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terça-feira, março 03, 2015

Sonho, avião, sal, pimenta, passaporte e Los Angeles

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Richards 'sonhou' Satisfaction
McCartney 'sonhou' Yesterday
Em 1965, os Beatles e os Rolling Stones gravaram e lançaram dois dos maiores sucessos pop de todos os tempos: "Yesterday", composta integralmente por Paul McCartney, e "(I can't get no) Satisfaction", música de Keith Richards e letra de Mick Jagger. E uma coincidência inacreditável une as duas composições das bandas inglesas: segundo seus autores, elas surgiram em sonhos (!), quase que na mesma época (!!) e local (!!!). Tanto McCartney quanto Richards moravam no bairro Saint John's Wood, em Londres - que abriga o estúdio de Abbey Road, da EMI, usado pelos Beatles. Keith sonhou com o emblemático riff de guitarra de "Satisfaction" em seu apartamento da rua Carton Hill, despertou com ele na cabeça, pegou o violão e o gravou em uma fita cassete. "O milagre foi que olhei o gravador naquela manhã e sabia que tinha colocado uma fita virgem na noite anterior, e vi que estava no final. Então, apertei o botão de retrocesso e lá estava 'Satisfaction' - e depois 40 minutos de mim roncando", lembra Richards, sobre o primeiro grande sucesso dos Rolling Stones de autoria própria. Sobre Yesterday, Paul não chegou a gravá-la, mas lembrou a melodia no dia seguinte, ao despertar em sua casa na avenida Cavendish, também em Saint John's Wood: "Eu apenas acordei em uma manhã e ela estava na minha cabeça”, conta o beatle, referindo-se à canção mais executada no planeta em todos os tempos, que teve mais de 3 mil regravações nas cinco décadas seguintes.



Sal e Pimentra inspiraram Sargent Pepper's
Dois anos depois, em 1967, tanto os Beatles quanto os Stones mergulhariam no chamado "som psicodélico", a partir de suas experiências com LSD, o ácido lisérgico. Numa viagem de avião, Paul McCartney pensava nas novas bandas "lisérgicas" da Costa Oeste dos Estados Unidos, como Big Brother and the Holding Company (a banda de Janis Joplin) e Quicksilver Messenger Service, entre outras, quando passou a imaginar qual seria o nome "maluco" que inventaria caso viessem a rebatizar os Beatles. Foi então que o roadie Mal Evans, que o acompanhava, perguntou para McCartney o que significavam as letras S e P nos potes que acompanhavam a comida servida no avião. Paul respondeu que eram Salt (sal) e Pepper (pimenta) - e esse foi o estalo inicial que o levou ao nome da banda fictícia Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band (Sargento Pimenta e a Banda dos Corações Solitários), título do disco dos Beatles que revolucionaria a música pop.
Inscrição no passaporte que inspirou os Stones
E que inspirou Their Satanic Majesties Request (A pedido de Vossas Majestades Satânicas), dos Rolling Stones. Curioso é que, assim como Sgt. Pepper's foi batizado a partir dos potes de sal e pimenta servidos junto com as refeições em um avião, o título do álbum dos Stones foi escolhido a partir de uma inscrição contida nos passaportes britânicos: "Her Britannic Majesty's Requests" (A pedido de Sua Majestade Britânica). Muitos imaginam que, por serem "concorrentes", as duas bandas se hostilizavam. Mas não: naquele mesmo ano de 1967, Keith Richards e Mick Jagger participaram do côro na gravação de "All you need is love", dos Beatles, e John Lennon e Paul McCartney retribuíram com suas vozes na gravação de "We love you", dos Stones.


