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quarta-feira, novembro 18, 2015

O maniqueísmo nosso de cada dia

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Laudo Natel com o ditador Ernesto Geisel
Desde sempre, como sãopaulino, ouço críticas veementes aos dirigentes do São Paulo Futebol Clube pela postura politicamente conservadora e elitista e pelo apoio à ditadura militar - época que um dos diretores do clube, Laudo Natel, chegou a ser governador de São Paulo e que o estádio do Morumbi teve ajuda (leia-se: dinheiro) do poder público para ser terminado. Até onde checamos aqui no Futepoca, é tudo verdade. Falamos da postura ostensivamente conservadora e elitista da torcida e da diretoria do São Paulo nesse post aqui, nesse aqui e mais esse aqui. E das ligações políticas comprometedoras e dos benefícios (públicos) para o Morumbi (particular) nesse post aqui, nesse aqui e esse aqui também.

Pois bem, em contraposição a essa pecha "direitista" do São Paulo, sempre vejo, da mesma forma, elogios ao Corinthians - o "time do povo", da "democracia" dos jogadores no início dos anos 1980. Falamos sobre isso aqui, aqui e mais aqui. Porém, precisamos tomar cuidado com o maniqueísmo nosso de cada dia. Tem muito sãopaulino (diretor, jogador ou torcedor) que não é conservador e/ou apoiou a ditadura militar, assim como tem muito corintiano (idem parênteses anterior) que sim. No que se refere especificamente aos cartolas, "é sempre bom lembrar" - como diz aquela música do Gilberto Gil - que patrão é patrão, em time "da elite" ou "do povo". E o patronato geralmente costuma simpatizar com governos ditatoriais, apoiá-los, financiá-los e tê-los como aliados. Ou, pelo menos, não afrontá-los.

Rose Nogueira no ato do dia 27 de outubro
Vai daí, fiquei sabendo que, no último dia 27 de outubro, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo fez, em sua sede, um ato em memória dos 40 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, e, na ocasião, a jornalista (e atualmente uma das diretoras da entidade de classe) Rose Nogueira, que foi presa e torturada pela ditadura militar, lembrou que naquela época Wadih Helu era um dos deputados estaduais que cobravam na Assembleia Legislativa repressão aos jornalistas comunistas. O mesmo Helu que foi presidente do Corinthians entre 1961 e 1971 e que, mais tarde, ocuparia o cargo de secretário estadual de Administração no governo - biônico, ou seja, nomeado sem eleição - de Paulo Maluf. Aliás, foi Helu quem apelidou o Palmeiras de "porco" (leia aqui) numa polêmica com o rival.

Enfim, Zé Rodrix já observava que "cada um acredita naquilo que quer, pode e consegue". Mas sempre é bom evitar maniqueísmos. Sãopaulinos e corintianos, uni-vos - no bar!




quinta-feira, junho 06, 2013

Celibato e o Estatuto do Nascituro. É (também) disso que se trata

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O Estatuto do Nascituro é uma aberração. Muitos textos por aí já provaram isso por A+B, então não vou discorrer sobre os detalhes do projeto em si É tão descabido que, se aprovado, deverá ter muitos e muitos artigos considerados inconstitucionais. Não que algo que eventualmente restar não seja prejudicial à sociedade, claro que será, mas não acredito que impedir o tratamento de uma mulher com câncer seja constitucional.

Alguns textos. São só alguns exemplos, certamente há outros excelentes por aí.

"Bolsa-estupro: o crime patrocinado", de Letícia F., do blog Cem Homens
"Estatuto do Nascituro: a mulher que se foda", de Clara Averbuck
"Estatuto do Nascituro: mulheres são apenas um vaso de planta", do Leonardo Sakamoto
"O Estatuto do Nascituro e o terror", da antropóloga Debora Diniz

O que quero nesse meu pitaco é tentar chegar à essência da ideia de obrigar uma mulher a carregar um filho que não deseja, seja porque ele morrerá ao nascer, seja porque ela foi estuprada, seja porque a continuação da gravidez irá matá-la (e, curiosamente, matar o bebê, já mais desenvolvido e capaz de sofrer, junto).
Essa essência certamente não é pro-vida. Não é a favor da vida da mãe, nem à vida dessa criança depois que ela nasce. É claro que não. Eles intitulam-se "pró-vida" mas não é esse o cerne de sua ideologia.

