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quinta-feira, novembro 28, 2013

Os Beatles, esses comunistas hipnotizadores!

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'I wanna hold the sickle and the hammer'
O peculiar apreço por bizarrices literárias já me levou a ler, por exemplo, um dos livros "Universo em Desencanto", da Cultura Racional, que fisgou Tim Maia nos anos 1970. Por ele fiquei sabendo que descemos de uma planície do mundo superior e, quando o sol começou, regredimos para a energia animal, ressurgindo deformados a partir da resina e da goma - ou algo parecido. Como acredito que todas as pessoas são loucas, em maior ou menor grau, explícita ou implicitamente, diferenciadas apenas pelos milhares de tipos de distúrbios conhecidos ou ainda não catalogados, esses delírios publicados com a chancela de "coisa séria" comprovam minha orientação filosófica de que "nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle". Sob o "estandarte do sanatório geral" do Chico Buarque.

Pôster dos quatro rapazes de Leningrado
Por isso, fuçando coisas inúteis, acabei encontrando meu próximo alvo: o livro "Comunismo, hipnotismo e os Beatles" ("Comunism, hypnotism and The Beatles"), do reverendo David A. Noebel, publicado em 1964. O que mais espanta é que o autor classifica sua obra como uma "tese" e desenvolve uma teoria da conspiração absolutamente sincera de sua parte - o que torna tudo ainda mais divertido. Impregnado pela paranoia anti-comunista disseminada nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial e indignado com a beatlemania que tomava conta do país naquele início dos anos 1960, Noebel afirma que os quatro rapazes de Liverpool foram treinados em um laboratório de "hipnose em massa e neurose artificial" na União Soviética para hipnotizarem os jovens e torná-los histéricos, retardados, rebeldes, promíscuos e... comunistas! Como é que ninguém percebeu?!??

Lembre-se: 'She loves you, yeah,yeah,yeah!'
Deliciem-se com o seguinte trecho do livro: "Os comunistas, através de seus cientistas, educadores e artistas, inventaram uma técnica elaborada, de cálculo e científica, voltada para fazer uma geração de jovens americanos inútil, para, através do nervo óptico, atingir a deterioração e o retardo mental. O plano envolve reflexos condicionados, hipnotismo e certos tipos de música. Os resultados, destinados a destruir a nossa nação, são precisos. Não é de admirar o Kremlin dizer que não vai levantar a bandeira vermelha sobre os norte-americanos, pois eles mesmos irão fazê-lo. Se o seguinte programa científico destinado a fazer os nossos filhos mentalmente doentes não for exposto, os americanos ficarão mesmo mentalmente degenerados". Excelente! Sim, é paranoia, delírio, mistificação e mais um monte de disparates interessantes!

Pra quem quiser me dar um presente de Natal, fica a dica. E EU SOU NORMAL!

'Nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle'

P.S.: Caso não encontrem essa obra prima, tá valendo essa aqui também, ó:

Elvis não morreu: ele está vendendo incensos em uma tenda no Nepal

terça-feira, maio 24, 2011

O dia em que Bob Dylan, 70, apresentou os Beatles à maconha

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Há 70 anos, na cidade de Duluth, Minnesota, nascia Robert Allen Zimmerman, que ficaria mais conhecido como o compositor e cantor de rock e folk Bob Dylan. O cara é referência absoluta para roqueiros em geral – em especial o pessoal de esquerda, pelas músicas de protesto, como a obrigatória Blowing in the Wind, que se tornou hino das brigas por direitos civis e liberdades nos agitados anos 60 dos EUA (e do senador Eduardo Suplicy, do PT paulista, um ícone da vergonha alheia).


Foi também Dylan quem apresentou a maconha aos quatro garotos de Liverpool conhecidos como The Beatles, como mostra esse post do blog parceiro A Horda, assinado também por este que vos escreve. Lá também tem uma resenha do filme Não Estou Lá (I'm Not There no original em inglês), cinebiografia pirante dirigida por Todd Haynes em que que seis atores diferentes (entre eles o Coringa Heath Ledger, o Batman Christian Bale e a atriz Cate Blanchett) interpretaram o cantor em diferentes fases de sua vida e carreira.

Vai o link para A Horda e meus parabéns a mister Bob Dylan!

quarta-feira, novembro 24, 2010

Let it be

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Na lista de vexames da diretoria do São Paulo nos últimos anos, que incluiu o Roberto Justus entrando em campo com o time e o Gilberto Kassab recebendo uma camiseta personalizada, podemos agora listar mais um: segundo o diário Lance!, "durante o show de Paul McCartney no Morumbi, Juvenal Juvêncio recebeu em seu camarote o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador José Serra e o atual governador, Alberto Goldman". Aproveitando a nostalgia beatlemaníaca, os três patetas, digo, políticos, que fizeram um esforço "hercúleo" para manter o Morumbi na Copa de 2014, devem ter dito a Juvêncio: "o sonho acabou". E, com o estádio recebendo tais figuras em um camarote, virou pesadelo. Mas, como diria Sir McCartney, "deixa estar". Sua hora chegará, Juvenal. Pode apostar nisso.

