Destaques

sábado, junho 15, 2013

Seleção à la Felipão e Parreira estreia com 3 a 0

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Para a cobertura da Copa das Confederações, o Futepoca está realizando uma parceria com a Rede Brasil Atual com a edição do blogue Copa na Rede. Acompanhe por lá nossos posts sobre o evento.

Neymar fez um baita golaço (Jefferson Bernardes/Vipcomm)

Gol de Neymar logo aos 3 minutos do primeiro tempo e boa marcação do Brasil tornaram fácil a vitória. Paulinho e Jô completaram o placar

Por Frédi Vasconcelos

Jogos de Brasil e Japão costumam ter muita marcação, uma correria danada e contra-ataques perigosos por conta dos nipônicos. Mas o gol de Neymar logo aos 3 minutos do primeiro tempo desmontou esse enredo. Toque de peito de Fred e um chute de fora da área que entrou perto do ângulo, sem chance para o goleiro Kawashima, que passou o resto do primeiro tempo praticamente sem pegar na bola.

Porque o Brasil voltou a lembrar a seleção de 1994, de Parreira, muito toque de lado e posse de bola, que chegou a 70% no primeiro tempo. Causado em parte pela marcação do time japonês, que concentrava a maioria dos jogadores no meio de campo. Mas as chances foram poucas dos dois lados, porque o Brasil também defendia com oito jogadores, só deixando Fred e Neymar mais adiantados. Oscar, às vezes, virava um terceiro volante. Ou segundo, porque muitas vezes Luiz Gustavo recuava e fazia o terceiro zagueiro, esquema usado por Felipão em 2002. O primeiro tempo acabou sem muita emoção, mas quase sem risco para o Brasil, com boa defesa e atuação segura de Júlio César nas poucas bolas chutadas pelos japoneses.

No início da etapa complementar novo gol. Bola vem da direita, zaga do Japão não corta e sobra para Paulinho, sozinho na área, finalizar. Acalmado, a partir daí o Brasil domina a partida totalmente e as jogadas começam a aparecer pelas pontas, principalmente com Neymar e Oscar, que passa a ajudar pela esquerda.

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Manifestações marcam estreia da Copa das Confederações

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(Marcello Casal Jr./ABr)
Arredores do estádio Mané Garrincha, que sediará palco da partida inaugural do evento em poucas horas, são palco de protestos contra o gasto público e a expulsão de moradores
Os arredores do estádio Mané Garrincha, que sediará a partida inaugural da Copa das Confederações em poucas horas, estão sendo palco de manifestações contra o elevado gasto público em obras para o evento e a expulsão de moradores em várias cidades-sedes.

Na manhã de hoje (15), manifestantes partiram da Rodoviária de Brasília e se dirigiram ao estádio, mas foram impedidos pela Tropa de Choque da Polícia Militar, que formou uma barreira perto do Mané Garrincha. Os policiais chegaram a usar bombas de efeito moral, mas não ocorreu confronto. Segundo informações da agência EFE, centenas de soldados da tropa de choque da PM se dirigiram ao local e iniciaram negociações para encerrar o protesto.

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Brasil abre Copa das Confederações com desafio de convencer o mundo

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Para a cobertura da Copa das Confederações, o Futepoca está realizando uma parceria com a Rede Brasil Atual com a edição do blogue Copa na Rede. Acompanhe por lá nossos posts sobre o evento.

Preparativo para o Mundial de Futebol, a Copa das Confederações do Brasil começa nesta sábado (15), com a partida entre a Seleção Brasileira e o Japão. Como anfitriões, o Brasil tem como desafio convencer sua própria torcida e o mundo dentro e fora do gramado. Enquanto o escrete de Luis Felipe Scolari precisará mostrar coesão e capacidade como time, com a maior parte dos nomes debutando em uma competição desse porte, a organização do evento está na mira do planeta. O primeiro evento esportivo de uma série que terá a própria Copa, em 2014, e a Olimpíada, é um teste, uma prova de fogo, depois de seis anos de preparação e polêmicas.

Dentro de campo, a equipe de camisas amarelas, que tem em Neymar a principal estrela, enfrenta o Japão. Os campeões asiátivos vem à Capital Federal para, primeiro, mostrar que são bons na vida real, e não só no videogame. Falam até em ser campeões, recorrendo a um zagalístico esquema tátivo 4-2-3-1, de Alberto Zaccheron. O técnico italiano reuniu um perfil de atletas mais encorpados física e tecnicamente. Kagawa, que atua no Manchester United, é o principal nome. Na defesa, há atletas maiores e mais fortes do que o perfil correria que se via em selecionados anteriores.


Do lado de fora, as dificuldades para retirar, o clima de casa mal acabada e todas as dúvidas sobre a capacidade de organização e de planejar grandes eventos vai estar no centro das atenções. Além de Brasília e de seu Estádio Nacional Mané Garrincha, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador também abrigarão partidas. Ainda sem Fuleco, mas já com a bola Cafusa, todas as dúvidas serão sanadas (ou confirmadas).

O brasileiro médio, que torce pela seleção -- com ou sem bandeirinha no vidro do carro, com ou sem camisa amarela, com ou sem decorar a rua para a festa -- e para a vida para acompanhar uma partida que vale taça, vai estar dividido nas expectativas. De um lado, para superar o ceticismo diante de Hulk e outras incógnitas da nova Família Scolari. De outro, para ver o que o país foi capaz de fazer.

Então, parafraseando o saudoso Fiori Giglioti, que logo abram-se as cortinas e comece o espetáculo.

 Foto: Mowa Press

Foto: Norio Nakayama/Flickr

Neymar, pelo Brasil, e Nakata, pelo Japão, são bons motivos para assistir o jogo de estreia da Copa das Confederações 2013, no Brasil. Como se precisasse de razões adicionais...

Quem é quem na Copa das Confederações

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Por Glauco Faria e Nicolau Soares

Torneio começa com os favoritos Brasil e Espanha em campo. Confira uma avaliação das oito seleções participantes

A Copa das Confederações começa hoje (15) com duas seleções tidas como favoritas ao título. A atual campeã mundial e bicampeã europeia, Espanha, e o Brasil, que, mesmo sem ter um time que inspire confiança, joga em casa e deve contar com o apoio da torcida, ainda que tal apoio tenha faltado em algumas ocasiões.

Felipão traz essa? (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Mas, caso as duas seleções cheguem até a final no Maracanã, dia 30 de junho, ocorrerá um fato raro. Desde que a Copa das Confederações começou a ser disputada, em 1992 (incluindo-se duas edições da Copa Rei Fahd, 1992 e 1995), apenas uma vez Europa e América do Sul decidiram um título, em 1995, quando houve a final entre Argentina e Dinamarca. Em seu formato atual, com oito seleções participantes, uma decisão dessas jamais aconteceu.

O Brasil também possui uma vantagem histórica: é a seleção que mais participou de edições da Copa, sendo também o maior vencedor, com três títulos. A França foi campeã duas vezes e o México venceu a edição de 1999. Argentina e Dinamarca possuem um título cada. Para os supersticiosos, porém, o título pode ser sinal de mau agouro. Nenhuma seleção vencedora da Copa das Confederações ganhou a edição seguinte da Copa do Mundo.

Saiba o que cada equipe pode fazer no torneio de 2013:

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sexta-feira, junho 14, 2013

Quem mandou atirar, governador?

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Ontem não estava na rua nas manifestações, mas ia para a casa da minha mãe na Zona Leste. Fiquei das 19h30 às 20h10 tentando entrar no metrô sentido Itaquera na estação República. De lá, acompanhava pelo celular o que ocorria.

Pelo que via a manifestação estava tranquila, até que o texto das 19h39 no UOL me deixou perplexo. Dizia: o major Lidio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, disse que o protesto contra aumento da tarifa em São Paulo, que ocorre na região central na noite desta quinta-feira (13), está fugindo do controle: 'Não nos responsabilizamos mais pelo que vai acontecer' ". Pareceu-me a senha para a polícia começar a bater. Dito e feito, mas foi pior.

A polícia foi liberada para atirar nas pessoas com balas de borracha, preferencialmente na cabeça, como demonstram os ferimentos, maioria que vi em fotos nos rostos e olhos.

A questão é, alguém deu a ordem para atirar. E liberou a "elite" da PM paulista, o Choque e a Rota, a atuar. Já cobri diversas manifestações com a participação da PM e a chegada do choque. Nesses anos todos nunca vi atirarem na cabeça das pessoas e mirarem em jornalistas para impedir que registrassem as imagens.

