Depois que um rapaz de 23 anos morreu após ingerir cerca de 30 doses de vodca numa espécie de "gincana alcoólica" disputada entre repúblicas universitárias, o consumo excessivo de álcool entre os jovens voltou à pauta midiática. Como o tom das notícias, editoriais e opiniões é sempre meio acaciano (sim, óbvio: beber exageradamente mata, não importa a idade), o Estadão fuçou algum dado concreto para fugir da subjetividade e publicou, baseado em números do portal Datasus, que, no Brasil, "a cada 36 horas um jovem morre por intoxicação aguda por álcool ou de outra complicação decorrente do consumo exagerado de bebida alcoólica". Tal cálculo baseia-se no último levantamento disponível, de 2012, quando ocorreram 242 mortes na faixa etária dos 20 aos 29 anos "por transtornos por causa do uso do álcool", conforme definido na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Mas o dado mais interessante da reportagem talvez seja o fato de que, segundo o Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Inpad/Unifesp), entre os brasileiros que consomem álcool, o hábito chamado de "beber em binge" [ou "beber pesado episódico], quando há ingestão de pelo menos cinco doses de bebida em um período de duas horas, cresceu de 45%, em 2006, para 59%, em 2012. De acordo com o psiquiatra Jerônimo da Silva (leia aqui), um drinque - ou uma dose - seria o equivalente a uma lata de cerveja (350 mililitros) ou a
uma taça de vinho (150 ml) ou a uma dose de destilado (50 ml). "Esse abuso ['beber em binge'] é mais comum entre jovens, porue nessa faixa etária é realmente mais difícil controlar os impulsos", disse, ao Estadão, Clarice Madruga, pesquisadora do Inpad/Unifesp.
E ela acrescentou: "É preciso que o poder público intervenha na venda de bebida". Tudo bem, concordo que é responsabilidade do governo (principalmente o federal) impor limites no comércio de bebida alcoólica. Porém, como sabemos que o poder público, atualmente, é muitas vezes refém do poder econômico (desde o financiamento privado de campanhas eleitorais até a pressão exercida para estabilização ou desestabilização da economia do país, dependendo dos interesses), fica difícil imaginar que consiga se impor contra um setor tão lucrativo do mercado. Segundo o jornal Correio Braziliense, "o Brasil é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, e a produção cresce a uma taxa média de 5% ao ano. O segmento cervejeiro responde por 80% do mercado de bebidas alcoólicas, com faturamento anual de R$ 70 bilhões. Recolhe R$ 21 bilhões em impostos por ano e paga R$ 28 bilhões em salários para um universo de 2,7 milhões de empregados em mais de 200 fábricas".
Essa mesma notícia confirma o a supremacia do setor privado sobre o público, pois aponta que "o Brasil perde hoje, com os problemas decorrentes do álcool, 4,5 vezes mais do que o faturamento da indústria das bebidas alcoólicas, enquanto o alcoolismo suga o equivalente a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB), pequenos e grandes grupos do setor movimentam, juntos, 1,6% de todas as riquezas produzidas no país". Ora, então está claro que o governo e a população "que se danem", o que interessa é lucrar! Se a situação chegou a esse ponto de prejuízo social, e o governo se mostra "de mãos atadas", fica explícito que o mercado é quem dá as cartas nesse jogo. Assim sendo, resta-nos a velha "política de redução de danos". Se não dá pra cercear a venda, podemos reivindicar então maior controle na propaganda de bebida alcoólica, que é um verdadeiro "vale-tudo" no Brasil.
No artigo “Propaganda de álcool e associação ao consumo de cerveja por adolescentes”, publicado na edição de junho da Revista da Saúde Pública, os pesquisadores mostram os resultados do estudo que interrogou 1.115 estudantes, do 7º e 8º anos de escolas públicas de São Bernardo do Campo (SP): a maioria dos jovens afirmou que se identifica com o marketing da indústria de bebidas, pois (o grifo é meu) "os comerciais parecem refletir situações de suas vidas". Segundo o artigo, essa similaridade faz os adolescentes classificarem a mensagem recebida como "verdadeira", como exemplifica uma das opções mais marcadas no questionário (o grifo é meu): "as festas que eu frequento parecem com as dos comerciais". E mais: segundo o estudo, a noção de fidelidade à marca, exposta constantemente nas propagandas de cerveja (a bebida mais consumida no país), tem um "impacto essencial para a ingestão de álcool precocemente".
De fato, as propagandas de cerveja costumam mostrar sempre um ambiente de muita alegria, muita brincadeira, muita paquera, muita gente "bonita" e sorridente - e MUITA bebida. Procuram convencer o consumidor de que quem não bebe - ou bebe pouco - está automaticamente "excluído" da "turma", do grupo "bacana", "popular" e que "curte a vida adoidado". Mesmo quando os problemas decorrentes do álcool são abordados nessas propagandas - ressaca, amnésia, briga de casal e besteiras cometidas tipicamente por bêbados -, o clima é de gozação, de palhaçada, de algo risível. Nunca censurável. Ou seja, se até "dar vexame" ou "fazer merda" é engraçado, isso é mais um motivo para entrar para a "turma", para "encher a cara", para não ter limites ao beber. Pode parecer besteira, mas acho que subestimamos o poder e o alcance da propaganda e da televisão. Os mesmos telejornais que noticiaram a morte do rapaz de 23 anos que ingeriu 30 doses de vodca exibiram, no intervalo comercial, propagandas divertidas e estimulantes de bebidas alcoólicas.
Nunca é demais lembrar: canal de TV é concessão. Propaganda de bebida alcoólica (e de cigarro) deve ser assunto prioritário no debate de saúde pública. E deve, sim, ser tolhida.
"No Brasil, o neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada Lei Pelé. (...) Supostamente para libertar os jogadores do domínio dos clubes, jogou-os nas mãos dos empresários privados. (...) Os jogadores foram transformados em simples mercadorias, nas mãos dos empresários, que reinam soberanos, assim como o mercado e as grandes empresas fazem no conjunto da sociedade. (...) Interessa aos empresários privados que os clubes sejam fracos, estejam falidos, serão mais frágeis ainda diante do poder do seu dinheiro." - Emir Sader, em artigo republicado pelo portal Carta Maior em 12/07/2014.
Sader: Lei Pelé interessa aos empresários
Sem a pretensão de estender a discussão sobre a polêmica Lei Pelé, pincei estes trechos do texto do Emir Sader porque os considero muito apropriados para ilustrar, como um comentário de perplexidade, a bizarra situação (para dizer o mínimo) exposta publicamente pela contratação do atacante Dudu, ex-Dínamo de Kiev, pelo Palmeiras. O negócio surpreendeu porque, até então, o atleta vinha sendo disputado ferozmente por dois grandes rivais, Corinthians e São Paulo - e ninguém colocava o alviverde como concorrente. Mas o que mais chamou a atenção foi o comunicado assinado e divulgado pelos empresários de Dudu, Bruno Paiva, Fernando Paiva, Marcelo Goldfarb e Marcelo Robalinho, ironizando e atacando Corinthians e São Paulo:
"A negativa ao São Paulo Futebol Clube não é fruto de qualquer questão pessoal com dirigentes da agremiação. Porém, no futebol há uma ordem natural para que os negócios fluam e tenham um desfecho satisfatório, de modo que qualquer caminho contrário a essa ordem estabelecida determina o fracasso das tratativas. Além disso, pesou a vontade de nosso cliente, que mesmo após declarar publicamente que não via no São Paulo sua melhor escolha, continuou sendo procurado insistentemente pelos dirigentes do clube."
"Por fim, sobre o Sport Club Corinthians Paulista, que também negociou conosco para contar com Dudu, não há muito o que ser dito. Apenas desejamos ao clube, em nome de sua grandeza e tradição, que o dia 07 de fevereiro chegue depressa ante ao processo latente de apequenamento que se dá dia após dia."
Neste verdadeiro "passa-moleque" veiculado pela OTB Sportes, empresa dos agentes de Dudu, a referência à "ordem natural para que os negócios fluam" diz respeito ao fato de o São Paulo ter procurado negociar diretamente com o Dínamo de Kiev, enquanto os empresários tratavam com o Corinthians. A diretoria do tricolor paulistano, por meio do vice-presidente de marketing, Douglas Schwartzman, respondeu: "É preciso deixar claro que o São Paulo nunca foi e nunca será refém de empresário. Fizemos o que é correto, que era procurar o detentor dos direitos. Empresário por intermediar, mas não tem o direito de determinar o jogador deve fazer".
