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quarta-feira, abril 22, 2015

'Até que era bom!'

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Voltando de táxi para casa, comentei no celular alguma coisa sobre Taquaritinga, cidade paulista onde nasci. O taxista reagiu de imediato, para meu espanto:

- Taquaritinga?!? Eu conheço. Peguei um trem pra lá quando eu era mendigo.

Reparem na informação adicional (o grifo é meu): "quando eu era mendigo". O que me levou, inevitavelmente, a dar corda na conversa:

- Perdão, como é o nome do senhor?

- Juraci. Mas todo mundo me conhece como Pai Velho.

- O senhor foi mendigo?

- Ah, eu morava na fazenda do meu pai, em Mato Grosso, e me juntei com uma mulher, tive filhos. Daí eu larguei ela e meu pai ficou bravo, me xingou, me esculhambou, disse um monte de coisa na minha cabeça. Fiquei doido com isso e fugi de lá, me mandei aqui pra São Paulo, sem dinheiro nenhum. Procurei trabalho, mas não arranjei. Daí, fui morar na rua.

- E o trem que o senhor pegou para Taquaritinga?

- Naquela época, isso tem uns 20 anos ou bem mais, o governo deixava os mendigos pegar um trem pro interior do Estado, sem pagar. Eu peguei o trem na Estação da Luz e desci lá em Taquaritinga. Botaram a gente numa cocheira. Era Natal, daí, à noite, levaram pra gente um monte de carne assada, um monte de comida. Foi aquela fartura!

- O senhor passou muito tempo lá?

- Tentei arrumar trabalho, mas também não consegui. Daí, fui a pé pra Jaboticabal, a cidade ao lado. Cheguei lá com uma fome lascada. Quando tava subindo uma ladeira, uma mulher me parou e perguntou se eu tava com fome. Respondi que sim e ela falou que a prefeitura dava comida para os bóias-frias, numa praça. Fui correndo. E tinha aqueles tarmborzões, cheios de comida. Deram leite, um monte de coisa. Depois fui a pé pra Araraquara.

- Nossa! É muito mais estrada do que de Taquaritinga pra Jaboticabal.

- É, sim. Fui me embrenhando por uma estrada de terra, no meio das fazendas. Lembro que tava com uma sede danada, de madrugada, e pulei uma cerca pra ir beber água numa lagoa. Veio um cachorro bravo e saiu correndo atrás de mim. Eu pulei a cerca de volta e quase fui atropelado por um carro. O cachorro fugiu e o motorista me deu carona só por um pedacinho, depois voltei a andar até Araraquara. Mas lá, de novo, não arrumei emprego. Tentei pegar o trem de passageiro de volta pra São Paulo e não deixaram. Porque o governo dava passagem de graça pros mendigos irem pro interior, mas pra voltar não dava, não! Aí, tentei subir escondido num trem de carga, mas me pegaram. Só quando consegui arrumar dinheiro, pedindo, paguei e consegui voltar pra São Paulo. E voltei a morar na rua.

- Que história... E aqui na capital, morava onde?

- Era maloqueiro, muito doido (risos). Morava lá no centrão, no Parque Dom Pedro II, debaixo das passarelas, viadutos. Fiquei oito anos nessa vida.

- Não era muito perigoso?

- Às vezes, sim. Uma vez eu tava meio dormindo e notei que um outro vinha chegando devagar pro meu lado, pra tentar roubar meu garrafão de pinga. Dei uma carreira nele e voltei a cochilar. Dali a pouco, acho que foi por Jesus, abri um pouco o olho e vi o cara voltando, com uma baita de uma pedra pra jogar na minha cabeça. Só tive tempo de virar a cabeça e a pedra afundou no chão. Corri atrás do infeliz e quebrei ele no cacete. Mas tive que ir dormir em outro lugar. Só que, na maior parte do tempo, é tranquilo. Você fica lá, dormindo e bebendo. De vez em quando vem médico perguntar como é que você tá. E todo mundo dá comida. São Paulo tem esse monte de maloqueiro porque aqui dão muita comida.

- E como o senhor saiu daquela vida?

- Um dia contei minha história pra um policial e ele me ajudou. Conseguir tirar meus documentos de novo e fui procurar emprego. Entrei em contato com a família, meu pai me deu uma bronca. 'Tu é muito doido, meu filho! Pra quê fazer isso?' Eu sou muito doido, mesmo (risos). Meu pai morreu e deixou um dinheiro, que a família dividiu. Com minha parte comprei esse carro pra trabalhar de taxista e um apartamentozinho. Moro lá com uma mulher que conheci na rua, era mendiga também. Meus irmãos ainda tocam a fazenda que era do meu pai, lá no Mato Grosso, e uma vez por ano me mandam um dinheirinho. Daí eu paro de trabalhar e passo uns dois meses só tomando cachaça! (risos) Minha mulher fica louca da vida! Bebo o dia inteiro, uns dois meses, e depois volto a trabalhar no táxi.

- É, sua vida progrediu. Nem eu tenho casa própria ou automóvel (risos). Hoje o senhor está bem melhor do que quando morava na rua, não?

- Olha, até que era bom! (o grifo, mais uma vez, é meu)

- Viver na rua? Era bom?!? Como assim?

- Eu não tinha preocupação com nada, não tava nem aí. Só dormia e bebia minha cachaça. Não gastava pra comer. Não tinha conta pra pagar, não tinha IPTU, não tinha televisão, não tinha internet, não tinha documento, não tinha telefone, não tinha nada dessas porcarias. Não tinha perturbação, azucrinação, de lado nenhum. Era só paz e sossego. De vez em quando me dá até uma saudade (risos). Mas eu também não tô nem aí pra nada, não. Quando quero, paro de trabalhar e bebo muita cachaça. Eu sou doido! Quem já morou na rua não liga pra mais nada, não dá importância pra nada nesse mundo.

- É justo.

