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José Serra e Maria Helena de Castro |
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O 2º volume escrito por Lira Neto |
A 'Polaca', Constituição de 1937 |
O texto abaixo é de autoria de Paulo Reis, foi publicado no Trilha da Rua, e faz parte da campanha Futebol sem Racismo.
Os recentes casos de racismo do futebol nos mostram uma coisa muito
importante: devemos abandonar essa expressão racismo no futebol, como se
esse fosse apartado da sociedade, com sua própria maneira de funcionar e
independente dos valores compartilhados pela sociedade.
Não comentaremos apenas os casos de racismo, há outros itens que
demonstram a intolerância e as diferenças simbólicas que o futebol
carrega. Tentaremos de maneira bem corrida traçar algumas
características do futebol hoje que parecem correspondentes à sociedade.
Embora falar apenas dos casos de racismo não seja o foco desse post,
vamos apenas situar os mais recentes. Vai vendo. No dia 16 de fevereiro,
no jogo entre Real Garcilaso e Cruzeiro pela Libertadores, o volante
Tinga do time brasileiro foi alvo de provocações racistas: a cada
instante em que Tinga pegava na bola, a torcida imitava o som de um
macaco. Dentro algumas declarações, Tinga disse que “Trocaria um título
pela igualdade entre raças e classes e respeito” e que “as pessoas
[falaram] do que aconteceu lá, mas isso tem todo dia. No nosso país tem
muito, não só (preconceito) racial, mas social, que acho que é até
maior”.
No último dia 6 de março, após apitar o jogo entre Esportivo e
Veranópolis pelo Campeonato Gaúcho, o arbitro Márcio Chagas da Silva
encontrou bananas no seu carro e as portas amassadas. O arbitro disse
que também ouviu xingamentos e ofensas como “macaco”, “teu lugar é na
selva” e “volta para o circo” na entrada do gramado do jogo e durante o
intervalo.
Na goleada do Santos contra o Mogi Mirim por 5 a 2 pelo Campeonato
Paulista, o volante Arouca do Peixe foi chamado de macaco pelos
torcedores do Mogi. Em nota, o atleta disse: “Tenho muito orgulho das
minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me
ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para
jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender
a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da
história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como
Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de
‘macaco’ que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente
acontecido, é ainda mais triste.”
Esses casos são sintomáticos. É incrível como pode haver um
preconceito tão violento. Não devemos aceitar esse quadro, ainda mais
porque houve discriminação nos limiares do futebol também. O futebol
brasileiro iniciou-se quando o brasileiro de ascendência inglesa Charles
Miller, que inclusive batiza a praça do lado do Estádio do Pacaembu,
trouxe uma bola para cá e introduziu o “football” aqui. De lá para cá, o
futebol passou por uma série de transformações. E não apenas em
táticas, uniformes e tecnologia. O futebol era um esporte praticado pela
elite brasileira. Caberia aqui tratarmos da fundação dos times mais
tradicionais desse Brasilzão, mas isso seria interessante em um outro
post.
Quem praticava o futebol eram homens, brancos e proprietários. Não
haviam pobres, ainda mais negros nos times. O primeiro mulato a se
destacar foi Arthur Friedenreich, chamado de El Tigre, no Paulistano. Em
alguns times, houve resistência a inclusão de negros. O Fluminense
tinha um jogador negro, mas ele tinha que passar pó de arroz antes dos
jogos. A torcida começou a reparar, já que ele suava e podia-se ver o pó
saindo de seu rosto. Não é consenso qual o primeiro time a aceitar
negros.
Há quem diga que foi o Vasco da Gama, em 1923, sagrando-se
campeão carioca com um time talentoso. Há quem diga que foi a Ponte
Preta, que teve Miguel do Carmo, um dos fundadores da Ponte, como
jogador da mesma no ano seguinte à fundação (1901). Em seguida, na
década de 30 houve a profissionalização do futebol e consequentemente
uma maior abertura para que os jovens talentos do Brasil,
independentemente de sua origem e cor, pudesse ter chance de ser um
jogador de futebol. Muitas limitações ainda permanecem no futebol. Não
podemos esquecer que no Sudeste/Sul, os times de futebol têm mais
estrutura e mais recursos. O que corresponde a força econômica de alguns
estados brasileiros. O que, por sua vez, corresponde a condição dos
jovens tentarem a vida nesse esporte. Disso podemos dizer que há uma
elitização no futebol, no sentido de que os times considerados grandes
entram numa competição com muito mais vantagens que os times
considerados menores.