Dudu queria Corinthians; foi pro Palmeiras
Só que o mais espantoso foi a ressalva de que a decisão de jogar pelo Palmeiras ocorreu após Dudu "declarar publicamente que não via no São Paulo sua melhor escolha". Na verdade, não foi bem isso o que o jogador afirmou. Ao portal Globoesporte, em notícia publicada há apenas uma semana, o atacante frisou, com todas as letras: "Quero jogar no Corinthians. Essa é a minha vontade". Ora, bolas! Como é, portanto, que os empresários de Dudu usam, num comunicado destinado a espinafrar o São Paulo, que "pesou a vontade do nosso cliente"?!? Pesou pinóia nenhuma! Pesou a GRANA oferecida pelo Palmeiras, quase o dobro do que os rivais ofereciam.
Porém, que fique claro que, quanto a esse "leilão" feito pelo atleta, não há nada de "errado" (ou tem, mas isso é outra história). Trata-se apenas da chamada "lei do mercado", que regula as coisas no neoliberalismo, como bem observou Emir Sader. Tanto o Corinthians como o São Paulo - e todos os clubes profissionais - também já atravessaram e continuarão atravessando contratações alheias. O que causa espécie é a afronta dos empresários de Dudu ao "processo latente de apequenamento" do alvinegro paulistano. Quem são eles para falarem assim de uma agremiação como o Corinthians, um clube com o qual, até outro dia, estavam negociando? Quanta "sem-cerimônia"!
Ao provocar rival, Aidar se apequenou
"Por conta da negativa de um negócio em que ele era interessado, ele não pode dizer que o clube está apequenado. Discordo completamente das palavras. No mais, ele deve se preocupar com o jogador dele, com os negócios dele, não com o Corinthians", rebateu, "sutilmente", o diretor de futebol do alvinegro, Ronaldo Ximenes. Cabe registrar, por oportuno, que os agentes de Dudu usaram o mesmo termo soberbo e arrogante utilizado pelo presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, quando tirou o atacante Alan Kardec do Palmeiras. "A Sociedade Esportiva Palmeiras, (...) ano após ano, se apequena", disse o dirigente sãopaulino, naquela ocasião, enquanto comia bananas (foto ao lado), num espetáculo deplorável do mesmo (baixo) nível do ex-presidente Juvenal Juvêncio. Só que agora, ao perder Dudu para o Palmeiras, quem ficou com cara de banana foi Aidar...
E "bananas", cada vez mais, ficam os clubes nas mãos dos "agentes" de jogadores. "Interessa aos empresários privados que os clubes sejam fracos", já apontava o artigo de Emir Sader citado no início do post. O próprio São Paulo, em 2013, tinha em seu elenco dez (DEZ!) jogadores de um mesmo empresário, Eduardo Uram - e, não por acaso, passou bem perto de cair para a Série B do Brasileiro. E agora os clubes ainda têm de engolir desaforos em forma de comunicados oficiais, quando perdem eventuais quedas-de-braço nas contratações. E durma-se com um barulho desses!
"A alma não tem cor", diz a canção de André Abujamra. A alma brasileira está colada no futebol. E a alma do futebol brasileiro é multicolor. Na campanha por Futebol Sem Racismo, cujo pontapé inicial já foi dado e que avança pela meia cancha, a gente não se cansa de lembrar talentos negros. O primeiro é Leônidas da Silva, o Diamante Negro.
Criador do gol de bicicleta e apontado como "maior do que Pelé" pelo adversário e goleiro Oberdan Cattani, Leônidas da Silva foi o Diamante Negro. Símbolo de um povo, mágico com a bola nos pés, encantou os europeus nas Copas do Mundo de que participou. Nascido em 1913, jogou entre 1923 e 1951. Atuou por Flamengo e Botafogo, além de protagonizar uma das primeiras transações milionárias do futebol brasileiro, ao ser transferido para o São Paulo.
Era considerado temperamental, de pavio curto. Porém tal traço parece ter atrapalhado mais sua trajetória como treinador do que como jogador. Talvez o talento com os pés tenha tenha sido mais eficaz para cessar a sanha dos críticos do que os resultados como comandante. Tampouco impediu uma bem sucedida corrida como comentarista esportivo.
Outro Estigma que recai sobre a biografia do gênio é o de ter sido ausente, por contusão, na partida semifinal da Copa de 1938, quando o Brasil perdeu da Itália. Nos anos 1950, ele chegou a ser acusado de ter recebido suborno do regime de Benito Mussolini para "amarelar". Não era verdade.
O apelido "Diamante Negro" foi talhado pela imprensa francesa durante aquele mundial. O que envolve o fato de ter marcado 7 gols (foram 8, mas a Fifa tirou-lhe a autoria de um), incluindo o sexto do 6 a 5 contra a Polônia, na prorrogação da decisão de terceiro lugar.
A alcunha batizou o chocolate, vendido até hoje no mercado brasileiro. Por causa dos US$ 3 mil pagos a Leônidas pela fabricante, o jogador é visto como precursor do marketing esportivo. O fato de ter namorado figuras como a cantora Elizeth Cardoso contribuíram para um lado "celebridade" do atleta, visto como primeiro ídolo do futebol brasileiro e um dos responsáveis pelo crescimento da popularidade do Flamengo.
Ficha técnica de Leônidas da Silva
N° da camisa que consagrou: 9
Clubes em que atuou: Flamengo, Botafogo e São Paulo
Partidas na seleção: 37, com 37 gols marcados
Copas do mundo: 1934 e 1938
Marca registrada: O principal divulgador da bicicleta e ser considerado "Maior do que Pelé"
Estigma: o de ser temperamental e o de não ter conquistado Mundial de futebol em 1938, chegando a ter sido acusado de ter recebido suborno da ditadura de Mussolini
Pior que errar é tentar justificar - um injustificável - erro. E pior ainda é apontar algum culpado de ocasião que, invariavelmente, é o lado mais fraco da corda. Há cinco anos e meio, quando o Futepoca publicou o post "O 'marketing viral' e a Nike", sobre uma campanha virtual que tentava aliciar mídia favorável para o jogador Ronaldo Nazário (post esse que gerou grande repercussão), tanto a Nike quanto a agência de publicidade contratada por ela, a F/Nazca, negaram que tivessem conhecimento da ação. No post que deu sequência ao assunto, o camarada Anselmo comentou que o desfecho teria sido a demissão de um funcionário da Riots, provavelmente terceirizada para fazer "marketing viral" (forma utilizada por empresas para tornar mais conhecido algo ou alguém, nas redes sociais) para a Nike, via F/Nazca. A "justificativa": o subordinado teria tomado a iniciativa de disparar a polêmica campanha sozinho - o que, convenhamos, é bem difícil de acreditar. "O elo mais fraco é o que quebra", resumiu o Anselmo, naquele comentário.
Pois bem, agora, a história se repete: na fileira impressionante de besteiras cometidas pela diretoria do São Paulo Futebol Clube, que vive um dos piores momentos de sua história, um comunicado da torcida organizada Tricolor Independente foi disparado pelo e-mail oficial do programa de sócio-torcedor do clube (!). Detalhe: tanto no protesto que comandaram após a derrota para o Cruzeiro, em frente ao Morumbi, quanto na misteriosa invasão que fizeram a um churrasco oferecido aos sócios na sede do clube, no dia seguinte, membros da Tricolor Independente pouparam o presidente Juvenal Juvêncio de críticas e tornaram alvo o ex-superintendente de futebol Marco Aurélio Cunha (principal oposicionista da atual diretoria). A tal nota da torcida enviada pelo e-mail oficial tentava explicar a presença no churrasco (que muitos dizem ter sido facilitada por Juvenal) e também atacar Cunha novamente. Agora, a diretoria do São Paulo, por intermédio de sua assessoria de imprensa, afirma que o uso do e-mail oficial foi "um erro de um funcionário".
Ah, sim, claro. Que dúvida! Mais um episódio que comprova que os pais das ideias de jerico sempre têm poder suficiente para delegar a culpa. Invariavelmente, para um "funcionário". Afinal, chefia não erra...