 

Por fim, para fechar as "coincidências", há uma entre os Beatles e o brasileiro Milton Nascimento. Ainda em 1967, George Harrison estava em Los Angeles, em uma casa alugada temporariamente, e aguardava a chegada de seu amigo Derek Taylor, assessor de imprensa da banda. O beatle já estava quase dormindo quando Derek telefonou dizendo que havia se perdido no trânsito. Para espantar o sono e aguardar que Taylor enfim encontrasse o destino, George pegou o violão e compôs "Blue Jay Way", canção que conta a desventura do amigo no trânsito de Los Angeles e que leva como título o nome da rua onde Harrison estava hospedado (e que seria incluída no filme televisivo Magical Mistery Tour, lançado em dezembro daquele ano). Em 1978, Milton Nascimento desembarcou na mesma cidade estadunidense na expectativa de reencontrar seu amigo Ricky Fataar, multi-instrumentista sul-africano que chegou a tocar com os Beach Boys e que, naqueles anos 1970, encarnou o personagem Stig O'Hara, versão cômica de George Harrison na banda fictícia The Rutles, esculhambação dos Beatles feita pelo povo do Monty Python. Porém, por algum motivo, Fataar não pôde ir a Los Angeles, e Nascimento, assim como Harrison, compôs uma música sobre a situação, batizada  como "Unencounter" (algo como "O não encontro") -  que depois receberia letra em português e se tornaria a clássica "Canção da América". Assim, tanto a composição dos Beatles como a do brasileiro falam de dois "desencontros" entre amigos na mesma cidade, Los Angeles. E fim de papo (mesmo sem futebol, política ou cachaça)!





sexta-feira, fevereiro 27, 2015

'Raul bebia pra não saber que tava nessa merda toda'

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Raul internado: morte precoce aos 44 anos
Depois que instalaram uma TV que acessa o Youtube (sem merchan, por favor) lá em casa, desisti de vez de assistir os canais abertos ou pagos e mergulhei nos milhões de vídeos postados por internautas. Numa dessas, trombei com uma entrevista do Plínio, irmão único - e mais novo - do finado Raul Seixas. Ao ser questionado sobre o que teria levado o "Maluco Beleza" a tal ponto de alcoolismo, que o matou aos 44 anos, Plínio resume (o grifo é meu): "Raul tinha uma mágoa enorme com o ridículo, com a mesmice, com a idiotice que tá por aí - e que ainda tá, e que tá até pior. É bom que ele nem esteja mais [aqui]. Porque piorou bastante de lá pra cá, né. (...) Eu não quero falar muito, não, porque eu sou um pouco do lado dele nessas coisas. Mas Raul bebeu também porque... ele era meio tedioso, já, com isso. Isso aqui já não tava mais legal pra ele. Como ele disse: 'Enquanto vocês tão com as cercas do quintal, assento a sombra sonora de um disco voador'. Ele tava além disso tudo, das fronteiras, dos países, das cercas que separam quintais. [A música] 'Ouro de tolo' diz bastante a ideia da cabeça dele. Ele tá muito além disso tudo. Ele não era pra tá aqui. Ele bebia pra esquecer, pra não saber que tava aqui nessa merda toda."


Raul com o vaidoso conterrâneo Caetano
Em outro trecho da mesma entrevista, Plínio afirma que a música "Meu amigo Pedro", um dos maiores "hinos" do raulseixismo, foi feita pra ele - embora haja a especulação de que o "mago" Paulo Coelho, co-autor da canção, tenha direcionado a letra para seu pai, Pedro Queima Coelho. De qualquer forma, registrei acima a opinião de Plínio Seixas sobre o motivo do alcoolismo de Raul porque coincide com um depoimento do Chico Buarque ao jornal espanhol La Vanguardia, de 2005, que recuperei aqui no blog outro dia (o grifo é meu): "Eu nunca vi um movimento geral de idiotice como o de hoje. Já vivemos quase duas décadas de idiotice globalizada. A idiotice nos rodeia, eu mesmo tenho medo de ficar idiota". Pois é. Difícil imaginar Raul Seixas num mundo de Big Brother, Luciano Huck, carnaxé, funk ostentação, sertanejo universitário, coxinhas, anonymous, redes (anti)sociais etc etc etc. Nesse mundo em que todo mundo se leva muito a sério, que "se acha". Como vovó já dizia, em "As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor", "Acredite que eu não tenho nada a ver/ Com a linha evolutiva da Música Popular Brasileira" - tirando um sarro do conterrâneo baiano Caetano Veloso, que sempre se levou MUITO a sério - tanto que deu o título de "VERDADE tropical" para sua autobiografia, quando mais parece uma "VAIDADE tropical"...

