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sexta-feira, março 29, 2013

O empate do Santos com o Mogi e uma torcida ingrata

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Parte de uma torcida não reconhece talento
Depois de cinco partidas na temporada na Vila Belmiro, todas vencidas pelo Santos, o Alvinegro empatou com o Mogi Mirim em 2 a 2. Claro que não é o resultado dos sonhos de ninguém, mas o adversário tem o melhor ataque do Paulista, com 29 gols, e está à frente de Corinthians e Palmeiras na tabela. Os donos da casa vacilaram em momentos cruciais da partida e tomaram dois gols mesmo tendo o domínio da partida durante a maior parte do tempo.

A torcida, além de “marcar” alguns jogadores, vaiou o time ao fim dos 90 minutos. E alguns deles vaiaram Neymar, algo que toma proporções anormais para parte da mídia esportiva que sempre procura pauta em ovo. O garoto deu assistência, se movimentou, mas não brilhou como costuma. Está há seis jogos sem marcar, e ainda assim foi fundamental para a equipe.

Em outro contexto, mas no mesmo campeonato, vi o Santos perder por 3 a 1 para o Paulista, no Pacaembu. Com Neymar. O gol de honra, dele, veio perto do final e, quando estava 3 a 0, boa parte do estádio cantou, apoiando os jogadores. Falo da diferença entre o comportamento santista ontem e o daquele jogo para falar da necessidade de o Alvinegro mandar mais jogos em São Paulo.

Na Vila, mesmo na época de vacas magras, o Santos era soberano. O folclórico Viola dizia que no estádio o adversário era como Miojo, entrava duro e saía mole em função da pressão dos torcedores. Mas os tempos foram mudando e há algum tempo o estádio e seus torcedores não têm cumprido seu papel a contento, o de ser um caldeirão para os rivais. Aquela parte da torcida que em outros clubes se chama de “turma do amendoim” cada vez ganha mais relevo.

Lembro que em 2003, quando Robinho passava por má fase após ser o principal protagonista do título Brasileiro de 2002, tirando o time de uma fila de quase 18 anos, era xingado por torcedores que esqueciam o que havia acontecido três meses antes. Um cara que estava perto de mim em um jogo disse que “Robinho é um enganador, que nem o Gil do Corinthians”. O santista Renato conta outra passagem, de um torcedor que xingou durante boa parte do primeiro tempo o meia Diego. Cada vez que ele pegava na bola, era uma ofensa. O problema é que o xingado era Preto Casagrande e o jovem sequer estava em campo naquele dia. Muitos provavelmente pegaram no pé de Pelé e cia. também.

Saem alambrados, entram camarotes térreos
Esse tipo de torcedor que mais xinga do que apoia e acha ruim até quando o time vai bem sempre existiu na Vila, mas parece, como disse acima, que vem se tornando mais importante, não só pelas mudanças pelas quais o estádio passou, mas pelo fato de, com públicos pequenos, sua voz se sobressair mais. E também se sobressaem aqueles que querem conturbar o ambiente, movimentos interessados em forçar ou criar clima para justificar saída de jogadores cuja parte dos direitos federativos pertencem a empresas ou empresários.

Na peleja contra o Mirassol (alô, Palmeiras), o Santos teve prejuízo e ontem o time, mesmo com a volta de Neymar e Montillo, jogou diante de 6.054 pagantes. Ainda assim, o clube tem a segunda melhor média de público do Paulista, mas certamente não é por causa da Vila e sim pelos dois jogos que mandou na capital, conta o Paulista, no Pacaembu, e contra o Corinthians, no Morumbi, ambos com mais de 18 mil pagantes cada.

O bairrismo já foi arma eleitoral na disputa entre Luís Álvaro e Marcelo Teixeira em2010 e volta à tona impulsionado também pela TV de propriedade da Família Teixeira. Como querela política, impede a discussão sobre o clube ampliar seus horizontes, já que estima-se que a torcida santista seja pelo menos dez vezes maior do que a população da cidade que abriga a equipe.