Mas e hoje? Analisando de modo até amador da minha parte, a
profissionalização não quebrou muito com esse quadro de preconceito. Há
uma série de itens que correspondem à lógicas de pensamento e valores
que estão introjetados na nossa sociedade e até são sutilizados. Todo o
jornalismo esportivo criticou os casos recentes de racismo, colocando-o
como abomináveis e algo que não deve existir em nosso tempo. Seguindo
uma lógica que preza pela igualdade entre as raças, é certo condenar o
racismo mesmo. Mas o racismo que é condenado aí é o explicito. É curioso
que na grande imprensa brasileira (quase) não se tenha jornalistas
esportivos negros. É curioso contarmos nos dedos os repórteres e âncoras
negros, não apenas do jornalismo esportivo, mas dele como um todo. Ou
seja, o racismo é condenável, mas ainda vivemos em uma sociedade
considerada racista, onde modos implícitos e sutis de preconceito racial
estão diluídos no nosso cotidiano.
Um segundo movimento disso tudo foi uma mobilização por parte da
Federação Paulista de Futebol contra o racismo. Mais especificamente no
jogo Corinthians x São Paulo, onde havia uma faixa dizendo “O Futebol
Paulista repudia o racismo”, a torcida corinthiana provocava a torcida
tricolor chamando o goleiro Rogério de “bicha”, além das provocações já
de praxe com apelo sexual. Não é contraditório? A partir do momento que a
orientação sexual passa a ser objeto de chacota/desgosto/ódio,
independente de quem for o objeto de “xingamento” (aqui com todas as
aspas possíveis), o discurso contra o preconceito foi pro beleleu.
Sejamos contra o preconceito racial, mas não contra o preconceito de
orientação sexual. Só um adendo: isso é uma “sutileza” em termos de
preconceito homofóbico no futebol. Vale ressaltar outros itens aqui. O
jogador Richarlyson, quando jogava no São Paulo, foi chamado, de modo
sutil, de homossexual por um cartola do Palmeiras. Depois de todo um
embrólio, o caso foi parar no tribunal, onde foi arquivado pelo juiz
Manoel Maximiano Junqueira Filho, já que, nas palavras dele, o futebol é
“jogo viril, varonil e não homossexual”. Além também de Cassano, na
Eurocopa de 2012, onde o jogador italiano, perguntado sobre a
possibilidade de haver um jogador gay no selecionado italiano, disse que
“Se eles são “frocio” (termo vulgar em italiano para se referir a
gays), o problema é deles. Eu espero que não exista qualquer “frocio” na
seleção. Mas se eles são isso, é com eles. Não sei se existe alguém.
Deixo assim, caso contrário, já sabem, virão os ataques de todas as
partes”. Isso foi em junho. Em abril daquele ano, o técnico da seleção
italiana Cesare Prandelli colocou que “No futebol e no esporte ainda
existe um tabu sobre a homossexualidade, quando as pessoas deveriam
viver livres de acordo com seus próprios desejos e sentimentos. Quando
falamos de amor e sentimentos, o povo deveria poder amar quem quisesse”.
Outro ponto é talvez o menos sensível às pessoas. Quando se fala do
próprio racismo, ou mais recentemente de entrega de jogo, o discurso
segue a mesma tônica: “somos homens, temos caráter, somos honestos!”.
Percebam que esse discurso, de modo inconsciente, provavelmente, associa
caráter e honestidade ao fato de ser homem. Não fica explicito que uma
mulher não seja assim, mas fica implícito que são valores compartilhados
entre os homens. Pode até parecer viagem, mas é incrível como o uso da
palavra em determinado discurso exclui/inclui as pessoas. Vale ressaltar
que a mulher vem ganhando uma presença cada vez maior na vida política,
econômica, social e esportiva da sociedade. Embora não haja tanto
destaque midiático, o futebol feminino vem crescendo muito. Vez ou outra
podemos ver jogos das seleções, mas os jogos de clubes não. Em nome da
tradição, ainda estamos muito presos ao calendário do futebol masculino.