Naquele dia, no
Pacaembu, um burburinho começou a tomar conta da torcida no início
do segundo tempo. Logo, o zumbido eclodiu em gritos que pediam a
entrada de um jogador que nunca tinha sequer vestido a camisa do
Santos no time de cima até então. Mesmo assim, era falado, cotado
como futuro craque, tanto que já valia
US$ 25 milhões. Era a esperança de um futebol melhor para uma
torcida que já havia sofrido em 2008, e se previa àquela altura um
ano também difícil.
7 de março de 2009. Eu
estava no Pacaembu naquele dia, vendo o garoto que acabara de entrar
colocar uma bola na trave, aos seus dois minutos como profissional. O
Santos
venceu o Oeste por 2 a 1 e aquele menino cheio de técnica e
personalidade já me fazia sorrir. E sonhar com o que poderia vir a
ser.
Foi em seu
terceiro jogo, contra o Mogi Mirim, que marcou seu primeiro gol.
Ironicamente, do outro lado estava um outro ídolo eterno peixeiro,
Giovanni. No final, o moleque foi abraçar o meia e falou: “Você
jogou pra caralho!”. Não era exatamente verdade, mas era mais
que uma gentileza, quase uma reverência de alguém que reconhecia no
outro uma inspiração, uma referência. Sinal de respeito de um
craque que surgia por outro que já quase acabava de escrever sua
história.
No ano seguinte, ambos
jogariam juntos. Quando Giovanni surgiu, logo foi apelidado de
Messias. Sim, nós santistas temos, como tantas outras torcidas, algo
de religiosos, mas não é exatamente o fanatismo que nos determina.
É algo como a espera de alguém que traga um futebol bem jogado,
ofensivo, criativo, fora do comum, que honre toda uma história
de goleadores, de craques habilidosos. Que vimos e que não
vimos. Os profetas que nos salvariam dos jejuns, das filas, do
futebol comezinho e medíocre. Que fariam torcedores como eu e outros
irem homenagear os jogadores que foram vice-campeões em 1995 em uma
praça no Gonzaga. Celebrar mais o futebol apresentado do que
protestar contra uma arbitragem. Porque havíamos renascido, éramos
gratos.
Neymar comemora seu primeiro gol pelo Santos
E volta e meia eles, os
profetas da bola, vêm ao campo sagrado da Vila Belmiro. Às vezes,
quase solitários, como Giovanni; em outras ocasiões, em dupla, como
Diego e Robinho. Ou, ainda, estrelando com belas companhias, como o
menino que fez mais que bela figura junto a um inspirado Ganso, a um
renovado Robinho, a um então polivalente Wesley ou um múltiplo e
incansável Arouca.
Quando se cresce com
seu time vivendo uma seca de títulos, imagina-se várias vezes como
será sua reação na hora em que ele ganhar um título. Em 2002, não
chorei, simplesmente não parava de rir. Mais tarde, quantas vezes ri
com esse menino. Não o riso de deboche com o adversário, mas de
alegria ou de estupefação com um lance bem tramado, um drible
impossível, uma jogada improvável. Após um lindo gol do moleque,
um santista que assistia a uma partida comigo teve um ataque de riso
e repetia: “isso é futebol! Isso é futebol”.
Títulos. Sim, vieram
títulos, como são bons. Mas são melhores com aquele quê, com
aquele tempero dele, que faz aquele lance que você viu e vai ficar
comentando daqui a alguns anos para quem não teve o prazer de ver.
Vão duvidar de você, que terá que recorrer ao YouTube e perder
horas porque não lembra em que jogo foi.
E como é bom ver in
loco. No Pacaembu, assisti o menino marcar quatro gols (seriam
cinco, se o árbitro não tivesse anulado um de forma errada). Sabia
que teria que aproveitar aquele e outros momentos, porque um dia ele
iria embora.
Hoje, foi. Ainda não,
mas a saída foi sacramentada. O clube lucrou com uma estratégia de
bancar seus salários que não seria possível de outra forma. Ganhou
no campo, também no marketing. Como não havia possibilidade de
renovação além de 2014, vendeu seus direitos que nada valeriam
daqui a alguns meses. Para um jogador prestes a encerrar um contrato,
uma ótima soma. Mas aqui não se trata de dinheiro, e sim do vazio
que fica.
Mais de quatro anos de convivência, com o fantástico posto de 13º maior artilheiro da história do Santos (por enquanto) e, até hoje, 229 jogos, 138 gols e 70 assistências. Dos ídolos que vi irem
embora – porque, ainda hoje, é assim que a banda toca no Brasil
exportador –, esse é o que deixa a pior sensação. Mas foi uma
despedida que vinha acontecendo aos poucos, com um futebol opaco de
sua equipe que nem ele conseguia erguer. Ao contrário, foi sendo
trazido também para baixo. Uma alegria em seu rosto que minguava com
a enorme pressão pela sua saída, cantada por veículos midiáticos,
jogadores, técnicos e empresários/ex-jogadores. Por fim, pela
própria diretoria do seu clube. O futebol, o meio que o circunda e
seus interesses não são para qualquer um.
O ludopédio brasileiro, é fato, não está preparado para segurar talentos como o dele. Triste. Para ele, para os santistas, para o futebol das bandas de cá. Podem surgir outros casos similares, nos quais jogadores queiram ficar aqui ou em algum outro país vizinho, mas, por enquanto, serão exceções, não regra. vão sempre calcular e especular sobre o dia em que partirão. Vai demorar muito para erguermos a cabeça e olharmos o Velho Mundo de igual para igual. A ida do moleque faz o santista lamentar, mas deveria fazer os "gênios" do futebol brasileiro refletirem. Olhamos pra você e vemos nossa pequeneza, e o quanto poderíamos ser grandes e não somos.
Vai, garoto, o mundo é seu. Vou sentir
saudades de gritar “vai pra cima deles, Neymar”. Mas é hora de
não ser egoísta e de desejar que a mesma alegria que você
proporcionou a mim e a tantos, santistas ou não, possa ser
compartilhada em outras plagas. Torço por você. E por aqueles que o
sucederão por aqui.
Adeus, ou até breve. Você não foi e nem será Pelé (tudo bem, Messi também não será),
mas foi o meu Pelé e de muitos outros. E de tantas crianças que terão
sempre você como meta. E como sonho. Por isso, muito obrigado.
O comunicado do jogador:
Galera !! Tô aqui reunido com amigos e familiares e eles me ajudaram a
escrever algumas coisas aqui... É que não vou aguentar até
segunda-feira... Minha família e meus amigos já sabem a minha decisão.
Segunda-feira assino contrato com o Barcelona. Quero agradecer aos
torcedores do Santos por esses 9 anos incríveis. Meu sentimento pelo
clube e pela torcida nunca mudará. É eterno !! Só um clube como o Santos
FC poderia me proporcionar tudo o que vivi dentro e fora de campo. Sou
grato a maravilhosa torcida do peixe que me apoiou mesmo nos momentos
mais difíceis. Títulos, gols, dribles, comemorações e as canções que a
torcida criou pra mim estarão pra sempre em meu coração... Fiz questão
de jogar a partida amanhã em Brasília. Quero ter a oportunidade de mais
uma vez entrar em campo com o "manto" e ouvir a torcida gritar meu
nome... como diz o hino, "é um orgulho que nem todos podem ter..." É um
momento diferente pra mim, triste (despedida) e alegre (novo desafio).
Que Deus me abençoe nas minhas escolhas... E estarei sempre em Santos !!
#Toiss
Claro que sou suspeito por ter participado da conversa, mas a entrevista com Mano Brown para a revista Fórum (aqui e aqui) vale a pena ser lida pela contundência e transparência de suas análises, que vão muito além do que pensam alguns acadêmicos encastelados de nossas universidades. Contudo, fora a política, tema tratado por ele em boa parte do papo, Brown também fala sobre outra questão atinente a este blogue: o futebol.
"Ah, melei mesmo, contrata a Xuxa também" (Foto Guilherme Perez)
Torcedor fanático do Santos, ele conta como "vetou" a contratação do atacante Rafael Moura, vulgo "He-Man" pelo time da Vila. "Inviabilizei a
contratação do Rafael Moura, ah, melei mesmo, contrata a Xuxa também, tá
de brincadeira [risos]. Aquela reunião [com alguns dirigentes do clube] foi treta, aí eu sugeri: 'Traz o
André aí'."