Para mim, que sou santista de nascimento e vi jogos mais na Vila do que em qualquer outro lugar, ela é insubstituível afetivamente. Mas é impossível fechar os olhos às necessidades que regem um clube grande no futebol de hoje. Para buscar visibilidade e torcedores o Santos precisa sair mais da Vila. E, hoje, faria bem a torcida de Santos refletir mais sobre seu comportamento nas arquibancadas, torcendo mais e chiando menos.

quinta-feira, março 28, 2013

O Ronaldo que interessa

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A Globo anunciou que o onipresente Ronaldo Nazário - empresário, embaixador da Copa, cobaia de dieta do Fantástico, garoto-propaganda de um sem número de marcas... - vai comentar tanto a Copa das Confederações quanto o Mundial brasileiro. Tudo bem. Temos a opção de tirar o som da TV e ligar o rádio. Mas o que interessa sobre Ronaldo, para quem gosta de (bom) futebol, é o que ele fez com a bola nos pés. Mais do que vitórias ou títulos, o que nos encantava era a peculiar habilidade para entortar marcadores e passar por defesas inteiras sem tomar conhecimento. Quem puder perder 15 minutos pode relembrar, no vídeo abaixo, arrancadas sensacionais, dribles curtos, rápidos e imprevisíveis, rolinhos, canetas e elásticos a granel. Assistir Ronaldo Luís Nazário de Lima jogando é mágica pura. A ela:


Ney Franco vai comer ovo de Páscoa no Morumbi - mas será que chega ao Dia do Trabalho empregado?

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Sim, o São Paulo venceu mais uma pelo Campeonato Paulista, com Luís Fabiano confirmando sua vocação para decidir apenas quando não interessa: 2 x 0 no Paulista de Jundiaí, fora de casa, com dois gols do camisa 9. De útil, a excelente atuação de Wallyson (que, apesar de ainda não estar totalmente em forma, já merece ser titular pela ponta-direita), a volta de Paulo Miranda na lateral e a surpreendente recuperação de Douglas, que, pela primeira vez, jogou bem. Fabrício, como volante, também correspondeu. Já Lúcio e Cortez continuam dando razão à Ney Franco para permanecerem no banco (com o perdão da rima involuntária). Falando no treinador, aliás, ele conseguiu ficar no cargo até essa Páscoa, ao contrário do que prenunciava o clima de fritura pós-vexames contra o argentino Arsenal pela Libertadores.


Três vitoriazinhas pelo Paulistão - contra São Bernardo, Bragantino e Paulista - garantiram o fôlego extra. Como eu já disse aqui, não sou favorável à demissão de Ney Franco. Muito pelo contrário. Demitir técnico por má fase ou botar culpa por derrota em goleiro são duas das maiores besteiras do futebol. Só que o Juvenal Juvêncio é louco (ou bêbado; ou os dois!) a ponto de ninguém botar a mão no fogo, no dia seguinte, por qualquer coisa que ele garantiu na véspera. Vejamos: há quatro anos, em outro período de Páscoa, Muricy Ramalho chegava às semifinais do Campeonato Paulista com moral, por ter sido o 2º melhor na primeira fase. Pegou o Corinthians. Levou um 2 a 1 (com comemoração polêmica de Cristian) no Pacaembu e um 2 a 0 no Morumbi (com arrancada hilária do gordo Ronaldo sobre o tosco Rodrigo).

A batata de Muricy começou a assar ali. Pouco depois, chegou às quartas-de-final da Libertadores e foi eliminado pelo Cruzeiro com placares idênticos: 2 a 1 e 2 a 0. E o técnico tricampeão brasileiro caiu. Guardadas as devidas - e imensas - proporções, vejamos a coincidência com a situação do Ney Franco. Pega o Corinthians, no próximo domingo de Páscoa. O time ainda não venceu um clássico no ano (perdeu por 3 a 1 para o Santos e empatou sem gols com o Palmeiras). Vai que, num desses dias trágicos, o Tricolor leva uma goleada humilhante do rival, com comemoração polêmica e/ou lance humilhante sobre a zaga. Imagine como seria o clima do embarque para a Bolívia, para enfrentar o The Strongest... E, mesmo se vencer lá, pega outro time mineiro na sequência  da Libertadores, o Atlético, que, como o rival Cruzeiro naquele início de 2009, está "voando baixo" nessa temporada...

Na dúvida, Ney Franco já poderia sondar o vaivém dos técnicos nos outros clubes.


