Destaques

terça-feira, julho 26, 2011

Números e metas do Felipão

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Por Paulo Donizetti

O Palmeiras completou no último domingo uma jornada do tamanho de um Brasileiro, 39 jogos.Em 2011, o time chegou a "82 pontos". A média é de 2,1 pontos por jogo, ou aproveitamento de aproximados 70%, ao gosto do freguês.

No Brasileiro da era dos pontos corridos, essa média só foi superada pelo Cruzeiro de 2003 (72,4%). E as médias dos "libertadoráveis" menos bem colocados ficaram quase sempre perto de 1,6 ponto por jogo, ou de 55%.

Felipão faz a lasanha com os ingredientes que tem. Foto: Reprodução
Das 24 vitórias, nove fora de casa, dirão alguns que apenas duas foram contra time "grande", as duas sobre o Santos (que numa delas, aliás, estava bem pequeno). Ou três, se incluir o Botafogo da estreia do campeonato. Mas ouvirão que apenas duas das cinco derrotas do ano foram para time "grande", o Corinthians eo Fluminense. As outras foram Ceará, Ponte e Coritiba.

É essa a matemática que move o Felipão ao traçar metas. Ele está razoavelmente feliz com a temporada - ainda mais porque conhece como ninguém o limitado elenco que tem. Com um ou dois pontinhos a mais na tabela Brasileiro, estaria se sentindo realizado. Está com 58% de aproveitamento e acredita que média de campeão é 67%. Acha improvável que o ano termine atípico como está (e, enfim, queria ter um empate a menos e uma vitória a mais.)

O objetivo, portanto, é ter o elenco na mão para manter essa regularidade. Por isso não esperneia com Kleber, não vê a hora de contar com Valdivia, outro que, em outros carnavais, iria para a geladeira, e não acha ruim ter um reserva como Tinga. A emoção da competição é que os demais treinadores também fazem contas e traçam metas.

segunda-feira, julho 25, 2011

A Copa América deu alguma lição à seleção brasileira?

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Para falar a respeito da Copa América que se encerrou hoje e da participação brasileira, é interessante fazer um breve retrospecto do escrete canarinho nos últimos cinco anos, e de como a tal “opinião pública” reagiu a cada resultado importante do time. 

Após o fim da Copa de 2006 – o grupo comandado por Carlos Alberto Parreira era uma balbúrdia. Medalhões faziam o que queriam, Ronaldo e Adriano chegaram a seleção acima dos cem quilos. O Brasil, segundo a avaliação geral, perdeu para a França por conta disso: faltou autoridade mas, mais que tudo, não houve “comprometimento” do grupo, que não tinha um líder no banco ou dentro de campo.

Ah, aquele time do Dunga... Foto: Owen Jeffers Sheer
Após a Copa América de 2007 – o substituto de Parreira era Dunga. Sem nunca ter sido treinador antes, aos olhos da CBF, era a tal liderança que a seleção supostamente precisava. Pra variar, após um Mundial fracassado, a renovação começou, embora, aos poucos, parte dos derrotados de 2006 tenham voltado mais tarde. A seleção vencia, jogava com a tal garra, mas nem mesmo a vitória por 3 a 0 contra a Argentina na final da Copa América convenceu os céticos. O time era defensivo e pouco talentoso, na visão de muitos. Outros se contentaram com o estilo vitorioso que o treinador implantava na equipe, talvez conformados com o fato de o Brasil não ter tantos craques como outrora. 

Após a Copa do Mundo de 2010 – ah, mas que Brasil foi aquele! Até o Cruijff cornetou Dunga, não era a seleção... Onde estava aquele futebol faceiro, lépido, fagueiro, que sempre caracterizou a amarelinha? É preciso resgatar a ofensividade do futebol brazuca! Mano Menezes, segunda opção da CBF, é contratado, apesar de não ter exatamente um “DNA ofensivo” pra trazer de volta os bons tempos do ludopédio tupiniquim.

Após a Copa América de 2011 – Mano, no papel, chega quase a montar um time “pra frente”, às vezes até parece tentar reproduzir o esquema de Dorival Junior no Santos do primeiro semestre de 2010. Tem as duas maiores estrelas daquele time, aliás, mas o futebol jogado está bem distante daquele. Finda a participação na Copa América, em 12 partidas, são parcos 16 tentos, somente um a mais que a seleção de Dunga fez em seis pelejas pela Copa América de 2007. Agora, volta o discurso do comprometimento: são os meninos que não seguram a onda, que se preocupam mais com o dinheiro, com contratos, com o cabelo do que com a seleção.

Pois é, como se vê acima, os argumentos para justificar a derrota da seleção são reciclados: em uma hora, faltou raça; na outra, faltou técnica. E, quando uma seleção como o Uruguai é campeã da Copa América, como agora, a sensação de que “faltou raça” fica mais evidente para parte dos torcedores. Curiosamente, parece que a tal “raça” uruguaia esteve adormecida durante muito tempo, já que a seleção celeste ficou fora das Copas de 1994 e 1998, saiu na primeira fase em 2002 e também não viajou para a Alemanha em 2010.

O Uruguai é sim, a tal raça, mas não só. É conjunto, é técnica e habilidade, tem jogadores acima da média como Forlán e Suárez, e já joga junto há algum tempo. Quem viu o segundo gol marcado pela Celeste contra o Paraguai percebeu como se pode ver arte e habilidade em um contra-ataque. O Brasil, hoje, não usa essa arma, mesmo tendo jogadores aptos para tal. Aí aparece uma diferença fundamental entre as duas seleções: uma é time; a outra, ainda não é.

Claro que essa equipe uruguaia de hoje não será a mesma em 2014. Boa parte dos atletas tem mais de 30 anos e, contando que a Celeste consiga a classificação para a Copa no Brasil (o que não são favas contadas, já que eliminatórias por pontos corridos é algo bem diferente de torneios mata-mata curtos), não farão mais parte do escrete de Oscar Tábarez. Já o Brasil, se Mano se decidir por um esquema e conseguir também a tal fórmula para unir os jogadores em torno de um objetivo (coisa que Dunga fez, mas nem por isso foi campeão), vai ter à disposição um time bem mais respeitado do que foi nessa triste Copa América de parcos gols e baixo nível técnico.

Mídia se preocupa muito com o cabelo de Neymar. Foto: Ronnie Macdonald
Mais do que a pauta atual que movimenta a mídia tradicional, aquela sobre a dita “instabilidade” dos meninos da seleção, o que deveria ser perguntado é se Mano é o treinador ideal para lidar com esses garotos. Porque são, de fato, joias raras como há algum tempo o futebol brasileiro não produz. Dunga errou em não convocá-los para dar alguma experiência de seleção como aconteceu, por exemplo, com Ronaldo (em 1994) e Kaká (em 2002), mas cabe ao atual treinador criar um ambiente e apostar em um esquema em que seus talentos sejam mais bem aproveitados.

Aliás, será também que o atual técnico da seleção não “sentiu” o peso do cargo? Ele tem, de fato, um esquema tático que julga vencedor ou ainda está tateando? Vai rifar jogadores e arriscar perder a confiança de comandados por conta de sua boa relação com a imprensa (leia-se Globo) que até agora o tem poupado?

A mídia você já tem, Mano, ganhe seus jogadores e seja de vez em quando pára-raios deles, como fez Felipão ontem. Os resultados virão mais rápido, pode apostar.

domingo, julho 24, 2011

Oportunismo de uma confissão: dinheiro público em estádio é quase regra

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Até o São Paulo admite: teve dinheiro público para a construção do Cícero Pompeu de Toledo, conhecido como estádio do Morumbi. A conclusão de uma auditoria interna do clube corrobora o que fora afirmado há dois meses em reportagem da ESPN. Confirma o que muita gente sabia e que até Juvenal Juvêncio, em entrevista de novembro de 2008, admitia.



Laudo Natel (foto) era governador de São Paulo de 1966 a 1967 e de 1971 a 1975, ambos os períodos durante a ditadura militar. Antes, havia sido dirigente do São Paulo. E garantiu facilidades para a obra no Jardim Leonor (segundo a busca de CEP dos Correios), próximo à Vila Sônia. Consta que havia até liberação de material de construção por parte do setor público.

A versão oficial do clube saiu no Estadão neste domingo, e vários outros veículos seguiram-lhe à cola. Um relatório encomendado pela diretoria tricolor aponta que 4,54% do custo do Morumbi teria vindo da prefeitura e do governo do estado.

As "irrisórias" quantias, segundo termos do estudo, seriam de Cr$ 11 milhões, das administrações municipal e estadual em 1956 e 1958 (Cr$ 5,5 milhões para cada instância). Consta ainda que projetos de lei na Câmara de Vereadores paulistana aprovaram Cr$ 10 milhões (PL 301/1956) e Cr$ 50 milhões (PL 261/1960) ao Tricolor. A reportagem não esclarece por que esses outros valores, bem mais expressivos, não foram liberados. Nem comenta os rumores sobre desvios e facilidades atribuídas (e não comprovadas) à gestão de Natel.