Foi a última coisa que eu disse, antes de pagar, descer e me despedir. E ainda está ecoando nos meus ouvidos: "Até que era bom!" Realmente, nada funciona e tudo está fora de controle. E o sentido da vida é mesmo arrumar encrenca... pra tentar fugir dela!


sexta-feira, abril 17, 2015

Cerveja do Japão rejuvenesce a pele

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Boa pra pele: 5% de álcool é jogo!
Nos tempos em que os gastos dos brasileiros com beleza beiram os R$ 60 bilhões (comprovando que a crise econômica está mesmo assolando o país), uma notícia alvissareira para os que se preocupam com a pele, as rugas e os pés-de-galinha: a empresa Suntory, do Japão, criou uma cerveja que rejuvenesce a pele. De acordo com materinha do site Correio - O que a Bahia quer saber, cada latinha dessa breja oriental, batizada "Precious" ("Preciosa"), possui 5% de concentração alcoólica e - supostamente - tem 2 gramas de colágeno purificado. Prossegue o texto: "O colágeno é uma proteína que a pele usa para fornecer ‘estrutura’, firmeza e textura. Quanto mais jovem, mais colágeno uma pessoa tem. Ao envelhecer, as taxas vão diminuindo e aparecem as primeiras rugas" - e o bom desse blogue, como diriam os camaradas Anselmo e Glauco, é que a gente aprende. Para os interessados (e interessadas) mais afoitos, a notícia adverte que a cerveja antirruga está sendo vendida apenas  na cidade japonesa de Hokkaido. E o mais importante: a Suntory ainda não divulgou detalhes sobre a eficácia do produto e a absorção da proteína pelo corpo. Veja o vídeo da cerveja (em japonês):



LEIA TAMBÉM:



quinta-feira, abril 16, 2015

Tipos de cerveja 81 - As Lambic-Unblended

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Pode ser considerado como o tipo mais "puro" das Lambic (afinal, se blend é "mistura", unblended é "sem mistura"). Raramente comercializadas, sua degustação só é possível junto dos produtores de Lambics, que realizam provas de cervejas e visitas guiadas às suas explorações. "Um dos poucos casos que conheço de uma Unblended comercializada vem da firma Cantillon. E que excelente exemplar: a Cantillon 1900 Bruocsella Grand Cru", afirma Bruno Aquino, do site parceiro Cervejas do Mundo. As Unblended são muito suscetíveis e, por isso, suas características podem variar de barril para barril (mesmo que estejam lado a lado!). Também são envelhecidas, para reduzir a sua natural acidez. Há produtores que gostam de misturar frutas, para as tornarem mais apetecíveis - algo que o camarada Glauco repele com veemência. Assim, algumas Lambic-Unblendeds ficam com sabores próximos das cidras e do vinho branco, sendo quase nula a presença de lúpulo. Podem variar entre 3% e 6% de teor alcoólico. Se alguém conseguir a proeza de encontrar algumas delas para experimentar, ficam as sugestões da Cantillon Jonge Lambic Cognac, Iron Hill Lambic e De Cam Oude Lambiek (foto).


quarta-feira, abril 08, 2015

Conhecendo os dois, terminou em cachaça...

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Em foto postada há pouco na página oficial de Lula no Feicibúqui, o time de deputados constituintes de 1988 antes de uma pelada em Brasília. Aécio Neves está agachado bem em frente ao Barba, que, de braços levantados, sinaliza o número de caixas de cerveja necessárias para o pós-arranca-toco.


Som na caixa, manguaça! - Volume 85

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LÁ SE VAI O CAMPEONATO


Domingo, chegou o grande dia
Meu time nas finais, uma tarde de alegria
No boteco, com os camaradas
A cerveja lidera a invasão da arquibancada!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

Nossa torcida cumpre seu papel
Cantamos e cantamos, nosso time lá no céu
A defesa é como uma muralha
Nosso ataque corta como uma navalha!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O jogo segue empatado
O adversário luta e por isso é respeitado
E então um pênalti é marcado
Vamos ao deliro, chacoalhamos o estádio!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

A tensão congela nossas almas
E o nosso atacante corre para a bola
O nervosismo estampado nos seus olhos
O chute muito alto e a bola vai pra fora!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O empate não é nosso resultado
Um pênalti perdido, lá se vai o campeonato!
A raiva nos toma o coração
Queremos quebrar tudo, mas beber é a opção

Olê!Olê!Olê!Olê!.....

Cantando, vamos para o bar
Lembrar as nossas glórias, a mágoa afogar
Apesar da alegria, ninguém pôde esquecer
Que o maldito campeonato, acabamos de perder!

(Do CD "Canções de batalha", gravadora TRREB, 2004)




quarta-feira, abril 01, 2015

'Liberdade é ter na mente, eternamente, éter na mente'

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Realmente, muitos confundem o meu comportamento brincalhão, as minhas maluquices, com o consumo de drogas ou coisas semelhantes. É uma tremenda bobeira. Não consumo drogas e o que gosto mesmo é de uma cachaça. Aliás, o baiano, de modo geral, gosta de uma boa birita. Creia, malandro: é birita, mesmo.”
Raul Seixas, em entrevista ao jornalista Reynivaldo Brito, publicada pelo jornal A Tarde, da Bahia, em 10 de outubro de 1978

P.S.: Há controvérsias (sobre ser "só" birita). Em seu blog, Reynivaldo revelou, em 2010: "Encontrei o Raul Seixas numa manhã no início do mês de outubro de 1978 num dos apartamentos do Salvador Praia Hotel, em Ondina. (..) Quando chegamos ao hotel, ele mandou que eu e o fotógrafo fóssemos até o apartamento onde se hospedara. Lá chegando, o encontramos envolto em um longo lençol branco a fazer caretas e poses estranhas. Estava tomado pelo vício e, ao lado, pude ver uma garrafa vazia de éter".

