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Na época em que o Brasil acompanhava o calvário de Tancredo Neves, em 1985, o jornal Notícias Populares torcia para que o presidente escapasse da morte. Para azar da redação, Tancredo morreu após o fechamento da edição. Pior que não poder noticiar a morte do presidente eleito foi o jornal chegar às bancas com uma manchete que mais parecia uma piada de mau gosto. Com Tancredo já no IML, o NP anunciava na primeira página: "Médico americano quer Tancredo mais gelado". Era a tentativa de controlar a hipotermia do paciente – quando este ainda estava vivo, obviamente.
A historinha acima, retirada do site Observatório da Imprensa, é apenas um exemplo de como o extinto jornal Notícias Populares tratava a política - e os políticos. Se estivesse "vivo", o NP teria completado 44 anos na segunda-feira, 15 de outubro. Mas foi fechado pelo Grupo Folha em 20 de janeiro de 2001, junto com a Folha da Tarde (os dois se fundiram no insosso Agora). Recentemente, a Carrenho Editorial lançou a história do NP em livro, "Nada mais que a verdade", escrito por Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima.
Entre milhares de bizarrices dos 28 anos de NP, a obra resgata manchetes históricas como "Bicha põe rosquinha no seguro", "Aumento de merda na poupança", "Broxa to
rra o pênis na tomada" e "A morte não usa calcinha", além da antológica série "bebê diabo", invenção que vendeu milhares de jornais em 1975. O jornal também caprichava na cobertura esportiva: em 1977, os torcedores do Corinthians disputavam a autoria da promessa mais absurda para o time vencer o Paulistão e quebrar o jejum de títulos. A pior foi publicada pelo NP em manchete: "Vou comer 23 sapos se o Corinthians ganhar".
Porém, o grande mérito do livro foi resgatar a origem (bizarra) do (bizarro) periódico. Seu mentor foi o jornalista romeno Jean Mellé, que passou 10 anos preso na Sibéria por ordem de Joseph Stalin, fazendo trabalhos forçados nas minas de carvão. Tudo porque, em 1947, soltou em seu jornal Momentul, de Bucareste, a seguinte manchete: "Russos estão roubando o pão do povo". Após ser liberado, Mellé desembarcou no Brasil em 1959 sem falar praticamente nenhuma palavra de português. Mesmo assim, por intermédio de um amigo romeno que estava no Brasil, conseguiu um emprego no Última Hora, de Samuel Wainer.
Menos de quatro anos depois, em associação com Herbert Levy (presidente da UDN e dono da Gazeta Mercantil), lançaria o Notícias Populares, com uma finalidade marcadamente política: o NP seria um v
espertino anticomunista. Isso durou até 1965, quando Levy vendeu o jornal para Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, da empresa Folha da Manhã, que edita a Folha de S.Paulo. Mas Mellé permaneceu como editor. Para se ter uma idéia da maluquice do romeno (que delineou o "jeito NP de ser"), ele simplesmente fez "desaparecer" o cantor Roberto Carlos, em 1968.
O rolo foi o seguinte: um diretor da TV Record informou a um repórter que não estava conseguindo contatar o Rei nos Estados Unidos. Por banal que fosse, a história chegou aos ouvidos de Mellé, que soltou a manchete: "Desapareceu Roberto Carlos". No dia seguinte, centenas de tietes cercaram a redação, em busca de notícias sobre o ídolo. Revoltado, um diretor da Record exigiu um desmentido. Impávido, Mellé manchetou, no dia seguinte: "Acharam Roberto Carlos". Nos dois dias, o jornal vendeu 20 mil exemplares a mais.








Eu sei que é pura obrigação de noticiar qualquer coisa que tenha a ver com o clube, mesmo que na segunda-feira não tenha aparecido uma mísera pauta sequer, mas, sem ter o que dizer na página dedicada ao Santos FC, o Lance! de hoje se supera. Sob o título "O companheiro Luxemburgo", o nobre tablóide encheu uma página com as "tendências esquerdistas" do treinador. Tudo a partir da seguinte declaração de Luxemburgo: "Eu peguei pouco daquela ditatura, mas ainda peguei um pouco, tive avô perseguido, exilado, minha mãe era fã de Rosa Luxemburgo, vivemos muitos problemas em casa". Daí, o Lance! recupera a historinha de um suposto almoço que o técnico de futebol teria partilhado com o senador Aloízio Mercadante (PT), no ano passado. Na ocasião, Luxa teria dito ao político que tinha "ligações com o Partido dos Trabalhadores" e desconfiava ser esse o motivo de não ter assumido a seleção brasileira após a Copa da Alemanha (muito estranho tudo isso). Mas o pior é que o jornal, "didaticamente", viaja na maionese: "O comunismo se apóia no controle dos meios de produção por parte do Estado, Luxa também é centralizador". Hã?!??!!??






