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domingo, fevereiro 20, 2011

Wikileaks: Daniel Dantas nos telegramas

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Neste domingo, 19, começa a funcionar a nova estratégia de divulgação dos telegramas diplomáticos dos Estados Unidos vazados pelo Wikileaks. Por iniciativa da incansável Natália Viana, um conjunto de blogues recebe os documentos e divulga diariamente. O Futepoca está nesta, então bora trabalhar.

A escolha dos temas se deu pelos comentários do blogue da Natália e tem assunto quente de sobra. O primeiro, o preferido da CartaCapital, parceira dela na empreitada, é Daniel Dantas.

Diferentemente do que foi divulgado em 8 de fevereiro por um grupo autodenominado de "Wikileaks Brasil", sem qualquer ligação com a turma do Julian Assange, não são dados do inquérito nem do processo judicial que envolve o sócio do Grupo Opportunity.

São três telegramas, sendo que um deles já havia sido divulgado antes. Aos fatos.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Abin

O nome de  Dantas aparece no episódio dos comprovadamente falsos grampos no Supremo Tribunal Federal – o inquérito concluiu que não houve escuta irregular ao então presidente daquela corte, Gilmar Mendes, nem a Heráclito Fortes (DEM-GO). O caso de 2008 levou à demissão de Paulo Lacerda do comando da Agência Brasileira de Informações (Abin) e a uma nova crise política entre o STF e o Palácio do Planalto.

O telegrama originado na embaixada da capital federal recupera a história, usando como fontes funcionários da Câmara dos Deputados e do Senado (Roberto Carlos Martins Pontes e Joanisval Brito).

A análise da situação é de que a crise ocorreu pela falha do país em adequar os setores de inteligência após o fim da Ditadura Militar e a consequente dissolução do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). Segundo o telegrama, por falta de líderes (dado o desgaste de Lacerda) adiar-se-ia a possibilidade de isso se resolver e de o país conseguir "articular uma estratégia de segurança nacional coerente e com credibilidade que aponte as ameaças que a agência de inteligência brasileira deveria monitorar".

Dantas é mencionado como parte eventualmente interessada na conversa entre Mendes e Fortes, já que Lacerta era diretor da Polícia Federal à época da Satiagraha. Em vez de olhar para o banqueiro, os diplomatas mostraram-se mais preocupados com a impossibilidade ou falta de disposição tupiniquim de se dedicar ao combate ao terrorismo.

MST

Outro telegrama, disparado do consulado de São Paulo, que menciona Dantas já foi divulgado – e polemizado. Trata do Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que invadiu terras do banqueiro no Pará. O material é de 2009. No caso, a escolha da fazenda era uma tentativa de legitimar a ação do MST, na visão dos diplomatas, que listaram motivos para questionar a força do grupo após 25 anos de atividades.

Dantas e o mensalão

O terceiro telegrama é de agosto de 2005. Desta vez, em meio à crise política conhecida universalmente como Escândalo do Mensalão. O telegrama resume a trama então urdida, citando desde as denúncias até episódios envolvendo o caso Celso Daniel e a participação de Antonio Palocci (então ministro da Fazenda e atualmente na Casa Civil).

Foto: Wilson Dias/ABr - Arquivo
Daniel Dantas se livrou dos telegramas Wikileaks

A visão é a que os veículos de comunicação propalavam à época, com ponderações sobre as possibilidades avaliadas como remotas de Luiz Inácio Lula da Silva ser tirado do governo. Isso porque a fonte da análise são conversas com oito jornalistas "todos proeminentes comentaristas e âncoras da televisão, rádio, imprensa e de mídia na internet".

Mas acalme-se o leitor que acha que a embaixada só reproduziu o que a "mídia golpista dava".

Dantas aparece em uma sugestão de um dos "âncoras de TV cujo nome estava entre aqueles telefones que o empresário Daniel Dantas é acusado de ter ilegalmente gravado no escândalo Kroll" – aqui entre nós, eu só conheço um assim. A versão deste âncora é a de que o dinheiro do valerioduto teria origem no banqueiro.

Na hora de comentar e analisar o enrosco, os diplomatas não souberam ou não quiseram opiniar: "Essas conversas ocorreram várias semanas atrás e o tempo está provando que muitas das especulações têm base nos fatos. Desde então, houve revelações de que o PT pode ter uma conta offshore e o nome de Dantas também foi mencionado em conexão com o escândalo". Outras tantas não se confirmaram, mas tudo bem.

Para resumir o enredo,  duas, uma: ou os diplomatas não se interessaram em ir a fundo no que envolvia Dantas, ou trataram do tema por vias mais imunes a vazamentos do que telegramas.

Nesta segunda-feira, 20, tem mais, sobre outros temas.

Leia também:

sexta-feira, abril 18, 2008

Paulo Henrique Amorim e a "conciliação nacional"

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Embora suspeito pra falar, vale a pena dar uma lida na entrevista que o jornalista Paulo Henrique Amorim concedeu à revista Fórum de abril. Sem muitos dedos, ele falou das relações de Daniel Dantas com o meio político também da fusão da Brasil Telecom com a Oi. Para ele, a negociação será a “grande conciliação nacional” envolvendo PT e PSDB. Alguns trechos abaixo:

A BrOI
Temo que a operação de criação da BrOi seja a consubstanciação, aquele quadro do Napoleão sendo coroado, que está na igreja de Notre Dame. O quadro começa a ser pintado a partir do momento em que o Luciano Coutinho, presidente do BNDES, assina o empréstimo para o Carlos Jereissati e o Sérgio Andrade comprarem a Brasil Telecom, sem botar um tostão. Nesse momento, será feita a grande conciliação nacional, os fundos e o Citibank renunciam a toda ação que moveram na Justiça contra o Daniel Dantas. O governo Lula põe para dentro a corrupção do Dantas e do governo FHC, limpa a pedra e resolve esse problema botando o dinheiro do BNDES nas mãos desses dois subempresários, já que eles compraram a Telemar sem gastar também.

Sou repórter

Não estou mais interessado em discutir política, economia, essas coisas mais sensíveis na televisão. A televisão brasileira não é o espaço mais apropriado para isso e quando se faz, se faz mal feito. É a Miriam Leitão, William Waack, Arnaldo Jabor, Alexandre Garcia, esses “grandes” jornalistas que fazem a televisão brasileira. Então, não quero mais tratar disso na televisão. Ali, faço parte do Domingo Espetacular e sou repórter, como fui no Fantástico por seis anos em Nova Iorque, de onde fazia matérias que não tinham nada a ver com política. Cobria incêndio, crime, enchente, guerra civil... Sou repórter, porque esse pessoal que está aí, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, que acham que são jornalistas, não sabem cobrir uma batida de trânsito na esquina. Se mandar cobrir, chegam na redação com informações inverídicas e incompletas. Por isso não trato com esses camaradas, eles não são da minha profissão. Eles vendem a opinião deles. E não troco minha opinião por nada

Privatização

A privatização é o que define o processo da Nova República no regime pós-militar, é a metástase da corrupção no Brasil. O Daniel Dantas é o maior símbolo, herói e beneficiário desse processo que corrompeu o PSDB, o PFL e o PT. Ele corrompeu o PSDB, financiou a filha do Serra e ele é a grana que está no duto do Valerioduto. Que o procurador-geral da República não procurou e que o ministro Joaquim Barbosa não achou. A grana do Valerioduto veio de onde? Dá em árvore ou o Valério era maluco e colocava dinheiro dele no esquema? Ele era um lavador de dinheiro e ninguém quer dizer isso.