sábado, outubro 31, 2009

Botafogo carioca liberou LSD paraguaio em 1968

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Em meio as deliciosas histórias de "Dez! Nota dez!", a biografia (à direita) do mitológico Carlos Imperial escrita por Denilson Monteiro (Editora Matrix, 2008), separei uma das que falam sobre futebol. Em 1968, Juan Zenón Rolón era um cantor paraguaio que defendia uns trocados na noite paulistana, sob a alcunha de Juancito. Contratado por Imperial para aparecer no programa "Barra Limpa", da TV Tupi, o rapaz foi rebatizado simplesmente como Fábio - a partir de Fábio Marcelo, nome usado anteriormente por um cantor amigo dele, que depois trocou para Herondy (aquele de "Não se vá", da futura dupla com Jane). Porém, apesar de agradar na televisão, o paraguaio não tinha contrato com gravadoras e não via a hora de entrar no estúdio. Quando abordava Imperial, este se limitava a dizer que ainda não havia chegado a hora. Foi aí que o futebol entrou como fator decisivo. Segue o trecho do livro que conta essa historinha:
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Na final do campeonato estadual [do Rio de Janeiro], em 9 de junho de 1968, Imperial levou Fábio para conhecer o Maracanã. A decisão era entre o seu querido Botafogo e o Vasco da Gama. O Glorioso jogava pelo empate e tentava o bicampeonato. Imperial comentou com sua descoberta:
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- Vamos ver se você é pé-quente.
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Fábio demonstrou ser um verdadeiro talismã, pois logo aos 15 minutos Roberto marcou para o Botafogo, e aos 33 foi a vez de Rogério balançar a rede vascaína. Carlos vibrava e abraçava seu pupilo. Aos 15 do segundo tempo, Jairzinho marcou o terceiro, e Gérson liquidou a fatura cobrando falta aos 22. Botafogo 4 x Vasco 0. (...) Quando voltaram para a Miguel Lemos [rua onde ficava o apartamento do produtor/compositor], Imperial, ainda eufórico com a conquista do seu time, falou para Fábio:
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- Você é realmente um pé-quente, amanhã vou chamar o pessoal da RCA Victor e falar para eles te contratarem.
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Na segunda-feira, Imperial ligou para a gravadora e os executivos foram até a Miguel Lemos, onde o contrato foi assinado. Agora restava ao cantor providenciar duas músicas para um compacto simples. Fã dos Beatles, Fábio ouvia direto a polêmica "Lucy in the sky with diamonds", canção de duplo sentido, que alguns diziam se uma ode de John Lennon ao LSD. O paraguaio sabia que Imperial tinha ojeriza a qualquer tipo de droga, mas não dispensava uma boa polêmica. Resolveu arriscar.
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- Imperial, os Beatles estão fazendo o maior agito com aquela música deles. A gente podia fazer a nossa aqui no Brasil. Eu já tenho os primeiros versos: "Lindo sonho delirante, hoje quero viajar".
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A possibilidade de ganhar as páginas dos jornais falou mais alto, e Carlos resolveu embarcar no chamado som psicodélico. Ele e Fábio trabalharam a canção e fizeram uma segunda, "O Reloginho". As duas foram gravadas no estúdio Havaí, com a participação dos sempre eficientes Fevers.

Maracanã, 1970 - Leno, Tony Tornado, Guilherme Lamounier, Clara Nunes, Carlos Imperial, Antonio Adolfo e Tibério Gaspar



sexta-feira, setembro 11, 2009

A relação entre o Vaticano e a General Motors

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Tendo ouvido com mais atenção a música "Awaiting on you all" ("Aguardando por todos vocês"), de George Harrison, me deparei com versos intrigantes:

And while the Pope owns 51% of General Motors
And the stock exchange is the only thing he's qualified to quote us
(E enquanto o Papa possui 51% da General Motors
E a bolsa de valores é a única coisa que ele está qualificado para nos citar)


Confira abaixo e preste atenção a partir de 2:09:



Curioso, procurei fuçar alguma coisa que relacionasse a montadora de veículos com o Papa da época em que a canção foi feita (1970), o italiano Paulo VI - ou Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, que mandou no Vaticano por 15 anos. A fonte mais interessante que encontrei foi uma resenha do livro "Money and ther rise of the Modern Papacy" ("O dinheiro e a ascensão do Papado Moderno"), de John Pollard, publicado pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, em 2005. "As finanças do Vaticano são, desde muito tempo, questão de especulação. E, nas últimas décadas, alguns jornalistas em particular, tornaram-se fascinados por isso", diz o texto.