Na verdade, um dos pilares que sustentam o PL 478/2007 é a ideia de que Deus deve decidir quem vive e quem morre. Oras, para isso a resposta é fácil: deixe de usar antibióticos, não vá para o hospital em caso de AVC nem realize exames de check up. Assim Deus estará decidindo sobre a vida de todos.


Ah, não, aí não. Aí devemos usar todos os recursos disponíveis para manter uma vida. Aliás, na hora de permitir que uma pessoa morra com decência, eles não deixam. A pessoa é obrigada a ficar ligada a aparelhos mesmo se não quiser. Vamos tomar um lado aí, pessoal! Ou Deus quer ou não quer decidir livremente quem morre. Se não pode salvar a vida de uma mulher com um embrião na barriga, também não pode reanimar depois de um ataque cardíaco.

Mas vamos deixar essa contradição aí e avançar um pouco. Quer dizer, retroceder. No parágrafo acima, eu argumento em cima do discurso deles, de que Deus existe e não apenas planeja o Universo de maneira macro – as leis da física, os elementos que constituem a matérias, essas coisas – como tem capacidade para cuidar da vida e da morte de 7 bilhões de pessoas. Bom, eles acreditem no que quiserem, claro, mas é bom lembrar que eu não acredito, e muita gente não acredita, e que impor uma lei baseada nas crenças de um grupo, por majoritário que ele seja, é antidemocrático.

"Ah, mas somos maioria". Pode ser, mas como a democracia não é a ditadura da maioria, isso não importa. Estude só um pouquinho sobre o que constitui democracia, por favor. A propósito, há muitas pessoas que acreditam em Deus e que não partilham do tipo de crença ou “linha filosófica” adotada pelos “inspiradores” do Estatuto.

Bom, até agora assumi que o aborto seria realizado por absoluta necessidade, mesmo que o embrião tenha sido concebido dentro das leis de Deus (de novo, só pra ficar dentro do argumento deles). Mesmo essa gravidez honrada e pura pode ser punida. Mas fica pior.Também será punida a vítima de estupro que não quiser manter uma gravidez resultante da violência, obrigada a gerar um filho que não quer. Isso mesmo se a vítima for para todos os efeitos uma criança. Nesse caso, ela poderá ser punida com a morte também, já que seus corpos não estão preparados para uma gravidez. Guardemos esse fato também.

Agora, uma palavra sobre o aborto de maneira geral, aquele que é permitido em muitos países e possibilita que a mulher escolha não levar adiante uma gravidez indesejada. Essa discussão, que pareceu um dia que ia avançar, está no limbo. Acho até que quem leva à frente o Estatuto do Nascituro deve saber que ele não pode ser aplicado, que é inconstitucional, que haverá protestos. Não me parece descabida a ideia de que o PL é, na verdade, um subterfúgio para atrasar as discussões sobre a descriminalização do aborto. Por que, né?, basta um avancinho na área de direitos reprodutivos da mulher, mesmo que seja retórico apenas, pra esse pessoal "pró-vida" (todas as aspas aqui) reagir com virulência.

Mas então. Por que, pra esse pessoal, não pode ter aborto por vontade da mulher? Bom, porque quem faz sexo tem que arcar com as consequências de seus atos. O discurso é de que, se a pessoa não quer filhos, deve usar métodos contraceptivos. Só que, estatisticamente, os métodos falham. Pílulas falham, os números que encontrei variam de 1% a 6% de falha. Camisinha falha ainda mais, entre 10% a 20%. Vasectomia e laqueadura também falham! Tudo isso é dado conhecido. A mulher usa dois métodos contraceptivos e ainda assim há uma possibilidade de gravidez. Em termos populacionais, esses casos não podem deixar de ser considerados. Pessoas ficam grávidas sem querer. E esses números aparecem em sites "pró-vida" também, vejam só, ou seja, os parlamentares sabem disso.

Então não, não dá pra achar que as pessoas vão evitar gravidez com 100% de certeza. E daí? Daí que o PL não pune apenas a irresponsabilidade. Ele pune pura e simplesmente o sexo.

Todo sexo será castigado


Não sei em que mundo esse pessoal vive. Enquanto deveria haver dentro das igrejas uma discussão profunda sobre a sexualidade (os padres pedófilos e pastores estupradores não me deixam mentir), eles querem impor sua filosofia celibatária para toda a sociedade! Vou falar de novo: o celibato não funciona nem dentro das igrejas que o pregam, que são instituições para onde as pessoas vão por livre e espontânea vontade (estou falando dos sacerdotes aqui, não dos fiéis), sabendo que não poderão fazer sexo ou que só o farão para fins reprodutivos. Esses caras escolhem viver assim, e muitos não conseguem. Por que acham que a sociedade de uma maneira geral conseguiria fazer sexo apenas para reprodução?

