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quinta-feira, julho 18, 2013

Cavalo arreado

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Terça-feira, duas horas da tarde. Naquela sauna, dois oficiais conspiram - e transpiram. O mais velho tentando impor a "linha dura"; o outro, quase cedendo a uma "abertura ampla, geral e irrestrita". No calor dos acontecimentos, enrolados apenas em toalhas sumárias, confabulam:

- Major, a hora é agora!

- Shhhhh! Tenente, já falei que, aqui dentro, meu codinome é Bilú!

- Perdão, majo..., digo, Bilú. Mas reafirmo: as condições se apresentaram.

- Tem certeza, Tetéia?

- Tetéia? Que Tetéia?

- É o teu codinome, energúmeno!

- Ah, sim! Bem lembrado, majo..., digo, Bilú.

- Exponha suas considerações.

- Maj..., Bilú, tenho observado atentamente as manifestações nas ruas e nas redes sociais. Como o nosso serviço de inteligência já tinha detectado, eles convergem diretamente conosco: querem derrubar o governo e fechar o Congresso. Só que fui além. Identifiquei dezenas deles e, pesquisando seus perfis e publicações na internet, descobri algo ainda mais significativo. Eles nos apoiam! Querem as Forças Armadas de volta ao poder!

- Shhhhh! Cala a boca! Tenente, nunca se esqueça: aqui dentro não existem Forças Armadas! Diga apenas Farofa-fá! Compreendido?

- Às ordens, senhor!

- Também não precisa bater continência! Mas prossiga, Tetéia. O que te faz crer que a juventude quer o nosso retorno?

- Muitos jovens, de boas famílias e íntegra procedência, postam fotos de tropas desfilando e de tanques, senhor, com frases como "É preciso botar ordem na casa", "Ocuppy Brasil" ou "A hora está chegando". E muitos deles dizem claramente, em postagens ou comentários, que querem que as For..., digo, querem que Farofa-fá tome conta da situação!

- Bom, muito bom. E eu que pensava que se tratava de meros baderneiros ou agitadores comandados pela corja vermelha.

- Não, maj... Não, Bilú! São patriotas. Apoiam Farofa-fá! Estão do nosso lado.

- Bem, Tetéia, também não precisa exagerar. Duvido que, se passasse uma lista no meio de qualquer uma dessas manifestações pedindo alistamentos voluntários, a gente arrumasse mais que meia-dúzia...

- É... Com certeza. Por outro lado, isso explica exatamente o motivo de nos convocarem para fazer o que eles querem.

- E o que nós também queremos.

- Exato, maj..., Bilú! Vamos ao golp..., digo, à Nova Redentora!

- Shhhhhhhh! Diabos, Tenente! Digo, Tetéia! Aqui nesta sauna não tem Redentora nenhuma! É Pimenta Malagueta! Pimenta Malagueta!

- Às ordens, às ordens! Perdão. Sem continência. Pois bem, vamos à Pimenta Malagueta! Sem refresco! E com o apoio da juventude manifestante! O gigante acordou!

- Mas será que acordou, mesmo? Quais são as condições? Só com a juventude, não faremos nada.

- Temos tudo na mão, maj..., Bilú. A Platinada, como sempre, promete apoio total. Ainda mais depois que alguns desordeiros resolveram protestar em frente ao seu prédio e que desencavaram uma história caluniosa sobre suposta sonegação de impostos.

- Que é tudo verdade, mas não é da nossa conta. Agora, apoio da Platinada é óbvio, não diz nada. É a mesma coisa que dizer que a revista dos carcamanos nos dá cobertura. Fora a mídia, o que temos de concreto, de sólido, no nosso braço político civil?

- Ótimas notícias. Tomei a liberdade de conversar com o Imortal.

- Que Imortal?

- O Sociólogo, major. Shhhhh! Perdão, perdão. Sem continência. Falei com o Sociólogo, Bilú. É que ele acabou de entrar pra Academia.

- Ah, sei. Mas ele também sempre foi nosso. O pai dele era nosso.

- Sim, sim. Só que eu perguntei se eles ainda têm esperança de vencer nas eleições do ano que vem ou estariam dispostos a compor com a gente para governarmos juntos.

- Governarmos juntos? Explique-se, Tetéia.

- É simples. O Imortal aprovou (e confidenciou que eles não vencem nas urnas nem que o tomate tussa!). É o seguinte: a gente derruba o governo mas dá a posse ao Vice. E aí implanta o parlamentarismo. O primeiro-ministro seria indicado pelo Imortal. No caso, seria o Mineiro. Que é perfeito para o posto de primeiro-ministro. Seu finado avô, inclusive, já tinha nos prestado esse serviço.

- Hummm. Engenhoso. Mas como assim "posse ao Vice"? Você está louco, Tetéia? O partido do Vice já manda no Congresso e, da última vez que mandou no governo, fez três planos econômicos desastrosos e chegou a 60% de inflação ao mês - sem contar o golp..., digo, a artimanha do mandato de cinco anos.

- É. E o homem mandava no Senado até outro dia. Só que o senhor não está atentando para um detalhe: nós vamos fechar o Congresso. E depois vamos extinguir as eleições diretas. Logo, quando acabar o mandato, o Vice, por nós investido de presidente, sairá de cena. E, a partir daí, só tomará o cargo quem nós quisermos. Já a função de primeiro-ministro, como combinado na conversa que tive, deixaremos para o partido do Imortal. Como o senhor disse, "nosso braço político civil".

- E os nossos superiores? Já sabem disso?

- Claro, senhor! Não leu os jornais? Eles andam escutando todo mundo, no mundo todo. Não tem telefone, computador ou informação de qualquer gênero que esteja a salvo. O Grande Irmão sabe de tudo. E, como sempre, também está do nosso lado. Com informações, propaganda, dinheiro ou até armamentos, se preciso for.

- Ah, não será necessário. Golp..., digo, revolução, nesse país, sempre foi pacífica. Reeditaremos a Pimenta Malagueta sem precisar dar um tiro sequer.

- E a Platinada e a revista dos carcamanos estarão a postos para justificá-la como a mais legítima forma de redemocratização. Como em Honduras. Ou no Paraguai.

- Tem razão. Excelente. Tetéia, gostei dessa sua sugestão sobre parlamentarismo. Porque primeiro-ministro não manda nada. Mas, ao mesmo tempo, sacia a vaidade do Imortal e do partido dele. Quem vai mandar, mais uma vez, somos nós! As For..., digo, Farofa-fá! Pode ser interessante, durante um certo período. Dá um ar de modernidade, de renovação, de primeiro mundo. O povo vai gostar. É capaz, até, de comemorar. E, com o tempo, mudaremos gradualmente essa configuração. Editaremos atos complementares, extinguiremos os partidos, concentraremos os mecanismos decisórios. Tenho planos, muitos planos. Está decidido! Vamos agir!

- Muito bem, maj.., Bilú!  Vamos à Pimenta Malagueta! Com Farofa-fá no comando! Vou iniciar as articulações com os Anonymous no Facebook. A Platinada e o Imortal cuidarão do resto. O cavalo está arreado e, mais uma vez, não vamos deixar ele passar.

- Ah, Tetéia, não me fale em cavalo...

- Por que, senhor? Também prefere o cheiro dele ao cheiro do povo?

- Prefiro a massa cheirosa. Mas não é bem isso.

- O que é, então? Que olhar é esse, senhor?

- É que cavalo me lembra montar...

- Bilú, Bilú...

- Ah, Tetéia...

E assim, com a juventude nas ruas e nas redes sociais, a Platinada brilhando e o Imortal operando, Farofa-fá já trama uma nova Pimenta Malagueta.

No do povo, é refresco.

'Anônimos'? 'Apartidários'? Os mascarados sabem muito bem o que querem...

Seis derrotas seguidas. E contando.

