Destaques

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Domingos eterno!

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Ontem pela manhã, durante o clássico lusitano entre Portuguesa e Portuguesa Santista, jogo-treino disputado em Mogi das Cruzes, o zagueiro Domingos (ex-Santos e agora no time do Canindé) deu uma entrada violenta no centroavante Caconde (ex-Clube Atlético Taquaritinga e agora no time praiano), provocando um tremendo quebra-pau, que encerrou o "amistoso" ainda no primeiro tempo. Questionado sobre o pugilato, Domingos esquivou-se: "Quero paz em 2010". Imagine se quisesse guerra...

Domingos (à esquerda), em pose de pugilismo, parte pra cima de Caconde

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Planejamento, gestão e eficiência

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Materinha muito esclarecedora do site Brasília Confidencial, publicada no dia 4, escancara o que a imprensa paulistana - e grande parte da nacional - tenta esconder de todo jeito: as trágicas enchentes no estado de São Paulo tem responsável com nome e sobrenome, José Serra. Desde o início de dezembro, ele cortou em 20,4% os recursos para combater as enchentes em 2010, segundo análise do economista Eduardo Marques, do Transparência São Paulo. A previsão de Serra é cortar R$ 52 milhões. De acordo com Marques, além de prever menos recursos para 2010 em relação a 2009, o tucano impediu que a Assembléia Legislativa corrigisse estes problemas com emendas ao orçamento. Em números, o governo paulista previu R$ 252,2 milhões em 2009 para combater enchentes, mas destinará apenas R$ 200,6 milhões em 2010.

Segundo o Brasília Confidencial, os principais cortes de recursos foram para as ações de limpeza e conservação de corpos d´água (desassoreamento dos rios e canais), na manutenção, operação e implantação de estruturas hidráulicas e nas obras complementares na bacia do Alto Tietê. Foram retirados do canal do rio Tietê em 2009 cerca de 400 mil metros cúbicos de sedimentos, segundo o governo do estado. No entanto, especialistas têm avaliado que seria necessária a retirada de pelo menos um milhão de metros cúbicos por ano. Outros números do orçamento público revelam que em 2009 o Estado pretendia retirar 2,5 milhões de metros cúbicos de sedimentos com R$ 4,4 milhões. Não cumpriu nem 10% da meta, nem justificou o gasto. Pior: em 2010, o Estado pretende retirar quase a mesma quantidade de sedimentos com apenas R$ 1,5 milhão. Mágica? Ah, mais essa: não há registros sobre serviços de desassoreamento em 2006, 2007 e 2008...

"Sem dúvida nenhuma, estes valores apontam para as verdadeiras causas das últimas enchentes na marginal do Tietê, bem como do agravamento das inundações de bairros inteiros na cidade de São Paulo", arremata o economista Eduardo Marques. Planejamento, gestão e eficiência. Esse é o forte do PSDB. José Serra merece um prêmio: nenhum voto em 2010.

"Alguém sabe por onde andam os militares?"

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A indicação foi feita pelo Twitter do Vi o Mundo. O comentarista José Nêumane Pinto, conhecido pelas suas posições conservadoras, resolveu palpitar sobre a terceira versão do Plano Nacional dos Direitos Humanos, que a grande mídia tem vendido como se fosse uma "reforma constitucional" feita por decreto. Asneira da grossa e que só faz sentido em um ano eleitoral, reverberada por uma fatia da imprensa comercial que parece ter perdido qualquer prurido em mentir.

O plano estabelece diretrizes para se fomentar uma cultura de respeito aos direitos humanos e teve outras duas edições lançadas durante o governo FHC. Tais diretrizes estão aí para serem discutidas pelas instituições e pela própria sociedade, não vão se tornar legislação com um passe de mágica. O ídolo futepoquense Cláudio Lembo, que está longe de ser de esquerda, já deu a dica: vá à fonte, leia o Plano ou confira os pontos que a mídia tem repercutido com o texto.

Abaixo, a inspiração pouco democrática de Nêumane Pinto. Triste sinal.

Som na caixa, manguaça! - Volume 47

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CHICLETE DE HORTELÃ
(Composição: Zeca Pagodinho)

Mussum

Eu já mandei pedir à Odete
Para me mandar
Um chiclete de hortelã
Para tirar
Esse cheiro de aguardente
De romã do Ceará
Já cansei de implorar à minha irmã
Prá me mandar um chiclete de hortelã

Ela foi para bahia
Terra do balangandã
E numa casa de santo
Foi comprar um talismã
Que dizia ter encantos
Quebrava os quebrantos
E era de Iansã
E eu só pedi prá me comprar
Um chiclete de hortelã

Quando vem raiando o dia
Meditando em seu divã
Só penso na carestia
Que aumenta a cada manhã
Oh, meu Deus, que bom sereia
Se eu comprasse alcatra ou chã
Mas o dinheiro já nem dá
Pro chiclete de hortelã

Nos meus tempos de infância
Todo dia de amanhã
O bom velhinho do doce
Que de criança era fã
Tem cocada, mariola
Bala e doce de maçã
Olha aí

Quem quer comprar
Um chiclete de hortelã
O meu time vai domingo
Jogar no maracanã
Vou festejar a vitória
Com a torcida campeã
Se quando eu chegar em casa
Não estiver de cuca sã
Prá disfarçar eu vou mascar
Um chiclete de hortelã

(Do LP "Mussum - Água Benta", 1978) - baixe aqui

Queria ser mais otimista

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Por Moriti Neto

Esperei ao máximo para escrever este post na esperança de ter notícias mais alentadoras. Só que o São Paulo, que se reapresentou oficialmente na última quinta-feira, dia 7, não passou do “pacotão” de seis reforços previstos para a temporada 2010.

