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LÁGRIMAS ALCOÓLICAS
(Composição: Dee Diedrich)
Pelebrói Não Sei?
Tens mesmo certeza que essa angústia vai passar
Que serás feliz tendo dinheiro pra gastar
Um Corsa usado e sujo em frente ao portão
Missa aos domingos, ver televisão
(HA, HA...)
Conquistar o mundo sem sair do teu sofá
Ser bem conhecido, ter piadas pra contar
Visitar parentes, casamentos, batizados
Décimo terceiro pra curtir o feriado
(de Natal)
Tudo é tão legal, basta não olhar
E seguir fingindo sonhos encontrar
Futebol na quarta, férias no verão
Lágrimas alcoólicas pra pedir perdão
(HA, HA...)
Conquistar o mundo sem sair do teu sofá
Ser bem sucedido, ter bobagens pra falar
Visitar parentes, funerais e batizados
Décimo terceiro pra curtir o feriado
(em Natal)
Tudo é tão legal, basta não sonhar
Sonhos são pra loucos que querem amar
Futebol na quarta, férias no verão
Lágrimas e cólicas pra pedir perdão
(HA, HA...)
(Do CD "Lágrimas alcoólicas", Barulho Records, 2003)
Foram dois os passageiros de dois ônibus diferentes em um só dia a mesma frase os autores da frase que intitula este post. Um, ouvi pela manhã de quinta-feira da semana passada. O outro, à noite. Os contextos vão a seguir.
O cobrador recebe o pagamento da passagem quando o coletivo entra na Xavier de Toledo rumo à Praça Ramos. O passageiro sem Bilhete Único separa R$ 2,70 mas se dá conta de que o preço já subiu há umas três semanas. Tira cincão da carteira e reclama com uma das pérolas da sabedoria popular mais repetidas em toda a história inflacionária tupiniquim:
– Três reais. O ônibus aumenta, só o salário é que não.
– É. Aumentou o ônibus, mas pergunta se o nosso salário aumentou – corrobora o cobrador, referindo-se a um dos custos que compõe a planilha usada para definir o preço. Ele próprio responde sem que ninguém aceite o desafio: – Aumentou nada.
Na sequência, um passageiro de uns 50 anos surge na catraca e discorda:
– Não é caro, por R$ 3 o cabra pega três ônibus por três horas... Sai R$ 1 por condução, tá barato.
Na realidade, pelo valor de uma passagem, usando o Bilhete Único, o passageiro pode tomar até quatro ônibus diferentes em um intervalo de três horas. Se tomar um carro só, pagará o mesmo valor. Desci antes de ouvir se alguém tinha arriscado um contra-argumento.
* * *
Na volta, depois de um dia de trabalho, o ônibus sobe a rua da Consolação e cruza com uma manifestação do Movimento pelo Passe Livre que pede a revisão do aumento na capital paulista. Em meio a gritos como "quil-pariu, é a maior tarifa do Brasil", os estudantes tinham o apoio de quem passava na rua, menos os motoristas dos carros engarrafados atrás da marcha.
Dentro do coletivo em que este autor encontrava-se (sóbrio até então), surge uma voz no esperado tom reacionário, muito comum ao se presenciar protestos:
– Tudo cambada de vagabundo. O cidadão trabalhou o dia todo, quer chegar em casa e não pode porque essa cambada de vagabundo fica aí tapando a rua. Como se fosse caro R$ 3... Passou dois anos sem aumentar, agora aumentou – justificou.
Ninguém respondeu, aparentemente ninguém concordou.
Até porque, o meliante enganava-se, já que a tarifa ficou congelada apenas em 2009, o primeiro ano da gestão de Gilberto Kassab. Era promessa de campanha. No ano seguinte, o preço subiu de R$ 2,30 para R$ 2,70 e, deste valor, para os atuais R$ 3.
* * *
Gente reclamando que tudo está caro é comum, normal. O contrário é atípico, sinal de que o pessoal tomou umas e outras ou que está ganhando bem demais.
A sequência de episódios, em um mesmo dia, me lembrou do memorável esquete dos Trapalhões em que Mussum explica para Dedé os motivos porque considera que o governo de então fazia bem de reajustar os preços dos mais variados insumos. Os valores eram tabelados e o governo tornava-se alvo de qualquer um que precisasse pagar as contas. Mussum defende o governo e os aumentos sem desfaçatez. A coisa só muda quando... Bom, aí quem não assistiu, precisa fazê-lo.
Governozinho danadis.