Brown ainda fez outra crítica à forma como o estádio da Vila Belmiro, já há algum tempo, vem sendo modificado pelos dirigentes. "O Santos tá com um complexo de pobreza que eu não
compreendo, esse negócio ridículo de colocar vidro no estádio inteiro,
não dá pra ouvir as vozes da torcida, diminui a pressão. Os caras ficam
batendo nos vidros, ficam parecendo loucos, esse negócio de colocar
televisão nos camarotes", criticou. "O setor Visa é vazio o ano inteiro, eu já
perguntei ao presidente pra quem que é bom o marketing da torcida vazia,
abre a câmera e o estádio está vazio."
Sobre Neymar, o rapper não poupa elogios. "O Neymar é sensacional, melhor coisa que
aconteceu no Brasil depois da eleição do Lula", diz. "Só poderia ter nascido no
Santos mesmo, é foda, não cabe em outro time, mano."
Misturando os princípios fundamentais defendidos por nosso blog, a diretoria do Santos adotou política contra a cachaça na publicidade aplicada ao futebol. Procurada pela fabricante da popular cachaça Pirassununga 51, que queria patrocinar o meia Pinga, o clube negou. A ação de marketing - muito apropriada, aliás - fixaria o número 51 como o da camisa do jogador. Iniciativas semelhantes, porém mais "sóbrias", já foram aceitas pelo clube: no clássico do último domingo contra o Corinthians, Edu Dracena jogou
com o número 21, por causa dos 21 anos da Corr Plastik, marca de tubos e conexões. E Neymar usou a 360, em
uma ação para divulgar a nova plataforma da CSU, empresa de máquinas de
cartão de crédito. Mas não julguemos a diretoria do Santos com olhares inquisidores neste caso Pinga/ 51: de acordo com Camila Mattoso, do site Lance!, "a Lei Brasileira não permite que os clubes façam propaganda de destilados em uniformes e estádios".
Semana de novidades relevantes para a torcida corintiana, levemente ampliada nos últimos tempos por conta de seu novo ídolo. Depois da brilhante atuação de Zizao neste domingo, o trans-continental marketing alvinegro lança mais uma grande iniciativa.
Trata-se de uma parceria para lançar uma canjibrina oficial do Timão. Mas a boa notícia é que a manguaça será powered by Seleta, tradicional produtora de aguardente de cana de Salinas, em Minas Gerais, capital mundial da cachaça.
Segundo a Seleta, a Cachaça do Corinthians será envelhecida por dois anos em tonéis de umburana e terá 42% de teor alcoólico, "sabor suave e amadeirado" e "aroma agradável". Custará R$ 22 para o consumidor.
Desde já gostaria de convidar o companheiro Anselmo, degustador de cachaça mais experiente deste fórum, para avaliar o produto – desde que suas cores clubísticas não se sobreponham a seu compromisso com a imparcialidade de julgamento como manguaça.
Época
de retrospectiva e o Futepoca faz
a sua própria por meio dos dez posts que foram mais acessados em
2012, mostrando um panorama diversificado do que foi assunto por
aqui, mas também nos papos de botequim de todo o Brasil. Confira a
lista e relembre alguns dos momentos importantes (ou nem tanto) do
ano.
Para reler os posts originais, é só clicar nos títulos.
O
torcedor sempre se surpreende ao saber que aquele ídolo ou atleta
que já foi conhecido ainda está atuando como profissional, apesar
da idade ou do aparente sumiço do noticiário. Por conta dessa
curiosidade, o post que mostrava onde estavam jogadores como Rodrigo
Gral, Paulo Almeida, Warley, Luis Mario e Baiano foi o mais acessado
de 2012.
Como diz o nome do nosso site, nem só
de futebol vive o Futepoca. E foi uma manifestação política e de
coragem de um garçom de Madri que evitou a chegada da tropa de
choque local até manifestantes que estavam refugiados no bar onde
trabalhava o vice-campeão entre os mais lidos do ano.
O ano foi duro para os clubes
europeus, mas a desigualdade econômica que se aprofunda entre clubes
grandes e menores no Brasil fez muitas vítimas também por essas bandas. A saída
para muitas equipes que não tinham dinheiro para contratar jogadores
de alto nível foi contratar modelos famosas para ações de
marketing como a divulgação de novos uniformes. Mais barato que
tentar repatriar um atleta que está na Europa...
A CBF decidiu agitar o fim de ano
esportivo ao demitir o treinador Mano Menezes e a gente resolveu
colocar a confederação de Marin no divã para analisar alguns
aspectos do significado dessa troca inesperada.
Das discussões mais áridas que este
site costuma fazer, a que alcançou mais repercussão nas redes
sociais foi a respeito do ocorrido no reality show Big Brother, um
fato ainda nebuloso e que talvez não tenha despertado a reflexão e
ação necessárias por parte da sociedade em geral e do poder público.
Durante as Olimpíadas de Londres,
chamou a atenção o desabafo do lutador de tae-kwon-do Diogo Silva,
sobre como o esporte amador é tratado no Brasil, tanto por quem de
direito quanto pela mídia. Não quisemos deixar sua voz no vazio e
repercutimos suas declarações, lembrando a história de um
esportista que pensa e age de forma muito diferente dos demais.
Nas Paraolimpíadas, um brasileiro
derrubou aquele que talvez seja o maior ou mais impressionante atleta
da modalidade em todos os tempos. Oscar Pistorious disputou também
as Olimpíadas de 2012, mas foi derrotado na sua prova predileta pelo
brasileiro Alan Fonteles, que tem uma trajetória comum a muitos
conterrâneos, repleta de obstáculos, acasos e alguns fatos que
renovam as esperanças de quem quase não deveria tê-las.
Em meio a uma sessão do STF que
julgava o aborto de anencéfalos, a ex-candidata à presidência da
República Heloisa Helena resolveu dar seu parecer alimentando a
confusão sobre o tema e ratificando alguns preconceitos somente para
fazer valer sua opinião. Triste de lembrar.
À guisa de pilhéria, o post fazia
referência à bem-humorada campanha
em prol da equipe argentina feita na final da Libertadores de
2007, quando os portenhos bateram o Grêmio. Desta feita, o resultado
não foi o ideal para os secadores.
Em 2012, o Alvinegro da Vila Belmiro
fez cem anos e, claro, teve seu espaço no Futepoca, no qual foram
relembrados momentos épicos – e outros nem tanto – de um clube
que faz parte da história do futebol daqui e do mundo. O
post-homenagem fecha a lista dos mais vistos de 2012, aguardemos os
de 2013!
Claro que a longa
negociação que envolveu a transferência de Paulo Henrique Ganso
para o São Paulo desgastou não apenas as partes envolvidas, mas
também o torcedor santista. Até porque não é de hoje que o meia é
alvo de especulações. A imprensa já tinha “vendido”
o atleta para outro time no ano passado. Ainda que a diretoria do
Santos tenha sempre negado ter recebido propostas oficiais por Ganso
nesse período de dois anos, com exceção de uma feita pelo Porto,
de cerca de US$ 8 milhões, o torcedor tinha conviver com a
possibilidade de saída do jogador a cada janela, para diversos
times.
Quando questionado, na
coletiva de domingo, 23, sobre o que teria sido determinante para que
desejasse sair da Vila Belmiro, Ganso desconversou. Disse que há
dois anos a relação só se desgastava. De fato, o jogador queria
sair desde então do clube. O que não havia, até agora, era uma proposta formal que contemplasse, principalmente, o
que o Santos queria para liberar o atleta. Ele queria sair, mas
ninguém queria bancar o risco de contratá-lo.
Faz tempo que Ganso está em outra... (Ricardo Saibun/Santos FC)
É quando tem início a
novela que durou 32 dias, que revelou bem o modus operandi das
partes. Em um domingo, salvo engano no dia 26 de agosto, ouvi pelo
rádio uma coletiva quebra-queixo do vice-diretor de futebol do São
Paulo, João Paulo de Jesus Lopes, na qual dizia que o clube do
Morumbi não iria fazer outra proposta por Ganso. A primeira dava ao
clube da Vila aproximadamente R$ 12 milhões. O Santos já havia recusado a proposta oficialmente. Ao mesmo tempo em que
negava disposição de fazer outra investida, o cartola não dizia que o Tricolor havia desistido do
negócio. Ou seja, obviamente o São Paulo contava com a vontade do
atleta de sair e com o constrangimento do Santos por parte da DIS e,
diga-se, de boa parte da mídia esportiva que joga junto com o grupo
e com o clube paulistano. A ideia era forçar a saída por menos do
que aquilo que o clube praiano achava justo.
