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Acabou a votação no The BOBs e esse Futepoca ficou na terceira posição no voto popular. Primeiro, os agradecimentos a quem votou e divulgou o nosso site, que conseguiu um resultado excepcional. Além do muito obrigado, parabéns ao vencedor, Querido Leitor, da jornalista Rosana Hermann que bloga desde 2000 e antecipou um estilo celebrizado pelo Twitter, fazendo micro-blogagem antes do termo existir. E também ao vice, o sociólogo Carlos Serra, que tive o prazer de entrevistar para a revista Fórum antes de ter sido indicado para a premiação alemã.
Isto posto, à vaca fria. Acho que é um consenso entre os membros desse blogue que, de uma forma ou de outra, todos acreditam que os blogues têm potencial para se tornar algo que fure o cerco da grande imprensa. A própria jurada brasileira no The BOBs, Soninha Francine, comenta sobre isso nesse post a respeito da premiação, frisando o “poder da internet como ferramenta de empoderamento dos indivíduos e grupos sociais, de alternativa à 'grande mídia', de profundas transformações sociais.”
Acho mesmo que os blogues e sites “independentes” (o conceito disso é complicado, mas atribuo ao termo a autonomia em relação a diretrizes comerciais/empresariais) trouxeram e trazem todos os dias uma oxigenação maior na circulação de informações e opiniões. Pluralidade e muita qualidade também. No entanto, uma declaração da vencedora do prêmio de melhor weblog, a cubana Yoani Sánchez, me fez pensar que não avançamos tanto assim. Pra contextualizar, o blogue dela fala do cotidiano de jovens na ilha de Fidel e sobre os óbvios problemas decorrentes da restrição de liberdades (o debate a respeito disso daria outros posts, mas não é o foco agora). Diz ela:
“A blogosfera cubana e também a internacional comemorarão o prêmio comigo, mas a imprensa e a televisão cubanas permanecerão em silêncio. Um dia, a vida real será como o ciberespaço e todos nesta ilha poderão se expressar sem pedir permissão. Este prêmio é mais um passo nesse sentido.”
Substitua os negritos por “brasileira”, “brasileiras” e “neste país”. Dá pra colocar reparos? Ou seja, em plena vigência da democracia formal e representativa, os blogues no Brasil não têm o alcance ou o reconhecimento de outros veículos da mídia tradicional, mesmo que blogueiros premiados como a própria Rosana Hermann ou Marcelo Tas, sejam oriundos do mais vistoso meio de comunicação, a televisão. Aqui não há restrições legais rígidas a blogues (embora alguns queiram que ela exista), mas há limitações de outra ordem.
A primeira é o próprio nível educacional da população. As estatísticas se contradizem, mas o nível de analfabetismo funcional no país ultrapassa a marca dos 70%. Como estes poderão blogar ou mesmo entender o que é escrito em um? Se de fato a blogosfera está preocupada em se tornar respeitável e também um motor de transformação, não é possível dissociar disso a preocupação com políticas públicas na área da educação. E, acredito, a própria técnica dos blogues pode ser incorporada também ao ensino, por que não? Passou da hora de blogueiros se mobiliarem em prol disso, assim como é fundamental a ampliação do acesso – público e privado - à internet.
Mas há outra limitação, tão severa quanto, que é a concentração midiática. Os meios tradicionais já têm seus braços na internet e, se alguns permitem autonomia e liberdade para seus blogueiros, boa parte age de outra forma. Já soube de pessoas lamentando o fato de serem proibidas de colocar links para o Futepoca, por exemplo, porque estão com blogues alojados em meios que não permitem que se dê “cartaz” a sites que não estão em tal portal. Ou, como outro exemplo, o relato que um blogueiro me fez, dizendo não poder comentar a respeito da campanha Marcelo Eterno, sobre a “perenidade” do presidente do Santos no poder, pelo fato de que política de clubes era um tema proibido em seu blogue, pelo portal que o alojava. Ou seja, fale só do que acontece dentro das quatro linhas. Ué, mas estamos em Cuba?
