Destaques

quinta-feira, setembro 11, 2014

Som na caixa, manguaça! - Volume 77

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Candeia
VOCÊ, EU E A ORGIA
(Candeia e Martinho da Vila)

Beth Carvalho

Escute, benzinho
Você não pode me deixar
Este triângulo de amor
Não pode acabar
Não vamos nos separar
Somos versos da poesia
Você e eu, orgia...

Acredito nos versos
Por isso te peço mais compreensão
Me conheceste no samba, no meio de gente bamba
Pandeiro na mão
Quando estou vadiando
Neguinho reclama sua companhia
Você e eu, orgia

Se eu morrer na orgia
Tô certo, neguinho, que vou lá pro céu
Vou orgiar lá em cima com Silas
Com Ciro Monteiro, com Zinco e Noel
Quero morrer nos seus braços
Porque você é minha estrela da guia
Você e eu, orgia

Orgia é aquela folia
É aquela esticada pela madrugada
É um papo bom, discussão, violão
No fim de semana aquela feijoada
Cachaça é uma água mais benta
Do que a que o padre batiza na pia

Você e eu, orgia

Quem leva a mulher pro samba
É o cara que paga pra ver e confia
Você e eu, orgia
Somos a realidade
E somos a fantasia
Você e eu, orgia
Somos a Santa-Trindade, neguinho
E somos a trilogia
Você e eu, orgia
Somos um papo furado
E somos a filosofia
Você e eu, orgia
Que será, mas o que de nós será?
Você e eu, orgia
Separar, mas pra que separar?
Você e eu, orgia

(Do LP "Beth Carvalho - De pé no chão", RCA, 1978)


quarta-feira, setembro 10, 2014

Eleições, bancos e jogadas pelas pontas

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Ficou assim: Dilma à esquerda, Aécio à direita e
Marina no meio, piscando pro eleitorado dos dois
Incorrendo orgulhosamente no vício das metáforas futebolísticas, o cenário político no Brasil hoje está parecendo um Corinthians e Palmeiras em final de campeonato. O santista e o são-paulino podem se refestelar no sofá de casa, apreciar a partida e secar qualquer dos lados, enquanto os envolvidos diretamente roem as unhas e mal conseguem entender o que se passa em campo.

É minha sensação: se eu morasse no Uruguai, estaria tomando uma Nortenha e me preparando para apertar um legalizado baseado com ávido interesse pela política do gigante vizinho. Como analista político, temos uma eleição bem jogada, com novidades interessantes, reviravoltas, suspense até o final – e temperada duas vezes por um plebiscito popular pela reforma política que rearticula e mostra a força do campo progressista. Como brasileiro de esquerda (e eleitor de Dilma, digo logo para evitar mal-entendidos), bate um enorme medo de retrocessos.

A eleição presidencial começou se mostrando um passeio no campo para a candidatura petista. A presidenta Dilma Rousseff enfrentava níveis de aprovação perigosos, mas liderava com folga sobre dois concorrentes que não empolgavam. Aécio Neves e Eduardo Campos não conseguiam galvanizar a aparente insatisfação do eleitorado, que não é bem com o governo ou com o PT, mas um reflexo do grito “contra tudo que está aí” que esteve entre os inúmeros brados de Junho de 2013. Havia um eleitor em busca de uma saída para mudar sem retroceder no que já conquistou com os governos petistas.

A trágica morte de Campos trouxe a opção que faltava: Marina Silva, a única política de projeção nacional que teve seus índices nas pesquisas elevados após as Jornadas de Junho. Com uma linda história pessoal de superação, trajetória de esquerda e uma aura de outsider da política que construiu nos últimos anos (mesmo estando toda a vida adulta a fazer política, vai entender...), ela apareceu como uma opção para empunhar o discurso do “novo” que as ruas cobram.

A linha condutora do discurso é o fim da polarização entre PT e PSDB, carta que já foi usada por Celso Russomanno e Gabriel Chalita em São Paulo. Acena com um governo dos “bons”, sem o intermédio dos partidos políticos, corruptos por excelência no entender geral. Assim, acabaria com as negociatas ao escolher os melhores de cada partido, de cada campo social. Na prática, ela precisaria também acabar com os conflitos inerentes a qualquer sociedade: patrões e empregados decidiriam de bom grado sobre aumentos salariais, latifundiários e sem-terra estariam de acordo sobre a reforma agrária, PM e moradores das favelas entrariam em paz automaticamente, brancos e negros fechariam questão sobre as cotas nas universidades.

O discurso esconde os conflitos sociais, o que permite a Marina não se posicionar sobre eles. É despolitizante e enganoso, pois restringe esses conflitos aos partidos, como se as divisões partidárias não existissem para representar as divisões da própria sociedade – e eu nem citei o Marx aqui ainda pra falar em luta de classes. Nesse sentido, é interessante que muitos dos eleitores de esquerda de Marina sejam aqueles que criticam o PT por flexibilizar (eles talvez dissessem vender) bandeiras históricas e fazer alianças com partidos de direita em nome da governabilidade. A fala de Marina não é um recuo no processo de peemedebização dos partidos brasileiros, mas antes um passo adiante nesse caminho.

E no meio da geleia, apresenta propostas de esquerda ao lado da direita mais perigosa. Fala em aumentar gastos com segurança, com saúde, com o meio ambiente. E fala em aumentar o superávit primário (grana que o governo separa antes de qualquer outra despesa para pagar juros da dívida), em independência para o Banco Central (leia-se terceirização aos banqueiros) e medidas drásticas para conter a inflação. É uma conta que não fecha, não dá pra cortar e aumentar gastos ao mesmo tempo. 

Os marineiros chamam esse tipo de denúncia sobre as posições econômicas da candidata de “discurso do medo”, mas não estamos falando do desconhecido aqui. Essas medidas foram usadas no Brasil e em toda a América Latina durante os anos 1990, a era de ouro neoliberal, e tiveram sempre o mesmo resultado: recessão econômica, menor crescimento, desemprego, queda nos salários. Se não lembra, basta olhar a situação de países europeus como Espanha e Grécia, todos vítimas do mesmo receituário. Dá medo sim, mas não é um mero discurso, é uma análise histórica.

Pelas pontas

Bom, mas o fato é que a entrada de Marina foi o fato novo que chacoalhou a eleição. A partir daí, a possibilidade de Dilma descer a rampa do Planalto tornou-se extremamente concreta. E também se cristalizou a chance, cada vez mais uma certeza, de Aécio Neves ser o primeiro tucano fora da disputa final desde 1989, o que é ainda mais interessante.

As duas candidaturas começaram a se mexer em busca do eleitorado perdido, cada uma a seu modo. Aécio falou em “mudança segura”, chamou FHC e outros tucanos para seu programa eleitoral, garantiu Armínio Fraga, queridinho do tal “mercado”, esse deus hoje já sem tantos adoradores, no ministério da Fazenda em seu governo, declarou que há “exageros” no seguro-desemprego brasileiro. Ou seja, quis mostrar ao eleitorado conservador que a opção correta é ele, um direitista de carteirinha e tradição. Não aceite imitações.

De sua parte, Dilma também aumentou o tom, mas pela esquerda: falou em regulação econômica da mídia (saída encontrada contra as ridículas acusações de “censura”), defendeu claramente plebiscito e constituinte para a reforma política, a criminalização da homofobia. Em seu programa de TV, atacou duramente as medidas neoliberais da economia prometidas por Marina e Aécio e contrapôs claramente os interesses dos bancos e da população. Uma agenda de esquerda, buscando os votos progressistas que apoiam Marina – em especial os dos trabalhadores mais pobres.

Ou seja, a entrada de Marina empurrou a eleiçaõ para as pontas: Aécio para a direita e Dilma para a esquerda. E estamos falando aqui das propagandas eleitorais, que costumam ser muito pouco sinceras. Se olharmos as publicidades do PT e do PSDB em eleições passadas, na maior parte do tempo elas falam de platitudes por educação, saúde e sei lá mais o que. Consensos, sem dizer com muita clareza onde querem chegar. É na prática dos governos que as diferenças aparecem, que os apoios sociais de desnudam e fica claro o caráter programático e ideológico dos dois partidos, PT mais para a esquerda, PSDB mais para a direita. O discurso político – no melhor sentido da palavra, o das opções e alianças para governar – só apareceu em momentos chave, em geral no segundo turno, como na eleição de 2006, quando Lula jogou as privatizações no colo de Alckmin.