No final das contas, acabei escrevendo o texto num calor de lascar e, por motivos, digamos, tristes e que violam as condições objetivas das quais necessitam um manguaça para estar mínima e momentaneamente satisfeito, a sede já extrapolava. Talvez isso justifique o pessimismo abaixo.

Chegaram Marcelinho Paraíba, Carlinhos Paraíba, Fernandinho, Xandão, Léo Lima e André Luis. Entre os que deixaram o clube, maior destaque para Borges e Hugo, que participaram das vitoriosas campanhas nos nacionais de 2007 e 2008. Ambos vão defender o Grêmio.

Dos contratados, pode-se dizer que o time ganha uma opção interessante no meio. Marcelinho Paraíba, aos 34 anos, ainda é bom. Chuta, dribla e passa com qualidade. Porém não é o tão esperado armador (se é que isso ainda existe) que a torcida há tanto reivindica. Está mais para um ponta de lança, jogando próximo aos atacantes e buscando a tabela e a chegada para finalizar.

Sobre o zagueiro André Luis, é de doer tecer análises. É fraco tecnicamente e de cabeça. Já arrumou confusões de tudo que é tipo, até cartão para árbitro – na Copa Sul Americana – deu. Exatamente por isso, está suspenso por seis partidas em competições internacionais. Ou seja, fica fora da primeira fase da Libertadores. Na mesma toada, o meia atacante Fernandinho, eleito a revelação do último Brasileirão, chega com uma fratura no pé, fará cirurgia e ficará dois meses sem atuar. Bem, ainda que a ausência do zagueiro possa ser um “reforço”, não dá pra conceber uma diretoria que se gaba do suposto “planejamento diferenciado”, contratando dois atletas com os quais não vai contar por tempo razoável na competição mais importante do primeiro semestre. Ao menos se fossem dois craques...

Dos outros reforços, pouco a dizer. Para a zaga, Xandão, assim como André Luis e Fernandinho, veio do Barueri, time de aluguel e sem expressão. Pouco vi jogar. O volante Carlinhos Paraíba, junto com o “xará” Marcelinho, veio do Coritiba, rebaixado no campeonato nacional. Sobre Léo Lima, somente digo que seu empresário é um cara muito bem relacionado.

E os garotos?

Das revelações da base tricolor, seguidos imbróglios nos últimos dias. Primeiro foi o meia Oscar, considerado uma grande promessa no clube, quem saiu reclamando direitos trabalhistas. E mais dois casos foram na mesma esteira. O lateral esquerdo Diogo e o atacante Lucas Piazon, de apenas 15 anos, também recorreram à Justiça do Trabalho.

A diretoria alega que os jovens são aliciados por empresários, mas uma mensagem, no mínimo estranha, do dirigente Marco Aurélio Cunha, gravada na caixa postal do celular de Oscar, lembra cenas do “Poderoso Chefão”: "Oscar, você sabe o quanto gosto de você. Acho que esse caminho é horrível. Foi um erro estratégico imenso, e espero que você não tenha permitido. Com certeza, sua vida vai ficar difícil porque seus argumentos são ruins e a força jurídica do São Paulo é muito grande. Me liga, meu filho, para eu te orientar, eu não quero passar o que você vai passar", falou o cartola.

Não é preciso ser gênio para saber que há algo de muito podre nos negócios do futebol. O jornalista Marcello Lima, da Rádio Jovem Pan, em seu Twitter, observou que o agente de Oscar, Giuliano Bertolucci, ligou para um dirigente do São Paulo pedindo 30% dos direitos do jovem atleta em troca da retirada da ação. Ou seja, com a conduta dos dois lados, constata-se que escrotidão pouca é bobagem.

Perspectivas para o comportamento do time em campo? Com a média dos reforços, mais o nível de “planejamento” e os problemas na base, Ricardo Gomes deverá sofrer bastante para montar uma equipe que crie alternativas de jogo e mude o estilo – que funcionou bem por três anos, mas que está manjado pelos adversários – e leve algum título para o Morumbi.

Ah, mas tem tal e tal possibilidade... Detesto especulações de contratações. Não sou dos que passam algum tempo imaginando (embora já o tenha feito quando mais jovem, a idade diminuiu minha criatividade nesse sentido) “como ficará meu time com fulano ou sicrano?” (embora já o tenha feito quando mais jovem, a idade diminuiu minha criatividade nesse sentido).

