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Não deve ter mesmo nada acontecendo nesse país que valha a para noticiar. Caso contrário, o que explica que Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo, Jornal do Brasil e Jornal da Tarde, ou seja, os maiores jornais do país, tenham dado destaque em suas primeiras páginas ao vídeo que “flagra” os “gestos obscenos” feitos por marco Aurélio Garcia e seu assessor Bruno Gaspar em seu escritório em Brasília? O JB colocou o fato na chamada da manchete. O Globo fez uma montagem de fotos acima, da manchete. Estadão e seu filhote, JT, publicaram fotos mais discretas. A Veja, claro, também bateu, em sua edição on-line. Vamos ver o que sai na próxima capa.
As notícias tratam o fato como escandalosa comemoração, um absurdo desrespeito às vítimas. Mas muito mais desrespeitosa é a leviandade com que a grande mídia tem tratado o tema do acidente. Na mesma noite, minutos após o ocorrido, todos os jornais culpavam o “apagão aéreo” e, em conseqüência, o governo federal. Eu não vi, mas o Paulo Henrique Amorim destacou, que no Bom Dia Brasil do dia seguinte Miriam Leitão e Alexandre Garcia vaticinavam a falta de comando e de investimentos do governo como grande culpada pelo acidente, por conta da ausência das ranhuras na pista de pouso, o chamado grooving, equipamento que auxiliaria o escoamento de água na pista.
Pois no dia seguinte, diversos especialistas, insistentemente questionados a respeito do equipamento, negaram a necessidade de sua instalação. O próprio presidente da TAM, obviamente interessado em atirar para longe a possibilidade de falha do avião ou de sua equipe, disse que a pista é segura, pelo simples fato de que, se houver água demais, os aviões não pousam. Mais tarde, aparecem evidências de que o avião não derrapou, até porque não parece tentar frear. E onde estão os iluminados da imprensa par a me explicar o que o governo tem a ver com isso?
Existe sim uma situação ra lá de complicada na gestão do setor aéreo, mas dizer que o acidente é culpa dessa crise, especialmente sem provas, sem nem ter dado tempo de começar a recolher provas, é leviandade. Leviandade muito maior que o gesto de Garcia, feito em âmbito privado, flagrado por câmeras espiãs da Globo (por que diabos tinha uma câmera apontada para a janela do escritório de alguém?), que parece imaginar seu direito expandir seu importado Big Brother para fora de seus estúdios. Tentarei lembrar de manter minhas janelas fechadas.
A explicação do assessor Bruno Garcia à Folha, quando acusado de ter comemorado a notícia, foi a seguinte: "Não aceito dizer que a gente comemorou. Foi um momento de extravasamento com a conclusão de que o acidente pode ter sido mais complexo do que em princípio chegaram a levantar. Foi uma reação de "poxa, tá vendo?"... Porque houve precipitação. Alguns setores tentaram atingir o governo politicamente e nos culpar. Agora está visto que não é bem assim". Para mim, é razoável.
PS.: Curiosamente, as versões populares dos jornalões, Agora Sp, Diário de São Paulo e Extra (a exceção é o JT, primo pobre do Estadão), não deram destaque para a notícia, que me parece talhada para o estilo mais sensacionalista que os colegas de profissão acham interessante adotar em veículos mais baratos (“popular” é basicamente mais barato, certo?). Alguns argumentarão que fatos da “política” não interessam ao povão, no que discordo. Com meus botões, divago que a notícia talvez fosse mais interessante, ou ainda, atraísse exclusivamente a classe média anti-lulista, anti-petista, conservadora e reacionária que consome os veículos tradicionais da mídia golpista, como diz Paulo Henrique Amorim. Mas meus botões às vezes viajam.