Soma-se a isso o fato dos patrocinadores primarem mais pela modalidade
considerada oficial. Além também da presença da mulher na arbitragem, no
jornalismo esportivo e em outras esferas. Elas também manjam muito. Não
deve haver o determinismo que diz que por ser mulher não deve saber de
futebol. Se pá elas manjam de futebol, NHL, UFC e Hokey muito mais que
você que é homem e tá lendo isso.
Enfim, a questão é que, embora algumas dessas coisas pareçam que só
são explícitas, brincadeira pra provocar rival, entre outros, são formas
de preconceitos, mas são sutis. Ao rebater o racismo não devemos usar o
argumento do que o maior jogador de todos os tempos era negro. Porque
mesmo se fosse bisonho, grosso, péssimo jogador, Pelé mereceria respeito
simplesmente por ser uma pessoa. Ao nos declarar contra o preconceito,
devemos perceber como gestos e práticas legitimam ainda mais a
diferenciação entre as pessoas. Disso fica a resposta da pergunta: o
futebol é um termômetro da sociedade. Tudo que foi dito não faz parte de
casos isolados, mas sim de toda uma lógica e uma estrutura de
pensamento e de vida.
Fontes:
http://globoesporte.globo.com/platb/memoriaec/2011/03/23/a-contribuicao-do-vasco-para-o-integracao-racial-e-social-no-futebol/
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,arouca-e-chamado-de-macaco-apos-goleada-do-santos-em-mogi-mirim,1138189,0.htm
http://globoesporte.globo.com/futebol/eurocopa/noticia/2012/06/cassano-aquece-polemica-sobre-jogadores-gays-na-selecao-italiana.html
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Até o macaco sentado no ombro do Huck sabe que ele é chapa do Aécio e do Barbosão |
O texto abaixo originalmente diz respeito à realidade do futebol espanhol, mas é possível perceber que suas análises também podem ser estendidas para a modalidade de uma forma geral. Em muitos casos, a semelhança das mazelas de lá com as de cá são incríveis, e de modo algum são meras coincidências.
(Miguel Ruiz-FCB) |
Di Stéfano: sem comemorar gols de pênalti |
Para a Fifa de Blatter, importa o tamanho dos lucros |
Estou com dificuldades para escrever o que quer que seja sobre essa nota da Polícia Militar de Goiás sobre a prisão de um acusado de tentar furtar dois CD's. Deixo o texto e o link, para provar a veracidade do fato.
"Um homem foi preso hoje (11/02/14), por volta das 14:36, na Livraria Saraiva, situada no piso 03 do Shopping Flambyant. De acordo com informações repassadas por policiais militares que chegaram ao local para fazer a condução do suspeito, Cxxxx Cxxxx Pxxxxxx Axxxx (06/02/75), de 39 anos, tentou sair do estabelecimento acima citado com dois discos da cantora norte americana Beyoncé. O suspeito escondeu os produtos em uma sacolinha do Bretas mas foi surpreendido pelo segurança quando tentou deixar a loja sem pagar pelo produto. Contudo a escolha do produto não foi aleatória. O suspeito disse que é dançarino e por isso queria se apropriar do objeto. Um dos policiais militares que está encaminhando o suspeito para a delegacia comentou que Cxxxx Cxxxx realmente dança muito bem, e que o talento que lhe faltou na habilidade de subtrair objetos sobrou na dança. O certo é que Cxxxx Cxxxx será agora encaminhado ao 8º DP e, caso fique preso, terá que dançar na cadeia. Mais informações com Soldado Melquisedeque: 9628-xxxx."
Gomez e Nicolaiewski em ação (Ramiro Furquim/Sul21) |
Nicolaiewsky ao piano (Raul Krebs/Divulgação) |
O ano é de amplas movimentações político-eleitorais, com pleito nacional e estaduais no calendário. Em tempos de mídias sociais, há quem espere um acirramento da tensão virtual assistida em 2010. Ainda mais no contexto pós-protestos de junho de 2013, de #nãovaitercopa e, porque não, de rolezinhos organizados por celebridades locais que não precisaram das mídias de massa convencionais para alcançar milhões em audiência.
Mas e se a novidade do ano não for bem essa?
No reino da palpitologia, uma iniciativa do primeiro ministro da Turquia traz uma estratégia, no
mínimo, divertida.Por não poder participar de convenção partidária, armou uma alternativa digna de ficção científica.Políticos têm, comumente, egos de proporções avantajadas. Não por acaso, o ilustre Recep Tayyip Erdogan foi substituído por um holograma gigante em seu lugar.