Como o próprio nome sugere, a elaboração das Ice Beer implica baixar a temperatura da cerveja até que se formem cristais de gelo. Posteriormente, o líquido é filtrado e, como a água congela antes do álcool, o resultado é uma bebida com maior teor alcoólico. Como o gelo também se forma em volta das células do fermento e das partículas de proteínas, estas ficam igualmente retidas na filtragem - sobrando, no fundo, uma cerveja com menos componentes mas, teoricamente, com mais sabor e volume alcoólico. Este processo não é novo na indústria cervejeira, já que as Eisbocks são elaboradas segundo um método semelhante. A produção das Ice foi iniciada pela Labatt, empresa que serviu de exemplo para muitas outras cervejeiras, especialmente dos Estados Unidos. "A diferença é que uma Ice Beer nunca será melhor do que a cerveja que lhe deu origem e, infelizmente, as cervejas que são utilizadas para isso nunca são de grande qualidade", adverte Bruno Aquino, do site parceiro Cervejas do Mundo. "Já as Eisbock têm origem em cervejas de qualidade e de forte caráter, pelo que o resultado final continua a ser bastante bom", completa. Exemplos de Ice Beer para experimentar: Labatt Ice, Genny Ice Beer e Carlsberg Ice (foto).
No dia 13 de dezembro de 1953, o São Paulo foi ao interior enfrentar o Linense e sofreu uma sonora derrota: 4 a 1. O resultado, de tão inesperado, foi comemorado como um título pelas ruas de Lins, com os torcedores desfilando com um enorme elefante, símbolo do time. E o São Paulo, do técnico argentino Jim Lopes e da goleadora linha de ataque Maurinho, Albella, Gino, Negri e Teixeirinha, levantaria a taça do Paulistão dali a 40 dias, em 24 de janeiro de 1954, após uma vitória por 3 a 1 sobre o Santos, em plena Vila Belmiro.
Ontem, passados 57 anos daquela histórica partida (e inesquecível, principalmente em Lins), as duas equipes voltaram a se enfrentar numa disputa de Paulistão, dessa vez no Morumbi. O jogo marcava a estreia do craque Rivaldo no time da capital, aos 38 anos e cercado de todas as expectativas e desconfianças. O São Paulo jogou mal, errou muito, levou (mais) um gol besta logo no início da segunda etapa e tudo levava a crer que desperdiçaria outros três pontos como mandante. Mas o veterano estreante resolveu mostrar serviço. E como!
Rivaldo chamou o jogo pra si, correu, bateu uma falta em que a bola quase entrou, chapelou bonito um adversário, driblou, deu passes e, para coroar sua atuação, marcou um senhor golaço. Claro que é pra lá de cedo pra dizer que ele vai resolver tudo ou, no mínimo, manter o mesmo nível. O Linense é fraco, o São Paulo continua com os mesmíssimos e velhos problemas de falta de marcação, de ausência de lateral direito, de lentidão na ligação com o ataque e da falta de um matador. Mas, pelo menos, agora, tem um camisa 10. Um Senhor Camisa 10.
Salve, Rivaldo! Vida longa nessa temporada!
No país da piada pronta, o colega João Paulo diz que encontrou hoje um conhecido, corintiano fanático, que se chama Roberto Lima...
O Palmeiras é líder isolado do Campeonato Paulista. Nada para soltar foguete, mas uma situação que este torcedor pessimista não imaginava para o time. Conseguiu a ponta no mesmo dia em que o Corinthians caiu diante do Tolima e ficou de fora da Libertadores da América. E o Santos empatou com a Ponte Preta. Uma quarta-feira um tanto, esta do dia 2.
A vitória sobre o Mirassol ocorreu sem quatro titulares. Tudo bem que dois deles – Lincoln e Valdívia – já vinham fora. Marcos, o Goleiro, não entra nessa conta, já que é um meio-titular. Marcos Assunção, contundido, e Kléber, suspenso, não atuaram. Fizeram falta como referência – e jogador com noção nas finalizações – no ataque e como cobrador de faltas.
Sobrou a velocidade para o time criar jogadas. E sobrou para Dinei o desperdício das oportunidades. O primeiro tempo foi melhor do que o segundo, e faltou capacidade de fazer a bola passar a meta do goleiro Fernando Leal.
O time do Palmeiras continuou limitado, mesmo com três atacantes. Só ganhou a partida quando Patric entrou e fez o gol da vitória. Melhor assim.
Luiz Felipe Scolari admite que a boa fase surpreende. O time é tão limitado quanto aplicado taticamente, o que explica por que consegue marcar razoavelmente bem – contra times ainda mais fracos – e não se abalar quando a bola demora a entrar. Enquanto entrar, mesmo no final, tudo bem.