Mas os santistas
fizeram jogo duro. O grupo, dono de 55% dos direitos econômicos de
Ganso, mais o próprio atleta poderiam até tentar a liberação na Justiça, mas
os problemas decorrentes disso seriam inúmeros. Ainda mais porque o
Santos nunca negou ao boleiro o direito de trabalhar. Ao fim, o clube
conseguiu quase o dobro do que o São Paulo propôs inicialmente,
além de 5% do valor de eventual transação futura (sem prejuízo dos 5% que já tem direito por ser o
clube formador). E ainda trocou a penhora de 20% de parte de suas receitas –
que iriam ser depositadas judicialmente, não podendo ser utilizadas
pelo clube – pela penhora de um dos seus centros de treinamento, o
CT Meninos da Vila.
Para se ter uma ideia do
quanto o Santos lucra com o negócio, cabe um exercício:
imaginem que Ganso estoure, jogue como nunca, não sofra mais com
contusões e instabilidade emocional e seja vendido daqui a um tempo
pelo valor da sua atual multa rescisória, 60 milhões de euros ou,
pela cotação de hoje da moeda, R$ 156,6 milhões de reais. Viriam
para os cofres da Vila Belmiro R$ 15,6 milhões. O São Paulo
embolsaria R$ 45,12 milhões, o equivalente a 32% do restante,
porcentagem que adquiriu ao pagar R$ 16,4 milhões (a outra parte do
pagamento feito ao Santos para se chegar aos R$ 23,9 milhões veio da
DIS, que subiu sua participação nos direitos econômicos do atleta
de 55% para 68%).
Resumindo, fazendo as
contas da transação de um Ganso mais que recuperado e valendo mais
do que vale Neymar hoje, o Tricolor teria como “lucro”,
descontando o investimento feito para levá-lo do Santos, R$ 28,72
milhões. O Alvinegro, somando o que ganhou agora com o que receberá
caso a transação para o exterior ocorra nesses termos, R$ 40,3
milhões. Pode-se incluir mais ganhos de marketing e venda de
produtos para o São Paulo, mas também é preciso levar em conta o
salário pago ao atleta. Em um ano, o Tricolor deve gastar
praticamente o que o Santos pagou a Ganso durante todo seu período
como profissional.
Ainda assim, a venda de
Ganso não envolve só dinheiro. Existe o ganho intangível, que
envolve possíveis títulos e futebol bem jogado. Isso o ex-Dez já
deu aos santistas, sendo fundamental, em menor ou maior grau, em
cinco títulos nos últimos três anos. Mas o fato é que ele já não
estava na Vila há muito tempo. Seus belos lances eram lampejos em
meio a uma aparente apatia e constantes visitas ao departamento
médico.
Fui a um jogo no Pacaembu neste ano no qual ele sequer
saudou a torcida quando teve seu nome entoado pela massa. Se o Santos já não
poderia tê-lo, que fizesse uma boa negociação. E foi, de fato, das
melhores que se podia fazer.
Memória
Sebastían Pinto, presente da DIS
A diretoria do Santos
pode ter sido inábil nesse período em que Ganso esteve no clube
insatisfeito, mas é bom lembrar que o atleta já se envolveu em
confusão com seu “descobridor”, o eterno Giovanni, que diz ter
direito a parte dos direitos econômicos do meia, mas nem se anima a
ir à Justiça por eles. A DIS, que detém 55% dos direitos, é outro
“parceiro” difícil, que já se envolveu em imbróglios em vários
outros clubes. E essa é uma “herança maldita” de nosso dileto
ex-presidente Marcelo Teixeira, que trouxe o grupo como parceiro
preferencial.
Pra quem não lembra, o
grupo traria reforços de peso para o time em 2008, mas chegaram
Molina, Michael Jackson Quiñones, Sebastían Pinto e Trípodi.
Levaram embora o lateral Kléber para o time de coração do dono do
grupo, o Internacional, e ainda compraram, a preço de banana, parte
dos direitos econômicos de jogadores da base do clube, como Neymar,
Ganso, André e Wesley.
No caso do meia, a DIS também gerencia sua
carreira, o que não acontece (ainda bem) com Neymar, por exemplo. Daí toda a dificuldade enfrentada pelo clube para lidar com Ganso.
Antes de falar mal da
atual gestão, é bom lembrar quem trouxe esse “parceirão” para
o Santos...
A propaganda eleitoral
na televisão tem início na terça-feira (21), com os candidatos a vereador, e na quarta, para os aspirantes a prefeito. Em tempos de domínio
do marketing político, trata-se da grande aposta de muitos
candidatos que estão atrás nas pesquisas eleitorais, sendo o ungido
por Lula na capital paulista, Fernando Haddad, um deles. Aliás, foi
justamente o tempo de TV o responsável pelo momento constrangedor
que ainda ecoa nas mentes de militantes petistas, o tal aperto de mão
com Maluf, que certamente será explorado na TV e no rádio.
Difícil dimensionar
qual o peso exato que a televisão terá nas eleições, mas
certamente não será pequeno. Menos pelo horário em bloco que faz as pessoas
assistirem à novela mais tarde e mais pela pelos chamados spots,
que invadem os intervalos comerciais sem avisar (sim, o convencimento
político pseudo-pós-moderno se dá em pílulas de 15 e 30
segundos). Nas eleições municipais, estima-se que a importância
dos spots seja ainda maior do que nas eleições
presidenciais, quando os candidatos dividem a atenção com
pleiteantes ao Senado, ao governo do estado, ao legislativo estadual
e à Câmara dos Deputados. Isso afeta também a distribuição das
inserções, como lembra esta matéria
do Valor: nas eleições de 2010, Dilma teve 229
inserções, enquanto Serra teve 158. Em São Paulo, o tucano e
Haddad terão 689, quase o triplo do que teve a atual presidenta.
Outro dado da mesma
matéria é relevante: em 2008, nas últimas eleições municipais,
77% dos prefeitos eleitos nas capitais tiveram o maior programa no horário
eleitoral e 12% tinham o segundo maior. Só em Belém e Manaus
candidatos que detinham o quarto tempo foram vencedores.
São Paulo
Nas
eleições de 2008, o candidato a prefeito com maior tempo na
televisão e no rádio era Gilberto Kassab, então no DEM, com
8m44s73, seguido por Marta Suplicy (PT), com 6m40s75, Geraldo Alckmin
(PSDB), com 4m27s42, e Paulo Maluf (PP), com 2m30s46. A última
pesquisa do Datafolha de antes do início do horário eleitoral
apontava Marta com 36%, Alckmin com 32% e Kassab patinando com 11%
das intenções de voto. A propaganda eleitoral começou naquele ano
no dia 20 de agosto e, no levantamento feito nos dias 21 e 22, o
tucano, que tinha o terceiro maior tempo, já perdia 8 pontos, com
Marta indo a 41% e Kassab a 14%. Apenas uma semana depois da campanha
televisiva, a diferença
entre Alckmin e o então prefeito, que antes era de 21%, se
reduzia a 8%.
Essa é, certamente, a
esperança de Haddad em 2012, já que o petista tem índice
semelhante (9%, conforme o Ibope) ao que o atual alcaide paulistano
tinha em 2008. Ainda que não conte com a máquina municipal, tem,
entre os dois oponentes que estão bem acima dele, um que conta com
alto grau de rejeição (Serra), além de um candidato com bem menos
tempo de rádio e TV, Celso Russomano. Mas as semelhanças
com aquela eleição param por aí.
Enquanto o quarto
postulante de 2008 era praticamente um”nanico com grife” que já
não vislumbrava chance de vencer, Paulo Maluf, hoje existe um quarto
nome que pode causar estragos nos três que estão acima. O deputado
peemedebista Gabriel Chalita, candidato acostumado com as câmeras de
TV principalmente em função de suas participações em programas de
emissoras católicas, terá 4min22s, abaixo de Serra e Haddad, que
terão direito a 7min39s cada um, de
acordo com o TRE-SP. O líder nas pesquisas Celso Russomano (PRB)
terá metade do tempo de TV de Chalita, 2min11s, próximo ao do
pedetista Paulinho da Força, 1min43s. Soninha Francine, do PPS, terá
1min11s, Carlos Giannazi (PSOL), 57s, e Levy Fidélix (PRTB), 54 s.