Antes dele, consta que o indiano Narendra Modi usou artimanha correlata no país do subcontinente asiático para ganhar atenção. Trocadilho fácil é dizer que essa visibilidade pode ser meio ilusória.
A presença holográfica seria novidade no Brasil no âmbito da política. E representaria uma tentativa de superar o trauma da manobra que levou Renato Russo a tocar em Brasília post mortem -- quebrando uma promessa feita em vida pelo músico, de não voltar a desempenhar em público na capital federal.
Quebra de promessa e campanha eleitoral é outra piada fácil que fica no ar.
O making of está no Youtube. Para quem quiser praticar turco, é uma oportunidade. Para os demais, só dá pra entender algo perto de "hologram".
Biggs, na época do crime famoso |
Tabuleiro que está no museu |
Biggs e Mike, o filho brasileiro |
Compacto dos Pistols gravado no Brasil |
Bebendo, no clipe dos alemães |
Drake: 'queridinho' da realeza |
Na TV, Tarcísio Meira atuou como o Capitão |
"- Capitão...
Rodrigo voltou os olhos para o padre.
- Vosmecê é um soldado, não é?
- E vosmecê é um padre...
- Espere, estou falando sério. Como militar vosmecê sabe que num batalhão tem de haver disciplina, o soldado tem de obedecer ao seu superior.
- Naturalmente.
- Desde que o mundo é mundo sempre houve os que mandam e os que obedecem, um servo e um senhor. O mais moço obedece ao mais velho...
- Isso depende...
- Deixe-me terminar. O filho obedece ao pai, a mulher obedece ao marido. Se as coisas não fossem assim o mundo seria uma desordem...
- Mas quem foi que lhe disse que o mundo não é uma desordem?
(...)
- Capitão, vosmecê não é religioso?
- Não. Religião nunca me fez falta.
- Há pessoas que só se lembram da Virgem quando troveja.
- Quando troveja me lembro do meu poncho.
(...)
- Vosmecê já pensou no que lhe pode acontecer depois da morte?
- Não.
- Não tem medo de ir para o inferno?
Rodrigo cruzou as pernas, atirou o busto para trás e recostou-se contra a porta da capela.
- Padre, ouvi dizer que no céu não tem jogo nem bebida nem carreiras nem baile nem mulher. Se é assim, prefiro ir pro inferno. Além disso, as tais pessoas que todo mundo diz que vão pro céu por serem direitas e sem pecado são a gente mais aborrecida que tenho encontrado em toda a minha vida. Tenho conhecido muito patife simpático, muito pecador bom companheiro. Se eles vão para o inferno, é para lá mesmo que eu quero ir.
(...)
- Mas vosmecê nunca pensa em Deus?
- Uma vez que outra.
- Não reconhece que Ele fez o mundo e todas as pessoas que há no mundo?
- Se Deus fez o mundo e as pessoas, Ele já nos largou, arrependido.
- Não diga tamanho absurdo! Se Ele tivesse largado, tudo andava de pernas para o ar.
- E não anda?
(...)
- Nunca aprendi nenhuma reza nem me habituei a ir à igreja.
- Mas ainda tem tempo. Nunca é tarde, meu filho.
- Qual! Há certas coisas que a gente ou aprende quando é menino ou nunca mais. Mas, pra lê ser franco, não tenho sentido falta de igreja nem de reza nem de santo.
- Nem na hora do perigo?
- Pois na hora do perigo mesmo é que não penso nessas coisas.
- Paciência. Pode ser que um dia vosmecê mude. Deus é grande.
- E o mato é maior, padre. É o que esses caboclos aprendem na luta dura desde pequeninos. Não podem confiar em Deus e ficar parados. Quem fizer isso acaba degolado ou furado de bala. Às vezes o melhor recurso é ganhar o mato. A gente não pode estranhar que essa gente pense assim. Foi a vida que ensinou...
- Deus escreve direito por linhas tortas.
Rodrigo abriu a boca num bocejo cantado e depois disse:
- Mas o diabo é que ninguém sabe ler o que Ele escreve.
(...)
Rodrigo apanhou um seixo, fez pontaria numa árvore e arremessou-o, errando o alvo.
- Se eu fosse dono do mundo, fazia algumas mudanças...