Daniel Dantas

Tenho uma luta com Dantas há muito tempo, há muito tempo eu percebo que ele é especial. Mas um dia a gente vai se encontrar no despenhadeiro. Ele grampeou a mim, a minha mulher e a minha filha. Soube disso pela Polícia Federal. Essa conta ele vai acertar comigo. Ele vai acertar comigo. Nós vamos ter um encontro no despenhadeiro e vamos acertar essa conta. No plano privado.

Veja também: Daniel Dantas na cadeia.

terça-feira, julho 08, 2008

Daniel Dantas na cadeia

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Algo que eu e meus botões sempre consideramos como um sonho quase impossível de ser realizado aconteceu nesta manhã: Daniel Dantas, o monstro, o mito, foi preso pela Polícia Federal. Junto com ele foram toda a cúpula de seu banco, o Opportunity, incluindo sua irmã, Verônica Dantas, além do especulador Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo, Celso “Nunca mais votem no Maluf” Pitta.

As prisões forma resultado da Operação Satiagraha da PF, que nesta terça-feira pela manhã cumpriu 24 mandados de prisão e 56 ordens de busca e apreensão. As acusações sobre a trupe são vastas e variadas, incluindo lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, sonegação fiscal, evasão de divisas e espionagem.

A cobertura mais completa do acontecido, numa série de reportagens que estão sendo feitas por quem manja do assunto, é do Terra Magazine, de Bob Fernandes. É dele o trecho seguinte: “Das entranhas do que há de mais poderoso nos comandos financeiros, sociais e políticos - como conhecerão em detalhes os leitores de Terra Magazine nos próximos dias -, emerge o que a Polícia Federal, depois de 2 anos de investigações, trata como organização criminosa comandada por dois grupos distintos e dois "capos" - expressão da própria PF - que atuariam em consórcio, Daniel Valente Dantas e Naji Robert Nahas.”

E quando fala de poder financeiro, Fernandes não está brincando. Não me lembro de nenhum grande escândalo de corrupção, lavagem de dinheiro, caixa 2 ou o que seja que ocorrido no Brasil nos últimos 10 anos sem que o nome de Daniel Dantas ou um de seus prepostos tenha sido envolvido de alguma forma. Privatizações, Banestado, Valerioduto, grampos da Kroll, dossiês, financiamentos de campanha, favorecimento de empresas por Bancos Públicos, tudo tem a digital de Dantas em algum momento.

Economista, ele inicia sua “militância política” no antigo PFL, hoje DEM. Chegou a ser cogitado para ocupar o Ministério da Fazenda do governo Collor. Trabalhou em bancos por ai e, em 1996, segundo ano do primeiro mandato do tucano Fernando Henrique Cardos na presidência, abriu o Opportunity.

No governo de FHC atingiu sua estatura de “capo”, nas palavras da PF. Por meio de um fundo de investimentos criado num paraíso fiscal, foi o grande beneficiado nas famigeradas privatizações das telecomunicações brasileiras, sobre as quais pairam suspeitas das mais diversas. Associou-se ao Citibank e aos fundos de pensão brasileiros e manipulou uma quantidade impressionante de dinheiro de um lado para o outro. Brigou com seus parceiros um por um, sendo defenestrado do comando da cadeia societária da BrasilTelecom e outras teles graças sobretudo à atuação da Previ. É alvo de uma ação bilionária na justiça dos EUA, movida pelo Citibank.

A queda de Dantas poderia levar a uma reação em cadeia que vitimaria, em maior ou menor grau, todos os grandes partidos brasileiros, além de boa parte do empresariado (sim, porque ninguém se vende sem ter quem compre). Veremos até onde a PF consegue chegar.

Veja mais Daniel Dantas no Futepoca.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Enquanto isso no mundo bizarro...

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Segundo o jornal Valor Econômico (só para assinantes), apesar de o banqueiro Daniel Dantas ter perdido o controle acionário da Brasil Telecom, Metrô do Rio, Telemig e Amazônia Celular, ele permanece vivo no mundo dos negócios.

Foto: Edson Santos/WikiNews

Na CPI dos Correios, Daniel Dantas depôs em 21 de setembro de 2005


Depois da maior disputa societária da história brasileira, a arma secreta do dono do banco Opportunity está na Santos Brasil, maior terminal de contêineres do país. Considerado como gênio dos negócios por uns e do mal por outros — leia-se ex-ministro Luiz Gushiken, do jornalista Mino Carta e dos fundos de pensão — o banqueiro baiano comprou a participação do CitiGroup e dos fundos da empresa, abriu o capital em bolsa e lucro a valer.


Reprodução

Daniel Dantas é constante motivo de chacota e de matérias de capa da revista Carta Capital, de Mino Carta

Mas na humilde opinião deste manguaça, o banqueiro não está contente e serelepe com seus milhõezinhos. Segundo alguns, ele fonte de informação de Diogo Mainardi (Veja) e Leonardo Attuch (IstoÉ Dinheiro). Ambos correram atrás de informações sobre as denúncias de subornos da Italia Telecom (parceira do Citi e dos fundos na BrT e na TIM) a políticos e empresários. As ilações contra membros do governo petista levaram Gushiken a pedir investigações contra jornalistas de ambas as revistas à Polícia Federal.


"Embora soubessem que a Santos Brasil era uma empresa eficiente, com potencial de crescimento em um setor estratégico, as fundações e o Citi resolveram sair do negócio porque esse era o único ativo dos investimentos conjuntos com o Opportunity em que a soma de suas participações diretas não lhes garantia o controle", explicam Vanessa Adachi e Raquel Balarin, do Valor.

O controle das ações é mantido no melhor estilo Dantas: em suas mãos e com acordos de acionistas para votação em conjunto. Sem as incertezas da disputa da BrT, á empresa pôde receber investimentos.

Fotomontagem

Montagem com os "superamigos". Pelas contas
do Futepoca, todos já se processaram mutuamente


Mas não tenho a menor idéia de quais são os próximos movimentos previstos nessa disputa.

O título do post é alusão à locução do desenho animado dos Superamigos, da Hanna-Barbera. Mas aqui, quem define os membros da Sala da Justiça ou no Pântano do mundo bizarro, são os nobres comentaristas manguaças.

Veja também: Daniel Dantas na cadeia.

sexta-feira, março 02, 2007

IstoÉ é do Daniel Dantas

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O banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, adquiriu 51% das ações da Editora Três, que publica, entre outros títulos, a IstoÉ. A casa que publica a semanal há 31 anos, vinha sendo motivo de boatos há algum tempo. Em 2006, uma debandada de parte da redação anunciava que mudanças estavam em curso. Eram medidas de preparação para a venda, mas também realinhamento de linha editorial. Nas últimas semanas, os boatos e atrasos no salário motivaram reação dos funcionários, em paralisações por definições e garantia de emprego (ou de qualquer coisa). Claro que tudo era sinal de crise.

O jornalista Leonardo Attuch, da IstoÉ Dinheiro, foi acusado por membros do governo federal (leia-se Luis Gushken) e por jornalistas da Veja (Lauro Jardim, da coluna "Radar") e até pela Carta Capital, de Mino Carta, de se ter vendido a Daniel Dantas. O apelido concedido pelas más-línguas de "QuantoÉ" à ex-publicação de Domingos Alzuguarray era usado para dizer que havia histórico e que o jornalista era mais um a se vender. Attuch processou a todos. Registre-se que a publicação de Mino, na edição seguinte, fez mea culpa e reconheceu que o suposto e-mail do suposto "DD" para o suposto "ATT" poderia ser realmente tudo falso...