Serra na campanha. Sorriso vai durar? (Fernando Cavalcanti/Milenar)
Pelo tempo de televisão e rádio,
recursos à disposição e dado o histórico do PT na capital
paulista, que tem um candidato entre os dois finalistas do segundo
turno desde que este começou a valer, em 1992, seria catastrófico
para o partido não ter Haddad em um segundo turno. Se a escrita valer e o petista for à segunda volta, quem seria seu adversário?
A rejeição de Serra é
alta (37% de acordo com o
Ibope), mais que o dobro do segundo colocado, Levy Fidelix, com
16%. Claro que, no decorrer da campanha, isso pode mudar, mas além
de seu patamar atual estar abaixo do que se poderia esperar, sendo o
tucano o candidato mais conhecido, a tendência é que Russomano e
Chalita disputem parte do seu eleitorado para buscarem o segundo
turno. Em outras palavras, Serra e a gestão Kassab vão apanhar
muito até o fim do primeiro turno. Russomano ainda teria que bater
também em Haddad para conservar sua fatia do eleitorado nas hostes
históricas do PT mas, sem muita exposição, terá que escolher seu
rival prioritário em dado momento da campanha. Preparem-se para o
show.
Nesta sexta-feira, 16, o Corinthians amanheceu com um novo presidente. Na véspera, Andrés Sanchez afastou-se do comando do clube para, em suas palavras, "beber e trepar", segundo entrevista concedida na segunda-feira ao Diário de São Paulo. Ele deixou com o vice Roberto Andrade o cargo que ocupava desde o fatídico ano de 2007, que se encerrou com o rebaixamento da equipe para a segunda divisão do campeonato brasileiro – resultado mais vistoso dos desmandos a que o clube foi exposto durante a longa gestão de Alberto Dualib, em especial no período da parceria com a MSI. Quatro anos e uma reeleição depois, Sanches reúne conquistas importantes dentro e, principalmente, fora dos gramados.
Dentro de campo, em sua gestão foram conquistados três títulos: Brasileirão 2011, Copa do Brasil 2009 e Paulistão 2009. Teve também o título da Série B, mas esse só conta mesmo pelo retorno à primeira divisão. Mais do que os títulos, o que a gestão deixa é um time que disputou todas as competições com chances de vitória. Tanto que será a terceira participação seguida do time na Libertadores (considerando a palhaçada contra o Tolima como “Libertadores”, claro), coisa inédita. Futebol é um negócio complicado, que pode ser decidido numa jornada ruim ou num golaço inesperado, e não dá pra um dirigente garantir títulos. Dá pra garantir um time forte que chegue forte. E isso o Corinthians tem sido desde 2008.
Foto: Andrea Machado
Dois fatores relacionados com a diretoria entram nessa conta, a meu ver. Primeiro, a montagem dos elencos, mesclando grandes nomes (Ronaldo o maior deles – e nem é o diâmetro da cintura do moço que está em questão –, acerto gigantesco de Andres, com frutos muito além das quatro linhas) com investimentos acertados em atletas baratos que se mostraram bons ou, no mínimo, úteis. O Corinthians tem um olheiro que, na pior das hipóteses, sabe escolher volantes. Christian, Elias, Jucilei, Ralph e Paulinho foram todos considerados entre os melhores da posição em suas passagens pelo clube.
O outro ponto é a paciência com treinadores. Mano Menezes foi contratado logo após a definição do rebaixamento e só saiu do clube por conta do convite para assumir a seleção brasileira, em 2010, resistindo a uma queda nas oitavas de final da Libertadores no caminho, quando a torcida pediu sua cabeça. Tite foi ainda mais questionado, inclusive por este escriba. Sanchez bancou a permanência e se deu bem no Brasileirão. O comportamento é exceção entre os clubes brasileiros.
Fora de campo, também há o que se comemorar. Antes de tudo, há a alteração do estatuto do clube, abrindo as eleições para o voto direto dos associados e eliminando a possibilidade de reeleições. Dualib, nunca mais.
Em números
No campo financeiro, a edição desta segunda-feira do Diário de S. Paulo reúne alguns números interessantes para ilustrar os êxitos da presidência do ex-feirante, membro fundador da organizada Estopim da Fiel e futuro diretor de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cargo que o deixa muito bem posicionado para a sucessão de Ricardo Teixeira, em 2015, se ele durar até lá e se não costurar um acordão político para se manter – Teixeira tem tanto apreço ao posto quanto detratores e críticos.
Robson Ventura/Folhapress
Segundo o jornal, as receitas do clube saltaram de R$ 52,2 milhões em 2007 para R$ 176,8 milhões em 2011 (a Folha de hoje fala em estimativa de R$ 220 milhões). Os maiores valores continuam vindo da TV (R$ 55 mi), seguidos pela área social (R$ 36 mi, em um setor historicamente problemático) e patrocínio da camisa (R$ 32,5 mi). Mas o maior crescimento aparece numa área antes quase ignorada pelo clube: os licenciamentos. Responsável por míseros (para o Corinthians, eu fugiria do país com esse dinheiro) R$ 300 mil em 2007, hoje já são R$ 17 milhões, a quarta fonte de receita. Fruto de uma estratégia inteligente, que diversificou produtos e criou a rede própria de lojas Poderoso Timão, que hoje possui 106 pontos de venda.
A Folha destaca que cresceu também a dívida do clube, de R$ 101 milhões para R$ 195 milhões. Sobre o tema, vi uma declaração do Luiz Paulo Rosemberg, diretor de marketing, mais ou menos assim: “dívida não se paga, se administra”. Nessa linha também vai o hoje ex-presidente, que na entrevista ao Diário, fala em “investimento”. Pra mim, os dois argumentos fazem sentido. A dívida nominal pode ter crescido, mas a relação “dívida X PIB” (ou faturamento, no caso) está bem melhor, graças ao aumento das receitas. Houve contratações de peso, como Alex, Emerson Sheik, Liedson e Adriano, que ajudaram bastante na conquista do título e na arrecadação na bilheteria. Mais que isso, foram feitos investimento em infraestrutura substanciais, com a construção de um Centro de Treinamento moderno e o início das obras do estádio. Coisas que ficam.
Negócios
O blogueiro do UOL Erich Beting destacou recentemente pontos positivos da gestão Sanchez. Para ele, “a chegada de Andrés ao poder no Corinthians marca uma mudança de conceito do que é a gestão num clube de futebol do Brasil.” Até que é simples: dirigentes especializados em áreas chave cuidando do dia a dia do clube e liberando o presidente para exercer um papel mais externo, político. No caso, Beting destaca o papel de Raul Correa, diretor financeiro, que renegociou e geriu a dívida do clube, e Luiz Paulo Rosemberg, do marketing, que lançou campanhas para resgatar a autoestima do torcedor e valorizou fortemente a marca do clube. Como figura pública, Andrés atraiu as atenções para deixar o restante trabalhar em paz.
Djalma Vassão/Gazeta Press Mas as vitórias de Sanchez na arena política também não foram pequenas. As duas maiores, e mais controversas, são o racha do Clube dos 13 por conta das verbas de televisão e a disputa com o São Paulo pela sede paulista da Copa 2014. Nas duas, Sanches venceu. Segundo noticiado, dobrou a verba recebida pelo Corinthians pela transmissão na TV, que dizem ter ficado perto de R$ 110 milhões, e aumentou significativamente a diferença para outros clubes (com exceção do Flamengo). E garantiu os financiamentos e apoios necessários para a construção do estádio em Itaquera, antiquíssimo sonho da torcida – e que poderá se tornar fonte de renda importante mais adiante.
O preço nas duas vitórias foi se aliar a Ricardo Teixeira, figura das mais sombrias do esporte nacional; à rede Globo, que pela primeira vez viu seu monopólio nas transmissões ameaçado pela Record; a Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin, que apoiaram o Itaquerão de várias formas. Isso são fatos e dessas alianças, não gosto. Mas também é um fato que esse é o jogo político estabelecido no futebol brasileiro. E ele é jogado por todos os dirigentes, com maior ou menor desenvoltura. Andrés não mexeu um balde para mudar a correnteza, pelo contrário: nadou de braçada nela. Os resultados, para o Corinthians, são inegáveis.
Pessimismo numa hora dessas?