Nada de novo sob o Mirassol - Não poderia terminar esse post sem comentar a inacreditável goleada de 6 (SEIS!!!) a 2 do imponente Mirassol sobre o Palmeiras. Sim, o alviverde vive uma crise eterna há mais de dez anos, com dois rebaixamentos no Brasileirão e inúmeros vexames no período terra arrasada pós-Parmalat. Mas até má fase tem limite! O Mirassol estava na zona de rebaixamento e não vencia há cinco jogos! Perder para time fraco acontece. Mas perder por goleada já é mais complicado. Perder por goleada de 6 (SEIS!!!) é ainda pior. E perder por goleada de 6 (SEIS!!!) levando todos os gols logo no primeiro tempo (!) é fim de feira completo. Não há atraso de salário e de direitos de imagem, não há elenco sofrível ou técnico e diretoria idem que expliquem. A COISA TÁ FEIA. Aliás, pensando nessa música do Tião Carreiro (que o Glauco gosta de cantar), acho que o time do Palmeiras não é "filho de Deus", pois "tá na unha do Capeta" - e ele tem como número 666 (SEIS! SEIS! SEIS!)...


quarta-feira, março 27, 2013

Tem meia dúzia de coisas que só acontecem com o... Palmeiras?

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Comemora, Mirassol, que não é todo dia! (Foto: Caio Messias/Lance!Press)

Em sua atual fase, o Palmeiras tem perdido muita coisa, como mostra o sacode que levou do portentoso Mirassol na noite desta quarta-feira. Mas pelo menos uma coisa ele ganhou, e do Botafogo: nos últimos tempos, tem coisas que só acontecem com o Palmeiras.

É válido questionar se o Mirassol algum dia já marcou meia dúzia de tentos em uma única partida como profissional. Imagine então cumprir a conta logo no primeiro tempo? Tá certo que o primeiro foi obra do jovem zagueiro palmeirense Marcos Vinícius, de 21 anos, e logo aos 32 segundos de partida. Mas ainda assim...

No finalzinho, o Palmeiras ainda corria, Wesley forçou o goleiro Gustavo a duas defesas complicadas. Mas era nítido que ninguém dentro de campo acreditava no empate. Nem a torcida alviverde, que se dividia entre os que abandonavam o estádio e aqueles que ficavam para xingar o time e o técnico Gilson Kleina – que corre sério risco de não passar o Dia do Trabalho no Parque Antártica.

Já o lado mirassolense era só alegria, justificada pelo feito histórico. Dá pra imaginar, daqui uns 30 anos, quando o Paulistão não for mais que uma lembrança, o centroavante Caion contando para seus netos e vizinhos  a respeito da noite em que marcou dois dos seis gols do Mirassol em cima do poderoso Palmeiras.

PS.: Na sequência da rodada, o Corinthians empatou em 1 a 1 com o Penapolense, em mais uma partida pra lá de chata. Mas quem se importa?

(Atualizado às 23h50)

terça-feira, março 26, 2013

Pinceladas cariocas - Gaúcho era boi... de piranha!

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 por Enrico Castro

Para Ricardo Gomes, Renê Simões é pior que AVC
A segunda rodada da Taça Rio teve início com um jogo isolado na quarta-feira da semana passada, por imposição da TV Globo. Na insossa partida entre Vasco e Nova Iguaçu, que terminou com o placar de 2 x 0 em favor do time da Baixada, salvaram-se apenas os dois belos gols de Léo Salino. O melhor, mesmo, ficou para o final. Em mais um episódio de despreparo e desrespeito, o ex-técnico e agora dirigente René Simões demitiu o técnico Gaúcho ainda no vestiário. Uma demonstração explícita de que a diretoria come na mão das torcidas organizadas, que pediram a cabeça do treinador. Na realidade, Gaúcho era apenas o boi de piranha, pois quem dava as cartas no time era o diretor de futebol, Ricardo Gomes, que, no dia seguinte, em um ato de hombridade, entregou o cargo. Entretanto, a diretoria agiu rápido e contratou Paulo Autuori, considerado “top de linha”. O treinador, que recebia um dos maiores salários do mundo no Catar, decidiu encarar o desafio “por amor”, por ser vascaíno e acreditar no projeto. Vai receber a módica quantia de R$ 300 mil mensais (tadinho...). A única exigência que fez foi justamente a manutenção de Ricardo Gomes no cargo. Ao Renê, restou a pergunta do comercial de leite Parmalat: "Tomou?"