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Douglas: 'inexistente' seria elogio
O script foi idêntico ao do jogo de ida no Morumbi: o Corinthians não fez qualquer esforço e, como se treinasse uma jogada ensaiada, marcou um golzinho no primeiro tempo e outro no segundo. De forma burocrática, quase que bocejando. A única diferença no Pacaembu foi que, dessa vez, o goleiro Cássio não teve dó e resolveu defender o chute de Aloísio (praticamente a única finalização do São Paulo em 90 minutos). Quando o juiz apitou o fim do jogo, os corintianos pareciam até meio sem jeito de comemorar o título da Recopa. Parecia estranho levantar um troféu após dois "treinos" contra aquilo que se assemelhava a um time de várzea muito fraco. Assim como na primeira partida, se o Corinthians tivesse feito 15 ou 20 minutos de "abafa", teria goleado por cinco ou seis gols. Ou mais. E o fato de o time do Parque São Jorge ter se dado o luxo de poupar o adversário nos dois jogos configura humilhação ainda maior para o outrora autoproclamado "soberano" time tricolor. O Corinthians disputou essas partidas como uma equipe obrigada a cumprir as duas últimas rodadas de um campeonato por pontos corridos depois de já ter comemorado o título. Foi como se pudesse levantar o troféu com dois empates mas o rival era tão ruim que os gols saíram naturalmente, repito, sem esforço. No mais, parabéns ao Tite. Ele merece (muito).

Juan: o pior de todos os tempos
Quanto ao São Paulo, após seis derrotas seguidas e nove jogos sem vencer, até o mais otimista dos otimistas admite que a perspectiva a curto e médio prazo é a pior possível. No sábado, enfrenta o embalado Cruzeiro, quarto colocado na tabela do Brasileirão, que goleou o Náutico na última rodada. Depois, os comandados por Paulo Autuori enfrentam o... Corinthians - e novamente no Pacaembu. Ficou com dó? Calma, tem mais. Logo após essas duas pedreiras (com previsível possibilidade de derrotas), o time embarca para Munique, na Alemanha, para disputar a Copa Audi, torneio amistoso. E sabe quem é o primeiro - e, com certeza, único - adversário? O Bayern. Atual campeão europeu. Treinado por Pep Guardiola. Sim, o São Paulo, que perdeu bisonhamente para Goiás, Bahia e Vitória e só assistiu Santos e Corinthians derrotá-lo tranquilamente irá enfrentar o Bayern de Schweinsteiger com Lúcio, Tolói, Denilson, Ganso, Juan e Douglas. O que só confirma o alerta que fiz logo após o show de bola sofrido na goleada por 4 a 1 para o Atlético-MG, na eliminação da Libertadores: "A derrota de ontem não será o último vexame de 2013. Já que o clube é o da fé, vamos rezar muito". Não sei se o Bayern terá a mesma cordialidade do Corinthians. A iminência de um vexame épico é mais do que plausível.

Ps.: Segundo o blog de Paulo Vinicius Coelho, o São Paulo não perdia seis vezes seguidas desde 1936, primeira temporada após sua refundação. Naquele tempo, dois anos antes da fusão com o respeitado Estudantes, da Mooca, o Tricolor era um catado de jogadores medíocres, sem campo para treinar ou mandar jogos e nem local para se concentrar - o que às vezes só ocorria, por misericórdia, na torre da Igreja da Consolação, pois o padre era sãopaulino. Era um verdadeiro saco de pancadas, considerado inferior à Portuguesa e anos-luz atrás de Corinthians, Palestra Itália e Santos (terminou o Paulistão de 36 em oitavo e o de 37 em sétimo). Só viraria "gente grande" na década seguinte, após a chegada de Leônidas da Silva e a conquista de cinco títulos paulistas. Mas hoje, 77 anos depois, o São Paulo revive e regride à fase quixotesca de seu início. Parabéns, Juvenal Juvêncio. Você conseguiu.



(Fotos: Rubens Chiri/ SPFC)

quarta-feira, julho 17, 2013

Cachorradas nos batalhões

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Pichação 'Dilma sapata' em estrutura metálica da Praça do Patriarca, em São Paulo: feita no mesmo protesto em que gritavam contra Marco Feliciano e o projeto da 'cura gay'

"Há, em qualquer brasileiro, uma alma de cachorro de batalhão. Passa o batalhão e o cachorro vai atrás. Do mesmo modo, o brasileiro adere a qualquer passeata. Aí está um traço do caráter nacional." - Nelson Rodrigues
Sim, as manifestações de rua são livres e justas. Estamos num regime democrático. Mas é claro que, se o Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do finado escritor Sérgio Porto) ainda existisse, teria reunido farto material para mais duas ou três edições do "Febeapá - Festival de Besteiras que Assola o País". Abaixo, relato cinco fatos presenciados por mim que justificam a "alma de cachorro de batalhão" descrita por Nelson Rodrigues - ou que simplesmente ilustram a expressão "vergonha alheia":

1 - Em manifestação tipicamente "contra tudo e contra todos", no dia 1º de julho, um grupo de mais ou menos 100 jovens e adolescentes marchou do Largo da Batata até a Assembleia Legislativa de São Paulo. E exibiu orgulhosamente, para os deputados ESTADUAIS, uma faixa de uns 10 metros de comprimento com os seguintes dizeres: "FORA RENAN";

Faixa protestando contra Renan Calheiros: é possível até que os deputados estaduais se sensibilizem com a causa, mas talvez fosse mais produtivo se eles atuassem no Congresso Nacional...


2 - No mesmo protesto, lideranças de dois grupos formados em redes sociais - um era "Basta não-sei-o-quê" e outro, "Corrupção não-sei-das-quantas" - brigavam no megafone pelo comando dos manifestantes. Uns queriam que o grupo marchasse até a Avenida Paulista, outros, para a 23 de maio. Nisso, os que seguravam a faixa "Fora Renan" começaram a gritar: "23 NÃO VOU! 23 NÃO TEM METRÔ!";

3 - Passeata dos médicos, dia 16 de julho, reuniu diversos profissionais brandindo no ar, como se fossem cartazes, CAPAS DO JORNAL O ESTADO DE S.PAULO...

4 - Um amigo me conta que, no Rio de Janeiro, um grupo queria marcar uma manifestação na orla de Copacabana. E a principal discussão, entre os "organizadores", era sobre o ponto de encontro: qual posto seria melhor para, após o protesto, PEGAR UMA PRAIA.

5 - Numa postagem em rede social, alguém comenta orgulhosamente que estas são "as maiores manifestações de rua do Brasil em todos os tempos". Outra pessoa discorda e observa que talvez não tenham sido maiores que o comício das Diretas na Praça da Sé, em 1984, ou a Passeata dos 100 mil, no Rio, em 1968. O que deu margem para réplicas acaloradas e raivosas, dizendo, por exemplo, que o movimento Diretas Já não existiu (!) - "Foi invenção da mídia!" - ou que, melhor ainda, "MANIFESTAÇÕES IGUAIS A ESTAS SÓ EXISTIRAM NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL". Este comentário teve dezenas de pessoas curtindo/apoiando...


Propaganda de um filme pega carona nos 'Anonymous' que proliferaram pelos protestos Brasil afora - e o slogan 'o gigante acordou' remetia a uma campanha publicitária de uísque


segunda-feira, julho 15, 2013

Ameaça de rebaixamento em 5, 4, 3, 2...

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Autuori: pior que o time do Vasco, só o São Paulo
Paulo Autuori pulou da panela pra cair no fogo. Se o treinador considerou uma real possibilidade de rebaixamento para sair do Vasco, agora já deve ter percebido que a situação não é menos crítica no São Paulo. Com um jogo a mais em relação aos adversários (adiantou o confronto com o Bahia para poder viajar e disputar a Copa Suruga, no fim do mês), o Tricolor do Morumbi tem míseros 33,3% de aproveitamento, com apenas 8 pontos em 24 disputados, e já contempla a zona de rebaixamento como campo de batalha nos próximos meses. Afinal, ainda nem enfrentou Coritiba, Botafogo, Cruzeiro e Internacional, quatro dos cinco melhores times do campeonato até aqui. A derrota para o Vitória por 3 a 2, em Salvador, foi a terceira seguida no torneio - e a quinta em sequência se considerarmos o amistoso com o Flamengo e a primeira partida da decisão da Recopa contra o Corinthians. Queda livre em um abismo que nem chegou ao meio...

