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quarta-feira, abril 16, 2014

Projeto principal da oposição: contra os trabalhadores

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Armínio e Aécio: pelo mínimo mais mínimo
"O salário mínimo está muito alto." A afirmação do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (nos tempos bicudos de FHC) e escolhido pelo candidato tucano à presidente Aécio Neves como seu futuro ministro da Fazenda, não chega a surpreender. Fora o fato de que fornece uma oportuna lenha para a imprensa queimar e jogar fumaça sobre a notícia de que o governo federal projeta valor de R$ 780 para o mínimo a partir de 2015, um aumento nada desprezível de 7,7% sobre os R$ 724 atuais, a declaração apenas corrobora o único projeto nítido, coeso e concreto da oposição brasileira: desmerecer, desacreditar e destruir toda e qualquer política voltada para os trabalhadores.

Campos e Jorge Bornhausen: a 'nova política'
Mês passado, o outro candidato de oposição, Eduardo Campos (PSB), já havia soltado - despudoradamente - outra pérola que faz côro com o economista preferido de Aécio Neves: "Não tem mais como crescer pela quantidade [de trabalhadores] no mercado de trabalho." Traduzindo: para Campos, parceiro de Marina Silva, o Brasil não pode basear seu crescimento econômico na geração de emprego (e renda). Detalhe: o absurdo mereceu o aplauso de alguns dos mais significativos "escudeiros" de sua campanha, gente do naipe do ultra-reacionário PFL-DEM Jorge Bornhausen, do "cristão novo" Heráclito Fortes e do tucanaço Pimenta da Veiga. Resumo da "nova política" anunciada pelos novos "salvadores da Pátria" Eduardo e Marina...

Aécio e Merval: convergentes
Ano passado, o camarada Glauco chamou a atenção, aqui neste blog, para o discurso do Merval Pereira, um dos baluartes do conservadorismo na mídia nacional, a respeito das manifestações das centrais sindicais durante os protestos de rua de junho (o grifo é nosso): "As reivindicações eram coisas muito específicas da classe trabalhadora." "Ou seja", concluiu o Glauco, "como o trabalhador, pelo silogismo mervaliano, não é 'povo', suas bandeiras não interessam ao resto da sociedade". Exato. Merval é símbolo da imprensa elitista que critica diuturnamente políticas como a progressiva valorização do salário mínimo (acertada por Lula com as centrais, em 2007) e a permanente geração de postos formais de emprego.

José Serra e Maria Helena de Castro
É um discurso que agora tem convergência entre os candidatos de oposição Aécio Neves (via Armínio Fraga) e Eduardo Campos, mas que é recorrente entre políticos e gestões conservadoras. Em 2007, o mesmo camarada Glauco reproduziu, no sarcástico post "Ganhar pouco é bom para o trabalhador", a estapafúrdia declaração da então secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, de que "não há uma relação direta entre salário e qualidade do ensino" - para "justificar" a mixaria paga pelo então governador José Serra aos professores (situação que se agravou decisivamente nas gestões do PSDB, com Mário Covas, Geraldo Alckmin e o próprio Serra). O trabalhador sempre ficou ostensivamente em último plano.

Pois é. Não é a toa que um certo partido apanhe tanto, desde quando surgiu, por se denominar "dos trabalhadores". Essa é, talvez, a bandeira mais ofensiva e perigosa para a classe dominante brasileira. E não foi a toa que a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, tenha afirmado recentemente, durante um evento em Porto Alegre: "Jamais enfrentamos a crise à custa do trabalhador." O "recado" confirma que o discurso, ou melhor, o projeto maior da oposição, é mesmo o de conter, castrar e "enquadrar" a classe trabalhadora. Seja afirmando que "o salário mínimo está muito alto" ou que o crescimento econômico não pode se basear na geração de empregos. Se você é trabalhador, já entendeu o que está em jogo.

sexta-feira, abril 11, 2014

Pois é. E eu sou abstêmio. Mas ninguém acredita...

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(Ps.: Pela data da declaração, nota-se que foi feita com uma semana de atraso.)

quarta-feira, abril 09, 2014

A origem do '171'

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O 2º volume escrito por Lira Neto
Lendo "Getúlio 1930-1945 - Do governo provisório à ditadura do Estado Novo", segundo dos três volumes biográficos de Vargas escrito pelo cearense Lira Neto (foto à direita), me deparei com uma curiosa "segunda explicação" para a nossa tradicional gíria "171", usada geralmente para designar alguma "enganação". A primeira explicação, e mais conhecida, é o fato de 171 ser o artigo do Código Penal que trata sobre estelionato (ou seja, crime de falsidade - ou "enganação"). O Código, válido ainda hoje, foi criado em 1940 e entrou em vigência em 1942. Porém, pode ser que o tal 171 da nossa gíria venha de outra legislação, anterior a essa: a Constituição Federal promulgada por Getúlio Vargas em novembro de 1937 e apelidada de "Polaca", por ter sido baseada na constituição autoritária vigente, à época, na Polônia. Diz o livro de Lira Neto (o grifo é nosso):