No plantel do Flamengo, só Jesus salva!
A estreia de Jorginho no Flamengo não foi o que a torcida esperava. O novo treinador, que prometera abolir os cabeças-de-área brucutus e escalar na posição jogadores técnicos, decepcionou. O time saiu jogando com o brucutu-mor Amaral na posição. Resultado: uma incontável quantidade de passes errados e um 0 x 0 com o fraquíssimo Boa Vista. É melhor Jorginho dar logo início aos cultos que costuma promover nos times por onde passa, porque com o plantel que tem em mãos, só Jesus salva!
 
Abel Braga quando resolvia sozinho a pontaria do Fluminense
E 0 x 0 foi também o placar de Fluminense x Duque de Caxias. O atual campeão Carioca continua jogando abaixo da crítica e nem conseguiu vencer um time que está brigando ferrenhamente para não ser rebaixado. O desfalque dos três jogadores que estavam com a seleção brasileira não serve como desculpa.  Deco está rendendo muito menos do que se esperava e Abel credita os maus resultados à falta de pontaria dos atacantes. O problema não é apenas esse. Todos os setores da equipe estão desarrumados. De quem será a culpa?

Seedorf e Bennet: "Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor!"
O Botafogo, que não tem nada a ver com os problemas alheios, parece que vai receber o título no colo. Os outros grandes parecem estar fazendo uma força sobre-humana para entregar logo a Taça Rio para o alvinegro, o que, para o campeão do primeiro turno, consolidaria o título carioca por antecipação. Hoje, o Vasco é o lanterna de um grupo e o Flamengo o vice-lanterna do outro. Não fossem as trapalhadas do árbitro com nome pomposo, Philip Georg Bennet, não teria muito o que se comentar a respeito da vitória do Botafogo por 2 x1 frente ao Madureira, no último domingo. Ele desmarcou um pênalti assinalado por ele mesmo, após a bola já estar na marca da cal, sem que nenhum de seus auxiliares o tivessem passado alguma informação. Deve ter pensado que o Botafogo não precisa de pênalti para vencer o pequeno Madureira. Ainda expulsou Seedorf no último minuto de jogo, quando o jogador estava de costas para ele e se dirigindo ao banco de reservas para ser substituído. Não satisfeito com as lambanças em campo, o árbitro de nome inglês aprontou mais uma após a partida: a súmula entregue por ele à FERJ, redigida a próprio punho, exibe letra diferente na parte em que trata a expulsão do holandês por supostamente tê-lo ofendido com as seguintes palavras de baixo calão para os parâmetros de um lord inglês: “Você está de palhaçada!” Deve estar, mesmo...
Enrico Castro é tricolor (do Rio!), analista de sistemas, servidor público. Entende tanto de futebol que tem certeza que o Dimba (aquele mesmo do Goiás, Botafogo e etc) é um verdadeiro craque e brilharia na Champions League. Não é preciso dizer mais nada.

Quando o marxismo e a psicanálise pautam o futebol

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Charge de Adriano Kitani, do Pirikart (via Igor Carvalho)

segunda-feira, março 25, 2013

Brasil empata de novo em jogo fraco

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Fred marcou mais um (Foto: Mowa Press)
Pouco a falar sobre o jogo da Seleção Brasileira nesta segunda, frente à Rússia. Mais uma partida fraca, sem demonstrar organização coletiva e nem a qualidade individual dos principais jogadores.  A Rússia apertou no começo, mas depois passou o jogo recuada e explorando os contra-ataques. Nesse período, o que posso ver de positivo no desempenho brasileiro: o time tocou bem a bola, manteve a posse e o controle do jogo. Legal, mas isso não resultou em quase nenhuma jogada realmente perigosa, só uns chuveirinhos meio esquisitos.