ÉTER: foto feita por Lázaro Torres no dia da entrevista de Reynivaldo Brito

CIRROSE: no 'retiro' baiano, Raul 'meditava' em frente ao Elevador Lacerda

* A frase que dá título ao post estava pichada num muro em Sobral (CE), em 2003.






terça-feira, março 31, 2015

Tipos de cerveja 80 - As Lambic-Gueuze

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De acordo com o site português (e parceiro) Cervejas do Mundo, a Gueuze é uma lambic tradicional, feita a partir da mistura de lambics novas com velhas e sem a adição de fruta. As mais velhas têm um caráter refinado, o que ajuda a retirar alguma aspereza às lambics novas, assegurando também que não se irá sentir nenhum sabor indesejado, fruto da fermentação espontânea característica desse tipo de cerveja. Na sua maioria são filtradas e algumas chegam a ser pasteurizadas. Após o engarrafamento, podem passar por um período de envelhecimento que, em algumas marcas, chega a até 3 anos. "Acima de tudo, as Gueuze são estruturalmente muito complexas, secas e únicas, podendo os melhores exemplos deste estilo ombrear com um bom champanhe sem qualquer tipo de vergonha!", garante Bruno Aquino, responsável pelo site Cervejas do Mundo. Para experimentar, ele recomenda a Oud Beersel Oude Geuze, a Drie Fonteinen Oude Geuze (foto) ou a Cantillon Goldackerl Gueuze.

quinta-feira, março 19, 2015

O bom da Wikipedia é que a gente 'aprende'

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Na versão espanhola da Wikipedia, a definição de "Café frio":



Tradução: "O café frio é uma variante fria do café bebido normalmente quente."

DEPOIS O BÊBADO SOU EU!


Leia também:

Nada é tão óbvio que não possa ser redundante




Cerveja sim, mata-mata não!

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Neste país, todo avanço parece estar condicionado a algum retrocesso, e  vice-versa. Vejamos: a comissão de clubes formada recentemente para debater a volta do sistema mata-mata (retrocesso) no Campeonato Brasileiro discutirá também a retomada da venda de cerveja nos estádios (avanço). Assim como, há pouco mais de uma década, tivemos a adoção do sistema de pontos corridos (avanço) e, como contrapartida, a proibição da venda de goró nos estádios (retrocesso). Ou seja, a gente  muda para depois voltar a ser tudo como antes. Bonito isso.


sexta-feira, março 13, 2015

O futebol encaretou

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Será que a Itaipava levou Sheik a parar de beber?
No programa Globo Esporte de hoje, da famigerada "Vênus Platinada", o atacante corintiano Emerson Sheik fez questão de declarar (o grifo é meu): "Festa nunca mais! Eu tomava minha cerveja, mas já estou há dois meses sem beber" (leia aqui). Uma frase na medida para ficar "de boa" com a torcida - a mesma que, há cerca de um ano e meio, reagiu furiosamente depois da postagem de uma foto em que o jogador dava uma "bitoca" num amigo, episódio que colaborou decisivamente para que fosse emprestado ao Botafogo-RJ no ano passado. De volta ao Corinthians, Sheik recuperou a confiança do técnico Tite, apesar de causar alguma dor de cabeça à diretoria, como quando chega atrasado aos treinos. Porém, mesmo assim, vem apresentando um bom futebol neste início de temporada. E esse é o cerne da questão: o que importa se o jogador bebe ou não a sua cervejinha nas horas de folga? Sou daquela opinião de que, se o cabra corresponder em campo, ninguém tem nada com sua vida pessoal. Mas hoje, com as torcidas organizadas patrulhando "baladas" noturnas (e a imprensa esportiva dando cada vez mais espaço pra esse tipo de pauta "revista Contigo"), os jogadores procuram passar a imagem de "bons moços". Dando declarações como a de Emerson Sheik ao Globo Esporte, por exemplo.

Sócrates, nos tempos de jogador, brindando cerveja
Coisas como essa me levam a pensar no quanto o futebol encaretou de uns 20 ou 30 anos pra cá. Quando eu era moleque, nenhum dos grandes craques escondia que tomava sua cervejinha - e, quando apareciam na TV fazendo churrasco ou roda de samba, todos ostentavam um copinho na mão. Como o Júnior, do Flamengo, o palmeirense César Maluco, o sãopaulino/santista Serginho Chulapa, o Careca (que conta que bebeu com os torcedores logo após a conquista do Brasileirão de 86), sem falar no Renato Gaúcho, Romário & cia. ilimitada. Mas o ícone máximo, neste "quesito", era mesmo o Doutor Sócrates, "guru informal" e sintético do Futepoca. Tá certo que o Magrão, a exemplo de outros casos tristes como os do Canhoteiro e do Garrincha, sucumbiu ao alcoolismo e morreu disso, depois de parar de jogar. Mas, nos seus tempos de Corinthians e de seleção brasileira, nunca deixou de corresponder em campo, mesmo mantendo o hábito de beber e fumar - e publicamente, à vontade, em qualquer situação. Por isso mesmo, ao contrário dos jogadores de hoje, tinha a coragem de peitar todo tipo de patrulha, da torcida e da imprensa. "Não querem que eu beba, fume ou pense? Pois eu bebo, fumo e penso. Fui para a avenida brincar, bebi direitinho. Não fico me escondendo para fazer as coisas", afirmou, à revista Placar, logo após o Carnaval de 1986. Prestem atenção: "bebo e penso". Ah, bons tempos! Velhos tempos, saudosos tempos...