A 'Polaca', Constituição de 1937
"Se o artigo 78 da Polaca fosse levado em consideração, aquele 10 de novembro de 1943 seria o último dia de Getúlio no [Palácio do] Catete. A legislação em vigor previa que o mandato do presidente da República - que recomeçara a ser contado em 1937, com a instauração do Estado Novo - era de seis anos. Teria chegado a hora, portanto, de passar a faixa presidencial ao sucessor. Mas o artigo 171 da mesma Constituição estabelecia que, na vigência do estado de guerra, o presidente tinha a prerrogativa de suspender qualquer trecho da Carta Magna. Como o Brasil se encontrava oficialmente em luta contra o Eixo [na Segunda Guerra Mundial], Getúlio tornou sem validade o artigo que determinava a extensão de seu mandato e, sem ferir as regras estabelecidas, voltou a dilatar o próprio período de governo, que já se estendia por treze anos, iniciados em 1930."

Portanto, se em 1937 alguém atentou para a previsão de troca presidencial dali a seis anos (e não observou o tal artigo 171), deve ter se sentido ludibriado em novembro de 1943 - e essa "enganação" pode ter sido fixada no imaginário popular. O que poderia nos levar a crer que, antes de uma origem policial, a gíria "171" teria, na verdade, gênese política. Afinal, o cancelamento do fim mandato presidencial em 1943 não poderia ser considerado, em termos institucionais, uma espécie de "estelionato"? Pois é: mais uma engenhosa manobra política desse que passaria para a História como um "171" clássico e inveterado: Getúlio Vargas.

terça-feira, abril 01, 2014

José Serra, sempre pé quente...

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segunda-feira, março 31, 2014

Futebol: um termômetro da sociedade?

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O texto abaixo é de autoria de Paulo Reis, foi publicado no Trilha da Rua, e faz parte da campanha Futebol sem Racismo. 

Os recentes casos de racismo do futebol nos mostram uma coisa muito importante: devemos abandonar essa expressão racismo no futebol, como se esse fosse apartado da sociedade, com sua própria maneira de funcionar e independente dos valores compartilhados pela sociedade.

Não comentaremos apenas os casos de racismo, há outros itens que demonstram a intolerância e as diferenças simbólicas que o futebol carrega. Tentaremos de maneira bem corrida traçar algumas características do futebol hoje que parecem correspondentes à sociedade.

Embora falar apenas dos casos de racismo não seja o foco desse post, vamos apenas situar os mais recentes. Vai vendo. No dia 16 de fevereiro, no jogo entre Real Garcilaso e Cruzeiro pela Libertadores, o volante Tinga do time brasileiro foi alvo de provocações racistas: a cada instante em que Tinga pegava na bola, a torcida imitava o som de um macaco. Dentro algumas declarações, Tinga disse que “Trocaria um título pela igualdade entre raças e classes e respeito” e que “as pessoas [falaram] do que aconteceu lá, mas isso tem todo dia. No nosso país tem muito, não só (preconceito) racial, mas social, que acho que é até maior”.

No último dia 6 de março, após apitar o jogo entre Esportivo e Veranópolis pelo Campeonato Gaúcho, o arbitro Márcio Chagas da Silva encontrou bananas no seu carro e as portas amassadas. O arbitro disse que também ouviu xingamentos e ofensas como “macaco”, “teu lugar é na selva” e “volta para o circo” na entrada do gramado do jogo e durante o intervalo.

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Na goleada do Santos contra o Mogi Mirim por 5 a 2 pelo Campeonato Paulista, o volante Arouca do Peixe foi chamado de macaco pelos torcedores do Mogi. Em nota, o atleta disse: “Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de ‘macaco’ que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.”

Esses casos são sintomáticos. É incrível como pode haver um preconceito tão violento. Não devemos aceitar esse quadro, ainda mais porque houve discriminação nos limiares do futebol também. O futebol brasileiro iniciou-se quando o brasileiro de ascendência inglesa Charles Miller, que inclusive batiza a praça do lado do Estádio do Pacaembu, trouxe uma bola para cá e introduziu o “football” aqui. De lá para cá, o futebol passou por uma série de transformações. E não apenas em táticas, uniformes e tecnologia. O futebol era um esporte praticado pela elite brasileira. Caberia aqui tratarmos da fundação dos times mais tradicionais desse Brasilzão, mas isso seria interessante em um outro post.

Quem praticava o futebol eram homens, brancos e proprietários. Não haviam pobres, ainda mais negros nos times. O primeiro mulato a se destacar foi Arthur Friedenreich, chamado de El Tigre, no Paulistano. Em alguns times, houve resistência a inclusão de negros. O Fluminense tinha um jogador negro, mas ele tinha que passar pó de arroz antes dos jogos. A torcida começou a reparar, já que ele suava e podia-se ver o pó saindo de seu rosto. Não é consenso qual o primeiro time a aceitar negros.