Como conheço um pouco da estrutura militar, para atuarem assim, alguém deu a ordem. Quem foi, governador? O senhor, o chefe da PM, o comandante da operação? Alguém tem de ser responsabilizado, as imagens estão aí para provar a selvageria. Mas sei que esta resposta não existirá. O relatório da corregedoria será algo vago e burocrático incriminando as vítimas, como sempre.

quinta-feira, junho 13, 2013

Manifestações criaram momento único para debater tarifas

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Esse texto foi publicado originalmente no blog Desafios Urbanos. Agradeço visitas por lá.


Não é tarefa das mais fáceis analisar os protestos que acontecem atualmente em São Paulo por conta do aumento da tarifas de ônibus. O que em um primeiro momento podia parecer uma luta utópica de um punhado de estudantes de extrema esquerda (ênfase no "parecer"), tornou-se sem qualquer dúvida o assunto do dia, debatido por todos. Uma discussão que poderia acabar circunscrita a poucas pessoas tomou corpo e tornou-se impossível de ser ignorada. Essa visibilidade é boa. Está sendo criado um ambiente propício ao debate, coisa que não havia antes das passeatas.

Um relato do protesto de ontem pode ser lido aqui.

Algumas questões aparecem de cara. A primeira é qual a pertinência de um movimento que defende o passe livre? Se a Prefeitura afirma que não consegue nem manter as passagens no preço antigo, como a gratuidade no transporte pode ser possível? Apesar de parecer impossível, o passe livre é, em teoria, factível. Como já escrevi aqui, há várias cidades ao redor do mundo que conseguiram abolir as tarifas dos sistemas de transporte.

Nelas, os custos dos sistemas (normalmente apenas de ônibus) são cobertos por mecanismos próprios de arrecadação de impostos. Cada cidade decide qual o mix de contribuições usadas para pagar pela circulação de ônibus. Por trás dessa ideia está a noção de que deslocamentos com carro particular custam muito mais ao poder público do que aqueles feitos por transporte coletivo.

Foto Movimento Passe Livre
Aliás, por que é aceitável que toda a infraestrutura viária seja paga com impostos, enquanto os usuários de ônibus têm de pagar por cada viagem? A resposta para essa pergunta parece simplória, mas não consigo enxergar de outra maneira: escolha política. Um exercício de retórica pode ser interessante. O que aconteceria se cada proprietário de veículo particular tivesse de pagar pelo direito de circular a cada vez que sai de casa? Lembrando que o transporte individual traz muito mais prejuízos coletivos do que ônibus e metrôs, como poluição, congestionamentos e perda de tempo produtivo, por que essa escolha faz mais sentido do que subsidiar o transporte coletivo?.

A segunda questão que surge é sobre a forma do processo. As críticas aos protestos dividem-se em duas vertentes não excludentes. Uma critica o fato de as manifestações fecharem avenidas importantes, enquanto a outra foca nas ações violentas cometidas por alguns manifestantes.

A primeira crítica faz sentido apenas no âmbito individual. Uma pessoa surpreendida no caminho de uma passeata pode acabar perdendo um compromisso importante. Entretanto, a afirmação de que o direito de ir e vir dos cidadãos é desrespeitado pela passeata é uma falácia. A liberdade de ir e vir não tem nada a ver com liberar avenidas para que os motoristas de carros possam passar livremente. A conquista desse direito têm a ver com a liberdade de se locomover sem ser patrulhado (pelo Estado ou por quem quer que seja), sem ter de explicar a ninguém o que está fazendo, para onde vai e por que está na rua. Esse direito não era respeitado na ditadura e – surpresa – continua não sendo respeitado nas periferias das grandes cidades. Usar essa garantia constitucional num contexto tão estrito serve apenas para banalizar o conceito.

Em segundo lugar, poucas pessoas defendem de fato de que atos violentos sejam uma estratégia válida para pressionar o Estado a ouvir suas demandas. Pode até ser que os poucos manifestantes que quebraram vitrines e queimaram ônibus tenham algum tipo de agenda diferente do movimento como um todo. Mas não se pode desqualificar todo o protesto por isso. É desonesto. Se qualquer ato de violência bastar para desqualificar uma luta, bastaria infiltrar opositores no movimento e acabar com qualquer reivindicação.

Entretanto, todo esse debate não estaria acontecendo se não fossem esses atos de violência. Esse não é o mundo ideal, mas, se nada houvesse sido quebrado, é possível que os protestos ocupassem apenas o pé de página dos jornais, o que certamente enfraqueceria as demandas. Isso é apenas uma suposição, mas a história da cobertura jornalística tradicional em relação a protestos totalmente pacíficos mostra que isso não é uma fantasia. Como a reivindicação do movimento é, muitas vezes, ridicularizada, fica fácil ignorá-los. Isso não é a defesa da violência. Ela deve ser punida dentro do que diz a lei. Mas atitudes violentas fazem parte do jogo das conquistas populares históricas.

Gianluca Ramalho Misiti/Flickr
A outra face violenta dos protestos é, evidentemente, a da violência policial. Não é possível deixar de considerar que a polícia agride manifestantes constantemente, em praticamente qualquer manifestação pública. Puxando pela memória, lembro, de 2010 para cá, de policiais agredindo professores em greve, vítimas das chuvas no Jardim Pantanal, desalojados do Pinheirinho e estudantes da USP.

Na prática, o direito à livre manifestação não existe no estado de São Paulo. A qualquer momento, sob qualquer pretexto, a polícia pode jogar bombas de efeito moral e spray pimenta em uma multidão. Basta uma ordem. A reação a essa truculência não pode ser misturada com eventual vandalismo, que pode ocorrer em qualquer aglomeração de pessoas.

Isso leva, claro, ao comando da Polícia Militar paulista. Quem dá as ordens para que os policiais avancem sobre participantes desarmados é, em última instância, o governador Geraldo Alckmin. É sobre ele que deve cair o peso político dessas escolhas. A polícia paulista é historicamente violenta e, em vez de tentar mudar o espírito da corporação, adaptando-a à democracia, os sucessivos governos estaduais têm utilizado o aparato repressor em benefício próprio.

Como a maior parte da população do estado parece concordar com essa política, fica fácil. Mas esse é um posicionamento perigoso. Uma polícia que violenta manifestantes pacíficos (e que, a bem da verdade, não tem treinamento para agir quando vê um ato de violência no meio da manifestação) vai contra os princípios democráticos. Essa é uma pauta urgente.

Por último, a recepção da Prefeitura em relação às reivindicações do movimento pode não ser a mais acolhedora possível, mas tampouco fechou as portas para o diálogo. O prefeito Fernando Haddad deu declarações de que está trabalhando politicamente com outros prefeitos para municipalizar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que incide sobre combustíveis, para subsidiar o transporte público e baratear a passagem.

É uma boa notícia e torço para que isso se torne realidade. No entanto, há outros meios de subsidiar o transporte público. É preciso aumentar o leque de opções. Nenhum governante ganha muita popularidade criando um novo imposto, mas o debate deve acontecer. Para isso, é importante que os defensores da ideia do passe livre munam-se de argumentos e aproveitem a possibilidade de diálogo (tão rara em São Paulo nos últimos anos) e façam acontecer. O ambiente está propício para essa discussão. Que o momento não seja desperdiçado.

Luís Fabiano se despede do São Paulo com gol

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Duas frases, após o apito final de Grêmio 1 x 1 São Paulo, confirmaram a saída de Luís Fabiano do clube do Morumbi: "Estou cansado de ser culpado pelas derrotas, de xingarem meu nome no portão, isso gera muito desgaste" e "Espero que os que cuidam disso resolvam logo". Como se vê, o camisa 9 não disse em nenhum momento que gostaria de ficar e, como reza o ditado futebolístico, ninguém segura jogador que quer ser vendido. Pelo menos o centroavante marcou mais um golzinho em sua despedida, alcançando a 5ª posição entre os maiores artilheiros do São Paulo em todos os tempos, com 173 gols, empatando com Luizinho Mesquita (e ambos atrás, pela ordem, de Serginho Chulapa, Gino, Teixeirinha e França).

Falar mal de Luís Fabiano é chover no molhado. Essa sua terceira passagem pelo clube foi a mais decepcionante, com uma série de contusões, expulsões infantis e "amareladas" em momentos decisivos. Mas  eu concordo com o comentário do ex-centroavante Casagrande, durante a transmissão da Globo: atualmente, com o time fraco que o São Paulo apresenta e sem opções no banco, se é ruim ter Luís Fabiano no elenco, pior sem ele. Bem ou mal, ele é referência no ataque, puxa a marcação para liberar os colegas e, principalmente, marca muitos gols (se não me engano, foram 17 em 24 partidas neste ano). Aloísio não chega aos pés e, se o clube decidir comprar, não arranjará ninguém semelhante por preço acessível.