quinta-feira, março 12, 2015

Tipos de cerveja 79 - As lambic-fruit

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Na maior parte das vezes apenas designada por lambic (sem o fruit), esse tipo de cerveja é muito peculiar, não só pelo processo de fabricação como pelo fato de ser um dos mais antigos e mais complexos ainda hoje em produção. À cerveja inicial são adicionadas frutas inteiras depois da fermentação espontânea ter começado. A fermentação é feita com microorganismos encontrados nas caves (recintos resfriados) onde estas cervejas são produzidas, sendo que as fábricas estão, em sua maioria, nos arredores da capital da Bélgica, Bruxelas. Conta-se que as caves que albergam lambics nunca são limpas, para não alterar o equilíbrio dos bolores, tão essenciais ao processo de desenvolvimento da cerveja. Posteriormente ao início do processo de fermentação, as lambics são envelhecidas em barris de madeira por períodos que vão de um ano até três. Quanto à fruta utilizada, as mais comuns são as krieks (cerejas), framboise (framboesas), pêche (pêssego) e cassis (groselhas pretas), apesar deexistirem muitas novas marcas que utilizam frutos exóticos. Relativamente ao sabor, para ojeriza total e absoluta do camarada Glauco, o destaque vai, obviamente, para a fruta, notando-se pouco o sabor do malte ou do lúpulo. Para desespero de todos os futepoquenses e simpatizantes da causa, o nível de álcool das lambic gueuze também é baixo, não ultrapassando, em geral, os 5%. De acordo com o site português Cervejas do Mundo, as lambics feitas pelo método tradicional são designadas por Oud, sendo mais ácidas do que as lambics mais novas, mais viradas para as vendas e por isso mais doces e balanceadas. Para experimentar, o site recomenta a Cantillon Lou Pepe Pure Kriek (foto), a Drie Fonteinen Schaerbeekse Kriek ou a Girardin Framboise.


segunda-feira, março 09, 2015

Sim, o consumo exagerado de álcool mata. Mas falta discutir (e tolher) a propaganda de bebidas

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Depois que um rapaz de 23 anos morreu após ingerir cerca de 30 doses de vodca numa espécie de "gincana alcoólica" disputada entre repúblicas universitárias, o consumo excessivo de álcool entre os jovens voltou à pauta midiática. Como o tom das notícias, editoriais e opiniões é sempre meio acaciano (sim, óbvio: beber exageradamente mata, não importa a idade), o Estadão fuçou algum dado concreto para fugir da subjetividade e publicou, baseado em números do portal Datasus, que, no Brasil, "a cada 36 horas um jovem morre por intoxicação aguda por álcool ou de outra complicação decorrente do consumo exagerado de bebida alcoólica". Tal cálculo baseia-se no último levantamento disponível, de 2012, quando ocorreram 242 mortes na faixa etária dos 20 aos 29 anos "por transtornos por causa do uso do álcool", conforme definido na Classificação Internacional de Doenças (CID).

Mas o dado mais interessante da reportagem talvez seja o fato de que, segundo o Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Inpad/Unifesp), entre os brasileiros que consomem álcool, o hábito chamado de "beber em binge" [ou "beber pesado episódico], quando há ingestão de pelo menos cinco doses de bebida em um período de duas horas, cresceu de 45%, em 2006, para 59%, em 2012. De acordo com o psiquiatra Jerônimo da Silva (leia aqui), um drinque - ou uma dose - seria o equivalente a uma lata de cerveja (350 mililitros) ou a uma taça de vinho (150 ml) ou a uma dose de destilado (50 ml). "Esse abuso ['beber em binge'] é mais comum entre jovens, porue nessa faixa etária é realmente mais difícil controlar os impulsos", disse, ao Estadão, Clarice Madruga, pesquisadora do Inpad/Unifesp.

E ela acrescentou: "É preciso que o poder público intervenha na venda de bebida". Tudo bem, concordo que é responsabilidade do governo (principalmente o federal) impor limites no comércio de bebida alcoólica. Porém, como sabemos que o poder público, atualmente, é muitas vezes refém do poder econômico (desde o financiamento privado de campanhas eleitorais até a pressão exercida para estabilização ou desestabilização da economia do país, dependendo dos interesses), fica difícil imaginar que consiga se impor contra um setor tão lucrativo do mercado. Segundo o jornal Correio Braziliense, "o Brasil é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, e a produção cresce a uma taxa média de 5% ao ano. O segmento cervejeiro responde por 80% do mercado de bebidas alcoólicas, com faturamento anual de R$ 70 bilhões. Recolhe R$ 21 bilhões em impostos por ano e paga R$ 28 bilhões em salários para um universo de 2,7 milhões de empregados em mais de 200 fábricas".

Essa mesma notícia confirma o a supremacia do setor privado sobre o público, pois aponta que "o Brasil perde hoje, com os problemas decorrentes do álcool, 4,5 vezes mais do que o faturamento da indústria das bebidas alcoólicas, enquanto o alcoolismo suga o equivalente a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB), pequenos e grandes grupos do setor movimentam, juntos, 1,6% de todas as riquezas produzidas no país". Ora, então está claro que o governo e a população "que se danem", o que interessa é lucrar! Se a situação chegou a esse ponto de prejuízo social, e o governo se mostra "de mãos atadas", fica explícito que o mercado é quem dá as cartas nesse jogo. Assim sendo, resta-nos a velha "política de redução de danos". Se não dá pra cercear a venda, podemos reivindicar então maior controle na propaganda de bebida alcoólica, que é um verdadeiro "vale-tudo" no Brasil.

No artigo “Propaganda de álcool e associação ao consumo de cerveja por adolescentes”, publicado na edição de junho da Revista da Saúde Pública, os pesquisadores mostram os resultados do estudo que interrogou 1.115 estudantes, do 7º e 8º anos de escolas públicas de São Bernardo do Campo (SP): a maioria dos jovens afirmou que se identifica com o marketing da indústria de bebidas, pois (o grifo é meu) "os comerciais parecem refletir situações de suas vidas". Segundo o artigo, essa similaridade faz os adolescentes classificarem a mensagem recebida como "verdadeira", como exemplifica uma das opções mais marcadas no questionário (o grifo é meu): "as festas que eu frequento parecem com as dos comerciais". E mais: segundo o estudo, a noção de fidelidade à marca, exposta constantemente nas propagandas de cerveja (a bebida mais consumida no país), tem um "impacto essencial para a ingestão de álcool precocemente".

