– Ô, rapaz, tirou a barba – abordou-me o palmeirense no corredor da firrrma.
– Tirar é bondade sua. Só aparei, viu? – respondi, deixando claro que os pelos na cara seguem como marca registrada, até no calor do Centro Oeste.
– Mas foi promessa?
– Não. Até pensei em oferecer a barba como promessa caso o Palmeiras não caia, mas desisti. Uma reles penugem dessas seria insuficiente para sensibilizar o imponderável...
– É fato. Só se você prometesse cortar... – pausou meu palestrino interlocutor, causando suspense e me deixando sem respirar – os pelos do saco.
Entre o alívio, por ter me poupado do destino de eunuco de um lado, mas ainda chocado pelo fim escatológico da proposta de promessa, preferi não responder. A tréplica veio de graça:
– Do jeito que nosso time está, precisaria de uma promessa mais dramática.
O palmeirense precisa de alento. Mas tem motivos de sobra para o desespero. O Futepoca prefere, então, de forma democrática, oferecer tanto alguns fios de esperança aos alviverdes que compartilham a lanterna dos afogados na tabela quantos motivos para novas troças dos torcedores rivais.
Verde esperança em três tons
Exemplo do Fluminense de 2009
Foi há três anos. O Palmeiras era líder do campeonato, e o Fluminense vivia o drama das últimas posições. Em uma recuperação histórica e contrariando todos os prognósticos de bom senso, o Tricolor carioca escapou da degola em uma campanha de recuperação com 28 pontos somados em 13 jogos. O final feliz para os cariocas só aconteceu na última rodada, para desespero do então centenário Coritiba, que terminou rebaixado.
Quem diria que a previsão de fim do mundo em 2012 do
calendário Maia aplicar-se-ia exclusivamente a palmeirenses. Na foto, a pirâmide Kukulkan
Basta ao time paulista, agora em 2012, somar 25 dos 39 pontos (64%) em disputa para o ano da conquista da Libertadores pelo Corinthians não se converter no pior ano da história da humanidade para os palestrinos. É desempenho de time campeão, que pode até não ser provável, mas não é impossível.
Catarinenses
Ainda em 2009, faltando as mesmas 13 rodadas para o final, o Fluminense tinha 18 pontos, dois a menos do que possui hoje o Alviverde outrora imponente. A "arrancada da virada" se iniciou contra uma equipe catarinense, a saber: o Avaí, por 3 a 2.
A próxima partida do Palmeiras acontece contra outro time barriga verde, desta vez o Figueirense. Vai que...
Primavera
O Flu chamou Cuca no início de setembro para comandar a recuperação. Igualmente, antes do início da primavera, dá-se a troca de comando no Palmeiras neste ano, com Gilson Kleina assumindo a direção (?) do time do banco de reservas. E a estação das flores pode ver o renascimento do futebol no Verdão neste ano.
Uma das poucas chances de ver Palmeiras bem na foto no ano
Tripé do desespero
Segundona na veia
Em 2005, o Santo André derrubou o próprio Palmeiras e o Flamengo na semi e na final da Copa do Brasil. Da Série B do Nacional, foi percorrer as Américas para participar da Libertadores. Fez papel coadjuvante, mas debutou na fórmula. Uma queda depois de garantida a vaga no torneio continental nem representaria, assim, feito inédito. Só seria uma reprise indigesta.
Maldição da semifinal da Copa do Brasil
Mais grave: desde 2004, entre os quatro semifinalistas da Copa do Brasil ou havia um representante da Segundona ou um dos quatro acabou caindo. Em 2012, só times da suposta elite, ou seja, a maldição do rebaixamento assombraria ao menos um dos quatro. A escrita não poderia ser riscada assim, sem mais nem menos. Qual uma maldição, recairá sobre o vencedor da competição o fardo de reequilibrar esse retrospecto?
Semifinalistas que não estavam na Série A
Corinthians - 2008
Brasiliense – 2007
Ipatinga – 2006
Paulista e Ceará – 2005
Santo André, XV de Novembro, Vitória (rebaixado) – 2004
Brasiliense – 2002
Retrospecto de Série B
Na Copa do Brasil, foram disputados 11 jogos. Se fosse no Brasileirão, valeriam 33 pontos. Desses, apenas quatro foram contra adversários da Série A. Para conquistar o título, foi preciso bem menos esforço de elite do que para se manter na primeira divisão do Brasileirão. Acreditar que um time manco poderia se dar bem em uma competição de pontos corridos é motivo de alegria para os adversários.
Por um triz
Pontuação de quem escapou da degola na era dos pontos corridos
Ano
Pontos
Time
Aproveitamento
2011
43
Cruzeiro
37,7%
2010
42
Atlético-GO
36,8%
2009
46
Fluminense
40,4%
2008
44
Náutico
38,6%
2007
45
Goiás
39,7%
2006
44
Palmeiras
38,6%
2005
51
Ponte Preta
40,4%
2004
51
Botafogo
37,0%
2003
49
Paysandu
35,5%
* Até 2004, eram 24 clubes, o que correspondia a quatro jogos a mais. Em 2005, foram 22 participantes. Em 2003, foram dois rebaixados apenas.