Por mim, já que o São Paulo não tem condições de almejar mais nada este ano além de uma suada vaga na Libertadores de 2014, o centroavante podia muito bem ficar até o fim do Brasileirão. Com sorte, faria boas partidas (como fez contra o Grêmio) e gols, o que valorizaria seu passe para uma transferência melhor. Mas não. Já era, já foi. Luís Fabiano torna-se mais um símbolo da desastrosa gestão Juvenal Juvêncio: R$ 17 milhões pagos que, quando muito, se tornarão R$ 14 milhões obtidos - fora os salários, bichos, direitos de imagem e outros gastos desde o início de 2011 até aqui. No mais, Ney Franco que se cuide. O time joga mal e outra derrota para o Corinthians, dessa vez na Recopa, acionará a guilhotina sobre seu pescoço.


quarta-feira, junho 12, 2013

Contra o Atlético-MG, Santos vence a primeira sem Neymar

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Cícero, Arouca e os moleques. O clima é outro (Foto Santos FC)
Um time formado do jeito que muito torcedor santista gosta. Da equipe campeã da Copa São Paulo de Juniores neste ano, entraram como titulares o zagueiro Gustavo Henrique, no lugar do contundido Edu Dracena; Leandrinho, que tomou o lugar de Renê Júnior; Pedro Castro, que substituiu Montillo, na seleção argentina, e Neílton. Mas, talvez mais importante que a entrada dos garotos, que deram ritmo e velocidade à equipe ainda que desentrosados, foi o posicionamento de alguns jogadores que se sentiam claramente desconfortáveis na equipe comandada por Muricy.

Um deles foi Arouca, que voltou a jogar como primeiro volante, posicionamento no qual se destacou na Vila. Ultimamente, fazia as vezes de um meia direita, deixando de ser um elemento surpresa, no ataque e marcando em uma área que não era a dele. Cícero também veio mais de trás e confessou se sentir mais à vontade atuando dessa forma. Pelo jeito, muitos boleiros alvinegros não sentem saudades do ex-técnico...

Se falta entrosamento, sobrou vontade e movimentação, principalmente na primeira etapa. O gol veio cedo, aos 3 minutos, um chute de Cícero com efeito que contou com certa colaboração do arqueiro Vítor. O Atlético-MG, desfalcado dos jogadores da seleção, chegou a achar alguns espaços na defesa santista, mas os donos da casa conseguiram várias vezes fazer uma transição rápida da defesa para o ataque, levando (pouco) mais de perigo ao gol adversário que os visitantes.

Não somente essa velocidade foi novidade no time, como também os passes trocados no ataque, como os que resultaram no gol peixeiro. O Santos nem parecia o time de pebolim de algumas semanas anteriores. 

Na etapa final, Cuca colocou Neto Berola, que conseguiu trazer o Galo mais perto do gol nos dez primeiros minutos, quando Claudinei Oliveira acertou a marcação pelo lado esquerdo com Cícero, que fez uma grande partida do ponto de vista tático. A partir daí, o jogo ficou amarrado, com o Atlético não conseguindo criar e o Santos não conseguindo contra-atacar. Nem mesmo a expulsão de Marco Rocha, que fez falta em outro menino da Vila, Léo Citadini (sim, parente do ex-diretor corintiano Roque Citadini) que substituiu Pedro Castro, mudou o cenário.

De resto, Galhardo, outro que parece se sentir mais à vontade hoje em dia, foi aplaudido quando saiu machucado, um momento raro do atleta na Vila Belmiro. Renê Júnior entrou em seu lugar, mostrou certa afobação e errou passes demais, justificando o banco que esquentava. Neílton foi efetivo quando pegou na bola e Ronaldinho Gaúcho foi muito apagado, entregue à marcação da defesa santista. Talvez ele também tenha sentido a falta de Neymar...


Ao que parece, Marcelo Bielsa vem a Santos no final de semana para conhecer a estrutura do Peixe e decidir se vem treinar pela primeira vez um time brasileiro. Caso não tope, consta que não existe um plano B, já que a diretoria só conversa com o argentino. Mas tudo indica que a segunda opção pode ser o próprio Claudinei. Não seria má ideia.

Sutilezas semânticas

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segunda-feira, junho 10, 2013

'Onda de retrocesso moralista'

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Há três anos, publiquei alguns posts, aqui no Futepoca, sobre o "cerco" que governos e legisladores moralistas estavam fazendo, no Estado de São Paulo, contra nós, os boêmios. Começou com a lei antitabagista de José Serra, que, se por um lado é louvável pela preocupação com a saúde dos fumantes passivos, por outro é nada menos que fascista por ser totalitária e não prever locais desobrigados de cumprir a Lei ou setores reservados nos estabelecimentos como opção aos fumantes (afinal, estamos numa democracia). Depois vieram mais medidas moralistóides e, agora, a investida é contra quem dirige alcoolizado.

Sim, claro, é completamente errado: ninguém pode dirigir bêbado. Mas a sutileza tucana sempre é a de cortar tudo, sem brechas, em vez de prever exceções e/ou dar opções - como, por exemplo, garantir transporte público de qualidade e por preço razoável ou colocar o metrô para funcionar 24 horas. Por isso, sem mais rodeios, reproduzo na íntegra o excelente artigo de Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, publicado hoje:

B de bêbado

Os tucanos de São Paulo acabam de contribuir para a onda de retrocesso moralista por que passa a legislação no país. O deputado estadual Cauê Macris propôs, e seus colegas aprovaram, a "ficha suja" para motoristas acusados pela polícia de dirigir embriagados.

Se o governador Geraldo Alckmin sancionar o texto - com o qual já disse simpatizar -, estará criada uma punição moral no Estado supostamente mais moderno da nação. O Detran passará a publicar o nome de todo cidadão cuja habilitação for cassada sob a acusação de conduzir com a "capacidade psicomotora alterada".

Para a humilhação pública tornar-se mais eficaz, que tal estampar também a foto do acusado? E divulgar ao final da novela e nos intervalos do "Jornal Nacional"?

Podemos adotar o método das autoridades de Ohio, nos EUA. Consiste em obrigar o apenado a usar no seu veículo uma placa de cor di-ferente, amarela e escarlate, para que todos saibam do seu crime.

Outra opção é o castigo dos puritanos que colonizaram o norte da América no século 17. Todo motorista acusado de dirigir bêbado será obrigado a ostentar, na parte da frente da roupa, uma letra B garrafal. Em azul e amarelo, cores do PSDB.

Que os execrados possam perder o emprego, ou ver explodirem seus custos com seguro, não é problema para nossos novos moralistas. Pelo contrário, esse é o efeito desejado pelo deputado Macris.

Tampouco os incomoda a perda da habilitação ser sanção apenas administrativa, que não passa por juiz. Delegados e burocratas do Detran terão o poder discricionário de expor o indivíduo à humilhação.

Isso importa menos diante da tentação de apelar aos anseios por vingança, e pela depuração de hábitos de vida, latentes em parte do eleitorado. Serve também de cortina de fumaça para o fracasso das autoridades na aplicação das leis vigentes.

Os caminhos que cruzam Muricy e o São Paulo

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Além de a torcida gritar seu nome nas arquibancadas do Morumbi, durante a derrota para o Goiás, mais um fato cruzou os caminhos de Muricy Ramalho e do São Paulo na semana passada. Dessa vez, nos bastidores. Tudo começou quando o ex-volante Teodoro, titular do clube nos anos 1970, decidiu ligar para o colega Muricy, seu parceiro de meio-de-campo naquela época, para pedir uma ajuda. Depois de morar muitos anos em Dallas, nos Estados Unidos, onde comandava uma escolinha de futebol, Teodoro está de volta ao Brasil e precisa fazer um tratamento de saúde. Acionado, Muricy passou a demanda para outro colega, o hoje vereador, ex-dirigente do São Paulo e médico Marco Aurélio Cunha. Que, por sua vez, pediu ajuda a Kalil Abdalla, manda-chuva da Santa Casa de Misericórdia da capital paulista - que também é diretor jurídico do São Paulo Futebol Clube.

Kalil Abdalla e Marco Aurélio Cunha
Teodoro foi encaminhado para aquela casa de saúde e, pelo o que dizem, foi feita uma foto dele junto com Marco Aurélio e Kalil, em agradecimento, publicada na rede social Facebook. Aí, ferrou. Marco Aurélio, que se desligou do São Paulo em 2011, por discordar da atual gestão do clube, é um dos nomes que vêm sendo especulados pela oposição sãopaulina como possível candidato à presidência nas eleições de 2014, contra o grupo do "Deus Todo-Poderoso do Morumi" Juvenal Juvêncio. Quando o "Velho Barreiro" Juvenal viu a foto de Kalil com Marco Aurélio no Facebook, deu um "passa-moleque" no diretor jurídico, que respondeu no mesmo tom. Essa briga rachou o grupo de situação entre os "cardeais" sãopaulinos, pois Kalil tem força no clube e, se passar para a oposição, pode arrastar muita gente com ele. Mas o curioso, na confusão toda, é que Teodoro residia nos Estados Unidos - justamente onde Muricy Ramalho está passando férias com a família e assistindo de camarote aos apuros de Ney Franco, em campo, e de Juvenal, nos bastidores.

