apoio popular. Foi na Zona Sul da capital paulista, no Capão Redondo. Outro comício nos mesmos moldes seguiu-se nas horas subsequentes. Hoje em dia, quando essa prática é tema de enciclopédia e livros de história, Lula segue como o único político em ação no Brasil capaz de mobilizar pessoas para sair de casa para vê-lo falar.

Depois de Lula, Haddad fez seu discurso carregado de sotaque paulistano, ô, meu. Insistiu nas críticas a Serra e deixou o PRBista livre de ataques. Até que mandou bem para um novato que fala depois de um orador do nível de Lula. Mas a estrela foi o ex-presidente.

Com a voz ainda mais rouca de pós-tratamento, Lula repetiu os autoelogios ao Universidade para Todos (ProUni), às melhorias no Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e a outras frentes de educação do governo federal de 2003 a 2010.

Ainda voltado a malhar mais José Serra, candidato do PSDB à prefeitura, do que ao líder nas pesquisas, Celso Russomano, Lula sugeriu calma ao tucano. "Depois dos 60, a gente corre o risco de enfarte", tripudiou.

A certa altura, depois de 10 minutos de falatório, o ex-presidente sentiu sede, necessidade que acomete humanos de modo geral. Alegando se tratar dos efeitos do tratamento que o fez superar um câncer na laringe, Lula sacou uma garrafa de água e, sem perder o bom humor, avisou que sabe de sua condição. Insinuou que, no passado, pediria uma cachaça para irrigar a garganta, mas que, agora, ia de água mesmo.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Insustentável

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Por Daniel Soares



João entrou no bar pisando duro, mãos nos bolsos das calças, camisa para fora delas. O colarinho devia estar desajeitado havia horas e o usual arrumadinho João não parecia se importar.

— Uma cachaça!

Vavá se impressionou, João não era homem de cachaça pelo menos até a quarta, quinta cerveja, quando outro João assumia o controle da cabeça.

— Certeza?

O olhar. Vavá se lembraria por meses, dormiria mal. Tanto peso, tanto desgosto num só olhar. Serviu a Velho Barreiro como quem servia sangue. E com Stanheger!!

João bebeu às sorvidinhas longas, bebia pouco por vez, mas inalava muito do vapor medonho da pinga. Todos no bar olhavam para ele, um jogo de sinuca parara no meio, duas discussões, a TV havia sido desligada.

— Um torresmo!

Vavá hesitou, João estava sempre preocupado com o colesterol.

— Mas... e o coração, o fígado?

Dessa vez não era o olhar que o destruía, mas sim uma certa pressão nos lábios. Tanto ressentimento! Nem o divórcio, nem sua mãe cheia de rancor por ter largado a faculdade décadas atrás, não sentira tanto desgosto nunca! Serviu o torresmo num papel grosso, que automaticamente se tornou transparente. João mordeu com mandíbulas que podiam cortar aço. Aquele homem que normalmente estaria elogiando as fotos dos filhos de alguém mais bêbado, que tinha dó de ganhar dos mais ferrados na sinuca apostada. Aquele homem que já dividira o prêmio do bicho com os amigos!

— Muito seco...

Todos esperaram, ninguém ousara se mover.

— Passa no óleo Liza pra mim, Vavá...

Olhos se arregalaram pelo bar. O João! No Lisa! Ninguém acreditava. Vavá já não ousava contrariar, mas se contorcia por dentro, não entendendo o ocorrido. Pegou a lata de óleo, trêmulo, despejou um bocado numa bandejinha vazia da estufa. Sentiu de longe o cheiro da gordura.

Todos observavam, alguns levantaram devagar das mesas e se puseram a olhar com mais atenção. Um no fundo fazia um sinal da cruz, lentamente, para que João não percebesse. João pegou o torresmo, descartara o papel, esfregou por todo o decorrer da bandeja. Enquanto sua mão subia, duas gotas de óleo caíram no balcão, fazendo tremer o chão do bar do Vavá. O torresmo alcançou a altura dos lábios. Paulão quis gritar, mas um outro o impediu por medo. João mordeu e mastigou devagar, beiços brilhando, óleo escorrendo pelo canto da boca. Virou a cachaça de um gole só.