A realidade é assustadora. Tirando Rogério Ceni, Jadson e Osvaldo, nenhum outro atleta tem condições de ser titular do São Paulo. Ganso e Luís Fabiano só estão "jogando" com o nome. Aloísio, Rodrigo Caio e Denílson são perfeitos como reservas, para completar elenco - bem como Roni, Caramelo, Silvinho, Ademilson e Lucas Evangelista. Todos os outros poderiam rescindir contrato JÁ, IMEDIATAMENTE (ou melhor, nunca deveriam ter sido contratados): Lúcio, Edson Silva, Rafael Tolói, Maycon, Fabrício, Juan, Douglas, Lucas Farias, João Schmidt, Alan. Sobre o contundido Negueba, que nunca jogou, e o recém-contratado Clemente Rodríguez, que entrou em uma só partida, não dá pra opinar. E Wellington e Rhodolfo parece que já estão vendidos, graças a Deus! Ou seja: Paulo Autuori tem oito posições para preencher no time titular. OITO! O São Paulo vai de mal a pior e o técnico não tem zagueiros, nem volantes, nem laterais. Quando eu digo "não tem" significa NÃO TEM. Ninguém. Nenhuma opção. Nenhuma saída.

Começo a compreender o que os palmeirenses sentiam no Brasileirão 2012: DESESPERO.


Merval Pereira, o trabalhador, as manifestações e o que isso tem a ver com a democratização da comunicação

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Quem cantou a bola foi o Azenha nesse post do Viomundo. De fato, a conversa entre o “imortal” Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg é daquelas memoráveis pelo que nem dá pra chamar de “atos falhos”, já que a opinião do membro da ABL já foi emitida, de outras formas, em ocasiões diversas.
O áudio está aqui, mas selecionamos os “melhores momentos”:

Sardenberg – As centrais sindicais tentaram pegar uma carona nessa onda de manifestações mas não se deram muito bem não, né?
Meval – Não, não, ficou muito claro que a capacidade de mobilização delas é menor do que a capacidade de mobilização das redes sociais. E também a adesão popular foi nula, praticamente. Porque também as reivindicações eram coisas muito específicas da classe trabalhadora, né? Jornada de 40 horas, fim do fator previdenciário, esse tipo de coisa que só mexe com quem está com esse problema, né?


Bom, primeiro que dizer que as centrais “quiseram pegar carona” dá a sensação de que o sindicatos não fazem mobilizações. Talvez porque a falta de cobertura da mídia tradicional dê uma impressão errada. As centrais fizeram, por exemplo, uma marcha no mês de março que reuniu 50 mil pessoas, ou 25 mil, de acordo com a PM, em Brasília. 

Para efeito de comparação, a mais vistosa manifestação em Brasília durante o mês de junho teve um público calculado de 30 mil pessoas, bem próximo ao da Marcha, que não depende de “onda” alguma, como sugere o comentarista da CBN. Mas talvez ele não tenha sabido da existência do evento. Busque no Google as referências a respeito na velha mídia, talvez não ache nada nas primeiras páginas. Mas você vai encontrar, fácil, fácil, cobertura de protestos “contra a corrupção” ou similares que reuniram 50, 100, 200 pessoas no máximo.

Mas o “melhor” momento é quando Merval fala que as reivindicações eram “coisas muito específicas da classe trabalhadora”. Ou seja, como o trabalhador, pelo silogismo mervaliano, não é “povo”, suas bandeiras não interessam ao resto da sociedade. Claro, o fator previdenciário não interfere em nada na rotina de quem ainda vai ingressar no mercado de trabalho, se isso não for explicado para ele. E os veículos tradicionais certamente não vão fazer questão de debater e explicar isso para a população. O mesmo vale para a jornada de 40 horas e outros pontos que precisam de debate e pressão popular (isso inclui trabalhadores, Merval) para fazerem parte da pauta do Congresso.

Sardenberg – Agora, por outro lado, quando a gente tinha feito aqui entrevista com sociólogo... O Renato Meirelles, do Datapopular, por exemplo, chamava a atenção que nas manifestações de junho você via classe média, né? Ele disse que era preponderantemente manifestações de classe média. Ontem não, ontem já tinha trabalhador, tinha mais negros, cara aí de trabalhador e tal.
Merval – O balanço é ruim pro governo, né, porque as reivindicações dos trabalhadores são em cima do governo, as reclamações são contra o governo, e as outras da classe média também foram contra o governo. Tem um problema sério que assim como rejeitaram os partidos políticos, também as centrais foram rejeitadas, a UNE, o MST. Quer dizer, nenhum tipo de organização formal está conseguindo capitalizar, cooptar, organizar a insatisfação na sociedade. Isso é que é preocupante, porque você tem que ter canais organizados para que essas inquietações sejam solucionadas dentro da normalidade, dentro da ordem pública e das instituições que existem.

Significativa a conclusão de que o balanço é ruim pro governo, porque “as reivindicações dos trabalhadores são em cima do governo, as reclamações são contra o governo, e as outras da classe média também foram contra o governo”. É evidente que o governo (federal) é alvo, mas não só ele. Antes que se esqueça disso na próxima esquina, o estopim dos protestos foi a questão do aumento da tarifa em inúmeras cidades e o que levou muito mais gente à rua em um segundo momento foi a indignação contra a violência policial em muitos locais. Ou seja, estamos falando de questões da alçada de prefeituras e governos estaduais.

Quanto às questões da pauta das centrais, a maior parte depende sim do empenho do governo, que se omite em boa parte desses pontos. Mas é o Congresso o campo principal dessas batalhas. O mesmo Congresso que, quando finge ouvir a voz das ruas, na verdade reage em relação à pressão da narrativa imposta pela mídia oligopolizada. Narrativa esta que é representada por Merval, praticamente aquele tradutor da voz dos donos que chega e diz “olha, se você não entendeu o que nossa linha editorial por meio do nosso noticiário quis dizer, eu explico”.

Aí sim o governo tem uma responsabilidade brutal. É a concentração midiática, questão praticamente intocada durante anos do governo Lula e também no governo Dilma, que permite que um poder que não se vê na maior parte dos países do mundo conte a História sem ouvir, por exemplo, os trabalhadores. Essa é, ou deveria ser, a pauta principal, a luta pela democratização da comunicação (que não tem a ver com censura, como muitos querem fazer crer).

E, talvez, essa luta já comece também a ganhar as ruas. Afinal, ao contrário do que diz o comentarista, não foram as centrais, o MST e UNE “rejeitados” nas manifestações, mas sim a Globo, alvo de protestos dos mais diversos, tanto meio às grandes concentrações de junho como agora, em eventos voltados especificamente para a democratização da comunicação. Uma batalha que certamente não será televisionada pelos canais de sempre.

domingo, julho 14, 2013

Sem meio nem estabilidade, Corinthians perde dos reservas do Galo

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Hoje não deu pro Pato, nem aqui, nem
acolá (Eduardo Viana/LancePress)
A enorme e variada lista de contusões no meio-campo cobrou seu preço neste domingo, quando o Corinthians perdeu para os reservas do Atlético MG em pleno Pacaembu. A completa falta de toque de bola no que deveria ser o setor pensante do time é sem dúvida a causa técnica para a derrota. Mas não é desculpa para um resultado tão vexaminoso.

Não que o time enviado a campo pelos mineiros seja tão ruim assim. Tinha, Réver, o goleiro Vitor, que fez umas três belíssimas defesas, Guilherme, autor do salvador gol de quarta-feira, por exemplo. E Bernard, que deu hoje o passe para Rosinei marcar o gol da vitória do Galo, marcando mais um ponto para o espírito dos ex-jogadores contra seus times passados. O gol contou ainda com uma marcação frouxa de Edenílson sobre o selecionável atleticano e uma cochilada imperdoável de Paulo André na pequena área.

Sem Douglas, Danilo, Renato Augusto e Emerson, A linha de três no meio campo foi formada por Ibson, Pato e Romarinho, Guerreiro na centravância. Em linhas gerais, o Galo se defendeu e explorou contra-ataques e o Corinthians tentou, tentou e tentou marcar o seu.

As melhores chances estiveram nos pés de Romarinho, que tem uma deficiência crônica no arremate. Pato, que destruiu contra o Bahia, não encaixou dois bons jogos em sequência, perdeu duas chances e foi homenageado às avessas pela torcida.

Sequência, aliás, parece ser algo impensável para o Corinthians neste ano da graça de 2013. Novos jogadores, contusões a granel e Tite que se vire. Ainda é cedo, o Brasileirão é longo. Mas sem estabilidade, não se disputa campeonato de pontos corridos.

quinta-feira, julho 11, 2013

O milagre cai duas vezes no mesmo lugar

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Quando o Tijuana foi bater o pênalti que desclassificaria o Galo nos acréscimos do segundo tempo, pensei comigo que a história de chegar muito perto de um título importante e ser derrotado aconteceria novamente. Pessimismo de quem se tornou atleticano para sempre na derrota para o São Paulo, no Brasileiro de 1977, na derrota nos pênalties.

