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Editoriais do Estadão depois dos casos do "túnel da Marta" e do "buraco do Metrô". Os comentários ficam para os companheiros.
PRESSA E INÉPCIA SE UNIRAM PARA TORNAR PRECÁRIO O TÚNEL REBOUÇAS (15/01/05)
Quem errou vai pagar, avisou o prefeito José Serra durante visita, na semana passada, ao Túnel Jornalista Fernando Vieira de Mello, na Avenida Rebouças, construído às pressas pela administração Marta Suplicy para ser inaugurado às vésperas das eleições. Na primeira chuva intensa de novembro, a passagem foi invadida pelas águas e se transformou num piscinão. De lá para cá, a cada precipitação forte, o acesso ao túnel – construído para dar maior fluidez ao tráfego no cruzamento com a Avenida Faria Lima, ao custo de R$ 97,4 milhões – é fechado e o trânsito se torna pior do que antes da obra.
Agora, atendendo a pedido do prefeito, engenheiros do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Escola Politécnica da USP, do Instituto de Engenharia e da Secretaria de Infra-Estrutura e Obras apresentaram relatório sobre os problemas de execução do túnel. O secretário municipal de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz e Silva, afirmou que a pressa foi inimiga da qualidade. A galeria de águas pluviais, construída ao lado da passagem subterrânea, foi feita com tubos de PVC e areia em vez de concreto, material muito mais resistente.
A análise dos técnicos do IPT aponta para deformações, rachaduras, remendos, assoreamento e infiltrações na galeria. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente da Construcap, contratada pela empreiteira Queiroz Galvão para executar as obras, admitiu que “a técnica construtiva foi escolhida por causa da exigüidade do prazo imposto pela Queiroz Galvão”. Segundo ele, tudo foi feito em menos de 40 dias, com os operários trabalhando de madrugada para não atrapalhar o tráfego. Capobianco lembra que a Emurb autorizou o uso do material.
Identificadas as falhas de execução, o prefeito José Serra quer agora que os responsáveis pela obra realizem as reformas imediatamente, sem que a administração municipal desembolse um único centavo.
O contrato firmado entre a Prefeitura e a construtora Queiroz Galvão, em 2003, estabelecia o prazo de 18 meses para a entrega do túnel. No primeiro semestre de 2004, o governo petista alterou os planos para inaugurar a obra em novembro. Alegando dificuldades técnicas, mudou o padrão de construção. A decisão elevou em 47% o preço da obra, cujo ritmo foi acelerado, permitindo que fosse inaugurada em setembro.
Tanta correria numa construção complexa, a poucos metros do Rio Pinheiros, não poderia ter outro resultado. Há décadas, nas ocorrências de chuvas fortes, as ruas próximas do túnel apresentam alagamentos por causa das galerias subdimensionadas e da impermeabilização do solo, que leva as enxurradas em grande velocidade em direção ao Rio Pinheiros, onde não conseguem desaguar e há o refluxo pelas bocas-de-lobo.
O prefeito acerta ao cobrar o trabalho bem-feito dos responsáveis pela obra. Além dos riscos trazidos pela inundação do túnel, as falhas na execução da obra comprometem a segurança do corredor de ônibus. Segundo o secretário de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz Filho, a deformação excessiva da tubulação pode provocar o solapamento do piso do corredor.
A administração Marta Suplicy prometeu fazer da Rebouças uma avenida-modelo, com o corredor do Passa-Rápido, um belo projeto paisagístico e a passagem subterrânea, que acabaria com um dos principais gargalos do trânsito na região.
Ocorreu, de fato, grande mudança na avenida que, atualmente, parece um cenário de guerra. Um dos mais nobres corredores da cidade está sem calçadas e tomado por entulhos. O projeto paisagístico se perdeu, com as plantas emaranhadas, sem os cuidados necessários, e o trânsito continua complicado. E assim ficará por bom tempo. Afinal, as reformas do que foi feito às pressas vão ser iniciadas, haverá bloqueio de duas faixas da Rebouças e carros e ônibus terão de se espremer em apenas 5,7 metros de via. O fechamento das pistas permitirá que 3,5 mil veículos trafeguem por hora na Rebouças, quando o movimento normal é de 4,5 mil.