O futebol é o que interessa, ensinou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, em uma das citações preferidas de três entre oito autores do Futepoca. Assim, ninguém pode dizer que o Congresso Nacional, cujos trabalhos durante a 54ª legislatura foram iniciados nesta quarta-feira, 2, esteja alheio aos problemas nacionais.
Tema de acaloradas mesas quadradas – normalmente de plástico ou de metal – nos botecos do Brasil, a presença entre os convocados para a seleção de jogadores que atuam no exterior é polêmica recorrente. Lembro-me de participar de uma dessas na Eliminatória de 1990. Depois, o mesmo aconteceu em todos os mundiais seguintes, até mesmo em 2002, quando o time de Luiz Felipe Scolari teve apenas 10 "importados".
Os críticos alegam falta de compromisso com a camisa canarinho – com ou sem faixa horizontal verde –, uma roupagem mais elaborada para o tradicionalíssimo xingamento de "mercenário", proferido em estádios para quem quiser ouvir.
Fosse toda verde, ficaria linda (do meu ponto de vista), mas a camisa da seleção brasileira anunciada pela fabricante de material esportivo que patrocina o escrete tem apenas uma a faixa verde horizontal no meio do peito. A divulgação ocorreu na tarde desta terça-feira, 1º, em Niterói-RJ. Ela revestirá os convocados de Mano Menezes que enfrentarão a França, os carrascos em copas do mundo, na quarta-feira da próxima semana, dia 9. Ah, o treinador não veio ver a peça, ficou em Lima, onde acompanha a seleção sub-20 como espectador.
No meio jornalístico brasileiro, um dos fatos mais bizarros foi a inacreditável série de 27 manchetes que o extinto jornal paulista Notícias Populares deu entre maio e junho de 1975, sobre um suposto "bebê diabo" que teria nascido em São Bernardo do Campo (curiosamente, no mesmo ano em que Luís Inácio Lula da Silva assumia a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, na mesma cidade). Fruto da audácia do secretário de redação, José Luiz Proença, e do editor de polícia, Lázaro Campos Borges, em um plantão de sábado em que não havia uma pauta sequer para salvar a edição do dia seguinte, a inacreditável matéria "Nasceu o diabo em São Paulo", que iniciou a série e triplicou as vendas do jornal, surgiu a partir de uma notinha da Folha de S.Paulo sobre um bebê que havia nascido com prolongamento do cóccix e duas pequenas saliências na testa em um hospital do ABC paulista.
Segundo o livro "Nada mais que a verdade", de autoria de Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima, o repórter Waldemar de Paula, do NP, telefonou para alguns hospitais da região e, como não obteve informação, partiu para a imaginação e a cara de pau. No domingo, 11 de maio de 1975, a "reportagem" dizia que "o bebezinho (...) já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros". Mais à frente, o texto explicava: "parece que tudo começou na Semana Santa, quando o marido da mulher, que é muito religioso, convidou-a para ir à igreja, ver a procissão. A mulher grávida bateu com as mãos na barriga e respondeu, indignada: - Não vou, enquanto este diabo aqui não nascer".A lorota vendeu horrores e só restou ao jornal prosseguir com a farsa. Por quase um mês, publicou em manchete principal a saga do "bebê diabo", que mobilizou a população em São Paulo e em outros estados (minha sogra, que estava grávida na época, disse que no Rio de Janeiro também só se falava sobre isso). A série espetacular do NP teve capítulos esdrúxulos como "Bebê-diabo inferniza o padre do ABC", "Viu bebê-diabo e ficou louca", "Bebê-diabo nos telhados das casas do ABC", "Diabo explode o mundo em 1981", "Fazendeiro é pai do bebê-diabo", "Bebê-diabo foge para o Nordeste" e "Zé do Caixão vai caçar bebê-diabo no Nordeste", entre outros. Em 24 de maio, por exemplo, o jornal noticiava que "Bebê-diabo parou táxi na avenida" e, respondendo ao taxista qual seria o destino, teria dito: "Toca para o inferno".
Depois de tanto absurdo (e de milhões de exemplares vendidos), o NP resolveu encerrar o assunto quando o "bebê-diabo" havia se perdido nos sertões da Bahia e Pernambuco.