Ontem à noite, o garoto de 12 anos voltou. À época, em março de 1978, a certeza da vitória. Hoje, décadas depois, mais calejado, com o pessimismo que a vida ensinou, novamente esperava o momento em que tudo daria errado. Não deu. Mesmo depois de Jô e Richarlyson errarem suas cobranças. Por incrível que pareça os argentinos também perderam. E de novo estava lá o goleiro Victor para fazer mais um milagre no momento decisivo, contra o craque do Newell´s Old Boys, na última cobrança.

Confesso que as visitas aos cardiologistas nos últimos anos e os remédios tomados cotidianamente para controlar a pressão funcionaram. O coração resistiu mais uma vez.

E resistiu num jogo tenso o tempo todo. O começo, com o gol de Bernard logo aos 3 minutos, foi enganoso.  O bom time argentino encaixou a marcação e sempre levou perigo com os atacantes Scocco e Maxi Rodriguez. O Galo teve boas chances com Bernard e Josué, mas o gol não saía. E nem adianta reclamar de dos pênalties não dados pelo juiz. Não vão marcar nada a favor de time brasileiro este ano mesmo.

Mas no segundo tempo o Atlético entrou visivelmente nervoso, errou demais, teve sorte de não tomar um gol e só reagiu a partir das mudanças de Cuca, com as entradas de Luan, Alecsandro e Guilherme. E a participação do ex-cruzeirense foi tão decisiva quanto a queda da luz. Finalizou bem uma primeira vez e a bola passou perto da trave. No segundo chute, fora da área, fez o gol mais decisivo de seus dois anos no Galo. O resto é história. Como foi histórico o apagão dos refletores. A luz voltou e o time se iluminou novamente nos minutos finais (não resisti ao trocadilho).

Por último, quem vive falando do azar do Cuca é bom mudar o lado do disco. Mesmo que perca a final (mangalô três vezes), não pode ser chamado de azarado depois de seu time se classificar duas vezes da forma como fez. Que venga el Olimpia. Por precaução, vou dobrar a dose dos remédios.

O fundo do poço pode ser BEM mais fundo do que parece

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Luís Fabiano foi chamado de 'pipoqueiro' pela torcida. E agradeceu! (Foto: Leonardo Soares/UOL) 

No dia 9 de maio, depois de o São Paulo ser eliminado da Libertadores com uma goleada de 4 a 1 para o Atlético-MG (que saiu barato, em vista do volume de jogo do adversário), eu alertei aqui no Futepoca:
"Não sejamos ingênuos, sãopaulinos. A derrota de ontem não será o último vexame de 2013."
Dito e feito: ontem, o time quebrou mais um recorde ao completar, pela primeira vez em sua história, quatro derrotas seguidas em pleno Morumbi. E perdeu - de virada - para o Bahia, clube que enfrenta crise administrativa e é comandado atualmente por um presidente interino indicado pela Justiça. A diminuta torcida do Bahia presente ao estádio encerrou a partida aos gritos de "Olé! Olé! Olé!". E o time comandado interinamente por Milton Cruz só não levou mais gols pela falta de pontaria dos baianos em alguns lances.
"O São Paulo é um time de vagabundo, né, vamos dizer. Porque tem jogador lá que não merece usar a camisa do São Paulo."
Esta frase, dita pelo ex-jogador sãopaulino Haroldo Cristofani, 79 anos, em entrevista ao jornal Lance! (e que reproduzi aqui no blog no dia 3 de julho), resume muito bem o que é o time sãopaulino, hoje em dia. Não vou mais gastar palavras sobre a qualidade técnica do elenco. Pra mim, tirando Jadson e Osvaldo, nenhum outro é imprescindível. Falo, agora, sobre a POSTURA dos jogadores. Ficou nítido, contra o Goiás, o Corinthians, o Santos e o Bahia que os profissionais do São Paulo NÃO QUEREM jogar bola.

Porque, por mais grossos e limitados que sejam, nada justifica ANDAR em campo os 90 minutos, como quem aguarda o tempo passar, com certo enfado e impaciência. Nada justifica tantos passes errados, tantos passes de lado, para trás, tantos chutes a esmo, ridículos. Ninguém que chega a um time do porte do São Paulo é tão ruim nesse nível (tudo bem, É ruim; mas não tanto!). E esse é o maior perigo: o elenco jogou a toalha. Todos, ali, só estão esperando uma transferência. O São Paulo NÃO é o projeto deles.

Exemplo maior: Luís Fabiano, que quase não pegou na bola, tomou dois cartões amarelos e, pra NÃO variar, foi expulso. Certa vez, o camarada Glauco observou muito bem que o São Paulo tem "muita cobra criada". É verdade. Além de Luís Fabiano, Lúcio e Rogério Ceni têm o perfil de quem não vai acatar ordem nenhuma, nem de treinadores e nem da direção do clube. Para eles, o currículo e o salário servem como licença para fazerem o que quiserem - quando e SE quiserem. O resto do time é apenas fraco. Limitado.

Gol do Bahia. Rogério Ceni é uma das 'cobras criadas' do time. (Foto: Leonardo Soares/UOL)

O panorama, este ano, é muito mais preocupante do que nas quatro temporadas anteriores. Porque já deu para perceber que a situação do São Paulo não é "má fase", "crise temporária". É crônica! Estamos em julho, a apenas cinco meses do fim do ano, e não existe "time". Num campeonato como o Brasileirão, perder pontos dentro de casa para Goiás e Bahia pode custar muito caro no final. Leia-se: rebaixamento.

Exagero? Pois lembremos que, em 2013, o São Paulo venceu apenas UM jogo importante, os 2 a 0 contra o Atlético-MG no Morumbi, pela fase de grupos da Libertadores. Mas, convenhamos, o adversário já estava classificado e encarou como jogo-treino, tirou o pé totalmente. Na Libertadores, o São Paulo foi derrotado TODAS AS VEZES que jogou fora de casa. No Paulistão, na primeira fase, o time perdeu para Corinthians e Santos e empatou com o Palmeiras. Ou seja, só venceu os times pequenos, do interior.

E caiu na semifinal - sem que o adversário fizesse força. Assim como na primeira partida da decisão da Recopa, quando o Corinthians também não fez esforço algum para vencer dentro do Morumbi. Agora, assim como na Libertadores, quando foi enfrentar o Atlético-MG no estádio Independência, o São Paulo corre o risco de ser goleado mais uma vez nessa partida de volta, dentro do Pacaembu, dia 17. Será uma derrota que a torcida não vai perdoar, como cartão de "boas vindas" para o técnico Paulo Autuori. Que, com certeza, vai ouvir gritos de "É Muricy!" até o dia de sua demissão, mais do que previsível. 

Torcida do São Paulo, chegou a hora de ter mais fé do que nunca. Porque, com esse time aí, a perspectiva de mudança é quase nula. E o fundo do poço pode ser bem mais fundo. Palmeirenses sabem disso.


quarta-feira, julho 10, 2013

15 motivos para os rivais gritarem 'Juvenal eterno!'

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Paulistão de 1990 ainda causa polêmica: 'herança' de Juvêncio
No dia 23 de abril de 1990, Juvenal Juvêncio encerrou seu primeiro mandato como presidente do São Paulo Futebol Clube, iniciado dois anos antes. No período, conquistou um mísero Campeonato Paulista e um vice-campeonato brasileiro, ambos em 1989. Mas sua "herança" foi bem pior. Duas semanas antes de deixar a presidência do clube, Juvêncio derrubou o técnico Carlos Alberto Silva, após uma derrota por 2 a 0 para o Palmeiras, no Paulistão. Começava ali uma sequência de 17 jogos (8 vitórias, 6 empates e 3 derrotas) - 10 partidas comandadas pelo interino Pupo Gimenes e 7 pelo novo treinador Pablo Forlán - que marcaria uma das piores campanhas do São Paulo no campeonato estadual em todos os tempos e que causa polêmica até hoje - se deveria ou não ter sido rebaixado.