"Mas foi só a partir da reforma da cúria romana por Paulo VI, em 1967, e a criação da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Igreja, para coordenar o trabalho de todos os organismos financeiros, significativamente o Banco do Vaticano, que algumas das contas passaram a ser de domínio público".
Efígie do Papa Paulo VI (à esquerda) em moeda do Vaticano de 1963

Entre as especulações que os segredos financeiros da Igreja Católica geraram, o resenhista cita exatamente a música de Harrisson como melhor exemplo. "Nem é preciso dizer que, embora seja quase certo que o Vaticano possui ações da General Motors, é extremamente improvável que ele jamais teve qualquer coisa que se aproxime de uma participação maioritária", observa, ao comentar os 51% da letra (51, esse número mítico...). Porém, mesmo que o ex-beatle tenha carregado na tinta, o livro de John Pollard parece confirmar que embaixo desse angu tem osso. "O Papado se tornou uma instituição financeira global, não obtendo sua renda dos assuntos do Estado Papal, mas das ofertas dos fiéis de todo o mundo e também de retorno sobre um crescente portfólio de investimentos na agricultura, mercado imobiliário, indústria transformadora, comércio e finanças distribuídos ao longo das capitais financeiras do Antigo e do Novo Mundo - na própria Roma, Milão, Genebra, Lausanne, Londres, Nova York, Boston, Chicago, Buenos Aires e Rio de Janeiro, para mencionar as mais importantes", destaca o texto.

De qualquer forma, George Harrison era um aficcionado por automobilismo (vizinho por um tempo, amigo íntimo e padrinho de um dos filhos do piloto brasileiro Emerson Fittipaldi) e não parece de todo improvável que tenha ouvido alguma fofoca sobre as participações acionárias da GM. Mas a letra de "Awaiting on you all" não cutuca só o Papa. Como já comentei em outro post, o período entre 1970 (quando a letra foi escrita) e 1974 (quando a "companhia" Beatles foi desfeita legalmente) foi de troca de ofensas e de "recados" entre Harrison, John Lennon e Paul McCartney.

Nos primeiros dois versos da música em questão, como pode ser vista no vídeo postado lá no início desse texto, os petardos de George são contra a iniciativa de Lennon de ter transformado sua lua de mel com Yoko Ono em um evento hippie chamado "Bed in" ("Na cama pela paz"), quando o casal passou quase uma semana deitado, de pijamas, cantando, "militando" e dando entrevistas. Apesar de trocar o nome para "Love in", que não tem tradução mas pode ser entendido como gíria para qualquer piração bicho-grilesca inócua dos anos 1960, Harrison foi sarcástico ao limite ao dizer que ninguém precisa de uma bed pan (aparadeira, foto à esquerda), sugerindo que no "Bed in" John não saía da cama nem para ir ao banheiro. E ainda tira um sarro da fixação doentia de Yoko Ono por horóscopo e ocultismo:

You don't need no love in
You don't need no bed pan
You don't need a horoscope or a microscope
To see the mess that you're in
(Você não precisa de um evento paz & amor
Você não precisa de uma aparadeira
Você não precisa de um horóscopo ou um microscópio
Para ver a bagunça em que você está)


O curioso é que no ano seguinte, em 1971, John Lennon também decidiu irritar o Vaticano, produzindo uma antológica gravação do maluco novaiorquino David Peel, "The Pope smokes dope" ("O Papa fuma maconha"). Ouça um remix recente desse hino da porralouquice:



Buenas, mas se você acha que essa esculhambação não passa de gracinha riponga, então me despeço com o vídeo abaixo, que prega seriamente que "Jesus was a mushroom" ("Jesus era um cogumelo"). Perto disso, o Papa comandar a General Motors parece a coisa mais plausível do universo...

sábado, junho 13, 2009

Tragédia pode ter mudado o rumo da Copa de 58

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Estou lendo Manchester's Finest - How the Munich Air Disaster Broke the Heart of a Great City, de David Hall, sobre o acidente de avião – foto – que matou oito jogadores do time inglês Manchester United em 6 de fevereiro de 1958, na Alemanha. Era a famosa equipe batizada como "Busby Babes", uma geração de jovens craques capitaneados pelo mítico técnico escocês Matt Busby, que venceu o Campeonato Inglês das temporadas 1956-1957 e 1957-1958. Seria como se o time do Santos perdesse numa tragédia, logo após vencer o Brasileirão de 2002, Robinho, Diego, Renato, Elano, Leo, Alex e Alberto, por exemplo.


No dia anterior ao acidente aéreo, o Manchester United empatou por 3 a 3 com o Red Star, em Belgrado, na antiga Iuguslávia, e garantiu presença na semifinal da Liga dos Campeões da Europa, na qual enfrentaria o Real Madrid. Mas, na viagem de volta, o avião parou para reabastecer em Munique e, sob forte nevasca, tentou decolar duas vezes e não conseguiu. Na terceira, saiu da pista, bateu uma das asas em uma casa e pegou fogo, matando 22 das 43 pessoas a bordo. Veja imagens da epoca aqui.