Então, se o Tricolor contratar melhor – e eu espero que o faça – comento de novo e quem sabe termino um texto de forma mais positiva e, quem sabe, menos sedento.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Sobre o Grêmio Prudentino

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A notícia não é nova, mas como não havia sido repercutida aqui no Futepoca, acredito que ainda caiba destaque: o Grêmio Recreativo Barueri, que em 2009 disputou a elite de Campeonato Paulista e Campeonato Brasileiro (obtendo a vaga na Copa Sul-Americana 2010) mandará seus jogos pelo Paulistão deste ano em Presidente Prudente, no interior paulista, bem distante de Barueri. É o primeiro passo de um processo que, até segunda ordem, culminará na transferência definitiva do clube para Presidente Prudente e na mudança de nome da equipe - que deverá ser rebatizada para Grêmio Prudentino.

O motivo da alteração é um quebra-pau entre os administradores do clube e a administração da cidade de Barueri. O clube sempre recebeu apoio confesso da prefeitura local e, com ele, teve ascensão meteórica no futebol local - basta lembrar que no não tão distante assim 2005 fazia festa pelo título da terceira divisão paulista. A situação começou a se estremecer quando, em 2008, o GRB se transformou em clube-empresa (passando a adotar o sufixo LTDA em seu nome oficial), à revelia do que queria a prefeitura.

Em dezembro, então, se deu o racha definitivo: o clube fazia exigências para permanecer na cidade, e a prefeitura respondia que elas seriam atendidas caso "o clube fosse devolvido à população de Barueri" - ou seja, para debaixo da asa da administração municipal.

Já no final do ano passado, ainda pelo Brasileirão, o Barueri mandou seu jogo final (contra o Atlético-PR) em Presidente Prudente e agora no começo desse ano anunciou sua transferência para lá, ao menos durante o Paulista.

A medida tem sido recebida com repulsa pela maioria das pessoas, ao menos as com quem converso. O Barueri, digamos a verdade, nunca foi visto com olhos muito entusiasmado. Não tem torcida, não tem tradição, contava com o sempre contestável apoio do poder público e tira da elite uma vaga que poderia ser ocupada por Bahia, Ponte Preta, Santa Cruz ou qualquer outra equipe mais tradicional no futebol nacional.

Para muitos, a mudança de cidade do clube é a "cereja do bolo" da deteriorização do futebol brasileiro representada pelo Barueri - um cenário no qual o domínio da bola fica na mão de empresários comprometidos apenas com seus interesses financeiros.

Não chego a discordar de tudo isso. E confesso achar meio sem-graça o Barueri na primeira divisão do futebol nacional. Mas, justamente por isso, sou dos poucos que vê a ida a Presidente Prudente como uma boa notícia.

Prudente é uma cidade grande, importante mas distante pra caramba de qualquer outra que tenha um time na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Sua população, por incompetência dos clubes locais (e todos aqueles fatores estruturais de sempre), está impossibilitada de ver no estádio um jogo da elite nacional. Bem diferente do que ocorre com os moradores de Barueri - próximos de São Paulo, Santos e até mesmo Campinas.

Já que há um time como o Barueri na primeira divisão, que ele sirva ao menos para que a população de uma importante região do estado tenha bom futebol perto de casa. Porque a Grande São Paulo já é bem provida disso.

Pérolas do Enem

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Uma amiga me encaminha uma lista com pérolas encontradas em provas do Enem. O tema da redação foi "Aquecimento global". Difícil comprovar a autenticidade, mas, mesmo assim, pincei meia-dúzia para comentar entre uma cerveja e outra:

"A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas".

"Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis".

"A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes".

"A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo".

"O que vamos deixar para nossos antecedentes?".

"A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu".

Coca Colla

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O presidente da Bolívia, Evo Morales, está apoiando a criação de um refrigerante energizante à base de folha de coca, a Coca Colla, uma iniciativa de produtores do Chapare, região central da Bolívia. O nome não é apenas referência ao famoso refrigerante estadunidense, mas também faz um trocadilho com a palavra "Colla", que se usa para designar os índios do altiplano. 

Há alguns anos fui fazer uma reportagem sobre a coca na região do Chapare, na Amazônia Boliviana, e me deparei com uma população indígena extremamente pobre, que sobrevive graças e unicamente a plantação de coca. É bom lembrar que a folha de coca se masca há mais de 3 mil anos numa região que vai desde o norte da Argentina até o mar do Caribe na Colômbia. 


Na época, existia um plano de substituição de cultivo impulsionado pelo governo americano, que não funcionou. Os indígenas que plantaram palmito, abacaxi ou banana, não tinham onde vender nem como transportar o produto para os grandes centros. Segundo o Ombudsman da região, um médico de Cochabanba, o interesse americano ia além da intenção de reduzir o plantio da coca, que nunca aconteceu. Laboratórios americanos aproveitaram a planta na indústria cosmética e farmacêutica e mantinham desta maneira o controle na região amazônica dos países andinos, rica em biodiversidade e recursos naturais. 