TÚNEL DO TEMPO

Delegação da Ponte Preta, treinada por Cilinho, em uma viagem à Poços de Caldas (MG), no início da década de 1970:  à partir da esquerda, o lateral-direito Nelsinho Baptista, o meio-campista Pedro Paulo ("Pepê"), o goleiro Waldir Peres e o volante Teodoro. Com exceção de Pedro Paulo, os outros três seriam contratados logo em seguida pelo São Paulo, onde conquistariam o Paulistão de 1975 (Waldir e Teodoro ainda seriam campeões brasileiros jogando juntos dois anos depois). Cilinho treinaria o São Paulo na década seguinte, quando revelou Muller, Silas e Sidney, entre outros.

sexta-feira, junho 07, 2013

Por que o movimento pela redução da passagem dará em nada

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por William Maia*

Vendo as imagens da batalha de ontem na Paulista, uma pergunta não me saía da cabeça: por que só pararam a Paulista agora, se o reajuste vem sendo anunciado há meses? A resposta, como sempre, está no passado: em 2006, ainda no começo da gestão Kassab, participei de algumas manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus. Na época, o reajuste foi de R$ 2,00 para R$ 2,30. 
Tinha acabado de entrar na faculdade, não sabia de muita coisa, mas a causa me parecia justa e o movimento, democrático –qualquer um podia participar e não havia liderança hierarquizada clara. Os protestos começaram bem, fechamos a Paulista algumas vezes e bloqueamos o terminal Parque Dom Pedro; tudo de forma pacífica, a despeito da agressividade da polícia. 
Conforme os dias e semanas passavam sem que a Prefeitura desse o menor sinal de que poderia reverter o aumento, o público das passeatas foi minguando. Ainda assim, eram muitas pessoas, a maioria sem ligação com partidos ou sindicatos. Gente realmente interessada em um transporte público de qualidade a preço justo –ou a preço nenhum. Certo dia, fui a uma reunião da coordenação do movimento na sede do Partido Humanista, em Santa Cecília. 
Cheio de entusiasmo juvenil, me inscrevi para falar na plenária, e defendi que encarássemos a realidade e mudássemos a bandeira do movimento. Já não adiantava imaginar que o valor da passagem regredisse depois de tanto tempo. Portanto, deveríamos aproveitar aquela reunião de pessoas bem-intencionadas e defender investimentos na melhoria dos ônibus, no aumento da frota para mitigar as superlotações, e nos prepararmos para enfrentar um novo reajuste no futuro, ANTES que este entrasse em vigor. A chance de barrá-lo seria muito maior, evidentemente. 
A proposta foi bem aceita num primeiro momento, com discordâncias pontuais, até que tomou a palavra um militante da juventude do PCO (Partido da Causa Operária) – sim, eles existem –, que chamou o discurso pela melhoria das condições do transporte de “coisa de tucano”, e defendeu que continuássemos as passeatas pela redução da tarifa, que no mínimo manchariam a imagem do Kassab. Confusão instalada, todos falando ao mesmo tempo, troca de acusações etc. 
Eis que em determinado momento, alguém propõe uma votação para definir os rumos do movimento: continuaríamos as passeatas com cada vez menos pessoas ou buscaríamos uma alternativa? E foi então que a realidade me deu um tapa na cara. Vendo que a militância presente pendia para a segunda opção, os camaradas do PCO e outros descontentes começaram a retardar a votação, enquanto telefonavam chamando mais gente para comparecer à plenária e assim ganhar o controle do movimento. 
Fui embora e nunca mais voltei. 
Ali percebi que, apesar da boa intenção da maioria, não se tratava apenas de um movimento contra o aumento da passagem, mas de disputa de poder entre correntes do movimento estudantil, algumas delas, marionetes de partidos. Em 2009 e 2011, a coisa se repetiu. Protestos contra o aumento foram às ruas DEPOIS de o reajuste entrar em vigor. Começaram fazendo barulho e depois desapareceram. 
Dessa vez não será diferente.

A massa cheirosa paulistana se diverte

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Rosas para as dondocas, porrada no povo
Quinta-feira à noite na maior cidade da América Latina, capital do Estado mais rico do país. Enquanto a polícia do governo alckmista descia a porrada em estudantes e sindicalistas em plena Avenida Paulista, tucanos de todas as plumagens, puxa-sacos, novos ricos deslumbrados, potenciais atropeladores de ciclistas, artistas globais, pseudo-celebridades e espertalhões que seriam enquadrados fácil, fácil em muitos dos artigos do Código Penal se reuniam no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, para um jantar beneficente. Quem tiver estômago, confira a coluna de Mônica Bergamo de hoje, na Folha de S.Paulo - página E2, caderno Ilustrada.

Marido marqueteiro do PSDB é só um acaso
Está lá o (des)governador, sorridente, cobrando R$ 400 por pessoa para o projeto Padarias Artesanais, de sua querida esposa, Lu, que preside um tal de Fundo Social da Solidariedade. Mas a verdadeira padaria estava ali mesmo na festa tucana, produzindo a tal massa cheirosa da Eliane Catanhede - que, por mero acaso, é casada com um marqueteiro do PSDB. E, falando em matrimônio, o casal Geraldo e Lu Alckmin é aquele mesmo que não teve pudor de, investido das funções de governador e primeira-dama, cortar a faixa na inauguração da loja para milionários Daslu. Será porque a filha deles trabalhava na polêmica loja?

Política pública: inaugurar loja de contrabando
Aliás, o escândalo de contrabando na Daslu é, até hoje, "o segredo de Sophia" (Alckmin) - e talvez isso tenha alguma relação com a menção ao Código Penal no primeiro parágrafo... Mas não estraguemos a festa tucana, afinal, Geraldo Alckmin sempre foi um dos defensores mais aguerridos da "ética", da "moralidade" e dos "bons costumes" - vide o episódio em que algumas das "manifestantes" endinheiradas do Movimento Cansei (pausa para um sorriso maroto do Cláudio Lembo), como Ana Maria Braga e Regina Duarte (MEDO!) compareceram, naquela mesma época, ao casamento da  filhinha do governador.

Kherlakian entretendo tucanos no rega-bofe
Puro acaso, mera coincidência. Trololó petista, diria o probo e honesto José Serra. Voltemos, pois, ao que interessa, o rega-bofe tucano de ontem à noite, espécie de "baile da Ilha Fiscal" do Império Alckmin. A colunista Mônica Bergamo destaca a presença de Reinaldo Kherlakian, "cantor" e herdeiro da Galeria Pagé, na região da rua 25 de Março (olha o Código Penal aí outra vez...). Observa, com deleite, que ele cria "araras, minicavalos, cães, minivaca, burro, zebra e até um tigre-de-bengala" em sua casa (por que não tucanos?) e que "estreou ternos de João Camargo e Ricardo Almeida e sapatos Louboutin cravejados de cristais Swarovski, comprados em Nova York". Nada mais PSDB e massa cheirosa do que isso!

Claudia Raia reviveu glamour da Era Collor
Também estava lá Claudia Raia, cabo eleitoral de Fernando Collor em 1989, e Moacyr Franco, outro que mantém estreitas relações com o tucanato. Mas a nota engraçada da festa Alckmista foi que, no Estado mais rico do país, onde quem consegue sobreviver à dengue pode sucumbir à violência e criminalidade, que batem recordes há meses, até as dondocas estão alarmadas com a insegurança. "É uma coisa impossível o que está acontecendo", reclamou Regina Manssur, ex-Mulheres Ricas, programa educativo da TV Bandeirantes. "Alguma coisa tem que ser feita. Na questão da segurança, estou insatisfeita com o meu candidato", acrescentou a advogada, que, assim como Kherlakian, reside no Morumbi - o bairro campeão de assaltos na capital (e onde também está o Palácio dos Bandeirantes da festança de ontem, resumo da suprema vergonha que é a gestão tucana). Detalhe: o tal "candidato" da mulher rica, Alckmin, é o dos massacres de maio de 2006 e de relações cordiais com o PCC.

Sonho da elite paulistana é reviver a 'Redentora'
Diante de tanta violência, a canseira do Movimento Cansei deu as caras: "Estamos cansados de ver tragédias horrendas acontecendo", reclamou a dondoca Helena Mottin, nas (grandes) fuças do (des)governador. O melhor foi o comentário do magnata da Galeria Pagé, Kherlakian: "Ele (Alckmin) não tem culpa. O que ele pode fazer? Tem que modificar todas as leis. Teria que começar lá no Congresso". Muito bom, muito bem. O sonho dessa gente é mesmo fechar o Congresso, botar os milicos no poder e todos esses petralhas na cadeia. Mandar a "gente diferenciada" pra longe de Hiegienópolis. Marchar com  a família e com Deus pela "liberdade". Polícia? Só pra bater em estudantes e sindicalistas e pra matar jovens pobres e negros. Um brinde, Dona Lu! Viva a vossa padaria! Viva a massa cheirosa!

