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Por Moriti Neto
Bastaram 9 minutos para que o Libertad tirasse a vantagem do São Paulo ontem, em Assunção, no Paraguai, pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. Ali se dava o inicio da história que marcaria a volta com derrota e eliminação do técnico Emerson Leão ao Tricolor Paulista.
Leão chegou com a missão de dar um “choque” e “postura de time grande” – palavras do presidente Juvenal Juvêncio – ao São Paulo. Antes do jogo, disse que optaria por não valorizar a vantagem obtida no confronto de ida. Ao menos na escalação, essa era a proposta. Denílson e Cícero foram sacados para as entradas de Carlinhos Paraíba e Marlos, teoricamente mais ofensivos. O problema é que a qualidade de ambos é baixa. Os dois correm muito, fato, mas, cada qual a um estilo, têm baixa efetividade com a bola. Assim, a aparente posição agressiva caiu por terra e os donos da casa é que tomaram conta da peleja.
Já na primeira bola perdida, aos 2 minutos, o torcedor são-paulino relembrava que os defensores não têm a força necessária para suportar anfitriões impetuosos, ainda que o ímpeto parta de um time mediano, como o Libertad. Outro bônus encontrado pelos paraguaios foi a habitual fraca marcação são-paulina pelos lados.
Foi mais que justo o tento que começou a desenhar a desclassificação tricolor. Os paraguaios, com tabelas pelos flancos, ganharam o campo de cara e forçaram os são-paulinos a recuar. Tal foi a postura de recuo que Luis Fabiano apareceu na grande área defensiva para cometer pênalti em Maciel. Eram 9 minutos. Sergio Aquino não desperdiçou. Chutou forte e abriu 1 x 0.
Leão mostra alguma coisa; não foi suficiente
Na sequência do gol, Rogério Ceni, que vinha com um problema no tornozelo esquerdo, pediu para trocar a proteção no local. Após a parada, Dagoberto virou armador, Marlos foi adiantado e Lucas flutuava entre o ataque e arrancadas pela meia-direita. Leão orientou Carlinhos Paraíba e os laterais para fazer a bola chegar a Luis Fabiano. Com as mexidas, Dagoberto lançou Piris, que chutou na trave, aos 14 minutos. O jogo dava esperanças de equilíbrio. Aos 31, Juan perdeu (sem novidade) chance de frente para o goleiro. A expectativa de reação parou por aí.
No segundo tempo, o São Paulo voltou sem Luis Fabiano, com dores musculares. Ainda que pouco útil e infeliz na peripécia defensiva que resultou no pênalti, o centroavante foi ausência sentida. O time ficou sem referência. O substituto era Fernandinho. Bem, Fernandinho é aquela coisa. Homem de uma jogada só, manjada. É sempre receber o esférico e tentar a saída pela esquerda (o Leão da Montanha era melhor nisso).
Sem a peça de área e, claro, sem articulação, restavam lances isolados para que o Tricolor empatasse. Aos 19, Dagoberto cobrou falta, Rhodolfo cabeceou e mandou para as redes. Num lance difícil, a arbitragem anotou impedimento.
Era sensação patente que a partida terminaria mal para o São Paulo. Aos 20, o técnico do Libertad, o argentino Jorge Burruchaga, aproveitando a paralisia do adversário, decidiu mudar o ritmo. Aos 20, colocou em campo Rodolfo Gamarra, no propósito de conferir velocidade ao time paraguaio. E o atacante nem precisou de muito tempo para aproveitar a oportunidade. Bastaram dois minutos e ele encontrou Ariel Núñez, livre, impedido, que sacramentou os 2 x 0.
Dali para frente, o Libertad matou o São Paulo na intermediária. E o único golzinho que o Tricolor teria para marcar em ao menos 25 minutos, garantindo a classificação, não saiu. Pior: de bom, o time não produziu nada. Ainda perdeu Rogério Ceni, que depois de 133 partidas seguidas sem sair de campo foi substituído com fortes dores no tornozelo esquerdo. Contra o Vasco, pelo Brasileiro, no domingo, além do capitão, não deve ter Luis Fabiano.
Enfim, a temporada são-paulina é um desastre até o momento. Troca de técnico quatro vezes, eliminado da Copa do Brasil pelo Avaí, goleado pelo maior rival por 5 x 0, e, agora, muito provavelmente fora da Libertadores de 2012, já que ontem, na Sul- Americana, uma porta se fechou e a outra, no Campeonato Brasileiro, do jeito que a coisa vai, deve se encerrar em poucas rodadas. Triste.
Racismo de novo?
Não foram somente a derrota e a eliminação que irritaram o lateral-esquerdo Juan na noite passada. Expulso no último minuto do jogo, o jogador deixou o gramado do estádio Nicolás Leoz acusando o árbitro colombiano Wilmar Roldán de racismo. De acordo com o são-paulino, Roldán o teria chamado de “macaco”. A diretoria do São Paulo deveria pedir apuração e a Conmebol, no mínimo, apurar a história. Duvido que o façam.
Um pouco da troca de técnico e Dagoberto
Segundo a direção do clube, Leão chegou para chacoalhar o elenco. Não aprecio essa coisa de “disciplinador”, “sargentão” e tal. Deixo isso para os quartéis que, sinceramente, no que me toca, não são modelos de civilidade. Os pontos fulcrais para contratar um treinador devem ser a capacidade de montar elencos e de aproveitar o melhor das características dos atletas. Emerson Leão soube fazer isso no passado. Foimuito bem no Santos e no próprio São Paulo.
De qualquer forma, para quem defende a necessidade do “choque”, deixo duas perguntas. Qual a motivação de contratar um técnico que a própria direção diz que não deve ficar mais do que até o final deste ano? Se a intenção é mexer com os jogadores acomodados, que condição moral um sujeito com data marcada para sair terá?
Sobre Dagoberto, que dizem ter um pré-contrato assinado com o Inter, para onde iria em abril de 2012, quando se encerra o vínculo com o Tricolor, é melhor sair já no fim deste ano. E que tenha boa sorte no sul. Dentro de campo, tem algum talento – longe do que pensa ter – mas é descompromissado, individualista e pouco decisivo. Como ser humano, pelo que mostrou em algumas oportunidades, tenho dúvidas. Não foram poucas as vezes que esbravejou na mídia contra técnicos e elenco, posando de vítima ou transferindo responsabilidades. Até mesmo de Muricy Ramalho, que muito o ajudou em 2007, na chegada do atacante ao Morumbi, reclamou, sempre usando câmeras e microfones. Se o acerto com o Colorado for fato, vai tarde.