De fato, as propagandas de cerveja costumam mostrar sempre um ambiente de muita alegria, muita brincadeira, muita paquera, muita gente "bonita" e sorridente - e MUITA bebida. Procuram convencer o consumidor de que quem não bebe - ou bebe pouco - está automaticamente "excluído" da "turma", do grupo "bacana", "popular" e que "curte a vida adoidado". Mesmo quando os problemas decorrentes do álcool são abordados nessas propagandas - ressaca, amnésia, briga de casal e besteiras cometidas tipicamente por bêbados -, o clima é de gozação, de palhaçada, de algo risível. Nunca censurável. Ou seja, se até "dar vexame" ou "fazer merda" é engraçado, isso é mais um motivo para entrar para a "turma", para "encher a cara", para não ter limites ao beber. Pode parecer besteira, mas acho que subestimamos o poder e o alcance da propaganda e da televisão. Os mesmos telejornais que noticiaram a morte do rapaz de 23 anos que ingeriu 30 doses de vodca exibiram, no intervalo comercial, propagandas divertidas e estimulantes de bebidas alcoólicas.

Nunca é demais lembrar: canal de TV é concessão. Propaganda de bebida alcoólica (e de cigarro) deve ser assunto prioritário no debate de saúde pública. E deve, sim, ser tolhida.


Som na caixa, manguaça! - Volume 83

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O DIA QUE O DIABO ROUBOU O BAR DO PORTUGUÊS
(Arnaud Rodrigues/ Renato Piau)

ARNAUD RODRIGUES


Mil novecentos e sessenta e oito
Corria um boato de arrepiar
Contavam que um nego com um 38
Roubou 50 contos do Mané do bar

E deu no calcanhar
E deu no calcanhar

O nego foi pro morro, se escondeu num canto
Havia um pai de santo naquele lugar
O nego disfarçou e se escondeu no manto
E disse que era ogan e pôs-se a batucar

Pôs-se a batucar
Pôs-se a batucar

O dono do terreiro fez descer um santo
E começou um ponto para Iemanjá
O nego, que era ateu, já foi ficando branco
Cuspindo labareda, querendo agradar

Querendo agradar
Querendo agradar

O português custou mas chegou no recinto
O nego, vendo aquilo, disse: - Saravá!
E vendo o português com um canhão no cinto
A pólvora subiu, ele sumiu no ar

E até hoje Mané jura
Mané diz: - Foi o diabo que roubou o bar!

E até hoje Mané jura
Mané diz: - Foi o diabo que roubou o bar!


(Do LP "Som do Paulinho", RCA, 1976)



terça-feira, março 03, 2015

O fim da longa estrada da vida

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José Rico e seu estilo único, inconfundível
Morreu hoje um dos meus maiores ídolos: José Alves dos Santos, o JOSÉ RICO, da famosa dupla com Milionário (Romeu Januário de Matos). Com 68 anos, não resistiu a uma parada cardíaca, depois de ter sido internado ontem, em Americana (SP), ao passar mal durante uma partida de futebol (aliás, o gosto dele por esse esporte ia muito além de disputar "peladas": chegou a construir uma mansão no formato da Taça Jules Rimet). Zé Rico é o autor de um dos maiores hinos populares do país: "Estrada da vida", que virou até filme, em 1981, no auge da fama da dupla, batizada como "Os Gargantas de Ouro do Brasil". Naquela época, Milionário e José Rico fizeram shows no México, no Japão e na China. Ainda hoje, mesmo quem não gosta de música caipira (ou sertaneja), já deve ter ouvido em algum lugar, pelo menos uma vez, os versos: "Nesta longa estrada da vida/ Vou correndo e não posso parar/ Na esperança de ser campeão/ Alcançando o primeiro lugar". Pra quem insistir em dizer que não conhece, segue a gravação original desse clássico:


Pelo menos para mim, um caipira do interior de São Paulo (mais precisamente de Taquaritinga, região de Ribeirão Preto), essa e muitas outras gravações da dupla estão eternamente fixadas nas memórias mais longínquas da minha infância, com a profusão de cornetas mexicanas como pano de fundo para os gritos do Zé Rico - "Ui-ui-ui! Farrúpa!  Zuuummm! Alôôôô! Uuuuiiiii! Rí-rí-rí!" - e os "provérbios" que ele costumava "declamar" no meio das músicas, segurando um dos ouvidos com a mão: "É isso aí, amigo! Enquanto você descansa, a gente carrega mais um caminhão de pedra!". Digam o que quiserem, mas Zé Rico foi uma das figuras mais originais e peculiares do nosso cenário artístico, um personagem único, algo comparável a Raul Seixas - e comparável mesmo, pois a dupla com Milionário possui uma legião de milhões de fanáticos por todo o Brasil. Como o Emerson Pereira, meu amigo dos tempos de faculdade, com quem eu costumava fazer o dueto de "Taça da amargura", música que batizou a república de estudantes onde morávamos:


Me lembro também de uma festa numa quitinete onde morei, em Ribeirão Preto, aos 18 anos, em que o vinil "Volume 4" de Milionário e José Rico era um dos únicos disponíveis, e tocou a madrugada inteira na pequena sonata de plástico, embalando os casais que já se agarravam (mesmo os que tinham preconceito contra a dupla). Pra mim, apesar de não gostar de música sertaneja, Zé Rico está acima de qualquer preferência ou preconceito. É um dos "puros", dos "autênticos", imune a rótulos e desdéns. Numa entrevista ao site Clube Sertanejo, ele resumiu as origens da dupla: "Eu sou nordestino, nasci no sertão pernambucano [em São José do Belmonte], me criei no cantinho do Norte do Paraná, na cidade de Terra Rica, onde recebi o nome de José Rico. Aí, vim pra São Paulo, encontrei com Romeu, formamos a dupla e começou a luta". Luta que rendeu fama, dinheiro e sucessos estrondosos. Minha gravação preferida, que tocou naquela noite em Ribeirão, é essa:


É emblemático - e nada gratuito - o Zé Rico falar em "luta", pois, pela origem, pelo nome e pelo apelido, trata-se de um legítimo BRASILEIRO, um Garrincha da música. Um gênio - ainda que incompreendido por muitos que defendem o temível e subjetivo "bom gosto". E termino esse post (triste pelo Zé Rico, e com a certeza de que derrubarei um gole de cachaça pra ele), reproduzindo mais um trecho da citada entrevista ao site Clube Sertanejo (o grifo é meu): "Nós tivemos a sorte e felicidade de, quando praticamente não se vendia disco, ultrapassar as expectativas. E hoje é mais difícil, através de outros intercâmbios. Mas dá pra ir tocando. Mais uma vez, eu afirmo: aqueles que se dedicaram com respeito e amor permanecem". JOSÉ RICO PERMANECERÁ. "Farrúpa! Zuuuuuummmmm..."