Há quem diga que foi o Vasco da Gama, em 1923, sagrando-se campeão carioca com um time talentoso. Há quem diga que foi a Ponte Preta, que teve Miguel do Carmo, um dos fundadores da Ponte, como jogador da mesma no ano seguinte à fundação (1901). Em seguida, na década de 30 houve a profissionalização do futebol e consequentemente uma maior abertura para que os jovens talentos do Brasil, independentemente de sua origem e cor, pudesse ter chance de ser um jogador de futebol. Muitas limitações ainda permanecem no futebol. Não podemos esquecer que no Sudeste/Sul, os times de futebol têm mais estrutura e mais recursos. O que corresponde a força econômica de alguns estados brasileiros. O que, por sua vez, corresponde a condição dos jovens tentarem a vida nesse esporte. Disso podemos dizer que há uma elitização no futebol, no sentido de que os times considerados grandes entram numa competição com muito mais vantagens que os times considerados menores.

Mas e hoje? Analisando de modo até amador da minha parte, a profissionalização não quebrou muito com esse quadro de preconceito. Há uma série de itens que correspondem à lógicas de pensamento e valores que estão introjetados na nossa sociedade e até são sutilizados. Todo o jornalismo esportivo criticou os casos recentes de racismo, colocando-o como abomináveis e algo que não deve existir em nosso tempo. Seguindo uma lógica que preza pela igualdade entre as raças, é certo condenar o racismo mesmo. Mas o racismo que é condenado aí é o explicito. É curioso que na grande imprensa brasileira (quase) não se tenha jornalistas esportivos negros. É curioso contarmos nos dedos os repórteres e âncoras negros, não apenas do jornalismo esportivo, mas dele como um todo. Ou seja, o racismo é condenável, mas ainda vivemos em uma sociedade considerada racista, onde modos implícitos e sutis de preconceito racial estão diluídos no nosso cotidiano.

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Um segundo movimento disso tudo foi uma mobilização por parte da Federação Paulista de Futebol contra o racismo. Mais especificamente no jogo Corinthians x São Paulo, onde havia uma faixa dizendo “O Futebol Paulista repudia o racismo”, a torcida corinthiana provocava a torcida tricolor chamando o goleiro Rogério de “bicha”, além das provocações já de praxe com apelo sexual. Não é contraditório? A partir do momento que a orientação sexual passa a ser objeto de chacota/desgosto/ódio, independente de quem for o objeto de “xingamento” (aqui com todas as aspas possíveis), o discurso contra o preconceito foi pro beleleu. Sejamos contra o preconceito racial, mas não contra o preconceito de orientação sexual. Só um adendo: isso é uma “sutileza” em termos de preconceito homofóbico no futebol. Vale ressaltar outros itens aqui. O jogador Richarlyson, quando jogava no São Paulo, foi chamado, de modo sutil, de homossexual por um cartola do Palmeiras. Depois de todo um embrólio, o caso foi parar no tribunal, onde foi arquivado pelo juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, já que, nas palavras dele, o futebol é “jogo viril, varonil e não homossexual”. Além também de Cassano, na Eurocopa de 2012, onde o jogador italiano, perguntado sobre a possibilidade de haver um jogador gay no selecionado italiano, disse que “Se eles são “frocio” (termo vulgar em italiano para se referir a gays), o problema é deles. Eu espero que não exista qualquer “frocio” na seleção. Mas se eles são isso, é com eles. Não sei se existe alguém. Deixo assim, caso contrário, já sabem, virão os ataques de todas as partes”. Isso foi em junho. Em abril daquele ano, o técnico da seleção italiana Cesare Prandelli colocou que “No futebol e no esporte ainda existe um tabu sobre a homossexualidade, quando as pessoas deveriam viver livres de acordo com seus próprios desejos e sentimentos. Quando falamos de amor e sentimentos, o povo deveria poder amar quem quisesse”.

Outro ponto é talvez o menos sensível às pessoas. Quando se fala do próprio racismo, ou mais recentemente de entrega de jogo, o discurso segue a mesma tônica: “somos homens, temos caráter, somos honestos!”. Percebam que esse discurso, de modo inconsciente, provavelmente, associa caráter e honestidade ao fato de ser homem. Não fica explicito que uma mulher não seja assim, mas fica implícito que são valores compartilhados entre os homens. Pode até parecer viagem, mas é incrível como o uso da palavra em determinado discurso exclui/inclui as pessoas. Vale ressaltar que a mulher vem ganhando uma presença cada vez maior na vida política, econômica, social e esportiva da sociedade. Embora não haja tanto destaque midiático, o futebol feminino vem crescendo muito. Vez ou outra podemos ver jogos das seleções, mas os jogos de clubes não. Em nome da tradição, ainda estamos muito presos ao calendário do futebol masculino. Soma-se a isso o fato dos patrocinadores primarem mais pela modalidade considerada oficial. Além também da presença da mulher na arbitragem, no jornalismo esportivo e em outras esferas. Elas também manjam muito. Não deve haver o determinismo que diz que por ser mulher não deve saber de futebol. Se pá elas manjam de futebol, NHL, UFC e Hokey muito mais que você que é homem e tá lendo isso.