No relatório, consta que o que bancou as despesas foram a venda de carnês, espaço publicitário, cadeiras cativas e camarotes. Na biografia de Natel custo de US$ 70 milhões na obra. Pela "auditoria" atual do clube, US$ 3 milhões teriam vindo dos cofres públicos.

Usando a calculadora do cidadão, do Banco Central, com valores corrigidos pelo IPC-SP da Fipe (o único índice da calculadora disponível desde aquela época), tem-se:
  • Cr$ 5,5 milhões em 1956 valeriam R$ 1,3 milhão.
  • Cr$ 10 milhões em 1956 representariam R$ 1,2 milhão.
  • Cr$ 50 milhões em 1960 equivaleriam R$ 2,3 milhão.
Mesmo somando o que o clube diz que não recebeu, é tudo muito mais baixo do que os valores mencionados atualmente para obras do estádio do Corinthians.

Oportunismo pouco é bobagem
Os são-paulinos sofrem a acusação de terem obtido recursos do erário público desde a época da construção. O tema sempre foi meio tabu e motivo de negativas.

Menos de uma semana depois de o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM, a caminho do PSD) ter sancionado lei que concede incentivos fiscais de R$ 420 milhões para um estádio orçado em R$ 820 milhões (segundo o Lance!), o São Paulo reconhece que usou dinheiro público.

Mas só 4,54%, hein?

Um arguto tricolor arguirá: o que é isso perto do que pode chegar a 51,2% que terá o prometido estádio do Corinthians em Itaquera, zona leste da capital? E olha que a estrutura provisória pode demandar R$ 70 milhões, custeados pelo governo do estado de São Paulo na conta da Copa (a "pegadinha" que diferencia o custo-Copa do investimento em obra privada está explicada aqui). Proporcionalmente, é mais que dez vezes, exclamará o torcedor à mesa de bar.

O são-paulino Kassab, sem querer, ofereceu uma redenção ótima para seu clube do coração. Longe de ser sua intenção (já que anda orgulhoso de repetir a fórmula aplicada à Nova Luz), a oferta de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CID) permitiu esse, digamos, efeito colateral.

Até a Lusa!

Se Corinthians e São Paulo locuperaram-se (ou locupletar-se-ão) de apoio governamental, um terceiro clube da capital enfrenta questionamentos do mesmo gênero. O Canindé, da Portuguesa, estaria construído em terreno público. Pelo menos uma parte dele, na visão do Ministério Público Estadual.

A cobrança de aluguéis atrasados giraria em torno de R$ 9,8 milhões referentes ao período posterior a 2008. A área foi concedida em 1996, mas o plano diretor da cidade de 2002 exigiria o pagamento da contrapartida pela cessão do terreno. A Lusa diz estar tranquila de que tudo está certo por ter recebido a área em comodato.

Foto: Divulgação
Dinheiro público para o Itaquerão (ou Fielzão):
livrou a barra dos são-paulinos

É mais embaixo
(atualizado às 17h40)

Para ter certeza de que o são-paulino se sinta desconfortável pela quase redenção pela via corintiana, cabe um adendo. Em setembro de 2010, o Promotoria de Habitação e Urbanismo da Capital do Ministério Público Estadual, instaurou inquérito para apurar detalhes sobre a doação do terreno na Vila Sônia. Segundo investigação preliminar, faltavam duas contrapartidas prometidas pelo São Paulo, um parque infantil e um estacionamento de 25 mil metros quadrados. Irregular ou não, o fato é que a arena foi erguida também em terreno público.


Ao mérito

Vale explorar o funcionamento dos CIDs oferecidos. Os certificados são oferecidos pela prefeitura aos investidores para descontar impostos pagos. Eles pagam os tributos mas recebem os certificados, corrigidos a juros, que funcionam de modo semelhante aos títulos de dívida pública. Eles permitem ao detentor dos papéis ao final do período recuperar o valor reajustado.

Mais ou menos assim: o empreendedor pega o documento oficial com valor de face igual "X", vende a quem quiser comprar no mercado por "X" menos um deságio. No final do prazo determinado (no caso, 10 anos), quem tiver aquilo em mãos leva o valor de "X" mais todo juro acumulado. Quer dizer, o cidadão ganha a soma dos juros mais o deságio que deixou de pagar lá no começo.

Os R$ 420 milhões são teto e dependem de haver despesas de ISS e IPTU nos próximos dez anos para serem descontados. Eles vão chegar lá. Tecnicamente, não é investimento público mas renúncia fiscal – a prefeitura devolve o que receber; mas nada receberia se nada fosse construído. O problema é que, na prática, o que sai do erário é mais caro lá na frente, por causa dos juros.

Dinheiro público em obra particular é uma polêmica ruim de entrar. Quando acontece, alguém sempre pode lembrar que não é a primeira vez. E provavelmente não será a última.

No caso da Copa do Mundo, os gestores mantém o discurso: dinheiro recolhido de impostos do cidadão não vai bancar estádio particular. Mas tudo bem arcar com despesas para infraestrutura temporária, porque isso "volta" com outros tributos recolhidos durante os eventos, dizem os mesmos administradores de diferentes esferas de governo.

O cálculo é semelhante ao investimento em grande prêmio de automobilismo ou outros eventos que atraem turistas e movimentam a economia local.

Aí, entram em campo as "contas de chegada" para justificar um investimento e provar que tudo será compensado com folga pela geração (sic) de emprego diretos e indiretos, pelo giro do comércio e serviços etc.

Só que a argumentação para livrar-se de críticas em relação à Copa serve para minimizar outras "ajudinhas" do poder público.

Então, esse post serve pra duas coisas. De um lado, reclamar do oportunismo de aproveitar a liberação de verbas para a Copa para redimir apropriações privadas do dinheiro público. De outro, para lembrar que existem formas muito diferentes de essa transferência ocorrer – e eu não sou o mais qualificado para apontar quais são as modalidades mais ou menos nobres de se adonar do dinheirinho que, no fundo, no fundo, era do povo.

Mas posar de bom moço numa hora dessas fica feio.

sexta-feira, julho 22, 2011

Velocidade de cruzeiro

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Liedson vai entrar na faca, Julio Cesar machucou o dedo, Jorge Henrique é dúvida. Serão os desfalques que vão interromper a estupefiante série do Corinthians de nove vitórias e um empate nos dez primeiros jogos do Brasileirão, com aproveitamento de 28 em 30 pontos e sete pontos de vantagem sobre o segundo colocado São Paulo? Ou é o tricolor que está guardando a revanche pra quando o Lucas voltar? No mais, quem no horizonte pode parar o Timão? 

quinta-feira, julho 21, 2011

Folha Poder e Observatório Político de FHC: Separados no nascimento?

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Folha Poder e Observatório Político, lançado nesta quinta-feira, 21, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: separados no nascimento?


Antes que alguém responda: segundo software de edição de imagens, o azul da Folha é composto pode 68% de ciano e 8% de magenta (sistema CMYK). O do iFHC é 63% ciano e 3% amarelo.

quarta-feira, julho 20, 2011

Manguaças no cinema: Cantona, Ken Loach e um belo filme

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Em meados da década de 2000, o polêmico ex-jogador francês Eric Cantona rodou a França com um uma ideia na cabeça e um roteiro embaixo do braço. Procurava um diretor para sua autobiografia. Depois de penar um tempo, um produtor amigo deu um toque pra ele: na Inglaterra seria bem mais fácil achar quem topasse. Razoável o conselho, uma vez que no Manchester United ele é Eric, the King, uma lenda, considerado um dos principais responsáveis por levar o time a sua condição de potencia global do esporte. Cantona pesquisou e encontrou o diretor esquerdista e fã de futebol Ken Loach. Ele pegou o roteiro, deu uma lida e, bem, mudou praticamente tudo.

Essa é a história que eu ouvi para o nascimento de À Procura de Eric, belo e sensível filme que fala, sim, da biografia do grande Cantona. Mas coloca sob o foco outro Eric, um carteiro torcedor do Manchester e fã do atacante, membro da classe trabalhadora que Loach sempre faz questão de retratar.

Eric está há anos numa espécie de piloto automático na vida, vivendo numa casa bagunçada e dominada pelos dois difíceis garotos, filhos de seu segundo casamento. Do primeiro casório vem seu maior fantasma: a ex-mulher, Lily, a quem ele abandonou com uma filha pequena.

No meio dessa vida cinza, Eric resolve aliviar em casa com um pouco de maconha roubada do filho mais velho. Em seu quarto, começa um diálogo com o pôster em tamanho natural que tem de seu xará centroavante até que... Cantona responde. Não só: divide o baseado e dá conselhos e força para o carteiro recolocar sua vida nos eixos.

O filme varia entre momentos de drama e comédia (na maioria protagonizados pelos companheiros de trabalho e Eric, também irmanados pela cerveja e a paixão pelo Manchester), numa trama muito bem conduzida e um desfecho emocionante. Os impasses são resolvidos, como preza Ken Loach, coletivamente. Numa cena particularmente interessante, Eric questiona Cantona sobre qual foi o maior momento de sua carreira, enumerando vários gols – que o diretor faz questão de mostrar para nosso êxtase. Cantona então o corrige, dizendo “não foi um gol, foi um passe”. E o ídolo completa: “You must always trust your team mates”.