Porque no fim é isso: trata-se da punição do sexo. Pior, a punição do sexo até quando ele não é consentido.  E, pelamor, é punição até quando o sexo eventualmente segue os preceitos que eles acham corretos, mas que resultem numa gravidez de feto anencéfalo. Ou ainda que a mulher descubra-se doente e não possa se tratar. Aí a criança pode morrer, mas só se a mãe for junto.

Bom, punição para a mulher, né? Para o homem não muda pica nenhuma. Então é o controle total sobre o corpo feminino, mas nada muda para o homem. Ou será que o pai deverá ser proibido de tratar uma doença durante a gravidez?

Não tenho palavras para descrever a crueldade disso. Falta vocabulário.

Por último, um comentário sobre o começo da vida. Meus queridos religiosos: podemos discutir isso até o fim dos tempos. Nunca haverá consenso. Jamais. Então ficamos assim. Vocês seguem o que acreditem. Se as mulheres religiosas não quiserem abortar, não abortem! Deixe que as discussões laicas decidam os direitos reprodutivos das mulheres que não pensam assim. Juro, não tem ninguém querendo passe livre para abortar aos 8 meses de gestação. O limite de 12 semanas é usado largamente em todo o mundo, há motivos para isso. Ah, o medo é de uma epidemia de aborto? Desconheço. Aliás, os dados do Uruguai mostram que o número de abortos diminuiu depois da descriminalização da prática.

Resumindo: esses parlamentares não se importam com a vida dessas mulheres, que em muitos casos estará completamente arruinada por conta da imposição de manter a gravidez. As crianças, então, que se danem. Logo depois de nascerem poderão passar fome à vontade. Ouvirão várias críticas às ajudas governamentais das quais estão usufruindo porque o próprio Estado as obrigou a vir ao mundo. Se eventualmente vierem a cometer crimes, essas crianças e jovens enfrentarão a ameaça da diminuição da maioridade penal.

Eu queria saber, mesmo, o que importa de verdade para esses parlamentares.


Agora, muitos adendos

1 - Está rolando uma petição contra o Estatuto do Nascituro. Sempre duvido da eficácia desse tipo de abaixo-assinado, mas acho que não custa assinar.

2 - Homens, aprendam uma coisa: gravidez é uma merda. Sério, uma merda. Não existe gravidez sem sintoma desagradável, o que existe é mãe que finge para si mesma que eles não existem. Juro que se (que o deus desse pessoal me livre) eu ficasse grávida por conta de um estupro e não pudesse abortar, eu tentaria em casa (ou, privilegiada classe média que sou, iria para o Uruguai ou para Portugal fazê-lo), porque os enjoos, dores e outros problemas só são suportáveis com muita vontade de ter um filho. E eu tenho um.

3 - DUVIDO que muitos pastores não mandem as filhas abortarem em segredo para manter as aparências.

4 - Há igrejas que não pregam o sexo apenas como meio de reprodução. Quando menciono "pastores" de maneira genérica, estou falando desses que acham que sexo é sujo.

5 - Tem o retrocesso científico também, sobre isso, ler aqui.

6 - O último argumento desse pessoal pró-vida é dizer: imagina se sua mãe tivesse te abortado! Juro que não consigo entender esse pensamento. Se minha mãe tivesse me abortado eu não existiria e pronto. Qual o problema? Antes de existir eu não existia e tava tudo bem com o mundo. Que vaidade é essa de achar que não nascer é uma tragédia?

sexta-feira, novembro 30, 2012

PC Siqueira e o pensamento conservador/coxinha da Veja

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Via @cynaramenezes

"Aí você me diz: 'Ah, mas ser conservador não é necessariamente ser uma coisa ruim'. Cê me desculpe, mas ser conservador é necessariamente ser uma coisa ruim. Primeiro, porque o mundo já é uma merda, sempre foi uma merda, se você quer conservar o mundo de uma forma que ele é, uma merda, então você é um merda. E quando você lê uma revista que te ajuda a saber como o mundo funciona e como as coisas estão acontecendo, e ela é uma merda, tudo que você conhece como verdade é uma merda."

