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Lendo o livro que contém a peça de teatro "Calabar" (foto), de Chico Buarque e Ruy Guerra, proibida pela ditadura militar em 1973, encontrei detalhes curiosos sobre o polêmico espetáculo, que foi completamente abortado (só teria a primeira montagem na década de 1990). Fernando Peixoto, por exemplo, só aceitou dirigir a peça, naquela ocasião, depois de "se convencer" em dois bares paulistanos: "No fim de junho de 1973, Chico e Ruy me procuram em São Paulo. Trazem o texto de 'Calabar' e a proposta de assumir a direção do espetáculo. Já havia muitos anos de amizade antes disso, mas partimos para um verificação crítica mútua: Chico e Ruy foram para o Teatro São Pedro assistir um espetáculo meu, 'Frank V', de Dürrenmatt, enquanto eu fui para o Bar Riviera ler o texto deles. O acerto foi selado na Baiúca". Não há projeto inviável que duas mesas de bar não nos convençam do contrário...
Depois de escolherem atores e atrizes e ensaiarem a peça em Ipanema, no Rio de Janeiro, entre setembro e outubro daquele ano, veio a bomba: o texto seria revisado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) e o prazo para solução era indeterminado. Em 13 de novembro, o projeto foi abandonado de vez, depois de fracassarem todas as tentativas dos advogados dos autores em Brasília. Trecho de uma anotação de Peixoto, na ocasião: "Nós estamos definitivamente castrados. Agora resta encontrar o elenco para encerrar tudo". Mas a cachaça sempre põe uma luz no fim do túnel. "Vim agora do Bar Luís, onde estive com Chico e Ruy", prosseguia Peixoto. "Uma última hipótese: filmar o espetáculo em Petrópolis. Me parece meio utópico. Quem sabe?". Pois é, só tomando uma (ou várias) para estimular a criatividade e tentar driblar a censura dos generais naqueles tempos bicudos.
4 comentários:
por que precisa de duas mesas de bar para nos convencer do contrário? e os bêbados de balcão?
Eu entendo o que o Marcão quis dizer. A situação exigia algo mais solene, não dava pra ser no balcão, tinha que ser na mesa mesmo. Mas não duvido que algumas das tratativas tenham acontecido em balcões não contabilizados.
É que a mesa é mais democrática, agrega vários manguaças que podem falar ao mesmo tempo, enquanto o balcão acaba limitando a comunicação de quem está lado a lado...
O que eu quis registrar é que o diretor leu o texto num BAR e depois de reuniu com os autores em outro BAR para topar a empreitada. Ninguém pensou em utilizar a casa de um deles, ou um teatro, um escritório, o saguão de um hotel, um café ou um restaurante. Se não fosse no fórum adequado, não tinha acordo!
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