Entre as vítimas fatais estavam os jogadores Geoff Bent, Roger Byrne, Eddie Colman, Duncan Edwards, Mark Jones, David Pegg, Tommy Taylor e Billy Whelan. Morreram ainda três funcionários do clube, oito jornalistas de Manchester, dois membros da tripulação e dois outros passageiros. Entre os jogadores que sobreviveram estava Bobby Charlton, futuro campeão mundial pela Inglaterra em 1966. Outros dois do time, Jackie Blanchflower e John Berry, nunca mais puderam jogar futebol. O técnico Matt Busby passou por diversas cirurgias e esteve entre a vida e a morte, mas sobreviveu para reassumir o time três meses depois.

Mas a perda mais sentida foi a de Duncan Edwards (foto), de 21 anos, uma espécie de Pelé inglês e grande promessa de destaque na Copa da Suécia, que seria disputada dali alguns meses. Como se sabe, a Inglaterra foi a única seleção a quem o Brasil não conseguiu derrotar naquele mundial – e seria uma das favoritas ao título se tivesse contado com os jogadores Edwards, Taylor, Byrne, Pegg e Bent, que morreram no acidente e tinham suas convocações praticamente certas.

Os "Busby Babes" em 1957: a partir da esquerda, Ray Woods, Duncan Edwards, Tommy Taylor, Billy Whelan, Geoff Bent, Bill Foulkes, Jackie Blanchflower, Colin Webster, Dennis Viollet, Eddie Colman e Johnny Berry

Ps.: O legendário técnico Matt Busby (foto à esquerda) foi citado por John Lennon na letra de Dig It, dos Beatles, em 1969, um ano depois de o Manchester City ter vencido o Benfica, de Portugal, na decisão da Liga dos Campeões da Europa. A letra diz: "Like a rolling stone/ Like the FBI and the CIA/ And the BBC...BB King/ And Doris Day/ Matt Busby/ Dig it, dig it, dig it...". A música está no disco Let It Be e pode ser conferida aqui. Busby morreu em 1994, aos 85 anos.

sábado, junho 06, 2009

Cerveja ajudou músico a impressionar McCartney

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Outro dia escrevi sobre o único show que os Beatles fizeram em Dublin, Irlanda, em 1963. Curioso sobre o assunto, acabei encontrando na livraria pública "The Beatles and Ireland" (à esquerda), de Michael Lynch e Damian Smyth, sobre todas as possíveis relações da banda inglesa com o país vizinho - a comecar pelos antepassados de John, Paul e George, todos irlandeses. Depois de descrever os shows em Dublin e em Belfast, o livro fala sobre visitas esporádicas de cada beatle à Irlanda até 2003 e narra fatos pitorescos como a compra de uma pequena ilha do litoral irlandês por John Lennon, em 1967, chamada Dorinish. O local funcionou como acampamento hippie por dois anos, até 1971, e acabou sendo vendido pela viúva Yoko Ono em 1985.

Lá pelas tantas, os autores enveredam pela simpatia declarada de John e Paul, em 1972, pelo grupo paramilitar católico e reintegralista IRA (Irish Republican Army), que luta pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e reanexação à República da Irlanda. Na época, Lennon lançou as canções "The Lucky of the Irish" ("A sorte dos irlandeses") e "Sunday Bloody Sunday" ("Domingo Sangrento Domingo") e McCartney, "Give Ireland Back to the Irish" ("Deem a Irlanda de volta para os irlandeses"). Foi exatamente nesta época que o guitarrista irlandes Henry McCullough foi chamado para a primeira formação dos Wings, a banda de Paul pós-Beatles.

E ele conta um segredo sobre seu teste para admissão: "Recebi um telefonema de Ian Horne, meu roadie, pedindo para eu ir a um ensaio no dia seguinte. Eu tinha bebido um monte de pints [copo padrao de 500ml] de Guinness [cerveja irlandesa] antes de ir lá pela primeira vez. Isso ajudou muito!". Segundo McCullough, depois de tocar alguma coisa do velho rock'n'roll, como "Blue Moon of Kentucky" (um dos primeiros hits de Elvis Presley) e "Lucille" (de Little Richard, ídolo de Paul), o teste partiu para o reggae e musicas de McCartney daquela época. Foi então que o ex-beatle comecou a tocar uma música inédita. "Eu perguntei a Paul o que fazer e ele apenas disse 'Estamos só tentando alguma coisa' - e continuou tocando. Nos o seguimos e, pouco depois, uma nova canção estava escrita. Ela foi feita naquele teste", lembra McCullough. Para ele, foi literalmente uma "prova de fogo", pois conseguiu improvisar e compor com "um monte de Guinness" na cabeca.

Wings, 1972. A partir da esquerda: McCullough, Denny Laine (guitarrista), Denny Seiwell (baterista), Linda (teclados) e Paul McCartney (baixo)

quinta-feira, junho 04, 2009

Beatles na Irlanda – com ou sem cerveja

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Descobri hoje que na Middle Abbey Street, a rua de trás da quadra onde fica minha escola de inglês, em Dublin, havia um cinema chamado Adelphi, que foi parcialmente demolido e hoje abriga um estacionamento. Foi ali, há 45 anos, em 7 de novembro de 1963, que os Beatles fizeram sua única apresentação na cidade (na foto acima, o show). No dia seguinte estiveram, pela primeira de duas vezes, em Belfast, na Irlanda do Norte. Passei em frente ao antigo cinema e fiquei imaginando a confusão que devem ter provocado naquela estreita rua. Dizem que, na saída, se mandaram para o hotel na van de um jornal, tomando uísque. Ou cerveja, sei lá...