Juvenal pegou carona nas glórias de Gouvêa
Pois bem. O tempo passou e, em 2003, Juvenal Juvêncio voltou à cúpula do clube, como diretor de futebol. O sucesso da gestão de Marcelo Portugal Gouvêa, com as conquistas do Paulistão, da Libertadores e do Mundial de 2005 credenciaram Juvêncio a voltar à presidência, em abril de 2006. Antes de sair, Gouvêa deixou Muricy Ramalho como técnico, que seria o principal responsável pelo tricampeonato brasileiro conquistado entre aquele ano e 2008. O São Paulo tinha um bom elenco, havia recuperado seu prestígio com duas conquistas internacionais, conseguia fazer bons negócios aos vender e comprar jogadores, estava com dinheiro em caixa e, praticamente, já dava como certo o Morumbi sediar jogos da Copa de 2014. Mas "havia um Juvenal Juvêncio no meio do caminho...". E, a partir de sua reeleição, em abril de 2008, as coisas começaram a mudar (para muito pior) no clube.

Abaixo, 15 besteiras cruciais de Juvêncio nos últimos anos, que afundaram o São Paulo e fizeram os rivais gargalharem com a campanha "Juvenal eterno!":

1 - Briga no "Clube dos 13" (2007) - Pensando ter mais poder do que de fato possuía, Juvenal Juvêncio comandou uma insurreição para tentar mudar o estatuto do "Clube dos 13", grupo de grandes clubes brasileiros criado em 1987. Juvenal fez com que São Paulo, Atlético-MG, Botafogo, Cruzeiro e Flamengo comunicassem que, a partir de outubro de 2007, atuariam em bloco dentro do grupo. Excluído, o Corinthians aproveitaria discordâncias no pagamento de cotas de TV, em 2011, para sepultar o "Clube dos 13". Antes disso, Juvenal arruinaria as chances de o Morumbi sediar jogos da Copa de 2014 ao apoiar Koff numa eleição do "Clube dos 13" contra Kléber Leite, o candidato de Ricardo Teixeira, da CBF. Ou seja, o São Paulo não ganhou nada com isso. Só inimigos. E derrotas.

2 - Briga com a Federação Paulista (2008) - Reeleito presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio decidiu brigar com o presidente da FPF, Marco Polo Del Nero. A primeira confusão ocorreu na semifinal do Paulistão de 2008. Juvenal não queria jogar no Parque Antartica (o jogo do controverso episódio do gás). Depois, em dezembro, Del Nero enviou à CBF denúncia de um suposto esquema de favorecimento ao São Paulo contra o Goiás, pela última rodada do Brasileirão (o chamado “caso Madonna”). Brigado com a FPF, Juvêncio iniciou o isolamento político que culminou na exclusão do Morumbi da Copa de 2014.

3 - Politicagem para o lado errado (2008) - Após as eleições municipais, em 2008, Juvenal chamou o vencedor Gilberto Kassab para entregar uma camisa do clube com a porcentagem de votos obtida por ele. Foi um "tapa na cara" da candidata derrotada Marta Suplicy e do PT - e um afago no então governador José Serra (PSDB), de quem Kassab era pupilo. Resultado: nem Serra nem Kassab fizeram as obras de mobilidade que poderiam garantir o Morumbi na Copa. E o PT se aproximou do Corinthians.

4 - Perda de bilheteria no Morumbi (2009) - Chateado com a iniciativa do São Paulo de disponibilizar apenas 10% da carga total de ingressos para o Corinthians em um Majestoso disputado no Morumbi, em fevereiro, o presidente do clube alvinegro, Andrés Sanchez, decidiu não mandar mais jogos no estádio. Logo depois, o Palmeiras tomaria a mesma atitude. Com isso, além de perder somas consideráveis com o aluguel do estádio aos dois rivais, Juvenal Juvêncio isolou ainda mais, politicamente, o São Paulo.

5 - Demissão de Muricy Ramalho (2009) - Tudo bem que é difícil segurar um técnico depois de seu quarto fracasso consecutivo na Copa Libertadores. Mas Muricy era tricampeão brasileiro (com responsabilidade fundamental nestes sucessos) e cumpria outras importantes funções: valorizava/revelava jogadores e indicava/barrava contratações, impedindo/consertando besteiras de Juvenal. Muricy seria campeão brasileiro pelo Fluminense e paulista e da Libertadores pelo Santos. O São Paulo, nada disso.

6 - Baciada de "reforços"/refugos (2010) - A confirmação de que Muricy freava a insanidade de Juvenal veio no início da temporada seguinte, quando, sem consultar a comissão técnica, o clube trouxe 11 "reforços" (um time inteiro!). A maioria nunca justificou o investimento: André Luis, Xandão, Alex Silva, Rodrigo Souto, Carlinhos Paraíba, Léo Lima, Marcelinho Paraíba, Fernandinho, Cléber Santana, Cicinho e Fernandão. O "balaio" sepultou a intenção do técnico Ricardo Gomes de definir um time titular.

7 - Arouca no Santos (2010) - Nessa leva de transações feitas "na baciada", Juvenal Juvêncio cometeu um dos maiores desatinos do futebol brasileiro em todos os tempos: entregou o volante Arouca, que tinha feito um ótimo Brasileirão em 2009, para o Santos - em troca do também volante Rodrigo Souto (!). Resultado: Arouca foi uma peça fundamental do time santista tricampeão paulista, campeão da Copa do Brasil e da Libertadores. E tem sido convocado para a seleção. Outra burrice foi ter liberado Jean para o Fluminense. Foi campeão e considerado um dos melhores volantes do Brasileirão de 2012. E também está na seleção. 

8 - Perda do craque Oscar (2010) - Enquanto investia dinheiro alto em uma dúzia de "craques" como Cléber Santana, Léo Lima e Marcelinho Paraíba, o São Paulo deixava de valorizar suas jóias. No fim de 2009, início de 2010, sem perspectivas de chegarem ao time de cima, quatro jogadores das categorias de base entraram na Justiça para pedir rescisão de contrato. Entre eles, o meia Oscar, que foi para o Internacional e acabou vendido ao inglês Chelsea por R$ 80 milhões. Ah, e é titular da seleção brasileira.

9 - Morumbi fora da Copa (2010) - Essa foi a derrota mais sonora de Juvenal Juvêncio nos bastidores (porque, dentro do campo, foram tantas de 2009 para cá que ficaria extenso compilar). Oficialmente, a Fifa descartou o estádio por falta de "garantias financeiras". Mas, como exposto antes, ficou claro que a briga de Juvenal com a Federação Paulista, com o "Clube dos 13" e com a CBF foram preponderantes para o clube perder o que parecia certo. Pior: o rival Corinthians ganhou um estádio novo e sediará jogos da Copa, inclusive a abertura.

10 - Reforma do estádio emperrada (2010-2015) - Juvenal tinha tanta certeza de sediar jogos da Copa no Morumbi que engatou um plano de reforma total do estádio. Na cabeça dele, com certeza entraria dinheiro do governo federal - e alguma coisa da Prefeitura e do governo estadual. Deu com os burros n'água e, hoje, enquanto assiste os rivais Corinthians e Palmeiras construírem casas novas e modernas, não tem de onde tirar R$ 300 milhões para prosseguir com uma reforma da qual não tem mais como voltar atrás.

11 - Golpe no estatuto do clube (2011) - Com a desculpa de que precisaria ser mantido no poder caso o Morumbi sediasse jogos da Copa de 2014, Juvenal articulou um golpe para permitir seu terceiro mandato como presidente do São Paulo. Em fevereiro de 2011, a oposição conseguiu uma liminar para impedir a votação no âmbito do Conselho, pois qualquer mudança estatutária só poderia ocorrer por meio de uma Assembléia Geral. Juvenal aprovou o golpe e venceu na Justiça, consolidando sua "ditadura" no clube.

12 - Debandada de profissionais (2010-2011) - A "dinastia" Juvêncio também afastou vários profissionais do São Paulo. Em julho de 2010, o fisiologista Turíbio Leite de Barros, que estava no clube há 25 anos, foi demitido. Em dezembro do mesmo ano, foi a vez do preparador físico Carlinhos Neves ser dispensado (hoje é um dos responsáveis pelo time do Atlético-MG estar "voando baixo"). Logo em seguida, em janeiro de 2011, Marco Aurélio Cunha pediu demissão do cargo de superintendente de futebol. Já em abril de 2013, o clube demitiu o fisioterapeuta Luiz Rosan, um dos criadores do Reffis, núcleo de reabilitação de ponta. O último foi o vice-presidente administrativo, Ricardo Haddad, que pediu demissão para apoiar Marco Aurélio Cunha. 

