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No trecho de avião entre São Paulo e Recife, senta uma gaúcha ao meu lado. Estava voltando de sua cidade natal, Porto Alegre, após o enterro do pai, um gremista fanático que teve sete filhas.
Além de conviver com elas, morava também com a esposa e a mãe. Mas não se incomodova por viver rodeado de mulheres. O problema mesmo eram os genros. Das sete filhas, seis acabaram se apaixonando e casando com torcedores do Inter. A última continua solteira.
Claro que o velho tricolor era incomodado constantemente pelos homens que, além de terem tomado suas filhas, ainda faziam troça do seu time. Amargou tempos ruins com campanhas péssimas do Grêmio, a queda pra segundona e toda sorte de sarro dos genros.
Ultimamente, estava se vingando. Vibrou com a desclassificação do Inter no campeonato gaúcho e vinha se dleiciando com a tortura colorada na Copa Libertadores. Em uma ocasião, ligou para Recife somente para azucrinar um dos genros.
Mas o câncer já estava avançado e ele faleceu na quarta passada. Não viu o Grêmio perder por 3 a 1 do Cúcuta e cair pra terceira posição do seu grupo na Libertadores. Também não presenciou a derrota por 3 a 0 para o Caxias no último domingo.
No velório, na quinta, sua filha colocou a camisa do Grêmio sobre o caixão, após uma longa discussão com as irmãs, que não aceitaram a vontade do pai de ser enterrado vestindo o que considerava seu manto sagrado. Ao lado, era velado outro corpo, envolto em uma grande bandeira do Inter.
Inevitável, familiares que estavam no velório ao lado se aproximaram, viram a camisa do rival, e não perderam a chance:
- Até aqui estão enterrando o Grêmio.
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Se a rusga entre os dois grandes gaúchos é maior que quase tudo, em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, Treze e Campinense dividem o coração dos moradores locais. No entanto, quando um dos dois joga com um clube da capital João Pessoa, os torcedores se unem pra torcer contra. A rivalidade entre as cidades acaba superando a dos times.