Ao revisar o texto, reconheço um otimismo muito grande na avaliação do mandatário. Para não dizer que faltaram críticas, vai pelo menos uma: o trato com as categorias de base. Foram poucas revelações no período. Apenas o goleiro Júlio César é cria do clube entre os atuais titulares. Além dele, frequentaram os profissionais os atacantes Dentinho, Elias, Marcelinho e Taubaté, os meias Boquita, Lulinha e William Morais, e o lateral-esquerdo Dodô, se bem me lembro. Sobre o fracasso, cabe destacar uma tragédia e uma agressão: respectivamente, o assassinato de William em Minas Gerais e a contusão de Dodô, emprestado ao Bahia, após entrada violenta do zagueiro Bolívar, do Inter.
Primeiro, há claramente um problema na transição entre a base e o profissional. Os jogadores não tem acompanhamento psicológico e não há uma cultura no clube de se proteger e valorizar os “prata da casa”. O outro é a vitoriosa estratégia de comprar jogadores bons e baratos. Isso fecha espaços no elenco que poderiam ser preenchidos dando chances para jogadores formados no “Terrão”.
O próprio Sanches já reconheceu em entrevistas que esse é o ponto fraco de sua gestão e disse que gostaria de ter deixado um centro de treinamento exclusivo para a formação de jogadores. Imagina-se, então, que o provável sucessor do bem sucedido presidente, o delegado Mário Gobbi, vá mexer nesse vespeiro – que inclui ainda, é claro, um monte de relações que vão de questionáveis a escrotas entre conselheiros, empresários e jogadores. Se assim for, a oposição, que disputa as eleições de fevereiro próximo com Roberto Garcia, vai precisar trabalhar bastante para chegar ao poder.
O futebol brasileiro ainda vive os rumores, suspeitas e estranhamentos (dependendo da fonte) pela derrota inapelável do Atlético-MG diante do Cruzeiro no fim de semana por 6 a 1, e duas notícias mostram que o mundo da bola anda mais perto do crime do que o normal.
Marmelada em resultados não é esporte exclusivamente nacional, pelo menos no que diz respeito a levantar acusações. A goleada do Lyon sobre o Dínamo de Zagreb também deu o que falar. O time francês precisava tirar uma vantagem de sete gols de saldo que o Ajax, segundo colocado no grupo, tinha de vantagem. Na terceira posição no grupo, era preciso um milagre para tirar a margem e se classificar para as oitavas de final da Liga dos Campeões. O jogo foi 7 a 1. Do outro lado, o Real Madrid surrou os holandeses por 3 a 0 (quer dizer, os conterrâneos de Tibério Cláudio César Augusto Germânico bem que poderiam ter ganho "só" de 5 a 1, o que seria praticamente insuspeito). Frank De Boer, técnico do Ajax saiu acusando para explicar por que errou tão feio no excesso de autoconfiança.
Foto: Marca.com/Reprodução
Há quem jure que, antes da piscadela, Vida
teria dito: "Ó!" para anunciar a hora de bater a foto
Piadinhas à parte, a suspeita pintou mesmo por causa de um sorriso maroto flagrado em foto divulgado pelo Marca espanhol. Vida, jogador do time croata parece dar uma piscadela para o atleta da equipe rival, Gomis. Manifestação de afeto na hora errada?
A culpa, claro, é do técnico. Krunoslav Jurcic terminou demitido na quinta-feira, 8. Enquanto a Uefa, federação europeia, disse não ter achado indicativos de irregularidades e arquivou o caso, o poder público francês disse que vai conferir. Pode dar em nada, mas pelo menos vão fazer as "verificações clássicas e sistemáticas".
Avalanche (sic)
A semaninha curiosa teve renúncia de João Havelanche na terça-feira, 6, do Comitê Olímpico Internacional (COI). O motivo da saída do cartola de 95 anos são indícios de que a empresa de marketing ISL teria se encarregado de distribuir propina nos anos 1990 ao ex-jogador de polo aquático e ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ricardo Teixeira, atual mandatário da entidade nacional do ludopédio também estaria entre os beneficiados pelo esquema. Os detalhes não divulgados foram supostamente fruto de um recuo de Joseph Blatter, que comanda a Federação Internacional de Futebol (Fifa).
Acontece que, ao deixar o COI, a investigação interna no comitê se extingue automaticamente, e o material colhido é arquivado. O presidente da entidade, Jacques Rogge, havia até ameaçado Havelange, mas ficou barato. No pano de fundo está a disputa eleitoral na Fifa em 2015.
O caso é mais ou menos o mesmo que o jornalista escocês Andrew Jennings trata. Em outubro ele esteve no Brasil e descortinou o caso – embora tenha reafirmado o teor de seu livro Jogo Sujo. O cidadão diz que a "máfia é amadora" perto da Fifa. Se isso ajudar a vender livro ou a fazer investigações andarem, a retórica tem todo apoio. Mas a coisa rendeu processo contra o acusador.
Crime
Mas o crime organizado em si teve sua vez no noticiário. E nem é preciso comprar juiz nem cartola. Na quinta-feira, circulou a informação de que o Banco Mundial (Bird) encomendou um relatório à consultora Brigitta Maria Jacoba Slot. O estudo já deixou claro que o futebol em países em desenvolvimento são bons mercados para o crime organizado lavar dinheiro. Brasil, Rússia e China são citados. "Concluímos [no estudo] que o futebol é vulnerável à lavagem de dinheiro e a outros crimes, como tráfico de pessoas e corrupção."
As histórias de que o jogo do bicho financiava o futebol são antigas. Mas a contravenção é bem menos estruturada do que as máfias de que a consultora está tratando. Futebol gira muitos recursos, e onde circula muito dinheiro há espaço para negócios ilícitos também prosperarem.
63 mil torcedores. Reestreia de Luis Fabiano. Os bons Ceni, Lucas, Dagoberto, Casemiro, Rodolpho e Denílson. Público recorde, a volta de um ídolo, qualidade individual. A festa estava armada para o São Paulo contra o Flamengo ontem, no Morumbi. Só faltou a vitória.
Os cariocas foram melhores e venceram justamente, por 2 x 1. Após uma primeira etapa com os donos da casa tomando a natural iniciativa de ataque e o Flamengo posicionado para contragolpear, o segundo tempo mostra Rogério pegando muito e evitando ao menos quatro gols flamenguistas, em boas jogadas criadas pelos lados, contando com o rotineiramente fraco desempenho são-paulino nos flancos, antes de Thiago Neves, aos 19, abrir o placar. Dagoberto empatou, num belo chute, aos 34. Mas foi Renato Abreu quem deu números finais ao placar, aos 39, em finalização despretensiosa que desviou em Carlinhos Paraíba e tirou Ceni do lance.
A arbitragem esteve mal. O meia são-paulino Lucas foi expulso aos 9 minutos do segundo tempo. Tomou um justo segundo amarelo. O problema é que o primeiro cartão foi discutível. Já indiscutível, é que o volante flamenguista Willians, excluído aos 26, também pelo segundo amarelo, nem encostou em Carlinhos Paraíba que, ridiculamente, caiu após tropeçar nas próprias pernas. Também sem discussão, aos 40, Dagoberto deveria ter recebido a segunda advertência na partida, o que acarretaria na expulsão do atacante.
Clinica de reabilitação 2
Já disse aqui que os adversários em má fase podem ter boas perspectivas quando olham a tabela e veem o próximo jogo contra o São Paulo, no Morumbi. O Flamengo foi só mais um que se encaixou nessa situação. Nos onze jogos anteriores, o time da Gávea tinha aproveitado só oito dos 33 pontos disputados, sendo que a única vitória ocorreu contra o último colocado, o América Mineiro.
O aproveitamento são-paulino em casa é pífio sob o comando de Adilson Batista. Empatou com Atlético Goianiense, Atlético Paranaense, Corinthians e Palmeiras. Perdeu para Vasco, Fluminense e Flamengo. Ganhou apenas de Bahia, Atlético Mineiro e Ceará. Então, vitórias só contra três times que brigam para não cair.
Sem ganhar dos melhores não dá
Dos concorrentes mais bem colocados no campeonato, o São Paulo só ganhou do Fluminense, na primeira rodada do certame. Depois, perdeu e empatou com o Corinthians, foi derrotado duas vezes pelo Flamengo, perdeu do Vasco, teve derrota e empate diante do Botafogo, e sofreu revés do Fluminense na abertura do returno. Ainda tem pela frente o time da Colina, em São Januário.