PS.: Vendo as jogadas de Cantona, pensei no que seria aquela França de 1998 com ele no ataque...

segunda-feira, julho 18, 2011

Não bato em time caído, mas podiam acertar um chute...

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Como todos já sabem, já viram, já comentaram, a derrota do Brasil frente ao Paraguai na Copa América ficará marcada como a pior série de cobrança de pênalties da história do selecionado e não poderá ser suplantada nunca. Basicamente porque erramos todas as cobranças e nosso goleiro não defendeu nenhuma.


Mais que lamentar a eliminação ou bater em time caído, creio que o importante é destacar novamente a dificuldade de fazer gols. Tirando os quatro contra o Equador, o Brasil fez apenas dois contra o Paraguai na fase inicial. Passou duas partidas sem marcar.

Mesmo jogando razoavelmente bem, faltaram jogadores decisivos, que chamassem o jogo e assumissem a responsabilidade. A falta de cabeça ficou clara quando ninguém foi capaz de bater um bom pênalti. Faltou um Romário, um Ronaldo etc... E esse é o principal problema: no curto prazo não vejo ninguém para chamar essa responsabilidade.

Pato, Neymar, Ganso, ainda podem ser decisivos, mas ainda não estão preparados para, por exemplo, decidir uma Copa do Mundo. Espero que, até 2014 ganhem esse status ou surja alguém com personalidade e talento para fazer a diferença.

Outro aspecto importante para mim é como fazer para passar por retrancas como do Paraguai e Uruguai (contra a Argentina). Times que têm algum talento e sabem defender como os hermanos tornam o futebol um jogo travado, com defesas quase instransponíveis. Será que o futebol caminha inexoravelmente para o predomínio das defesas? Espero que Messi, Neymar e outros talentos desmontem essa tese. Mas isso é só esperança, pois vejo cada vez mais o binômio defesa/contra-ataque prevalecer na maioria das vezes.

sábado, julho 16, 2011

O futebol feminino do Brasil por quem conhece

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Depois da derrota da seleção brasileira para os Estados Unidos nos pênaltis, no Mundial da de futebol feminino, choveram avaliações sobre o porquê do Brasil ter perdido. O Futepoca não se arriscou na área e foi conversar com quem entende de futebol feminino no país: Luciane Castro, do Futebol para Meninas e titular do blogue Laço de Chuteira. Na entrevista abaixo, ela fala sobre a eliminação do Brasil, o esquema adotado pelo técnico Kleiton Lima durante o Mundial e a organização da modalidade que ainda engatinha no Brasil. 

Futepoca - Você criticou bastante a preparação da seleção para o Mundial. Como foi esse período pré-Mundial?

Luciane Castro - O Brasil disputou o Sul-americano no ano passado, e as seleções vizinhas estão muito aquém da nossa seleção. Nessa competição, nos classificamos para o Mundial e para as Olimpíadas de Londres. Depois, teve o Torneio Cidade de São Paulo, com Canadá, México e Coreia do Norte. Preparação mesmo a seleção não teve, foi o que cansei de falar. Enquanto a maioria das seleções que disputaram o Mundial participaram de torneios da Europa e fizeram uma série de amistosos, com oportunidades de jogar contra rivais que disputariam o Mundial, o Brasil planejou dois amistosos, contra o Chile, que foi mais uma festa para a Marta; e com a Argentina, no Recife, que acabou não sendo realizado por causa das cinzas do vulcão. De qualquer maneira, segundo informações que tive, a CBF foi convidada para a Algarve Cup, e recusou. Ela não teria aceitado porque o que se pagava era pouco para levar a seleção feminina pra lá.
Mesmo assim, apesar de todas essas dificuldades, elas chegaram lá e fizeram frente. O que faltou foi uma orientação, o que prejudicou a seleção foi a disposição das atletas em campo.

Futepoca - O técnico Kleiton Lima inventou demais?

Luciane - Até comentei que o Kleiton estava “carpegiando”, porque a Maurine, por exemplo, alguns falam que é lateral, mas a vi de meia direita, e foi excepcional. Comentei que vi essa menina dando um passe à la Didi na Copa de 1958 que fiquei passada, ela jogou o fino nessa posição porque mete correria, tem visão de jogo. Na seleção, vi a Maurine correr nos três jogos pelo lado esquerdo, dominando com a canhota, mas conduzindo com a direita. Já a Rosana é lateral, e foi deslocada pra uma função que matou o jogo dela, a Marta tinha que voltar e armar a jogada, a Érika jogou como líbero. Até um jornal alemão criticou essa disposição tática que o Kleiton impôs, porque libero é uma função primitiva. A Cristiane, por exemplo, vejo mais como uma pivô, e quase não fez essa função no Mundial.
Kleiton Lima inventou demais no Mundial?
E sobrou pra quem? Pra zaga segurar o rojão, e pra Formiga e pra Estér. Quero conversar com o Kleiton e pedir pra ele explicar. As vitórias da primeira fase enganaram de algum modo, estava dando certo, então, vamos manter. Mas estávamos tomando sufoco por pouco. Alguns técnicos querem ser o Rinus Michels do século 21, querem inventar um esquema tático sensacional quando poderiam utilizar as atletas nas suas melhores condições.

Futepoca - Na partida em que o Brasil foi eliminado, ele demorou pra mexer quando a seleção ficou com uma jogadora a mais?

Luciane - Ele demorou pra mexer em todos os jogos, geralmente não mexia, não substituía, só mudava a posição das meninas em campo. Em um dos jogos [contra Guiné Equatorial], ele avançou a Érika, foi quando ela fez um golaço. Eu credito a eliminação a ele, não é uma questão pessoal, não entro no mérito da pessoa, entro no mérito do treinador, não vi uma liderança em campo. Faltou não só mexer na hora certa, mas mudar o esquema.

Futepoca - Curioso pensar que, nessas condições diante da seleção masculina, ele não seria mantido no cargo...

Luciane - Não sei, mas fico pensando quem poderia assumir. Tem outros fatores pra considerar, a preparação física, que tem que ser super diferente. Fui conversar com o fisiologista do Hospital das Clínicas e é tudo diferente, é preciso ter uma comissão técnica especializada para a modalidade feminina, e não sei se isso acontece. O jogo das meninas não é igual ao jogo dos homens, não dá pra ser igual. Porque não culpo as jogadoras? Porque a gente sabe em que condições elas estão, como são os estaduais... Em relação aos estaduais que temos, por exemplo, o Paulista, é o mais organizado do país, mas o carioca, os do norte/nordeste não são, são poucas as federações que trabalham de forma séria, com datas definidas.
Não estamos só chorando apoio, mas temos que mudar a postura de que não é só pedir, é exigir, tem que mudar as atitudes das meninas. Tem um medo relacionado ao que aconteceu num episódio de uma das convocações do Kleiton, quando uma blogueira colocou uma opinião dela e começaram a pipocar comentários anônimos com acusações pesadas contra o técnico. Ela foi processada, tirou o blogue do ar, e uma repórter da ESPN foi fazer uma matéria com algumas meninas, que acusaram o Kleiton de forma anônima, mas tinham medo de falar publicamente por correrem o risco de não ser convocadas pra seleção. Pensavam em si, na convocação, não no coletivo.

Futepoca - Uma mudança de postura é fundamental então.

Luciane - Sim, a minha briga é quase todo dia. Organizamos em parceria com o Museu do Futebol e fizemos um bate papo sobre o futebol feminino, convidamos o ex-presidente do Santos, Marcelo Teixeira, que fez um trabalho espetacular fomentando o futebol feminino, ele trouxe a Marta e a Cristiane, ganhou a mídia... Convidei a Rose do Rio, primeira técnica de futebol feminino do Brasil, porque a mulheres era proibidas de de praticar futebol no país; e o Dema, gestor do Palmeiras feminino. Cansei de tentar divulgar o evento com as boleiras no Facebook, mas só compareceu a Renata Capobianco e a Indianara iria, mas estava doente. A mulherada tem que se unir e mudar essa postura, penar mais coletivamente.
A mídia também poderia abrir esse espaço pras meninas, tem tanta coisa pra abordar no futebol feminino, boleiras, CBF, federações. É sofrido até cobrir futebol feminino, poucos clubes têm assessoria de imprensa. Mesmo com tudo isso, a seleção é competitiva, mandei um dossiê para a Alemanha, um texto mostrando como é a organização aqui porque lá fora os caras acham que, pela qualidade da nossa seleção, tudo é muito organizado. Mas a coisa só vai mudar mesmo quando as boleiras conseguirem entender que tem que mudar a postura, não pode mendigar como se a CBF estivesse fazendo um favor pro futebol feminino.

quinta-feira, julho 14, 2011

Brasil faz quatro com protagonismo do ataque

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Foi o jogo com mais gols da curtíssima “Era Mano” na seleção brasileira. Se não encantou e desbundou os amantes do bom futebol ao redor do globo, o time venceu bem e podia ter feito mais gols. Uma inversão parece ter acontecido: quando o ataque jogou bem, a defesa decidiu falhar. 

