Destaques

sábado, janeiro 09, 2010

Discurso de manguaça não tem dono

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Por Moriti Neto


Quem disse que fazer discurso manguaça é prerrogativa de alguma classe específica? Para aqueles que acreditam que só os assíduos frequentadores dos bares mais humildes são responsáveis por digressões feitas no calor dos goles da distinta, pode-se afirmar um ledo engano.

Entre políticos, há casos exemplares de pronunciamentos manguaças. Alguns dos mais notáveis foram feitos pelo ex-presidente russo Boris Yeltsin, falecido em abril de 2007.

Contudo nem só os titulares de cargos eletivos ou os humildes pinguços cotidianos têm exclusividade sobre o ato de soltar o palavrório devidamente manguaçados em ambientes públicos.

A cantora estadunidense Mariah Carey assumiu, na última quinta-feira, dia 7, que estava sob efeito de álcool quando discursou ao receber um prêmio pela atuação no filme "Preciosa: Uma História de Esperança", no Festival de Cinema de Palm Springs, nos EUA.

Atrapalhada com as palavras, ela não conseguiu completar uma frase: "Perdoem-me, porque estou um pouco...". Foi quando alguém do público, talvez em igual estado etílico, o que pode ter facilitado a conclusão, fez questão de completar: "bêbada”!

A cantora tentou justificar a condição – o que geralmente não é boa idéia – com a seguinte pérola: "Peço desculpas, às vezes fico um pouco difícil".

Bem, é possível conferir o quanto Mariah Carey fica difícil (às vezes?) no vídeo abaixo e comprovar que nem só as espécies citadas acima utilizam a retórica manguaça.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

A volta dos que não foram

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O Olavo já falou aqui do retorno de Giovanni, quase aposentado, ao futebol. Mas além da plêiade de veteranos contratados pelos clubes grandes como Marcelinho Paraíba (São Paulo), Roberto Carlos (Corinthians) etc etc etc, há os exemplos de jogadores que já estavam aposentados – ou quase - e retornaram para a equipe de origem, para exercer mais de uma função em um clube ou trazer visibilidade a times pequenos e faturar uns trocos antes de pendurar em definitivo as chuteiras.


Este último é o caso do atacante Viola, que já fazia parte do elenco fixo do showbol, exibição de ex-atletas feita para a TV a cabo. Aos 41 anos ele fechou contrato com o Brusque, de Santa Catarina, “agenciado” pelo também ex-craque Edmundo . Mesmo estando há meses sem atuar (seu último time foi o carioca Resende), mostrou que não esqueceu os clichês de boleiro: “Nunca prometo gols. Prometo honrar a camisa, dedicação, bom serviço. O gol é a consequência de um bom trabalho”. Viola pode estrear contra outro veterano, Sávio, 35, contratado pelo Avaí, na primeira rodada do campeonato catarinense.

Já o “capetinha” Edilson, depois de dois anos parado, decidiu encerrar a carreira no Tricolor da Boa Terra, aos 39 anos. Mas o Bahia só vai contar com o futebol dele depois de 30 dias de trabalhos físicos e sua estreia deve acontecer somente contra o Atlético de Alagoinhas, no dia 6 de fevereiro. Não satisfeito, o baiano pediu a contratação de outro aposentado, o conterrâneo Vampeta. Seria o embrião de um time de masters?

Já no Ituano, vemos uma nova modalidade de trabalho de atleta aposentado: a do dirigente-jogador. Juninho Paulista, depois de quase abandonar a carreira após uma passagem, digamos, discreta pelo Sydney da Austrália em 2008, topou ser administrador do Ituano no meio do ano passado e vai jogar o seu terceiro campeonato paulista pelo clube (antes, havia vestido a camisa rubro-negra em 92 e 93). Perto de completar 37 primaveras no mês que vem, o meia conseguiu convencer outro pentacampeão a retornar aos gramados: o zagueiro Roque Júnior, sem clube desde sua última desastrosa passagem pelo Palmeiras, em 2008.

Outro que volta à bola aos 32 é o ex-goleiro do São Caetano Silvio Luiz. Sem jogar desde junho do ano retrasado, quando sofreu um grave acidente automobilístico, ele assinou contrato com o Juventude e deve estrear pelo clube no Gauchão.