Enquanto Caetano olha para o próprio umbigo, Raul preferia fazer careta no espelho

E como "É fim do mês", termino esse post com os versos de outra obra-prima raulseixista que tem esse título, e que tem tudo a ver com a tal idiotice ressaltada pelo Plínio e pelo Chico (os grifos são meus): "Mas não achei!/ Eu procurei!/ Pra você ver que procurei/ Eu procurei fumar cigarro Hollywood/ Que a televisão me diz que é o cigarro do sucesso/ Eu sou sucesso!/ Eu sou sucesso!/ (...)/ Eu consultei e acreditei no velho papo do tal psiquiatra/ Que te ensina como é que você vive alegremente/ Acomodado e conformado de pagar tudo calado/ Ser bancário ou empregado sem jamais se aborrecer". Um brinde ao grande Raul. Porque eu também já não quero mais nem saber que tô aqui, nessa merda toda...



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quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 82

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O ÚLTIMO TRAGO
(Marciano/Darci Rossi)


Pedro & Paulo


Às vezes um homem precisa beber
Por causa de alguém que não pode esquecer
Sozinho na casa onde já viveu bem
Não come, não dorme, não é mais ninguém

A casa vazia parece assombrada
Enxerga nas coisas a imagem de alguém

Por isto o que houve quando ela partiu
Perdi a cabeça em um mundo vulgar
De tanto sofrer, com fé aprendi
Que os pecados dela não devo pagar

Depois de algum tempo de dar cabeçada
O homem aprende a escolher sua estrada
Encontra outro alguém, recomeça a amar
Percebe que o amor é possível trocar

Reúne os boêmios no último trago
Explica a vitória e despede do bar

Por isto o que houve quando ela partiu
Perdi a cabeça em um mundo vulgar
De tanto sofrer, com fé aprendi
Que os pecados dela não devo pagar


(Do LP "Pedro e Paulo - Volume 03", Veleiros/CBS, 1981)



terça-feira, janeiro 13, 2015

Um pacote de sete (rocks com cerveja)

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Nos Estados Unidos, uma das gírias mais comuns entre os manguaças é six pack, ou "pacote de seis" (cervejas). Ao notar essa expressão numa música gravada pelos Rolling Stones, fiquei curioso sobre outras letras de rock'n'roll que contêm a palavra cerveja. Numa rápida pesquisa, reuni um seven pack, ou melhor, um pacote de sete petardos roqueiros (estadunidenses e ingleses) que citam nossa popular loira gelada - mais do que necessária nesse calor ignorante:


Alice Cooper molhando a goela
1 - ALICE COOPER - "Escape" ["Fuga"]

Escape
I'm crying in my beer
Escape
Just get me out of here

(Fuga
Estou chorando em minha cerveja
Fuga
Apenas me tire daqui)






Jim Morrison enxugando uma
2 - DOORS - "Roadhouse Blues" ["Blues da hospedaria"]

Well, I woke up this morning, I got myself a beer
Well, I woke up this morning, and I got myself a beer
The future's uncertain, and the end is always near

(Bem, eu acordei essa manhã e tomei uma cerveja
Bem, eu acordei essa manhã e tomei uma cerveja
O futuro é incerto e o fim está sempre perto)



Janis Joplin cantando pra sua cerveja
3 - JANIS JOPLIN - "Mr. Natural" ["Sr. Natural"]

I buy myself a beer or two
Just to leave my stone behind
Sometimes I get so drunk
I can sing just like a child, yeah

(Eu me compro uma cerveja ou duas
Só pra deixar meu peso para trás
Às vezes eu fico tão bêbada
Eu posso apenas cantar como uma criança, yeah)




Joey Ramone cai - mas segura a lata
4 - JOEY RAMONE - "Rock'n Roll is the answer" ["Rock'n'Roll é a resposta"]

Seven o'clock and I'm feeling bad
I gotta pull myself together, yeah

Cause twelve o'clock you know I wanna rock
I wanna get a belly full of beer


(Sete horas, tô me sentindo mal
Tenho que me recuperar, yeah
Porque meia-noite, cê sabe, eu quero rock
Eu quero a pança cheia de cerveja)