Uma pergunta técnica: 4 a 2 pode ser definido como goleada?

Pato e Neymar fizeram dois cada. Robinho, o terceiro elemento, fez um, mal anulado, no finalzinho e meteu uma bola na trave. Os três se mexeram bastante, fizeram boas tabelas. Gostei bastante do segundo de Pato, coisa de centroavante mesmo. É um tento que contradiz a sensação de “a gente é bom e ganha quando quiser” que uma galera (eu inclusive) suspeitou nos primeiros jogos.

Neymar também tentou menos dribles, que não estão dando tão certo assim ainda, e chutou mais para o gol. O protagonismo ficou com os jovens.

Robinho fez boa parceria com o melhor jogador em campo, o lateral-direito Maicon. Se é verdade que ficou bravo com a substituição, creio que Daniel Alves vai ter que se contentar. Na outra lateral, André Santos deu um passe perfeito para o gol de cabeça de Pato e jogou bem. Parece mais preso lá atrás no esquema de Mano, precisaria jogar mais solto.

Ganso deu um passe magistral, no giro do corpo, para o primeiro de Neymar. Mas participa menos o jogo do que no Santos, talvez por ser mais marcado. Uma hipótese que levanto agora é a falta de um outro jogador para colaborar nas tabelas pelo meio. Ramires deveria ser esse cara, mas ele tem errado muitos passes. Está jogando muito na marcação e chegando pouco. Talvez Elias seja uma boa opção para melhorar o passe – a tabela dele com Robinho no gol anulado mostra o potencial.


Os problemas se repetiram na defesa, com Júlio Cesar engolindo um frangaço no primeiro gol e um galináceo menos desenvolvido no segundo. Duas falhas que foram acompanhadas de erros de Lúcio e Thiago Silva. Vi gente falando que falta proteção para a zaga. Ora, se queremos que o time jogue pra frente, a zaga vai sobrar mais rojão lá atrás. Com o tempo, um sistema de marcação começando no ataque pode (e deve) ser desenvolvido – o que até já aconteceu em jogos da seleção. Mas por enquanto, o pessoal vai ter que aguentar.

No geral, foi um bom jogo, que só teve risco de fato por conta das falhas do goleirão. Mas o bom desempenho do ataque é um ponto positivo. Capaz que o pessoal tire um pouco o peso das costas e se encontre mais daqui pra frente.

A próxima partida é contra o Paraguai, domingo, às 16h. Já é fase eliminatória. O primeiro jogo foi difícil, com os paraguaios apertando a saída de bola e forçando erros da antes sólida defesa. Vamos ver o que pega.

terça-feira, julho 12, 2011

Cerveja palestina made in Alemanha e Bélgica

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Deu na BBC.


A Taybeh é produzida pela família Khouri na cidade homônima, localizada a 35 quilômetros de Jerusalém e 12 a noroeste de Ramalá, na Cisjordânia. Por viverem em territórios palestinos ocupados por forças israelenses, os caminhões com a cerveja produzida têm de passar pelos postos de controle do exército – os checkpoints. Atrasos e perdas causados por esse cenário motivaram os donos da fábrica a "terceirizar" a produção.

A Taybeh original é puro malte, segue a lei de pureza alemã de 1516 – que garante que só se usam malte, água, levedura e lúpulo. É produzida localmente e sem pasteurizar. A água vem de Ein Samia, literalmente um oásis na região.

Talvez por usar água da Terra Santa a Taybeh tenha conquistado público em Londres e Tóquio. Mas o precioso líquido fermentado chega caro demais – quando chega – ao público. Então, Nadim Khoury (foto) decidiu licenciar fábricas alemãs e belgas com a marca.

O processo é simples. Eles passaram a comprar a produção de unidades desses países e pôr o rótulo da marca. Normalmente, a terceirização internacional é uma estratégia das empresas para rebaixar custos. Às vezes, a conta é paga pelos trabalhadores. Em outras, a margem de lucro vem de outras vantagens comparativas (isenção fiscal, proximidade de fonte de matéria-prima ou de polo de conhecimento técnico-científico). No caso da Taybeh, a produção de cerveja precisa contornar o clima de guerra permanente que se vive por lá.

A cidade é de maioria cristã. E, apesar de não constar de nenhum roteiro turístico para a região – pelo menos não dos que eu já tenha visto – tem até uma Oktober Fest (cartaz de 2010 ao lado). Se alguém passar por aquelas bandas pode incluir uma parada a mais. Só corre o risco de tomar como palestina uma cerveja fabricada em terras europeias.

segunda-feira, julho 11, 2011

Um 3 a 0 enganoso do Palmeiras sobre o Santos

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O tempo falta nesta segunda-feira, 11, para uma análise pormenorizada dos 3 a 0 impingidos pelo Palmeiras diante do Santos, no domingo, 10. A vitória sobre um time de Muricy Ramalho, que já me calou com títulos, é divertida, mas também enganosa.



Além de não ter Neymar, não ter Paulo Henrique Ganso nem Elano – e ter um meio de campo e um ataque frágeis, que quase nada criaram, os problemas da equipe desfalcada estenderam-se à retaguarda. A marcação alvinegra pelo seu lado direito – o esquerdo do ataque verde – foi terrível. A ponto de Luan (eu escrevi "Luan") ter deitado e rolado.

O atacante-volante palmeirense foi alvo constante da torcida até decidir algumas partidas. Ele continua em boa fase, mas não é um grande armador. Pelo papel que cumpre na equipe, é mesmo difícil achar argumentos para sacá-lo do time.

Mas o evento é destacado apenas para ressaltar o quanto a margem de gols, construída toda na primeira etapa, pode dar a impressão de que o time é melhor do que de fato é. Maikon Leite caiu bem no time, mas não lhe veste bem o uniforme de salvador da pátria.

As oscilações da equipe de Luiz Felipe Scolari são regra no Campeonato Brasileiro. O time está estruturado e pode continuar sonhando com a condição de azarão para disputar uma vaga na Libertadores de 2012. Mas nem favorito a isso pode ser considerado.

Falta, inclusive, certezas sobre a condição de nomes como Valdívia e Kléber. Contundidos, o primeiro já voltou aos gramados pela seleção chilena. O segundo, parece, está louco para sair e ter aumento de salário. Com ambos, as possibilidades seriam melhores. Sem eles, resta a dúvida e a esperança no treinador.

Feitas as ressalvas, eu espero ter outra dessas apresentações enganosas na próxima rodada, quando o Palmeiras enfrenta o Flamengo. O vice-líder está invicto. Mas mais importante do que isso: é comandado por Vanderlei Luxemburgo.

Vencer Muricy é legal. Vencer Luxemburgo, seria ainda mais legal. Eu torço.

domingo, julho 10, 2011

Aécio faz escola: Romário não sopra bafômetro, mas tem carteira apreendida

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O ex-jogador de futebol e deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, Romário, seguiu a cartilha inaugurada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG). O boleiro decidiu que era melhor não soprar o bajfômetro em uma blitz na noite de sábado (9), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Não se sabe se estava ou não alcoolizado. Mas são desconhecidos outros motivos que levem um motorista a não assoprar o instrumento que mede o nível etílico no sangue.

Foto: Akimi Watanabe/Agência Câmara
Outro ponto em comum: Romário também dirigia uma Land Rover quando foi parado. O carro foi liberado em ambos os casos, mas por motivos diferentes. E é aí que as coincidências com o episódio de Aécio encerram-se.

Romário tinha a documentação do veículo e carteira de habilitação em ordem – coisa que o ex-governador de Minas Gerais não pode assegurar. A Land Rover de Aécio era de propriedade da Rádio Arco-Íris, de sua irmã, André Neves. Até estava licenciada, mas ninguém explicou por que ele usava o carrão.

Também diferentemente deste último, o autor de mil gols como jogador profissional – segundo suas próprias contas – deu uma bola fora. É que, ao recusar-se a soprar o bafômetro, ele teve a carteira de motorista apreendida. A de Aécio estava vencida.

Romário estava acompanhado, inclusive da filha. O senador estava só.

Pior que carrinho por trás

Dirigir bêbado ou recusar-se a soprar o bafômetro (que, pela norma atual, permite aos policiais considerar como prova contra o motorista) é infração gravíssima.

O ex-jogador levou uma multa de R$ 957,70 e teve a carteira retida por cinco dias. O mesmo que ocorre com quem é flagrado conduzindo veículo automotor sob efeitos de álcool.

Segundo a assessoria de imprensa da operação Lei Seca, ligada à Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Romário apresentou motorista habilitado a digirir e o carro foi liberado. O Terra diz que testemunhas teriam visto Romário tentando manobrar para evitar a blitz, mas não conseguiu.

Quando era jogador, o "Peixe" só teve  problemas de "drogas ilícitas" em um episódio meio patético, em que o antidopping flagrou o uso de finasterida. A substância é princípio ativo de medicamentos contra a queda de cabelo. 