Portanto, acho que Evo esta certo, primeiro em valorizar um costume ancestral defendendo um rasgo cultural importantíssimo de nossos povos originários e, segundo, por tomar conta de uma área estratégica que está nas mãos do exército americano desde que se implantou o plano "Coca Cero" na região andina.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Brasília dá novo exemplo do quanto é limitada nossa democracia

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Foto: Roosewelt Pinheiro/Abr

Enquanto o Plano Nacional de Direitos Humanos é cenário de mais uma batalha entre os fantasmas da ditadura militar e os setores a favor da consolidação da democracia brasileira, a esvaziada capital federal dá mais uma prova do quanto é limitado o nosso senso republicano.

Nesta segunda-feira, a Câmara Legislativa do Distrito Federal retorna aos seus trabalhos e, como boas vindas, receberão mais uma manifestação contra a corrupção e a favor do afastamento de todos os envolvidos no mais recente episódio de maracutaia na política nacional. Em resposta, a imprensa e a população foram proibidas de entrar na Câmara.

E quem deu a ordem de proibição? Leonardo Prudente (ex-DEM), estandarte da moralidade, aquele mesmo que foi flagrado em um vídeo colocando dinheiro na meia porque não usa pasta, e está de volta ao comando da “casa do povo”. Aliás, que hoje abriga a importantíssima reunião que vai escolher os novos membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) (e que será realizada a portas fechadas). É na CCJ que começam a tramitar os processo de impeachment contra o governador José Roberto Arruda (ex-DEM).


Do lado de fora, mais manifestações contra o governador Arruda, e desta vez, pasmem, com a presença de manifestantes a favor do governador.

Manifestantes a favor do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Foto: Roosewelt Pinheiro/Abr


PS: Pela manha policiais retiraram à força estudantes que estavam sentados no gramado em frente à Câmara, demonstrando indignação com a corrupção. Seria a policia do GDF capaz de mais um episódio de barbárie contra os manifestantes?

Deu liberdade, dançou

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Vi ontem, no programa "Grandes momentos do esporte", da TV Cultura (não sei se era reprise), um trecho de uma recente entrevista que fizeram com o ex-jogador Careca, titular da seleção brasileira nas Copas de 1986 e 1990. Falando sobre a eliminação contra a Argentina no mundial italiano, com gol de Gannigia (acima) após jogada sensacional de Maradona, Careca revelou um detalhe da preleção com o técnico brasileiro, Sebastião Lazaroni:

- Eu e o Alemão, que jogávamos com o Maradona no Napoli, sabíamos que ele estava acima do peso e numa fase difícil. Mas, mesmo assim, ainda decidia partidas sozinho. Daí, falamos para o Lazaroni que era preciso botar alguém pra fazer marcação homem a homem, pra grudar no Maradona os 90 minutos. Ele disse que não era preciso, que íamos marcar por zona e que o Dunga e o Alemão iam se revezar na marcação. Acatamos, pois ele era o técnico. Fizemos nossa melhor partida na Copa e perdemos uma chuva de gols. Depois, sem marcação individual, Maradona aproveitou uma bobeira e puxou sozinho o contra-ataque para o gol de Cannigia.

O lamento de Careca remete ao que aconteceria 16 anos depois, na Copa da Alemanha, quando muitos criticaram a ausência de marcação homem a homem em Zidane quando o Brasil foi eliminado pela França. No elenco da época, teve quem apoiou e quem questionou a postura do técnico Carlos Alberto Parreira. Mas é fato que o francês dominou a partida e fez o que quis, com total liberdade. Com os gênios, todo cuidado sempre será pouco.

Será que o PAK vem aí?

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Luz no fim do copo? O grupo holandês Heineken está comprando, por 7,7 bilhões de dólares, a mexicana Femsa, dona, no Brasil, da temível Kaiser - a "cerveja" que desce quadrado (ou pior, não desce!). Além da Kai-aaargghhh..., a Heineken passa a ter outras 34 marcas na América Latina e se estabelece como maior engarrafadora da Coca Cola na região. Buenas, levando em consideração meu apreço pela cerveja holandesa, fico em dúvida: será que, enfim, vão tornar a Kaiser um pouco menos intragável? Seria o PAK, Programa de Aclimatação da Kaiser???

Descaramento pouco é bobagem

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Na última página (A16) do primeiro caderno de hoje, a dispensável Folha de S.Paulo ressucita o papo furado de que "Lula é continuidade de FHC", numa entrevista com o economista tucano - óbvio! - Claudio Salm (foto). A penúltima pergunta e a impagável resposta são dignas dos anais do descaramento midiático:

FOLHA - O senhor é filiado a algum partido político? É tucano?
CLAUDIO SALM -
Nem tucano nem filiado a partido político. Votei no José Serra para presidente em 2002 e colaborei na campanha dele, mas não fiquei triste com a vitória do Lula.

Ah, tá...

sábado, janeiro 09, 2010

Discurso de manguaça não tem dono

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Por Moriti Neto


Quem disse que fazer discurso manguaça é prerrogativa de alguma classe específica? Para aqueles que acreditam que só os assíduos frequentadores dos bares mais humildes são responsáveis por digressões feitas no calor dos goles da distinta, pode-se afirmar um ledo engano.

Entre políticos, há casos exemplares de pronunciamentos manguaças. Alguns dos mais notáveis foram feitos pelo ex-presidente russo Boris Yeltsin, falecido em abril de 2007.

