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Maurício de Souza (portal do Santos)
Logo depois do final do jogo que decretou a vitória do Santos sobre o América mexicano, a companheira Bia, do blog parceiro do Futepoca que estava na Vila Belmiro, desabafou: "Não aguento mais ser o time da virada". Já Carminha, também santista e eminência parda deste blog, comentou: "o Santos parece o Guga dos bons tempos. Faz a gente sofrer o tempo todo".
Detentor de superstições que ficam restritas - por enquanto - ao futebol, não quis praguejar contra a pecha de "time da virada". É melhor virar do que perder, já diria o filósofo, então agradeçamos que a tal virada aconteça. Mas o curioso é que isto tem sido uma constante na história recente do Santos, embora não seja propriamente algo inédito no currículo do time.
Além da reversão do resultado de ontem (1 a 0 no primeiro tempo para o 2 a 1 no final), o Santos também saiu perdendo em casa para o Caracas por 2 a 0 e virou para 3 a 2. Já no Paulistão, obteve um feito inédito de reverter uma vantagem de dois gols de diferença em uma final do estadual e assegurou o título. E tome sofrimento pro torcedor.
Em 2003, o time de Diego, Robinho e companhia, campeão no ano anterior e vice na Libertadores e Brasileiro daquele ano, também era afeito às viradas. no Brasileiro, se não me engano (não consegui confirmar o dado), foram 14 partidas vencidas por virada, um recorde. Lembro de assistir a um jogo na Vila contra o Fluminense (com o já veterano Romário) em que a equipe carioca saiu na frente. Nem eu nem a torcida esquentamos, já estávamos masoquisticamente acostumados a esse tipo de situação. Final, 2 a 1 pro Santos.
Na semifinal da Libertadores de 2003, contra o Independiente de Medelin, o time da casa na partida derradeira saiu na frente, 1 a 0. O Santos virou para 2 a 1 e venceu por 3 a 2. Na despedida de Robinho do time, no ano de 2004, contra o Paysandu, 2 a 0 pro time paraense e virada por 3 a 2 no final. E o menino poderia ir embora de outro jeito?
Mas a virada mais famosa da história do Peixe é mais cheia de significados. Na final do Mundial de 1963, o time de Pelé perdeu por 4 a 2 na Itália. Perdeu não somente a partida, mas o Rei para a volta, no Maracanã. Depois do prélio, a imprensa brasileira (ah, a imprensa...) exaltava os feitos de clube italiano e o esquema inovador com líbero (à época, Maldini, o pai). Era um time de brucutus nativos (que coincidência) como Giovanni Trapatoni, que quebrou Pelé, e o talento ficava a cargo de brasileiros (que coincidência de novo) como Altafini, o Mazola, e Amarildo, o possesso.
No maior público que o Maracanã já recebeu para uma equipe de fora do Rio (mais de 130 mil pessoas), o Milan parecia passear no segundo jogo. Terminou o primeiro tempo com 2 a 0 no placar. A mídia parecia esfregar as mãos e dizer "tá vendo, líbero (vulgo retranca) é o esquema do futuro, o 4-2-4 já era". Mas o time tinha o glorioso José Macia, o Pepe, e virou para 4 a 2, vencendo também a terceira partida por 1 a 0, também sem Pelé e com atuação de gala de Almir, o Pernambuquinho.
Fica a pergunta pro torcedor do Santos: podia ser mais fácil? Claro, podia. Mas acho que a história não deixa que seja assim. Pra falar a verdade, sofro, mas não tenho direito de achar ruim.
PS: o time reserva do Santos que disputa o Brasileiro também é adepto das viradas, mas de uma forma "alternativa", como gosta de definir Vanderlei Luxemburgo, o semiólogo. Nas duas partidas que perdeu, saiu ganhando.