Detalhe curioso é que, no Morumbi, o Tricolor perdeu todos os confrontos com os cariocas. Pelos lados do Cícero Pompeu de Toledo, deve haver quem se sinta aliviado por não ter mais nenhum enfrentamento contra times do Rio de Janeiro em casa.
De qualquer forma, como mandante ou visitante, o São Paulo não conseguir vencer os ponteiros de cima da tabela é sintomático de um time sem grandes possibilidades de título.
Adilson Batista
Não é só pela péssima campanha em casa que o técnico são-paulino é mal avaliado. Adilson Batista, desde que chegou ao Tricolor, se mostra apático, covarde até. Com um bom elenco, não é capaz de formar um time, não organiza um padrão de jogo. Também mexe mal, como ontem, quando tirou Luis Fabiano e colocou Carlinhos Paraíba, chamando o Flamengo, com um a mais, de vez para o ataque. Sim, o centroavante tinha que sair, mas era Rivaldo o nome para substituí-lo.
Outro erro gritante do treinador é com Lucas. Antes da volta de Luis Fabiano, a insistência era manter o garoto no ataque, de costas para o gol. Contra o Flamengo, o menino, na maior parte do tempo, ocupava a mesma faixa de campo que Casemiro, que deu para achar que é meia. O camisa 7, muitas vezes, tinha inclusive que ficar preso à marcação e cobrir as constantes subidas do volante.
Porém o pior é que Adilson tem muito medo. Parece refém de uma situação que coloca o São Paulo como a última esperança de carreira num grande clube, depois de insucessos consecutivos, principalmente em Corinthians e Santos, e, lateralmente, no Atlético Paranaense. O receio de perder a atual oportunidade o deixa em condição delicada, inclusive à mercê das vaidades e chiliques dos jogadores.
Dagoberto
Por falar em chiliques, impossível não pensar em Dagoberto. Individualista ao extremo, joga para ele, sem responsabilidade coletiva. Quando perde uma bola no ataque, logo leva as mãos à cintura, olha para os lados e caminha devagar. A cena é repetitiva. Passa-se em todos os jogos do São Paulo. O atacante não recompõe, não ajuda na marcação. Acha que é craque, protagonista, quando é só bom jogador e coadjuvante.
Fez um belo gol ontem, é fato, mas o que ocorreu depois evidencia o individualismo. Num dos tradicionais chiliquinhos, foi comemorar sozinho, “desabafando”, tirou burramente a camisa, foi amarelado e, só por conivência da arbitragem, não recebeu merecida expulsão.
Dependência
Desde março, quando anunciou a contratação de Luis Fabiano, o Tricolor passou a sentir estranha dependência de um jogador sem data para atuar. Ainda com Carpegiani, o time foi montado para jogar com o centroavante, que veio com ares esquizofrênicos de ao mesmo tempo “salvador da pátria” e de única peça que faltava para montar um bom sistema.
Eis que finalmente, Luis Fabiano jogou. Não foi mal. Sete meses parado e se movimentou razoavelmente. Fez o pivô, recuou para buscar a bola, chegou a tirar bons lançamentos. Mostrou a incontestável presença de área, não fez o gol por intervenções providenciais de Felipe e Alex Silva. Ainda assim, dá o que pensar a aposta desde o início num jogador fora de ritmo – que se sabia não aguentaria em nível razoável mais que um tempo. Para o bem do time, poderia ter entrado na segunda etapa. Pensou-se no marketing, na mídia, na renda. Parece que a vitória foi um tanto esquecida.
Sinal da baixa qualidade
Já disse acima que o Flamengo, antes da vitória de ontem, anotou só oito pontos em 33 disputados. Hoje, está com 44, a seis do líder Vasco, e não dá para dizer que, bem como o Fluminense, é carta fora da briga pelo título.
Quando um time do tamanho do Flamengo fica dez rodadas sem vencer e tem um aproveitamento no segundo turno digno de candidato ao rebaixamento, e ainda assim os que estão brigando pela liderança não conseguem se distanciar, a impressão que fica para este escriba é de que, na média, falta de qualidade.
Mais uma vez o Santos protagonizou uma partida emocionante contra um time carioca (a outra, todo mundo lembra). E mais uma vez perdeu. O jogo praticamente decreta o fim das possibilidades do time peixeiro disputar o título, única coisa que lhe interessa, pois tem a vaga para a Libertadores do ano que vem garantida. Aliás, a proximidade do Mundial e o cuidado em se fazer um revezamento no meio de campo a partir de agora – setor crítico da equipe – já denunciavam que a preocupação da comissão técnica e da diretoria é outra.
Neymar, Kardec e Borges. Nem sempre é o Santos quem ri por último
Não vi o primeiro tempo, mas pelo que se percebeu na segunda etapa, Elano e Arouca, que voltaram agora de contusão, vão precisar de mais tempo para readquirir ritmo de jogo. Já Ibson, que entrou no lugar de Elano, continua devendo. As contusões e cartões têm forçado Muricy a adotar um esquema Two and a Half Man na frente (já que ou Neymar ou Alan Kardec voltam para o meio), com três homens no meio de campo. Funcionou em alguns jogos, hoje não foi o caso. Havia um vácuo entre os atacantes e os meias, e Alan Kardec fez uma partida pífia. A responsabilidade de Neymar, que jogou bem, foi muito grande. Também contribuiu para o mau desempenho os laterais reservas, Adriano no lugar de Danilo e Éder Lima ocupando a ala de Léo. Difícil fluir algo ofensivamente com os dois.
O Fluminense teve mais domínio, mas não criou grandes chances no segundo tempo. No entanto, fez dois gols, principalmente porque encarou a partida como uma decisão, coisa que o rival não fez, embora tenha se doado por boa parte da partida. Mas a questão é que, quando os seus superiores priorizam (com alguma razão) outra competição, é difícil para o atleta manter toda a atenção, ainda mais quando enfrenta um adversário tão comprometido como foi a equipe carioca, que assegurou os três pontos em jogada de escanteio aos 51 do segundo tempo.
De positivo para o Santos, a estreia de Renteria, que marcou logo de cara, como fez Borges. Pode ser útil, mas a preocupação de Muricy no momento deve ser com o meio de campo. E, para o torcedor alvinegro (assim como para o técnico), resta a torcida pela volta plena de Ganso, que dá outro ritmo ao meio de campo peixeiro.
O Mundial
Podem dizer que é coisa de torcedor, análise enviesada, ou o que for. Mas, para mim, Mundial é bônus de quem ganha a Libertadores. Disputar uma partida só ou duas, como é hoje em dia, em território neutro (leia-se, no país que pagar mais), em termos técnicos e de “justiça da bola”, nunca me convenceu. O sistema de partidas de ida e volta como as que aconteciam nos anos 60, com cada campeão continental jogando em sua casa, não só davam possibilidades para que um equívoco ou lance de sorte de um jogo não fosse tão determinante, como também permitia que as torcidas locais pudesse ver a decisão. Hoje, ir para a Ásia ver seu clube do coração é impeditivo para a maioria dos torcedores, inclusive para os europeus, que não costumam dar muita bola para o torneio.
Mesmo assim, hoje, no business futebol, o tal do Mundial pode representar muitas pontes e chances de ganho financeiro para os clubes que souberem aproveitar a oportunidade. Isso, considerando que o rival de uma possível final é um time considerado um dos melhores de todos os tempos, no mínimo o melhor do planeta nos últimos 30 anos. O Santos, obviamente, está de olho, e tem mesmo que priorizar a competição, menos pelo valor técnico, mais pelo valor de marketing. Mas que dá dó ver um elenco desses que poderia estar disputando o título patinando... Isso dá.
Pelé contra o Barcelona
A propósito de marketing, o presidente do Santos, Luiz Álvaro de Oliveira, falou que já convenceu Muricy a inscrever Pelé com um dos atletas que podem disputar o Mundial e só falta acertar com o Rei. Uma jogada de marketing em caixa alta, mas é necessário lembrar que se pensava homenagear o Messias Giovanni na final do Campeonato Paulista de 2010 e a disputa se mostrou muito mais acirrada do que seimaginava e o veterano não entrou. Imagine se chegar a uma final contra o Barcelona...
Mesmo assim, sou a favor de toda e qualquer homenagem a Pelé, principalmente por parte do Santos, já que a diretoria anterior não conseguiu se aproximar do eterno dez.