Entre aqueles que saíram da redação da IstoÉ em 2006, há quem identificasse o ex-editor da Dinheiro não com a venda de matérias, mas com o atrelamento ideológico aos princípios de mercado, ao neoliberalismo (aquele que, como o diabo, tem muitos nomes). A "venda", para eles, seria ideológica...

Se as coisas fossem simples assim, não teria sido publicada a entrevista dos Vedoin na véspera do surgimento da história de compra do dossiê sobre a máfia dos Sanguessuga envolvendo petistas da campanha de Lula. O material divulgado na entrevista à IstoÉ não foi totalmente desmentido e envolvia Barjas Negri, ex-assessor do então ministro da Saúde José Serra. Fosse simples, tampouco circularia por aí que Daniel Dantas foi fonte de Diogo Mainardi, colunista de Veja.

Dantas surgiu para o mundo da política como apadrinhado de Antonio Carlos Magalhães no episódio do Banco Econômico. Considerado um prodígio do sistema financeiro, comandou o Opportunity em uma rápida ascensão, mas é amplamente criticado por seus métodos. Métodos que incluíram uma participação excusa nas privatizações que terminaram na que é considerada a maior disputa societária do Brasil, pela Brasil Telecom, contra os fundos de pensão de estatais (Previ, Funcef etc.). As irregularidades praticadas pela direção das empresas não foram poucas, mas a rentabilidade, diga-se, foi assegurada.

O fato é que o Mino Carta, que só chama DD de "orelhudo" só faz lamentar em seu blog.

sexta-feira, julho 18, 2008

E-mail falso promete imagens de Dantas subornando juiz

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"Vídeo de Daniel Dantas subornando juiz Gilmar Mendes" é o que promete o assunto de uma mensagem que atingiu minha caixa de e-mails na manhã desta sexta-feira. O remetente é um improvável video arroba globo ponto com e estão espalhados links para um arquivo Flash no domínio worldoffice.net, cujos servidores parecem ter sido invadidos.

Trata-se de um golpe para instalar um cavalo de tróia no computador, usando a curiosidade do internauta com o caso do banqueiro Daniel Dantas, investigado pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal.

Reprodução


No corpo da mensagem, a editoria "Fatos e Versões" traria o "Juiz Gilmar Mendes desmascarado por Daniel Dantas", mais precisamente "Vídeo sobre um novo suborno agora ligado ao Juiz Gilmar Mendes que concedeu a liberdade de Dantas."

A editoria existe, mas o resto é golpe.

É a nova versão dos e-mails falsos que tentam pegar internautas desatentos com notícias "quentes". Antes, já havia circulado a promessa de imagens de uma "câmera escondida em presídio" com "detentos espancando Alexandre Nardoni", pai de Isabella. O episódio motivou outros golpes, como a confissão da culpa e a explosão de uma bomba em frente à delegacia. Como escreveu Mônica Bergamo em 22 de abril, o detalhe era a grafia de "assasino" (sic).

Em época de Big Brother Brasil, pipocam falsos vídeos "exclusivos" de todo tipo de intimidade que conseguirem pensar.

Quando Ronaldo, o gordo, se envolveu em uma confusão no Rio de Janeiro, as mensagens diziam que o enrosco teria feito a patrocinadora de material esportivo cancelar o contrato com o Fenômeno. Prometiam ainda imagens do obeso atleta no quarto do motel. Mesmo Daniela Cicarelli, protagonista com um namorado de um vídeo paparazzi, e a atriz Danielle Winnits também foram alvos desse tipo de mensagem.

Qual vai ser o próximo golpe de e-mails desse tipo?

quinta-feira, julho 10, 2008

Daniel Dantas e outros dez fora da cadeia

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O habeas corpus levou menos de 48 horas para sair. Daniel Dantas e outros dez detidos na operação Satiagraha foram liberados na noite de ontem, 9. Celso Pitta e Naji Nahas seguem na sede da Polícia Federal.

Jornalistas fizeram plantão por lá durante o dia para ouvir os advogados de defesa queixosos por não terem acesso aos autos do inquérito, mas apenas à decisão que determinava a prisão dos investigados para coleta de provas.

No plenário do Senado, parlamentares como Arthur Virgilio e Heráclito Fortes defenderam os direitos de defesa e de preservação da imagem dos alvos da operação da Polícia Federal. Mostrá-los em algemas é um exagero, dizem.

Divulgação


O ministro Tarso Genro reconheceu que a imagem de Pitta sendo acordado, de pijama, exibida pela Globo, foi uma violação de normas internas do novo manual da Polícia Federal. Segundo ele, a exposição que cause constrangimento ao preso ou viole os direitos individuais garantidos pela Constituição é proibida.

Vale lembrar que esses protestos ganham a tribuna do Congresso quando as vítimas são banqueiros, políticos e empresários, enquanto a crítica à aplicação das algemas em adolescente, por exemplo, recebe bem menos atenção.

As queixas contra as "arbitrariedades da PF" aconteceram antes na prisão de Adriano Schincariol, diretor-superintendente do grupo, e outros executivos. Também aconteceu na operação Persona, da Cisco, e na operação 274, com postos de gasolina. Até na prisão do narcotraficante Juan Carlos Abadia houve esse tipo de queixa – em virtude de endereço errado.

Enquanto isso, nas análises do caso, repetir o que disse Paulo Henrique Amorim ganhou estatuto de lugar comum. Dantas tinha sua bancada no Congresso e circulava tanto no governo Fernando Henrique Cardoso quanto no de Lula. E torcer para que alguma bomba caia em colo governista virou a aposta da oposição.

Se o trânsito era tão intenso, deve ter gente preocupada. Já tem até ranking de nervosismo pós-Satiagraha.

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Os pingos nos is OU carmelita descalça no puteiro

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FHC, herói da Veja: Delcídio estaria em seus diários?
Ninguém aqui quer defender o PT, o governo Dilma, o Lula ou nunseiquelá, nunseiquelá, nunseiquelá. Não integramos suas assessorias de imprensa e, para esse tipo de defesa, sempre existem advogados bem dispostos - e (muito) bem remunerados. Mas, como observou meu colega jornalista Lobão (Rogério Castro), sobre as cobranças do "santo" Aécio Neves (PSDB) à presidente Dilma em relação à prisão do senador Delcídio Amaral (PT), "sei que não adianta explicar para quem não quer entender, mas não custa nada encher o saco dos cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais: com a prisão de André Esteves, um ex-presidente do Banco Central de FHC assumiu o comando do BTG Pactual. Pô, parem de bancar a carmelita descalça dentro do puteiro!".

Exatamente. A esses "cidadãos de bem, defensores da moralidade pública, que infestam as redes sociais" e saem nas ruas com camisa da seleção brasileira, louvando militares, Bolsonaros e Malafaias, complemento o lembrete do Lobão com um belo texto que circula pela internet e é assinado por Maria Fernanda Arruda:


Está claro para vocês o desenrolar dos acontecimentos recentes ou querem que eu desenhe o fato óbvio de que o caso de corrupção que está sendo investigado na Lava-Jato não começou em 2003 e não se encerra na Petrobras!? [OBS: por favor, compartilhem até chegar ao Sr. Moro, porque parece que ele está por fora disso tudo aí.]"