O cinema Adelphi na década de 1960, no centro de Dublin

A fachada hoje, entrada do estacionamento da loja Arnotts

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Afogando as mágoas na cerveja

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Pouco antes do pé na bunda: Pete Best, George, Paul e John

Outro dia comentei aqui, num post sobre os Beatles, como o empresário Brian Epstein despachou o baterista Pete Best da banda, substituindo-o por Ringo Starr. Historicamente, como o próprio guitarrista George Harrison dizia, essa teria sido uma "grande maldade". Afinal, foi a partir da entrada de Pete, em agosto de 1960, que a banda cristalizou-se como a melhor de Liverpool e conseguiu seu primeiro contrato de gravação com a EMI-Parlophone. Dizem que o produtor George Martin não gostou da batida do baterista. Dizem que Paul McCartney não ia com a cara dele e fez campanha para tirá-lo. Dizem que Epstein era apaixonado por Pete e, sem correspondência, vingou-se. Seja o que for, em 16 de agosto de 1962, o baterista recebeu um telefonema do empresário, demitindo-o (ao lado, reprodução da notícia em jornal da época). Quando a beatlemania explodiu no mundo e o quarteto - já com Ringo - ficou milionário, em 1964, Pete começou (lógico) a ter problemas de depressão, culminando com uma tentativa de suicídio no ano seguinte, ao vedar um dos cômodos de sua casa e abrir o gás (seu irmão o salvou). Curiosamente, naquela época, os Beatles lançavam no cinema o filme "Help!" - "Socorro!"...

Mais tranquilo, casado e com duas filhas, Pete trabalha desde 1969 numa agência pública de empregos, em Liverpool. "Passei a viver o que podemos chamar de uma vida normal: ir ao trabalho, voltar, sair para tomar uma cerveja, coisas assim", conta. "Mas, lá no fundo, ainda existe aquela sensação: 'Meu Deus, se eu tivesse continuado como um beatle!'. Hoje, penso que não faz diferença. Quando chego em casa, encontro as contas a pagar que o correio deixou embaixo da porta. Vem alguém e me diz: 'pague!'. E vou vivendo, afinal, todas essas coisas normais que todos vivem", acrescenta. Numa extensa entrevista de 2007 para o site Geneton, Pete contou a um repórter brasileiro o que aconteceu quando recebeu a notícia de sua exclusão dos Beatles. Aparentemente, ficou sem entender, pois o clima era bom entre eles. "Bem na época da minha saída, logo antes, nós estávamos todos bebendo juntos e parecíamos os melhores amigos do mundo", recorda o ex-baterista. E se foi bebendo que ele conversou com John, Paul e George pela última vez, foi também na manguaça, naturalmente, que tentou afastar o atordoamento. Veja o trecho em que ele fala sobre o dia fatídico:

Geneton - Que sensação ficou até hoje do dia em que você recebeu a notícia de que já não era um beatle? Deve ter sido um dia doloroso...
Pete Best - Não chegou a ser exatamente, porque foi como se uma bomba caísse na minha cabeça, assim, de repente. Só no dia seguinte é que tudo começou a entrar na minha cabeça, quando entendi que tinha acabado. Já era. É aí que a dor começa. Não se tem como voltar. Aquele terminou se transformando no dia mais doloroso, no sentido de que mudou a minha vida. Tive outros tempos duros, desde então. Mas aquele foi o dia que mudou todo o curso de minha vida. Eu me lembro bem. Era agosto de 1962.

Geneton - O "Times" recontou a história há pouco tempo. Você foi a um pub beber umas cervejas...
Pete Best - Umas? Muitas! (ri). Eu tinha acabado de falar com Brian Epstein, às 10 e meia da manhã. Um amigo estava me esperando do lado de fora. Recebi a notícia de que tinha saído dos Beatles e fui para fora. Meu amigo notou algo diferente. Perguntou: "o que foi que houve?". Eu disse: "Eu saí! Não sou mais um beatle!". Ele respondeu: "Meu Deus! Não pode ser verdade! O que é que aconteceu?" Eu disse: "Tudo o que quero fazer é tomar uma cerveja, afundar a minha cabeça!". Fomos para um pub. Derrubamos um bocado de cerveja. Chegou um momento em que eu disse: "Ok! Vamos para casa!". Quando fui para casa é que senti a pancada. E comecei a chorar. Chorei a noite inteira. É o tipo do choque de efeito retardado. Bem aí é que entendi: tudo tinha acabado.