A nova peça de
propaganda do candidato tucano à prefeitura de São Paulo, José
Serra, tenta fazer uma relação direta entre Fernando Haddad e réus
do Mensalão, como Delúbio Soares e José Dirceu. O candidato
petista aparece ao lado das fotos dos acusados e vem a voz, tétrica,
vaticinando: “Sabe o que acontece quando você vota no PT? Você
vota, ele volta”.
Tudo bem que o
marqueteiro-mór da campanha de Serra, Luiz Gonzales, é o mesmo que
fez sua campanha em 2010 e a de Kassab em 2008. Mas falta de
criatividade tem (deveria ter) limite. De verdade, o que essa peça
tem de diferente de uma das que foram usadas (aparentemente apócrifa)
contra Dilma, em 2010? Naquela propaganda, uma foto da atual
presidenta ia aos poucos sendo transformada em... José Dirceu! E a
narração dizia: “Ela [Dilma] vai trazer de volta todos os
petistas cassados ou que renunciaram. Dilma vai trazer de volta
inclusive aquele que o procurador-geral da República chamou de chefe
da quadrilha [José Dirceu]”.
Bom, não se sabe se
Dilma nomeou de ontem pra hoje algum daqueles ao que o vídeo acima
faz referência, mas até agora nenhum deles tinha sido nomeado para
qualquer cargo. A propaganda de rádio também fazia referência à
associação com Zé Dirceu. “Toc toc toc, bate na madeira. Dilma e
Zé Dirceu, nem de brincadeira”, dizia a música abaixo. Aliás,
além da temática repetida (em 2006 um jingle ditava “Não pro
mensalão/pra dólar na cueca e mentiroso eu digo não”), a música
também era readaptada de outra, usada na campanha de Kassab em 2008
(aqui).
Parece que anda
faltando assunto na campanha tucana. E criatividade para os
marqueteiros...
Dando uma olhadela nas
Séries C e D do Campeonato Brasileiro é possível ver que,
apesar da idade ou da “rodagem” excessiva, muitos jogadores que
passaram por times grande e fizeram fama mundo afora ainda arriscam
entrar no gramado mesmo sem os holofotes de outrora. Vejam alguns dos
medalhões, quase craques ou simplesmente atletas famosos que ainda
estão em atividade – e talvez você nem soubesse.
Rodrigo Gral –
jogador promissor revelado pelo Grêmio, atuou pela seleção
brasileira sub-20 e foi campeão da Copa do Brasil pelo Juventude, em
1999. Teve mais duas passagens pelo tricolor gaúcho e passou também
pelo Flamengo. Após passar pelo Japão e Catar, voltou ao Brasil e
jogou pelo Bahia em 2010 e pelo Santa Cruz em 2011. Estava até pouco
tempo no Duli
Pengiran Muda Mahkota Football Club (DPMM FC),
time de Brunei que disputava o campeonato da Malásia. Mas acertou
com a Chapecoense e disputa hoje a Série C. Estreou oficialmente com
gala no sábado, na vitória do clube contra o Caxias.
Paulo Almeida –
capitão do time do Santos campeão brasileiro de 2002, o volante
Paulo Almeida tem passagens ainda por Benfica e Corinthians. Chegou a
disputar a Copa Ouro vestindo a camisa da seleção brasileira em
2003 e fez parte da fracassada equipe pré-olímpica comandada por
Ricardo Gomes em 2004. Hoje, com 31 anos, é peça-chave da equipe do
Mixto-MT, que disputa
com o Sampaio Corrêa uma vaga para a Série C de 2013.
Warley – se você não
lembra desse atacante, de 34 anos, que se destacou no Atlético-PR, foi vendido
por uma fábula (segundo o Wikipedia, U$S 9 milhões por metade dos
seus direitos) à Udinese e jogou por São Paulo, Grêmio e
Palmeiras, ele passou até pela seleção brasileira (a prova está
aqui).
Hoje é ídolo do Campinense e vice-artilheiro da Série D com sete
gols. Sua meta é ajudar o time de Campina Grande a superar o
Baraúnas-RN, assegurando um lugar na Série C em 2013.
Baiano – revelação
do Santos, disputou o Pré-Olímpico e os Jogos Olímpicos de 2000,
em Sidney, pelo Brasil. Tem no currículo um rol invejável de clubes
que inclui o Atlético-MG, Palmeiras, Boca Juniors e Vasco.
Lateral-direito que migrou pela meia e se especializou em cobranças
de falta, aos 34 ainda presta serviços ao mundo da bola no Brasiliense,
clube da Série C do Brasileirão. No time de Brasília, comandado
por Márcio Fernandes (ex-Santos), joga com outro “medalhão”,
Ruy Cabeção, ex- Botafogo, Grêmio, Fluminense e Cruzeiro (não
nessa ordem) e atua também com o argentino Frontini, ex-atleta do
Santos.