Jimmy Page bebe com Robert Plant
5 - LED ZEPPELIN - "Black Country Woman" ["Mulher negra do campo"]

You didn't have to leave me with that beer in my face
Hey, hey mama, what's the matter here
That's alright, it's awful dog-gone clear

(Você não tinha que deixar-me com aquela cerveja na minha cara
Hey, hey, garota, qual é o problema aqui?
Está bem, ela só está tendo um distúrbio terrível)







Lemmy Kilmer: breja pela orelha
6 - MOTORHEAD - "(We Are) The Road Crew" ["(Nós somos) a Turma da Estrada"]

My woman's leaving, I feel sad
But I just love the life I lead
Another beer is what I need
Another gig my ears bleed
 
(A minha mulher está indo embora, me sinto triste
Mas eu simplesmente amo a vida que levo
Outra cerveja é o que eu preciso
Outra apresentação meus ouvidos sangram)


Mick Jagger na boquinha da garrafa
6 - ROLLING STONES - "Going to a go-go" ["Indo pra um go-go"]
 

It doesn't matter if you're black
It doesn't matter if you're white
Take a dollar fifty, a six pack of beer
And we going to dance all night

(Não importa se você é preto
Não importa se você é branco
Pegue uma nota de 50 dólares, um pacote de seis cervejas
E nós vamos dançar a noite inteira)





quinta-feira, janeiro 08, 2015

Som na caixa, manguaça! - Volume 81

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Totalmente em prantos

(Evandro Mesquita/Ricardo Barreto)

BLITZ

Baby, andei bebendo por aí
E sei que não devia ter voltado
Mas é que eu tenho
Outra vez o coração atropelado
Me desculpe se eu te amolo
Baby, please me dê colo

Todo vestido bonitinho
E não tenho onde cair
Todo vestido bonitinho
E sem nenhum lugar pra ir

Eu tenho um fusca meia nove que fala
Tem headfone, toca-fitas no porta-mala
Eu tenho um quarto de gasolina no tanque
Várias gatas do ranking
Baby, eu tenho quase tudo que quero
Só não tenho você

Quando dei por mim
Estava perto do fim
À beira do abismo
Chorava pelos cantos
Quando dei por mim
Eu estava totalmente em prantos

Eu vi sua foto numa revista para homens
Proibida pra menores de vinte e um
Na folhinha de janeiro
Na parede do borracheiro

Eu chorei quando vi

Baby andei bebendo por aí...

Eu trouxe um vinho tinto barato
Barato mas bom me disseram
Eu tenho um pouco fumo
Que uns amigos me deram
Baby, eu tenho quase tudo que quero...

Só não tenho você

(Do LP "As aventuras da Blitz", EMI, 1982)


sexta-feira, novembro 28, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 80

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MIRA IRA (NAÇÃO MEL)
(Lula Barbosa e Vanderlei de Castro)

LULA BARBOSA, MIRIAM MIRAH, TARANCÓN e PLACA LUMINOSA


Mira num olhar
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...

Mira Ira, raça tupi,
Matas, florestas, Brasil

Mira vento, sopra continente
Nossa América servil
Mira vento, sopra continente
Nossa América servil...

Mira num olhar,
Um riacho, cacho de nuvem
No azul do céu a rolar...

Mira ouro, azul ao mar
Fonte, forte esperança
Mira sol, canção, tempestade, ilusão
Mira sol, canção, tempestade,
Ilusão...