Enfim, a questão é que, embora algumas dessas coisas pareçam que só são explícitas, brincadeira pra provocar rival, entre outros, são formas de preconceitos, mas são sutis. Ao rebater o racismo não devemos usar o argumento do que o maior jogador de todos os tempos era negro. Porque mesmo se fosse bisonho, grosso, péssimo jogador, Pelé mereceria respeito simplesmente por ser uma pessoa. Ao nos declarar contra o preconceito, devemos perceber como gestos e práticas legitimam ainda mais a diferenciação entre as pessoas. Disso fica a resposta da pergunta: o futebol é um termômetro da sociedade. Tudo que foi dito não faz parte de casos isolados, mas sim de toda uma lógica e uma estrutura de pensamento e de vida.

Fontes: http://globoesporte.globo.com/platb/memoriaec/2011/03/23/a-contribuicao-do-vasco-para-o-integracao-racial-e-social-no-futebol/

http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,arouca-e-chamado-de-macaco-apos-goleada-do-santos-em-mogi-mirim,1138189,0.htm

http://globoesporte.globo.com/futebol/eurocopa/noticia/2012/06/cassano-aquece-polemica-sobre-jogadores-gays-na-selecao-italiana.html

quarta-feira, março 12, 2014

'Danonezinho'

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Aloísio, Muricy e Milton Cruz durante treino do São Paulo em Maceió
Que o Muricy Ramalho gosta de "molhar a palavra", não resta dúvida (vide episódio da caipirinha no seu acerto com o Santos ou o da cerveja durante as férias compulsórias após sair daquele clube). Por isso mesmo, o treinador vai aproveitar a passagem por Maceió, onde o São Paulo enfrenta o CSA hoje, em sua estreia na Copa do Brasil, para dar mais um tapa na goela. E seu companheiro de copo, dessa vez, será o folclórico centroavante Aloísio Chulapa, que apareceu no treino de ontem do Tricolor, na capital alagoana, para reencontrar o "patrão" Rogério Ceni e os ex-comandantes Muricy e Milton Cruz. Quem relata é o repórter Bruno Quaresma, do jornal Lance!:

Conversou com o Muricy?
Aloísio Chulapa - Quando saí [do São Paulo], ele me falou foi que quando viesse para Alagoas queria tomar um "danonezinho", que é cerveja com colarinho. Graças a Deus chegou essa oportunidade.


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Rogério Ceni, um fã e a placa do Bolsa Família: parecia propaganda
POST SCRIPTUM - Ainda sobre Aloísio Chulapa e a viagem do São Paulo à Alagoas, vi depois de fazer esse post que ele levou o Rogério Ceni para sua cidade natal, Atalaia, a 68 quilômetros de Maceió, para inaugurar uma escolinha de futebol. O curioso foi ver que, involuntariamente (óbvio!), o goleiro sãopaulino, que nutre notória e pública admiração pelo PSDB e por José Serra, posou para uma foto com uma placa gigante do Bolsa Família ao fundo. Para refrescar a memória, reproduzo declarações de Ceni e do político tucano sobre o programa do governo federal (que injetou R$ 2,1 bilhões na economia brasileira em fevereiro deste ano e que recentemente foi considerado "exemplo de erradicação de pobreza" pela ONU):

"A pessoa raciocina assim: eu tenho o Bolsa Família, o Bolsa Escola, isso me dá cento e tantos reais, então eu prefiro ficar em casa do que arriscar, do que ter que trabalhar. (...) Eu vejo isso como um fator determinante para o não crescimento do nosso país." (entrevista de Rogério Ceni ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 30/10/2006)

"Bolsa Família não é a solução. Ele estaciona. Para a pessoa subir na vida precisa mais do que isso. Não se fez inovação nenhuma." (entrevista de Serra à Rádio Metrópole, de Salvador, em 06/08/2013)

terça-feira, março 11, 2014

O programa 'social' que nossa elite escravocrata apoia:

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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Feito para você, reacionário

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A suposta agenda do banco Itaú: 'revolução' para designar o golpe militar de 64
Depois de ler que a agenda distribuída como brinde pelo banco Itaú traz, na página do dia 31 de março, o registro do "aniversário da revolução de 1964" (clique para ler aqui), vejo agora, também, que a referida publicação registra, no dia 25 de outubro, o "suicídio de Vladimir Herzog" (clique para ler aqui), jornalista que foi torturado e morto pelo regime militar. Não posso cravar que seja verdade, apesar de muita gente estar reproduzindo na internet a página sobre a "celebração" da "revolução" (foto acima). Procurei, mas não encontrei, a reprodução da página sobre o Herzog. Porém, se a tal agenda "sem noção" for mesmo verdadeira, podemos conjecturar que o Itaú, ao lançar o slogan "Feito para você", teria deliberadamente como alvo um público, no mínimo, "reacionário". Aliás, algumas notícias recentes - e outras nem tanto - sobre o banco dão ainda mais o que pensar sobre o assunto...