Por hoje é só.


segunda-feira, dezembro 15, 2008

Máfia do apito de 2005 poderia ter pego jogadores, diz Protógenes

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Em entrevista à revista Caros Amigos de dezembro, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz revela que a investigação da máfia do apito, deflagrada em 2005, poderia ter descoberto fraudes relacionadas a jogadores e dirigentes.

Foto: José Cruz/ABr
O trabalho foi "destruído", segundo ele, pela reportagem de capa da revista Veja, que revelou a investigação. "Quando é sexta já está na internet. Os bandidos fugiram. Não se pode fazer isso", lamentou.

A informação foi dada, curiosamente, em uma pergunta que questionava "por que, em geral, o furo é da Globo".

Ele revela ainda que o que "mais doeu" foi o fato de a repórter Thais Oyama não ter se sensibilizado por seu apelo e alerta sobre o estrago que a publicação acarretaria. "Sua investigação vai ser matéria de capa e vender 150 mil revistas", teria dito a jornalista. A queixa foi apresentada como modelo do que o delegado considera como furo que não é bom para a sociedade.

O fato é alguém da equipe de Protógenes – pelo que ele diz, não foi ele próprio a passar a informação – é que vazou a informação. E não há menção a quem poderiam ser os jogadores e dirigentes envolvidos no esquema de fraudes para beneficiar apostadores descoberta na Máfia do Apito que resultou na anulação de 11 partidas do campeonato brasileiro de 2005, beneficiando o Corinthians.

Daniel Dantas
O delegado relata ainda que, na segunda prisão do banqueiro Daniel Dantas, na Operação Satiagraha, ele confessou que financiava jornalistas para produzir reportagens favoráveis a seus interesses ou contra seus rivais. Mas nada de nomes, além da referência indireta aos que estão no inquérito.

Além disso, revela um episódio de suposto enriquecimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, já reproduzido em diversos blogues. Para quem for ler, substitua a citação à revista Época por IstoÉDinheiro, e a reportagem mencionada é esta. Mas os nomes citados pelo delegado não constam na reportagem. Apesar de o delegado ter comandado as investigações sobre a MSI, o assunto não coube nas seis horas de entrevista.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Governador do DF contratou empresa ligada a Daniel Dantas para amistoso entre Brasil e Portugal

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O Ministério Público do Distrito Federal entrou com ação de improbidade administrativa contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e o secretário de esportes Agnaldo de Jesus. O motivo é o pagamento de R$ 9 milhões para a empresa Ailanto Marketing, responsável pela organização do amistoso entre Brasil e Portugal no estádio Bezerrão, no final do ano passado. O jogo marcou a inauguração do estádio, no Gama (DF).

Foto: Divulgação/CBF
O governador
José Roberto
Arruda (DEM)
recebeu do
presidente
Ricardo Teixeira
uma camisa da
Seleção
Brasileira
autografada




Segundo o promotor Albertino Neto, os R$ 9 milhões utilizados na contratação da empresa devem ser devolvidos aos cofres públicos, devido a supostas irregularidades no contrato. A sede estaria localizada em um apartamento no Rio de Janeiro, com um patrimônio de R$ 800 e sem telefone fixo.

No site da empresa, consta um número de telefone e informações sobre o tipo de serviços prestados pela empresa.

Ainda segundo o promotor, a empresa também não teria realizado nenhum trabalho até a organização do amistoso, uma vez que, na contratação das duas seleções, foram emitidas duas notas fiscais, a de número 001 e 002. Ou seja, era o primeiro serviço prestado pela empresa, o que sinaliza irregularidades.

Outro fator curioso é que foi proprietário da empresa Eduardo Duarte, empresário ligado ao Daniel Dantas, citado em escutas da Operação Satiagraha. Após as denúncias de ligação com o banqueiro, a propriedade da Ailanto Marketing foi transferida para Vanessa Almeida Preste e Alexandre Rosell, ligado a Ise – que detém os direitos exclusivos sobre a Seleção Brasileira – com sede nas Ilhas Cayman.

Ainda durante o processo de contratação da empresa, o MP-DF chegou a apontar 11 falhas no contrato e ainda recomendou que fossem alteradas várias cláusulas. Mas o documento acabou assinado pela responsável da empresa Ailanto, pelo secretário de Esportes Agnaldo de Jesus e pelo governador Arruda. Não encontrei informações sobre o prazo que o governador e o secretário terão para se pronunciar, mas segundo informações da rádio CBN este prazo seria de 15 dias.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Segundo pastor, Xuxa vendeu a alma ao diabo

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Caros leitores, eis que alguém vem fazer uma revelação divina: a apresentadora Xuxa Meneguel é adoradora de satanás. É o que garante o “polêmico” pastor brasileiro radicado em Los Angeles Josue Yrion. Segundo ele, “estamos brincando com coisas sérias”, ao se referir a inúmeras figuras aparentemente inocentes do universo infantil e que possuem estreita relação com o diabo.

Yrion foi destaque no site noticioso de duvidosa reputação na Argentina MinutoUno e repercutiu também no ex-todo poderoso soviético Pravda. Tudo porque muitos hermanos estão recebendo hoje por e-mail o vídeo no YouTube do fervoroso seguidor de Deus pregando contra a Rainha dos Baixinhos, que foi publicado na verdade em fevereiro de 2007. O nome Xuxa, de acordo com ele, "é o nome de dois demônios brasileiros, O-xu e Ori-xá"*.

No vídeo, Yrion, em um “inglesol” (mistura de inglês com a língua de Cervantes), denuncia que Xuxa vendeu sua alma ao capeta por cem milhões de dólares e que doa seu rubro sangue duas vezes por ano para a igreja de Satanás em São Francisco. Ele não revela se conseguiu essas informações com o próprio coisa ruim, que teria tido um rompante de sinceridade, diferentemente de seu concorrente Daniel Dantas, que teima em ficar calado**.

Mas quem acha que apenas a brasileira está aliada ao anjo caído do céu, peca (arre!) pela ingenuidade. Outras figuras aparentemente inocentes do imaginário infanto-juvenil fazem propaganda subversiva. Homem Aranha, que forma os chifres do cramulhão quando lança suas teias (?) é outro agente das forças malignas. Assim como os Simpsons, o boneco bizarro Barney (que teria inclusive assassinado uma criança) e personagens Disney.

Portanto, cuidado com o que seu filho anda brincando. Ou mais cuidado ainda com as igrejas que você freqüenta...

*Oxu, no candomblé, faz a intermediação entre o iniciado e seu orixá, a divindade da religião.
**A outros órgãos de imprensa, a assessoria da apresentadora se negou a responder ao pastor, o que mostra um pingo de bom senso. Procurado, Daniel Dantas não comentou as acusações.

sexta-feira, julho 18, 2008

Dantas encomendou gravação a Protógenes?

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Como estou sem vontade de falar sobre futebol por motivos óbvios, um pouco de política.

A dúvida que me assalta é se foi o Daniel Dantas ou alguém a seu mando que gravou a reunião da Polícia Federal que vem sendo vazada em trechos agora.

Porque DD é o único beneficiado com essa situação. Discute-se se o governo está com medo, se há racha na PF etc... E Dantas, e seus supostos crimes, sai do centro do furacão.