Bebedeira em Hamburgo, Alemanha. Da esquerda para a direita: Stuart Sutcliffe (baixista, que morreria em 1962), John Lennon, Helmut (garçom), George Harrison, Paul McCartney e Pete Best

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Ideia de bêbado

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Muita gente que gosta de rock'n'roll torce o nariz para os Beatles, por causa da imagem inicial da banda, certinha, de terno, gravata e aparência de "meninos bons". O que nem sempre é levado em conta é que eles mesmos detestavam aquela imagem falsa e marqueteira, construída cirurgicamente pelo empresário judeu Brian Epstein. Sua primeira exigência, para promovê-los, foi que abandonassem o estilo selvagem de topetes, roupas de couro apertadas, botas de caubói (acima) e comportamento delinquente - como tocar com assentos de privada no pescoço, fumar, beber e imitar gorilas no palco, o que faziam nos cabarés de Hamburgo, na Alemanha. Epstein mandou todos ao alfaiate, para que se vestissem como ele, e chegou ao requinte de exigir que trocassem de marca de cigarro, para uma que não fosse proletária. Pete Best, o baterista na época, recusou-se a cortar o topete e a "se enquadrar". Epstein o substituiu por Ringo Starr com o aval mudo de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison.

Porém, depois que eles tomaram o mundo de assalto e ficaram muito mais poderosos do que seu empresário, passaram progressivamente a abandonar o visual "limpinho". A guinada veio em 1967, com o mergulho na psicodelia e nas roupas hippies. Antes disso, porém, a insatisfação com as entediantes e ridículas sessões de fotos promocionais, sempre trajando os odiosos terninhos, já provocava revolta, principalmente em Lennon. Foi por isso que, em 15 de março de 1966, eles chamaram o fotógrafo oficial da banda, Robert Whitaker (o mesmo que faria a célebre capa do LP Sgt.Pepper's Lonely Hearts Club Band), para uma brincadeira que acabaria em grande confusão. Os quatro imaginaram o que fariam se tivessem o poder de planejar, dirigir e executar uma sessão de fotos. O propósito central seria destruir a imagem de "bonitinhos e ingênuos", a partir do choque e do nonsense. Por isso, a sessão foi batizada por eles como "Aventura sonâmbula". Cada um dos quatro sugeriu uma situação para ser registrada, como a da foto acima, em que mostram gomos de linguiça para uma fã assustada.

Mas a ideia de Whitaker, apoiada com gosto por Lennon, foi a mais chocante. Ele sugeriu que os quatro posassem com aventais de açougueiro, segurando pedaços de carne e ossos - e rodeados por bonecas decapitadas, mutiladas e com várias dentaduras e olhos de vidro espalhados (foto à esquerda). Durante muitos anos, especulou-se que isso teria sido feito para provocar a gravadora Capitol, que prensava os discos dos Beatles nos Estados Unidos. Isso porque, em vez de reproduzir fielmente a discografia que saía na Inglaterra, ela mutilava os discos e lançava todo ano dúzias de coletâneas que misturavam músicas de diversas fases, sem o menor critério, para multiplicar a oferta e o lucro. Quando os Beatles pisaram pela primeira vez na terra do Tio Sam, ficaram confusos e indignados com a quantidade de discos deles que nunca tinham visto ou ouvido falar. Lennon, no famoso show no Shea Stadium, em Nova York (agosto de 1965), apresentou assim uma das canções que iam tocar: "Essa é do Beatles 4 ou do Beatles 5, sei lá, não conheço esse disco".

Ou seja: a Capitol fazia um serviço de "açougueira" retalhando a "carne" (obra) da banda de Liverpool - e a sessão de fotos denunciaria sutilmente isso. Segundo o fotógrafo, porém, as imagens foram feitas por brincadeira e não seriam utilizadas como material promocional. Algumas acabaram saindo, discretamente, no verso da capa de algum compacto obscuro ou em revistas sobre música, sem destaque. Mas a bomba explodiu quando, em junho de 1966, algum manguaça teve a brilhante ideia de escolher uma das fotos do "açougue humano" para a capa de mais uma coletânea caça-níqueis da Capitol para o mercado estadunidense, "Yesterday and today". Ao chegar às lojas, a capa (no alto, à direita) provocou forte reação negativa dos consumidores, levando a gravadora a recolher o que pôde e substituir, cinco dias depois, por outra capa, mais comportada (foto de baixo). Hoje, as capas originais, com a carne e as cabeças decapitadas, chegam a ser compradas por até 10 mil dólares (mais de 20 mil reais) por colecionadores de todo o mundo. Pode parecer loucura, mas é um ótimo investimento: a cada década, as raras cópias dobram de preço.