13 - Má escolha e fritura de técnicos (2009-2013) - Quando Muricy saiu, a escolha de Ricardo Gomes mostrou que, a partir dali, Juvenal só apostaria em técnicos "dóceis". Gomes não teve voz para impedir a "baciada" de contratações que inviabilizou seu trabalho. Para o seu lugar, veio o "funcionário" Sérgio Baresi, que recebia ordens até do Rogério Ceni. Depois, Carpegiani, que teve que engolir Rivaldo, outra contratação unilateral de Juvenal. Adilson Batista chegou - e saiu - sem respaldo. Aí ressuscitaram Leão, desautorizado publicamente no "caso Paulo Miranda". E Ney Franco, que aceitou calado os sete expurgos de Juvenal.

14 - Expurgo e desvalorização de jogadores (2013) - Depois de eliminações seguidas em duas competições (Paulista e Libertadores), em maio de 2013, Juvenal baniu sete jogadores do São Paulo. Entre eles, o até então titular Cortez, que custou R$ 7 milhões e, depois do expurgo, deverá ser vendido por R$ 5 milhões ao português Benfica (sendo que, no fim de 2012, teve oferta de R$ 19,5 milhões do ucraniano Metalist, recusada por Juvenal). Cañete, que custou R$ 4,7 milhões, foi emprestado à Portuguesa.

15 - Desperdício de dinheiro (2010-2013) - Somente nas últimas quatro temporadas, Juvenal trouxe 28  jogadores (sem contar o recém-chegado Clemente Rodríguez), por um custo estimado em R$ 91,9 milhões. A despesa com contratações subiu de R$ 18 milhões, em 2010, para R$ 68,6 milhões em 2012, de acordo com o balanço do clube. Em 2011, o custo foi de R$ 57,7 milhões. Paulo Henrique Ganso, contatado por R$ 24 milhões, não é nem sombra do que era em 2010. E nem merece ser titular. Luís Fabiano, que custou R$ 20 milhões, não teve proposta nem de R$ 15 milhões para sair. Só por causa disso, ficou.

Fora esses erros, ainda há o "estilo Juvenal Juvêncio" de ser. Falastrão, arrogante, preconceituoso, ridículo. O que também ajuda a entender a quantidade de bobagens feitas em sua administração e a velocidade com que conseguiu transformar o São Paulo de melhor do país em motivo de piada. Em abril de 2010, Juvenal afirmou que o time do Santos era "de médio para pequeno" (sim, o Santos que estava dando show naquela época, com Neymar, Ganso e Robinho, e que eliminaria o São Paulo por três anos seguidos na semifinal do Paulistão). Em outra ocasião, "matou" Ricardo Teixeira, dizendo que tinha posições contrárias a ele "quando ele estava vivo" (detalhe do mau gosto: Teixeira está doente). Seu preconceito também se direcionou ao estádio do Corinthians: "Para você chegar lá (Itaquera) precisa chamar o corpo de bombeiros. Se você pega a Angela Merkel, da Alemanha, ela não chega lá. Se tiver de sair, também não sai". Em 2011, tentou ofender Andrés Sanches dizendo que seu problema era "o mobral inconcluso". E voltaria à carga em 2012, chamando-o textualmente de "analfabeto".  Mas foi aí que o ex-presidente do Corinthians colocou Juvenal em seu lugar, ao recordar que "ele era presidente da Cecap em um escândalo de anos atrás". Juvenal foi dirigente da companhia habitacional Cecap (atual CDHU) quando Laudo Natel era governador - e essa foi sua ponte para alçar vôo no São Paulo. Naquela época, dizem que Natel usou recursos públicos para terminar o Morumbi.

Bem, é claro que todos os cartolas, de todos os times, erram. E que Juvenal Juvêncio teve seus méritos no São Paulo. Mas os 15 tópicos acima ajudam a entender como o clube despencou tão vertiginosamente dentro de campo, nos últimos anos. Juvenal representa o que existe de mais atrasado, centralizador, prepotente, preconceituoso, arrogante e reacionário no futebol brasileiro. É por isso que o São Paulo, hoje, é isso que está aí. E não vai adiantar mudar técnico nem jogadores. FORA, JUVENAL!

terça-feira, julho 09, 2013

Jornalistas, uni-vos contra o autoritarismo do governo Dilma Rousseff

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(Luiz Filipe Barcelos/ UnB Agência)

Atenção, jornalistas!
A gente precisa fazer alguma coisa urgente!
Já pensaram se a ditadora da presidenta Dilma resolve obrigar todo jornalista recém formado a trabalhar por dois anos na EBC, ganhando R$ 10 mil por mês?
Onde vamos parar, categoria?
Precisamos nos unir aos médicos antes que essas medidas totalitárias também atinjam a nós!!!!!!!!


(Via Vinicius Souza)

domingo, julho 07, 2013

Deu Claudinei Oliveira no duelo de interinos OU Problema do São Paulo não é o técnico

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Durval levou a melhor sobre Luís Fabiano (Ivan Storti/LANCEPress)
O Santos conseguiu uma boa vitória por 2 a 0 contra o São Paulo, fora de casa, e mostrou que pode ser uma boa insistir no técnico interino Claudinei Oliveira (ou transformá-lo em auxiliar de um eventual novo treinador). Na segunda etapa, o treinador decidiu o jogo ao colocar em campo os garotos Giva - que abriu o placar - e Pedro Castro, somando-os a Leandrinho, Neilton e Gustavo Henrique. Este último anulou completamente o centroavante Luís Fabiano e comprovou que a nova safra de moleques da Vila pode, com alguma lapidação, mostrar resultados bem consistentes. Pontos positivos, também, para o goleiro Aranha, que impediu com duas defesas de cinema que o São Paulo abrisse o placar no primeiro tempo, quando teve o domínio da partida; e para Montillo, meia que teve lampejos dos bons tempos de Cruzeiro.

O São Paulo, derrotado novamente em pleno Morumbi (onde já havia perdido para o Goiás), mostrou que, definitivamente, seu problema não é treinador. Milton Cruz, que comandou interinamente o clube após a demissão de Ney Franco, na sexta-feira, até tentou imprimir um toque pessoal: colocou Ganso como ponta-esquerda e desviou Osvaldo para o lado oposto do ataque, com Jadson centralizado na armação e Luís Fabiano na frente. Foi triste ver Osvaldo perder todas as bolas para o veterano Léo e Ganso praticamente não pegar na bola, consolidando-se, cada vez mais, como um peso morto no time e candidato ao banco de reservas com todos os "méritos". Luís Fabiano e Osvaldo perderam gols feitos no primeiro tempo, Jadson perdeu outro no início da segunda etapa e o ditado "quem não faz, toma" prevaleceu...

Mas é gritante a RUINDADE do time do São Paulo. A zaga pesada, lenta e mal posicionada formada por Lúcio e Rhodolfo conseguiu tomar dois gols de cabeça de jogadores que não deveriam superá-los em estatura (pelo menos isso). Rodrigo Caio levou um baile na lateral-direita tricolor, de onde vieram os cruzamentos para os gols. Juan é NULO na lateral-esquerda. O volante Wellington está virando motivo de piada no meio. Denílson, Ganso e Luís Fabiano praticamente não entraram em campo. Aloísio, Maycon e Ademilson não servem sequer como opções no banco de reservas. O locutor radiofônico Nilson César definiu muito bem: Ney Franco fez milagres com esse time enquanto o comandou. Arrisco dizer que 80% dos atletas que ali estão não deveriam nunca ter vestido a camisa do São Paulo - nem em teste.

Qualquer um que venha, Paulo Autuori (o mais provável) ou Muricy Ramalho, terá um imenso "abacaxi" nas mãos. Porque terá que trocar toda a zaga: Lúcio, Rhodolfo, Tolói e Edson Silva são tenebrosos, absolutamente inaproveitáveis. Porque terá, além da (ainda) incógnita Clemente Rodríguez, Reinaldo (que era vaiado recentemente no Sport) e o grosso Juan na lateral-esquerda. Terá que ser virar com o hediondo Douglas e os esforçados Rodrigo Caio e Mateus Caramelo na lateral-direita. Porque suas "opções" como volantes são Denílson (mediano), Wellington (ruim), João Schmidt (fraco) e Maycon (lento e improdutivo). Porque será obrigado, como todos os antecessores, a escalar o NULO Paulo Henrique Ganso. Porque terá Aloísio, Ademilson, Lucas Evangelista, Roni e Negueba no banco, quando pensar em mexer no ataque.