Contudo nem só os titulares de cargos eletivos ou os humildes pinguços cotidianos têm exclusividade sobre o ato de soltar o palavrório devidamente manguaçados em ambientes públicos.

A cantora estadunidense Mariah Carey assumiu, na última quinta-feira, dia 7, que estava sob efeito de álcool quando discursou ao receber um prêmio pela atuação no filme "Preciosa: Uma História de Esperança", no Festival de Cinema de Palm Springs, nos EUA.

Atrapalhada com as palavras, ela não conseguiu completar uma frase: "Perdoem-me, porque estou um pouco...". Foi quando alguém do público, talvez em igual estado etílico, o que pode ter facilitado a conclusão, fez questão de completar: "bêbada”!

A cantora tentou justificar a condição – o que geralmente não é boa idéia – com a seguinte pérola: "Peço desculpas, às vezes fico um pouco difícil".

Bem, é possível conferir o quanto Mariah Carey fica difícil (às vezes?) no vídeo abaixo e comprovar que nem só as espécies citadas acima utilizam a retórica manguaça.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

A volta dos que não foram

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O Olavo já falou aqui do retorno de Giovanni, quase aposentado, ao futebol. Mas além da plêiade de veteranos contratados pelos clubes grandes como Marcelinho Paraíba (São Paulo), Roberto Carlos (Corinthians) etc etc etc, há os exemplos de jogadores que já estavam aposentados – ou quase - e retornaram para a equipe de origem, para exercer mais de uma função em um clube ou trazer visibilidade a times pequenos e faturar uns trocos antes de pendurar em definitivo as chuteiras.


Este último é o caso do atacante Viola, que já fazia parte do elenco fixo do showbol, exibição de ex-atletas feita para a TV a cabo. Aos 41 anos ele fechou contrato com o Brusque, de Santa Catarina, “agenciado” pelo também ex-craque Edmundo . Mesmo estando há meses sem atuar (seu último time foi o carioca Resende), mostrou que não esqueceu os clichês de boleiro: “Nunca prometo gols. Prometo honrar a camisa, dedicação, bom serviço. O gol é a consequência de um bom trabalho”. Viola pode estrear contra outro veterano, Sávio, 35, contratado pelo Avaí, na primeira rodada do campeonato catarinense.

Já o “capetinha” Edilson, depois de dois anos parado, decidiu encerrar a carreira no Tricolor da Boa Terra, aos 39 anos. Mas o Bahia só vai contar com o futebol dele depois de 30 dias de trabalhos físicos e sua estreia deve acontecer somente contra o Atlético de Alagoinhas, no dia 6 de fevereiro. Não satisfeito, o baiano pediu a contratação de outro aposentado, o conterrâneo Vampeta. Seria o embrião de um time de masters?

Já no Ituano, vemos uma nova modalidade de trabalho de atleta aposentado: a do dirigente-jogador. Juninho Paulista, depois de quase abandonar a carreira após uma passagem, digamos, discreta pelo Sydney da Austrália em 2008, topou ser administrador do Ituano no meio do ano passado e vai jogar o seu terceiro campeonato paulista pelo clube (antes, havia vestido a camisa rubro-negra em 92 e 93). Perto de completar 37 primaveras no mês que vem, o meia conseguiu convencer outro pentacampeão a retornar aos gramados: o zagueiro Roque Júnior, sem clube desde sua última desastrosa passagem pelo Palmeiras, em 2008.

Outro que volta à bola aos 32 é o ex-goleiro do São Caetano Silvio Luiz. Sem jogar desde junho do ano retrasado, quando sofreu um grave acidente automobilístico, ele assinou contrato com o Juventude e deve estrear pelo clube no Gauchão.

E aí, qual "quase aposentado" vai dar certo em 2010?

Baby boom

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Pode ser exagero, mas estimo que quase metade das pessoas que conheço faz aniversário em janeiro. Quando eu era adolescente, fazíamos todo ano um churrasco dos nascidos especificamente em janeiro de 1974 e acho que eram mais de 20 pessoas. Tinha gente do dia 2, do 3, do 5, do 7, do 8, do 10, enfim, ia intercalando até uma menina que era do dia 29. Em Campinas, na faculdade, era a mesma coisa. Em Fortaleza, onde morei por um tempo, idem. E aqui em São Paulo não é diferente: de hoje até domingo são cinco festas, churrascos e cervejadas de amigos e agregados. Hoje eu conversava com um deles, Fernando, que no dia 16 vai comemorar 28 anos fazendo um churrasco na laje, lá em Guaianases, em homenagem aos 30 anos da prisão do Paul McCartney por porte de maconha, no Japão (!!). Vai daí, ele me perguntou:

- O que será que acontece em abril pra nascer tanta gente em janeiro?

- Feriado de Páscoa, respondi.

- Ué, mas tem feriado o ano inteiro, ele rebateu.

- Pois é, mas neste as pessoas enchem a cara de vinho e enforcam o Judas!

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Se conselho fosse bom, a gente bebia...