E paro por aqui, porque não aguento ficar tanto tempo tampando o nariz.

quinta-feira, junho 06, 2013

Celibato e o Estatuto do Nascituro. É (também) disso que se trata

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O Estatuto do Nascituro é uma aberração. Muitos textos por aí já provaram isso por A+B, então não vou discorrer sobre os detalhes do projeto em si É tão descabido que, se aprovado, deverá ter muitos e muitos artigos considerados inconstitucionais. Não que algo que eventualmente restar não seja prejudicial à sociedade, claro que será, mas não acredito que impedir o tratamento de uma mulher com câncer seja constitucional.

Alguns textos. São só alguns exemplos, certamente há outros excelentes por aí.

"Bolsa-estupro: o crime patrocinado", de Letícia F., do blog Cem Homens
"Estatuto do Nascituro: a mulher que se foda", de Clara Averbuck
"Estatuto do Nascituro: mulheres são apenas um vaso de planta", do Leonardo Sakamoto
"O Estatuto do Nascituro e o terror", da antropóloga Debora Diniz

O que quero nesse meu pitaco é tentar chegar à essência da ideia de obrigar uma mulher a carregar um filho que não deseja, seja porque ele morrerá ao nascer, seja porque ela foi estuprada, seja porque a continuação da gravidez irá matá-la (e, curiosamente, matar o bebê, já mais desenvolvido e capaz de sofrer, junto).
Essa essência certamente não é pro-vida. Não é a favor da vida da mãe, nem à vida dessa criança depois que ela nasce. É claro que não. Eles intitulam-se "pró-vida" mas não é esse o cerne de sua ideologia.

Na verdade, um dos pilares que sustentam o PL 478/2007 é a ideia de que Deus deve decidir quem vive e quem morre. Oras, para isso a resposta é fácil: deixe de usar antibióticos, não vá para o hospital em caso de AVC nem realize exames de check up. Assim Deus estará decidindo sobre a vida de todos.


Ah, não, aí não. Aí devemos usar todos os recursos disponíveis para manter uma vida. Aliás, na hora de permitir que uma pessoa morra com decência, eles não deixam. A pessoa é obrigada a ficar ligada a aparelhos mesmo se não quiser. Vamos tomar um lado aí, pessoal! Ou Deus quer ou não quer decidir livremente quem morre. Se não pode salvar a vida de uma mulher com um embrião na barriga, também não pode reanimar depois de um ataque cardíaco.

Mas vamos deixar essa contradição aí e avançar um pouco. Quer dizer, retroceder. No parágrafo acima, eu argumento em cima do discurso deles, de que Deus existe e não apenas planeja o Universo de maneira macro – as leis da física, os elementos que constituem a matérias, essas coisas – como tem capacidade para cuidar da vida e da morte de 7 bilhões de pessoas. Bom, eles acreditem no que quiserem, claro, mas é bom lembrar que eu não acredito, e muita gente não acredita, e que impor uma lei baseada nas crenças de um grupo, por majoritário que ele seja, é antidemocrático.

"Ah, mas somos maioria". Pode ser, mas como a democracia não é a ditadura da maioria, isso não importa. Estude só um pouquinho sobre o que constitui democracia, por favor. A propósito, há muitas pessoas que acreditam em Deus e que não partilham do tipo de crença ou “linha filosófica” adotada pelos “inspiradores” do Estatuto.

Bom, até agora assumi que o aborto seria realizado por absoluta necessidade, mesmo que o embrião tenha sido concebido dentro das leis de Deus (de novo, só pra ficar dentro do argumento deles). Mesmo essa gravidez honrada e pura pode ser punida. Mas fica pior.Também será punida a vítima de estupro que não quiser manter uma gravidez resultante da violência, obrigada a gerar um filho que não quer. Isso mesmo se a vítima for para todos os efeitos uma criança. Nesse caso, ela poderá ser punida com a morte também, já que seus corpos não estão preparados para uma gravidez. Guardemos esse fato também.

Agora, uma palavra sobre o aborto de maneira geral, aquele que é permitido em muitos países e possibilita que a mulher escolha não levar adiante uma gravidez indesejada. Essa discussão, que pareceu um dia que ia avançar, está no limbo. Acho até que quem leva à frente o Estatuto do Nascituro deve saber que ele não pode ser aplicado, que é inconstitucional, que haverá protestos. Não me parece descabida a ideia de que o PL é, na verdade, um subterfúgio para atrasar as discussões sobre a descriminalização do aborto. Por que, né?, basta um avancinho na área de direitos reprodutivos da mulher, mesmo que seja retórico apenas, pra esse pessoal "pró-vida" (todas as aspas aqui) reagir com virulência.

Mas então. Por que, pra esse pessoal, não pode ter aborto por vontade da mulher? Bom, porque quem faz sexo tem que arcar com as consequências de seus atos. O discurso é de que, se a pessoa não quer filhos, deve usar métodos contraceptivos. Só que, estatisticamente, os métodos falham. Pílulas falham, os números que encontrei variam de 1% a 6% de falha. Camisinha falha ainda mais, entre 10% a 20%. Vasectomia e laqueadura também falham! Tudo isso é dado conhecido. A mulher usa dois métodos contraceptivos e ainda assim há uma possibilidade de gravidez. Em termos populacionais, esses casos não podem deixar de ser considerados. Pessoas ficam grávidas sem querer. E esses números aparecem em sites "pró-vida" também, vejam só, ou seja, os parlamentares sabem disso.

Então não, não dá pra achar que as pessoas vão evitar gravidez com 100% de certeza. E daí? Daí que o PL não pune apenas a irresponsabilidade. Ele pune pura e simplesmente o sexo.

Todo sexo será castigado


Não sei em que mundo esse pessoal vive. Enquanto deveria haver dentro das igrejas uma discussão profunda sobre a sexualidade (os padres pedófilos e pastores estupradores não me deixam mentir), eles querem impor sua filosofia celibatária para toda a sociedade! Vou falar de novo: o celibato não funciona nem dentro das igrejas que o pregam, que são instituições para onde as pessoas vão por livre e espontânea vontade (estou falando dos sacerdotes aqui, não dos fiéis), sabendo que não poderão fazer sexo ou que só o farão para fins reprodutivos. Esses caras escolhem viver assim, e muitos não conseguem. Por que acham que a sociedade de uma maneira geral conseguiria fazer sexo apenas para reprodução?

Porque no fim é isso: trata-se da punição do sexo. Pior, a punição do sexo até quando ele não é consentido.  E, pelamor, é punição até quando o sexo eventualmente segue os preceitos que eles acham corretos, mas que resultem numa gravidez de feto anencéfalo. Ou ainda que a mulher descubra-se doente e não possa se tratar. Aí a criança pode morrer, mas só se a mãe for junto.

Bom, punição para a mulher, né? Para o homem não muda pica nenhuma. Então é o controle total sobre o corpo feminino, mas nada muda para o homem. Ou será que o pai deverá ser proibido de tratar uma doença durante a gravidez?

Não tenho palavras para descrever a crueldade disso. Falta vocabulário.

Por último, um comentário sobre o começo da vida. Meus queridos religiosos: podemos discutir isso até o fim dos tempos. Nunca haverá consenso. Jamais. Então ficamos assim. Vocês seguem o que acreditem. Se as mulheres religiosas não quiserem abortar, não abortem! Deixe que as discussões laicas decidam os direitos reprodutivos das mulheres que não pensam assim. Juro, não tem ninguém querendo passe livre para abortar aos 8 meses de gestação. O limite de 12 semanas é usado largamente em todo o mundo, há motivos para isso. Ah, o medo é de uma epidemia de aborto? Desconheço. Aliás, os dados do Uruguai mostram que o número de abortos diminuiu depois da descriminalização da prática.

Resumindo: esses parlamentares não se importam com a vida dessas mulheres, que em muitos casos estará completamente arruinada por conta da imposição de manter a gravidez. As crianças, então, que se danem. Logo depois de nascerem poderão passar fome à vontade. Ouvirão várias críticas às ajudas governamentais das quais estão usufruindo porque o próprio Estado as obrigou a vir ao mundo. Se eventualmente vierem a cometer crimes, essas crianças e jovens enfrentarão a ameaça da diminuição da maioridade penal.

Eu queria saber, mesmo, o que importa de verdade para esses parlamentares.


Agora, muitos adendos

1 - Está rolando uma petição contra o Estatuto do Nascituro. Sempre duvido da eficácia desse tipo de abaixo-assinado, mas acho que não custa assinar.