Ou seja: pesadelo. E, enquanto Juvenal Juvêncio for o presidente, NADA mudará. Mais vexames virão. Mais "reforços" inúteis chegarão. E mais técnicos serão trocados, ao sabor dos inevitáveis fracassos.




Corinthians 2 x 0 Bahia: Pato aqui, Pato acolá

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No bar, a comemoração que ninguém entendeu fez
lembrar Scorpion e Bane (Rodrigo Coca/Fotoarena)
Alexandre Pato passou dez jogos sem marcar pelo Corinthians. Aí, voltou contra o Bahia e meteu logo dois golaços, mostrando qualidades diversas em cada um, e ratificando sua condição de vice-artilheiro da temporada até aqui. Terminou 2 a 0 o jogo, sem muitas chaces para os donos da casa e nem muito desgaste para os visitantes, como tem sido a tônica desse econômico (preguiçoso?) Corinthians.

Todas as menções elogiosas vão para Pato, que jogando na ponta esquerda mostrou mais vontade e a qualidade de sempre, aparecendo em todas as posições do ataque. Todas as jogadas perigosas do Timão passaram por seus pés, como o lançamento em que deixou Guerrero na cara do gol para limpar o zagueiro Titi (o mais difícil) e tocar sem muito jeito nas mãos de Marcelo Lomba.

A essa altura, Titi já havia feito um gol bem anulado pela arbitragem por impedimento, numa falta cobrada na área. Uma das poucas, bem poucas chances do Bahia.

Antes disso, Pato havia recebido lançamento de Guilherme, matado no peito tirando dois zagueiros e tocado na saída de lomba. Bateu na trave, mas voltou no pé de Pato, sem trocadilhos, que dessa vez não perdeu.

Também já tinha pego o rebote dado pela zaga do Bahia após uma interessante tabela do Timão pela direita, que Romarinho interrompeu com um lançamento meio tosco para a área. A zaga tentou cortar e ela veio direto para Pato, que enfiou uma de três dedos de primeira, no ângulo. Golaço.

Feita a conta, o Corinthians recuou e esperou. Teve mais três ou quatro chances claras de ampliar contra zero do adversário. Jogo tranquilo.

De negativo, e bota negativo nisso, Renato Augusto saiu de campo com suspeita de fratura no osso esquerdo da face, que já machucou antes. Fruto de divi
dida com o ex-alvinegro Souza, que escolheu a pior forma possível para manter a sina de ex-jogadores que ferram seu time antigo.

Junte com as contusões de Danilo e Douglas - esta fruto da cavalice do sãopaulino Welington - e resta ao Timão o recém-chegado Ibson para jogar no meio-campo. Um problema, sem dúvida. Mas não maior do que a maldade dessa fase zicada de Renato, um bom meia que, com uma sequencia de alguns meses, fatalmente disputaria um lugar nas listas de Felipão, pelo menos como reserva de Oscar. Triste.

sexta-feira, julho 05, 2013

Ney Franco não chegou ao feriadão de 9 de julho no São Paulo

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Ney Franco disse que tinha 'força' na diretoria...
Faz um mês que o Futepoca já vinha avisando:

"Questionado sobre o clamor dos torcedores, o 'He Man' Ney Franco garantiu: 'Eu tenho força!' Mas, com esse time horrível e sem opções no elenco ou perspectiva de contratações, o prazo de validade do treinador parece menor do que o Nelson Ned. A informação de que Muricy Ramalho passará duas semanas em férias nos Estados Unidos dá a entender que ele já conversou com o Velho Barreiro, digo, o Juvenal Juvêncio, que o aconselhou a aguardar quietinho os próximos jogos (e maus resultados) do São Paulo e o fim do recesso futebolístico por causa da Copa das Confederações." - em 6 de junho, após derrota por 1 a 0 para o Goiás pelo Brasileirão, em pleno Morumbi. 
"Ney Franco que se cuide. O time joga mal e outra derrota para o Corinthians, dessa vez na Recopa, acionará a guilhotina sobre seu pescoço." - em 13 de junho, após empate em 1 a 1 com o Grêmio pelo Brasileirão, em Porto Alegre. 
"Muricy vem aí. (...) Ney Franco não vai durar muito - mesmo não tendo muita culpa no cartório." - em 4 de julho, após a derrota por 2 a 1 para o Corinthians pela Recopa Sul-Americana, novamente no Morumbi.
Agora, é fato: hoje, "em comum acordo entre ambas as partes" (de acordo com o site do clube), Ney Franco foi demitido do cargo de técnico do São Paulo. Em 79 jogos,  deixou um saldo de 41 vitórias, 16 empates e 22 derrotas (59% de aproveitamento). "Hoje, completa um ano que cheguei. Não posso sair sem destacar todo o incentivo que eu tive no clube. Porém, por muitas questões, não conseguimos objetivos. Saio frustrado porque meu pensamento era que a gente conseguiria muitos títulos. Infelizmente, não aconteceu", lamentou-se, em sua despedida. De minha parte, não há muito o que comentar, além do que já foi pisado e repisado aqui nesse blog: Ney Franco pode ser mediano ou mesmo fraco, mas esse time do São Paulo - com Lúcio, Tolói, Ganso e, principalmente, Juan e Douglas - nem Jesus Cristo pode dar jeito.

Agora, já especulam os nomes de Paulo Autuori e Muricy Ramalho. Como se vê, depois de Paulo César Carpegiani e Emerson Leão, o presidente Juvenal Juvêncio continua pensando "pra frente"...

Quando a mídia começou a mandar no futebol

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Rede Globo e CBF: relações promíscuas
Em 2012, as cotas de TV representaram 40% do faturamento conjunto de R$ 3,08 bilhões dos 20 maiores clubes brasileiros em 2012, segundo estudo do consultor Amir Somoggi divulgado recentemente. Isso explica a ingerência explícita de grupos de comunicação como a Rede Globo na (des)organização do calendário futebolístico nacional, no dia e horário dos jogos, na cartolagem da CBF e dos clubes e em outras questões decisivas. Mas esse tipo de promiscuidade vem de muito longe. O livro "O Marchal da Vitória - Uma História de Rádio, TV e Futebol", biografia do finado empresário e cartola Paulo Machado de Cavalho, de autoria dos jornalistas Tom Cardoso e Roberto Rockmann (Editora A Girafa, 2005), aponta momento exato em que política, poder, dinheiro, futebol e comunicação se cruzaram no Brasil.

Record engajou-se na 'Revolução'
Depois de comprar a minúscula Rádio Record em 1931, Machado de Carvalho conseguiu projetá-la no ano seguinte ao engajar-se fortemente na "Revolução Constitucionalista" do ano seguinte, insurreição da elite paulista contra o ditador Getúlio Vargas que contou com a adesão total da referida emissora de rádio para mobilizar a população. Após três meses de batalhas, o governo federal venceu os paulistas e fechou a Record - que seria reaberta graças aos contatos amistosos de Carvalho, filho de tradicional família "quatrocentona" paulistana, com o general Cordeiro de Farias, indicado por Vargas como novo chefe de polícia em São Paulo. Mais do que isso: o ditador se interessou pelo poder da emissora a usaria para seus fins populistas. Porém, no rescaldo daquele pós-"Revolução Constitucionalista", a Record teve que acabar com o noticiário político.

Plantão da Record nos anos 1930
Foi então que o empresário de comunicação resolveu apostar todas as suas fichas na programação esportiva. Como ainda não se narrava jogos em São Paulo, a Record criou o primeiro plantão esportivo do Brasil, com cinco telefones de manivela ligados aos estádios e pistas de corridas de cavalo. "A cada gol ou páreo, um repórter discava para a sede da Record e dava a notícia". Essa cobertura "ao vivo" não existia e fez enorme sucesso. As emissoras concorrentes ouviam as notícias "frescas" da Record e, minutos depois, divulgavam para seus ouvintes na maior cara dura. E, assim como contou com a sorte ao comprar a emissora logo antes da "Revolução" de 1932, movimento que selou a ligação da Record com a população, Paulo Machado de Cavalho acertou instintivamente outra vez ao apostar no esporte justo em 1933, quando o futebol se profissionalizou no país.