E aí, qual "quase aposentado" vai dar certo em 2010?

Baby boom

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Pode ser exagero, mas estimo que quase metade das pessoas que conheço faz aniversário em janeiro. Quando eu era adolescente, fazíamos todo ano um churrasco dos nascidos especificamente em janeiro de 1974 e acho que eram mais de 20 pessoas. Tinha gente do dia 2, do 3, do 5, do 7, do 8, do 10, enfim, ia intercalando até uma menina que era do dia 29. Em Campinas, na faculdade, era a mesma coisa. Em Fortaleza, onde morei por um tempo, idem. E aqui em São Paulo não é diferente: de hoje até domingo são cinco festas, churrascos e cervejadas de amigos e agregados. Hoje eu conversava com um deles, Fernando, que no dia 16 vai comemorar 28 anos fazendo um churrasco na laje, lá em Guaianases, em homenagem aos 30 anos da prisão do Paul McCartney por porte de maconha, no Japão (!!). Vai daí, ele me perguntou:

- O que será que acontece em abril pra nascer tanta gente em janeiro?

- Feriado de Páscoa, respondi.

- Ué, mas tem feriado o ano inteiro, ele rebateu.

- Pois é, mas neste as pessoas enchem a cara de vinho e enforcam o Judas!

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Se conselho fosse bom, a gente bebia...

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Um colega cachaceiro (assumido) dá dois conselhos aos butequeiros:

1 - Antes de ir ao bar, já tome umas três ou quatro, pra chegar no mesmo "grau" da conversa dos outros;

2 - Sempre beba em pé; se der vontade de sentar é que você já passou da conta e tem mesmo é que ir embora.

Tá explicado

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Ao voltar da Irlanda, em dezembro, passei por um período difícil de readaptação ao gosto de nossas sofríveis cervejas nacionais de maior consumo. Depois de sete meses provando dezenas de marcas européias (note-se: as mais populares de lá), meu paladar já não se convence tão facilmente de que as Skol, Brahma, Original, Bohemia e mesmo a tal de Antarctica Zero são, de fato, cerveja. E nem vou baixar o nível, falando de Kaiser, Itaipava, Nova Schin, Sol, Glacial, Lokal etc. Tirando a Serra Malte, a Brahma Extra e as "artesanais" como a Baden Baden e a Colorado, entre outras, o resto me parece - e já me parecia muito antes de eu ir morar no exterior - água gelada com uma mistura rala de cevada e espuma. E digo isso porque, como comecei a consumir cerveja com regularidade há mais de 20 anos, me lembro muito bem do (ótimo) gosto que as Skol, Brahma e até a Antarctica tinham naquela época. Simples: tinham gosto de cerveja, como hoje tem a Paceña boliviana.

Nessas festas de fim de ano, a família e os amigos estranharam quando, muitas vezes, eu parava de beber a loira gelada e partia para outras bebidas. E quando eu dizia que a qualidade da nossa cerveja está pra lá de sofrível, tinha que ouvir as piadas de que voltei ao Brasil com frescura, que "cerveja é tudo igual" e até mesmo que o nosso produto é o melhor do mundo (!!!). Aí não dá, não tem conversa. Porque é muito, muito ruim. Prova disso é o artigo publicado pela Folha de S.Paulo (enfim, alguma coisa útil naquele pasquim), do professor da Unicamp Rodrigo Cerqueira Leite, "A cerveja: bebendo gato por lebre", que nos foi enviado pelo camarada Don Luciano. O texto afirma, categoricamente: "(...) o milho (e outros eventuais cereais que não a cevada) constitui, em peso, quase três quartos da matéria-prima da cerveja brasileira, revelando sua vocação para homogeneização e crescente vulgaridade".

Segundo Cerqueira Leite, essa é a principal sacanagem da nossa inescrupulosa indústria cervejeira - a quarta maior do mundo, como ele frisa logo de início. A bebida deveria ser composta por cevada, lúpulo e água, mais fermento. "Tradicionalmente, o termo malte designa única e precisamente a cevada germinada", prossegue o artigo. "O malte pode substituir a cevada total ou parcialmente. A malandragem começa aqui. Com frequência, lê-se em rótulos de cervejas a expressão 'cereais maltados' ou simplesmente 'malte', dissimulando assim a natureza do ingrediente principal na composição da bebida. Com a aplicação desse termo a qualquer cereal germinado, a indústria cervejeira pode optar por cereais mais baratos, ocultando essa opção". Ou seja: usam milho, gastam menos, lucram mais. E nós ficamos com o prejuízo, a insatisfação e o gosto ruim (ou ausência de qualquer gosto) na goela.