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Um colega cachaceiro (assumido) dá dois conselhos aos butequeiros:

1 - Antes de ir ao bar, já tome umas três ou quatro, pra chegar no mesmo "grau" da conversa dos outros;

2 - Sempre beba em pé; se der vontade de sentar é que você já passou da conta e tem mesmo é que ir embora.

Tá explicado

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Ao voltar da Irlanda, em dezembro, passei por um período difícil de readaptação ao gosto de nossas sofríveis cervejas nacionais de maior consumo. Depois de sete meses provando dezenas de marcas européias (note-se: as mais populares de lá), meu paladar já não se convence tão facilmente de que as Skol, Brahma, Original, Bohemia e mesmo a tal de Antarctica Zero são, de fato, cerveja. E nem vou baixar o nível, falando de Kaiser, Itaipava, Nova Schin, Sol, Glacial, Lokal etc. Tirando a Serra Malte, a Brahma Extra e as "artesanais" como a Baden Baden e a Colorado, entre outras, o resto me parece - e já me parecia muito antes de eu ir morar no exterior - água gelada com uma mistura rala de cevada e espuma. E digo isso porque, como comecei a consumir cerveja com regularidade há mais de 20 anos, me lembro muito bem do (ótimo) gosto que as Skol, Brahma e até a Antarctica tinham naquela época. Simples: tinham gosto de cerveja, como hoje tem a Paceña boliviana.

Nessas festas de fim de ano, a família e os amigos estranharam quando, muitas vezes, eu parava de beber a loira gelada e partia para outras bebidas. E quando eu dizia que a qualidade da nossa cerveja está pra lá de sofrível, tinha que ouvir as piadas de que voltei ao Brasil com frescura, que "cerveja é tudo igual" e até mesmo que o nosso produto é o melhor do mundo (!!!). Aí não dá, não tem conversa. Porque é muito, muito ruim. Prova disso é o artigo publicado pela Folha de S.Paulo (enfim, alguma coisa útil naquele pasquim), do professor da Unicamp Rodrigo Cerqueira Leite, "A cerveja: bebendo gato por lebre", que nos foi enviado pelo camarada Don Luciano. O texto afirma, categoricamente: "(...) o milho (e outros eventuais cereais que não a cevada) constitui, em peso, quase três quartos da matéria-prima da cerveja brasileira, revelando sua vocação para homogeneização e crescente vulgaridade".

Segundo Cerqueira Leite, essa é a principal sacanagem da nossa inescrupulosa indústria cervejeira - a quarta maior do mundo, como ele frisa logo de início. A bebida deveria ser composta por cevada, lúpulo e água, mais fermento. "Tradicionalmente, o termo malte designa única e precisamente a cevada germinada", prossegue o artigo. "O malte pode substituir a cevada total ou parcialmente. A malandragem começa aqui. Com frequência, lê-se em rótulos de cervejas a expressão 'cereais maltados' ou simplesmente 'malte', dissimulando assim a natureza do ingrediente principal na composição da bebida. Com a aplicação desse termo a qualquer cereal germinado, a indústria cervejeira pode optar por cereais mais baratos, ocultando essa opção". Ou seja: usam milho, gastam menos, lucram mais. E nós ficamos com o prejuízo, a insatisfação e o gosto ruim (ou ausência de qualquer gosto) na goela.

Esse processo de mediocrização da cerveja com ingredientes impróprios já tinha sido comentado aqui no Futepoca por nosso amigo e colaborador Bruno Aquino, do site Cervejas do Mundo: "Muitas marcas substituem na sua totalidade o malte de cevada por arroz. As cervejas chinesas são um excelente exemplo disso, caso da Tsingtao. A americana Bud também aposta nesse cereal. Aliás, a cevada é muito mais cara do que arroz ou milho, pelo que muitos produtores optam por substituir parte da ceveda por um desses cereais, mais baratos, neutrais e de produção em larga escala". Falando das cervejas estadunidenses, aliás, Aquino também avaliou, sobre as Macro Lager, que "elas não são muito amargas, têm médio/baixo teor de álcool, pouco sabor e aroma". Alguma semelhança com as "cervejas" brasileiras?

E completou: "O mais importante é a produção em grande massa, cortando-se em cereais nobres como a cevada, malte e lúpulo e abusando-se do milho e do arroz. Pelo menos o produto final é barato, apesar da qualidade deixar muito a desejar". O problema é que, aqui no Brasil, o (péssimo) produto final nem barato é! Pra complicar, o professor Cerqueira Leite, em seu oportuno artigo, acrescenta: "Outro determinante da baixa qualidade da cerveja brasileira é a adição de aditivos (sic) químicos para a conservação. O mal não está só nessa condição, mas na sua necessidade. O lúpulo em cervejas de qualidade, sejam 'lagers', sejam 'ales', é o componente responsável pela conservação -além, obviamente, de suas qualidades de paladar. Depreende-se daí que os concentrados de lúpulo usados na cerveja brasileira são de baixa qualidade".

Pois é. Sem frescura, vou continuar a consumir nossas marcas mais vendidas. Mas com saudade das estrangeiras. Ou melhor, das cervejas de verdade...