Felipão testou no primeiro tempo uma novidade que usou contra a Itália. Um tipo de 4-4-2 à inglesa, com Oscar e Kaká nas extremas e Neymar de segundo atacante, posição que, se a coisa funcionasse, lhe daria muita liberdade para circular pelo ataque todo e aproveitar seu considerável potencial. Mas os problemas impedem que isso aconteça: se for pra jogar assim, os volantes, especialmente Hernanes, precisam chegar mais para armar o jogo, o que não fizeram. E os dois meias precisam se movimentar mais, não só ficar parados nas pontas (o que, segundo o repórter da SporTV, foi recomendação do Felipão, vai entender...). Do jeito que foi, fica um buraco no meio da armação que Neymar tentou o tempo todo voltar pra preencher. O esquema parece o do Corinthians e, se for mantido, Paulinho, Ralph e Renato Augusto passam a ser nomes interessantes em futuras convocações – atendendo parcialmente a sugestão de Pelé.

No segundo tempo, Felipão mudou para um 4-2-3-1, com Kaká centralizado e Hulk no lugar de Oscar. E depois do gol da Rússia, tirou Kaká, o único meia, e botou um segundo centroavante, abrindo um tipo de 4-2-4 bem feliponesco, em que Neymar ficou esquecido na ponta direita e o super-herói verde jogou na esquerda - o que não deixa de ser, digamos, curioso, já que Neymar achou seu espaço no Santos jogando na ponta esquerda e Hulk teve seus melhores momentos no Porto na ponta direita.

Não sei se foi o desespero, a mudança do treinador ou uma descarga de concentração, mas Marcelo e Hulk passaram a jogar muito bem, trocando passes e construindo pela esquerda todas as jogadas. Até que saiu o gol de Fred, em bela tabela entre os dois.


Em termos de nomes, ninguém foi esplêndido. Marcelo fez jogadas muito boas nessa etapa final e Hulk entrou bem. Mas como não tinha jogado nada no outro amistoso, não sei o quanto isso conta em sua moral com o chefe. Thiago Silva voltou bem, dando qualidade na saída de bola.

Mas o fato é que o que temos de time está na defesa – mesmo que Daniel Alves não esteja acertando muito. Do meio pra frente, Neymar tem vaga, mas não tem jogado bem, e Fred vai consolidando seu nome. Oscar, que tinha muita moral com Mano Menezes, foi substituído nos dois jogos. Pode ser porque o treinador já o conhece, pode ser porque não gosta dele.

E sem definir os nomes não adianta falar muito de esquema, já que seleção (e time também, mas é diferente) tem que ter o esquema tático que melhor acomode os melhores jogadores. Feito isso, arranja-se o resto. Pergunto: quem são hoje estes jogadores brasileiros que deveriam servir de referência para a montagem do time? Pois é, já foi mais fácil.

Corinthians ganha do Guarani no interminável Paulistão

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Guerrero e Sheik estão se entendendo (Ary Ferreira/Lance!Net)

Cara, como é chato o Paulistão. O 1 a 0 sobre o Guarani em Campinas manteve o Corinthians bem posicionado para garantir sua classificação para a fase eliminatória do torneio. Em mais um jogo chato desta primeira fase interminável e sem sentido, o mais inusitado foi o final jogado sob chuva de granizo.

Entendam, não estou detonando o estadual em si. Somos um país continental, com diferenças regionais relevantes, é válido ter competições que valorizem essa diversidade. Mas essa fórmula beira o desvario – o que não chega a ser novidade nas criativas mentes da FPF.

Ninguém consegue me convencer de que isso faz sentido: você joga 19 partidas medíocres para classificar oito clubes para uma fase de mata-mata que, essa sim!, vai ser emocionante. Mas aí faz a eliminatória só com um jogo! Ora, diminuam a fase de classificação e ampliem o mata-mata.

Não entendo bem o que ganha a federação ou seu presidente, Marco Polo del Nero, com esse formato esdrúxulo, os estádios vazios, os jogos sem titulares. Compreendo que ele não esteja nem aí  para nada além de seus interesses políticos, mas ter um campeonato tão mal organizado ajuda em alguma coisa suas ambições?

Enfim, de volta à partida, o Corinthians jogou bem no início, fez o gol com Guerrero em belo passe de Emerson (que mais uma vez jogou bem) e parou, o que também não é nenhuma novidade O Guarani não mostrou a menor força para empatar e ficou por isso mesmo.

