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quinta-feira, agosto 02, 2007

Tudo tem limite mesmo: até panfleto do Metrô

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Distraído, desavisado e alienado (como sempre), fui pegar o metrô hoje cedo, em São Paulo, e me deparei com um verdadeiro cenário de guerra: funcionários com camisetas escrito "Operação" zanzavam ensadecidos, tensos; o alto-falante repetia a todo instante que o serviço estava funcionando só até a estação Ana Rosa; faixas de plástico listradas de amarelo e preto impediam o acesso a uma das entradas e tinha mais polícia - dentro e fora da estação - do que em dia de clássico entre Palmeiras x Corinthians.
Tonto como só eu sei ser, perguntei a um dos agitados funcionários de camiseta branca o que estava acontecendo. "-Nada!", ele me gritou, transtornado. Uma senhora obesa desistiu de esperar o trem e saiu esbravejando: "-Tem que privatizar logo esse negócio!" (ah, essa elite paulistana que mora em Pinheiros...). Lesado e desinformado (ah, esses jornalistas bêbados que não assistem TV nem lêem jornal...), só percebi o que estava acontecendo quando entrei no vagão: era dia de paralisação dos metroviários.
Foi então que encontrei sobre as cadeiras um panfleto azul com o singelo título "Tudo tem seu limite! - Urgente: Metrô informa". Sob olhares tensos de funcionários que discutiam pelos walk-talks, quase não acreditei no que estava lendo. Tratava-se de um arrazoado de "motivos" para o cidadão ficar revoltado contra os metroviários, que estariam "usando a população como refém". Recheado de pontos de exclamação, o libelo anti-Sindicato cuspia "informações" como "cerca de 70% da passagem é utilizado no pagamento de salários, e o Sindicato quer mais!", e também "o Sindicato quer receber o benefício (participação nos lucros) duas vezes no mesmo ano, e antes de cumpridas as metas".
Mas o pior ficava para o fim, onde, sob o título "Você precisa saber", há uma lista de benefícios recebidos pelos metroviários, como se tudo fosse crime hediondo ou a maior injustiça do mundo. Pasmo, li ali o seguinte: "(Os funcionários do Metrô recebem) Salários, em média, mais de duas vezes superiores aos do Metrô do Rio de Janeiro, que é privado e dá lucro". Perceberam o tom desse material oficial, assinado pela Companhia do Metropolitano de São Paulo? E o pior é que a impressão desse troço foi paga com o nosso dinheiro.
Ao sair do estação, na Avenida Paulista, tinha três viaturas paradas na calçada, na boca do metrô, com policiais olhando feio. Parecia que ali todo passageiro era suspeito ou culpado de alguma coisa. Realmente, não existe limite para a truculência do PSDB no (des)governo de São Paulo...

8 comentários:

Edu Maretti disse...

Foi assim, "Distraído, desavisado e alienado", que você foi vergonhosamente flagrado comprando duas garrafas de águas no Pão-de-Açúcar, Marcão. Toma tento,rapaz

Marcão disse...

Comprar, comprei. Mas não existe prova de que bebi a água.

Edu Maretti disse...

Mas,como vc sabe, havendo indício, pode haver CPI.

Anselmo disse...

maretti, atualmente, havendo indício, há culpa e base mais do que suficiente para impeachment. como nao há mandato para o marcão, a punição é em cervejas. pelo parâmetro Brunna Rosa, são 88. Mas basta pagar umas 44 pra fazer esquecer a todos sobre a acusação de que o marcão beberia água, eu estimo.

sobre a denúncia, telefonei para a assessoria de imprensa do Metro que não soube informar sobre panfletos com esse conteúdo.

No site do Metro há um texto bem pesado, que não chega a falar em percentuais de arrecadação tomados pela folha de pagamento, mas diz sim que "toda negociação tem limite. Este limite, no caso do Metrô, é o compromisso da sua Diretoria (...) de não avançar além da capacidade financeira da empresa, o que obrigaria o Metrô a repassar à tarifa paga pelos usuários".

Fala tambe´m que "a população está cansada de ser feita refém dos metroviários, categoria remunerada de acordo com as melhores práticas do mercado, o que explica funcionários com mais de quinze anos de casa."

é bem duro, mas não chega a tanto. se conseguir mais informações, volto à carga.

Edu Maretti disse...

Talvez, Anselmo, se possa negociar 22 cervejas + 2 ou 3 Domecqs, ou 15 cervejas e 1 (um) ou 2 Red Label. Tudo é questão de conversar.

Anônimo disse...

Como usuário do metrô, dependente do mesmo para ir trabalhar, fechar negócios e ganhar a vida, sustentando assim a mim e aos meus pais e irmãos, eu decreto: metroviário que faz greve é sim vagabundo e reclama de barriga cheia. Participação nos lucros é uma OPÇÃO das empresas, não OBRIGAÇÃO. Além do mais, quem trabalha com a responsabilidade de levar o povo a todos os cantos da cidade não pode olhar apenas para seu próprio umbigo. E não, não sou tucano, antes que vocês me acusem.

Marcão disse...

Anselmo, muito louvável sua preocupação em ouvir a assessoria do Metrô, mas eu tenho o panfleto comigo - aliás, os dois, pois hoje foi distribuído outro, com as mesmas besteiras no verso, mas com outro texto na frente:

"Indiferente aos transtornos causados à população, o Sindicato dos Metroviários decidiu continuar a greve. Além de resolver continuar em greve, ontem o Sindicato tentou, sem sucesso, interromper o funcionamento das Linhas 1-Azul e 2-Verde, que estão sendo operadas pelo Metrô com recursos próprios, à revelia do Sindicato".

Ah, e hoje, ao contrário de ontem, quando encontrei o panfleto jogado no vagão, fui abordado por 4 pessoas com a tal camiseta branca escrito "Operação", na estação Clínicas, tentando me empurrar o tal panfleto. Outras 5 tentaram a mesma coisa quando saí, na estação Brigadeiro. Cada um tinha centenas de panfletos. Blitz total!

Anônimo disse...

Estatal é triste, "estabilidade" (usada como carta branca para fazer o que quiserem), pq o governo tem que se preocupar em metro e greves? Não deveria apenas regular e investir em saúde, segurança, educação, etc? Olhe o exemplo do metro de Nova York, bom, limpo, no horário e privado.