Ele se levantou, todos se encolheram nas cadeiras. Foi até perto da mesa de sinuca, pegou um taco, ajeitou as bolas no veludo verde. O olhar destruidor foi quem convocou um pobre coitado para o jogo. João esfregou o giz leeeentamente, não se sabe se saboreava cada movimento ou se amaldiçoava cada milissegundo do universo. O outro engolia em seco como se fosse jogar na encruzilhada pela própria alma contra o diabo. E nem sabia o que ganharia se vencesse! Num “plá!” vigoroso João estourou as bolas. Encaçapou duas.

Todos olharam ao mesmo tempo, enquanto João continuava debruçado sobre a mesa de sinuca, como um soldado insano que admirasse a fumacinha saindo da ponta do rifle. O adversário sentia as mãos suarem, tremerem.

João era, pasmem, um sujeito baixinho, todo arrumadinho, usava óculos e era um príncipe entre os homens. Mal se reconhecia João naquela pilha de terror que jogava sinuca com hálito de óleo, pinga e desgraça. Uma parte de todo mundo ali pensava “ah! É só o João! Tome tento!”. Mas essa parte ficava quieta quando o homem dava seu olhar de morte para todos de vez em quando. Em minutos, o jogo de sinuca já havia virado massacre. Mané, o adversário, suava nas palmas, na testa e na alma. “João vai me matar!”

Depois de vencida a partida, João deixou o taco de lado e foi para o fundo do bar, onde uma Jukebox mais velha que Oscar Niemeyer se encontrava encostada desde antes da puberdade de Noé. João fuçou atrás dela e encontrou o fio da tomada. Ninguém ousou se mexer enquanto ele ligava a dita cuja. Fuçou por uns instantes, aprendeu a mexer na máquina e colocou Chico Buarque para tocar. Vai trabalhar, vagabundo!

Ele olhou pela sala em busca de alguma reclamação. Nada. Ouviu a música inteira encostado na máquina, olhando para lugar nenhum com seus olhos de morte certa. Quando a canção terminou, puxou o fio da tomada com força, olhou de novo para o pessoal.

— Casada.

Ninguém ouviu direito. Todos se levantaram um pouco e penderam na direção dele para entender melhor.

— Casada!!! É casada!!! Porra!!!

Ninguém tinha coragem de retrucar. João era puro descontentamento, pura raiva na figura de um baixinho vestido de social. Foi o Mané quem levantou a mão devagar para chamar a atenção e falou, ombros encolhidos, taco de sinuca ainda na mão.

— Você também, né, João?

João o encarou com o olhar mais pasmo que se podia imaginar naquela noite. Dez anos de casamento pareceram uma novidade tremenda por um instante. Olhou para o Vavá detrás do balcão com um olhar de ódio que podia bem dar gastrite em alguém.

— Outra cachaça!!!


Daniel Soares é manguaça, nerd gordo e co-autor do blog A Horda, além de prolixo colecionador de histórias insanas de transporte coletivo, bares suspeitos e noites de insônia na internet.

terça-feira, novembro 08, 2011

Elogio do boteco

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Impossível deixar de republicar esse texto de Leonardo Boff, que capta bem o espírito do que é um boteco e do que ele representa nas teias sociais da nossa vida. Com a palavra, o teólogo (ah, sim o texto é dele mesmo).