Esse processo de mediocrização da cerveja com ingredientes impróprios já tinha sido comentado aqui no Futepoca por nosso amigo e colaborador Bruno Aquino, do site Cervejas do Mundo: "Muitas marcas substituem na sua totalidade o malte de cevada por arroz. As cervejas chinesas são um excelente exemplo disso, caso da Tsingtao. A americana Bud também aposta nesse cereal. Aliás, a cevada é muito mais cara do que arroz ou milho, pelo que muitos produtores optam por substituir parte da ceveda por um desses cereais, mais baratos, neutrais e de produção em larga escala". Falando das cervejas estadunidenses, aliás, Aquino também avaliou, sobre as Macro Lager, que "elas não são muito amargas, têm médio/baixo teor de álcool, pouco sabor e aroma". Alguma semelhança com as "cervejas" brasileiras?

E completou: "O mais importante é a produção em grande massa, cortando-se em cereais nobres como a cevada, malte e lúpulo e abusando-se do milho e do arroz. Pelo menos o produto final é barato, apesar da qualidade deixar muito a desejar". O problema é que, aqui no Brasil, o (péssimo) produto final nem barato é! Pra complicar, o professor Cerqueira Leite, em seu oportuno artigo, acrescenta: "Outro determinante da baixa qualidade da cerveja brasileira é a adição de aditivos (sic) químicos para a conservação. O mal não está só nessa condição, mas na sua necessidade. O lúpulo em cervejas de qualidade, sejam 'lagers', sejam 'ales', é o componente responsável pela conservação -além, obviamente, de suas qualidades de paladar. Depreende-se daí que os concentrados de lúpulo usados na cerveja brasileira são de baixa qualidade".

Pois é. Sem frescura, vou continuar a consumir nossas marcas mais vendidas. Mas com saudade das estrangeiras. Ou melhor, das cervejas de verdade...

Como quebrar um clube de futebol

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O Futepoca teve acesso ao relatório de auditoria feito no Galo a pedido do Conselho Deliberativo pela Auditoria Consultoria Organizacional Ltda., ACO, contratada para analisar a vida administrativa do CAM nos últimos anos.


Como o arquivo foi conseguido pela Internet, é necessário fazer ainda algumas checagens de sua veracidade, mas, verdadeiro, traz um Raio-X de como os clubes brasileiros sofrem pela incompetência de seus dirigentes, isso para não dizer coisas piores.

Pelo cuidado na checagem e leitura mais detalhada, hoje será postada uma parte que já saiu na coluna do jornalista Chico Maia, do jornal mineiro O Tempo, que explica como o volante Ataliba, do time rebaixado de 2005, conseguiu tranformar uma dívida de 3 meses de um salário de R$ 22 mil numa vitória na Justiça do Trabalho que fez o clube dever R$ 10 milhões.

Segundo o jornalista, o clube atrasou mais de três meses de salário, o que o levou o jogador a conseguir na primeira instância da Justiça do Trabalho o rompimento do contrato e um ganho de R$ 350 mil na causa.

Na segunda instância, o desastre: por conta de o os dirigentes terem colocado uma cláusula em que estabelecia "multa" de R$ 1o milhões para o rompimento do contrato e por ter causado o rompimento, foi condenado a pagar R$10.350.000 a Ataliba.

Cabe aqui as perguntas, já também feitas em parte pela auditoria e por Chico Maia, por que um clube estipula uma multa de R$ 10 milhões para um jogador medíocre e já rodado como o "craque" Ataliba?

Como já não faz um acordo e paga na primeira instância o valor de R$ 350 mil e se livra de uma pena maior?

Por que a legislação não determina a punição do dirigente que lesou por incompetência ou mesmo má-fé ao clube?