Mais que isso, imagino que enquanto essa discussão pública sobre os intestinos da corporação ocorre, as investigações não avançam. Esse é o real problema. A quadrilha denunciada, pega na operação, tem tempo de se rearticular, esconder provas. O tempo passa a jogar a favor de quem mais precisa esconder, esconder-se ou fugir.

Aliás, secundariamente, essa discussão sobre a PF tirou o foco também das denúncias sobre jornalistas e veículos que, no mínimo, ajudaram a estratégia de Dantas, e sobre decisões do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, que passou por cima de todas as instâncias da Justica para libertar DD.

Todos eles estão rindo porque, depois de fazer um grande trabalho, o a Polícia Federal e o governo estão jogando tudo fora e entraram num luta fraticida. É a história da vaca leiteira que depois de dar 30 litros de leite chuta o balde.

quinta-feira, março 08, 2007

Tanure vem aí OU Erramos

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É uma correção, com atraso, a um post anterior. A negociação da Editora Três com Daniel Dantas deu água.

Quem está negociando com força (e acabou com a greve de funcionários) foi a Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), do empresário (sic) Nelson Tanure, dono do JB. Foi feito um aporte, como explica o Comunique-se.

A negociação entre as duas empresas existe desde o fim do ano passado, "com admiração mútua", como frisou a assessoria da CBM, e o adiantamento foi a forma encontrada para quitar a dívida com os funcionários e contornar a crise da empresa. Caso a compra seja efetuada, o aporte será deduzido do valor final da negociação. Em caso negativo, ele será interpretado como uma dívida individual.


Domingos Alzuguaray desistiu do negócio, porque não queria abrir mão da direção familiar da empresa.

Assim, a IstoÉ não é do Daniel Dantas como foi escrito antes. E Tanure vem aí.

sábado, março 13, 2010

O debate das cotas raciais no STF

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O Supremo Tribunal Federal vive dias agitados – e dessa vez com notícias positivas. Para começar, manteve o (ex?) governador do Distrito Federal José Roberto Arruda na prisão, para espanto meu e de outros colegas deste fórum que esperavam uma rápida passagem do cara dos panetones pelo cárcere.

Além disso, o STF elegeu, no último dia 10, o ministro César Peluso para a presidência da Casa – Carlos Ayres Britto foi escolhido para vice. Peluso toma posse no dia 23 de abril, em substituição a Gilmar Dantas -  quer dizer, Mendes -, cuja atuação à frente da Suprema Corte foi marcada por opiniões emitidas antes de pareceres e julgamentos de processos, além da prestreza com que sempre atendeu pedidos de soltura de certos banqueiros. Daniel Dantas, aliás, recebeu outra má notícia da Justiça essa semana, com a decisão do Superior Tribunal de Justiça de negar o pedido de afastamento do juiz Fausto De Sanctis do processo que envolve o banqueiro.

Mas o que mais me agradou foi uma atitude do ministro Ricardo Lewandowski, encarregado de julgar a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186, movida pelo partido Democratas contra a reserva de cotas raciais em universidades. O ministro decidiu convocar uma audiência pública para debater o assunto, permitindo às partes interessadas expressarem seus pontos de vista. Foram recebidos 252 requerimentos de inscrição, segundo o site do STF, mas o ministro selecionou 38 representantes para diminuir o tempo da coisa.

As audiências aconteceram entre os dias 3 e 5 de março e certamente ajudaram a explicitar posições e dar clareza aos argumentos de todos os lados, produzindo algumas pérolas. Se a ação movida pelo DEM não servir para mais nada – como de fato acho que não serve: ou é derrotada e irrelevante ou vitoriosa e danosa para o país –, vale por ter jogado o tema de forma tão pesada na discussão pública.

Uma das citadas preciosidades certamente foi o depoimento do senador Demóstenes Torres (DEM-GO, na foto ao lado), relatado em reportagem de Laura Capriglione e Lucas Ferraz, da Folha de S. Paulo. O excelentíssimo parlamentar soltou duas frases que já rodaram bastante, mas valem a lembrança (extraídas da matéria da Folha):

Disse Demóstenes sobre o tráfico negreiro: “Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (…) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana.”
Sobre a miscigenação: “Nós temos uma história tão bonita de miscigenação… [Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual.”


Ou seja, se os negros foram escravizados, a culpa é deles. Bravo! A reportagem nos deu ainda o prazer de ver um duplo absurdo no mesmo jornal: o sociólogo, ex-comunista, conviva do Instituto Milenium e recente especialista em relações raciais (sic) Demétrio Magnoli publicou na página 3 do jornal dos Frias artigo defendendo o nobre senador e atacando os repórteres, por ele chamados de “delinquentes”. Ou seja, além de defender o indefensável, o artigo aparentemente terceirizou da Folha a função de passar um pito nos repórteres "abusados" e no editor que deixou passar o texto, como avalia o Leandro Fortes.

A fala dos dois é oportuna para deixar claras as posições. Nada contra quem não gosta das cotas. O problema é quando o argumento vai na linha do Ali Kamel, manda-chuva da Globo, que diz, resumidamente, que não existe racismo no Brasil. Que somos todos iguais e que os que advogam políticas afirmativas querem “implantar” a discriminação. Ora, isso não é argumento, é negar a realidade.

Mas o que eu realmente queria destacar é a fala do historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor da Sorbonne e autor do livro O Trato dos Viventes, obra de referências sobre a escravidão. O parecer de Alencastro traz pontos importantes dessa história para sublinhar um ponto central: a escravidão e a violência contra o negro não vitimaram apenas os negros, mas toda a sociedade brasileira, que se acostumou a um tratamento de chibata contra os desfavorecidos, distorcendo o nosso conceito de democracia. Disse ele:

(...) os ensinamentos do passado ajudam a situar o atual julgamento sobre cotas universitárias na perspectiva da construção da nação e do sistema político de nosso país. Nascidas no século XIX, a partir da impunidade garantida aos proprietários de indivíduos ilegalmente escravizados, da violência e das torturas infligidas aos escravos e da infracidadania reservada ao libertos, as arbitrariedades engendradas pelo escravismo submergiram o país inteiro. Por isso, agindo em sentido inverso, a redução das discriminações que ainda pesam sobre os afrobrasileiros -, hoje majoritários no seio da população -, consolidará nossa democracia.

A argumentação completa é excelente e leva a questão para um outro patamar. Vale muito a leitura completa.

Outro sucedâneo da discussão é muito mais surpreendente em sua origem. A economista Miriam Leitão, crítica contumaz do governo Lula e da esquerda em geral, escreveu um belo artigo em defesa das cotas. Disse ela:

A temporada da coleção de argumentos velhos que reaparecem para evitar que o Brasil faça o que sugeriu Joaquim Nabuco, morto há 100 anos, em frase memorável: “Não basta acabar com a escravidão. É preciso destruir sua obra. Diante de qualquer proposta para reduzir as desigualdades raciais, principal obra da escravidão, aparece alguém para declamar: “Todos são iguais perante a lei.” E são. Mas o tratamento diferenciado aos discriminados existe exatamente para igualar oportunidades e garantir o princípio constitucional.