Guta, o "bebê atômico"
Porém, o departamento comercial pressionou e, pouco depois, o jornal apelaria novamente com a notícia de nascimento de um "bebê peixe" na floresta amazônica, com "pele escamosa e cauda de peixe nos membros inferiores". A segunda manchete foi: "Boto é pai do bebê-peixe", em que um médico explicava que a mãe tivera relações sexuais com um "cetáceo fluvial". Saturado pelo "bebê diabo", o público não deu bola e as edições encalharam. Aí, o NP decidiu esculhambar de vez. Em 11 de novembro de 1975, lia-se que "Bebê atômico nasceu em SP". A criança, chamada Guta, tinha o poder de controlar raios e relâmpagos, além de ficar invisível e transformar seu corpo em substância líquida e gasosa. Pior: ela morava no esgoto e passeava por bairros distantes porque, no Centro de São Paulo, as ondas de rádio e TV lhe faziam cócegas.
Segundo o jornal, o pai do bebê, um pedreiro, tivera contato com uma pistola de raios alimentada por urânio enriquecido, "a mesma fonte de energia dos submarinos nucleares". Assim, no dia 14 de novembro, a notícia era a de que a médica Vânia teria recebido uma visita de Guta, que saíra junto com o vapor do chuveiro e, sorridente, se materializara em sua frente (!). Em seguida, a garotinha nuclear parou em uma oficina para recarregar as energias com a bateria de um carro Galaxie azul. Mas a loucura chegou ao ápice quando a garota entrou em uma bar da Vila Prudente para beber todo o leite gelado do local (sua bebida preferida) e, ao mesmo tempo, ordenar: "Quando eu bebo, todo mundo bebe também. Aqui não vai ficar ninguém sem tomar pelo menos uma garrafa de pinga". O livro "Nada mais que a verdade" observa que, talvez, esse fosse o desejo inconsciente do repórter que escreveu essa pérola...
Sem o mesmo sucesso do "bebê diabo", a nova série acabou quando Guta levou um tiro de chumbinho do proprietário da lancha Tiririca, às margens da represa de Guarapiranga.
Os futepoquenses, esses pingagistos
Mas, falando em bar, em cachaça e em jornalistas manguaças, o livro comenta que o romeno Jean Mellé, mentor do Notícias Populares, não falava português direito, confundindo o idioma com uma mistura de alemão, francês e espanhol. Quando aprendeu que o indicativo do gênero masculino era a letra "o", passou a empregar a lição ao pé da letra. Por isso, para Mellé, todo jornalista do sexo masculino era "jornalisto", artista era "artisto", e assim por diante. Seus funcionários (que deviam frequentar o bar com certa assiduidade) lembram que, por associação "lógica" com o termo tabagista, o romeno tratava os bêbados de "pingagistos"...
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Elano: 5 gols em 3 partidas. (Divulgação-Santos FC) |
Antes tarde do que nunca, antes breve do que nada. E aliás, o assunto não permite muita ladainha: o Corinthians contra o Tolima foi abaixo de cu de cobra. O time colombiano é fraquíssimo, e ainda assim não conseguimos sequer dar um sustinho em nossa hipertensa torcida (única com mérito no estádio, pois cantou e apoiou sem pausa). Só me resta gritar: Fora Tite!
A coisa mais curiosa de se ver eram os tombos do Ronaldo. Gordo cai devagar, não é? Vai girando aquele monte de carne, as pernas se perdendo pra cima, aleatoriamente, até se acomodar meio de lado. A imagem mais precisa seria o aflorar de uma bosta de elefante (sem ofensa ao Ronaldo, a comparação é só com o seu aspecto em queda), caindo, caindo e se espalhando, aquele estrago. Ou se mexe nessa joça de time, ou a metáfora vai virar carapuça.
Ainda não comecei corretamente o ano. Mas faz bastante tempo que meu time não alcança a liderança de um campeonato. Desde 2009, se não me falha a memória. Parece mais tempo se eu pensar no que esse período significou para a nação alviverde.
O que importa é que, com a vitória por 3 a 1 sobre o Paulista no Pacaembu, o Palmeiras alcançou o Santos com 10 pontos ganhos na ponta da tabela. Tem oito gols marcados, contra 14 do alvinegro; sofreu dois, ante seis. A campanha do time da Baixada é bem mais exuberante, assim como o elenco de lá, que ainda tem Neymar na seleção sub-20.
Como São Paulo e Americana têm nove pontos cada, isso quer dizer que é preciso ir além das três vitórias concecutivas para se manter nas primeiras posições.
Como o Palmeiras é limitado, a expectativa é de que as coisas sigam bem contra as equipes mais fracas. Sem meias, Luan segue escalado de forma mais recuada para revesar com Rivaldo (o novo e de bem menor brilho) a função de servir de ala.
Se Valdívia e Lincoln voltarem, se os salários forem pagos, talvez o time possa sonhar com um Brasileirão tranquilo, sem sustos.