Um parêntese, se fosse um clube empresa, os dirigentes poderiam ser processados também e responderiam com seus bens pessoais. Grossso modo isso explica porque a maioria quer deixar tudo como está. Fazem dívidas enormes, depois vão embora deixando o passivo para seus sucessores e os bobos dos torcedores. Isso levando em consideração apenas a incompetência, porque outras práticas criminosas precisam ser provadas.

Amanhã, checando com mais cuidado o documento, tentarei descrever como esses mesmos dirigentes que deram prejuízos milionários ao clube "emprestaram" dinheiro para "pagar" suas besteiras e saíram credores de dezenas de milhões de reais do clube.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Um ídolo pode se queimar?

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Giovanni está voltando ao Santos. Aos 37 anos, o paraense deverá, neste 2010, ter sua terceira passagem pela Vila. A primeira foi a mítica realizada entre 1994 e 1996, que teve como ápice o vice-campeonato brasileiro em 1995, o melhor momento do Santos na década retrasada (vixe maria, foi estranho escrever isso). A segunda ocorreu em 2005 e foi marcada por episódios fortes como o jogaço posteriormente anulado contra o Corinthians, o bicão na bola e a dispensa por Vanderlei Luxemburgo no início do ano seguinte.

Giovanni em 10/12/1995, o dia em que se inscreveu definitivamente como ídolo

Sua contratação é uma espécie de "presente" da nova diretoria santista aos torcedores. A dispensa de Giovanni no começo de 2006 foi um dos episódios mais mal-digeridos pelos santistas. Apesar de dentro de campo não estar rendendo aquelas maravilhas, era ídolo dos torcedores e merecia ser tratado como tal. Foi dispensado subitamente, sem explicações suficientes, no mesmo balaio que incluiu Luizão e Cláudio Pitbull. Estava em final de carreira, mas merecia uma despedida mais digna.

Agora, os novos dirigentes do Santos trazem Giovanni de volta. A aproximação entre as duas partes se deu desde a campanha eleitoral, quando o camisa 10 fora anunciado como um "intermediário do Santos na região Norte" ou coisa parecida. É nítido que, mais do que reforçar o elenco, o objetivo é dar ao atleta uma despedida digna do Santos.

Como santista, não aprovo a quase fechada contratação. Tenho Giovanni como ídolo. Meu depoimento sobre ele é praticamente idêntico ao dos outros santistas da minha faixa etária - Giovanni foi um facho de luz sobre o período mais sombrio da história do Santos, um cara que deu a nós um orgulho que não conhecíamos, uma esperança que só sentiríamos novamente sete anos depois daquele 1995.

Mas não quero ver esse ídolo submetido à fogueira que o Santos em reconstrução se mostra ser. Assim como muitos santistas, sei que o 2010 que vem aí não deve ser de títulos. E sim de conquistas fora de campo - auditoria nas contas do clube, limpeza dos quadros administrativos, execução de bons projetos de marketing e por aí vai. Claro que se as taças vierem, agradecemos; mas temos que ter ciência dessa realidade.

Acontece que há muitos que pensam de maneira diferente, e podem colocar no ídolo de 15 anos atrás uma carga que ele não merece carregar. E aí o mito Giovanni, construído com tanta qualidade naquele 1995, pode se esvair.

Eu já xinguei Pepe quando ele foi técnico do Santos, em especial na sua fraca passagem no Paulistão de 1994. Pela escalação errada de algum lateral-esquerdo ou coisa parecida, não lembro ao certo. Uma questão pequena e pontual - nada comparado com a positivamente monstruosa história que Pepe construiu como jogador na Vila.

Pepe permaneceu imune a isso. Mas será que todos os ídolos conseguem superar as insatisfações que podem pontual e involuntariamente causar às torcidas que os idolatraram? Émerson Leão, por exemplo, é visto como persona non grata no Palmeiras, clube que com tanta qualidade defendeu nos anos 1970.

É estranho.

As pequenas tragédias da Ilha Grande

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook




Duas cenas: a chegada e os passeios numa Ilha Grande paradisíaca e o Morro da Carioca, em Angra, depois da tragédia.

Fotos: Simone Polli e Frédi Vasconcelos


















Das grandes tragédias nem é necessário falar. A TV, a todo momento, mostra imagens da pousada que caiu, das casas, dos velórios. Na falta de assunto, explora-se ao máximo a dor alheia em busca de audiência...