É um efeito muito positivo de uma candidatura muito perigosa, principalmente por suas opções econômicas, que podem por a perder os ganhos sociais que tivemos nos últimos 12 anos. Além dos investimentos em infraestrutura, que Dilma ampliou muito, e das políticas de desenvolvimento, como a opção por compras nacionais no pré-sal e os juros subsidiados para certos setores – que Eduardo Gianetti, um dos gurus de Marina, já disse que devem sumir, o que significaria na prática o fim do Minha Casa Minha Vida, dos financiamentos via BNDES, do Pronaf e outros programas na mesma linha.

Mas deixando de lado as críticas, há fatores muito interessantes na candidatura Marina, a maioria trazidos pelo movimento original da Rede Sustentabilidade. Incluir a questão ambiental no modelo de desenvolvimento inclusivo que queremos é importante. Mais ainda, a Rede congrega pessoas que têm uma visão interessante sobre as demandas por maior participação popular nas decisões públicas. Fortalecer essa parcela da base marinista é um avanço para o país. Sem falar na escanteada que o PSDB - logo, a direita neoliberal orgânica - está levando nessas eleições. Que a Rede (ou pelo menos essa parte central dela, que prescinde de Marina) cresça e encontre uma voz própria na economia, e que não seja tão atrelada aos bancos.

O maior bolo do mundo

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


No próximo dia 30 serão completos 46 anos da morte do genial Sérgio Porto, cronista, escritor, radialista e compositor mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Esses dias, tava folheando o primeiro volume de seu clássico "Febeapá - Festival de Besteira que Assola o País", publicado em 1966 (teria ainda mais dois volumes, até 1968), e me deparei com a seguinte pérola:
Era o IV Centenário do Rio e, apesar da penúria, o Governo da Guanabara ia oferecer à plebe ignara o maior bolo do mundo. Sugestão do poeta Carlos Drummond de Andrade, quando soube que o bolo ia ter 5 metros de altura, 5 toneladas, 250 quilos de açúcar, 4 mil ovos e 12 litros de rum: “Bota mais rum”.

Ps.: Outra passagem magistral do livro está na crônica "A conspiração", em que Sérgio Porto resume, com fino humor carioca, como a ditadura militar tratava seus opositores:

O importante é que veio a denúncia de que havia conspiração no domicílio do Coronel. Logo uma viatura [da polícia] partiu para colocar os conspiradores a par de que o regime é de liberdade...

(A íntegra desses e de outros textos pode ser acessada clicando aqui. Evoé, Stanislaw!)


terça-feira, setembro 09, 2014

'Mercado de notícias': ao colaborar com massacre midiático de Collor, PT fortaleceu golpismo da imprensa

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Fui ver "Mercado de notícias", documentário de Jorge Furtado que debate política e jornalismo. A costura de depoimentos de vários profissionais da comunicação sobre o comportamento e interesses da mídia, tendo como pano de fundo uma peça de teatro inglesa do século 17 (que dá nome ao filme), dá margem a vários tipos de crítica, comentários, interpretações e conclusões. De minha parte, saí do cinema com duas impressões: 1) de que, por ser jornalista com duas décadas de profissão em redações e assessorias de imprensa, não ouvi nenhuma novidade; 2) e de que, por outro lado, para uma pessoa leiga (e consumidora desavisada do noticiário midiático), o documentário é didático e revelador - para que ela passe a questionar notícia como "verdade".

Alguns dos jornalistas/ repórteres/ blogueiros/ donos de veículos de imprensa entrevistados até ensaiam uma defesa daquilo que se convenciona chamar de "jornalismo", da "verdade factual" e de outras funções aparentemente "imprescindíveis" dos profissionais de comunicação para a sociedade. Porém, no final das contas, creio que o documentário cumpre a função (louvável e necessária, em minha opinião) de levar a maioria dos espectadores a concluir que o noticiário divulga apenas versões, em vez de fatos - e versões que favorecem prioritariamente os interesses econômicos/ políticos das empresas de mídia. Como observei, penso que, para nós, jornalistas (veteranos e calejados), isso costuma estar mais do que claro. Mas, para quem não é jornalista, não está, não.

Entre outras coisas, os profissionais que aparecem no documentário dizem que: não existe imparcialidade no jornalismo; que os jornais são partidos políticos; que, por isso mesmo, críticas e denúncias (mesmo que infundadas ou irrelevantes) são sistemáticas e catastróficas contra determinadas pessoas e/ou grupos, ao mesmo tempo que quase inexistem ou são feitas de forma benevolente quando referem-se a outros grupos e/ou pessoas; que as redações desenvolvem "teses" (mesmo que irreais e/ou mentirosas) e depois mandam os repórteres colher informações e declarações que as justifiquem; que a maior parte das notícias é produzida sem que se faça a necessária e profunda apuração e checagem dos fatos; e que, por fim, tudo é um grande "balcão de negócios".

De certa forma, eles estão verbalizando, para plateias de milhares de espectadores, muitas das coisas que afirmei, há três anos, para um blog da minha terra natal, Taquaritinga (SP), que, óbvio, tem um alcance quase nulo. "A imparcialidade é um mito, não existe", cravei, naquela entrevista (leia a íntegra clicando aqui). "Dono de jornal não é jornalista, é empresário, que defende seus interesses, econômicos e políticos", prossegui. "A censura, hoje, não é política nem imposta pelo governo. A censura é econômica. Só consegue dizer o que quer quem tem dinheiro para ter um meio de comunicação", acrescentei. Pois exatamente tudo isso, de maneira menos simplória que minha abordagem, lógico, é dito, com outras palavras, no documentário "Mercado de notícias".

Outros "ecos" que ouvi se referem à necessidade de pulverizar a verba estatal para os meios de comunicação (no filme, há quem concorde e quem discorde) e, mais impressionante, o papel protagonista do Partido dos Trabalhadores na configuração do tabuleiro de interesses midiáticos. Na última década, gastei muita saliva - e a paciência da companheirada - nas mesas de bar e afins sustentando que, a partir de 2003, o governo Lula deixou a imprensa "nua", no sentido de que não consegue mais disfarçar seus reais interesses. No documentário, Janio de Freitas diz que, até 1964, cada jornal defendia um partido político; que na época do golpe militar todos se uniram para apoiá-lo; e que, depois da vitória de Lula, todos se unem novamente, só que no anti-petismo (bingo!).

Outra teoria que já despejei na orelha dos camaradas foi de que, no episódio "mensalão", o PT passou a pagar o preço por ter colaborado com o movimento golpista contra o presidente Fernando Collor de Mello. Pois, no documentário, Luis Nassif afirma com todas as letras que o "jornalismo" praticado (e louvado) hoje no Brasil, baseado em uma cascata de denúncias escandalosas que via de regra não possuem provas nem sustentação lógica, virou "padrão" ou "modelo" justamente na cobertura midiática que "enlameou" a carreira política e a vida de Collor, e que precipitou sua renúncia. Renata Lo Prete acrescenta, no filme, que muitos dos que hoje reclamam da postura da imprensa eram os que antes, quando estavam na oposição, forneciam informações e materiais para alimentar escândalos.