Em razão do meu “ciganismo intelectual” falando em muitos lugares e ambientes sobre um sem número de temas que vão da espiritualidade, à responsabilidade socioambiental e até sobre a possibilidade do fim de nossa espécie, os organizadores, por deferência, costumam me convidar para um bom restaurante da cidade. Lógico, guardo a boa tradição franciscana e celebro os pratos com comentários laudatórios. Mas me sobra sempre pequeno amargor na boca, impedindo que o comer seja uma celebração. Lembro que a maioria das pessoas amigas não podem desfrutar destas comidas e  especialmente os milhões e milhões de famintos do mundo. Parece-me que lhes estou roubando a comida da boca. Como celebrar a generosidade dos amigos e da Mãe Terra,  se, nas palavras de  Gandhi,”a fome é um insulto e a forma de violência mais assassina que existe?”

É neste contexto que me vem à mente como consolo os botecos. Gosto de freqüentá-los, pois aí posso comer sem má consciência. Eles se encontram em todo mundo, também nas comunidades pobres nas quais, por anos, trabalhei. Ai se vive uma real democracia: o boteco ou o pé sujo (o boteco de pessoas com menos poder aquisitivo) acolhe todo mundo. Pode-se encontrar lá tomando seu chope um professor universitário ao lado de um peão da construção civil, um ator de teatro na mesa com um malandro, até com um bêbado tomando seu traguinho. É só chegar, ir sentando e logo  gritar: “me traga um chope estupidamente gelado”.

O boteco é mais que seu visual, com  azulejos de cores fortes, com  o santo protetor na parede, geralmente um Santo Antônio com o Menino Jesus, o símbolo do time de estimação e as propagandas coloridas de bebidas. O boteco é um estado de espírito, o lugar do encontro com os amigos e os vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos comentários da novela preferida, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos contra os corruptos. Todos logo se enturmam num espírito comunitário em estado nascente. Aqui ninguém é rico ou pobre. É simplesmente gente que se expressa como gente, usando a gíria popular. Há muito humor, piadas e bravatas. Às vezes, como em Minas, se improvisa até uma cantoria que alguém acompanha ao violão.

Ninguém repara nas condições gerais do balcão ou das mesinhas. O importante é que o copo esteja bem lavado e sem gordura senão estraga o colarinho cremoso do chope que deve ter uns três dedos. Ninguém se incomoda com o chão e o estado do banheiro.

Os nomes dos botecos são os mais diversos, dependendo da região do pais. Pode ser a Adega da Velha, o Bar do Sacha, o boteco do Seo Gomes, o Bar do Giba, o Botequim do Jóia, o Pavão Azul, a Confraria do Bode Cheiroso, a Casa Cheia e outros. Belo Horizonte é a cidade que  mais botecos possui, realizando até, cada ano, um concurso da melhor comida de boteco.

Os pratos também são variados, geralmente, elaborados a partir de receitas caseiras e regionais: a carne de sol do Nordeste, a carne de porco e o tutu de Minas. Os nomes são ingeniosos:” mexidoido chapado”, “porconóbis de sabugosa”, “costela de Adão” (costelinha de porco com mandioca), “torresminho de barriga”. Há um prato que aprecio sobremaneira, oferecido no Mercado Central de Belo Horizonte e que foi premiado num dos concursos:”bife de fígado acebolado com jiló”. Se depender de mim, este prato deverá constar no menu do banquete do Reino dos céus que o Pai celeste vai oferecer aos benaventurados.

Se bem repararmos, o boteco desempenha uma função cidadã: dá aos frequentadores, especialmente aos mais assíduos, o sentimento de pertença à cidade ou ao bairro. Não havendo outros lugares de entretenimento  e de lazer, permite que as pessoas se encontrem, esqueçam seu status social e vivam uma igualdade, geralmente, negada no cotidiano.

Para mim o boteco é uma metáfora da comensalidade sonhada por Jesus, lugar onde todos podem sentar à mesa e celebrar o convívio fraterno e fazer do comer, uma comunhão. E para mim, é o lugar onde posso comer sem má consciência.

Dedico este texto ao cartunista e amigo Jaguar que aprecia botecos.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Lei do psiu

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Pela cerveja anunciada na placa, o tal barulho deve ser ser feito pelos clientes que gritam de desespero antes de beber. Ou de dor de barriga, depois...

