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segunda-feira, novembro 24, 2008

Previdência privada

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Bêbados não pensam no futuro e cedo ou tarde aprendem a dura lição que a vida ensina. Dona Isabel, vizinha de minha mãe, que o diga. Vive graves dificuldades financeiras e, mesmo tarde demais, parece que aprendeu. Ela hoje aconselha minha mãe: Leinad, faça uma poupança, não conte pra ninguém, não confie nos seus filhos, você não vai se arrepender.

Durante muitos anos, foi Isabel quem cuidou de seu pai, muito velhinho, já sem conseguir levantar da cama, e administrava as contas da família. Quando o decrépito morreu, o segundo filho dela, Marcio, que é administrador de empresas, foi ver o estado do patrimônio que um dia herdará, e percebeu que sua mãe basicamente se afundara em dívidas. A razão principal é que ela não tem idéia de como se administra bens, mas o filho esfrega na cara que ela quase arruinou todo mundo para sustentar a própria manguaça.

Marcio obrigou a mãe a se submeter a tratamentos, e agora acompanha de perto sua nova opção por remédios psiquiátricos no lugar da vodca, controlando cada centavo que ela gasta. Para ir almoçar com a vizinha no feriado de quinta-feira (20 de novembro, Dia da Consciência Negra), dona Isabel teve que pedir dinheiro ao filho.

No restaurante, longe das vistas de outros conhecidos, ela foi avançando de caipirinha em caipirinha, variando as frutas até completar o pomar disponível. Foi então que, num desabafo, aconselhou: Leinad, ouça o que eu estou falando, faça uma poupança e não conte a ninguém, senão um dia você vai querer beber e seus filhos não vão deixar.

Aprendamos, nós também.
E mamãe, fique tranquila, você vai beber até o último suspiro, eu prometo!

PS: Esse tipo de situação revoltante não terá vez quando o Manguaça Cidadão finalmente entrar em vigor.

5 comentários:

Glauco disse...

Absurdo o cerceamento à manguaça, uma evidente violação dos direitos humanos. Estamos com você, dona Isabel! E vamos pedir meia dúzia pra ela.

Marcão disse...

Zvonka! Ai, meu fígado! Ai, minha costela!

Privar uma pessoa de beber devia ser crime inafiançável - e sujeito à pena de morte quando atinge pessoas idosas, que se sacrificaram a vida inteira, trabalhando e criando filhos e netos. Pô, é justamente nessa idade que a manguaça se torna mais necessária! Ou então a pessoa vai ficar tomando remédio e reclamando da vida, uma vez que a maioria dos parentes e amigos já morreu e ninguém tem paciência pra lhe fazer companhia. O bar torna-se, então, o espaço de convivência ideal.

Um amigo me contou que, por imposição dos médicos, sua família foi obrigada a passar em todos os bares da cidade onde viviam para proibir a venda de bebida para o avô dele, que tinha 88 anos. Uma insanidade, totalmente sem propósito, sentido ou fundamento. Depois de o homem percorrer a via crucis de todos os butecos, chegou em casa puto (como não poderia deixar de ser). E foi didático com os familiares: "-Eu ligo o rádio e escuto: fulano de tal faleceu, 76 anos, sicrana morreu, 71 anos, beltrano morreu, 83 anos. Ora, eu já passei longe dessas idades, não tem mais nada pra fazer! Deixa eu beber!". Sem argumentos, a família capitulou. E o homem morreu dali a uns quatro anos. Feliz.

Anselmo disse...

deixa o povo manguaçar!

agora, a gente tem que entender a lição que a dona isabel ensina. não pode gastar tudo na cachaça hoje, tem que pensar na cachaça de amanhã (sempre com moderação, claro). Com filhos deixando ou não, há que se pensar no futuro.

fredi disse...

Pelas contas do Anselmo, a gente tem de deixar de tomar umas hoje, economizar, para beber no futuro. É isso?

Ou dá para guardar dinheiro economizando em coisas mais inúteis como comida? Essa é a questão.

Nicolau disse...

O importante, é manguaçar feliz!