Vale ver o vídeo inteiro do PC Siqueira: 

quinta-feira, abril 14, 2011

Reação a tragédia de Realengo mostra-se exceção

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Uma tragédia ou crime bárbaro de grande repercussão é suscedido por uma onda de conservadorismo. Essa tendência era o que esperava este ébrio autor após tomar contato com as notícias terríveis do massacre na escola municipal do Rio de Janeiro em Realengo, na zona oeste da cidade. Passada uma semana do episódio trágico, o que se sucedeu como repercussão dominante foi o contrário.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sugeriu a proibição da venda de armas e munição no país. E que isso fosse decidido por um plebiscito, com votação de todo o eleitorado brasileiro. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e ministros da Justiça e dos Direitos Humanos, José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário, foram atrás.

Quer dizer, não bastasse ter sido uma reação que pode ser considerada ponderada, sensata e não moralista, o instrumento para isso é um de democracia participativa.

E a proposta de realizar um plebiscito sobre o tema esquentou. Diferentemente do referendo de 2005, o formato envolveria uma consulta ao Congresso Nacional antes de vigorar. Quer dizer, o que o povo decidir depende da homologação do Legislativo. Até aí, tudo bem. O mais incrível é que os membros do governo de Dilma Rousseff concordaram harmonicamente até no tom da reação, defendendo a possibilidade de se rediscutir o tema.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, disse que a consulta pode, Arnaldo.

Mas a vitória do "não" na consulta popular de seis anos atrás deveu-se a uma reação dos setores mais conservadores da sociedade. Basta lembrar o nível dos argumentos da revista Veja à época. O governo de então, a começar por Luiz Inácio Lula da Silva, era favorável ao desarmamento. Mais, via a proibição como parte de seu programa para desequipar civis de armas de fogo.

Mas, por quê?
O que aconteceu? A sociedade mudou? Os conservadores estavam ocupados defendendo Jair Bolsonaro (PP-RJ), o deputado federal acusado de reiteradas manifestações de racismo e homofobia? Estavam combatendo o avançodos direitos civis de homossexuais? Não puderam defender prisão perpétua nem pena de morte porque o autor do crime já estava morto? Nem redução da maioridade penal, porque não era um adolescente?

A informação de que autor dos crimes teria relação com a religião muçulmana esboçou uma onda reacionária. Alguns comentários de blogueiros e tuiteiros ligados a evangélicos indicava que a questão poderia crescer. Ainda mais na semana em que a capa da supracitada revista falava da suposta presença da rede terrorista Al Qaeda no Brasil. Mas mesmo isso minguou.

O melhor que os setores conservadores conseguiram fazer com o episódio de Realengo foi apontar falta de segurança nas escolas. E defender a instalação de equipamentos como detectores de metal. Fernando Haddad deu ótimas declarações defendendo que as escolas tinham mais é que ser abertas à comunidade, que isso até ajudava a promover a segurança desse espaço.

Seja por ter tido resposta, seja pela conjuntura, as respostas moralistas não foram majoritárias nem mesmo na mídia convencional que adora um sensacionalismo.

terça-feira, abril 12, 2011

Editora Abril quer Luciano Huck presidente do Brasil

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Depois de classificar os posicionamentos políticos de Chico Buarque como "molecagem", por apoiar Lula, Dilma Rousseff, Hugo Chávez, Evo Morales e Fidel Castro (entre outros inimigos eternamente demonizados pela mídia tucana), a revista "Alfa Homem" traz agora na capa o que considera o ideal "político" da Editora Abril. O (asqueroso) Luciano Huck aparece de terno, em foto com esmero de marketing eleitoral (reprodução à direita), e, sem meias palavras, a publicação pergunta ao leitor se ele não seria o "salvador da pátria" para "acabar com a pobreza" no país. À primeira vista, parece uma piada inconsequente - tanto quanto o programa que Huck apresenta na TV Globo. Mas é sério isso. Muito sério.

O apresentador de programas televisivos e empresário Luciano Huck, paulistano de origem judaica e muito abastada, é apresentado como o supra sumo de tudo o que a Abril considera "bom", "correto" e "confiável". Um novo "caçador de marajás": jovem, rico, ídolo televisivo e com ações sociais "beneméritas" e assistenciais. A revista "Alfa" lista os "atributos" para você votar nele (o grifo é nosso): "Tem helicóptero, alguns carros importados, está construindo uma mansão de 16 quartos com heliporto no Rio de Janeiro. Vive um casamento feliz, com dois fillhos perfeitos". Não contente, a publicação ameaça e aposta: "Porque, goste ou não de Luciano Huck, ele é uma presença obsessiva na vida nacional — e vai crescer ainda mais. Seus amigos mais próximos já se perguntam por que não o colocar de vez num cargo público".