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Como apreciar uma cerveja

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Nos testes cegos do Futepoca, fica claro que ninguém entende muito bem de cerveja. A gente se esforça, mas não garante muita coerência nas avaliações. Mas é interessante a ideia de aprimorar o processo e aprender a vasculhar, num copo desta nobre e fermentada bebida, sabores e nuances que, na mesa de bar, costumam ser deixados de lado.


Ao ler os posts dos Tipos de Cerveja, abastecidos em informações pelo Cervejas do Mundo, a curiosidade aumenta. Quantas eu precisaria tomar para perceber o café, o chocolate e os outros sabores que, num copo da gelada no boteco normalmente ficam longe?

No lançamento da Paulistânia, conversei com Cilene Saorin, beer sommelier e mestre cervejeira. Para ela, um bom começo para se iniciar no universo das cervejas mais elaboradas são realmente as pielsen artesanais. Elas têm um papel importante porque funcionam como porta de entrada para os bebedores que, por algum motivo, resolvem se aventurar para além de "matar a sede e ficar com os olhos mareados".

Cilene explica que é preciso dedicar olhos, nariz e boca na tarefa e prestar atenção às sensações. Desenvolver essa sensibilidade também leva tempo, mas garante cada vez mais capacidade de perceber as diferenças. "Mas se alguém vai estudar Camões, não vai entender de Camões no primeiro verso", compara.
Antes do copo
Para começar, é preciso guardar a temperatura de serviço. Uma pilsener, recomenda a cartilha, precisa ser oferecida de 3º C a 5º C, de modo que o marcador de refrigeradores de botequim que marcam -5º C não são uma referência muito boa. "E é menos cinco para inglês ver, né? Uma pielsen congela a -2,3 ºC", avisa a mestre cervejeira.

No copo
Ao servir, cabe observar a variação de cores, a característica da espuma e até o brilho do precioso líquido. É comum ver entre as pielsen artesanais uma coloração mais escura do que as produzidas em escala industrial e que frequentam nossos copos na mesa do bar.

Sabor
Aqui há muita coisa para observar. A cerveja é produzida com água, malte, levedura e lúpulo. A maior parte do aroma vem do lúpulo. Só que não é no singular, mas no plural, porque existem mais de 80 tipos dessa flor, que adicionam sabores cítricos, herbais, condimentadas e assim por diante. Também garante, na cerveja, o amargo que refresca e abre o apetite.

Lá, na hora da entrevista, Cilene me propôs de contar quanto tempo durava o amargor depois de tomar um gole. Nas minhas contas, foram uns sete ou oito segundos, quase os dez de limite que ela havia buscado como proposta para a marca.

Tudo bem, fiquei contente, mas não consegui perceber os aromas herbais do lúpulo Hersbrucker, nem os detalhes relacionados ao malte que ela garantiu que estavam ali. Pode ser que tivesse mais coisa para observar, mas diante da minha limitação, já tem lição de casa para um bom tempo.

Preciso praticar mais.

Foto: Carol

No último teste cego do Futepoca

Aí tem o grande senão da história. Dependesse apenas da boa vontade e da disposição para o esforço, todo mundo tinha começado. O problema é que é mais caro. Uma artesanal sai por pelo menos o dobro de uma comercial. Quando não é mais ainda. Parar um pessoal que produz, como é o caso dos autores (e leitores) do Futepoca, isso significaria tomar menos da metade do volume. Será que vira?

quarta-feira, agosto 05, 2009

Saideira nº 3

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sábado, abril 18, 2009

O Celeste que "dirigia melhor" bêbado

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Omniii at en.wikipedia
Celeste era um mecânico desses que não existem mais. Mas era um motorista peculiar, daqueles que nunca existiram. Vindo do interior, gostava de música caipira, até cantava. E não fazia feio.