Por essas e por outras, recomendo o documentário "Mercado de notícias". Rende muito "pano pra manga" sobre um assunto que considero de fundamental importância no mercado jornalístico: o esclarecimento do receptor (leitor, ouvinte, espectador, internauta) sobre os métodos, artimanhas e interesses do emissor (as empresas que comercializam notícias). E, como sonhar não custa nada, ainda espero que, um dia, essa necessária "educação" sobre o consumo de mídia venha a fazer parte do ensino formal na escolas. Ou então nós mesmos, jornalistas, teremos que, voluntariamente, deixar o jornalismo "nu" para a população.

segunda-feira, setembro 08, 2014

Fófis

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Tipos de Cerveja 73 - As Flemish Sour Ale

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Como o próprio nome (sour) alerta, trata-se de algo azedo. Por isso mesmo, Bruno Aquino, do site português Cervejas do Mundo, opina: "Este é um estilo muito peculiar pelo qual, confesso, não nutro grande simpatia. Não quer isto dizer que as Flemish Sour Ale não sejam cervejas de qualidade. Muito pelo contrário: é habitual encontrá-las extremamente bem classificadas em livros e sites que se dedicam à avaliação de cervejas. Todavia, o seu sabor ácido e, em geral, avinagrado, está bem longe do sabor que eu espero encontrar numa cerveja que considero boa". Uma observação é que flemish significa flamenca (ou flamenga), "termo com que se designa o habitante da Flandres (a metade setentrional da Bélgica, historicamente parte dos Países Baixos)", onde o idioma é o "neerlandês (língua conhecida popularmente por holandês)" - segundo esse texto aqui. Sobre as Flemish Sour Ale, o site Cervejas do Mundo acrescenta ainda que "podem variar entre o vermelho e o castanho, com álcool entre os 4% e os 8%, sendo que o seu forte sabor a vinagre e fruta lhes é conferido por um fermento especial", e que são "produzidas segundo métodos muito antigos, estagiam algum tempo em cascos de carvalho e o resultado final é, habitualmente, o resultado da mistura de cervejas novas com outras mais antigas". Como exemplos, são citadas a Panil Barriquée, a Rodenbach Grand Cru (foto) e a Liefmans Goudenband.

sexta-feira, setembro 05, 2014

Leituras de cabeceira

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Flagramos o que estão lendo Marina Silva e Márcio França, companheiros de PSB:


quinta-feira, setembro 04, 2014

Escolinha do Professor Geraldo

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


quarta-feira, setembro 03, 2014

Cervejas belgas

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Uma das cervejas típicas de Bruges
Há cerca de seis anos, quando fizemos uma parceria para reproduzir aqui no blog o conteúdo do site português Cervejas do Mundo (o que temos feito desde então na série Tipos de Cerveja), publicamos uma entrevista com o responsável por aquele portal de informações, Bruno Aquino, em que ele revelou: "O meu interesse por cervejas começou quase por acaso, numa viagem que fiz há alguns anos com a minha namorada à Bélgica. Lá, pude me aperceber das variedades e subtilezas que uma cerveja pode atingir". Mais tarde, ao celebrarmos nova parceria, dessa vez com o chef de cozinha Marcos Xinef, ele escreveu em sua primeira postagem sobre a cidade belga de Bruges, "cheia de mosteiros e vielas, cortada por rios, o que lhe rendeu o apelido de 'Veneza do Norte'. Em um cenário de paz, harmonia e beleza, sua característica principal são as mais de 400 marcas de cervejas, a maior parte fabricadas de forma artesanal, dando vários sabores e aromas a essa bebida tão famosa e consumida no mundo".

Degustação: infinidade de cervejas belgas
Vai daí, botei uma ideia na cachola: precisava conhecer a Bélgica - e, lógico, suas cervejas. A oportunidade veio agora, há quatro meses, quando pude passar 20 dias na Europa. Depois de sair da França de trem, pelo Norte, a primeira parada foi justamente em Bruges. Indescritível. Como bem destacou o xará Xinef, tanto pela beleza secular quanto pela infinidade de cervejas industriais e artesanais. Logo na chegada, me aboletei numa cervejaria da Duvel que funciona no segundo andar do centro de informações turísticas, na praça central. Minha sensação foi a de uma criança numa loja de doces, sem saber o que provar primeiro. Lá, provei a Brugge Tripel, especialidade local. Depois, percorri vários bares e pubs, experimentando todo tipo e marca de cerveja, e visitei a fábrica De Haalve Maan (O Homem da Lua), onde provei a Brugge Zot, outra exclusividade local, e versões da Straffe Hendrik, muito elogiada por cervejeiros.

Provando 'a melhor cerveja do mundo'
Enfim, é um universo a ser descoberto, não dá pra resumir num post tudo o que vi, provei e saboreei. Vale destacar que, indo a Bruges, eu não poderia deixar de provar a Westvleteren, considerada por muitos como a melhor cerveja do mundo. O único pub da cidade onde ela é servida (e nem sempre) fica no meio de um minúsculo beco, onde a imensa maioria dos turistas nem cogita adentrar. É uma espécie de templo para cervejeiros, frequentado por poucos. Tudo muito simples e rústico. Quando pedi a tal cerveja, o garçom olhou sério, meio que surpreso pela "heresia" da pronúncia do "santo nome" em vão, e explicou que havia poucas garrafas, que a produção era escassa, que a casa evitava vender todo o estoque etc. Como eu disse que tinha viajado do Brasil até lá só para provar a dita cuja, capitulou. Por 15 euros (cerca de 45 reais), provei uma garrafinha "sagrada". Excelente. Gosto amargo, meio caramelado, diferente. Para um cervejeiro, uma experiência mística.

Cerveja Kwak e seu suporte especial
Depois de Bruges, a próxima parada foi a capital Bruxelas. Outra "perdição" para quem gosta do "suco de cevadis". Tem de tudo - e tudo é muito bom! Me lembro, de relance, da Kwak, Carolus, Jupiler, Liefmans, Rochefort, Bofferding, Tongerlo, Charles Quint e de uma infinidade de garrafinhas que comprava pra beber em casa, que já não lembro os nomes senão as das mais conhecidas, Vedett e Duvel. Tem um pub na esquina em frente ao Manneken Pis (a famosa estatueta do menininho mijando, ponto obrigatório de visitação em Bruxelas) onde "passeei" por quase todo o cardápio de cervejas. Lá, as pessoas pedem pelo tipo de cerveja, em vez da marca: pilsens (como a Jupiler e a Stella Artois), trapistas (Chimay, Orval, Westmalle), abbeys (Maredsous, Grimbergen), whites (Hoegaarden, Blanche de Bruges, Extra White), gueuzes e krieks (Cantillon, Oud Beersel, Girardin) ou specials (Kwak, Bush, Malheur).

Fica aqui a sugestão, para os cervejeiros, de inclusão obrigatória da Bélgica no roteiro de viagem. Mas alerto que, na volta, engolir essas coisas vendidas nos butecos brasileiros com o nome de "cerveja" ficará bem mais difícil! Saúde! Ou, como brindam os belgas, santé!

Carolus, no pub em Bruxelas
Liefmans e Maredsous

Straffe com quádruplo de malte

Política - Primeiros passos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Nos tempos em que o debate político parece ter sucumbido ao ódio grosso e bruto, elogiar o governo federal - e, por associação (mesmo que involuntária), Dilma Rousseff e o PT - pode ser tarefa inglória e mesmo arriscada em determinados estratos sociais. Décadas de linchamento midiático maciço e diário, somado ao conservadorismo renitente, à ignorância e ao preconceito de classe, além de outros males, mesquinharias e baixezas da natureza humana, cozinharam um caldo virulento que borbulha mais feroz do que nunca. Na classe média despolitizada e suscetível ao noticiário tendencioso e aos discursos mais tacanhos e reacionários, há um policiamento agressivo contra possíveis "petistas", que passaram a encarnar tudo o que existe de pior no mundo, únicos responsáveis por tudo o que de ruim acontece neste país. Como disse, não se trata mais de política. É ódio. Uma explosão de ódio.

Minha filha Liz, de 12 anos, estuda em uma escola particular onde 90% dos alunos pertencem exatamente a essa classe média despolitizada e obediente ao coro anti-petista da mídia. Qualquer menção à Dilma, Lula ou PT provoca vaias, xingamentos e atitudes agressivas por parte de crianças que não fazem ideia alguma sobre o que estão hostilizando - apenas reproduzem e amplificam, de forma simplória, a atitude beligerante de seus pais e/ou responsáveis. É óbvio que, da mesma forma, as crianças que não agem assim, como a Liz, não são, necessariamente, "petistas" (ou filhas de "petistas" - como se isso fosse crime!). Mas, como nos tempos da ditadura, o simples fato de não tomarem parte nas manifestações de ódio, ou de não apoiá-las e incentivá-las, as colocam sob "suspeita". Nesta sociedade extremista e intolerante, se você não odeia o que eu odeio, então deve ser odiado também.