Como quebrar um clube de futebol

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O Futepoca teve acesso ao relatório de auditoria feito no Galo a pedido do Conselho Deliberativo pela Auditoria Consultoria Organizacional Ltda., ACO, contratada para analisar a vida administrativa do CAM nos últimos anos.


Como o arquivo foi conseguido pela Internet, é necessário fazer ainda algumas checagens de sua veracidade, mas, verdadeiro, traz um Raio-X de como os clubes brasileiros sofrem pela incompetência de seus dirigentes, isso para não dizer coisas piores.

Pelo cuidado na checagem e leitura mais detalhada, hoje será postada uma parte que já saiu na coluna do jornalista Chico Maia, do jornal mineiro O Tempo, que explica como o volante Ataliba, do time rebaixado de 2005, conseguiu tranformar uma dívida de 3 meses de um salário de R$ 22 mil numa vitória na Justiça do Trabalho que fez o clube dever R$ 10 milhões.

Segundo o jornalista, o clube atrasou mais de três meses de salário, o que o levou o jogador a conseguir na primeira instância da Justiça do Trabalho o rompimento do contrato e um ganho de R$ 350 mil na causa.

Na segunda instância, o desastre: por conta de o os dirigentes terem colocado uma cláusula em que estabelecia "multa" de R$ 1o milhões para o rompimento do contrato e por ter causado o rompimento, foi condenado a pagar R$10.350.000 a Ataliba.

Cabe aqui as perguntas, já também feitas em parte pela auditoria e por Chico Maia, por que um clube estipula uma multa de R$ 10 milhões para um jogador medíocre e já rodado como o "craque" Ataliba?

Como já não faz um acordo e paga na primeira instância o valor de R$ 350 mil e se livra de uma pena maior?

Por que a legislação não determina a punição do dirigente que lesou por incompetência ou mesmo má-fé ao clube?

Um parêntese, se fosse um clube empresa, os dirigentes poderiam ser processados também e responderiam com seus bens pessoais. Grossso modo isso explica porque a maioria quer deixar tudo como está. Fazem dívidas enormes, depois vão embora deixando o passivo para seus sucessores e os bobos dos torcedores. Isso levando em consideração apenas a incompetência, porque outras práticas criminosas precisam ser provadas.

Amanhã, checando com mais cuidado o documento, tentarei descrever como esses mesmos dirigentes que deram prejuízos milionários ao clube "emprestaram" dinheiro para "pagar" suas besteiras e saíram credores de dezenas de milhões de reais do clube.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Um ídolo pode se queimar?

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Giovanni está voltando ao Santos. Aos 37 anos, o paraense deverá, neste 2010, ter sua terceira passagem pela Vila. A primeira foi a mítica realizada entre 1994 e 1996, que teve como ápice o vice-campeonato brasileiro em 1995, o melhor momento do Santos na década retrasada (vixe maria, foi estranho escrever isso). A segunda ocorreu em 2005 e foi marcada por episódios fortes como o jogaço posteriormente anulado contra o Corinthians, o bicão na bola e a dispensa por Vanderlei Luxemburgo no início do ano seguinte.

Giovanni em 10/12/1995, o dia em que se inscreveu definitivamente como ídolo

Sua contratação é uma espécie de "presente" da nova diretoria santista aos torcedores. A dispensa de Giovanni no começo de 2006 foi um dos episódios mais mal-digeridos pelos santistas. Apesar de dentro de campo não estar rendendo aquelas maravilhas, era ídolo dos torcedores e merecia ser tratado como tal. Foi dispensado subitamente, sem explicações suficientes, no mesmo balaio que incluiu Luizão e Cláudio Pitbull. Estava em final de carreira, mas merecia uma despedida mais digna.

Agora, os novos dirigentes do Santos trazem Giovanni de volta. A aproximação entre as duas partes se deu desde a campanha eleitoral, quando o camisa 10 fora anunciado como um "intermediário do Santos na região Norte" ou coisa parecida. É nítido que, mais do que reforçar o elenco, o objetivo é dar ao atleta uma despedida digna do Santos.

Como santista, não aprovo a quase fechada contratação. Tenho Giovanni como ídolo. Meu depoimento sobre ele é praticamente idêntico ao dos outros santistas da minha faixa etária - Giovanni foi um facho de luz sobre o período mais sombrio da história do Santos, um cara que deu a nós um orgulho que não conhecíamos, uma esperança que só sentiríamos novamente sete anos depois daquele 1995.

Mas não quero ver esse ídolo submetido à fogueira que o Santos em reconstrução se mostra ser. Assim como muitos santistas, sei que o 2010 que vem aí não deve ser de títulos. E sim de conquistas fora de campo - auditoria nas contas do clube, limpeza dos quadros administrativos, execução de bons projetos de marketing e por aí vai. Claro que se as taças vierem, agradecemos; mas temos que ter ciência dessa realidade.

Acontece que há muitos que pensam de maneira diferente, e podem colocar no ídolo de 15 anos atrás uma carga que ele não merece carregar. E aí o mito Giovanni, construído com tanta qualidade naquele 1995, pode se esvair.