Logo após, porrada no Demóstenes. Roubo de Miriam o encerramento do texto, que traduz algumas de minhas preocupações nesse debate. Bora pensar nisso:

“O que me incomoda é a incapacidade reiterada que vejo em tantos brasileiros de se dar conta do crime hediondo, do genocídio que foi a escravidão brasileira. Não creio que as ações afirmativas sejam o acerto com esse passado. Não há acerto possível com um passado tão abjeto e repulsivo, mas feliz é a Nação que reconhece a marca dos erros em sua história e trabalha para construir um futuro novo”.

quinta-feira, novembro 13, 2008

A ética do vinho

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Não são muitas as coisas que me comovem. Uma delas são as crianças. Eu acho incrível o que os pequenos são capazes de fazer com a gente. Pensei nisso quando comecei a ler um livro muito interessante que caiu nas minhas mãos, É Vinho! Naturalmente – Em defesa do vinho orgânico e natural (Boccato e Gaia). O autor, Luciano Percussi, dedicado apreciador por décadas, oferece a obra a seus netinhos Francesca, Chiara e Lorenzo, para que eles “um dia descubram que vinho é cultura”.


Falando assim, parece pouco, mas pense bem, é muito bonito: um avô, preocupado com a formação manguaça de seus netos, não quer vê-los crescendo de qualquer jeito, engolindo qualquer coisa, desperdiçando os dons que a natureza lhes deu de sentir prazer e maravilhar-se com os sentidos numa total (ou quase) indiferença em relação ao que ingerem... Eu, não sendo nenhum especialista em vinho, sinto que ganhei mais instrumentos para apreciar esse líquido sagrado que há milênios reúne as pessoas mais diferentes em fóruns adequados à degustação e ao debate. Coloco este livro ao lado de um filme que vi tempos atrás.

Percussi é bem minucioso. Aborda cada aspecto que pode ser de interesse a um principiante para adentrar essa incrível diversidade que é o mundo do vinho. A história, o plantio da uva, a vinificação, o tempo de cada coisa, a degustação. Seu texto é cheio de metáforas, como quando explica o trabalho de um enólogo comparando-o ao de um treinador de pugilismo: “A cada [atleta] dará um tratamento específico para que, dentro dos limites de cada categoria, possam tornar-se os melhores. Com o vinho acontece o mesmo. Os tempos e as temperaturas serão diferentes para cada tipo de vinho.”

O livro tem mesmo o sabor de uma boa história de avô. E é ilustrado por fotos belíssimas. Devo registrar aqui uma ressalva quanto à revisão; esta deixa muito a desejar, a obra merecia um maior cuidado neste quesito tão importante.

Parênteses ético

Peço licença para um parênteses, pois é de valores que se trata quando nos preocupamos em como os manguaças do amanhã vão apreciar seus bebes. Lembrei de uma passagem do perfil do Daniel Dantas, publicado pela revista Piauí, em que o banqueiro faz uma interessantíssima colocação sobre o vinho. O interesse está na síntese de como funciona a cabeça de um banqueiro. Cito aqui o trecho:

“Outro dia, num restaurante, insistiram que eu tomasse um vinho caríssimo”, disse. “Argumentei que seria um desperdício oferecerem um vinho daqueles a uma pessoa que não tinha paladar apurado para apreciá-lo. Aí, me sugeriram aprimorar o paladar.” Fez uma pausa e massageou a testa, parecendo refletir sobre o assunto. “Acho uma aporrinhação esse negócio de aprimorar paladar. Se consigo gostar de um vinho que encontro em qualquer lugar, porque vou arrumar meu paladar e só ter prazer quando tomar uma coisa rara, de altíssima qualidade? É um contra-senso. É muito mais fácil gostar de qualquer coisa. Depois, eu teria que comprar uma adega climatizada, e aí acabaria a luz, e tudo viraria um inferno.”

A lógica é perfeita, só que dentro de uma ética de resultados, que parece ser cada vez mais hegemônica, apesar da resistência de não poucos. Não estou defendendo os “vinhos caríssimos”, apenas quero clarificar um pouco o que é esse “contra-senso” na avaliação de Dantas. É a mesma lógica que inspira o Dunga a acreditar que o importante é ganhar a qualquer custo, jogando de qualquer jeito (e mesmo assim não ganha). Apreciar o bom futebol exige dedicação, não aceitar qualquer coisa, entender os lances e movimentos fundamentais que passam despercebidos e, também, perdoar o craque que arrisca o lance de arte e eventualmente perde uma jogada. Quem tem a qualidade como valor não se impressiona com firulas, coisas vistosas e sem densidade, sem sentido, mas também não pode suportar “qualquer coisa” que lhe dê um retorno quantificável. Assim é com a música, a literatura, o cinema e o vinho, entre tantas outras coisas.

Retomando, entendo a mensagem que Percussi lega aos netinhos de que “vinho é cultura” desse jeito: o vinho não é só uma bebida que agrada e embebeda, é um universo, exige conhecimento, dedicação para apurar o paladar e entender tudo o que está implicado ali. E, finalmente, tudo isso não serve para nada. É assim com tudo o que temos de mais precioso, não dá para submeter a nenhum critério de eficácia. É o campo da qualidade, do amor às coisas e às pessoas, do sabor singular e intraduzível, do valor em si.

Para quem se interessou, hoje, quinta-feira, 13 de novembro, vai ter uma sessão de autógrafos na Livraria Cultura (Loja de Artes, avenida Paulista, Conjunto Nacional), das 19h às 21h30.
PS: Não cheguei a mencionar a defesa que o autor faz das práticas orgânicas e biodinâmicas na produção do vinho. Mais um ponto para a ética!

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Arruda tem prisão decretada, mas ficará pouco tempo

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O Superior Tribunal de Justiça decretou, por doze votos a dois, nesta tarde, a prisão preventiva do governador de Brasília, José Roberto Arruda, e outros envolvidos no Mensalão do DEM, também conhecido como panetonegate.


A prisão foi pedida e concedida por conta da tentativa de "subornar" uma testemunha para que mudasse de opinião.

Neste momento, segundo sua assessoria, o governador está indo para a Polícia Federal, onde irá se entregar.

Antes que alguém comemore a instalação da moralidade, é bom saber que a prisão provisória deve durar pouco, porque ela é decretada apenas para que não atrapalhe as investigações ou constranja testemunhas. Aposto com quem quiser que, logo logo, ele consegue um habeas corpus, provavelmente emitido pelo paladino da liberdade dos ricos, o ministro Gilmar Mendes.

É o mesmo que aconteceu com Daniel Dantas e um pouco antes com Paulo Maluf. Vale mais pela imagem de moralidade que pela moralidade em si.

Recordar é viver

É inevitável não relembrar neste momento: "Vote num careca e ganhe dois"

sábado, julho 28, 2007

A culpa é do Lula

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Não, não. Apesar da comemoração, o presidente não está celebrando o erro do comandante da TAM

Segue abaixo reprodução de texto do Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim. Não vale nem a pena escrever sobre o assunto depois do PHA. Certeiro.

. O repórter Marcio Aith, na edição da Veja desta semana, diz que o comandante Kleyber Lima, que pilotava o avião da TAM, cometeu o seguinte erro: “o manete direito da turbina que estava com o reverso travado continuou na posição de ‘aceleração’. Com isso, enquanto a turbina esquerda tentava frear o avião, a direita o empurrava para a frente. O piloto, então, perdeu o controle.”

. Marcio Aith diz que não havia “aquaplanagem” – aquela história da moedinha na chuva do Rodrigo Bocardi, no Jornal Nacional ... A moedinha do Bocardi precisará ter outra destinação: não foi responsável pela queda do avião da TAM.

. Marcio Aith diz também que, se a pista não fosse tão curta, não teria havido desastre.