LEIA:

Enterro de José Rico reúne multidão e causa tumulto em Americana (SP)


P.S.1: Só pra acrescentar a tag "Política" ao post, vídeo recente do José Rico:


P.S.2: E a tag "Futebol" se justifica também por este outro vídeo, de 31/12/2014:




sexta-feira, fevereiro 27, 2015

'Raul bebia pra não saber que tava nessa merda toda'

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Raul internado: morte precoce aos 44 anos
Depois que instalaram uma TV que acessa o Youtube (sem merchan, por favor) lá em casa, desisti de vez de assistir os canais abertos ou pagos e mergulhei nos milhões de vídeos postados por internautas. Numa dessas, trombei com uma entrevista do Plínio, irmão único - e mais novo - do finado Raul Seixas. Ao ser questionado sobre o que teria levado o "Maluco Beleza" a tal ponto de alcoolismo, que o matou aos 44 anos, Plínio resume (o grifo é meu): "Raul tinha uma mágoa enorme com o ridículo, com a mesmice, com a idiotice que tá por aí - e que ainda tá, e que tá até pior. É bom que ele nem esteja mais [aqui]. Porque piorou bastante de lá pra cá, né. (...) Eu não quero falar muito, não, porque eu sou um pouco do lado dele nessas coisas. Mas Raul bebeu também porque... ele era meio tedioso, já, com isso. Isso aqui já não tava mais legal pra ele. Como ele disse: 'Enquanto vocês tão com as cercas do quintal, assento a sombra sonora de um disco voador'. Ele tava além disso tudo, das fronteiras, dos países, das cercas que separam quintais. [A música] 'Ouro de tolo' diz bastante a ideia da cabeça dele. Ele tá muito além disso tudo. Ele não era pra tá aqui. Ele bebia pra esquecer, pra não saber que tava aqui nessa merda toda."


Raul com o vaidoso conterrâneo Caetano
Em outro trecho da mesma entrevista, Plínio afirma que a música "Meu amigo Pedro", um dos maiores "hinos" do raulseixismo, foi feita pra ele - embora haja a especulação de que o "mago" Paulo Coelho, co-autor da canção, tenha direcionado a letra para seu pai, Pedro Queima Coelho. De qualquer forma, registrei acima a opinião de Plínio Seixas sobre o motivo do alcoolismo de Raul porque coincide com um depoimento do Chico Buarque ao jornal espanhol La Vanguardia, de 2005, que recuperei aqui no blog outro dia (o grifo é meu): "Eu nunca vi um movimento geral de idiotice como o de hoje. Já vivemos quase duas décadas de idiotice globalizada. A idiotice nos rodeia, eu mesmo tenho medo de ficar idiota". Pois é. Difícil imaginar Raul Seixas num mundo de Big Brother, Luciano Huck, carnaxé, funk ostentação, sertanejo universitário, coxinhas, anonymous, redes (anti)sociais etc etc etc. Nesse mundo em que todo mundo se leva muito a sério, que "se acha". Como vovó já dizia, em "As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor", "Acredite que eu não tenho nada a ver/ Com a linha evolutiva da Música Popular Brasileira" - tirando um sarro do conterrâneo baiano Caetano Veloso, que sempre se levou MUITO a sério - tanto que deu o título de "VERDADE tropical" para sua autobiografia, quando mais parece uma "VAIDADE tropical"...

Enquanto Caetano olha para o próprio umbigo, Raul preferia fazer careta no espelho

E como "É fim do mês", termino esse post com os versos de outra obra-prima raulseixista que tem esse título, e que tem tudo a ver com a tal idiotice ressaltada pelo Plínio e pelo Chico (os grifos são meus): "Mas não achei!/ Eu procurei!/ Pra você ver que procurei/ Eu procurei fumar cigarro Hollywood/ Que a televisão me diz que é o cigarro do sucesso/ Eu sou sucesso!/ Eu sou sucesso!/ (...)/ Eu consultei e acreditei no velho papo do tal psiquiatra/ Que te ensina como é que você vive alegremente/ Acomodado e conformado de pagar tudo calado/ Ser bancário ou empregado sem jamais se aborrecer". Um brinde ao grande Raul. Porque eu também já não quero mais nem saber que tô aqui, nessa merda toda...



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quarta-feira, fevereiro 25, 2015

A ciência do óbvio ataca outra vez: álcool é mais letal que maconha

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Estudo recentemente publicado na Scientific Reports, subsidiária da revista Nature, aponta que o álcool é 144 vezes mais letal que a maconha. A pesquisa procurou quantificar o risco de morte associado ao uso de várias substâncias tóxicas e os cientistas descobriram que, de longe, a maconha é a droga "mais segura". No lugar de focar a contagem de morte, como outros estudos, os autores do relatório compararam doses letais de cada substância com a quantidade que uma pessoa comum usa. 


 Ao elencar as drogas mais mortais, a maconha apareceu no final da lista, enquanto álcool, heroína, cocaína e tabaco lideram. A maconha era a única que representava um risco de mortalidade baixo entre os usuários, apesar de não ser inexistente - e agora é, de fato, "mais segura do que o álcool". A pesquisa da Scientific Reports aparece logo após a polícia do Colorado, primeiro estado americano a legalizar a droga, dizer que em um ano tudo está bem e o trabalho policial passou praticamente inalterado.