Como jogador, ele era conhecido por não fumar, não beber nem usar drogas. "Só mentia um pouquinho", dirá algum leitor arguto. Mas a ferinidade das más línguas aplica-se apenas ao fato de que o atacante era afeito a noitadas, mas não a todos os prazeres que, no imaginário até moralista, circundam os estabelecimentos boêmios.

Em março de 2010, pré-candidato a deputado federal, ele já tinha tido a carteira apreendida também por recusa de soprar o bafômetro, também na Barra da Tijuca. Na ocasião, a opção abstêmica do cidadão foi motivo de estranhamento por parte de amigos, que consideram que o máximo em termos de abuso de álcool era uma taça de champagne.

sexta-feira, julho 08, 2011

168 anos, 3 milhões de exemplares e fim

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Por Moriti Neto


Fundado em 1843 e com tiragem de 3 milhões de exemplares, o tabloide dominical britânico News of the World deixará de circular depois do escândalo do monitoramento de quatro mil telefones na Inglaterra, informou nesta quinta, 7, o grupo News Corp International, que o edita. “Decidimos que devemos tomar mais medidas em relação ao jornal. Este domingo (10) será a última edição do News of the World”, diz o comunicado.

James Murdoch, presidente do grupo e filho do magnata Rupert Murdoch, dono do jornal desde 1969, disse que a empresa admite os erros cometidos e prometeu fazer o máximo para consertá-los. Ele também afirmou que o dinheiro da última edição será doado para “boas causas”, numa tentativa de atenuar o que é irreparável.

O caso ganhou repercussão internacional após a revelação de que, em 2002, o jornal acessou ilegalmente a caixa postal do celular da estudante Milly Dowler, que estava desaparecida, em busca de informações para reportagens. Durante as escutas, mensagens foram apagadas, fazendo com que os investigadores e a família acreditassem que a garota – que foi assassinada – ainda estava viva. Familiares das vítimas dos atentados de 7 de julho de 2005, que atingiram estações do metrô londrino, também tiveram os celulares violados.

O limite da crise se deu no início desta semana, quando o ator Hugh Grant revelou que gravou uma conversa tida com um ex-editor do News of The World, em que foram revelados detalhes sobre o monitoramento ilegal feito pelos jornalistas

Na realidade, o estrago ético e moral causado pelo jornal é enorme, equivalente ao número de telefones invadidos. E são muitos. A polícia britânica declarou que analisa 11 mil páginas de material, com quase quatro mil nomes de possíveis vítimas de monitoramento telefônico ilegal feito por jornalistas do tablóide. O comando da polícia inglesa entrará em contato com todos os que tiverem detalhes pessoais encontrados nos documentos.

Jornal não hesitava em invadir o telefone alheio. Foto de http://www.flickr.com/photos/eklektikos/

Além disso, existem sinais de relações escusas com instituições que excedem o circuito midiático. O chefe da força policial de Londres, Paul Stephenson, garante que está determinado a descobrir quaisquer casos de corrupção dentro da própria polícia, após revelações de que o jornal teria pago para obter informações.

Toda a celeuma em torno do caso desperta para dois importantes aspectos que podem ser transportados para a mídia brasileira Os limites da propalada “liberdade de imprensa” e a adoção de mecanismos que regulem a atividade jornalística.

No Brasil, é comum a grita quando algum veículo de comunicação é multado e/ou impedido de publicar algo. Há um inconformismo, uma indignação estridente e irritante de publicações e associações, evocando essa entidade denominada “liberdade de imprensa” como se ela pairasse acima de todos os outros direitos – individuais e coletivos – e concedesse licença para ofender, assim como invadir a privacidade das pessoas, explorando tragédias, sofrimento, tendo por base o mau gosto e a objetivação da venda da notícia a qualquer custo.

Exemplo disso é a proposta – feita pela Fenaj, durante a primeira gestão Lula – da criação do Conselho Nacional de Jornalismo. Alguns argumentos tresloucados, sem nenhum embasamento, chegaram a comparar a ideia com censura ditatorial. Não se pode falar de regulação da mídia por aqui e, quando o assunto entra na pauta, é lugar comum apelar para “países avançados”, “realmente democráticos”, como... A Inglaterra.

Pois está posto mais um elemento para o debate sobre “liberdade de imprensa”. Os “democratas” ingleses tiveram espaço para pressionar pelo fechamento de um jornal que caminhava para completar dois séculos e veiculava milhões de exemplares a cada edição. No Brasil, continuamos na luta incipiente para explicar a quem não entende – e para vencer os discursos de má fé – da necessidade de regulamentar as atividades da mídia.

Jogo ruim, empate nem tanto no 1 a 1 de Palmeiras e América-MG

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Por falta de criação no meio de campo, o empate em 1 a 1 que o Palmeiras trouxe da Arena do Jacaré, em Sete Lagoas contra o América-MG não foi tão ruim. Do ponto de vista da tabela de classificação, foi terrível, porque representa queda para a quinta colocação.

Pior ainda considerando-se que o próximo jogo é o clássico contra o Santos, sem Thiago Heleno na defesa.

O América-MG mostrou por que está na 19ª colocação, no G4 do mundo bizarro, o grupo dos que caem pra Série B. Criou pouco, praticamente só o lance em que marcou, aos 20 do segundo tempo, com Alessandro.

Kempes – xará do Mário Kempes, argentino, autor de dois gols da vitória de 3 a 1 sobre a Holanda na final da Copa de 1978 – foi quem deu o passe instantes depois de entrar em campo. Tudo bem, a participação dele foi mais divertida pelo próprio nome.

Empate que é bom veio aos 30, em cobrança de falta de Marcos Assunção, Maurício Ramos marcou. A partir daí, o torcedor até acreditou que o time visitante poderia vencer. Um esboço de pressão parecia lembrar que o objetivo do ludopédio é romper a meta adversária. Mas só parecia.

O Palmeiras reclamou de um pênalti sobre Maikon Leite. Mas se não venceu foi por não ter criado chances mais concretas, especialmente no primeiro tempo. Lincoln rendeu pouco. Wellington Paulista idem. Cicinho ficou isolado, já que os atacantes mais Luan, o atacante-volante, tombaram para a esquerda, onde não havia lateral.

Pelo jeito, as oscilações do time consolidam-se como a regra para a equipe de Luiz Felipe Scolari.

quinta-feira, julho 07, 2011

Vitória de um Timão sólido

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Após a vitória por 2 a 1 sobre o Vasco, no Pacaembu, o Corinthians ostenta o melhor aproveitamento de início do Campeonato Brasileiro desde a adoção dos pontos corridos. São 19 pontos conquistados em 21 disputados, três pontos à frente do segundo colocado com um jogo a menos. Impressionante.

E isso apresentando cada vez mais momentos de um futebol, senão vistoso, interessante e eficiente. Talvez mais confiante no elenco, Tite tem adiantado as linhas de marcação de seu 4-2-3-1, o que aumentou as chances criadas. Foi o que aconteceu ontem: perdendo por 1 a 0, após o gol de falta de Juninho Pernambucano (até previsível para quem entende um pouco de zica e Corinthians...), o time pressionou, teve 11 finalizações no primeiro tempo, alcançando a virada com gols de seus volantes, e não deixou o Vasco jogar. Na segunda etapa, no entanto, naõ sumiu o velho cacoete de recuar quando em vantagem.

Sobre os volantes, os dois vêm subindo de produção. Especialmente Ralph, que uniu os chutes de fora da área ao seu fôlego inacabável e capacidade de marcação.

Outro beneficiado pelo ajuste do time foi Danilo, que vem jogando muito bem na articulação central. Mas mais à frente, próximo de Liedson, diminuindo o isolamento de que o centroavante tantas vezes foi vítima e o desgaste do meia, que não tem uma grande condição física.

Alex e Emerson seguem na reserva, mas vêm entrando em todos os jogos, talvez para ganhar ritmo. Com os dois e a contratação do lateral-esquerdo Ramon para disputar posição com Fábio Santos, dá pra dizer que o Corinthians tem um elenco. Não disse um grande elenco, perceba, mas que tem um, isso tem. Vamos ver até onde vai a boa fase.

Argentina invicta na Copa América

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Foi num dia 5 de setembro de 1993 que ocorreu uma das partidas mais incríveis entre seleções da América do Sul. Em pleno Monumental de Nuñez (esse adjetivo “pleno” é muito bem quisto no jornalismo esportivo) a Colômbia aplicou uma goleada por 5 a 0 na seleção argentina e, se não fosse o Peru empatar com o Paraguai (que sina salvar os portenhos), os argentinos não teriam disputado sequer a repescagem das eliminatórias para a Copa de 1994. Depois disso, Maradona voltou a ser convocado, foi pego por doping nos EUA e o resto da história todo mundo sabe.

Mas na noite desta quarta-feira os colombianos não repetiram o feito da equipe de Valderrama, Asprilla, Valencia, Rincón e companhia. Hoje, aliás, é muito fácil ridicularizar o palpite de Pelé sobre a seleção naquela época, tida como favorita pelo Rei, mas não era só ele que apostava nos vizinhos. Contudo, hoje, poucos mesmo apostavam neles. Mas a Colômbia conseguiu não só barrar o ataque argentino, como já havia feito a Bolívia, mas esteve durante todo o tempo mais próxima do gol.