Duas consequências funestas: Cássio e Renato Augusto saíram de campo machucados, ainda no primeiro tempo. Os dois não jogam na quarta-feira e preocupam para a sequência.

Ah, sim: o vestiário do Brinco de Ouro da Princesa alagou depois da partida, o que também foi novidade. Que beleza!

Vai que é sua, Aloísio!

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O São Paulo venceu o Bragantino por 2 a 0 no sábado, pelo Paulistão, num jogo que só valeu pelo primeiro tempo. Nenhuma novidade: tirando os quatro "grandes", a Ponte Preta e o Mogi Mirim, o os outros times que disputam esse campeonato são muito fracos. Sobre o Tricolor, boa atuação de Wallyson, que vem evoluindo a cada partida e pode, sim, ser titular pela ponta direita. Rodrigo Caio também merece ser titular. Jadson, pra variar, segue jogando "o fino" da bola. Ganso, se ainda não joga o que se espera, também está menos ausente do que antes. E Carleto deixa o técnico em dúvida sobre a lateral esquerda. Aliás, esse é o melhor alento para os torcedores: agora vemos opções viáveis para as duas laterais. Se Cortez não justifica a cega confiança que Ney Franco deposita nele desde o início e Douglas é aquela nulidade habitual, Carleto e Rodrigo Caio já mostram, pelo menos, mais vontade. 


SUSPENSO - Mas o assunto principal, no São Paulo, é a suspensão por quatro jogos de Luís Fabiano na Libertadores, por ter xingado o árbitro após a primeira partida contra o Arsenal-ARG. É justo. Eu não acredito que o jogador faça isso por "cabeça quente". Pra mim, faz porque não quer jogar a partida seguinte. Então, que não jogue! Como eu dizia em outro post, o técnico Ney Franco tem que se cercar de quem realmente quer jogar. Como os já citados Wallyson, Rodrigo Caio e Carleto. Ou mesmo Edson Silva, na zaga, e Maycon, no meio. Ano passado, quando Luís Fabiano não pôde jogar, William José entrou e desandou a fazer gols. Por isso, chegou o momento crucial de Aloísio mostrar por qual motivo o São Paulo o trouxe do Figueirense. Os dois jogos decisivos pela Libertadores serão o "agora ou nunca" para o centroavante reserva. Vai que é sua, Aloísio! E assista - quietinho - pela TV, Luís Fabiano.