E os nomes de alguns desses "amigos" do apresentador ajudam a entender o motivo de tanta festa por parte da editora da família Civita (mais um grifo nosso): "Bons contatos na política não faltam. José Serra é amigo da família e o mineiro Aécio Neves se mantém ainda mais próximo". Ou seja, Huck é, para a Editora Abril, um potencial "novo iluminado" entre os "iluminados" tucanos da capital de São Paulo, grupo que representa tudo o que há de mais arrogante, prepotente, preconceituoso, retrógrado, classista e conservador na política nacional. Não por acaso, a reportagem recorre ao empresário Alexandre Accioly, de estreitas relações com Aécio Neves (foto), para dizer que Huck será "o próximo Ronald Reagan" (cruz credo!). Pois é, até o dinheiro de campanha já está garantido...

Um peixe indigesto
Obviamente, fica explícito que "amigos" de Luciano Huck também são os próprios membros da família Civita, proprietária da Editora Abril. Digo explícito porque, antes, de forma implícita (mas nada discreta), a editora já havia "socorrido" o apresentador em uma recente "saia justa". Em dezembro de 2010, Huck comprou uma parte (especula-se que 5%) do site de compras coletivas Peixe Urbano. De imediato, usou o Twitter para impulsionar e tentar um novo recorde de venda de cupons de desconto do site. E a (mórbida) oportunidade viria no mês seguinte, quando milhares de pessoas morreram em deslizamentos provocados pelas fortes chuvas no Rio de Janeiro. Huck tuitou: "Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita".

Acontece que a exploração da tragédia foi denunciada por Luís Nassif em seu blogue: "A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes. Parece bonito, mas não é. Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano. Depois, é preciso se cadastrar no site. E então comprar um ou mais cupons de R$10,00. Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente. Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs)". A "esperteza" repercutiu forte na internet e a imagem de Luciano Huck ficou bem arranhada.

Por isso, a Editora Abril não tardou em "salvá-lo". Com a sutileza de um elefante numa loja de cristais, lançou uma edição da Veja (aaarrghh...), no final de janeiro, com Huck e sua esposa Angélica na capa, sob a angelical manchete: "A reinvenção do bom-mocismo" (reprodução à direita). Isso, como bem observou o blogue "Somos andando", na mesma semana que uma revolução podia "mudar a cara do mundo islâmico" (assunto que a capa da revista deixou para terceiro plano). Agora, a "Alfa Homem" completa o serviço: "'Hoje, aos 39 anos, acho que estou cumprindo esse papel na televisão', diz Luciano, depois de pensar um pouco. Mas seria presidente do Brasil? 'Agora, não. Daqui a dez anos, talvez eu tenha mudado a resposta'".

Em dez anos, se outros (poderosos) meios de comunicação, além da Globo e da Abril, outras (poderosas) forças políticas, como Aécio e Serra, e econômicas, como Accioly, continuarem construindo e massificando a imagem desse playboyzinho yuppie e ganancioso como "salvador da Pátria", poderemos ter um grande problema e, na pior das hipóteses, retroagir nossa política aos tempos do não menos playboyzinho-yuppie-ganancioso Fernando Collor de Mello. Duvidam?

Com o grupo mais reacionário entre a (hiper) reacionária elite brasileira, não se brinca. Quando essa cobra põe a cabeça pra fora, é difícil matá-la à pauladas (não é mesmo, Leonel Brizola?). Por isso, volto a afirmar: isso é sério. Muito sério.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Folha de S.Paulo diferencia o PT, que 'paga' militantes, do PSDB, que só 'dá ajuda de custo'. Ah, tá...

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Sempre disse e continuarei observando que, involuntariamente, o governo Lula acabou fazendo outro enorme benefício para o Brasil: o de desmascarar completamente a mídia elitista, retrógrada e golpista. Veículos de comunidação que tempos atrás - mesmo pendendo para uma posição política de situação e/ou de centro-direita - já foram considerados "progressistas" ou minimamente "sérios" e "equilibrados" na hora de bater ou elogiar, tiraram a máscara e revelaram-se de forma nua e crua com suas essências mais execráveis e grotescas. Exemplo maior é a revista Veja, capaz de armações, distorções e calúnias de proporções nunca publicadas antes de Lula subir a rampa do Palácio do Planalto. Tirando os conservadores, fascistas e demo-tucanos mais empedernidos, a maioria dos antigos leitores hoje têm indisfarçável vergonha de assumir que leem ou já leram essa nojenta publicação.