Nós aqui do Futepoca estamos super-acostumados (tem hífen, raios?) às acusações de esquerdice explícita. É tudo verdade, não negamos isso. Às vezes acham que a gente exagera na perseguição a tucanos, especialmente a um certo ex-governador de São Paulo. Pode ser. Mas eles pedem!
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Imagem por Abode of chaos |
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"No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes". Foto por New Media Center. |
Hoje me sinto muito velho. Muito mais velho do que me senti no início do mês, quando fiz (mais um) aniversário. Muito mais velho do que sou ou do que aparento. Porque, mais do que envelhecer, percebo que o mundo que conheci na infância está desaparecendo completamente. Seus cenários e personagens somem, como que por encanto, e nem se despedem de mim. É triste.Ontem, em minha cidade natal, morreu mais um pedaço desse mundo longínquo e cada vez menos recuperável. Morreu um personagem, um símbolo de uma época. O popular Cido Guarda-Chuva (foto) era um brasileiro padrão: negro, pobre, simples. Figura carimbada de uma cidadezinha do interior. E, para complicar ainda mais sua jornada neste planeta, tinha um leve retardo mental, que o congelou, a vida inteira, como uma criança, um ingênuo, um inocente. Vivia com o auxílio da igreja católica e dos habitantes mais caridosos da cidade. Vivia sorrindo, com os olhos bondosos e totalmente alheios à crueldade dos homens. As crianças zombavam dele. E ele só dava risada, sempre. Eu fui uma dessas crianças, mas sem maldade no que fazia. Espero que ele tenha compreendido isso. E que me perdoe.
Cido é mais uma figura de um tempo que não volta, de uma época que me parece, cada vez mais, ter sido apenas um sonho. O ano passado já tinha nos levado o Alemão Barbeiro, que brincava comigo quando eu era pequeno e que, nos últimos tempos, me fazia a barba reclamando das agruras de seu time do coração, o Palmeiras. Há alguns meses eu estava lá, conversando com ele. E agora ele não está mais. O salão da barbearia está fechado. Alemão morreu. Cido Guarda-Chuva morreu. E eu também morri um pouco com eles.
Não é possível. Nada disso aconteceu, foi tudo imaginação. Já não acredito que eu tenha vivido em uma época assim, com pessoas sem maldade, sem egoísmo, sem ganância, sem pressa. Um mundo que não existe mais, em lugar algum. E que eu desconfio, agora, que talvez nunca tenha existido.
Eu sei, nada justifica. Mas acho que é por isso que eu bebo.
A notícia de que o veterano Rivaldo (foto) já fechou contrato de 1 ano e será apresentado pelo São Paulo é surpreendente, mas nem tanto pela idade do jogador, que fará 39 anos em abril. Zizinho chegou ao clube com 35, Toninho Cerezo com 37 - e ambos tiveram boas passagens. Aliás, eu lamentei que a diretoria do São Paulo não tenha se mexido na época em que Edmundo pendurou as chuteiras. Gostaria de vê-lo encerrando a carreira no Morumbi, mesmo que não rendesse muita coisa. Era um baita jogador, assim como é Rivaldo. Mas o buraco, agora, é bem mais embaixo.
A exemplo dos ex-sãopaulinos Jamelli (foto) e Juninho Paulista, que encerraram suas carreiras de jogadores atuando também como dirigentes (o primeiro no Barueri, em 2008, e o segundo no Ituano, em 2010), Rivaldo é presidente do Mogi Mirim - clube pelo qual disputaria o Paulistão. Só que agora vai atuar por outro time, no mesmo campeonato, e já avisou que não pretende se licenciar da função de dirigente do Mogi. Atitude que, se for confirmada, levantará todo tipo de suspeita quando os dois times se enfrentarem e, bem pior que isso, se um precisar do outro para se classificar ou não cair para a segunda divisão. Isso abriria um precedente complicado no futebol.
Pois é, virou bagunça. Um exemplo é a promoção "Casa cheia", que o Mogi Mirim lançou para seus torcedores: 5 mil carnês com ingressos para os nove jogos do time no Estádio Romildo Ferreira (nome do pai de Rivaldo), ao preço de R$ 135 (inteira) e R$ 90 (meia). O carnê traz uma foto de Rivaldo com a camisa do time e a frase: "Eu voltei. Agora é a sua vez". Mas voltou pra onde? E quem comprou o pacote só pra ver Rivaldo jogando pelo Mogi? O mesmo Rivaldo que, como presidente do clube, negociou o próprio empréstimo para o São Paulo (!). Sim, palhaçada é o termo.