O Bope e o assédio moral
Senão, vejamos: em junho do ano passado, vazou uma acusação de que o Itaú teria contratado, no Rio de Janeiro, um oficial do temível Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) para uma palestra denominada "motivação". Segundo a denúncia, "o oficial do Bope enfatizou que os fracos não têm vez no mundo competitivo" (clique para ler aqui). Mais uma vez, concedamos ao banco o benefício da dúvida. Mas que há probabilidade de ter acontecido, ninguém duvida. Afinal, naquele mesmo mês de junho de 2013, a Justiça havia condenado o Itaú por "assédio moral organizacional" em São Bernardo do Campo (clique para ler aqui). Na sentença, o juiz disse que "o banco reclamado imputa carga de estresse aos seus empregados por conta, única e exclusiva, de adoção de política organizacional voltada, primordialmente, para o contingenciamento de custos".

Protesto contra o banco Itaú: campeão nacional de lucros e demissões em 2011
Lucro recorde e o 'amigo' Serra
Essa política de pressão extrema sobre os funcionários para conter gastos e superar metas teria levado o Itaú, em 2011, a ser o campeão de lucros e de demissões no país (clique para ler aqui). Só que o desempenho chamativo dos lucros da empresa não dependia só disso. Um exemplo de que as relações promíscuas entre público e privado rendem bons negócios foi que, em 2005, ao assumir a Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) obrigou 210 mil servidores público ativos e inativos a ter uma conta no Itaú, cancelando as que tinham no Banco do Brasil, Banespa/Santander e Caixa Econômica Federal. A Folha de S.Paulo salientou que foi "um dos negócios mais cobiçados do mercado financeiro", com movimentação anual, na época, de R$ 15 bilhões (clique para ler aqui). Se o valor manteve-se neste patamar, o "favor" movimentou R$ 120 bilhões de 2006 pra cá.

'Principal foco' era o PSDB
Digo favor porque, "curiosamente", como observou a própria Folha, "o Itaú foi um dos maiores doadores da campanha de Serra à prefeitura. O banco deu R$ 1 milhão dos R$ 14,8 milhões que o tucano declarou ao Tribunal Regional Eleitoral ter recebido em 2004". A "camaradagem" entre o banco e político, aliás, já era tradicional. Segundo o site UOL, em 2002, o Itaú "contribuiu com cerca de 5,4 milhões de reais" para campanhas eleitorais, mas o PSDB era o "principal foco": "Do volume das doações, um total de 2,2 milhões de reais foram dirigidos ao então candidato tucano à Presidência José Serra, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou 250 mil reais, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral" (clique para ler aqui). Em 2010, Serra voltaria a tentar a presidência da República e o Itaú-Unibanco seria novamente seu maior doador (clique para ler aqui), com R$ 4 milhões.

Roberto Setúbal, presidente do Itaú-Unibanco, e José Serra: 'camaradagens'
Da Redecard à Rede de Marina
Depois da derrocada política de Serra, que perdeu a presidência em 2010 e a prefeitura de São Paulo em 2012, o Itaú começou a ensaiar outra "aliança". Em fevereiro do ano passado, a herdeira do banco, Maria Alice 'Neca' Setúbal, "assinou o cheque para patrocinar a festa dada (...) no evento de lançamento do novo partido de Marina [Silva]" (clique para ler aqui), a Rede Sustentável - de oposição ao governo de Dilma Rousseff (PT). O tal partido terminaria tendo registro negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que obrigou Marina a aceitar ser vice na chapa de Eduardo Campos (PSB). Mas isso não impediu a família Setúbal de mudar o nome da empresa de cartões Redecard para Rede (clique para ler aqui). Sim, claro, é tudo "teoria petista da conspiração" etc etc. Assim como o fato de Luciano Huck, de notória ligação com Aécio Neves e Joaquim Barbosa (leia aqui e aqui), ser garoto-propaganda do Itaú...

Enfim, eu poderia até ter poupado tanto blablablá sobre a postura da empresa, na última década, se lembrasse que o partido político criado para dar sustentação à ditadura militar, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), tinha como uma de suas figuras principais o banqueiro Olavo Setúbal (1923-2008), o dono do Itaú, que foi prefeito "biônico" de São Paulo de 1975 a 1979 - nomeado, sem eleições, pelo então governador Paulo Egídio. Nada mais coerente, portanto, que a agenda distribuída aos clientes na gestão do atual presidente do banco, Roberto Setúbal, seu filho (irmão da já citada 'Neca', amiguinha de Marina Silva), celebre o aniversário da "revolução" de 1964 - e na data mentirosa de 31 de março. Não é a primeira grande empresa nacional que agrada os generais. Tempos atrás, a família Frias amenizou o feroz regime militar como "ditabranda". Mas eu ainda conservo o direito de me espantar.

Se o Itaú foi "feito para você", tenho certeza absoluta que esse "você" não sou eu. E registro meus sinceros sentimentos à família do Vlado Herzog, que, depois de tanto sofrimento, é aviltada publicamente mais uma vez.

Até o macaco sentado no ombro do Huck sabe que ele é chapa do Aécio e do Barbosão

domingo, fevereiro 16, 2014

Também nos roubaram o futebol

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O texto abaixo originalmente diz respeito à realidade do futebol espanhol, mas é possível perceber que suas análises também podem ser estendidas para a modalidade de uma forma geral. Em muitos casos, a semelhança das mazelas de lá com as de cá são incríveis, e de modo algum são meras coincidências.

