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O Tostão, num texto de final de ano há uma ou duas temporadas, elencou uma série de coisas que o irritavam. Uma delas, os narradores de jogos de futebol na TV. É impressionante a falta de estilo, de personalidade, de competência e – já que estamos falando de narração – de voz dos atuais narradores. O mais impressionante, porém, é que parece que as direções dos canais não estão nem aí para isso.
Assistir aos jogos da seleção sub-20, por exemplo, é uma tortura. Você fica entre o esganiçado Paulo Andrade, da ESPN Brasil, e o jovem Luciano do Vale. Luciano pelo menos tem voz, o que já é uma vantagem em relação ao da ESPN/BR. O problema dele, no entanto, é o ufanismo enfadonho e seus comentaristas, entre os quais o pernóstico e intolerável Mauro Betting. Além do quê, Luciano do Vale parece meio cansado e sem vontade.
Agora, o Paulo Andrade é o cúmulo da falta de “setocômetro” (falo dele como poderia falar de outros igualmente ruins). Seu estilo se resume a berrar, sempre, a penúltima sílaba de um lance de perigo. Exemplo: “Alexandre Paaaaaaaaato”...... ou: “chuta por cobertuuuuuuuura”... ou “invade a áaaaaaaarea”.... ou “cabeceia pra fooooooora”. Será que não existem cursos de narração? Não há ouvido nem paciência que agüente. Não existem mais narradores criativos, como Sílvio Luiz (hoje na Bandsports), que inventam bordões, dialogam com o espetáculo. “Pelo amor dos meus filhinhos”.... ou “Foi, foi, foi, foi foi foi ele, Romário, o craque da camisa número 11”, dizia Sílvio Luiz.
Como não pensar no “Pelas barbas do profeta!”, que Sílvio proferia nos bons tempos para falar de um lance de perigo?
Num trabalho de conclusão de curso em 2005, intitulado “Pelas barbas do profeta: Sílvio Luiz e a busca da narração futebolística para TV”, o aluno Francisco Ângelo Brinati, da Universidade Federal de Juiz de Fora, avalia: “Os telespectadores não se sentem atraídos e preferem baixar o volume de seus televisores e ligar o rádio”. É verdade. Tudo o que acontece de “emocionante” nas narrações hoje é aquele gooooooool interminável e irritante, vindo do fundo da garganta em berros mais ou menos idiotas, quase sempre muito idiotas. Talvez o único narrador atual que tem certo estilo, um humor irônico e que perpassa sua narração com achados inteligentes e não raras vezes engraçados é o Milton Leite, da Sportv.
Paulo Soares, o Amigão da ESPN-Brasil, que tem voz e sabe narrar, tem porém o problema daquele goooool eterno e estridente, além da falta de inventividade. Na Copa do Mundo, não se sabe por quê (talvez pelas emanações emotivas do comentarista Gerd Wenzel, que o acompanhava nas transmissões), o Amigão surtou. Suas narrações dos jogos da Alemanha não podiam ser entendidas a não ser como histéricas. Eu, que sempre gostei do Amigão, tive que mudar de canal, porque era intolerável e ridículo.
Bom, já me alonguei demais. Não deu nem tempo de falar do Galvão Bueno (e do príncipe Luís Roberto). Mas aí já seria demais. Não estou a fim de paradigmas (ou semi-paradimas) hoje.