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sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Tipos de cerveja 78 - As lambic-faro

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Não, cachaceiro, não é alambique. É lambic. Um tipo de cerveja fabricado tradicionalmente pela região de Pajottenland, na Bélgica, que surgiu através da Chapeau Banana, uma cerveja ale da cervejaria De Troch (de acordo com o que está escrito aqui). Já a lambic-faro é uma mistura de lambics à qual é adicionado açúcar, de modo a que se torne mais leve, doce e saborosa. Podem ser "condimentadas" com pimenta ou casca de laranja, apesar destes gêneros não terem grande aceitação. Para total ojeriza do camarada Glauco, tornam-se demasiado doces, pelo que se aconselha a servi-las bem frescas e acompanhadas com algo salgado. Pode-se dizer que é mais um aperitivo do que propriamente uma cerveja. Para experimentar, o site português Cervejas do Mundo recomenda a Drie Fonteinen Faro, a Cantillon Faro (foto) ou a Lindemans Faro.

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

'Bebidas espirituosas'

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O 3º volume da coleção 'Terra Brasilis'
Em que pese ter sido escrito por Eduardo Bueno, aquele que recentemente chamou a região Nordeste de "bosta", o livro "Capitães do Brasil - A saga dos primeiros colonizadores" é um dos três volumes de uma coleção publicada pela Editora Objetiva, no fim do século passado, que teve o mérito inegável de recontar e detalhar os primórdios da História brasileira sob uma ótica menos mítica/acadêmica e mais "humanizada", por assim dizer, perseguindo informações e provas documentais com rigor "jornalístico". A linguagem menos empolada/mais acessível utilizada pelo autor também colaborou para o sucesso popular dessas obras, pertencentes ao chamado "revisionismo histórico" - que, a partir daquela época, motivou centenas de publicações interessantes no país.

Marco de Touros, exposto em Natal
Pois bem, ao conhecer, no início deste mês, o Marco de Touros, exposto no Forte dos Reis Magos, em Natal (RN), me interessei pela tese de um pesquisador local de que Pedro Álvares Cabral talvez não tenha descoberto o Brasil em Porto Seguro (BA). Desde então, tenho lido e relido vários textos e livros sobre o primeiro século de colonização do nosso território. Um deles é exatamente "Capitães do Brasil", o único dos três títulos da Coleção Terra Brasilis que eu ainda não tinha lido (os outros são "A viagem do descobrimento" e "Náufragos, traficantes e degredados"). Neste último volume, Bueno trata sobre os interesses de Portugal ao decidir colonizar o Brasil 30 anos após a descoberta, a divisão em capitanias hereditárias, o destino de cada uma delas e as venturas e desventuras dos doze donatários daquelas terras.

Manguaça Vasco Fernandes Coutinho
Um deles foi Vasco Fernandes Coutinho, fidalgo português presenteado pelo rei Dom João III com a 11ª capitania das 15 demarcadas horizontalmente de Norte a Sul na nova colônia, a do Espírito Santo. Depois de tomar posse da gigantesca porção de terra em 1535 (cada capitania tinha cerca de 350 km de largura, dimensões similares às das maiores nações europeias), Coutinho decidiu regressar à Portugal quatro anos depois, em busca de algum sócio que topasse investir em expedições para procurar ouro e prata no interior do Brasil. Porém, ao partir para Lisboa, o donatário deixou no comando da capitania o degredado D. Jorge de Meneses, conhecido por "homem de Maluco". Não à toa: investido do cargo, quebrou acordo com os índios Goitacás e invadiu seu território. Foi morto a flechadas.

Mapa de Vila Velha do século XVI
Outro degredado, D. Simão de Castelo Branco, assumiu o posto vago. Em vão: ainda furiosos, os Goitacás não só o assassinaram como trucidaram a maioria dos colonos europeus, além de invadir e destruir o povoado que existia onde hoje está a cidade de Vila Velha. A notícia da tragédia demorou alguns anos para atravessar o oceano e, por isso, Vasco Coutinho a ignorava quando voltou ao Brasil. O pior foi que, além de desinformado, o donatário tomou uma atitude absurda ao fazer uma escala na capitania de Porto Seguro: levou consigo, para o Espírito Santo, um bando de degredados que havia fugido da cadeia de Ilhéus, depois de ter capturado e saqueado um navio. Um dos piratas era francês, e dar abrigo a ele era algo impensável numa época em que Portugal combatia com armas os frequentes saques da França no Brasil.

Gravura de índio 'bebendo fumo'
Com a ajuda dos degredados e de colonos remanescentes, Coutinho fundou um novo povoado, chamado Vila Nova (ao lado de onde antes existia a destruída Vila Velha) e, em 1551, derrotou os Goitacás - motivo pelo qual a Vila foi rebatizada como Vitória, cidade que hoje é a capital do atual Estado do Espírito Santo. Porém, os degredados, piratas e bandidos aos quais o donatário tinha se aliado se tornaram problema muito maior do que os indígenas, e a capitania caiu em desordem incontrolável. Para complicar a situação, segundo Francisco de Varnhagen, um dos primeiros historiadores brasileiros no século XIX, Vasco Coutinho "acabou por dedicar-se com excesso às bebidas espirituosas e até se acostumou com os índios a fumar, ou a beber fumo, como então se chamava a esse hábito, que naquele tempo serviu de compendiar até onde o tinha levado sua devassidão".

Estátua de Pero Fernandes Sardinha
Curiosa a denominação "bebidas espirituosas", quando em língua inglesa o goró é popularmente chamado de spirit, pois considera-se que o consumo de bebida alcoólica "altera o espírito", causando mudanças físicas e mentais. Voltando ao "dono" da capitania do Espírito Santo, seus vícios o fizeram sofrer uma série de humilhações públicas, infringidas pelo primeiro bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha. De acordo com relato do então governador-geral da colônia, D. Duarte da Costa, Vasco Coutinho chegou a Salvador em 1555 "velho, pobre e cansado, bem injuriado do Bispo, que lhe tolhera a cadeira das espaldas e apregoara por excomunhão, por sua mistura com homens baixos e por seu hábito de beber fumo (...); e o Bispo dissera dele no púlpito coisas tão descorteses, estando ele presente, que o puseram em condição de se perder". Era o princípio do fim do fidalgo-manguaça.