Mira num olhar
Verso frágil tecido em fuzil
Mescla morena

Canela, CACHAÇA, bela raça, Brasil

Anana ira,
Mira ira anana tupi
Anana ira, anana ira
Mira Ira

Canela, CACHAÇA, bela
Canela, CACHAÇA, bela
Canela, CACHAÇA, bela raça, Brasil



(Do LP "Festival dos Festivais", Som Livre, 1985)




quarta-feira, novembro 19, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 79

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A MARIA COMEÇA A BEBER

(Folclore/ Adaptação: Maria Aparecida Martins)


CLEMENTINA DE JESUS


A Maria começa a beber
No domingo de manhã
A Maria começa a beber
E vai até o anoitecer

A Maria começa a beber
No domingo de manhã
A Maria começa a beber
E vai até o anoitecer

A Maria começa a beber
E vai até o anoitecer

A Maria começa a beber
E vai até o amanhecer


(Do LP "Clementina, cadê você?" - Museu da Imagem e do Som, 1970)


quarta-feira, outubro 15, 2014

A história dos que não foram

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O escritor (e saxofonista) Veríssimo
Na crônica “O Evangelho segundo...”, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo brinca com a hipótese de os Beatles não terem ficado famosos. O que teria acontecido com eles? “Sou almoxarife da prefeitura. Quer dizer, era. Me aposentei. Nervos”, confessaria Ringo. “O que que eu faço? Na verdade, não faço nada. Me recolhi à minha mediocridade. Minha mulher é sócia num curtume. Eu bebo, quer saber? Eu bebo, e penso muito”, desabafaria Paul. O George também teria se tornado um pobretão bebum: “Tenho esta barraca, vou me virando, minha mulher diz que nós estamos quebrados, não sei não. Vai um mel puro?”. E John, no exercício de imaginação de Veríssimo, teria morrido com um tiro na cara, provavelmente em confronto com a polícia.

Porém, na vida real, tem gente que viveu/vive um dilema parecido. Ou quase isso: nove caras tiveram o gostinho de ser um beatle mas, voluntária ou involuntariamente, não prosseguiram na banda. E os motivos vão desde trabalho, estudos ou aposta em outra vocação até convocação para o exército, passando por uma prosaica bebedeira (que desandou em briga e rompimento de relações). E tem também os que apenas alugaram brevemente seus serviços ou foram mesmo chutados dos Beatles. Hoje, alguns levam uma vida de classe média, outros passam dificuldades e houve quem morreu na pobreza. Mas todos, invariavelmente, ficaram martelando no cérebro o que teria sido de suas vidas se tivessem ficado nos Beatles. A eles:

Tocando bateria, aos 75 anos
Colin no tempo dos Quarrymen
Colin Leo Hanton (baterista, 1956/ 1958) – Naquela fase embrionária em que os Beatles se chamavam The Quarrymen (Os Escavadores, em alusão à escola onde estudavam em Liverpool, Quarry Bank High School), Colin foi o primeiro colega de John Lennon a conseguir comprar um conjunto de bateria completo, pois, aos 17 anos, já trabalhava como aprendiz de estofador. Por isso, assumiu o posto na banda, sem concorrentes, por dois anos. Sobreviveu a todos os primeiros integrantes, que sumiram como apareceram (Pete Shotton, Eric Griffths, Bill Smith, Rod Davis, Ivan Vaughan, Nigel Whalley, Len Garry, John ‘Duff’ Lowe), e foi o único que sobrou, no fim de 1958, ao lado de John, Paul McCartney e George Harrison. Mas uma bebedeira estragou tudo. “Deixei os Quarrymen depois de tocar no Pavillon Theatre, em Lodge Lane. A gente tinha bebido muita cerveja durante o intervalo e uma briga começou na volta pra casa, de ônibus. Fiquei furioso, desci do ônibus e eles nunca mais me chamaram pra tocar”, conta Hanton, que passaria as décadas seguintes trabalhando como estofador.