Acho que é bastante claro que a inserção dos grandes donos da bola da comunicação na internet pode representar a concentração de audiência e a padronização de visões, deixando a uns poucos nichos, que serão menos acessados, a livre opinião. Se os blogueiros não pensarem nisso, ficarão para trás. Ou serão engolidos.
5 comentários:
O Blog é muito bom para a comunicação. Eu mesmo não largo mais.
Ah, votei no seu Blog heim.
Você citou Rosana, uma direitona metida a moderninha. Soninha Francine, faça-me o favor. Esta "vendida" que se elegeu com discurso progressista e que hoje implora boquinha ao Serra e Kassab. E este clichê sobre a falta de liberdade em Cuba. Menos, por favor, muito menos. O bom é a pedofilia comendo solta como aqui no bananão. Parece aquela piada, que o sujeito diz que no país dele ele tinha liberdade para gritar e esbravejar. O cubano, sorri e responde, mas quem o ouve?
Puxa, Julio, que bom que você não leu o texto inteiro. E o que é "direitona metida a moderninha"? será que você acha que não tem gente que presta atenção em coisas novas na turma da direita?
Nem sei se a Rosana Hermann é de direita como você diz, mas ela merece os parabéns porque achou uma fórmula (nem tão restrita ao microblogging, mas com muito disso) e toca o barco com leitor pacas. Fez blogue antes e segue fazendo.
É lógico que eu prefiro o Futepoca, mas se a gente não preferisse seria até estranho.
Agora, glauco, mto adequada a substituição de termos (cubanos por brasileiros) e de se pensar em estratégias pra furar o cerco de mídia. E mais ainda em colocar o analfabetismo funcional com obstáculo que precisa de mais atenção do ponto de vista da inserção da população no universo da internet.
excelente post glauco! confesso que quando li os 70% de analfabetos funcionais até desconcentrei: que tristeza. trabalhei em alguns projetos em escolas públicas paulistana em que a idéia era incorporar as "novas tecnologias" no ensino. a idéia era excelente mas o que observava era que os professores não tinham qualquer intimidade com a internet e por tanto não conseguiam fazer a tal ferramenta um prazer: virava uma chatice... mas acho muito que o caminho é por aí! mas é longo; talvez a moçada que agora tem 20, já entrou no ginásio nos tempos de internet e que se comunicam via facebook/flickr/orkut... possam ser os professores de uma nova geração que busca o que quer ler, e lê... oxala...
obrigada pelo post!
e parabéns pelo terceiro lugar! dei meus votinhos...
Em primeiro lugar, obrigado ao Saulo e à Eliza pelo interesse no Futepoca e também pelos votos. Voltem sempre!
Eu entendo as críticas do Júlio, mas, como o próprio Glauco escreveu, "o debate a respeito disso daria outros posts, mas não é o foco agora".
A blogosfera tem crescido, mas ainda encontro pessoas que a desconhecem completamente e, para elas, tenho enorme dificuldade em explicar o que é um blogue, como funciona e a que se propõe.
De qualquer forma, trabalhando em uma ONG e em contato direto com a sociedade civil organizada e empreendimentos de economia solidária, noto que os blogues são uma ferramenta de trabalho e de divulgação utilizada com freqüência cada vez maior.
Mas é o que o Glauco atentou: proliferar blogues e aumentar o acesso aos computadores e à internet não garante que o debate será intenso e em alto nível. Muita gente só usa a internet para falar no msn e fazer gracinhas no orkut.
É preciso educação, politização, estímulo à crítica e ao diálogo. Defender políticas públicas nessa direção é nosso dever e prioridade. Podemos, sim, ser um instrumento de pressão. É isso, talvez, o que premiações como a do BOBs pudessem estimular ou trazer como mensagem principal.
No mais, obrigado a todos os votantes e esse 3º lugar é, com toda certeza, mais uma prova de que o Futepoca tem sua importância e merece um lugar ao sol. Estendo os parabéns aos outros sete colegas que aqui escrevem comigo, além de todos os colaboradores, eminências, amigos e leitores que, juntos, construímos diariamente esse espaço de debate, diversão e reflexão. E, por princípio, democrático e plural. Parabéns, novamente, a todos.
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