(Miguel Ruiz-FCB)

Por Ángel Cappa, no La Marea

O futebol, que nasceu plebeu e pertencia à classe trabalhadora, era uma festa que os povos davam a si mesmos até que o negócio se apoderou dele e o transformou em um gigantesco objeto de consumo, que gera lucros incalculáveis e também serve como entretenimento e distração das maiorias oprimidas. Ao fim e ao cabo, "o futebol é uma metáfora da vida", como dizia Sartre, e o que acontece neste âmbito é mais ou menos o que se sucede também na sociedade. O tsunami neoliberal levou à crise provocada pelos especuladores financeiros para arrasar com quase todos os bens e os direitos das pessoas. O lucro rápido, como valor máximo do capitalismo, pode ser comparado ao "ganhar do jeito que for" de um futebol que deixou de lado o gosto pelo jogo para dar valor única e exclusivamente ao resultado.

O vencedor sempre tem razão, do mesmo modo que os que têm dinheiro fazem o que querem. Dois conceitos impostos pela ideologia dominante para justificar as obscenas desigualdades que gerou. Até a década de 60 do século passado, aproximadamente, o futebol tinha valores tão importantes que até pensadores como Camus, que foi jogador também, se atreveu a dizer que tudo o que sabia sobre a moral e as obrigações dos homens devia ao futebol, ou intelectuais comunistas como Antonio Gramsci, que definiu o esporte como o "reino da lealdade ao ar livre".

Di Stéfano: sem comemorar gols de pênalti
O resultado foi sempre o mais importante, mas não o único objetivo, muito menos conseguido de qualquer maneira. Di Stéfano contou muitas vezes que naquela época não se costumava comemorar gols de pênalti; ou se comemorava de forma muito discreta pela considerável vantagem que o batedor tem sobre o goleiro. Algo semelhante aconteceu com Armando Galuchi, um jogador habilidoso do Blancha Bahia (Argentina) dos anos quarenta que, apesar de sua modéstia, em jogos oficiais cobrava pênaltis de letra para equiparar suas chances às do goleiro.

Hoje em dia, em que se festeja efusivamente até gols contra feitos pelos rivais, é muito raro encontrar alguém do futebol que faça uma declaração como a de Iniesta: "Ensinaram-me que é preciso ganhar, mas não de qualquer maneira". Ou seja, não é comum encontrar jogadores, treinadores ou mesmo jornalistas que valorizem o “jogar” pelo menos tanto quanto o resultado.
Uma das primeiras coisas que fez o negócio quando interveio decisivamente no futebol (e em outros esportes também) foi tirar do jogador o prazer de jogar. A palavra "trabalho" substituiu "treinamento" e "sacrifício" fez o mesmo com " jogar". Tudo o que passou a importar desde então foi o êxito, e o sucesso nesse contexto tem apenas um significado: ganhar. O prazer foi identificado com a indiferença e à diversão se deu o caráter de irresponsabilidade, ambos inaceitáveis para os critérios comerciais que tudo mercantilizam.

A enxurrada de dinheiro foi tão grande que os jogadores também perderam o sentido de pertencimento e já não sabem mais a quem representam quando entram em campo, nem para quem jogam. Isso foi fatal porque eles começaram a pensar como profissionais e se esqueceram ou confundiram o amor ao jogo com os privilégios da fama e o aparente poder que lhes dá a abundância econômica. Em outras palavras, deixaram de se sentir como amadores. Claro que sempre há exceções, como Xavi Hernández, que confessou que lhe dói mais um passe mal feito do que um gol perdido, palavras que são incompreensíveis para a maioria de seus colegas e fãs. Porque, como o filósofo polonês Zygmunt Bauman diz, também "as pessoas tinham um sentido de pertencimento e de solidariedade" que já não têm, atomizados pela filosofia do capitalismo neoliberal ultra-individualista.

Para a Fifa de Blatter, importa o tamanho dos lucros
A Fifa é uma das organizações mais poderosas do mundo, pela quantidade de dinheiro que maneja e pela influência que possui nas esferas políticas e sociais. Seus critérios e decisões são muito mais próximos da lógica comercial do que da desportiva. As marcas esportivas têm no futebol e em seus ídolos o que há de melhor para alavancar suas vendas multimilionárias.

E, como na sociedade as desigualdades são cada vez mais escandalosas, acontece o mesmo entre os clubes mais poderosos e o resto. O preço de um jogador do Real Madrid ou do Barcelona equivale ao orçamento anual de vários equipes da primeira divisão espanhola. A concorrência está praticamente desnaturada e as diferenças são cada vez mais acentuadas. Apenas em direitos da televisão, Real Madrid e Barcelona recebem anualmente 100 milhões de euros a mais do que as outras equipes.

Os preços dos ingressos, sempre excessivos – ainda mais nessa época dura para os trabalhadores – e os horários dos jogos que a TV fixa de acordo com a sua conveniência, juntamente a outros detalhes como o desconforto para os torcedores e o excessivo número de partidas jogados quase que diariamente, muitas vezes afasta as pessoas dos estádios e as leva para a televisão e para os anunciantes, que, finalmente, têm seu objetivo alcançado.