Em 1957: Colin Hanton, Paul McCartney, Len Garry, John Lennon e Eric Griffths

Bebendo cerveja, na Alemanha
Stuart na capa de 'Sgt. Pepper's'
Stuart Sutcliffe (baixista, 1959/ 1960) – Ao entrar no Liverpool Institute, uma escola de artes, John Lennon mudou-se para uma república com três outros alunos de lá, incluindo Stuart Sutcliffe, um pintor talentoso. No final de 1959, Stuart conseguiu vender um de seus quadros em uma exposição. Os Quarrymen, reduzidos a John, Paul e George e rebatizados como Johnny and The Moondogs, viram ali uma oportunidade. “Ter um baixista que não sabia tocar era melhor do que não ter um baixista”, resumiria George. John e Paul convenceram Stuart e ele gastou o dinheiro ganho com o quadro na compra de um baixo. Por quase dois anos, cumpriu a função na banda, embora tocasse muito mal. O perfeccionismo e as críticas de Paul o irritariam ao ponto de largar tudo e voltar a ser pintor. Nessa época, os Beatles estavam em Hamburgo, Alemanha, onde Stuart se matriculou numa escola de artes. Foi lá que, em abril de 1962, quase um ano e meio após ter deixado a banda, morreu de hemorragia cerebral, aos 21 anos. Dizem que foi consequência das pancadas que havia levado na cabeça durante uma briga, após um show dos Beatles.

Hamburgo, 1960: Stuart Sutcliffe, Paul McCartney, George Harrison e John Lennon

No palco, entre John e Paul
Moore, em foto de 1971
Tommy Moore (baterista, 1960) – Depois de “inventarem” um baixista (Sutcliffe), a banda, rebatizada como Long John and The Silver Beatles, tratou de “caçar” um baterista. Brian Casser, líder da banda Cass & The Cassanovas, passou a John o endereço de Thomas Henry "Tommy" Moore, um músico veterano (tinha 28 anos) que trabalhava como motorista de empilhadeira numa fábrica de garrafas. Com ele, a banda seria aprovada num teste feito pelo empresário Larry Parnes, o que garantiu uma excursão à Escócia como acompanhantes do cantor Johnny Gentle. Nessa turnê, a primeira dos futuros Beatles fora da Inglaterra (quando se apresentaram como Silver Beats), a van que os transportava bateu em um carro e um estojo de guitarra voou contra o rosto de Moore, que perdeu alguns dentes. Ele foi hospitalizado mas, na hora do show, o empresário local foi até lá para tirá-lo da cama e o obrigou a tocar bateria. Na volta, sem dinheiro, Tommy ainda tocaria mais cinco vezes com os Silver Beatles, antes de desistir e voltar a dirigir empilhadeiras. Morreria em 1981, aos 50 anos, na miséria.

Maio de 1960: John Lennon, Tommy Moore, Paul McCartney e George Harrison

Baterista serviu exército por 2 anos
Norman e uma garrafa ao lado...
Norman Chapman (baterista, 1960) – Se tem alguém no mundo que seja acirradamente contra o serviço militar obrigatório, deve ser este cara aqui. Quando Tommy Moore ouviu os conselhos de sua noiva e abandonou os Silver Beatles por uma “sólida e garantida” carreira de motorista de empilhadeira, o empresário da banda na ocasião, Alan Willians, decidiu procurar um baterista decidido a permanecer no posto. Ele era dono do Jacaranda Club, em Liverpool, e sempre ouvia alguém ensaiando bateria do outro lado da rua. Um dia foi até lá e conheceu o carpinteiro Norman Chapman, que trabalhava numa loja naquele local e aproveitava o fim do expediente para ensaiar no sótão, por hobby. Ele aceitou prontamente o convite para ser um beatle (ou silver beatle) e, no verão de 1960, tocou com eles em três shows. Mas, quando poderia ter acompanhado a banda na Alemanha, apareceu uma convocação para o National Service, o exército inglês. Serviu por dois anos, no Quênia e no Kuwait. E é claro que os Beatles nunca mais tiveram qualquer notícia sobre ele.