O governador-geral Mem de Sá
Em 1558, outra vez cercado pelos Goitacás e sem qualquer respeito dos colonos ou controle na administração da capitania, Coutinho escreveu para o novo governador-geral, Mém de Sá, pedindo dinheiro e dizendo-se "velho, doente e aleijado". Apesar de mandar reforços, Sá escreveu para o rei sugerindo: "Parece que V. Alteza devia tomar esta terra a Vasco Fernandes e dar aos homens ricos que para cá querem vir". De acordo com o livro de Bueno, em 1561, "depois de gastados muitos mil cruzados que trouxera da Índia, e muito patrimônio que tinha em Portugal", Vasco Coutinho "acabou seus dias tão pobremente que chegou a pedir que lhe dessem de comer por amor de Deus, e não sei se teve um lençol com que o amortalhassem". Consta ainda que sua mulher e filhos acabaram seus dias desamparados, num hospital de caridade. E o território do Espírito Santo permaneceu por muito tempo abandonado, abrigando fugitivos e piratas.

A 'Medalha Vasco Fernandes Coutinho'
Mais de quatro séculos depois, Vasco Coutinho continua causando polêmica. Em 1962, a Polícia Militar do Espírito Santo criou uma medalha com seu nome, para "celebrar a colonização do solo" local - e "homenagear", no dia 23 de maio (alusão à data de desembarque de Coutinho em  1535), políticos, militares, empresários e "otoridades"/"celebridades" do gênero. Na edição de 2013, o dramaturgo Wilson Coêlho recusou-se a recebê-la, justificando: "Me parece estúpida a ideia de comemorar a colonização, principalmente quando significa eu assumir o papel de colonizado como um 'bom moço' entre os colonizados. Nesse processo de colonização, Vasco Fernandes Coutinho simboliza o genocídio, o assassinato cultural dos povos originários (Aimorés, Botocudos e Puris), a expansão do território europeu, o roubo e a exploração do trabalho escravo" (leia a íntegra de sua carta aqui). Apropriado ponto final nesse post.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

No tempo em que as propagandas eram compreensivas

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“Sr. jornalista. Sua tarefa é árdua  cansativa e exige máximo esforço mental. Quando o calor deixa-o desanimado, abatido, experimente esta receita simples e eficaz. Tome um gole de Coronel com gelo ou misture com Soda, Água Tônica, Coca-Cola ou mesmo água comum bem gelada, conforme o seu gosto e, sentirá, imediatamente, como esse drinque reanima, estimula e refresca. Pinga de luxo Coronel: puro ou misturado, sempre ao seu agrado”.
 
(Anúncio publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 25/11/1947)
 
 
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quarta-feira, janeiro 14, 2015

Alguma utilidade para o 'pau de selfie'

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Idiotice? Pausa para selfie ao fugir de touros
Há dez anos, Chico Buarque deu uma polêmica entrevista para o jornal espanhol "La Vanguardia" afirmando, com todas as letras: "Eu nunca vi um movimento geral de idiotice como o de hoje. Já vivemos quase duas décadas de idiotice globalizada. A idiotice nos rodeia, eu mesmo tenho medo de ficar idiota" (leia aqui tradução publicada pelo UOL). Lembrei dessas declarações quando um colega de trabalho narrou, estupefato, uma cena insólita presenciada por ele na estação Sé do metrô paulistano: uma menina que, na ânsia de fazer uma selfie com sua câmera fotográfica, foi caminhando de costas até despencar em uma escada. E todo esse desastre para tentar registrar na fotografia, atrás dela, a maravilhosa "paisagem" da parede de concreto da estação subterrânea...

Idiotice? Todos em busca da selfie 'perfeita'
Pois é. Umair Haque, num artigo para o site Papo de Homem publicado em outubro do ano passado, já observava: "Se toda a sua vida se resume à busca da Selfie Perfeita (...) – parabéns! Você é um honorável membro da Geração Idiota". E bota idiota nisso: tem (muita!) gente fazendo selfie com o rosto cheio de fita adesiva e outros usando até raio-X (!). O pior é que essa "honorável" geração agrega bilhões de adeptos, e, inevitavelmente, a Grande Indústria se apressou em colocar sua prancha para surfar na nova onda consumista. A "mania" do momento é o chamado "pau de selfie", haste de metal acoplada à câmera que permite aos idio..., digo, aos "auto-fotografáveis", maior liberdade para produzirem suas "obras de arte". De acordo com a Folha de S.Paulo, o "imprescindível" acessório é "campeão de vendas" no país neste verão...

Idiotice? Não basta fazer selfie, tem que tatuar
Buenas, mas não para por aí. Como somos regidos pela Lei de Murphy, tudo o que é ruim sempre pode ficar pior. Assim, o selfie "evoluiu" para o belfie - a "auto-fotografia" da bunda (!!). É sério! E o que aconteceu depois disso? Bingo: a Grande Indústria criou o belfie stick, ou seja, o "pau de selfie" para fotografar a bunda (!!!). Pois é... Chico Buarque, pra variar, tinha (muita) razão. Atualmente, selfie virou obrigação até em velório - e de parente que morreu em desastre, como fez a viúva do Eduardo Campos. Porém, como a única maneira de escapar de tanta "tecnologia" é fugir para o meio do mato, onde não exista energia elétrica nem sinal de internet ou de celular (e isso está ficando praticamente impossível), temos que nos adaptar aos novos tempos. Por isso, para todos os manguaças e simpatizantes que leem o Futepoca, compartilho a sugestão destes dois bêbados para dar alguma utilidade ao famigerado "pau de selfie":

Idiotice? Pelo menos o manguaça pode descansar a cabeça enquanto bebe 'só mais uma'...