Eu já xinguei Pepe quando ele foi técnico do Santos, em especial na sua fraca passagem no Paulistão de 1994. Pela escalação errada de algum lateral-esquerdo ou coisa parecida, não lembro ao certo. Uma questão pequena e pontual - nada comparado com a positivamente monstruosa história que Pepe construiu como jogador na Vila.

Pepe permaneceu imune a isso. Mas será que todos os ídolos conseguem superar as insatisfações que podem pontual e involuntariamente causar às torcidas que os idolatraram? Émerson Leão, por exemplo, é visto como persona non grata no Palmeiras, clube que com tanta qualidade defendeu nos anos 1970.

É estranho.

As pequenas tragédias da Ilha Grande

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Duas cenas: a chegada e os passeios numa Ilha Grande paradisíaca e o Morro da Carioca, em Angra, depois da tragédia.

Fotos: Simone Polli e Frédi Vasconcelos


















Das grandes tragédias nem é necessário falar. A TV, a todo momento, mostra imagens da pousada que caiu, das casas, dos velórios. Na falta de assunto, explora-se ao máximo a dor alheia em busca de audiência...

Mas eu e a companheira Simone estávamos num grupo que foi para a Ilha passar o Ano-novo, na casa dos amigos Helô e Gerardo, na Praia Grande de Araçatiba, bem perto do Bananal, onde despencou o morro.

A chegada no dia 27 e os dias 28 e 29, apesar de um pouco de chuva, foi dentro do previsto. Praia, caminhadas, passeios de barco, boas comidas, ótimas conversas com os amigos etc.

A mudança começou no dia 30. Desde as primeiras horas, chuva torrencial. Impedia de fazer qualquer coisa, mas nada indicava o que viria.

Manhã do dia 31, não havia boas notícias. A chuva continuava muito forte. O morro atrás da casas que estávamos começou a cuspir terra. A primeira operação, apesar do susto, foi até simples, tirar aquela pouca terra e fazer um caminho para a água descer.

Operação que teve de ser repetida durante algumas vezes, mas nada ainda que assustasse. À tarde a chuva diminui e traz alívio a todos. Engano, ledo engano. Volta com mais força ainda à noite, o que não impede a ceia e as comemorações da meia-noite. Com direito a ir pular as 7 ondas mesmo debaixo da chuva.

Na volta à casa, as notícias não são boas. Mais terra caíra. É necessário trocar de roupa de festa e fazer um novo caminho para que a água não invada os quartos. E lá vai o grupo para a tarefa nas primeiras horas de 2010.

Não adianta. Refeito o primeiro caminho, vem mais terra ainda, a situação começa a ficar crítica. Não é possível mais mexer atrás da casa porque fica perigoso, a toda hora acontece novo pequeno desmoronamento.

É necessário tirar as roupas, os colchões, tudo que puder ser salvo, porque a invasão de terra e água é iminente. Cada um faz uma pequena mochila para levar o que é essencial. Mais terra caindo e água vertendo do morro, formando novas cachoeiras.

Perto das 3h da manhã a decisão de abandonar a casa e ir para lugar mais seguro oferecido por amigos. A caminhada parece que nunca acaba, atravessando partes inundadas, pequena trilha que pode a qualquer momento desmoronar. No grupo, os bravos León e Thomás, de 9 e 14 anos, que enfrentam tudo sem reclamar.

A chegada à outra casa foi um alívio. Parte do grupo não cabe e ainda tem de caminhar mais para chegar a outro local. Ficamos nesse primeiro e tentamos dormir...

No outro dia, caímos da cama às 8h da manhã com medo do que poderia ter acontecido à casa de Helô e Gerardo. Chegamos e eles já estavam lá. Apesar de ter entrado água e terra nos quartos, que tivemos de limpar, a situação era melhor do que esperávamos. Não havia acontecido nada de mais grave. Embora um dos quartos estivesse com cerca de 1,5 metro de terra na parede externa. Além de pedras ameaçadoramente soltas. Limpamos tudo e almoçamos o resto da paella maravilhosa preparada por Gerardo para a noite anterior.

Daí fomos para outra pousada, numa área de menos risco.

Soubemos da tragédia no Bananal e em Angra, mas com informações cada vez mais confusas. Chegavam a falar em 100 mortes, inclusive de gente famosa...

O espírito das férias já tinha ido embora. Na nossa última noite na Ilha, algo simbólico. Um jantar feito com restos da ceia e mais o peixe e o camarão que sobraram fritos por Helô, com vinhos trazidos da Argentina por Daniel e Mónica, à luz de velas, na mesa de um bar fechado. A prova de que enquanto resta solidariedade e vida, tudo ainda pode ser feito.

Decidimos retornar no dia seguinte, mas boa parte do grupo ficou em locais mais seguros.

Agora, o verdadeiro problema é para a população local. Está sem água e luz até hoje, várias casas estão interditadas, os mantimentos que ficam nas geladeiras estão todos estragando, os turistas vão saindo em bandos, lotando os barcos que vão para a Angra.

A época em que todos que vivem lá do turismo ganham algo para passar o ano está irremediavelmente soterrada.

Nada se compara às vidas perdidas, mas as pequenas tragédias continuarão ainda por muito tempo.