. Ele tem toda a razão: se a pista de Congonhas se emendasse com a pista de Guarulhos, que, por sua vez, se estivesse colada a uma ponta da pista do aeroporto de Viracopos, a certa altura, o avião parava.

. E a pista do Santos Dumont ? – o Marcio Aith poderia recomendar a construção de uma extensão da pista, uma pista inclinada, ascendente, que fizesse com que os paulistas que chegassem ao maravilhoso Santos Dumont desembarcassem direto no finger do bondinho do Pão de Açúcar, e admirassem aquela maravilhosa paisagem, do alto.

. O Airbus da TAM, segundo Aith, precisava de uma pista mais longa.

. Não foi o que aconteceu em outros dois vôos anteriores que o mesmo avião fez, naquele mesmo dia, com mais chuva. Foram pousos normais.

. Nos últimos seis anos, Congonhas operou 1,5 milhão de pousos e decolagens.

. Ninguém sentiu falta de pista mais longa.

. É preciso tomar a reportagem de Aith com um grão de sal.

. Ele é o autor daquela famosa “reportagem” co-assinada por Daniel Dantas, que provou a existência de contas secretas do Presidente Lula e do Dr. Paulo Lacerda.

. (Aliás, a investigação da Polícia (Republicana) Federal sobre essa associação editorial parece que não acaba nunca.)

. Vamos SUPOR, apenas SUPOR que a reportagem de Aith, dessa vez, esteja certa.

. O golpe da mídia conservadora (e golpista) chegou ao seu objetivo.

. O Governo Lula curvou-se à mídia e à Globo.

. Lula fez um pronunciamento à Nação, na verdade, dirigido à Globo.

. Nomeou o General Patton para o Ministério da Defesa.

. Que não poderia ser mais indelicado com Waldir Pires na cerimônia de transmissão do cargo...
. Nelson Jobim começou a trabalhar a campanha da Sicília com o presidente eleito José Serra, a quem deu posse numa solenidade no Palácio dos Bandeirantes, e celebrou num almoço neste sábado.
. José Serra assumiu a co-presidencia e vai espetar nas costas do contribuinte federal umas pequenas obras em São Paulo que os magistrais administradores tucanos devem aos paulistas há décadas.

. A mídia conservadora (e golpista) celebra hoje a trapalhada dos controladores que liberaram e desliberaram a pista de Congonhas.
. Uma trapalhada que levou seis minutos.

. Mas a mídia conservadora (e golpista) tratou o assunto como se fosse uma outra lambança do Presidente Lula.

. Mas, pergunta-se: quem era o Ministro da Defesa, ONTEM: já não era o General Patton?

Em tempo: segundo Mauricio Dias, diretor-adjunto da Carta Capital, também é do Lula a responsabilidade pela queda de um aviãozinho de propaganda que caiu na praia do Leblon, no Rio, no fim de semana passado. Os surfistas, provavelmente eleitores de Cesar Maia, salvaram o piloto - mas, não há dúvida: a culpa é da "crise" aérea.

Em tempo 2: o iG e o Uol dizem a que a falha do piloto foi a “causa inicial”. Interessante: qual será a causa final ? O Lula ?

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Crise em Brasília atrapalha até Copa do Mundo de 2014

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Em meio as fortes emoções na política brasiliense a lama esbarrou de vez na Copa de 2014.

Pelé veio a Brasília
em outubro de 2009.
Na ocasião, fez

dobradinha com o
ainda governador –
e sem sinais de que

seria encarcerado,
José Roberto
Arruda (ex-DEM
e
sem partido).


Em nota do Correio Braziliense de hoje, consta a informação de que a reforma do Mané Garrincha foi suspensa. Ou melhor, o Tribunal de Contas do DF aprovou a suspensão da licitação. O projeto tem o custo estimado de R$ 600 milhões e previa a demolição da estrutura atual, com capacidade para 41 mil lugares, para colocoar de pé o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. A capacidade seria de 70 mil pessoas, o que o tornaria o segundo maior templo do futebol brasileiro, atrás apenas do Maracanã.

Reconstrução do estádio que receberá os jogos da
Copa do Mundo de 2014 suspenso... E agora,
Josés? (foto: Mauro Sampaio/Acessepiaui)

A dúvida que paira é que a abertura dos envelopes da licitação, caso ocorressem nesta quinta-feira, 25, estaria apenas a quatro dias do limite oficial para o começo das obras das arenas esportivas das 12 cidades-sede do Mundial. Será que Brasília ainda será uma das cidades-sede do Mundial?

Afinal o projeto de construções e reformas estão planando sob grandes dúvidas. Um delas é o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que irá fazer a ligação entre o Aeroporto de Brasília, o centro da Panetolândia e para os jogos no Mané Garrincha. O valor total da obra é orçado para R$ 1,5 bilhão e já teve suas obras interditadas, assim como os financiamentos, duas vezes.

Sem falar ainda no Estádio Bezerrão, empregado como centro de treinamentos das seleções. O espaço teve sua reforma iniciada em 2006 e só foi inaugurado no dia 19 de novembro de 2008, em partida amistosa em que o Brasil venceu Portugal.

A construção, no valor de R$ 51 milhões, está na mira do Ministério Público do DF. Em agosto de 2009, o órgão entrou com ação de improbidade administrativa contra o governador – que ainda não estava preso na superintendência da Polícia Federal, acusado de suborno a um jornalista – e o secretário de Esportes Agnaldo de Jesus. O motivo é o pagamento de R$ 9 milhões para uma empresa com ligações ao Daniel Dantas.

Enquanto isso, a Fifa está de olho, e já demonstrou preocupações com ritmo dos preparativos para Copa 2014. Seria ainda mais triste se os panetones do ano em que a Capital Federal completa cinco décadas interferissem também nos rumos do mundial de futebol no Brasil.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Bahia faz promoção para pagar atrasados

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A diretoria do Bahia encontrou uma fórmula curiosa para pagar os salários atrasado e não desperdiçar a chance de voltar à Série B em 2007. A equipe está entre as oito finalistas que disputam quatro vagas e quer aproveitar o entusiasmo da torcida, que vem dando público recorde nos jogos do time, para sair da lama financeira.

O clube colocou à venda um pacote para os sete jogos que a equipe vai fazer na Fonte Nova na fase decisiva ao preço de R$ 70. Quem optar pelo pacote ganha ainda um aparelho celular pós-pago.

Mas a boa notícia pro torcedor do time é que o clube conseguiu se livrar do Banco Opportunity, de Daniel Dantas e recomprou as ações da Bahia S.A., voltando a gerenciar suas próprias contas. A decisão foi tomada durante assembléia geral do clube, com 88 votos a favor, quatro abstenções e oito contra.


quarta-feira, março 31, 2010

Promotores contra Maluf

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O deputado federal e ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, não hesitou ao responder por que seu nome e sua foto foram parar na lista de procurados pela Interpol. É tudo retaliação ou até vingança por parte de procuradores de Justiça, preocupados com seu projeto de lei 265/2007. O texto prevê que um promotor que apresente denúncia temerária ao Judiciário seja responsabilizado criminalmente.

Foto: Reprodução

A apresentação da propositura é, por seu lado, uma resposta de Maluf aos processos judiciais movidos contra ele. Tudo artimanha de quem quer se promover, segundo sua peculiar visão de mundo.