Liz é esperta e, como "ponto fora da curva" em sua turma, sabe manter a cautela. Prova disso ocorreu semana passada, quando ela me trouxe, toda orgulhosa, uma redação sobre a Copa do Mundo de 2014 que mereceu a maior nota da classe. O texto, elogiado pela professora, começava com o seguinte parágrafo:

A preparação da Copa foi ótima. Disseram que o dinheiro da Copa devia vir para escolas e hospitais. Eu concordo com isso, pois em vez de investir na população, investiram no futebol que é importante também, mas nem tanto quanto a população.

Ou seja, ela utilizou o principal chavão midiático para condenar o mundial de futebol realizado no Brasil. Mas eu, que já tinha ouvido a Liz reclamar muitas vezes desse coro anti-Copa, desconfiei. E minhas suspeitas se confirmaram: folheando um de seus cadernos, encontrei, escrita a lápis, a versão original do texto:

A preparação da Copa foi ótima. Disseram que o dinheiro da Copa devia ir para escolas, hospitais. Mas eu não concordo com isso, pois a Copa já tinha sido decidida que ia ser no Brasil e o dinheiro para a Copa é separado do da educação e o da saúde porque são assuntos diferentes.

Compreendi o que havia acontecido. Com receio de atrair o ódio irracional que fermenta raivoso nesses tempos de campanha eleitoral, Liz mudou a argumentação. Consternado, eu a chamei para conversar e apoiei sua atitude. Comentei que também já passei por esse tipo de situação e que sei o quanto é triste quando evitamos expressar nossas opiniões. Mas que é exatamente essa pressão, essa coação, que nos incentiva, no futuro, a não ficar quietos, a ter coragem para marcar posição - sem receios. Também aproveitei para elogiá-la porque, mesmo sem ter consciência disso, ao evitar um confronto desnecessário em momento desfavorável, ela tinha tomado uma decisão estratégica e política. Isso serviu para exemplificar que, mesmo que a gente não queira, é impossível se relacionar em qualquer grupo - familiar, de amizade, escolar, profissional ou comunitário - sem tomar decisões políticas, o tempo todo. Dizer "não gosto de política" é o mesmo que "não gosto de respirar".

O papo terminou com um longo abraço entre pai e filha. Um ato simbólico de adesão solidária e, por que não?, partidária. Um ato de união de convicções. Um ato político.

terça-feira, setembro 02, 2014

Retratos da campanha: em time que está ganhando... Ganhando?

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Dizem que o da esquerda (posição não ideológica) é humorista, mas o da direita tem feito muita gente rir nos últimos tempos...

segunda-feira, setembro 01, 2014

Tiririca "polemiza" com Marina Silva

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O atual deputado federal e palhaço nas horas vagas Tiririca (PR-SP) resolveu polemizar com a presidenciável Marina Silva (PSB), mas de forma sutil e elegante, sem citar a candidata. Em um post publicado no dia 30 de agosto, o parlamentar escreveu: "dizem q sou burro mais pelo menos sou a favor do pre-sal que vai trilhões para educação... tem uma que quer tirar isso do brasil!!"



Tiririca se refere à alegada intenção da pessebista de reduzir a importância do pré-sal na produção energética brasileira, reportada por matéria do jornal O Globo e não desmentida pela candidata. No programa de governo de Marina, no capítulo referente à energia, não há menção ao papel do pré-sal.

Por lei, 75% dos royalties e 50% do fundo social do pré-sal estão destinados para a educação. Além disso, estados produtores que fizeram intenso lobby no Congresso para não deixarem de ganhar recursos com a exploração do petróleo também não devem estar muito satisfeitos com a ideia de Marina.



sexta-feira, agosto 29, 2014

Se candidato a presidente fosse cerveja

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Escolher um candidato com base em suas propostas é um bordão adotado de quatro em quatro anos por todo mundo, da Justiça Eleitoral aos próprios postulantes, passando por idealistas e por metade da torcida do Flamengo. A segunda máxima do "voto consciente" é analisar a história de vida dos postulantes aos cargos eletivos, como se a trajetória da turma fosse tão acessível e transparente.

Escolher a cerveja em um bar é mais simples. O cidadão posicionado, na mesa ou no balcão, pergunta as opções. Ouve, pensa, mede preço e informações previamente adquiridas (experiências anteriores com o produto, o que os amigos e parentes disseram, o que andam falando em mídias sociais, a propaganda que promete a quem degustar aquele rótulo mais e mais amigos, mulheres, dinheiro, glorias e fama, não necessariamente nesta ordem etc.).

Candidato a presidente é uma coisa. Cerveja é outra.

Mas um teste-cego pode surpreender.

Para analisar as propostas sem pender para o lado que o eleitor já estava torcendo, uma startup chamada Projeto Brasil divulga agora um game para ser usado no navegador que permite tanto comparar as propostas quanto fazer um teste-cego entre as ideias (geniais ou não) dos candidatos.

A parte do comparativo das propostas ladeia dois ou mais postulantes conforme suas propostas agrupadas por grandes temas.




No caso do teste cego, a ferramenta traz uma frase descontextualizada e pede que o usuário classifique de uma a cinco estrelas. A medida que vai respondendo, um ranking das avaliações das propostas dos candidatos vai se formando em uma coluna à direita da tela.


A proposta em tela é de Marina Silva

O máximo que pode acontecer é você descobrir que é o eleitor-modelo do Rui Costa Pimenta (PCO) ou, pior, do Levy Fidélix (PRTB).

Foi ali que aprendi que Mauro Iasi (PCB) defende estatizar todo o sistema financeiro. E que Pastor Everaldo (PSC) prega respeito ao direito de lucro e ao dever de responsabilização privada dos prejuízos. Com o tempo, a expectativa é mapear a avaliação da proposta por região geográfica do país e quetais.

No caso de teste-cego de cervejas, a internet é pouco útil, exceto para divulgar resultados.

Se candidato a presidente fosse "peguete"

Outro aplicativo divertido de campanha eleitoral é o "Voto x Veto". Tudo em clima de Tinder, aquele aplicativo que mostra fotos de pessoas com quem você, talvez, quereria ou poderia querer se relacionar afetivamente (no sentido amplo).

O "Voto x Veto" faz isso com propostas dos presidenciáveis. Você só descobre o autor depois de votar (concordar) ou vetar (discordar).

Pela comparação com o Tinder, é um jeito de escolher candidato como se fosse "peguete" em tempos de smartphone.

Sem olho no olho, sem pegar criança no colo nem comer sanduíche de mortadela.

A marvada cerva que me atrapaia

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


No livro "Ao Sul de Lugar Nenhum", compilação de contos do Charles Bukowski, há um texto em que ele descreve (o grifo é meu): "Sentei no tapete, sentindo a luz elétrica, sentindo o álcool escorrendo pelo meu corpo como um desfile de carnaval, atacando a tristeza e a loucura da minha alma". Pois foi exatamente isso o que senti ao chegar na metade do latão de 500 ml da cerveja francesa Mega Démon, com seus espantosos 16% de teor alcoólico. De acordo com o site Espaço Cervejeiro, trata-se de uma Strong Golden Ale (mas bota strong nisso!). "Mesmo com um alto teor alcoólico, permanece suave e adocicada, bem ao estilo tradicional belga. Um verdadeiro desafio para os amantes de cervejas fortes", afirma o referido site. Desafio satânico, poderíamos acrescentar! A Cervejaria Bierland descreve, em seu site, que (mais grifos meus) "o estilo Belgian Golden Strong Ale surgiu após a Segunda Guerra Mundial e é comumente associado ao demônio em virtude do alto teor alcoólico". Buenas, posso assegurar que o sabor não é doce como muitos podem pensar (e repelir). Apenas possui um forte acento frutado, o que realça o amargo da (boa) cerveja. "Seus aromas remetem aos ésteres frutados e agradáveis notas de tangerina, frutas cítricas, especiarias e um suave perfume alcoólico", corrobora o site da Cervejaria Bierland. Completo advertindo que o cheiro é forte e agradável, mas a cerveja não tem muita espuma. E mais não acrescento porque, com toda a sinceridade de quem bebe há quase três décadas, no fim da lata eu já estava bem zonzo. A sensação é realmente a de que a bebida está percorrendo, aquecendo e "eletrizando" as veias do corpo. Deve ser porque eu não comi nada na ocasião. O site Art & Classic Drinks sugere que a Mega Démon pode acompanhar batatas fritas ou queijos fortes. Sei lá, vou tentar esse "reforço", pra dar uma amenizada, numa próxima vez. Para os corajosos e dotados de espírito de aventura, deixo essa cerveja, que pode ser encontrada na maioria dos comércios que oferecem bebidas importadas, como sugestão para a noite de sexta-feira que se aproxima. Mas cuidado! Reproduzo aqui, como alerta, o final do conto do Bukowski: "Então fui para a minha cama com aquela sensação que todos os bêbados conhecem bem: de que tinha sido um idiota, mas também à puta que pariu com isso". Saúde! E boa sorte pr'ocê, meu filho!