Mas eu e a companheira Simone estávamos num grupo que foi para a Ilha passar o Ano-novo, na casa dos amigos Helô e Gerardo, na Praia Grande de Araçatiba, bem perto do Bananal, onde despencou o morro.

A chegada no dia 27 e os dias 28 e 29, apesar de um pouco de chuva, foi dentro do previsto. Praia, caminhadas, passeios de barco, boas comidas, ótimas conversas com os amigos etc.

A mudança começou no dia 30. Desde as primeiras horas, chuva torrencial. Impedia de fazer qualquer coisa, mas nada indicava o que viria.

Manhã do dia 31, não havia boas notícias. A chuva continuava muito forte. O morro atrás da casas que estávamos começou a cuspir terra. A primeira operação, apesar do susto, foi até simples, tirar aquela pouca terra e fazer um caminho para a água descer.

Operação que teve de ser repetida durante algumas vezes, mas nada ainda que assustasse. À tarde a chuva diminui e traz alívio a todos. Engano, ledo engano. Volta com mais força ainda à noite, o que não impede a ceia e as comemorações da meia-noite. Com direito a ir pular as 7 ondas mesmo debaixo da chuva.

Na volta à casa, as notícias não são boas. Mais terra caíra. É necessário trocar de roupa de festa e fazer um novo caminho para que a água não invada os quartos. E lá vai o grupo para a tarefa nas primeiras horas de 2010.

Não adianta. Refeito o primeiro caminho, vem mais terra ainda, a situação começa a ficar crítica. Não é possível mais mexer atrás da casa porque fica perigoso, a toda hora acontece novo pequeno desmoronamento.

É necessário tirar as roupas, os colchões, tudo que puder ser salvo, porque a invasão de terra e água é iminente. Cada um faz uma pequena mochila para levar o que é essencial. Mais terra caindo e água vertendo do morro, formando novas cachoeiras.

Perto das 3h da manhã a decisão de abandonar a casa e ir para lugar mais seguro oferecido por amigos. A caminhada parece que nunca acaba, atravessando partes inundadas, pequena trilha que pode a qualquer momento desmoronar. No grupo, os bravos León e Thomás, de 9 e 14 anos, que enfrentam tudo sem reclamar.

A chegada à outra casa foi um alívio. Parte do grupo não cabe e ainda tem de caminhar mais para chegar a outro local. Ficamos nesse primeiro e tentamos dormir...

No outro dia, caímos da cama às 8h da manhã com medo do que poderia ter acontecido à casa de Helô e Gerardo. Chegamos e eles já estavam lá. Apesar de ter entrado água e terra nos quartos, que tivemos de limpar, a situação era melhor do que esperávamos. Não havia acontecido nada de mais grave. Embora um dos quartos estivesse com cerca de 1,5 metro de terra na parede externa. Além de pedras ameaçadoramente soltas. Limpamos tudo e almoçamos o resto da paella maravilhosa preparada por Gerardo para a noite anterior.

Daí fomos para outra pousada, numa área de menos risco.

Soubemos da tragédia no Bananal e em Angra, mas com informações cada vez mais confusas. Chegavam a falar em 100 mortes, inclusive de gente famosa...

O espírito das férias já tinha ido embora. Na nossa última noite na Ilha, algo simbólico. Um jantar feito com restos da ceia e mais o peixe e o camarão que sobraram fritos por Helô, com vinhos trazidos da Argentina por Daniel e Mónica, à luz de velas, na mesa de um bar fechado. A prova de que enquanto resta solidariedade e vida, tudo ainda pode ser feito.

Decidimos retornar no dia seguinte, mas boa parte do grupo ficou em locais mais seguros.

Agora, o verdadeiro problema é para a população local. Está sem água e luz até hoje, várias casas estão interditadas, os mantimentos que ficam nas geladeiras estão todos estragando, os turistas vão saindo em bandos, lotando os barcos que vão para a Angra.

A época em que todos que vivem lá do turismo ganham algo para passar o ano está irremediavelmente soterrada.

Nada se compara às vidas perdidas, mas as pequenas tragédias continuarão ainda por muito tempo.