Quando a banda ficava sem baterista, Paul McCartney se encarregava da função

Foto promocional dos Beatles
Best hoje: eterno 'injustiçado'
Pete Best (baterista, 1960/ 1962) – O mais famoso dos “quase beatles”. Logo depois que Norman Chapman largou a banda, surgiu o convite para trabalharem na Alemanha. Foi então que George se lembrou de Pete, filho de Mona Best, dona da boate Casbah. Ele tinha uma bateria nova e tocava eventualmente com algumas bandas no local. Sem opção, foi com ele que a banda seguiu para Hamburgo. Lá, com a saída de Sutcliffe e a efetivação de Paul como baixista, os Beatles assumiram seu nome definitivo e criaram um estilo próprio. Em junho de 1962, já com Brian Epstein como empresário, a banda conseguiu um teste em Londres, na gravadora Parlophone, subsidiária da EMI. Apesar de serem aprovados e contratados, o produtor George Martin reclamou do som da bateria. Foi a deixa para John, Paul e George, que já planejavam substituir Pete (sua fama de “galã” roubava a atenção das fãs e sua mãe, Mona, insistia em se intrometer nos negócios do conjunto). Em agosto, às vésperas da primeira sessão de gravação e à beira da fama mundial, Best foi posto pra fora. Anos depois, trabalhou como padeiro e virou funcionário público.

Cavern Club, 1962: Paul McCartney, John Lennon, Pete Best e George Harrison

Baixista e canhoto, como Paul
Relembrando o tempo de músico
Chass Newby (baixista, 1960) – No fim de 1960, quando os Beatles regressavam de uma de suas excursões a Hamburgo, Stuart Sutcliffe saiu da banda e resolveu morar na Alemanha. Em Liverpool, os Beatles já tinham alguns shows agendados. Pete lembrou-se do baixista Charles “Chass” Newby, com quem tinha tocado no trio The Blackjacks. Ele estava em férias da universidade, onde cursava engenharia química, e tocou por quatro vezes, em dezembro daquele ano, com os Beatles. O curioso é que, apesar de ser um ano mais velho do que Paul, Chass nasceu no mesmo dia que ele (18 de junho) e também tocava o baixo ao contrário, por ser canhoto como McCartney. Como os Beatles tinham que voltar a Hamburgo no início de 1961, John convidou Newby para seguir com eles. O universitário recusou a oferta. “Eu queria estudar química. John, Paul e George queriam ser músicos”, explica o ex-baixista, que tornou-se professor de matemática. “Às vezes as pessoas não acreditam quando eu digo que não me arrependo. Mas realmente não. Eu aproveitei minha vida imensamente”, garante.

George, John e Paul no fim de 1960, quando tocaram com Chass Newby em Liverpool

'Hutch' foi chamado antes de Ringo
Foto atual do baterista do Big Three
Johnny Hutchinson (baterista, 1960 e 1962) – Esse foi “quase beatle” em duas oportunidades, e na última poderia ter se efetivado no cargo. Em maio de 1960, quando o empresário Larry Parnes foi a Liverpool escolher bandas de apoio para seus cantores, Tommy Moore chegou atrasado, quando Long John and The Silver Beatles já estavam no palco. Por isso, a banda precisou emprestar, nas primeiras músicas, o baterista Johnny Hutchinson, de outra banda que aguardava a vez de tocar, Cass and The Cassanovas. Dois anos depois, quando Pete Best foi demitido, o empresário Brian Epstein chegou a oferecer a vaga para “Hutch”, como era chamado, que agora pertencia ao grupo The Big Three. Ele não aceitou. “Pete Best é um amigo meu e eu não podia fazer essa sujeira com ele”, justificou. De qualquer forma, enquanto Ringo cumpria os últimos compromissos com a banda Rory Storm and The Hurricanes, antes de estrear nos Beatles, Johnny Hutchinson quebrou novamente o galho tocando com John, Paul e George (e com The Big Three nas mesmas datas).

Stuart Sutcliffe, John Lennon, Paul McCartney, Johnny Hutchinson e George Harrison
 
Baterista gravou 'Love Me Do'
Andy aponta foto de Ringo Starr
Andy White (baterista, 1962) – Menos de um mês após ter substituído Pete Best na bateria, Ringo Starr teve sérias dúvidas sobre seu futuro nos Beatles. Na primeira sessão oficial na EMI, em 4 de setembro de 1962, quando gravaram “Love Me Do”, o produtor George Martin voltou a torcer o nariz para o som da bateria. Por isso, uma semana depois, a banda foi convocada novamente ao estúdio, para refazer a gravação. E, ao chegarem lá, Martin os esperava com um baterista de estúdio, Andy White, de 30 anos. Humilhado, Ringo participou apenas tocando pandeiro. Para completar, Martin obrigou os Beatles a gravarem, no mesmo dia, uma música “melosa” (e alheia) chamada “How Do You Do It”, por não acreditar que “Love Me Do” tivesse chance no mercado musical. Com seu poder, parecia que, se quisesse, mandaria os Beatles trocarem Starr por White. Mas, lógico, não foi o que ocorreu. Andy seguiu como baterista de estúdio e, nos anos 1980, tornou-se professor de bateria e de gaita escocesa. Chegou a pregar um adesivo com a inscrição “5º Beatle” em seu carro. “Foi um aluno que me deu”, disfarçou.