2 - Homens, aprendam uma coisa: gravidez é uma merda. Sério, uma merda. Não existe gravidez sem sintoma desagradável, o que existe é mãe que finge para si mesma que eles não existem. Juro que se (que o deus desse pessoal me livre) eu ficasse grávida por conta de um estupro e não pudesse abortar, eu tentaria em casa (ou, privilegiada classe média que sou, iria para o Uruguai ou para Portugal fazê-lo), porque os enjoos, dores e outros problemas só são suportáveis com muita vontade de ter um filho. E eu tenho um.

3 - DUVIDO que muitos pastores não mandem as filhas abortarem em segredo para manter as aparências.

4 - Há igrejas que não pregam o sexo apenas como meio de reprodução. Quando menciono "pastores" de maneira genérica, estou falando desses que acham que sexo é sujo.

5 - Tem o retrocesso científico também, sobre isso, ler aqui.

6 - O último argumento desse pessoal pró-vida é dizer: imagina se sua mãe tivesse te abortado! Juro que não consigo entender esse pensamento. Se minha mãe tivesse me abortado eu não existiria e pronto. Qual o problema? Antes de existir eu não existia e tava tudo bem com o mundo. Que vaidade é essa de achar que não nascer é uma tragédia?

Nem 1.000 nem 1. E Muricy já incomoda o He-Man

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Pois é. Pelo jeito, ao contrário do que escrevi, o Túlio (ex-)Maravilha vai acabar fazendo seu suposto milésimo gol antes de o São Paulo ultrapassar os 999 já marcados no Brasileirão dentro do Morumbi. Ontem, como eu já previa no post sobre a goleada sofrida para o Atlético-MG (dizendo que aquilo não seria "o último vexame de 2013"), o time - time?!?!? - de Ney Franco sofreu a humilhação de perder em casa para o Goiás, que estava na zona de rebaixamento e não tinha uma vitória sequer em três jogos, tendo levado um vareio de 5 a 0 do Cruzeiro logo na primeira rodada. Pior: o São Paulo finalizou 23 vezes (VINTE E TRÊS VEZES!) e não conseguiu marcar nem um golzinho, condenando ao fiasco a campanha divulgada no site do clube que alardeou o possível gol 1.000, em Brasileiros, no próprio gramado - o que iludiu e convenceu quase 9 mil infelizes a testemunhar a vergonha (mais uma) no estádio.

Como o jogo começou às 19h30, cheguei em casa a tempo de acompanhar apenas os 15 minutos finais, pelo rádio. Nenhuma surpresa: locutor, comentarista e repórteres de campo frisavam a todo instante o futebol apático, descoordenado, inofensivo, feio e lamentável do São Paulo. Anteontem, com a notícia de que Juan assumiria a titularidade na lateral-esquerda (e também sem novidade jogou pessimamente ontem) eu já havia postado aqui no blog: "Vai mudar alguma coisa com os NULOS Douglas e Juan nas laterais? Com os sofríveis Lúcio, Tolói ou Edson Silva na zaga? Com os pouco produtivos Luís Fabiano ou Aloísio como centroavantes? Rodrigo Caio? Maicon? Negueba? Silvinho?" A partida de ontem respondeu as perguntas: sim, vai mudar - pra pior! E vai sobrar para o Ney Franco. Além das vaias, a torcida gritou o tempo todo: "É Muricy!". E dizem que o recém-desempregado treinador, que levou um pé do Santos, parece estar disposto a encarar novamente o bafo (de cana) do Juvenal Juvêncio em seu cangote...

Questionado sobre o clamor dos torcedores, o "He Man" Ney Franco garantiu: "Eu tenho força!" Mas, com esse time horrível e sem opções no elenco ou perspectiva de contratações, o prazo de validade do treinador parece menor do que o Nelson Ned. A informação de que Muricy Ramalho passará duas semanas em férias nos Estados Unidos dá a entender que ele já conversou com o Velho Barreiro, digo, o Juvenal Juvêncio, que o aconselhou a aguardar quietinho os próximos jogos (e maus resultados) do São Paulo e o fim do recesso futebolístico por causa da Copa das Confederações. Ou seja: o mesmo dirigente que mandou Muricy embora e que, desde aquela intempestiva atitude (mais uma), viu o time fracassar por quatro temporadas seguidas (e no início da atual), agora, meia dúzia de técnicos depois, não tem pudor de recorrer justamente a quem demitiu. TUDO ERRADO. Nem Muricy, nem Tite, nem Cuca, nem Pepe Guardiola, nem Deus podem fazer algo de útil com esse timinho do São Paulo. Pelo menos enquanto Juvenal estiver lá.



Aldo Rebelo quer mais Estado na gestão esportiva

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Flagrado com o prato cheio, o futepoquense
Nicolau esconde-se atrás do cabelo
Para arrepio dos liberais e alegria dos esquerdinhas, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, é um intervencionista. A revelação, não tão surpreendente se considerarmos sua filiação ao PCdoB, foi feita para um grupo de onze blogueiros e blogueiras de esportes, entre eles este que vos escreve. Realizada em São Paulo, a coletiva foi um convite do ministério para debater as Copas das Confederações e do Mundo que o país abrigará.

O palmeirense Rebelo defendeu que o Estado tenha maior participação na gestão do futebol e de outros esportes, um espaço de influência para “impor determinados limites para a proteção do interesse público e do interesse nacional. A não ser que alguém prove que não há interesse público nem nacional na prática do desporto. Eu acho que há, e muito, não só no futebol”, defendeu.

A afirmação veio em resposta sobre a relação entre o governo federal – que tem como representantes máximos na organização da Copa o próprio Rebelo e a presidenta Dilma Rousseff, ambos ex-participantes de organizações de luta contra a ditadura militar –, ao lado da CBF de José Maria Marin, ex-deputado pela Arena acusado de contribuir para o assassinato do jornalista Vladmir Herzog. A resposta, sem mencionar o nome de Marin, revela uma marca  entrevistado, afeito ao hábito de embutir mensagens indiretas em suas respostas.

Rebelo minimizou as desavenças, dizendo que as relações entre governo, Fifa, Comitê Organizador Local (presidido por Marin) e os patrocinadores “têm sido muito boas”. Não negou que o diálogo é precário e que haja diferenças de ideias, “mas que não interferem na realização da Copa”.

“Defendo que haja limitação de tempo e número de mandatos para dirigentes de entidades ligadas ao esporte. Se você tem número limitado de mandatos para presidente da República, prefeitos, governadores, por que não pode ter também para o presidente de uma federação?”, indagou o ministro. Ricardo Teixeira, antecessor de Marin e principal articulador da atual estrutura do futebol, passou 23 anos à frente da CBF.

Atentem para o celular do ministro com a capinha do Palmeiras
“Eu vejo entidades que têm dificuldades de prestar contas do dinheiro público. Não é porque vai tirar ou desviar dinheiro. É pela própria competência de prestar contas desse dinheiro. Se você profissionaliza, você valoriza as suas marcas”, continuou o ministro, em mais recados.

Em outro momento da entrevista, falou da necessidade de mudanças no calendário, tema sensível para as federações e para os clubes. Segundo ele, é necessário uma temporada com mais jogos para os pequenos times do país, que sofrem por não ter o que disputar em dois terços do ano, e menos compromissos para os grandes, que disputam perto de 20 jogos a mais que os europeus e não conseguem internacionalizar suas marcas com excursões e pré-temporadas. Não disse, no entanto, o que o ministério efetivamente fará para contribuir com as mudanças – falou apenas em “mediar” o debate.

Como político experimentado, Rebelo revela-se um entrevistado escorregadio. Auxiliado pelo formato do encontro, com cada blogueiro querendo aproveitar sua pergunta e não interferir demais na resposta que outros aguardam, desliza pelos assuntos com referência históricas e sociológicas interessantes, mas pouco práticas.

Por exemplo, Aldo foi perguntado sobre o porquê da privatização/concessão do Maracanã, arrematado pelo Consórcio Maracanã SA, formado pela IMX, Odebrecht Participações e Investimentos e pela norte-americana AEG Administração de Estádios por R$ 181,5 milhões, não ocorrer antes da reconstrução do estádio, que custou mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Aldo dá uma volta ao mundo em centenas de palavras para chegar no final e dizer: qual era a pergunta mesmo?

Em linhas gerais, seu discurso valoriza o legado da Copa em termos de infraestrutura para as localidades e das novas oportunidades de negócios que ela pode proporcionar, inclusive o para o futebol como modalidade de negócio, mas revela preocupação com o legado esportivo do evento, temendo a elitização e o distanciamento do povão do esporte que só se consagrou no país graças à paixão que despertou nas massas desde o início do século 20.