Todo dia, depois de fechar a oficina, comparecia ao bar, jogava sinuca com os vizinhos. O pessoal bebia bem, só cachaça. A diferença é que os colegas de copo moravam a poucos metros do estabelecimento etílico, enquanto Celeste vivia longe dali, sozinho, e tinha de voltar dirigindo.

Quando era hora de ir embora, porque o dono do boteco também precisava voltar para casa, acontecia o previsível. Muito pior do que não acertar a chave na fechadura da porta do carro, era o que o Celeste fazia, que não conseguia passar pela porta aberta. Os outros bêbados é que precisavam ajudar o cidadão a se acomodar no carro.

Mas bastava ele se instalar para uma transformação acontecer. A dificuldade para abrir a porta até para passar por ela ia embora e Celeste despertava, dava partida e logo saía, como se estivesse sóbrio.

Ao ir para casa ou na manhã seguinte no cafezinho da padoca, os outros agora ressaqueados se preocupavam, o que seria do Celeste naquele estado? De tão bêbado, teria chegado inteiro? Rumo ao serviço, passavam em frente a mecânica e lá estava o Celeste debruçado sobre algum carro, nenhum sinal da cachaçada do dia anterior. Ou quase nenhum.

Os poucos que se aventuraram em todos os anos de sinuca a pegar uma carona no Fusca do mecânico saíram enojados. Celeste mal limpava o console do carro com os resultados do excesso de álcool. Nunca ninguém conseguiu explicar como o cara conseguia sobreviver àquela roleta russa, a não ser com a explicação de que ele dirigia melhor bêbado. Até porque, pelo que contavam, não pegava a direção sem estar calibrado. Parece que morreu de enfarte, há uns vinte anos, depois de outros 25 anos de álcool e direção todo dia.

quarta-feira, abril 08, 2009

Caetano Veloso, leitor do Futepoca?

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Ando tão por fora do que se passa em termos de atualidades musicais, e as últimas coisas que ouvi do Caetano (escalado pelo Frédi na ponta direita da sua seleção) eram tão bregas, que perdi o interesse e nem estava sabendo da história de seu último disco, agora em lançamento. Chama-se Zii e Zie e parte de uma ideia que me pareceu genial: ir mostrando as canções ao público à medida que elas vão se fazendo. Segundo a revista Bravo! deste mês (que comprei porque saiu uma notinha sobre a mostra de cinema Marguerite Duras: escrever imagens, da qual fiz a curadoria e à qual retornarei em breve neste espaço), o Caetano teria dividido essa ideia com o Hermano Vianna, que por sua vez lhe sugeriu fazer um blog, oferecendo também o apoio técnico.

O músico topou e isso virou o blog Obra em Progresso, que tem textos interessantes. Um destaque é uma polêmica aberta com o Fidel Castro, que entrou no processo de composição da música "Base de Guantánamo". O projeto era culminar no disco, que agora está saindo.

E veja só, empolgado com o novo espaço aberto, Caetano passou a dedicar um tempo importante de sua vida a ele, e diversificou os temas, adentrando, claro, na política, mas também, inesperadamente, no futebol. Diz a revista que Caetano teria, por exemplo, elogiado "a humildade dos jogadores do time pelo qual torce, o Bahia, por eles terem 'se recusado' a golear o time do Poções numa partida válida pelo Campeonato Baiano".

Até aí, estamos em terreno comum. Mas a pulga começou a dar piruetas atrás de minha orelha quanto Caetano conta que futuro intenciona pra sua base internáutica: "O blog foi criado para acabar quando o disco saísse. E assim será. Pode virar outra coisa ou simplesmente sumir. Continuar sendo o boteco virtual onde a gente conversa e discute é que não vai."

Opa! "Boteco virtual onde a gente conversa e discute"??? Este é o Futepoca! Será que Caetano, como Vanderlei Luxemburgo e Soninha, é nosso leitor?

Caetano, mesmo que feche o seu boteco, você já conhece o endereço, o nosso tá sempre às ordens.