Na época, os Beatles não disseram uma palavra sobre o assunto. Vinte anos depois, Paul McCartney comentou apenas que a carne utilizada na sessão parecia "apetitosa". Passadas quatro décadas, fica a dúvida sobre quem bebeu mais: se Lennon (acima), que incentivou a sessão, se o fotógrafo Whitaker, que teve a ideia do "açougue", ou o manguaça da Capitol que escolheu uma das imagens para capa de disco. Só o que sei é que essa "bebedeira" desaguou numa das maiores ousadias plásticas da história do rock.

sexta-feira, setembro 26, 2008

O polêmico show de McCartney em Israel

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Ontem o ex-beatle Paul McCartney apresentou o show "Amizade primeiro" em Tel Aviv, Israel, para aproximadamente 40 mil pessoas. O evento foi cercado por muita polêmica e o britânico teria até mesmo recebido ameaças de morte por parte de fundamentalistas islâmicos, que encaravam sua presença no país como um apoio velado à política israelense em relação aos palestinos. O músico negou qualquer intenção nesse sentido e garantiu que estava lá para passar "uma mensagem de paz".

O curioso é que o ex-baixista da maior banda pop da história só agora pôde pisar em solo israelense, 43 anos depois do seu conjunto ser banido do país. O governo tomou essa medida em 1965 por acreditar que os Beatles poderiam "corromper moralmente" a juventude local. Durante muito tempo atribuiu-se a proibição à primeira-ministra Golda Meir, mas uma nova versão dá conta de que a mesma foi feita por uma junta cultural.

A propósito disso, estranhei ontem ler um texto do jornalista Nahum Sirotsky, correspondente do IG e da RBS em Israel, a respeito do show de McCartney. Dizia ele que "os israelenses esperaram 43 anos para ver um 'beatle'. A mais famosa banda do século passado negava-se a vir à região devido ao conflito israelense-palestino". A proibição do governo se tornou, no texto, uma recusa dos próprios Beatles em irem a Israel. Talvez o autor tenha ignorado o pedido oficial de desculpas do embaixador do país em Londres feito para McCartney, Ringo e Starr e também às famílias de John Lennon e George Harrison.

Mas o fato é que a apresentação do ex-beatle trouxe à tona novamente a questão do boicote de artistas a Israel. O produtor Shahaf Schwartz conta que metade dos shows acertados no ano passado foram cancelados, o que deve se repetir em 2008. A incerteza é tanta que as pessoas só acreditam de fato que uma apresentação vai ocorrer quando está próxima da data prevista. Antes, ninguém arrisca.

A Campanha pelo Boicote Cultural e Acadêmico a Israel, movimento fundado pelo analista político palestino Omar Barghouti, envia cartas e comunicados a diversas personalidades pedindo que não compareçam a Israel, tentando repetir a tática utilizada em relação à África do Sul à época do apartheid. O governo israelense nega que haja qualquer similitude entre uma situação e outra. Mesmo assim, em junho deste ano o cineasta Jean Luc Godard desistiu de participar de um festival no país, segundo assessores, influenciado também pela pressão política. A Campanha pelo Boicote enviou uma mensagem ao francês que perguntava: "Você foi a um festival de cinema africâner durante o apartheid na África do Sul? Por que Israel, então?".

A pressão também fez com que o ex-Pink Floyd Roger Waters mudasse o local de um show em 2006, inicialmente marcado para Tel Aviv. Ele realizou sua apresentação em um lugar simbólico que mostra a possibilidade de os dois lados conviverem lado a lado: o povoado árabe-judaico de Neve Shalom. Antes, pichou a frase "derrubem o muro" em um dos painéis de concreto que formam a barreira construída por Israel na Cisjordânia. À época, declarou: "Isto é uma construção horrenda. Já vi fotos dela, já ouvi falar muito dele, mas sem estar aqui não é possível imaginar até que ponto é terrivelmente opressivo e como é triste ver as pessoas passando por estes buraquinhos. Isso é uma loucura."

sexta-feira, setembro 12, 2008

O buraco era mais embaixo...

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Outro dia postei aqui uma prova da capacidade pacificadora da manguaça, que conseguiu pôr uma pá de cal na briga entre John Lennon e Paul McCartney no início da década de 1970. Mas leio hoje, no portal Terra, que o motivo da rusga era outro: briguinha de casal. É o que diz a polêmica biografia John Lennon: The Life, que chega às lojas dos Estados Unidos no mês que vem. O autor, Philip Norman, garante que Lennon era gamado por McCartney (à direita, ambos em momento íntimo).

Agora tudo faz sentido, pois cachaça é o melhor remédio, de fato, para dor de corno e paixão não-correspondida. E a boiolice dos dois explica a foto da contracapa do álbum Ram, que mostra dois besouros (beetles, em inglês) transando. Bem que eu desconfiava dos berros de Paul McCartney em Oh, Darling, do último disco de estúdio da banda inglesa. Na época, John estava querendo acabar com os Beatles, e Paul suplicava: "When you told me, you didn't need me anymore/ I nearly broke down and cried" ("Quando você me contou, você não precisava mais de mim/ Eu quase me acabei e chorei"). E arrematava, tresloucado: "Oh! Darling, if you leave me, I'll never make it alone" ("Oh, querido, se você me deixar, eu nunca mais vou fazer isso sozinho"). Yoko Ono, que muitos dizem ser um homem, deve ter sido mesmo o pivô da crise nesse relacionamento. Porque parece que traçou os dois...