“A Copa pode melhorar a estrutura do futebol brasileiro e elevar a renda dos clubes pela qualificação da gestão, ou pode também elitizar o futebol, transformá-lo numa "ópera", de ricos e da classe média, que vão ali como uma diversão e não porque têm paixão pelo futebol, o que seria lamentável. E também não daria um bom destino para o futebol. O futebol só se transformou no que é porque foi abraçado pelo povo”, afirma o ministro.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Por que essa insistência em fazer a Copa com 12 sedes? Menos sedes não seria mais vantajoso?

Poderia ser mais vantajoso fazer só em São Paulo. Se pegarmos Itaquera, o Palestra, o Morumbi, Ribeirão Preto, Prudente, São José do Rio Preto e outros estádios, faríamos provavelmente uma Copa melhor que a da Espanha em 1982. No entanto, temos um país com toda sua diversidade geográfica, somos um continente, com metrópoles espalhadas de norte a sul. Uma no coração da selva, outra no coração do Pantanal, outra no extremo Sul, e o Nordeste cheio delas.

Se queremos uma Copa do Mundo no país, vamos fazer em todo o Brasil. Não é difícil fazer Copa em Manaus ou Cuiabá, difícil foi fundar e construir as duas cidades. Para fazer o forte na boca do Rio Negro, as pedras tiveram que ser transportadas de Portugal, lá por 1600. Difícil foi a jornada do Raposo Tavares, que saiu de São Paulo e percorreu esse roteiro todo em dez anos, passando inclusive por Manaus. Esse era o desafio nosso e estamos fazendo.

Desafio vai ser transformar esses estádios, que não costumam receber jogos oficiais, em estádios cheios. Brasília, por exemplo, não costuma ter grandes públicos. Como fazer para eles serem rentáveis depois da Copa?

Nesse sentido, é bom lembrar que Brasília nem existia, foi fundada nos anos 1960. Se vamos construir um estádio na capital do país, ele tem de ser compatível com sua vocação, sua trajetória, e acho que o estádio é isso. Não creio que tenha vocação para elefante branco. Ele vai ter todos os jogos importantes? Provavelmente não.

Wembley (em Londres) é um estádio com esse conceito, um monumento ao futebol no qual acontecem oito, dez jogos por ano. Vive mais de eventos, casamentos, museus, restaurantes, bares, visitação. O estádio de Brasília, o de Manaus, o de Cuiabá ou do Rio Grande do Norte serão estádios, terão jogos, e também eventos.

Em Natal a empresa que constrói já está vendendo os espaços internos pelo melhor preço da cidade. É um espaço como tem hoje no Morumbi. Estive lá outro dia e o Juvenal Juvêncio (presidente do São Paulo FC) me disse que arrecadam R$ 50 milhões por ano em venda e aluguel de espaços para academias, bancos, lojas. Isso vai acontecer no país inteiro. O de Fortaleza já é a sede da Secretaria Estadual de Esportes e da Diretoria de Engenharia e Arquitetura do Estado. Tem auditórios, eventos e todos eles vão funcionar mais ou menos desse jeito.

Lamentavelmente a questão do público no Brasil não é só desses estádios. Veja o público dos jogos do Campeonato Paulista, do Carioca, do Gaúcho. Não se pode falar só dos campeonato menores. Vi jogo do Fluminense no estadual com menos de mil pessoas. Mais da metade dos clubes do Rio Grande do Sul tiveram menos de mil pessoas nos jogos. Então, esse é um problema de todo o Brasil e deve ser enfrentado assim.

Por que não privatizaram o Maracanã antes da reforma? Além disso, as pessoas que tinham camarotes perderam o direito a eles. Isso vai acontecer em outros lugares?

Eu não conheço cada uma dessas realidades estado por estado. Sei que há estado em que o estádio é privado: o do Corinthians, do Atlético-PR, do Inter. Alguns são novos. Outros, reformas. Nesses casos, o governo emprestou dinheiro do BNDES para a reforma ou construção, para o consórcio ou empresa, não para os clubes, o que é proibido. Cobrando todas as garantias que são exigidas de qualquer tomador do BNDES, sem diferença. E num volume muito menor do que os empréstimos que o BNDES faz para outros setores, como telefonia.

Em Pernambuco, o estado cedeu uma área para uma empresa em São Lourenço da Mata, cidade da Grande Recife. Será construído, além do estádio, uma universidade, um shopping, um conjunto habitacional. Acho que são 200 hectares de área, e parte será uma reserva ambiental. Nessa cidade da Copa, várias atividades e serviços serão integrados e o estádio é um deles. Uma rodovia duplicada que já está pronta, um serviço de metrô que está chegando até o estádio. Em São Paulo, a zona leste tem o mais baixo IDH da cidade. A ida do estádio para lá iniciou um processo de transformação. Então, é uma coisa muito boa para a cidade e para a Zona Leste. E agora? Esqueci da pergunta (risos)...

Sobre a privatização do Maracanã.

Primeiro, quando você faz com dinheiro público, é criticado porque gastou dinheiro público. Se faz concessão, é criticado porque foi privatizado. É preciso saber o seguinte: o governo do estado vai ser remunerado? A concessão remunera o poder público? Porque elas estão sendo feitas em outros equipamentos, como aeroportos. O de Guarulhos foi concedido recentemente, todo ele construído com dinheiro público. Ou seja, às vezes o setor privado não está disposto a construir, só a fazer a concessão. O primeiro Maracanã foi construído também dessa forma. Tem que ver se na concessão há remuneração e em quanto tempo esse investimento vai ser amortizado.

Em 2007, quando o Brasil foi escolhido sede da Copa, os políticos presentes no dia comemoraram porque havia sete anos para planejar, escolher cidades, construir estádios. Estamos próximos, da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, e há muitos atrasos.

Temos no Brasil uma burocracia muito forte, bem assentada, que envolve órgãos de controle do Executivo, a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal e Contas da União (TCU); o Ministério Público, o federal e os dos estados; as Defensorias Públicas; órgãos ambientais; o Iphan. Isso cria um coeficiente de atrito, de deslocamento em todas as decisões relacionadas a um empreendimento dessa natureza.

Todo planejamento já deveria levar em conta todas essas circunstâncias, mas é imponderável, você não sabe se sua obra vai ser paralisada por licença ambiental, por ação do MP ou por uma greve. Mas tenho segurança de que as obras serão concluídas dentro do prazo e nenhum atraso comprometerá a realização das Copas.

E que futebol brasileiro teremos no pós-Copa? Vai haver um processo como na Inglaterra, só para a classe média e daí para cima? O povo vai ser impedido de ver futebol?

Essa é uma batalha, não está decidido não. Há um processo econômico...

Por exemplo, uma arrecadação de R$ 7 milhões no jogo entre Santos e Flamengo, no Mané Garrincha em Brasília, é maravilhosa, mas um ingresso médio a R$ 150 não é um preço aceitável.

Principalmente para quem apoia e tem mais paixão pelo futebol, sinceramente não. Alguns defendem que haja uma elitização econômica e social, e justificam ideologicamente afastar o povo e os pobres dos estádios. Eu acho que é uma batalha, não está definido. A Copa pode melhorar a estrutura do futebol brasileiro, elevar a renda dos clubes pela qualificação da gestão ou pode também elitizar o futebol, transformá-lo numa ópera, de ricos e da classe média, que vão ali como uma diversão e não porque tem paixão pelo futebol, o que seria lamentável.

O futebol só se transformou no que é porque foi abraçado pelo povo, embota tenha chegado pelas mãos das elites. O futebol foi uma plataforma de inclusão dos pobres. A primeira celebridade pobre e negra no Brasil foi do futebol. Como um menino como o Friedenreich (filho de um comerciante alemão e uma lavadeira negra) poderia ascender, ser reconhecido e querido se não fosse pelo futebol? Ou o Fausto, que foi para a Copa do Mundo no Uruguai (1930) e voltou celebrado como a “maravilha negra”.

O futebol foi uma espécie de idealização da oportunidade. Aquilo que a educação não permitia, porque era muito restrita a uma parcela da população, o futebol de certa forma ofereceu. Todas as instituições na nossa sociedade que permaneceram e ganharam força foram criadas ou pelo mercado, ou pelo Estado. Corinthians, Palmeiras, Vasco, Flamengo não foram criados pelo Estado nem pelo mercado, mas pela sociedade.

Sobre o mercado, as imposições do organizador não acabam barrando as manifestações culturais?