quarta-feira, agosto 27, 2014

Douglas vai, Leandro Damião pode ir, Ronaldinho Gaúcho não vem e Nilmar (dizem que) ainda pode vir

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Douglas no Barcelona: inacreditável
Das quatro notícias que agitam o futebol paulista, a mais surpreendente, sem dúvida, é a ida do lateral-direito Douglas para o Barcelona. Confesso: meu queixo não caiu, despencou. Se o São Paulo perdeu R$ 20 milhões que o Metalist, da Ucrânia, ofereceu pelo (esforçado) lateral-esquerdo Cortez em dezembro de 2012, hoje emprestado ao Criciúma, receber R$ 7,2 milhões pelo (esforçado) Douglas, correspondentes aos 40% do valor total de R$ 12 milhões a que o Tricolor tem direito, é pra comemorar com fogos, passeata e banda de música. Não sei quem foi que intermediou esse mirabolante negócio, nem o que os dirigentes do Barcelona andam bebendo ou usando, mas dirijo-lhes meus mais sinceros e comovidos agradecimentos. E obrigado também ao Douglas. Por ir embora.

Leandro Damião vale R$ 48 milhões?
Quanto ao Leandro Damião, desejado por Milan e Benfica, é a oportunidade para o Santos reaver o dinheiro de uma aposta que, até o momento, não vingou. Se a proposta de compra dos italianos de R$ 48 milhões for mesmo verdadeira e o alvinegro praiano aceitar, não só recuperará os incríveis R$ 42 milhões que gastou para ter o atacante como ainda sairá com um belo - e providencial - lucro. Ou seja, tudo o que a diretoria do Corinthians gostaria que acontecesse com Alexandre Pato. De minha parte, não sou dos que chegaram a considerar Damião um excelente centroavante nem dos que agora o destratam como perna de pau. Apenas fico perplexo, como no caso do Douglas, com a disposição dos europeus de investirem grana alta em atletas que não são destaque (nem longe disso, aliás) aqui no Brasil. Enfim...

Ronaldinho no Palmeiras (só que não)
E o fiasco do Ronaldinho Gaúcho no Palmeiras, hein? Se a versão de que o acordo selado melou no último momento porque a diretoria alviverde não acertou "prêmio por título" neste ano, então o tal presidente Paulo Nobre é mesmo completamente maluco. Título? Neste ano? Olha, se isso realmente tivesse chance de acontecer, com o time se matando para escapar do rebaixamento no Brasileirão (e, por isso mesmo, poupando jogadores na Copa do Brasil), então a diretoria tinha mais é que pagar o prêmio que fosse! Afinal, título nessas competições levaria o clube à Libertadores, o que renderia um dinheiro em 2015 muito maior para o clube que qualquer prêmio para jogador. Depois dos R$ 5 mil negados ao salário de Alan Kardec, que também melou negócio e provocou sua ida para o São Paulo, essa do Ronaldinho foi ainda mais inacreditável.

Nilmar na seleção: faz (muito) tempo
Por fim, o Corinthians tenta repatriar o atacante Nilmar. Bom jogador, com passagem excelente pelo próprio clube do Parque São Jorge. Mas quer R$ 800 mil de salário, sendo que o alvinegro paulistano oferece apenas metade. Complicado. Com o desfalque de Guerrero, que vai servir a seleção peruana, o técnico Mano Menezes aperta a diretoria por alternativas. O mercado de centroavantes no futebol brasileiro, aliás, não tem ajudado os clubes. Luís Fabiano vive machucado (ou suspenso), Damião não corresponde no Santos, Fred foi o "vilão" da Copa e está sendo contestado no Fluminense. E ninguém garante que Nilmar, aos 30 anos e isolado no futebol árabe há dois, justificaria investimento tão alto pelo Corinthians. Se bem que, hoje, é o único dos "grandes" paulistas que tem patrocínio master. Enfim...


O time do povo (rico)

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Alexandre Padilha: só 5%? Será mesmo?
Pesquisas, principalmente sobre futebol, política ou cachaça (marcas de cerveja preferidas, por exemplo) sempre rendem polêmica, espalham a cizânia e arregimentam batalhões de descrentes. Afinal, muitos desconfiam que qualquer pesquisa pode justificar qualquer coisa que se pretenda, mesmo que não reflita exatamente a realidade. Quer uma prova? Pesquisa do Ibope divulgada ontem insiste em apontar que o candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo, Alexandre Padilha, tem apenas 5% de intenções de voto - quando, nas últimas três eleições, os candidatos a governador por esse partido nunca ficaram com menos de 30% dos votos válidos no final das apurações, vide Aloizio Mercadante (35,23% em 2010 e 31,68% em 2006) e José Genoino (41,36% em 2002). Enfim, Padilha, menos popular e com menos "estrada" política que seus antecessores, pode nem chegar perto de 30%, mas, com certeza, o eleitorado fiel ao PT em terras paulistas é, inegavelmente, superior a 5%.

Buenas, um dia depois, sai outra pesquisa do (mesmo) Ibope para apimentar ainda mais os discursos de mesa de bar. Periodicamente, o jornal Lance! publica um "raio-X" das maiores torcidas de futebol do Brasil. Já havia feito isso em 1998, 2001, 2004 e 2010, e repete a dose agora. A edição desta quarta-feira do jornal publica em quatro páginas a pesquisa mais recente, mostrando que as cinco maiores torcidas continuam as mesmas do levantamento anterior, mas com oscilações: o Flamengo tem 32,5 milhões de torcedores (participação de 16,2%, com variação negativa: - 1%), o Corinthians, 27,3 milhões (13,6% do total e variação positiva de 2010 pra cá: + 0,2%), o São Paulo, 13,6 milhões (6,8% dos torcedores brasileiros hoje, mas com variação negativa: - 0,2%), o recém-centenário Palmeiras tem 10,6 milhões (5,3% e também com variação negativa: - 0,7%), e o Vasco, quinto colocado, tem 7,2 milhões de torcedores (3,6% do total e queda nos últimos quatro anos: - 0,5%).

Títulos relevantes = aumento de torcida
Até aí, nada de muito surpreendente. Natural que tenha caído o número de flamenguistas, são-paulinos, palmeirenses e vascaínos, que não comemoraram nada de relevante de 2010 pra cá, considerando que os títulos da Copa do Brasil de 2011 do Vasco, de 2012 do Palmeiras e de 2013 do Flamengo não dizem muita coisa, visto que o primeiro está na Série B, o segundo esteve lá ano passado (e ronda a zona de rebaixamento atualmente) e o terceiro também não vai muito bem das pernas. Em contraposição, o Corinthians, único deles que teve crescimento de torcida, venceu simplesmente o Brasileirão, a Libertadores e o Mundial no período. Outra prova de que o raciocínio faz sentido é que, em 2010, o sexto colocado no ranking das maiores torcidas era o Grêmio, que agora foi ultrapassado por Atlético-MG e Cruzeiro. Também neste caso, o clube gaúcho não ganhou nada de expressivo nos últimos quatro anos, enquanto atleticanos venceram a Libertadores e cruzeirenses ganharam com folga o Brasileirão de 2013 e caminham para o bicampeonato.

O que não impede, lógico, que torcedores de todos esses clubes discordem e contestem (com indignação) a pesquisa feita para o Lance!. Por isso mesmo, o jornal joga ainda mais gasolina na fogueira: contrariando um dos maiores estereótipos do futebol paulista (e brasileiro), o líder entre os torcedores mais ricos - com renda acima de dez salários mínimos, ou R$ 7.240,00 mensais, em valores atuais - é o... Corinthians (!).


Sim, o decantado time "do povo" tem nada menos que 17% de torcida entre esse abastado público, superando de longe o Flamengo (10,9%) e o Atlético-MG (10,1%). O São Paulo, tido como time "dos ricos", aparece somente em quarto lugar, com 9,2% desse público. E o Fluminense, outro clube taxado de "aristocrático", está apenas na 10ª posição, com 1,7% do povo que ganha acima de dez mínimos, empatado com Vasco, Botafogo e Santos. E atrás de Palmeiras (8,4%), Grêmio (5,9%), Cruzeiro (5%), Internacional (2,5%) e Sport (2,5%).

Sanchez tem razão ao cobrar mais
Engraçado é pensar que essa liderança do Corinthians entre os torcedores mais ricos dá total razão para o Andrés Sanchez, ex-presidente do clube, que vem comprando briga e enfrentando protestos ao dizer que os elevados preços de ingresso no Itaquerão não vão baixar e que, para além disso, o valor precisa subir quase 50%. Faz sentido, considerando o levantamento do Ibope. Enquanto isso, o Flamengo ganha argumento para reivindicar, para si, o posto de verdadeiro "time do povo" brasileiro: na pesquisa do Lance!, o clube é, disparado, o que possui maior torcida entre os mais pobres (que ganham até 1 salário mínimo, ou R$ 724,00 mensais): 20,8%, o dobro do Corinthians (10%). Na sequência, a maior parcela de torcedores pobres é do São Paulo (5,6%), Palmeiras (4,4%), Vasco (4,4%), Sport (4,2%), Santa Cruz (4%), Bahia (2,3%), Vitória (1,6%), Ceará (1,5%), Internacional (1,1%), Botafogo (1,1%), Grêmio (1,1%), Atlético-MG (0,5%), Santos (0,5%), Fluminense (0,4%) e Atlético-PR (0,1%).

Em tempo: pesquisa do Ibope foi feita com 7.005 entrevistados, incluindo torcedores entre 10 e 16 anos, em todos os Estados e Distrito Federal, com margem de erro de 1 ponto.

E, garçom, traz mais cerveja. Porque essa discussão vai longe, muito longe...

terça-feira, agosto 26, 2014

Palmeiras 100 anos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Ao completar 100 anos nesta terça-feira (26), o Palmeiras enche seus torcedores de orgulho. Há motivos para isso.

Minha vida de palmeirense é bem mais curta. Há 28 anos, quando o Palmeiras perdeu para a Internacional de Limeira a final do Campeonato Paulista, com gol de Tita após falha de Denys e Martorelli, é que me dei conta de que eu era um palestrino inveterado. O tamanho da dor pela derrota no menino de seis anos foi inequívoca nessa certeza.

A quantidade de alegrias e glorias posteriores também.


É de dois anos depois a única camisa do Palmeiras oficial que guardo lá em casa. A malha de algodão denota que o manto é velho. Os autógrafos de figuras como Gérson Caçapa, Betinho e Velloso também. Toda assinada pelo elenco de 1988, no auge da fila (de 1976 a 1993), torcer era uma necessidade.

Depois, vieram os anos 1990 repletos de títulos, a Libertadores de 1999, os magros anos 2000 e o vai-não-vai desta década de 10.

Nem tudo é simples nem agradável. Somar 17 pontos no Campeonato Brasileiro é incômodo. O número é o mesmo do Criciúma, o 17º colocado na tabela da competição. Isso coloca o alviverde no limite da zona da degola para a Série B, um ano após o regresso da segundona. O time atual inspira
menos do que o torcedor gostaria, a reforma do estádio não foi concluída....

Mas está bom de ver os 15 gols mais bonitos da história do Palmeiras, a montagem do gol mais bonito da história, a homenagem do Mauro Beting, os jornais antigos.

É um dia feliz.

De comemoração. De vestir-se de verde, cantar e vibrar, por quem de fato é campeão.


quarta-feira, agosto 20, 2014

Efeito coLATERAL?

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Álvaro Pereira: 'ala' característico
Há muito tempo, defendo que, por ter no elenco laterais ofensivos (ou "alas") e praticamente nenhum lateral clássico, marcador e mais preso na faixa anterior ao meio do campo, o atual time do São Paulo deveria voltar ao esquema com três zagueiros. Concordo que isso nem de longe é o ideal, mas, com o que o técnico Muricy Ramalho tem à disposição, seria uma medida emergencial, no mínimo, sensata. Pois foi exatamente isso o que disseram ontem à noite, no programa "Cartão Verde" da TV Cultura, o colunista de esportes Vítor Birner e o ex-treinador Candinho. Já parece óbvio, portanto, que uma zaga formada pelos apenas medianos Antônio Carlos e Rafael Tolói (ou então pelos abaixo de medianos Paulo Miranda e Edson Silva), com eventual improvisação do agora machucado Rodrigo Caio, não "segura o rojão" quando os ofensivos Douglas (ou Luís Ricardo) e Álvaro Pereira (ou Reinaldo) se mandam para o ataque e deixam as laterais completamente expostas na defesa.

Souza posta-se na linha de frente
E mais: além de complicar o sistema defensivo, os atuais "alas" do São Paulo não colaboram em nada para a saída de bola, que cai na "ligação direta" de um chutão do goleiro ou dos zagueiros para o ataque. Isso explica muito da inoperância da tão superestimada linha de frente formada por Ganso, Kaká, Pato e Alan Kardec. Sim, porque o segundo volante, Souza, também fica postado lá na frente, esperando bola, e nem Maicon nem Denílson (opções para primeiro volante) estão conseguindo defender e carregar a bola até a frente. Com três zagueiros, dois deles poderiam liberar os "alas" da marcação para também ajudarem a municiar a linha de frente - e até a finalizarem a gol com mais frequência. E liberar o primeiro volante para marcar e a roubar bolas no campo do adversário. Buenas, o que não resta dúvida é que, de 2008, quando venceu o Brasileirão pela última vez, pra cá, o São Paulo sofre com laterais. Curiosamente, jogava com três zagueiros naquela época.

Vejamos como o clube do Morumbi "bateu cabeça" nas contratações desde então:

Richarlyson foi início do improviso
LATERAIS-ESQUERDOS - Dono da posição e campeão paulista, da Libertadores, do Mundial e do Brasileiro entre 2004 e 2006, o veterano Júnior perdeu a vaga no time titular em 2007, quando o volante Richarlyson assumiu a função. Com essa improvisação, o São Paulo venceu mais dois campeonatos nacionais. O clube chegou a contratar outro especialista, Jadílson, do Goiás. Mas, assim como Júnior, tornou-se apenas opção no banco de reservas. Em 2009, com a chegada de Júnior César (vindo do Fluminense) e de Diogo (das categorias de base), Júnior foi para o Atlético-MG e Jadílson para o Grêmio. Sinal de que as soluções buscadas para o setor começavam a falhar é que Richarlyson ainda atuaria frequentemente como lateral-esquerdo até deixar o São Paulo, em 2010. Também contribuiu para essa instabilidade a demissão de Muricy Ramalho. Depois de sua saída, o então presidente Juvenal Juvêncio passou a fazer contratações sem planejamento ou critério.

Juan foi desastre total no São Paulo
E, além de tudo isso, a "bruxa" assombraria a lateral esquerda em 2010: Júnior César rompeu o tendão e Carleto, recém-contratado, se contundiu gravemente e teve que operar o joelho. Daí, a aposta foi em Juan, que havia sido formado nas categorias de base do São Paulo e fazia boas temporadas no Flamengo, tendo conquistado o Brasileirão no ano anterior. Pior, impossível. Juan, hoje, pode ser considerado um dos piores jogadores que já atuaram pelo Tricolor. No entra-e-sai de treinadores pós-Muricy (Ricardo Gomes, Sérgio Baresi, Carpegiani, Leão, Ney Franco e Paulo Autuori), Juan fez partidas horrorosas e, depois de ser preterido pelo garoto Henrique Miranda, acabou emprestado ao Santos. Lá, até conquistou o título paulista, mas terminou o ano encostado e foi devolvido ao clube do Morumbi. Na crise em que o São Paulo mergulhou em 2013, Juan foi posto para fora do elenco e "exilado" em Cotia até conseguir uma transferência para o Vitória. 

Cortez teve proposta de R$ 20 milhões
Mas, voltando a 2011, quando Juan - infelizmente - era o lateral-esquerdo titular do São Paulo, Júnior César foi vendido justamente ao Flamengo (mais tarde, seria titular no Atlético-MG campeão da Libertadores em 2013, que eliminou o São Paulo nas oitavas-de-final com um humilhante 4 x 1). Não bastasse, Carleto, ao voltar da operação no joelho, foi emprestado seguidamente ao Olimpia do Paraguai, ao América-RN e ao Fluminense. Por isso, para 2012, diante do empréstimo de Juan para o Santos, o São Paulo comprou Cortez do Botafogo-RJ. A primeira temporada foi brilhante: tornou-se titular incontestável quando o técnico Ney Franco enfim acertou o time e conquistou a Copa Sul-Americana. No fim daquele ano, o São Paulo recebeu uma proposta de R$ 20 milhões por Cortez, do Metalist, da Ucrânia. A diretoria se arrependeria amargamente de ter recusado. Cortez "sumiu" em campo, foi emprestado ao Benfica e, depois, ao Criciúma - onde "jaz", totalmente apagado.

Clemente Rodríguez: outro fracasso
Por isso, em 2013, a solução foi apelar para Carleto, que voltou do Fluminense e começou o Brasileirão como titular. Mas o azarado lateral rompeu novamente os ligamentos do joelho e só voltaria em 2014 - para ser emprestado primeiro para a Ponte Preta e, atualmente, para o catarinense Avaí. Com isso, na má fase de 2013, que quase levou o São Paulo ao rebaixamento no Brasileirão, Juvenal Juvêncio foi buscar Clemente Rodríguez no Boca Juniors. A exemplo de Juan, outro desastre: jogou só seis partidas, foi expulso logo na primeira delas e também terminou "exilado" com em Cotia, onde recebe R$ 150 mil mensais para treinar. No desespero, o São Paulo "catou" o jovem Reinaldo, emprestado pelo Sport. Ele "fez o feijão com arroz", sem comprometer, ajudou o time a escapar da Série B e acabou sendo contratado. Hoje, com a chegada do uruguaio Alvaro Pereira, que tomou conta da posição, é opção no banco de reservas.

Ilsinho foi 'roubado' do Palmeiras
LATERAIS-DIREITOS - Depois da venda de Cicinho para o Real Madrid, em 2005, o São Paulo "roubou" o então garoto Ilsinho do Palmeiras. Com ele como titular, o time conquistou o Brasileirão em 2006. A "sombra", no banco de reservas, era o equatoriano Néicer Reasco (que jogava improvisado, pois, na seleção de seu país, atuava como lateral-esquerdo). No ano seguinte, nem um nem outro justificavam a escalação. Começou, então, a série de improvisos. Primeiro com o volante Souza, que, surpreendentemente, seria eleito o melhor lateral-direito do Brasileiro de 2007, quando o São Paulo levantou a taça novamente. No ano seguinte, outro volante, Zé Luís, também jogou na posição. Prova de que as contratações feitas para o setor, Jancarlos (que havia se destacado no Atlético-PR) e Joílson (que veio do Botafogo-RJ junto com o zagueiro Juninho), também não agradaram. Ou seja, além das improvisações, começaram as apostas mal sucedidas.

Cicinho voltou - e não convenceu
Ilsinho foi para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e Reasco voltou para seu clube de origem, a LDU de Quito. Jancarlos e Joílson se revezaram com Zé Luíz na conquista do tri brasileiro e, no ano seguinte, um foi para o Cruzeiro e outro para o Grêmio. Em 2008, mais uma aposta que não deu certo: Éder, que veio do Noroeste de Bauru e durou pouco. Por isso, em 2009, a solução foi "mezzo" caseira/ "mezzo" estrangeira: Wagner Diniz, que estava no Vasco, Adrián González, do argentino San Lorenzo, e Nelson Saavedra, do chileno Palestino. Nenhum deles emplacou. O desespero foi tanto que, para 2010, o clube foi atrás exatamente dos dois "donos" da posição entre 2004 e 2007, Cicinho e Ilsinho. Só que os dois, na Europa, já haviam migrado para o meio-de-campo. Com isso, os treinadores da época - Ricardo Gomes e Sérgio Baresi - precisaram recorrer a uma nova improvisação na lateral direita, com o volante Jean (hoje no Fluminense).

Piris levou muitos 'bailes' de Neymar
Em 2011, duas novas apostas confirmaram a falta de pontaria do presidente Juvenal Juvêncio. A pior delas foi a do paraguaio Iván Piris, que, a exemplo de Reasco no Equador, também atuava como lateral-esquerdo na seleção do seu país. Foi uma piada. Os santistas dão risadas até hoje ao recordarem os "bailes" que Neymar dava no pobre Piris, invariavelmente perdido em campo. E a segunda aposta na lateral direita conseguiu ser ainda mais sem sentido: aconselhado por Rivaldo, que já era presidente do Mogi Mirim e tinha sido contratado como jogador pelo São Paulo naquela temporada, o cartola Juvenal Juvêncio trouxe do Mallorca o "craque" Edson Ratinho. Resultado: em 2012, nem ele nem Piris estariam mais no Morumbi, sendo substituídos por Douglas, ex-Goiás, e Lucas Farias, das categorias de base. Douglas venceu a Sul Americana como titular mas, em 2013, afundou com o resto do time e foi preterido até pelo zagueiro Paulo Miranda na lateral.

Luís Ricardo: outro que não emplacou
Lucas Farias não disse ao que veio e atualmente está emprestado ao mineiro Boa Esporte Clube. Mas as besteiras de Juvenal Juvêncio não pararam por aí: antes de deixar o comando do clube, trouxe o lateral-direito Mateus Caramelo do Mogi Mirim, junto com o atacante Roni. Outro furo n'água (e desperdício de dinheiro). Caramelo jogou cinco partidas e hoje está emprestado ao Atlético-GO. Por fim, como Douglas nunca manteve um mínimo de regularidade, o São Paulo contratou Luís Ricardo, que tinha feito uma boa temporada pela Portuguesa, em 2013. Também não disse ao que veio. Porém, como, a exemplo de Douglas, está na categoria de lateral ofensivo (ou "ala"), que não consegue ajudar a defesa, poderia ser testado no esquema com três zagueiros, para ver se rende. O capítulo mais recente dessa bizarra "saga" da lateral direita sãopaulina é a inesperada contratação de Douglas pelo Barcelona. E vamos nós, de novo, apelar pro Paulo Miranda...

terça-feira, agosto 19, 2014

Eterno Deus Mu dança: mudar está na agenda da campanha

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

A canção de Gilberto Gil sobre o Eterno Deus Mu Dança bem poderia ter embalado parte dos protestos de junho de 2013. Pra quem não conhece a canção, o ex-PV e ex-ministro fez, em meados dos 1990, a despeito do trocadilho, uma composição clamando por transformações sociais e culturais.



Mudança.

Ouviram do slogan do finado Eduardo Campos e de Marina Silva: "Coragem para mudar".
O nome da coligação do oposicionista Aécio Neves é "Muda Brasil".

No site de campanha da presidenta Dilma Rousseff, está lá: "mais mudança, mais futuro". O site de apoio ainda se chama "Muda Mais".

Lemas de campanha são formatados a partir de pestana queimada por marqueteiros com base em muita pesquisa qualitativa e outra dose de intuição. Se fosse só a oposição pautando a mudança, nada de inusitado. Quando a situação encampa a palavra-chave, mesmo que dentro de um direcionamento diferente, #significa.

Quem quer tanta mudança?

Em junho de 2013, mais ou menos 1% da população brasileira foi às ruas protestar. Justo e legítimo. Contra tudo o que está aí, jovens saíram às ruas como nunca antes na história da República. Havia menos agenda do que vilões; menos propostas do que críticas. Quando sobram motivos para reclamar, nem se pode cobrar tanto a elaboração completa de soluções.

Nenhum candidato representa, plenamente, os anseios daquilo. Até porque nem os próprios manifestantes eram tão coesos no "contra tudo o que está aí". Mas todo mundo precisa se posicionar.

Para Dilma, há dois filões. Um, petista, que clama por mais medidas de transformação social e por retomada de reformas mais profundas que, num certo ideário, pautaram parte dos governos Lula. Tem a cota de saudade do barbudo, outrora sapo, outrora mais barbudo. Outro filão diz respeito a uma turma que reconhece que o Brasil melhorou em alguns aspectos mas que falta avançar em outros.

Aécio é ícone oposicionista. Precisa querer mudar tudo o que puder sem lhe tirar votos. Bolsa Família, ProUni, Mais Médicos? Nada disso muda. O discurso é que tudo isso precisa ser mais bem gerido, mas tudo permanece. Mudança de fato vai em corte de ministérios e na retomada do tripé macroecômico.

Marina Silva, herdeira da chapa de Eduardo Campos, aposta que pode ser a representante de quem quer mudar em relação à polarização PT-PSDB. Mudar em relação ao que foi Fernando Henrique Cardoso de 1995 a 2002, Luiz Inácio Lula da Silva de 2003 a 2010 e Dilma Rousseff de 2011 a 2014. Plebiscito só sobre maconha e aborto, embora já tenha defendido a medida para reforma política e união homoafetiva (ainda que haja controvérsias).

O que pode continuar?

Candidato nenhum irá propor o fim de programas bons de voto. Mas a profundidade da tal mudança que está no ar -- transposta nos slogans marqueteiros -- é uma incógnita. É atribuída ao mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, sobrinho de José Bonifácio, a síntese do reformismo: "Façamos a revolução antes que o povo a faça". Fácil recorrer a ela numa hora dessas.

Mas o apagão de campanha da última semana é inédito nas seis mais recentes disputas presidenciais. Uma semana sem atividades significa que no caldeirão político em que se cozinha o eleitorado em fogo brando, os pedaços sólidos dessa sopa tiveram tempo para decantar. Quando for retomada a movimentação dessa panela, haverá um cenário decantado, modificável, mas mais cristalizado sobre os apontamentos futuros.

A morte trágica de Eduardo Campos trouxe mudanças sobre os rumos da corrida eleitoral. Bem mais palpável do que o que possa ser alterado a partir de janeiro de 2015.

Marina e PSB: escolhas e riscos aceitos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O resultado da pesquisa Datafolha de segunda-feira (18) dando empate de Marina Silva no primeiro turno com Aécio Neves (PSDB) e com Dilma (PT) no segundo, pode até ser menos avassalador do que temiam alguns tucanos e petistas. Mas é suficientemente significativo. Tanto para tirar o sono de quem esperava uma eleição polarizada entre PT e PSDB quanto para descartar algumas hipóteses. A definição sairá nos próximos dias, depois de estrear o horário eleitoral gratuito (aquele que só é gratuito para os partidos, não para o público nem para as emissoras).

A reflexão aqui é sobre três aspectos colocados para Marina e para o PSB. Onde cada lado escolhe e onde cada lado vai precisar aceitar os riscos associados.

Ressalva: o PSB é bem menos coeso do que a redação deste texto parece apontar. Marina Silva é bem mais hábil politicamente do que alguns de seus eleitores e muitos de seus detratores parecem acreditar.

Ex-PT, ex-PV, ex-vice... Marina é candidata do PSB.

1) Marina sai ou não sai candidata?

Quase certamente sai. E o que isso significa?

Para Marina: Praticamente inexiste, diante de tais resultados, qualquer hipótese da ex-senadora não encabeçar a chapa do PSB à Presidência da República. Intenção de voto de 21% é muita coisa. Dos válidos, passa-se de 24%. É mais do que em 2010. E de começo. Promissor para a nova candidata.

Para o PSB: Tampouco há meios ou argumentos para fazer o PSB "negar legenda" a sua recém-filiada (há 10 meses nos quadros). Um candidato forte à Presidência é um requisito desejado por nove em cada dez candidatos em disputas proporcionais. É alento também para alguns candidatos a governador, ainda que não assegure transferência de votos.

2) Termos de uso?

As condições têm vantagens para cada lado. E incômodos também.

Para Marina: encabeçar a chapa que tem PSB, PPS e outros partidos de menor expressão implica, para a ex-PT e ex-PV, uma opção para lá de pragmática. Nada grave na fauna política brasileira, mas uma decisão um tanto quanto "pés no chão" para quem se designava como "sonhática" na campanha de 2010 -- em contraposição justamente à práxis de quem faz aliança com qualquer um "só" para governar. A rigor, alguém que planeja formar um novo partido o quanto antes tem pouca afinidade ideológica e de princípios orientadores da prática com o restante da aliança. Mas será necessário que a turma ceda ao tamanho da candidatura de Marina. Nunca o PSB se viu diante de 21% das intenções de voto nacionais. Fica menor a margem para pedir restrições de agenda e de espaço para o PSB. A chapa e eventual governo são mais de Marina do que do partido.

Para o PSB: o deputado Beto Albuquerque, cotado a vice e porta-voz de certos setores socialistas, cobra que Marina largue mão do discurso de formação futura e iminente da Rede Sustentabilidade.
Precisa bancar o projeto do PSB para receber a legenda para concorrer. Em termos de retórica, fica fácil. Em termos práticos, pode trazer um futuro espinhoso que pode reduzir a legenda a muito pouco ou quase nada se Marina encontrar, daqui 18 meses, argumentos para justificar a criação de um novo partido. Difícil não lembrar que o PSUV de Hugo Chávez, na Venezuela, foi criado pelo presidente, desnutrindo outras legendas que compunham o governo em 2006-2007. Mas é outra história.

3) Riscos

O cenário tem, embutidos, riscos. Não tá fácil para ninguém.

Para Marina: com Campos, ela embarcou na candidatura da chapa "Eduardo e Marina", conforme expressava o site da coligação (não embarcou no fatídico voo do avião). Assumir a candidatura implica o risco da tal "cristianização", alusão ao que se sucedeu a Cristiano Machado, lançado pelo PSD em 1950 apenas por formalidade enquanto a legenda abraçava Getúlio Vargas com gosto. O risco só se concretiza se Marina perder fôlego nas próximas semanas.
Outro risco é ter que adiar, por mais tempo do que desejava, a criação da Rede. Mais complicado do que abraçar o PSB é precisar compor, além da turma da coligação, com PSDB e DEM que, seguramente, apoiariam a candidata em eventual segundo turno contra Dilma Rousseff. Em outras palavras: o risco é vencer a eleição e ter de lidar com a implosão da coesão ideológica. Se isso é motivo de desconversa para outras candidaturas, também o seria para Marina.

Para o PSB: Marina forte pode não catapultar as candidaturas estaduais a governos e ao Legislativo da legenda. É que nem sempre uma votação expressiva à disputa majoritária nacional se traduz em todas as unidades da federação, em especial na estrutura não verticalizada das coligações em que o PSB vai com o PSDB em São Paulo e Minais Gerais -- dois maiores colégios eleitorais.

Por outro lado, há um segundo risco. Se Marina levar, será necessário compor com PSDB e outros partidos a formação do governo. Até por falta de quadros expressivos para ocupar, simultaneamente, cadeiras relevantes no Congresso e ministérios. De repente, pode ter menos espaço para uma agenda socialista (seja lá o que isso signifique) do que o partido gostaria.

Jornalismo pragmático-empresarial

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O programa Morning Show, da rádio Jovem Pan, repercutiu hoje a informação de que tubarões estão comendo cabos de fibra ótica, o que vem preocupando os donos do Google. Finda a notícia, um dos apresentadores do referido programa comentou mais ou menos o seguinte:

" - É melhor que tubarão continue só comendo perna de surfista, que dá menos prejuízo."

segunda-feira, agosto 18, 2014

Definidos os jogos das oitavas de final da Copa do Brasil. Confira

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Sorteio realizado há pouco na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) definiu os confrontos das oitavas de final da Copa do Brasil. Os mandos de campo serão sorteados às 14h. Confira abaixo os duelos:

Grêmio X Santos



Botafogo X Ceará



Cruzeiro X Santa Rita-AL



Vasco X ABC-RN



Flamengo X Coritiba



Atlético-PR X América-RN



Atlético-MG X Palmeiras



Corinthians X Bragantino