- Por exemplo... - pediu o padre.
- Acabava com essa história de trabalhar...
- Sim, e depois?
- Fazia os filhos virem ao mundo de outro jeito. Eu vi o que a Bibiana sofreu. É medonho.
O vigário sorria. Aquelas palavras, partidas dum egoísta, não deixavam de ter seu valor.
- E depois?
- Dividia essas grandes sesmarias de homens como o coronel Amaral.
- Dividia? Como? Pra quê?
- Dividia e dava um pedaço pra cada peão, pra cada índio, pra cada negro.
- Não vá me dizer que ia libertar os escravos...
- E por que não? Acabava com a escravatura imediatamente.
(...)
- Ah! Eu ia m'esquecendo. Pra principiar, fazia o mundo mais pequeno, pra gente poder atravessar todo ele a cavalo, sem levar muito tempo.
- E como é que vosmecê ia se arranjar, indo dum país pra outro sem conhecer outra língua senão a sua?
- Eu acabava com esse negócio de línguas diferentes... Rodrigo fez uma pausa e ficou pensativo.
- Que mais?
- Acabava também com a velhice.
- Acabava?
- Quero dizer, ninguém envelhecia mais...
- Nem morria?
- Morrer... morria. Mas se morria era de desastre, nos duelos, nas guerras.
(...)
Rodrigo desabotoou a camisa e puxou-a para fora das bombachas. Sentia calor. Não havia a menor viração na noite cálida.
- Conheci muitos padres por esse mundo velho que tenho corrido. Eles nunca estão contra o governo.
- A Igreja não é revolucionária - exclamou o vigário. - A Igreja não é lugar de conspirações. Ela representa o poder espiritual, que está acima, muito acima do temporal.
- Não me venha com essas palavras difíceis, padre, que eu não entendo. Fale claro. Temporal pra mim é mau tempo. Mas, falando sério, amigo Lara, cá pra nós, no maior segredo, vosmecês nunca se arriscam a ir contra o governo, não é mesmo?
O padre rosnou alguma coisa ininteligível. Depois sua voz se fez clara e ele murmurou:
- Não é a Igreja que está com o governo. É o governo que está com a Igreja.
- Aha! - e a gargalhada de Rodrigo encheu aquele pedaço da noite que parecia envolver a casa. - Quando nós brigamos com os castelhanos, nossas bandeiras e nossas espadas eram benzidas aqui pelos padres católicos. E os padres católicos lá da Banda Oriental faziam o mesmo com as bandeiras e as espadas dos castelhanos. Como é que se explica isso?
- Isso prova que a Igreja Católica é universal. Está acima das paixões e dos interesses dos homens, que são todos iguais perante Deus.
- Iguais? Até os negros?
O padre teve um levíssimo instante de hesitação - não porque considerasse os negros animais, mas porque lhe passou pela cabeça uma dúvida quanto à maneira como o outro podia usar sua resposta.
- Até os negros, claro.
- Então por que é que vosmecê nunca protestou contra a escravatura?
O padre mexeu-se, tomado de mal-estar. Nessas ocasiões ele sentia mais agudamente que nunca aquele fogo no peito.
- Os escravos nesta província são muito mais bem tratados que em qualquer outra parte do Brasil! Eu queria que vosmecê visse como os senhores de engenho tratam os negros lá no Norte.
- Eu sei, mas vosmecê não respondeu à minha pergunta... Será que Deus não fez os homens iguais?
- Mas tem de haver categorias para haver ordem e respeito. - Usou uma palavra grande para esmagar o outro. - Tem de haver hierarquia. No fim de contas esse foi o mundo que nós encontramos ao nascer, capitão. Não podemos mudar tudo de repente.
Ia acrescentar: 'Um dia essas mudanças hão de fazer-se'. Mas achou melhor calar-se. As paredes tinham ouvidos."
Abaixo, trechos da entrevista concedida pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a Cristiane Agostine, do jornal Valor Econômico, publicada no dia 12:
Para Haddad, comunicação e publicidade são iguais (Foto Henrique Boney) |
'I wanna hold the sickle and the hammer' |
Pôster dos quatro rapazes de Leningrado |
Lembre-se: 'She loves you, yeah,yeah,yeah!' |
'Nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle' |
Jefferson em 2005 e hoje: delação levou à prisão, mas ele parece tranquilo e satisfeito |