Mesmo o Jornal Nacional, que surgiu há 41 anos como "boletim oficial" da ditadura militar, passou a ser ainda mais explícito em suas manipulações de pauta e edições vergonhosas de matérias nos últimos sete anos (só pra lembrar de cabeça, a campanha golpista e insistente sobre o "mensalão" do PT, a tentativa de incriminar o governo Lula com "caos aéreo" no acidente da Gol e, agora, o carnaval que envolveu até perito para justificar a falácia da agressão de bolinha de papel contra José Serra). Entre os jornais impressos, o Estadão também teve momentos constrangedores, mas não chega a surpreender porque sempre foi uma voz assumida dos ricos e poderosos. Porém, seu concorrente direto, a Folha de S.Paulo, revelou-se de forma espantosa como o maior libelo de tudo o que não presta e não se deve fazer em termos de "jornalismo".

Depois de esconder o mensalão do PSDB como "mensalão mineiro", de tentar amenizar a ditadura brasileira apelidando-a de "ditabranda", de dizer que Dilma Rousseff seria uma das cabeças do sequestro de Delfim Netto (que não houve!), de publicar um artigo impublicável com a insinuação de que Lula teria tentado violentar (!) um companheiro de cela quando foi preso pelo governo militar, e de responsabilizar Dilma pelo prejuízo que os brasileiros tiveram com o apagão elétrico do governo Fernando Henrique Cardoso (!!), o jornal da família Frias foi descendo ladeira abaixo até quase o mesmo (ou o mesmo) patamar de ridículo e de descredibilidade da Veja. E hoje temos mais uma prova de que, no governo Lula, a Folha, que antes tentava se vender como tendo "rabo preso com o leitor", assumiu o lado político onde prendeu seu rabo e perdeu de vez sua vergonha.

Hoje temos mais um exemplo da cara-de-pau e da canalhice desse "jornal". Em materinha sobre a campanha eleitoral do PT, o título já entrega a maldade: "Idolatria por Lula e militância paga motivam petistas" (o grifo é nosso). Além de apresentar os petistas como "fanáticos", ou seja, sem razão e facilmente manipuláveis, a Folha força a mão na tecla de que trata-se de uma militância que só funciona a base de dinheiro. "Na ausência do presidente, a campanha precisou recorrer a militantes pagos ou de movimentos sociais amigos para encher o salão de festas onde a candidata discursou (no Iate Clube, em Belo Horizonte)". Já a materinha espelhada sobre a campanha pró-Serra é um elogio só, a começar pelo título: "Ideal, antipetismo e ajuda de custo movem tucanos".

E o que seria essa "ajuda" dos "bondosos" tucanos? O mesmo "maldito pagamento" do PT: "Entre tantos militantes 'ideológicos', ainda se vê, no meio das hostes serristas, o velho cabo eleitoral remunerado, aquele sujeito que, em troca de R$ 50, agita durante seis horas consecutivas as bandeiras do PSDB", diz um trecho do texto.

Com licença, vou ali vomitar e nem sei se volto...

quinta-feira, março 18, 2010

Mauá entra na guerra contra a manguaça

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Leio no Diário do Grande ABC de hoje que em Mauá (onde nasceu o companheiro Nicolau e também o Mauro Beting) um vereador do PSDC, Professor Betinho (foto), apresentou um projeto de lei para proibir a comercialização e o consumo de bebidas alcoólicas em eventos organizados pela Prefeitura. E o negócio já foi aprovado em primeira discussão. A justificativa do vereador é lapidar: "São dezenas de jovens embriagados e em coma alcoólico nas festas". Ou seja, se dá fungo no galho de uma árvore, corte a árvore toda. É a mesma lógica das privatizações tucanas: se a estatal está com algum problema (que, por pior que seja, tem alguma solução), venda a estatal de uma vez. Por que o "democrata cristão" mauaense não propõe um programa municipal de conscientização, com jovens e seus pais, para debater o abuso do álcool, suas causas, consequências e possíveis soluções? E os que bebem e não abusam, vão fazer o que nesses eventos municipais? Tomar iogurte? Prestem atenção, manguaças, que o cerco é silencioso, mas incessante. Tudo o que é coletivo é perigoso pra essa gente. E deve ser vigiado, controlado, normatizado e proibido. Vamos assistir esse absurdo calados? E de bico seco?