O futebol era nosso e agora é deles, que não o respeitam nem o querem, mas apenas usam-no em seu benefício e o esvaziam de sua identidade. Muitas vezes quiseram matá-lo – e outras tantas ele ressuscitou – mas parece que desta vez é sério. Contudo, sempre nos restará alguma jogada magnífica, coletiva ou individual, que nos devolva a esperança. Sempre haverá um Iniesta, um Xavi um Silva, um Valerón, que ameacem fazer um lance para executar outro, recuperando a essência do jogo. Sempre haverá um Messi que deixe sentados os defensores, sem saberem por onde passou. Ou um Ronaldo que sacuda as redes de qualquer meta e nos deixe assombrados. Sempre haverá um Oliver ou um Jesé para seguirmos acreditando. E sempre haverá uma equipe modesta que nos lembre a dignidade deste jogo trocando dez passes seguidos.

E nós sempre estaremos, como disse Eduardo Galeano, implorando pelos estádios: "uma jogadinha bonita, pelo amor de Deus."

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Polícia criativa

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Estou com dificuldades para escrever o que quer que seja sobre essa nota da Polícia Militar de Goiás sobre a prisão de um acusado de tentar furtar dois CD's. Deixo o texto e o link, para provar a veracidade do fato.

"Um homem foi preso hoje (11/02/14), por volta das 14:36, na Livraria Saraiva, situada no piso 03 do Shopping Flambyant. De acordo com informações repassadas por policiais militares que chegaram ao local para fazer a condução do suspeito, Cxxxx Cxxxx Pxxxxxx Axxxx (06/02/75), de 39 anos, tentou sair do estabelecimento acima citado com dois discos da cantora norte americana Beyoncé. O suspeito escondeu os produtos em uma sacolinha do Bretas mas foi surpreendido pelo segurança quando tentou deixar a loja sem pagar pelo produto. Contudo a escolha do produto não foi aleatória. O suspeito disse que é dançarino e por isso queria se apropriar do objeto. Um dos policiais militares que está encaminhando o suspeito para a delegacia comentou que Cxxxx Cxxxx realmente dança muito bem, e que o talento que lhe faltou na habilidade de subtrair objetos sobrou na dança. O certo é que Cxxxx Cxxxx será agora encaminhado ao 8º DP e, caso fique preso, terá que dançar na cadeia. Mais informações com Soldado Melquisedeque: 9628-xxxx."

Duvida? Veja aqui.

Marco Feliciano alerta para o "auto" índice de analfabetos funcionais no Brasil

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segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Um minuto de não silêncio para Nico Nicolaiewski, de Tangos & Tragédias

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Gomez e Nicolaiewski em ação (Ramiro Furquim/Sul21)
Com alguns dias de atraso, é preciso registrar aqui o falecimento, no último dia 7, do ator, músico e compositor Nico Nicolaiewsky. Junto com o parceiro Hique Gomez, ele protagonizou um dos espetáculos mais originais da história do teatro brasileiro. Tangos & Tragédias divertiu milhares durante 27 anos, tendo sempre uma temporada no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, além de correr todo o Brasil. E não eram poucos os que viam a apresentação várias vezes, mesmo ela permanecendo praticamente a mesma no decorrer dos anos.

Na peça, Hique Gomez é Kraunus Sang e Nico Nicolaiewski é o Maestro Plestkaya, ambos naturais da Sbørnia, país fictício do qual foram expulsos após a chegada do rock and roll. Em palco, apresentavam músicas folclóricas da nação, como “Aquarela da Sbørnia”, que conta a história do país, separado do continente após “sucessivas explosões nucleares malsucedidas”, sendo hoje uma “lixeira cultural” do mundo que recicla o que vem de outros locais.


O lugar também é berço do “Copérnico”, coreografia na qual não se pode mexer com as pernas nem com as mãos, momento do show em que o público era convidado – ou desafiado – a incorporar a dança. Outro ponto interessante do país é seu sistema político, o “anarquismo hiberbólico”, definido assim: “Em época de grande indecisão o povo se reúne em uma praça pública e fica naquele clima de indecisão, naquele clima de indecisão, naquela coisa de indecisão... Insuportável indecisão. Indefinível indecisão, indecisível indecisão, aquela coisa, indecisão... Até que nasce uma flor, uma linda flor maravilhosa flor, tão bonita flor...”



Além das canções sbørnianas, Gomez, ao violino, e Nicolaiewsky, no acordeon e piano, também apresentavam "obras de compositores brasileiros mundialmente esquecidos ou ignorados, como Vicente Celestino, Alvarenga & Ranchinho e Cláudio Levitan", conforme eles próprios definiam.

Nicolaiewsky ao piano (Raul Krebs/Divulgação)
O sucesso do espetáculo o levou ainda a ser tema da escola de samba Imperatriz Leopoldinense em 1999 e, em 2007, fizeram um show comemorativo dos 20 anos do espetáculo reunindo 20 mil pessoas na Praça Matriz de Porto Alegre. Em breve, deve ser lançado no circuito comercial o desenho animado Até que a Sbórnia nos Separe, em 3D.