Por conta dos caprichos e da irresponsabilidade da administração passada, os moradores de São Paulo voltarão a enfrentar transtornos ainda maiores no trânsito.
O que importa é amparo às famílias das vítimas e indenizar os danos
(16/01/2007)
Os prejuízos causados pela abertura de enorme cratera provocada pelo deslizamento de terra nas obras da Estação Pinheiros do Metrô às famílias que residiam em ruas próximas e o drama vivido pelos parentes das vítimas fatais justificam as reações emocionadas registradas pela imprensa e exigem providências urgentes no sentido de reduzir o sofrimento dessas pessoas e, nos casos em que isso for necessário, reparar os danos materiais que elas sofreram.
As imagens do acidente não deixam dúvidas quanto a sua gravidade. Diante delas, é natural que cresça o clamor popular pela apuração das causas e das responsabilidades pelo acidente. Mas, dadas as características do deslizamento, não será fácil determinar suas causas e, em seguida,
identificar possíveis responsáveis. Caberá ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) conduzir as investigações que serão comandadas pelo presidente do órgão, engenheiro civil Vahan Agopyan.
Embora não seja possível minimizar a gravidade do acidente, é preciso observar que, apesar de sua complexidade, que envolve muitos riscos, as obras do Metrô paulista têm um histórico de segurança. Em mais de três décadas, este é o primeiro acidente de maior gravidade. As empresas que compõem o Consórcio Linha Amarela, responsável pelas obras da Linha 4, na qual ocorreu o deslizamento na semana passada, têm uma folha de serviços prestados no País e no exterior que não deixa dúvidas quanto a seu preparo técnico para o trabalho.
Foi simplista, é verdade, sua primeira tentativa de explicação do acidente, atribuindo-o ao excesso de chuvas. A ocorrência de intempéries deve ser levada em conta em qualquer obra, com mais razão nas mais complexas e extensas, como são as do Metrô – e com certeza foi prevista também neste caso.
Também não parecem ter sido suficientes as providências que adotaram desde a véspera do deslizamento, quando operários detectaram um pequeno afundamento na laje superior da estrutura, que formaria o teto da estação. Os responsáveis pela construção não consideraram necessário suspender a obra.
Quando a situação chegou a um ponto crítico, tiveram tempo de evacuar o local, o que evitou o soterramento de operários da obra. As vítimas até agora registradas eram pessoas que passavam pela rua ao lado do poço do Metrô.
São precipitadas as afirmações de que o acidente teria sido resultado da pressa com que, por razões políticas, as obras estariam sendo executadas. Do ponto de vista político, só interessaria ao governo uma aceleração da obra se sua conclusão pudesse influir em decisão do eleitorado. Não é, evidentemente, o caso das obras da Estação Pinheiros.
Além disso, é preciso desde já desarmar qualquer tentativa de buscar razões ideológicas como já se ensaiou em um espetáculo constrangedor na televisão e no rádio. Dirigentes da entidade sindical dos metroviários – que se opõe ferrenhamente à transferência das operações da Linha 4 para grupos privados, pois isso implicará o questionamento de muitos privilégios de que gozam os funcionários da Companhia do Metrô – não hesitaram em dizer que o deslizamento é conseqüência do açodamento com que o governo do Estado quer privatizar a nova linha.
Para os familiares das vítimas, o trabalho dos bombeiros de resgate dos corpos dos mortos na tragédia do Metrô parece angustiantemente lento. Entende-se seu sofrimento, mas esta é uma operação que precisa ser feita com cuidado, para que novos deslizamentos não ocorram. É certo que o acidente de sexta-feira passada prejudicará o cronograma de obras da Linha 4.
Mas ele não deve servir de argumento para mais atrasos nessas obras, das quais a cidade necessita urgentemente, nem, muito menos, para colocar em questão a qualidade desse serviço, no qual a população paulistana deposita tanta confiança. O que se espera é que se tomem as providências necessárias para que a inadiável expansão da ainda modesta malha metroviária se faça com a maior rapidez e, como sempre, até este acidente, com a maior segurança.