Andy White visitou os Beatles no set do filme 'Help', em 1965; Ringo não deu as caras

Na turnê de 1964, com John Lennon
Baterista hoje vive recluso, em Londres
Jimmie Nicol (baterista, 1964) – Esse é o que tem a história mais incrível (e triste). No ápice da beatlemania, após conquistar os Estados Unidos, a banda preparava-se para sua primeira turnê mundial quando Ringo Starr foi internado às pressas com amigdalite. Desesperado, o empresário Brian Epstein contemplou a falência definitiva por ter que cancelar a turnê, devolver o dinheiro de ingressos de shows e pagar pesadas multas. Foi quando o produtor George Martin sugeriu o baterista londrino James George Nicol, que havia acabado de tocar em gravações cover dos Beatles. Aprovado em um teste-relâmpago nos estúdios de Abbey Road, Jimmie Nicol seguiu com John, Paul e George para shows na Dinamarca, Holanda, Hong Kong e Austrália, onde Ringo, recém-saído do hospital, reassumiu seu posto. A experiência de ter sido um beatle por dez dias, no período de maior assédio dos fãs e exposição na mídia mundial (1964), mexeu com a cabeça de Nicol. No torturante ostracismo em que caiu depois disso, passou por várias bandas obscuras até largar tudo e viver misteriosamente por décadas, no México. Hoje, aos 75 anos, vive recluso e quase sem dinheiro em Londres.

Três momentos de Jimmie Nicol: 'no topo do mundo', com John, Paul e George,...
....sendo posto 'de lado' pouco depois, enquanto Ringo reassumia o posto nos Beatles,...
...e deixado sozinho no aeroporto, para voltar a Londres, enquanto os Beatles dormiam.

terça-feira, outubro 14, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 78

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GOTA DE SANGUE
(Angela Ro Ro)

ANGELA RO RO


Não tire da minha mão esse copo
Não pense em mim quando eu calo de dor
Olha meus olhos repletos de ânsia e de amor

Não se perturbe nem fique à vontade
Tira do corpo essa roupa e maldade
Venha de manso ouvir o que eu tenho a contar

Não é muito nem pouco eu diria
Não é pra rir mas nem sério seria
É só uma gota de sangue em forma verbal

Deixa eu sentir muito além do ciúme
Deixa eu beber teu perfume, embriagar...
A razão, por que não volto atrás?
Quero você mais e mais que um dia...

Não tire da minha boca esse beijo
Nunca confunda carinho e desejo
Beba comigo a gota de sangue final
Beba comigo a gota de sangue final


(Do LP "Angela Ro Ro", Polydor, 1979)


sexta-feira, outubro 10, 2014

John Lennon sãopaulino

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Se estivesse vivo, o ex-beatle, assassinado em dezembro de 1980, teria completado 74 anos ontem. A foto abaixo foi feita há 50 anos, durante uma turnê pelos Estados Unidos. Nunca saberemos o motivo, mas John Lennon estava inegavelmente com uma camisa do São Paulo Futebol Clube. A oposição afirma que a camisa não é do São Paulo, mas do Ferroviário (CE).


PS.: O cara da esquerda na foto, sem camisa, é Neil Aspinall, amigo de infância de Paul McCartney e de George Harrison e motorista/ roadie/ faz-tudo dos Beatles. Prova de que quebrava qualquer galho é a foto abaixo. Na mesma turnê, em 1964, Harrison passou um dia todo gripado, no hotel. Como a banda precisava ensaiar, Aspinall assumiu a guitarra solo.