Esse contexto envolvendo ainda a "Lei da Mordaça" ao Ministério Público, que é natural e essencialmente polêmica, deveria transformar o título do post no inverso. Algo como "Maluf contra promotores". Ou, no mínimo, levar um "vice-versa". Mas as coisas são curiosas.

O protesto e o release
Os procuradores são contrários ao projeto. Por isso, prometem um ato em 6 de abril em São Paulo na Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR-3). Até aí, tudo normal, desde 2009, entidades de promotores promovem campanhas nesse sentido.

Só que foi muito, mas muito curiosa a sequência de releases do evento que atingiram minha caixa de entrada. Ambos enviados pelo departamento de imprensa da PRR-3, um era correção do outro.

(Parênteses para quem, por graça divina ou bom senso mesmo, não é jornalista e não é bombardeado por avisos de pauta e divulgação para a mídia. Release é a redução de "press release", eventualmente traduzido pra lá de livremente como "comunicados de imprensa". É a forma mais comum de as assessorias de imprensa de empresas, governos, órgãos públicos, ONGs etc. avisarem os jornalistas sobre o que acreditam que os profissionais de comunicação precisam saber. Mais comum do que jornalista errar ao redigir uma reportagem é um release ter uma informação incorreta, o que demanda um novo envio da mensagem, com títulos que avisam "correção" em que se pede para "desconsiderar o anterior".)

O curioso é notar as diferenças. A começar pelo assunto:

Original:
PRR-3 sedia ato em SP contra “Lei da Mordaça” de Paulo Maluf

Corrigido:
Vale este - "PRR-3 sedia ato em SP contra 'Lei da Mordaça'"

A correção pega um pouco mais leve com o pai da matéria e não escancara o alvo da movimentação. Mais adiante, o juridiquês que parecia dar razão à "Lei do Maluf" cedeu vez.

Original:
Iniciativa do deputado federal Paulo Maluf, o projeto de lei prevê sanções aos autores de ações civis públicas, populares e de improbidade promovidas contra agentes públicos quando ajuizamento tiver sido temerário, de má-fé, para promoção pessoal ou por perseguição política. O projeto de lei atinge não apenas o Ministério Público, mas o cidadão ou associações que tiverem promovido, nas mesmas circunstâncias imprecisas e indeterminadas, ações populares e ações civis públicas. A mobilização visa mostrar à sociedade que o projeto de lei restringe independência do Ministério Público e o intimida a não cumprir, com autonomia, deveres previstos na Constituição.

Correção:
Iniciativa do deputado federal Paulo Maluf, o projeto de lei prevê a responsabilização pessoal dos autores de ações judiciais contra agentes políticos consideradas “temerárias”, de “má fé”, com a “finalidade de promoção pessoal” ou de “perseguição política”.

Na sequência, uma nova tentativa de ampliar o horizonte e tirar do "procurado" doutor Paulo o centro de tudo. Assim, consta da versão final:
O ato não é voltado apenas contra o ex-prefeito de São Paulo, réu em inúmeros processos movidos pelo MP de São Paulo e pelo MPF por sua gestão à frente do município e autor do projeto de lei, mas à Câmara Federal, que aprovou em sessão do dia 16 de março a urgência na apreciação do Projeto de Lei pelo plenário.
A "aliviada" com Maluf só fez explicitar o quanto o evento aproveita as polêmicas declarações de Maluf para se posicionar na discussão pública.

Foto: Reprodução

O debate é bom
Depois de toda essa digressão, vale registrar que o debate é bom. Na lista de quem acusa promotores federais ou estaduais de oportunismo está gente de todo tipo. O primeiro exemplo que me ocorre é o de Eduardo Jorge, ex-assessor especial do presidente Fernando Henrique Cardoso, réu em denúncia apresentada por Luiz Francisco Fernandes de Souza. Ele foi inocentado e processou Folha de S.Paulo, O Globo, Veja, Ciro Gomes e mais metade do mundo.

Luiz Francisco foi alvo de queixas de outras pessoas, incluindo o Opportunity de Daniel Dantas. Ele foi acusado de apresentar denúncia que teria sido redigida em um computador de Roberto Demarco, ex-sócio e atual desafeto do banqueiro, além de contar com ajuda de advogados da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

Em sua defesa, o procurador alega que gostou da tipologia (fonte) do documento recebido dos advogados de Demarco. Abriu o arquivo, foi em Editar, Selecionar tudo e pressionou o delete, começando a redigir com a simpática fonte – isso ele me declarou em entrevista por telefone em 2008. Nenhuma pendência consta na corregedoria do Ministério Público Federal, mas Luiz Francisco mantém uma atuação bem discreta, se comparada ao estrelato alçado durante a década de 1990.

Neste ano, o tesoureiro do PT e ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários, João Vaccari Neto, critica José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual de São Paulo. Blat corre atrás do inquérito sobre a cooperativa desde 2005 e, até hoje, não formalizou a denúncia à Justiça. Mas sempre que o tema volta, é entrevistado em reportagens em diversos veículos sobre o caso, declarando que a Bancoop é uma organização criminosa. Se é ou não, um juiz poderia avaliar, caso uma denúncia fosse concluída e apresentada.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Gente como Silvio Pereira (ex-PT, sem partido), José Serra (PSDB-SP), Yeda Crusius (PSDB-RS)  a Rede Record, além de Paulo Maluf e de metade dos advogados de defesa de pessoas acionadas por promotores, também já recorreram a disparar contra os acusadores. As queixas são de busca por projeção em cima de acusados "famosos" ou de irresponsabilidade.

Há casos como o de Fernando Capez, membro do MPE-SP que ganhou notoriedade ao mover ações contra torcidas organizadas em 1995, quando conseguiu decisão judicial que extinguia essas torcidas. Foi eleito deputado estadual pelo PSDB de São Paulo em 2006.

Em janeiro, Fernando Grella, procurador-geral de Justiça de São Paulo, em entrevista ao Estadão, em janeiro, declarou que "o ministério público está isolado", porque antes, o organismo "tinha apoio de alguns partidos políticos", mas hoje, nem tanto. Grella admite erros pontuais de promotores, e atribui a falhas no sistema processual "em termos de provas".

No caso de agrupamentos políticos, a denúncia do ministério público é como um gol: só é ruim quando é contra o patrimônio. Isso não quer dizer que eventualmente não haja erros e abusos.

Em artigo ao Jornal do Brasil, o jurista Dalmo Dallari tocou a questão, ao defender a independência do ministério público para cumprir seu papel constitucional. "No seu conjunto o desempenho do Ministério Público pode ser considerado altamente satisfatório", escreveu. "Têm ocorrido situações em que uma iniciativa do Ministério Público sugere a influência de fatores políticos, como se tem verificado em regiões nas quais os conflitos sociais são mais agudos, mas qualquer iniciativa de um órgão do Ministério Público está sujeita a um estrito controle de legalidade, podendo ser anuladas pelo Poder Judiciário aquelas que não tiverem embasamento em fatos concretos e não se enquadrem em alguma hipótese legal". Sua conclusão é de "veemente repúdio" à "lei Maluf".

Outras modalidades de mordaça impostas por lei, herdadas do período autoritário no Brasil (cujo colpe ocorreu há exatos 46 anos, em 31 de março de 1964) contra outros servidores vêm sendo extintas. Foi o caso das peças no estado e município de São Paulo. Nesse contexto, soa trágica a ideia de restrições por lei aos procuradores. O que não torna importante o debate sobre o papel da instituição.