O ótimo Falcão Garcia desperdiçou, Moreno perdeu um tento sem goleiro e o palmeirense pôde matar saudades – ou não – de Armero com seus avanços pela esquerda. Como na estreia, “La Pulga” Messi não brilhou, mas, embora os holofotes estejam sempre sobre ele por motivos óbvios, outros atletas não renderam grandes coisas. Tevez, queridão da torcida corintiana, nem mostrou sua garra habitual, tampouco sua habilidade, repetindo o pífio desempenho da primeira partida. A defesa se mostrou afeita demais ao alto risco e só não foi vazada porque o Sobrenatural de Almeida quis que a Argentina levasse seu drama até a última rodada da fase de grupos, contra a improvável Costa Rica.


Não sou anti-hermanos (tem hífen?) e gostaria de ver um futebol mais bonito da Argentina (do Brasil também). Mas, pelo início da Copa América, com oito gols em sete jogos, é possível inferir que os sul-americanos aprenderam a defender. E desaprenderam a atacar, o que nivelou as seleções por baixo. Ainda que os comandados de Mano Menezes tenha feito uma partida decepcionante contra a Venezuela, o time da casa, que tem o melhor jogador do mundo, deveria ter apresentado alguma coisa melhor. Não foi o caso.

Os argentinos, com dois pontos em duas pelejas, não dependem de si para se classificar em primeiro no grupo à segunda fase, mas podem obter a passagem até com um terceiro lugar. Isso importa menos que o futebol jogado e os torcedores presentes em Santa Fé já pediram a volta de Maradona no comando da seleção. De fato, o cenário é dramático.

segunda-feira, julho 04, 2011

São Francisco para ver e beber

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Infelizmente, o post vai depois que a exposição "Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga"saiu de SP, mas vale o comentário. Até porque deve ser montada no Rio de Janeiro em breve.

Além da mostra do Escher, que está no Centro Cultural do BB em São Paulo, esta de Fraga foi das melhores coisas que vi nos últimos tempos. Ele busca mostrar a vida no Rio que nasce em Minas e vai até Alagoas, lembrando das pessoas, das coisas, dos objetos e, claro, das vestimentas locais, mas recriando tudo com muita criatividade.

Para não falar muito, vão algumas fotos feitas por mim e Simone.

Vale lembrar também a exposição sobre o rio do futepoquense Anselmo e do fotógrafo Jesus. Anselmo, vale publicar as fotos e os textos se você ainda tiver.











domingo, julho 03, 2011

Uma seleção que não chuta (bem)

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Foto: Estado de Minas/Uai: AFP Foto/Miguel Rojo

A primeira prova verdadeira da seleção de Mano Menezes começou trazendo a preocupação de ser um time que toca muito a bola, até bem, mas não chuta. O goleiro venezuelano não fez nenhuma defesa perigosa. Houve uma bola na trave do Pato e um chute do Robinho ¨defendido" pelo zagueiro, mais nada...

A postura da Venezuela, de se defender com 11 jogadores e sair apenas num ou outro contra-ataque, ajudou que isso acontecesse. Mas esse é o problema. Provavelmente todos os times entrarão assim contra o Brasil e vamos depender muito de uma bola espirrada, de uma jogada de Neymar ou de uma falta bem batida.

Principalmente porque não temos, fora Neymar, nenhum atacante acima da média. Na arte de fazer gols, Robinho, Frédi e Pato estão muito abaixo do Fenômeno ou de Adriano (ou até de Luiz Fabiano), apenas para citar exemplos recentes. E, pior, não vejo esse jogador em nenhum time brasileiro. Leandro Damião, do Inter, está bem longe de servir para ser titular da seleção.

Se o Brasil quiser ganhar a Copa de 2014 precisa urgentemente revelar jogadores que saibam fazer gol. O resto do time é até interessante, com jogadores técnicos e uma boa defesa (com exceção do André Santos, que para mim não é jogador de seleção).

É um time que fica bastante tempo com a bola, toca bem, mas não está produzindo ofensivamente. É uma espécie de cópia do Barcelona, com jogadores técnicos no meio de campo, valorizando a bola, mas sem a genialidade e a capacidade de finalização de um Messi, por exemplo. A esperança é que Neymar desencante ou o Ganso jogue mais. Sem isso sofreremos muito com outras Venezuelas. Pouco para esta camisa amarela.

Acabando este post, vejo o goleiro Júlio César, com a típica frase: "Não existem mais bobos no futebol". Existem sim, os que esperam mais de uma seleção brasileira.

sábado, julho 02, 2011

História dos nossos gestos manguaças

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Já faz mais de ano que completei a leitura de História dos nossos gestos, de Câmara Cascudo, editado pela Editora Global. E faz todo esse tempo que este post está na gaveta.

A obra é divertidíssima para ser lida de ponta a ponta, como tive o prazer de fazer. Mas pode também ser apreciada sob um método mais aleatório ou enciclopédico, já que enumera verbetes (ou gestos) e vai trazendo uma versão – mais ou menos documentada – sobre sua origem, seu passado e, vez ou outra, seu futuro. É bem verdade que o ordenamento dos itens há algum mistério caótico. Mesmo assim é divertido.

Foto: /Wikipedia

Cascudo nasceu em Natal (RN) no fim do século XIX e morreu só em 1986. É uma grande referência na antropologia, especialmente no estudo da cultura popular, do folclore, da culinária tradicional... Ele é um dos que advogam que a feijoada está mais para cassoulet ou cozido a portuguesa do que para criação aleatória das senzalas – mas isso já é outra história.

Na obra em questão, sobre gestos, a leitura me permitiu acumular duas dúzias de historietas divertidas para contar na mesa do bar. Há ainda informações sobre gestual característico do ébrio ou que envolve o universo etílico. É esse segundo grupo que merece nota aqui. Não há muitas menções, e algumas ainda são carregadas de críticas e condenação moral contra os bebedores. Mas vamos logo aos gestos manguaças.

Brinde
Quem nunca se perguntou sobre a tradição de brindar? "Todas as autoridades pronunciam ao findar o banquete oficial, dirigindo-se ao homenageado: Bebo à saúde de Vossa Excelência! Inclinam a taça na direção da entidade distinguida", narra Cascudo. A cena de um brinde, que envolve erguer o copo, representa oferecer o líquido aos deuses mais elevados. Ele não fala nada sobre bater os recipientes de vidro. Dizer "saúde" teria origem na ideia de pedir proteção à própria saúde. A tal proteção seria contrapartida dos seres supremos a uma oferenda tão adequada quanto o goró – por essa lógica, um deus bom gosta de tomar uma.

A coisa começou no Egito ou no Golfo Pérsico, onde há registros de figuras erguendo copos. Pode ser até que o gesto tenha surgido ainda antes de a humanidade domesticar leveduras e aprender a fermentar uva e qualquer outra coisa que produza vinho, cachaça, e outras bebidas. Na Grécia e em Roma também há registros. Nesta última, além das figuras divinas, bebia-se aos antepassados. "Africanos e ameríndios não a conheceram (prática do brinde) antes do contato europeu", garante o autor.

"É um ato religioso. O vinho ingerido será oblação sacrificial em benefício do saudado. Daí a fisionomia grave e circunspecta dos participantes." Então, no seu próximo brinde, embriagado leitor, nada de festa nem de sorrisos: apenas expressão absorta pela importância do ritual.

Folclore e Câmara Cascudo foram tema da nota de 50 mil cruzeiros,
convertida em 50 cruzeiros reais em 1993. Homenagem?

Problema social? Não, problema bíblico
O problema dele eram os bêbados que vagam e param em alguma porta de rua comercial. "Esses desocupados, de pé ou sentados à porta das lojas, alguns de inspiração animada pelo álcool, constituem um coro de maldizentes, inventadores ou rancorosos, demolindo os que deixaram de mandar." O gesto de ficar parado depois de encher a cara já ocorria nos idos 717 antes de Cristo, porque é narrado no Salmo 68, versículo 12: "Murmuram contra mim os que se assentam à porta. E escarnecem-me os que bebem vinho".

Foto: Montagem Pinga e Cachaça
Pro santo
"Popularíssimo o gesto de atirar, antes ou depois de beber, um pouco do líquido ao solo", descreve. Quem pensou no genérico e habitual "pro santo" chegou perto. "Dar a prova! é a Libatio romana", exatamente homenagens ao deus Mercúrio, ao "Gênio de cada pessoa presente", a Baco e aos protetores da casa e família. Havia modalidades do gênero para funerais ("Libatio in Funere") e no cerimonial de sacrifícios. "Ninguém sabe mais a razão do gesto. É apenas o automatismo do hábito. Despotismo do Costume, como dizia John Stuart Mill. Já não recordam que a pequenina cerimônia é uma oferenda das primícias ad Patres, aos antepassados do bebedor."