Eu defendo que voltem, mas a questão é a seguinte: pressionada pelo Ministério Público, a própria CBF fez concessões nesse sentido. Como o evento é da CBF, ela pode dizer o que permite e o que não permite. É como se fosse uma festa organizada por um ente privado. Aqui em São Paulo ficou uma discussão: pode entrar bandeira ou não? E venda de cerveja? Ou seja, todo mundo pode beber cerveja em casa, com a família, na frente dos filhos. No estádio quiseram proibir. A prova de que essa questão não tem muita relação com a violência é que a violência vai sendo cada vez mais praticada distante dos estádios. Os grupos se encontram para brigar, para se matar, longe dos estádios. E se preparam tanto para a briga que não é problema do álcool. Eles priorizam a briga mesmo.

Voltando à questão das sedes fora dos grandes centros, estima-se que eles serão mantidas depois pelos eventos. E se não houver evento o suficiente para dar conta do custo da manutenção? Vai ter concessão para todos, o governo federal entrar com dinheiro público para manter os estádios em pé?

O esforço de construir infraestrutura esportiva do futebol não é só por causa da Copa. O Brasil precisava fazer isso, independente da Copa do Mundo. O Brasil é o país do mundo que tem o maior artilheiros de todas as Copas, que tem os maiores astros de Copas. E esse país que tem toda essa presença no futebol tem apenas 2% do “PIB” mundial do futebol. Ingleses têm 30%, os alemães, um pouco mais de 20%, os espanhóis, 18%, os italianos, uns 16%, e nós lá embaixo. O maior clube de massas do Brasil não tem um estádio próprio. Qualquer time de segunda ou terceira categoria da Espanha, Alemanha ou da Itália tem o seu estádio. E o Flamengo não tem. O Corinthians não tem, vai ter agora. Então, precisava criar essa infraestrutura, melhorar o nosso desempenho.

O país, no entanto, é muito desigual. Alguém se queixa: “Por que na Amazônia, no Centro-Oeste, no Nordeste?” Mas a desigualdade não é só do futebol. Se você for para a Amazônia, você sai de uma cidade da sede do município e anda centenas de quilômetros dentro do mesmo município. E você não pode ir nem de carro, só de avião ou de barco. Essa é a desigualdade do Brasil.

Isso é garantia de que vai haver essas obras de infraestrutura nesses lugares?

Para licenciar uma rodovia no Norte do país, é uma dificuldade muito grande. Mas lá, nessas capitais e metrópoles, existe uma economia capaz de sustentar um estádio. Em cidades como Natal, em torno de 1 milhão de habitantes, você tem atividade suficiente para preencher um espaço como a Areia das Dunas. Em Manaus, você tem essa possibilidade. Porque não é só um campo de futebol. O Vivaldo Lima era um campo grande, lá teve jogos da Seleção Brasileira, mas a Arena Amazônia tem a possibilidade de uma gama de serviços e de atividades que os antigos estádios não tinham.

O presidente da CBF, José Maria Marin, tem um histórico de conexão à ditadura...

A CBF, os órgãos que regulam o esporte no Brasil foram criados pelo Getúlio Vargas. Antes era tudo privado, o Estado não se metia. As maiores ligas do país, de São Paulo e Minas, não se entendiam. Quando a liga do Rio convocava a seleção, como em 1930, São Paulo não mandava ninguém. E vice-versa. Então, não tinha nenhuma seleção brasileira. Acho que só em 1919, quando o Brasil ganhou o primeiro sul-americano, houve um entendimento. Depois o Getúlio criou uma estrutura estatal para tratar do desporto.

Quando acabou o regime militar, as pessoas passaram a acusar que era entulho autoritário, porque o regime militar interferia no futebol, nomeava almirante, brigadeiro, e disseram que tinha de acabar com essa interferência. Só que essa interferência dos militares não seria a mesma da democracia. Quando você tirou o Estado, na democracia, deixou o futebol como uma coisa absolutamente privada, as federações estaduais e os clubes decidem tudo.

E defendo que o Estado tenha uma capacidade de intermediação desses interesses, de impor determinados limites, para a proteção do interesse público e do interesse nacional. A não ser que alguém prove que não há interesse público nem nacional na prática do desporto. Como eu acho que há e muito, não só no futebol.

O diálogo entre o ministério e o Comitê Organizador Local é precário?

Isso não está atrapalhando nada. A cooperação entre governo, Fifa, Comitê Organizador Local e os patrocinadores tem sido muito boa. Nós temos um representante do governo no Comitê Organizador Local. Só de cooperação, muitas coisas para a Copa que dependem do governo. Aeroporto, vigilância sanitária. concessão de visto de trabalho, segurança pública, telecomunicações. Nós participamos, não há nenhum desentendimento nesse aspecto. O que há são diferenças de ideias que não interferem na realização da Copa. Defendo que haja limitação de tempo de mandato e de número de entidades ligadas ao esporte. Defendo. Acho que se você limita os mandatos para presidente, prefeitos, governadores, por que não pode ter também para o presidente de uma federação?

Muitos clubes se queixam que jogam demais (20 partidas a mais do que a média europeia). Outros reclamam que jogam de menos (três meses e passam seis sem ter como pagar um jogador, inclusive os que ganham menos). O mundo do futebol profissional no Brasil é o mundo de baixa remuneração e de grandes dificuldades. Para um jovem que joga futebol, ter salário o ano inteiro para comprar leite, pagar aluguel e sustentar uma família, é muito difícil. As pessoas conhecem essa realidade aqui. Cobrem Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos e acha que esse é o mundo do futebol. Nunca chegou na porta de uma prefeitura, como eu cheguei, no interior do Brasil, onde estão jogadores com crianças no colo. Aí chega o técnico, que é outro jovem, e pergunta: “Deputado, o senhor vai falar com o prefeito?” Aí eu digo: “Já sei, a prefeitura não está pagando, atrasou o salário”. E eles: “Não, deputado, atrasou o almoço. Não almoçamos até agora”. Essa é a realidade de mais de 90% do futebol. Então eu digo, tem que ter um calendário maior para esse futebol e tem que ter calendário menor para o outro, que tem que jogar Libertadores, Paulista, Brasileiro, Copa do Brasil. Tem que ter equilíbrio entre isso.

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Participaram da conversa, em ordem alfabética:

Danilo Gonçalo, do Jornalismo FC - http://jornalismofc.com/
Diego Garcia e Pedro Galindo, do Doentes por Futebol - http://www.doentesporfutebol.com.br
Fernanda de Lima, do Donas da Bola - http://www.donasdabola.com.br/
Leandro Canônico, do Meio de Campo - http://globoesporte.globo.com/platb/meiodecampo/
Fernando Cesarotti, do Impedimento - http://impedimento.org/
Marcos Antonio de Oliveira Teixeira, do Blog das Torcidas - http://www.blogdastorcidas.com.br/
Otávio Maia, do Esporte Fino - www.esportefino.net
Paula Máscara, pelo Fora de Campo - http://blogs.lancenet.com.br/foradecampo/
Ricardo Roca, do Futebol Arte - http://www.futebolarte.blog.br/

A transcrição teve ajuda substancial de Alessandra Alves, e a edição teve grande participação de João Peres e Paulo Donizette, os três da Rede Brasil Atual (www.redebrasilatual.com.br).

quarta-feira, junho 05, 2013

Antes do Túlio, São Paulo tenta o gol 1.000

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Enquanto o Túlio (ex-)Maravilha, 44 anos, processa o Botafogo por frustrar seu projeto de marcar o milésimo gol da carreira (nas contas dele) com a camisa do clube carioca, o São Paulo pode alcançar, hoje ou nas próximas rodadas, a marca de 1.000 gols feitos no Brasileirão dentro do estádio do Morumbi. Segundo a assessoria do clube, desde 1971, quando foi disputada a primeira edição do que a CBF convencionou chamar de Campeonato Brasileiro, substituindo o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Tricolor balançou as redes pela competição em seu gramado 999 vezes - não considerando os gols do jogo anulado (injustamente) pelo STJD na edição de 2005, na vitória por 3 a 2 sobre o Corinthians.

Pois é, do jeito que a coisa tá feia no (magro) futebol do São Paulo, que levantou uma única taça nas últimas quatro temporadas, qualquer marca envolvendo número de gols - como foi o centésimo do Rogério Ceni, em 2011 - já serve pra tentar empolgar a torcida. O site do clube organizou até uma campanha: quem acertar o autor e chegar mais perto do instante do milésimo gol, ganha uma camisa autografada (clique aqui para acessar). A expectativa fez com que o - contestado - centroavante Luís Fabiano esquecesse mais uma de suas contusões para voltar ao time hoje. Saindo ou não o milésimo contra o Goiás, vale recordar, para a torcida sãopaulina, cinco dos gols mais bonitos marcados pelo time no Morumbi, pelo Brasileiro:

Everton, de primeira, contra o Botafogo, em 1981:


Careca, um senhor golaço contra o Fluminense, em 1987:


Tilico faz o gol do título contra o Bragantino, em 1991:


Simplício, de calcanhar contra o Corinthians, em 2003:


Dagoberto arrancando contra o Internacional, em 2008: