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Distraído, desavisado e alienado (como sempre), fui pegar o metrô hoje cedo, em São Paulo, e me deparei com um verdadeiro cenário de guerra: funcionários com camisetas escrito "Operação" zanzavam ensadecidos, tensos; o alto-falante repetia a todo instante que o serviço estava funcionando só até a estação Ana Rosa; faixas de plástico listradas de amarelo e preto impediam o acesso a uma das entradas e tinha mais polícia - dentro e fora da estação - do que em dia de clássico entre Palmeiras x Corinthians.
Tonto como só eu sei ser, perguntei a um dos agitados funcionários de camiseta branca o que estava acontecendo. "-Nada!", ele me gritou, transtornado. Uma senhora obesa desistiu de esperar o trem e saiu esbravejando: "-Tem que privatizar logo esse negócio!" (ah, essa elite paulistana que mora em Pinheiros...). Lesado e desinformado (ah, esses jornalistas bêbados que não assistem TV nem lêem jornal...), só percebi o que estava acontecendo quando entrei no vagão: era dia de paralisação dos metroviários.
Foi então que encontrei sobre as cadeiras um panfleto azul com o singelo título "Tudo tem seu limite! - Urgente: Metrô informa". Sob olhares tensos de funcionários que discutiam pelos walk-talks, quase não acreditei no que estava lendo. Tratava-se de um arrazoado de "motivos" para o cidadão ficar revoltado contra os metroviários, que estariam "usando a população como refém". Recheado de pontos de exclamação, o libelo anti-Sindicato cuspia "informações" como "cerca de 70% da passagem é utilizado no pagamento de salários, e o Sindicato quer mais!", e também "o Sindicato quer receber o benefício (participação nos lucros) duas vezes no mesmo ano, e antes de cumpridas as metas".
Mas o pior ficava para o fim, onde, sob o título "Você precisa saber", há uma lista de benefícios recebidos pelos metroviários, como se tudo fosse crime hediondo ou a maior injustiça do mundo. Pasmo, li ali o seguinte: "(Os funcionários do Metrô recebem) Salários, em média, mais de duas vezes superiores aos do Metrô do Rio de Janeiro, que é privado e dá lucro". Perceberam o tom desse material oficial, assinado pela Companhia do Metropolitano de São Paulo? E o pior é que a impressão desse troço foi paga com o nosso dinheiro.
Ao sair do estação, na Avenida Paulista, tinha três viaturas paradas na calçada, na boca do metrô, com policiais olhando feio. Parecia que ali todo passageiro era suspeito ou culpado de alguma coisa. Realmente, não existe limite para a truculência do PSDB no (des)governo de São Paulo...