Luis Mario – campeão
paulista e brasileiro de 1999, e do Mundial de Clubes da Fifa em
2000, todos pelo Corinthians, o atacante ou meia-atacante jogou
também pelo Grêmio, Atlético-MG e Botafogo, passando pelo futebol
japonês, lusitano e suíço. Com 35 anos, está disputando a Série
C pelo Icasa, depois de disputar o campeonato paulista pela
Catanduvense.
Meu pai tem birra da
imprensa esportiva paulistana porque acha que, desde os anos 1950,
ela menospreza o Santos por não ser da capital. De acordo com seo
Orlando, uma das coisas que mais lhe irritava em tempos idos era
quando o Peixe vencia alguém de forma inapelável e os jornais
paulistanos estampavam: Pelé 5, 6, 7 ou 8 X tal time zero. Não que
o Rei do futebol tivesse marcado todos os gols, mas tudo se resumia à
atuação do Dez alvinegro.
É óbvio que, muitas
vezes, o Rei monopolizava a atenção e talvez até justificasse uma
ou outra manchete. Mas ele, quase sempre, na Vila Belmiro, contou com
companheiros preciosos, talentosos, dos maiores que o futebol pôs os
olhos. Não fosse entrar em uma equipe campeão e já entrosada,
talvez não chegasse à Copa de 1958 e sabe-se lá o que seria da
seleção. Mas o destino foi bom com ele, com o Santos e com o
Brasil, e o resto da história todo mundo sabe.
Toda essa introdução
é para justificar o título acima. Neymar não conta hoje, em seu
clube, com companheiros próximos ao seu talento. Digo “próximos”
porque, à altura, nem na seleção ele tem. Tem a seu lado um André
que parece pesado, um Patito Rodríguez, habilidoso mas ainda perdido
em boa parte do tempo; Gerson Magrão, talvez o mais lúcido na meia,
mas... é Gerson Magrão. E Juan, no seu lado canhoto, o predileto,
que também dispensa comentários.
É o salvador em uma época de
transição na qual o time do Santos busca uma nova cara, com a saída
de diversos jogadores como Elano, Borges, Alan Kardec, Ibson (tá,
esse não faz grande falta), e, fatalmente, o volúvel e inconstante
Ganso. Ainda não conta com o calejado Léo na maior parte do tempo,
tampouco com o contundido – e vital – para a defesa, Edu Dracena,
além de outros no departamento médico. O Alvinegro não consegue
repetir a mesma formação (hoje não contou com um recém-contundido
Adriano, além de Felipe Anderson e Durval). Sem um conjunto formado
para ajudar, Neymar carrega a responsabilidade, mas não é fácil
seu jogo encaixar.
Mais um gol de placa para a coleção de Neymar
Na primeira etapa isso
ficou patente. Pra variar, o Santos tomou um tento dentro dos 15
primeiros minutos. Também nada incomum, tomou um gol de um
ex-jogador, Deivid. O Coritiba marcava bem, atacava pelos lados e
levava perigo nas bolas aéreas, ponto fraquíssimo dos zagueiros que
estavam em campo, principalmente de Bruno Rodrigo. Já no segundo
tempo, o posicionamento nas ditas bolas paradas foi bem melhor, e o
Coritiba pouco ameaçou o Santos, que muitas vezes oferecia o campo
para o contragolpe dos donos da casa.
Mas os peixeiros também
não chegavam. Desde o primeiro tempo, os torcedores xingavam Neymar.
Quando as ofensas subiram o volume, o atacante quase marcou de cabeça
na primeira etapa. E quase desapareceu depois. No entanto, Muricy
teve um ímpeto ofensivo e trocou Ewerthon Páscoa por Bernardo.
Patito recuou mais para vir de trás, e o Peixe começou a ganhar
terreno. Começava a se desenhar um cenário mais favorável à
atuação de Neymar.
E, aos 26, veio o
encanto. Neymar passou por cinco rivais (ou seis, conforme a conta),
incluindo o arqueiro rival. Contou com a sorte, como todo craque, e
fez um gol de placa. Um tento genial. E a virada chegou depois de uma
finalização de Patito Rodríguez, que sobrou para Neymar
complementar com a tranquilidade dos que sabem do que a bola gosta.
Infelizmente, por conta de uma suposta provocação à torcida
adversária que o xingou quase o tempo todo, tomou o terceiro amarelo
e não pega a Portuguesa. Azar do Santos e de quem gosta de futebol.
Números de Neymar
Com Neymar em campo, o
Peixe tem um aproveitamento de líder: 20 de 26 pontos disputados, ou
76,9%. Fluminense e Atlético-MG tem menos de 71%. Mais um motivo
para o torcedor não simpatizar nem um pouco com Mano Menezes e a sua
seleção brasileira. O garoto chega a oito gols em nove partidas no
Brasileiro (sim, ele não participou de mais de 60% dos jogos do
Santos, boa parte deles em função do Brasil, e não é a CBF que
paga o seu salário). Neste ano, em 52 partidas, fez 44 gols, sendo
que, pelo Santos, foram 38 jogos e 36 tentos. Sua impressionante
performance soma ainda 27 assistências no ano, 17 pelo Alvinegro e
dez pela seleção. É top 5 de qualquer lista de artilheiro ou meia que dá passe para gol.