Compartilhe no Facebook
Por Luciana Nepomuceno
Eu sou cearense, nascida e criada. Moro no Nordeste. Só conheci o Maracanã em 2010. Quando me interpelam – e fazem isso com frequência, creiam – sobre minha paixão pelo Flamengo, eu sempre respondo que a origem geográfica de Caravaggio, Nina Simone ou Patativa do Assaré nunca foi pré-requisito para a beleza que eles produziram me comover. Aprendi a torcer como consequência da admiração, do enlevo, do encantamento. Aprendi a torcer pela impressão que abeleza das jogadas em vermelho e preto produziam em mim. Ainda hoje, sou desses seres estranhos que se agradam mais com um jogo bem jogado que com uma vitória sem graça. E, ainda mais esquisita, sou daquelas idealistas que acreditam que estas coisas – bom jogo e vitória – não são excludentes por princípio. Não sou, digo logo, contra um time que joga bem na defesa, ainda lembro a elegância dos desarmes de Juan, o posicionamento inteligente de Junior e só uma pessoa com muita má vontade não reconheceria o engenho de um jogador como Gamarra.
Isto posto, já dá pra imaginar que eu não gostei nada, nada, do empate em 1 a 1 de ontem à noite, contra o argentino Lanus. Sim, blá-blá-blá, casa do adversário, blá-blá-blá, não deixaram jogar, mas o que eu vi em campo foi um time irritantemente aferrolhado. Como listar todas as ofensas? Entrar com Airton, Maldonado, Williams. Ver, jogo após jogo, o Renato Abreu se posicionar mal, perder bola na intermediária, facilitar contra-ataques e ser redimido por um gol qualquer de bola parada. Ouvir, minuto após minuto, condenarem o (fraco, é certo) futebol do Ronaldinho, como se um meia perdido entre quatro volantes e o Deivid (sem comentários) pudesse fazer alguma coisa significativa a não ser por sorte ou fortuita manifestação de talento. Adivinhar que o gol obtido nos últimos minutos do primeiro tempo só pioraria a postura da equipe. Ter que reconhecer que Léo Moura é a única esperança de jogada de ataque. Tentar entender que gosto tem uma vitória magra e mal jogada, tendo Bottineli – não exatamente um craque, mas, pelo menos, capaz de passes precisos com mais de meio metro – disponível no banco. E, claro, colocar o Negueba faltando dois minutos pra acabar o jogo só pode ser deboche.
Desligada a TV, fica a certeza de que o mais discutido (e discutível) foi a imagem obtida pela emissora de televisão da prancheta do Joel. E tudo isso não é o que mais me entristece ou assusta. Sabe o que é pior? Não há nada no passado do Papai Joel que indique uma mudança de rumos. Resta-me lembrar que somos, eu e Joel, transeuntes, e esperar que um tiquinho de criatividade, leveza e empolgação surjam, aqui e ali (mais ali, por favor). Porque, ontem, o Flamengo em campo passou longe de justificar minha resposta, arte e beleza passaram longe e nem mandaram lembrança:
PS: E como é irritante jornalista e narrador comentando Ilariê no meio da transmissão.
Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos