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sexta-feira, novembro 28, 2008

Peça proibida foi avaliada nos bares paulistanos

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Lendo o livro que contém a peça de teatro "Calabar" (foto), de Chico Buarque e Ruy Guerra, proibida pela ditadura militar em 1973, encontrei detalhes curiosos sobre o polêmico espetáculo, que foi completamente abortado (só teria a primeira montagem na década de 1990). Fernando Peixoto, por exemplo, só aceitou dirigir a peça, naquela ocasião, depois de "se convencer" em dois bares paulistanos: "No fim de junho de 1973, Chico e Ruy me procuram em São Paulo. Trazem o texto de 'Calabar' e a proposta de assumir a direção do espetáculo. Já havia muitos anos de amizade antes disso, mas partimos para um verificação crítica mútua: Chico e Ruy foram para o Teatro São Pedro assistir um espetáculo meu, 'Frank V', de Dürrenmatt, enquanto eu fui para o Bar Riviera ler o texto deles. O acerto foi selado na Baiúca". Não há projeto inviável que duas mesas de bar não nos convençam do contrário...

Depois de escolherem atores e atrizes e ensaiarem a peça em Ipanema, no Rio de Janeiro, entre setembro e outubro daquele ano, veio a bomba: o texto seria revisado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) e o prazo para solução era indeterminado. Em 13 de novembro, o projeto foi abandonado de vez, depois de fracassarem todas as tentativas dos advogados dos autores em Brasília. Trecho de uma anotação de Peixoto, na ocasião: "Nós estamos definitivamente castrados. Agora resta encontrar o elenco para encerrar tudo". Mas a cachaça sempre põe uma luz no fim do túnel. "Vim agora do Bar Luís, onde estive com Chico e Ruy", prosseguia Peixoto. "Uma última hipótese: filmar o espetáculo em Petrópolis. Me parece meio utópico. Quem sabe?". Pois é, só tomando uma (ou várias) para estimular a criatividade e tentar driblar a censura dos generais naqueles tempos bicudos.

4 comentários:

Anselmo disse...

por que precisa de duas mesas de bar para nos convencer do contrário? e os bêbados de balcão?

Maurício Ayer disse...

Eu entendo o que o Marcão quis dizer. A situação exigia algo mais solene, não dava pra ser no balcão, tinha que ser na mesa mesmo. Mas não duvido que algumas das tratativas tenham acontecido em balcões não contabilizados.

Glauco disse...

É que a mesa é mais democrática, agrega vários manguaças que podem falar ao mesmo tempo, enquanto o balcão acaba limitando a comunicação de quem está lado a lado...

Marcão disse...

O que eu quis registrar é que o diretor leu o texto num BAR e depois de reuniu com os autores em outro BAR para topar a empreitada. Ninguém pensou em utilizar a casa de um deles, ou um teatro, um escritório, o saguão de um hotel, um café ou um restaurante. Se não fosse no fórum adequado, não tinha acordo!