domingo, março 24, 2013

A atualidade do The Dark Side of The Moon, 40 anos depois

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Por camila souza ramos*

O oitavo disco do Pink Floyd foi lançado em 24 de março de 1973 e chega hoje ao seu 40º aniversário, mas o álbum de meia-idade ainda reverbera nas gerações posteriores de 80’, 90’ e 2000’. Reverbera porque foi o primeiro e um dos únicos álbuns da história do rock que ousaram tocar uma epopeia da modernidade num estilo psicodélico, da loucura como uma produção social do nosso tempo, e conseguiu fazer isso quase numa ópera rock, formato então inovador mesmo para o próprio Pink Floyd.
Naquela época, o antigo protagonista da banda, Syd Barrett, já havia saído do grupo, após se viciar em LSD e desenvolver um comportamento esquizofrênico. O problema mental de Barret – guitarrista que já inspirava muitos contemporâneos seus – afetou o grupo todo, e levaram-se uns anos para que Roger Waters tomasse a liderança do Floyd e decidisse tratar desse problema diretamente em suas próprias composições. Mas a decisão não poderia ter sido mais acertada: as músicas serviram como uma catarse da banda para o sofrimento que presenciavam, aliando o testemunho da loucura com reflexões filosóficas sobre a resistência ao tempo, a ganância e outras loucuras sociais, além de alcançar uma produção musical fora do padrão de rock comportado, com longos solos de guitarra e baixo, com pouca simetria, mas com uma harmonia que em algumas vezes se aproxima da música clássica – o grupo já havia usado e abusado das extensões de guitarra em Ummagumma (1969), mas naquele álbum as letras ainda não estavam à altura das melodias.
Syd Barrett e Roger Waters
Quando falam do lado escuro da lua, eles falam de todos os lados escuros de nossa alma, de nossa humanidade. Aquilo que deixamos oculto, que tememos mostrar, e que, quando nos é revelado, assusta, como a loucura, ainda que saibamos que temos em nós os seus germes. As músicas jogam luzes sobre os bichos-papões que estão sob as nossas camas e para os quais preferimos não olhar, mas que, quando encaradas, podem nos revelar um mundo que merece ser olhado – e deve ser. Relações possíveis com a capa do álbum não são mera coincidência: um feixe de luz branca (a reflexão, a música), atravessa o prisma (nosso inconsciente) e se revela multicolorido (a consciência). Observação: o significado dessa capa é discutido até hoje, e fala-se em referência às pirâmides do Egito, sobre a revelação do lado oculto do universo, entre outros. A interpretação que coloco é uma entre várias possíveis.
Nas letras do disco, Waters aproxima da obsessão comportamentos tidos como normais ou inquestionáveis: “The paper holds their folded faces to the floor/And every day the paper boy brings more” (Brain Damage); “I'm in the high-fidelity first class travelling set/And I think I need a Lear jet” (Money). Ou ainda, inverte o diagnóstico, questionando a loucura como patologia: “Very hard to explain why you're mad/even if you're not mad” (Speak To Me).
Em quase todas as músicas do disco, o grupo abusa de recursos sonoros para além dos instrumentos, como gravações de voz e locuções em um aeroporto. Dois pontos altos são o badalar simultâneo de diversos relógios em Time, e o som do cair de moedas e de caixas registradoras em Money. Esses recursos aproximam o álbum de uma narrativa, ainda que não linear, como se a forma chamasse a atenção do ouvinte para o conteúdo.
Parênteses: Money foi o sucesso inegável e mais do que justificado do disco, com uma mensagem direta às contradições do dinheiro no capitalismo. Contradição essa presente dentro da própria banda, que foi duramente criticada por alguns por terem ganhado muito dinheiro justamente fazendo crítica ao sistema, ainda que nunca tenham se advogado como revolucionários (Roger Waters fala um pouco disso nessa entrevista à Rolling Stone, disponível em http://migre.me/dPdFR). Apesar do peso musical de Money, creio que Time não esteja atrás. Ao falar sobre a fugacidade do tempo, nos faz pensar sobre o tempo que perdemos e se não é uma loucura querer controlar esse tempo transcorrido (coincidência histórica ou não, as músicas Money e Time foram compostas na época de expansão global do sistema de produção Just-in-time, cuja máxima é “tempo é dinheiro”).
Mesmo ao tratar dos problemas mentais de Syd, Waters mostra as pressões que o dinheiro, o tempo, as guerras (em Us and Them, por exemplo) e a possibilidade da morte exercem sobre o indivíduo. Com isso, ele consegue tratar de angústias também de todo o corpo social – e, dessa forma, compõe praticamente uma epopeia da modernidade, cujos problemas não apenas ainda não foram resolvidos como até agravados.
The Dark Side of The Moon fala de angústias, mas não busca saídas. Neste sentido, pode ser considerada uma produção mais juvenil de Pink Floyd, que seis anos, em 1979, lançou sua segunda maior obra-prima, The Wall – um disco mais duro, mas também mais direto, arriscando inclusive algumas palavras de ordem.
É tentador dizer que o rock atual não busca mais compor narrativas históricas, não se engaja mais nos problemas de seu tempo nem questiona mais a realidade, mas uma hipótese para essa ausência de referência é que as questões levantadas pelo rock dos anos 60’ e 70’ permanecem as mesmas, e as soluções, ainda distantes tanto da música como da realidade. Ou ainda, que as soluções esperadas por aquelas gerações não venceram nem corresponderam aos seus anseios. Diante disso, o rock apenas espelha hoje a falta de grandes alternativas, preferindo se recolher ao dia-a-dia, buscando escapar do conflito.
Aos 40 anos, The Dark Side of The Moon pode ter suas crises de meia-idade, mas também é como um pai que tem muita história e ensinamento a passar para seus filhos.


*Camila Souza Ramos é jornalista, sãopaulina não-praticante e acredita na socialização dos meios de produção, do rock progressivo e da cachaça. Presenciou os últimos anos das fitas K7 e, quando bebê, o pai tocava fitas do Pink Floyd para ninar a criança.