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Vivo na cidade de São Paulo há apenas quatro anos e, por ser um jeca tatu e não saber dirigir, ainda não sei muito bem determinados itinerários ou localização precisa de bairros e regiões. Também desconheço muitos locais que o paulistano aprende a conviver desde o berço. Prova desse meu desconhecimento da metrópole e de seus costumes históricos ocorreu quando, pouco depois que cheguei, a nossa querida eminência parda Carminha perguntou: "-Marcão, você ia no Bar Riviera?". Não, nunca tinha ouvido falar. "-Mas como você não conheceu o Riviera?", insistiu Carminha, incrédula. De fato, eu poderia ter conhecido: o folclórico bar (acima, à esquerda), aberto em 1949 na esquina das avenidas Consolação e Paulista, fechou as portas em fevereiro de 2006 - dois anos depois de eu aportar na terra da garoa. Mas perdi a chance de conhecê-lo "vivo".
Pesquisando na internet, fiquei sabendo que, entre as décadas de 1960 e 1970, o Riviera viveu seu período de grande efervescência revolucionária, festiva e etílica. Uma miríade de artistas, jornalistas, guerrilheiros, estudantes, boêmios, hippies e desocupados passava pelas suas mesas toda madrugada. Não era difícil esbarrar em Chico Buarque, Toquinho, Vinicius de Moraes, Chico e Paulo Caruso ou José Dirceu. O Riviera existia no térreo do Condomínio Anchieta (foto à direita) e, ao seu lado, havia outro bar agitado, o Ponto 4. Os clientes iam e vinham de um para outro e, às vezes, a polícia baixava e prendia todo mundo que estava na calçada, para ver se pegava alguém da luta armada. Dizem que o próprio delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Dops, comandou pessoalmente algumas dessas ações.
O Bar Riviera era o destino natural, também, do pessoal que saía do Cine Belas Artes (à esquerda), do outro lado da avenida Consolação - hoje reformado e rebatizado como HSBC Belas Artes. Aliás, a inauguração do cinema, em 1952, foi motivada, em grande parte, pelo movimento do boteco que já funcionava ali em frente há três anos. Bom, mas volto às minhas desventuras na Paulicéia desvairada: o mundo gira e eis que, recentemente, me mudo para um apartamento no ... Condomínio Anchieta! Sim, o prédio que abrigou o mítico Bar Riviera, cuja placa ainda está lá, pregada numa de suas gigantescas colunas de sustentação. Construído em 1941, o edifício guarda as cicatrizes de tantos moradores, freqüentadores e figurinhas do badalado - e extinto - boteco. A maioria das pessoas que passa na rua, assim como eu, há alguns anos (quando a Carminha me falou do Riviera), não faz a menor idéia.
E logo de cara já fico sabendo de uma novidade: o prédio e seu antigo bar inspiraram um filme, batizado provisoriamente de "Condomínio Jaqueline", que teve locações no velho Anchieta em junho deste ano e deve estrear nos cinemas no primeiro semestre de 2009. Além disso, o trabalho deverá se desdobrar em uma série de TV e em uma história em quadrinhos (acima, à direita), do ilustrador Papito. O filme, do diretor Roberto Moreira, conta a história de Tina, uma jovem vinda do interior (como eu) que tenta ser atriz em São Paulo e vai parar no tal Condomínio Jaqueline (ou Anchieta, que é, agora, onde também moro). Na trama, ela conhece outros jovens que batalham o futuro na metrópole e, juntos, freqüentam o bar Egotrip - arremedo do que foi o Riviera. O site do filme traz uma imagem da parte de trás do prédio, visto por quem sobe a Consolação. E aquela imagem dos quadrinhos, acima, é a mesma que vejo da sala do apartamento. Então é isso: interessante morar num local com tanta história. Pena que o bar se foi...
8 comentários:
Pena mesmo. Eu não cheguei a pegar o Riviera em sua efervescência, peguei sim a fase de decadência, do fecha não fecha. Ia lá às vezes ver umas sessões de improvisação livre que o baixista Celio Barros e o saxofonista e rabequeiro Thomas Rohrer faziam no andar de cima. Isso lá pelos idos de 2002, 2003. Aí fui morar na Europa, e quando voltei não cheguei a ir ao Riviera antes que fechasse definitivamente as portas.
Nunca fui no Riviera, mas sinto não tê-lo feito vendo o post do Marcão e escutando os relatos da Eminência Parda.
Sou dos dinossauros que freqüentaram o Riviera do final dos anos 80 até sua decadência e morte.
Lá conheci o Juvenal, o verdadeiro garçom da Rê Bordosa e os filhos da PUC que iam beber cerveja gelada por preço honesto.
No final, dava dó, pouca gente, abria um dia no outro estava com a luz cortada, o dono foi vítima de assalto e tomou um tiro.
Sinto a perda, como foi a do Long Champ, na Augusta, do Riviera, do Vavá, cada um por um motivo.
O pior de ver tantos bares morrerem é constatar que se está ficando um velho bêbado.
Será que alguém pode pagar a próxima para eu esquecer disso?
Também fui repreendido pela eminência parda por não conhecer o Riviera nem de nome, um tempo atrás. Depois que conheci, gostaria de ter tomados umas várias por lá, planejando a revolução.
O início do post do Marcão mostra um traço de culpa por não conhecer bem são paulo, algo atribuído ao jequismo do autor.
Ora (aí vem uma afirmação irresponsável e não-pesada), a maioria dos paulistanos não conhece a cidade além do bairro onde mora e o bairro onde trabalha. No máximo, as avenidas por onde passa.
Então, Marcão, não conhecer algumas coisas sobre a "capitar" é mal nenhum. Ainda que isso seja no centro.
Mas isso não me livra da responsabilidade de não ter tomado uma no Riviera.
Só complementando: o apartamento onde moro foi um aparelho da guerrilha nos anos 1960, o que obrigou seu dono a fugir para Beirute - onde nasceria seu filho, que hoje reside no e subloca o imóvel.
Alguns anos atrás prometi a eminência parda (a Carminha) o Riviera, caso ganhasse na mega sena. Outros pedidos esdrúxulos apareceram como uma piscina de cerveja e uma fábrica de "orelinhas explosivas". Mas... não ganhei na mega sena e carminha ainda não tem o Riviera.
Um dia carminha...um dia
Aleais assisti uma das últimas sessões (que nem faz tanto tempo assim...) do Belas Artes antes de fechar para virar HSBC Belas Artes(acho que era 2004). Faltava poltronas e dizia a lenda que havia percevejos.
Assisti A Queda!, na pré estreia e o filme ficou três vezes sem som e acabou a energia uma vez. Gritaria? Nada... o pessoal tava acostumado. Era só bater palma.
Eu
fui muito ao Riviera.Era um bar cheio de gente boa e criativa.
Lembram do Paulo Vodka?
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