Vinho na cabeça
Um procedimento aparentemente em desuso nas mesas de bar, virar o líquido sobre o "conviva que não esgotasse seu copo ao findar da reunião cordial". Era uma espécie de penalidade que, no entanto, desperdiçava o precioso fermentado de uvas. A "Lei da Casa" teria origem na Grécia, passaria por Roma, norte da África e por aí vai. Cascudo jura ter assistido à aplicação da pena por carrasco em Recife, em pleno século XX.

Fala-se demais
Cascudo aproveitou o livro para reclamar que o pessoal usava em demasia a palavra falada, diferente de outros tempos e outras searas que zelavam o silêncio. "A educação doméstica mandava usar a voz com muita parcimônia. Cantar era vadiação reprovável e falar constituía falta de modos no povo de menor idade", escreveu. Mas o elo alcoolico vem célere: "Mesmo nas humildes vendas à margem da estrada os bebedores engoliam a cachaça sem gastos de voz. Pediu. Bebeu. Cuspiu. Pagou. Saiu. A embriaguês oferecia o silêncio sonolento. Nas cidades é que vivia a fauna dos bêbados gritadores, fregueses da cadeia, hospedagem semanal dos bebos de fim de feira, briguentos inofensivos e palradores inconsequentes".

Só fiquei pensando que, se o conversé tiver entrado no lugar da escarradeira, isso apenas comprovaria que o bar tornou-se um lugar mais agradável para se estar.

quinta-feira, junho 30, 2011

Palmeiras vence Atlético-GO, com Luan e Maikon Leite, sem Kleber

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Não é que Luan decida, o pé dele é que anda quente. Um jogo depois de perder para o Ceará e na estreia do ex-santista campeão da Libertadores da América Maikon Leite, o Palmeiras venceu por 2 a 0 o Atlético-GO no Canindé.

Tudo bem, a chulapa do Maikon Leite também é aquecida. Primeiro, porque ele marcou um e jogou bem em sua primeira partida como titular. E, de que outra forma explicar a corrida em diagonal desempenhada por Márcio Araújo? O aplicado porém limitado volante carregava a camisa 100 – número de partidas em que atuou com o manto alviverde – demonstrou habilidade incomum e deu um passe para o estreante que carregava a 7.

O segundo foi de Marcos Assunção, de pênalti sofrido por Gabriel Silva. O lateral-esquerdo protagonizou menos lances ofensivos do que seu colega da direita, Cicinho. O 2, com o estreante, promoveu momentos interessantes para o torcedor. É que um ala e um atacante aberto fazem bem para o ataque.

Luan pouco fez, mas participou da movimentação do ataque. Wellington Paulista quase marcou, com bola na trave e tudo. Se os rumores sobre a ida ao Cruzeiro ou a Internacional de Porto Alegre se confirmarem, é capaz de o jogador, contratado para ser o homem-gol, abandone

O resultado foi bom diante do time de PC Gusmão. Muito diferente de 2010, quando o Palmeiras perdeu as duas partidas no Campeonato Brasileiro e o jogo de volta na Copa do Brasil (no qual foi desclassificado nos pênaltis).

Foi a vitória de número 500º da história do Palmeiras em competições nacionais reconhecidas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – somando Taça Brasil (de 1959 a 1967), Torneio Roberto Gomes Pedrosa (de 1967 a 1970) e Brasileirão pós-1971.

Palmeiras 3 a 0 no Olympique de Nice

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Há 60 anos, começava a Copa Rio 1951. Eram dois grupos, um do Rio de Janeiro, outro de São Paulo. Em 30 de junho daquele ano, o Palmeiras começou sua trajetória rumo a seu título mundial interclubes. Por dever de alviverde, quando cada partida tornar-se sexagenária, um post recontará essa história.

Quem viveu o período conta que a imprensa esportiva dava mesmo estatuto de mundial à competição. Diz uma fonte notadamente palestrina que o presidente da Fifa à época, Jules Rimet, articulou a criação do torneio.

Tudo ocorreu um ano depois do Maracanazzo, da tragédia que se abateu quando Gigga fez o segundo gol do 2 a 1 que sagrou o Uruguai bicampeão mundial de seleções.

Foto: Reprodução/Milton Neves

O reconhecimento oficial da Copa Rio veio apenas em 2007, no que virou motivo de piada pela conquista de um caneco "por fax". Mas para o clube, o feito é importante. Tanto assim que o escudo do tradicional uniforme verde remete ao adotado nos primeiros anos após a mudança de Palestra Itália para Palmeiras – a singela letra "P" num círculo branco.

Polêmicas à parte, a competição vencida pelo alviverde paulistano teve alguns dos grandes times da época. 

Grupo do Rio de Janeiro
Vasco da Gama - Brasil - Campeão carioca de 1950
Sporting - Portugal - Campeão português da temporada 1950/51
Áustria Viena - Áustria - Campeão austríaco da temporada 1949/50
Nacional - Uruguai - Campeão uruguaio de 1950

Grupo de São Paulo
Palmeiras - Brasil - Campeão paulista de 1950 e do Torneio Rio-São Paulo de 1951
Juventus - Itália - Campeão italiano da temporada 1949/50
Estrela Vermelha - Iugoslávia - Campeão iugoslavo de 1951
Olympique de Nice - França - Campeão francês da temporada 1950/51

Partida
Na estreia, uma vitória por 3 a 0 sobre o Olympique de Nice, da França, diante de 28,7 mil pagantes no Pacaembu. O placar foi aberto pelo meia-direita Achilles, de pênalti, aos oito minutos do primeiro tempo. Ponce de Leon (foto), homem de frente, ampliou três minutos depois. Na etapa final, Richard, substituto do autor do primeiro tento alviverde, deu números finais aos 30.

Diferentemente do que aconteceria nas partidas da segunda fase, o goleiro palmeirense era Oberdan Cattani, o titular e camisa 1. Depois, o reserva Fábio Crippa, morto neste ano, foi quem guardou a meta verde.

No mesmo dia, pelo grupo carioca, o Áustria Viena foi a campo enfrentar o Nacional do Uruguai e venceu por 4 a 0.

Ficha técnica
Palmeiras (Brasil) 3 x 0 Olympique Nice (França)
Data: 30/06/1951, às 16h
Local: Estádio do Pacaembú, São Paulo
Árbitro: Franz Grill (Áustria)
Gols: Achilles (pênalti) aos 8, Ponce de Leon aos 11 e Richard aos 30/2º.
Palmeiras: Oberdan; Salvador, Juvenal, Waldemar Fiúme, Luis Villa, Dema; Lima, Achilles (Richard), Ponce de Leon, Jair (Rodrigues) e Canhotinho / Técnico: Ventura Cambon.
Olympique Nice: Germanin, Parini, Firaud, Rossi, Golzales, Belva, Bonifaci (Camiglia), Leso (Cortoux), Bengtson, Carre e Jamalsson.

terça-feira, junho 28, 2011

Ainda sobre Paulo Renato

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A mídia comercial em peso ressaltou o "legado" que o ex-ministro Paulo Renato deixou para a Educação no Brasil, como já destacou nesse post o Idelber Avelar. Em geral, são considerações puramente laudatórias ou vagas mesmo, mas alguns articulistas (e políticos no Twitter também) aproveitaram para fazer um contraste com a gestão de Fernando Haddad, fazendo desta algo bem inferior àquela.

Quem quiser de fato saber um pouco mais sobre a gestão de Paulo Renato, recomendo o post do Idelber. Ali, ele lembra que, durante sua estada no ministério, o tucano não pôde apresentar "uma única universidade ou escola técnica federal criada, nem um único aumento salarial para professores, congelamento do valor e redução do número de bolsas de pesquisa, uma onda de massivas aposentadorias precoces (causadas por medidas que retiravam direitos adquiridos dos docentes), a proliferação do “professor substituto” com salário de R$ 400,00 e um sucateamento que impôs às universidades federais penúria que lhes impedia até mesmo de pagar contas de luz".

Mas lembrei também de outro dado curioso, ainda mais em tempos nos quais se discutem as "consultorias" e a relação entre o interesse público e o privado. Em uma matéria que fiz para a revista Fórum, quando ainda se falava de reforma universitária no governo Lula, em 2005, o foco era analisar como o ensino privado havia crescido tanto no governo FHC.  E o trecho abaixo mostrava como a mistura de interesses de homens públicos já era algo complicado (embora menos visado) em governos anteriores:

Na prática, mesmo havendo um vácuo na legislação que garantia ampla liberdade de movimento às instituições privadas, o MEC trabalhou para facilitar o caminho dos mecenas da educação. No decorrer do processo, mesmo tucanos de carteirinha acabaram afastando-se da área.O filósofo José Arthur Gianotti, por exemplo, se retirou do Conselho Nacional de Educação (CNE) quando as faculdades Anhembi-Morumbi adquiriram o status de universidade, em 1997. “A câmara [de Educação Superior, uma das que compõe o Conselho] se transformou numa reunião de lobbies, num fórum de partilha de interesses privados”, denunciou à época o filósofo. Quem substituiu Gianotti foi a antropóloga Eunice Durham, que saiu do CNE em 2001 por discordar da política de expansão do ensino superior praticada por Paulo Renato. “Tem havido um crescimento desmesurado do sistema privado de ensino superior, que ameaça a credibilidade do sistema porque desequilibra a proporção público e privado”, declarou à Folha de S. Paulo ao sair.