Rio-SP de 1933: Palestra campeão
Para celebrar a mudança, dirigentes paulistas e cariocas deram uma trégua nas rixas bairristas e organizaram naquele mesmo ano, em parceria, o primeiro Torneio Rio-São Paulo. A Record contratou mais funcionários para a equipe do "Esporte nas antenas" e aumentou de cinco para sete o número de linhas telefônicas instaladas em campos das duas cidades. Com isso, liquidou a concorrência. Mas a Rádio Cruzeiro do Sul, de propriedade do milionário Alberto Byington, resolveu acabar com essa hegemonia. E, com isso, inaugurou o poder dos meios de comunicação sobre o futebol brasileiro. Terminado o Torneio Rio-São Paulo, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea) enviou uma carta à Record anunciando que a partir de 1934 só a Cruzeiro do Sul teria permissão para transmitir jogos de futebol.

Inauguração do Pacaembu, em 1940
O preço? Byington comandava o comércio de vendas de material de iluminação e propôs aos clubes, em troca da exclusividade nas transmissões, iluminar (a preços camaradas...) todos os estádios de futebol da cidade. Fora isso, ofereceu salários milionários para tirar a equipe que cobria esportes na Record. Somente em 1940, com a inauguração do estádio municipal do Pacaembu - que hoje tem o nome de Paulo Machado de Carvalho - foi que todas as emissoras da cidade passaram a ter cabine à disposição para transmitir os jogos, sem pagar nada por isso. Mas o dono da Record estava escaldado: embarcou diretamente na cartolagem futebolística, como diretor e presidente do São Paulo e, depois, como chefe das delegações brasileiras que venceram as Copas de 1958 e 1962, quando ganhou o apelido de "Marechal da Vitória".

Bellini com Paulo Machado de Carvalho, o 'Marechal da Vitória'
Assim, já proprietário da Rádio Panamericana e da TV Record, conseguiu respaldo político para que suas emissoras voltassem a transmitir futebol e estruturassem coberturas esportivas que marcaram época. Curioso é que, em 1965, proibido pela Federação Paulista de Futebol (FPF) de transmitir os jogos do Paulistão, pois os clubes reclamavam da baixa bilheteria nos estádios, Paulo Machado de Carvalho teve que tirar da cartola qualquer coisa que pudesse preencher o horário televisivo das tardes de domingo. Foi assim que surgiu o programa "Jovem Guarda", sucesso estrondoso entre a juventude que projetou para o estrelado Wanderléa, Erasmo Carlos e, principalmente, Roberto Carlos. Mas isso já é outra história...

quinta-feira, julho 04, 2013

Muricy põe a bateria do celular pra carregar

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"Pra jogar futebol, um time tem que ter uma defesa que saiba sair jogando, um meio-campo criativo e um ataque que saiba definir a última bola." A afirmação do treinador Tite, na entrevista coletiva após vitória por 2 a 1 de seu time na primeira partida da decisão da Recopa Sul-Americana, no Morumbi, define exatamente não só o que o Corinthians tem (mesmo quando joga mal) como, por oposição, tudo o que o São Paulo não tem (mesmo quando, raramente, joga mais ou menos). Faltou só resumir o que todo mundo já sabe: no Corinthians, todos marcam o tempo todo, com eficiência. No São Paulo, alguns marcam de vez em quando, individualmente, displicentemente. Por isso, os comandados por Tite, mesmo enfrentando um período de reformulação, não precisaram fazer grande esforço para vencer com evidente facilidade. E os comandados por Ney Franco não tiveram sequer uma mínima motivação por estar disputando uma decisão - muito mais necessária pra eles, diga-se de passagem, do que para o adversário. Resultado previsível, só isso.

Há três ou quatro temporadas, tem ser tornado quase uma covardia botar o São Paulo para jogar contra o Corinthians. As três vezes em que o time do Morumbi conseguiu vencer, de 2011 pra cá, podem ser classificadas mais como "superação", resultados "fortuitos" ou exceções comuns a qualquer clássico, mesmo. Depois do bom trabalho de Mano Menezes, o Corinthians de Tite tornou-se um time definido, coeso, marcador. Econômico, discreto, sim, mas cirurgicamente eficiente. Prova disso é que o elenco e o time titular trocam peças e o padrão segue o mesmo. Ganhou com todos os méritos o Brasileiro, a Libertadores, o Mundial e, neste ano, o Paulistão. Do outro lado, o São Paulo é a inconstância na prática. Sem time definido, sem padrão de jogo, sem tática, sem coerência, sem técnica, sem ânimo, sem raça. De vez em quando, ao sabor dos técnicos e dos atletas que vêm e vão, consegue um brilhareco aqui, uma boa vitória acolá, algumas atuações significativas. Mas sempre volta ao mesmo: o marasmo, a mediocridade.

Parece que eu vejo o Tite falando para o seu time, no vestiário, toda vez que vai entrar em campo para enfrentar o São Paulo: "Toquem a bola, fiquem nas posições demarcadas e aguardem. Eles sempre erram muitos passes. Quando sobrar uma bola no ataque, é só matar o jogo. Não precisa forçar, nem se cansar." Simples, fácil. Basta jogar uma bola para alguém no meio do Rafael Tolói e do Rogério Ceni. Como aconteceu no lance em que Alexandre Pato sofreu pênalti, em outra vitória por 2 a 1 no jogo do turno do Paulistão. Como aconteceu no gol de cobertura de Diego Tardelli na goleada por 4 a 1 que eliminou o São Paulo da Libertadores. Como se repetiu com Renato Augusto no golaço que definiu a primeira partida da Recopa. Se o Corinthians tivesse forçado o pé, o placar seria maior. Mas não. Jogou só pro gasto. Do jeito que o São Paulo joga (ou NÃO joga), basta aos corintianos administrar com a mesma frieza e tranquilidade no Pacaembu. E, se o time de Ney Franco tentar ir pra cima, o que precisa fazer, pra reverter a desvantagem, corre o risco de levar mais um 5 a 0, idêntico ao de 2011.

É triste ver o São Paulo em campo. É triste aceitar que o time não tem condições de fazer nada de muito melhor do que consegue fazer. A defesa é tosca e não sabe sair jogando. Os volantes são medianos e sem recursos. No meio, só Jadson salva (Ganso, em breve, desbancará Ricardinho como a mais frustrante e cara contratação do clube para o setor). Na frente, Osvaldo em má fase, Luís Fabiano inoperante e desinteressado e Aloísio apenas esforçado - bem, justiça seja feita, foi o ÚNICO que entrou ligado, motivado e vibrante no time, mas seu gol foi mais falha do goleiro Cássio do que mérito próprio. Sobre os laterais, não há o que dizer, pois eles não existem no São Paulo. No primeiro gol, baile de Romarinho em cima do pobre (e grosso) Juan. No segundo gol, o passe de longa distância veio do setor direito sãopaulino, onde Douglas deveria estar combatendo. Com esses dois, o time do Morumbi sempre joga com nove contra onze. É triste. É desanimador. E é covardia. Muricy vem aí. Duvido que mude alguma coisa.


CAIXA ECONÔMICA 2 X 0 - Curioso falar sobre a coesa, aplicada e eficiente equipe do Corinthians, lembrando o trabalho iniciado por Mano Menezes e concretizado por Tite. Curioso porque, no último sábado, em amistoso disputado na cidade mineira de Uberlândia, Mano estreou pelo Flamengo justamente contra o São Paulo de Ney Franco. E ganhou por 1 a 0, também sem fazer qualquer esforço. Lá jogam o goleiro Felipe e o meia Elias, ex-corintianos. E, assim como o time de Parque São Jorge, o Flamengo é patrocinado pela Caixa Econômica Federal. Em Minas Gerais, terra de Ney Franco, o São Paulo jogou com os titulares apenas no primeiro tempo, "desfalcados" (entre aspas, pois com ou sem eles dá no mesmo) de Lúcio, Denílson, Jadson e Luís Fabiano. No segundo tempo, praticamente nem entrou em campo, foi jogo de um time só. Mais um exemplo da apatia, da falta de perspectivas, da "toalha jogada". Ney Franco não vai durar muito - mesmo não tendo muita culpa no cartório. O time do São Paulo, repito, dá dó.