Os parceiros beatles já tinham dado uma escorregada no tomate antes, em Two of us (Dois de nós), em que celebram o cotidiano de apaixonados: "Two of us wearing raincoats/ Standing so low/ In the sun/ You and me chasing paper/ Getting nowhere/ On our way back home" ("Dois de nós vestindo casacos de chuva/ Ficando bem baixo/ No sol/ Você e eu perseguindo papel/ Chegando a lugar nenhum/ Em nosso caminho de volta para casa"). "Ficando bem baixo"? "Nosso caminho para casa"? É, deve ter um fundo de verdade nessa nova biografia. E se for tudo mentira, pelo menos serve para perder meia hora de papo furado na mesa do bar. Até lá!

sexta-feira, agosto 15, 2008

O que o dinheiro separa, só a cachaça pacifica

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Autores de algumas das canções mais executadas no mundo em todos os tempos, os ingleses John Lennon e Paul McCartney sempre procuraram manter o público alheio às suas (muitas) divergências nos tempos dos Beatles. Porém, depois que a banda acabou, em 1970, ninguém se preocupou mais em manter as aparências. Envolvidos numa briga ferrenha por dinheiro, John, Paul, George Harrison e Ringo Starr (ou Richard Starkey) só conseguiriam chegar a um acordo judicial e assinar a dissolução formal do grupo em dezembro de 1974. Nesse intervalo, porém, a guerra foi feia, muitas vezes descambando para a baixaria.

Em maio de 1971, Paul partiu para o ataque em seu álbum Ram. Na capa, aparece segurando um carneiro pelos chifres (no alto, à direita), numa referência velada ao período barbudo/cabeludo de Lennon - e muito menos velada ao fato de ter "conhecido" Yoko Ono, no sentido bíblico, muito antes do parceiro se casar com ela. Mais provocadora ainda é a contracapa, que traz uma pequena foto de dois besouros (beetles, em inglês) transando. E Lennon entendeu a maldade da canção Too many people, que tem versos como "Too many people preaching practices/ Don't let them tell you what you wanna be" ("Muita gente pregando práticas/ Não deixe eles lhe dizerem o que você quer ser"), em alusão aos discursos engajados de John e Yoko sobre política, paz e comportamento.

Lennon rebateu cinco meses depois, em outubro de 1971, no disco Imagine. A primeira resposta vem no encarte, que contém uma foto dele segurando um porco pelas orelhas (foto à esquerda). Já na letra de How do you sleep?, o soco é no estômago de Paul, sem rodeios: "The only thing you done was Yesterday/ And since you've gone you're just Another day" ("A única coisa que você fez foi Yesterday/ E desde que se foi, você é apenas Another day"), referindo-se a duas músicas, a última, bem bobinha, o primeiro grande sucesso de McCartney pós-Beatles.

A reconciliação aconteceu por acaso. Em março de 1974, Lennon estava separado de Yoko e tomando todas com o cantor Harry Nilsson e o baterista do The Who, Keith Moon, em Los Angeles, Estados Unidos. De passagem por lá, McCartney resolveu falar um oi ao ex-colega - e, óbvio, beber alguma coisa (acima, John, Keith e Paul juntos). Pois a dupla passou a tarde na praia, tomando umas e rindo das velhas histórias. A fase carneiro/porco foi esquecida e o clima ficou tão bom que eles terminaram fazendo uma jam session em um estúdio local, com Moon, Nilsson e Stevie Wonder, entre outros (gravação que virou um disco pirata: A Toot and a Snore in '74 ). Um belo exemplo da capacidade pacificadora da bebida alcoólica...

quarta-feira, junho 18, 2008

Quatro contra um

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Como hoje sir James Paul McCartney completa 66 anos, recupero uma historinha que envolve os Beatles - e cachaça, lógico. No início de 1974, Elis Regina e seu marido na ocasião, o pianista César Camargo Mariano, embarcaram para Los Angeles para gravar com o maestro Antonio Carlos Jobim o célebre álbum "Elis & Tom", relançado há alguns anos. Tom Jobim foi recebê-los no aeroporto e depois foram tomar uns uísques para "quebrar o gelo" entre os três, que não tinham qualquer intimidade até então. Mas César não gostou do papo inicial de Jobim, que gabava-se de ter duas músicas entre as 30 mais executadas no mundo, enquanto os Beatles tinham quatro (a maioria da dupla John Lennon/ Paul McCartney). Um dos trunfos de Tom Jobim era "Garota de Ipanema", composta em parceria com Vinicius de Moraes. César, irritado com a pavonice, tentou provocar: "-De qualquer forma, eles têm o dobro". Ao que, impávido, Jobim respondeu: "Mas aí é covardia! Eles são quatro, pô!", deixando claro que seu papo de bar era apenas bravata para descontrair. O que, de fato, aconteceu - basta ouvir seu primoroso disco com Elis para comprovar o resultado.