Durante a gestão Paulo Renato, outros fatos curiosos mostravam que a relação entre o interesse público e o privado era bem mais estreita do que se podia imaginar. Eda Machado, esposa de seu chefe de gabinete, Edson Machado, conseguiu, no ano de 1998, autorização do MEC para abrir o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) com seis cursos de uma só vez. Dois anos depois, a faculdade já havia dobrado o número de cursos e contava com três mil alunos. Alguns membros do CNE também prestavam serviços de consultoria para faculdades particulares.

Mas, para aumentar o espaço das privadas no ensino superior era preciso subsidiar a ampliação do seu espaço físico. Por isso, em 1997, o Ministério da Educação, em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estruturou o Programa de Recuperação e Ampliação dos Meios Físicos das Instituições de Ensino Superior que, só no ano 2000, ofereceu R$ 750 milhões a juros camaradas, principalmente para entidades privadas, já que as públicas tinham dificuldades para ter acesso aos recursos devido às restrições impostas pelo governo para evitar endividamento de órgãos públicos.

Entre as instituições agraciadas com dinheiro público estava o Grupo Positivo, do Paraná, um dos maiores grupos privados de ensino do Brasil. Hoje, a consultoria criada pelo ex-ministro Paulo Renato tem como um de seus clientes justamente o conglomerado paranaense. “Somos nós que entendemos desse negócio”, gabou-se o ex-ministro ao anunciar a abertura de sua consultoria, em sociedade com o seu filho.

(A matéria completa está aqui)

O pau que hoje bate (com razão, a meu ver) em Chico (ou Antonio), não bateu em Francisco. Àquela altura, já era mais do que hora de se debater a regulação das ditas consultorias de pessoas que ocuparam cargos públicos e depois migraram com seu "conhecimento" para a iniciativa privada. Vamos esperar o próximo episódio nebuloso?

segunda-feira, junho 27, 2011

A vitória do Timão vista da Parada Gay

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O inapelável chocolate aplicado pelo Corinthians pra cima do São Paulo neste domingo, no Pacaembu, teve diversas consequências, das futebolísticas às nem tanto. Do lado da bola, o Timão sai fortalecido, com moral e mostra que tem mais jogadores do que se imaginava (quem diria que Danilo comendo a bola e o tal Welder jogando bem na lateral?).

Mas me interessa mais aqui o lado social: uma cacetada de piadas com maior ou menor grau de preconceito contra homossexuais foi disparada nesta segunda, aproveitando a coincidência do clássico com o Parada Gay de São Paulo.

Para mostrar que dá pra tirar uma lasca dos são-paulinos sem chegar nesse ponto, indico esse belo texto de Kadj Oman, do parceiro Impedimento.

Ele narra sua saga ao desistir de ver o jogo no estádio e decidir participar da parada com seu “par romântico”, em seus termos. Na marcha, não tem como acompanhar o jogo – nem como deixá-lo de lado:

Subíamos a rua da Consolação no sentido contrário ao dos carros, e por mais alheio ao jogo que tentássemos fingir estar, a cada boteco a tentativa de descobrir se havia um televisor com imagens do Pacaembu: nenhum. Parecia que não era mesmo dia de saber de futebol.
Lá pro fim da parada, entretanto, tudo mudou. Um dos muitos casais ao nosso redor começou a se agitar após um telefonema, e logo pude ouvir gritos de UM A ZERO CORINTHIANS, CHUUUUPA! TIMÃÃÃO EÔÔ!

Abri um sorrisinho de felicidade discreto. Há coisas que são onipresentes. E nem precisam de dois testamentos pra tentar se afirmar.

Outro trecho marcante: “Há coisas que não mudam. A comemoração de um gol corinthiano é a mesma na garganta de um homem homossexual, de uma mulher hétero, de uma drag queen ou de um casal lesbiano. E boa parte das vozes felizes na Consolação reforçaram ainda mais felizes o grito que vinha do Pacaembu.

A coisa continua e melhora. Para ler o resto dessa bela homenagem à diversidade, clique aqui e vá ao Impedimento.

domingo, junho 26, 2011

15 anos depois, São Paulo leva novo 5 a 0 do rival Corinthians, com expulsão de Carlinhos e frango de Ceni

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A morte (derrota) parecia anunciada e seria até compreensível. Jogar sem cinco titulares, em um clássico e dentro da "casa" do maior rival, que vem bem no Brasileirão e jogaria completo, era prenúncio de desastre. E o São Paulo não conseguiu evitar o massacre, perdendo inapelavelmente por 5 a 0 para o Corinthians, no Pacaembu, em jogo marcado pela expulsão de Carlinhos Paraíba no primeiro tempo e um frango de Rogério Ceni no último gol alvinegro. Com três de Liédson, um de Danilo e um de Jorge Henrique, os corintianos quebraram a sequência de cinco vitórias dos sãopaulinos na competição e igualaram a maior goleada histórica do clássico, imposta há 15 anos, no Campeonato Paulista, em partida disputada em Ribeirão Preto. Naquele outro 5 a 0, o "animal" Edmundo fez dois e Souza, Róbson e Henrique completaram o placar. Durma-se com um barulho desses...

Diante de um 5 a 0, não há muito o que comentar sobre o São Paulo. Nem dá pra culpar o técnico ou os jogadores, que atuaram sem Lucas, que está com a seleção brasileira, Juan e Rodrigo Souto, suspensos, e, no último momento, sem Rhodolfo, machucado, e Casemiro, doente. Nem o garoto Henrique Miranda, também contundido, Paulo César Carpegiani pôde utilizar, e a solução foi improvisar Luiz Eduardo na lateral esquerda. A zaga, fraca, teve Xandão e Bruno Uvini. O estreante Rodrigo Caio entrou "na fogueira" para ajudar Wellington e Carlinhos Paraíba no meio. E o ataque, com Dagoberto e Marlos, teve a volta de Fernandinho, desentrosado e sem ritmo de jogo. Mas até que o time se portou bem no início, acendendo alguma esperança de que poderia segurar um empatezinho.

Porém, a expulsão de Carlinhos Paraíba, com dois cartões amarelos ainda na primeira etapa, precipitou a equipe no abismo. Paciência. O time do São Paulo não é esse que foi goleado e ainda é possível se recuperar - apesar de que, nas próximas rodadas, continuará bem desfalcado. É do futebol. Paciência.

Não tem mais o que dizer, só assistir e aplaudir o show corintiano no segundo tempo (abaixo). De consolo, para nós, só o fato de que a sonora goleada sobre o rival dá moral para Tite seguir no cargo (rsrs). Mas é melhor nem fazer campanha, senão o Conselho dos Bons Pensadores sobre Corintianismo reclamará de novo.



Mais um 'factóide esquerdinha'
Além dos corintianos, quem está se refestelando nesse domingo é a imprensa paulistana, zelosa de sua agenda para as eleições municipais de 2012. Deu hoje na coluna "Painel", da Folha de S.Paulo (bleargh!), com inevitável tom de comemoração:

Me dê motivo - Ainda que a ressurreição do escândalo dos aloprados não venha a ter consequência formal para Aloizio Mercadante, quem conhece bem o petista acredita que, se ele já nutria alguma dúvida, agora pensará muitas vezes mais antes de abandonar o Ministério da Ciência e Tecnologia para se lançar candidato à Prefeitura de São Paulo.

Te cuida, Marta Suplicy! E, antes que o Conselho dos Bons Pensadores sobre Esquerdismo também me enquadre, fico por aqui. Não quero saber de policiamento.

Acho muito.

Depois dos 5 a 0, nessa friagem da chuvinha paulistana, o melhor mesmo é beber um vinhozinho e se preparar para mais uma segunda-feira braba. Fui!

Primeira derrota, diante do Ceará

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Marcos Assunção não acertou. Luan não jogou, suspenso. Kléber não ganhou o jogo. Wellington Paulista não mostrou ainda a que veio. E a defesa mandou avisar que não é tão sólida como parecia. Resultado: Ceará venceu o Palmeiras por 2 a 0 em Fortaleza.

O alviverde teve mais posse de bola, mais chances de vencer, mais volume de jogo. Mas poucas boas oportunidades. Os donos da casa resolveram. Com um gol a oito minutos, com Washington, e outro de Thiago Humberto aos 46 ainda da etapa inicial, sobrou ao Verdão correr atrás. Sem sucesso.

Cicinho teve de sair ainda no primeiro tempo para Patrik entrar e melhorar o poder ofensivo. Depois, Lincoln deixou o gramado para Adriano Michael Jackson deixar o Palmeiras com três atacantes de ofício, mas sem capacidade para decidir. Vinícius mostrou-se mais disposto do que Wellington Paulista, mas não foi suficiente.

Ficou fácil para o Corinthians, (infelizmente) o protagonista da rodada, comemorar.

Diante do banho de realidade da rodada, que se esfrie a cabeça para o jogo de quinta-feira, contra Coritiba.