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(Foto de Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)

Da última vez que olhei, na sexta-feira de manhã, 3.705 pessoas haviam assinado uma petição on line pedindo a permanência do argentino Herrera no Corinthians (olhei hoje de novo e, segundo mensagem do site, o abaixo-assinado foi retirado do ar porque o autor não se identificou). No entanto, de acordo com declarações do vice-presidente de futebol Mario Gobbi, a mobilização que começou pelo Orkut tem poucas chances de prosperar.
A novela da contratação de Herrera já se arrasta há um bom tempo. Segundo noticiado na imprensa, a multa contratual do atacante estava estipulada inicialmente em US$ 2,8 milhões. Os detentores de seus direitos federativos – fatiados entre Gimnasia La Plata (50%), San Lorenzo (25%) e o procurador Raúl Delgado (25%) – aceitaram baixar o valor para US$ 2,4 milhões e parcelar a grana em vinte vezes. O problema ficou com os 15% a que o jogador teria direito, que ninguém queria pagar. Parece que pela lei argentina, seria obrigação do time “vendendor”, mas os argentinos não queriam saber disso.
A coisa ficou enroscada aí um bom tempo até que essa semana o Corinthians desistiu de contratar o jogador em definitivo. Em nota recente, já após o proverbial bovino ter se dirigido para o terreno pantanoso, Herrera disse que teria aberto mão dos 15%, cerca de R$ 800 mil, para garantir a negociação, e se dizia muito magoado com o Corinthians.
Mario Gobbi, no entanto, deu outra versão para o entrave da negociação. Segundo ele, o problema foi a cotação do dólar. Cito a Gazeta Esportiva: “O negócio estava praticamente acertado conosco quando o dólar estava a R$ 1,90, mas uma semana depois houve o estouro do mercado financeiro e a moeda norte-americana chegou a R$ 2,45 (o preço de Herrera subiria de R$ 4,56 milhões para R$ 5,88 milhões) - lembrou Gobbi. - Mas não é só isso: com impostos, taxas, tributos e honorários, chegaríamos a R$ 8,5 mi, o que é impossível para o Corinthians já que o Gimnasia não quer negociar a cotação do dólar – contou”. Gobbi, no entanto, acha que é provável que o jogador acabe ficando no Timão por empréstimo, pois considera difícil que alguém pague esse valor em dólar nesse momento. O empresário do jogador, Jorge Balbis, no entanto, afirmou nessa segunda que não o Gimmnasia não tem interesse em novo empréstimo.
Mas e aí?
O caso Herrera parece estar causando um impacto forte entre os torcedores, como mostra a petição. Em comunidades no Orkut e outros fóruns, vários corintianos têm pedido a permanência do cara e criticado a diretoria.
Acho interessante tanta mobilização por um cara como Herrera. Nada contra o argentino, até concordo com quem quer que ele fique, mas o futebol dele não é tanta coisa assim para justificar sozinho essa comoção. O cara já jogou em outros times por aí e nunca teve destaque. Acertou um bom momento no Corinthians, mas tenho minhas dúvidas se continuará a render da mesma forma jogando contra zagas melhores do que as encontradas na Série B.
Acredito que são de outras ordens as razões que levam uma parcela aparentemente (não há pesquisa alguma) grande da torcida a se mobilizar (uma coisa é reclamar no boteco, outra montar e divulgar uma petição) pelo argentino.
A explicação começa com o estilo de jogo de Herrera, aguerrido, que nunca desiste de uma jogada. Com isso, ele compensa em parte sua técnica e habilidade limitadas, o que é muito identificado com a mística corintiana: times limitados que se superam e vão na raça pra cima de equipes superiores. Isso mística da superação também se identifica com o torcedor, “maloqueiro e sofredor”, que faz de tudo pelo time, apesar de todos os problemas.
Não são novidade no Corinthians jogadores limitados que assumem esse papel e se tornam ídolos. Mas creio que esse momento da história do clube torna o caso de Herrera mais importante. Após a queda para a Série B, o sentimento da torcida era de que não havia ninguém sério no Corinthians, nem na diretoria nem em campo. O descalabro da administração também caiu na conta de jogadores como Betão, que nunca foi bom, mas merecia certamente tratamento melhor do que o que recebeu na saída.
Com a chegada de Mano Menezes, um cara muito sério, com jeito de profissional, o clima mudou. Parecia que tínhamos trabalho por lá e que isso ia virar alguma coisa. A virada sobre o Goiás na Copa do Brasil deu moral ao time e à torcida e as coisas foram melhorando. Herrera se tornou meio que um símbolo desse momento. O cara corre o tempo todo, não desiste de bola nenhuma, e foi melhorando junto com o time.
Eu não acho que o futebol dele valha R$ 6 milhões e concordo com a decisão de não contratá-lo. Mas algo mesmo sabendo disso, queria que ele ficasse, especialmente depois da chegada “fenomenal” de Ronaldo. Herrera ali daria a impressão de que a vinda do novo camisa nove não é apenas um golpe de marketing, que o trabalho vai continuar sendo feito de forma séria e comprometida, que vai haver sempre respeito pela torcida. Enfim, que o corintianismo da superação e da entrega, resgatado no purgatório da Série B, não será jogado fora de uma hora pra outra em nome de um deslumbramento por dólares russos, fundos gringos ou jogadores-empresa.
Do ponto de visto técnico e pragmático, entendo a diretoria. Se olharmos a necessidade do elenco, Herrera ficaria para ser reserve de Dentinho e Jorge Henrique e, segundo consta, ainda vão contratar outro centroavante para revezar com Ronaldo. Além da questão principal: grana, que o time não tem muito e precisa gastar bem. E como já disse, o futebol do argentino não é para tanto. Isso sem falar que simbolismo não põe mesa, como dirá, não sem razão, o pragmático: com ou sem Herrera, a bagunça pode se instalar.
Mas o simbolismo de sua possível permanência é forte para quem não tem como acompanhar de perto o dia a dia do clube, não tem como saber se o trabalho está sendo feito ou se virou bagunça. No final, queria que existissem condições práticas para que ele ficasse – o que basicamente quer dizer, de acordo com as declarações da diretoria, uma súbita queda do dólar ou das expectativas do clube argentino. Mas acredito (e torço...) que o Timão terá um bom ano de 2009 mesmo sem o ex-quase-gol. E que Herrera seja feliz onde for, sabendo que fez parte de um momento sofrido e importante da história do Corinthians.