Os 30 anos do Musical Saracura, grupo que Nicolaiewsky integrou junto com Sílvio Marques, Flávio Chaminé e Fernando Pezão também será tema de um documentário da diretora Liliana Sulzbach. Sua última obra solo foi o impagável “Música de Camelô”, levando ao palco interpretações de canções populares, que mostravam "lados ocultos" das músicas.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

E se a novidade da campanha eleitoral 2014 for o uso de hologramas?

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O ano é de amplas movimentações político-eleitorais, com pleito nacional e estaduais no calendário. Em tempos de mídias sociais, há quem espere um acirramento da tensão virtual assistida em 2010. Ainda mais no contexto pós-protestos de junho de 2013, de #nãovaitercopa e, porque não, de rolezinhos organizados por celebridades locais que não precisaram das mídias de massa convencionais para alcançar milhões em audiência. Mas e se a novidade do ano não for bem essa?

No reino da palpitologia, uma iniciativa do primeiro ministro da Turquia traz uma estratégia, no mínimo, divertida.Por não poder participar de convenção partidária, armou uma alternativa digna de ficção científica.Políticos têm,  comumente, egos de proporções avantajadas. Não por acaso, o ilustre Recep Tayyip Erdogan foi substituído por um holograma gigante em seu lugar.

Antes dele, consta que o indiano Narendra Modi usou artimanha correlata no país do subcontinente asiático para ganhar atenção. Trocadilho fácil é dizer que essa visibilidade pode ser meio ilusória.

A presença holográfica seria novidade no Brasil no âmbito da política. E representaria uma tentativa de superar o trauma da manobra que levou Renato Russo a tocar em Brasília post mortem -- quebrando uma promessa feita em vida pelo músico, de não voltar a desempenhar em público na capital federal. Quebra de promessa e campanha eleitoral é outra piada fácil que fica no ar. O making of está no Youtube. Para quem quiser praticar turco, é uma oportunidade. Para os demais, só dá pra entender algo perto de "hologram".




Política virtual


Holografia pode ser um recurso novo, antes compartilhado apenas por jedis e outros personagens estranhos de Guerra nas Estrelas. Mas não seria a primeira investida em realidade virtual para partidos políticos brasileiros. Nos idos de 2007, após o primeiro de muitos reveses eleitorais, o então recém convertido de PFL a Democratas lançou uma sede no Second Life.

O serviço, pré-mídias sociais e anterior à febre de games atual, permitia a criação de personagens e e espaços virtuais para atividades cotidianas.

A simulação, pelo jeito, era muito sem graça, porque a história naufragou e hoje é uma zumbilândia virtual. Houve quem tivesse faturado bons trocados.

E quem só tivesse pagado mico.

Que venham os hologramas.

sexta-feira, janeiro 10, 2014

Proteste contra a sociedade de consumo... consumindo!

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Pra quem criticou alguns dos protestos de 2013 como sendo coisas de "coxinhas" ou de "playboyzinhos", o resgate de uma propaganda que incentivava um inusitado tipo de "manifestação". E o barbudo mal encarado caprichou na "contestação", comprando logo a linha completa de produtos...


quarta-feira, dezembro 18, 2013

100 anos de perdão

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Biggs, na época do crime famoso
Morreu hoje na Inglaterra o ladrão confesso Ronald Biggs, que participou com 16 comparsas do célebre "assalto ao trem pagador", há 50 anos. Tratava-se de um trem postal que fazia o trajeto entre Glasgow, na Escócia, e Londres. Naquele 8 de agosto de 1963, exatamente o dia em que Biggs completou 34 anos, a quadrilha dividiu um butim de 2,6 milhões de libras, uma montanha de 120 sacolas com 2,5 toneladas de dinheiro em espécie. Dizem que o valor nunca foi recuperado, mas isso tem toda pinta de ser aquela conversinha clássica da polícia... Além do roubo, Biggs era acusado de ter ferido gravemente o maquinista Jack Mills, que morreria seis anos depois. Concluído o assalto, os bandidos se reuniram em seu esconderijo, uma fazenda, para dividir a grana e planejar o futuro.

Tabuleiro que está no museu
Lá, eles comemoraram o sucesso e o aniversário de Biggs com charutos, bebidas e uma partida de Banco Imobiliário com as notas recém-roubadas. Mas os caras deixaram uma "brecha" comparável com a da Portuguesa no Brasileirão de 2013 (que escalou jogador irregular e, por isso, pode ir pra Série B): na manhã seguinte, deixaram o local após pagarem 28 mil libras a um cúmplice, para que limpasse qualquer vestígio, mas o manguaça fez um serviço beeeem porco. Assim, a polícia encontrou digitais de quase todos eles nas peças do jogo, em revistas e talheres utilizados no local (o tabuleiro do Banco Imobiliário usado por eles virou peça de arte no Museu Thames Valley Police). Preso rapidamente e condenado a 30 anos de reclusão, Biggs escapou do presídio de Wandsworth em 1965, ao pular o muro com uma corda de pano e fugir em uma caminhonete. Depois, fugiu para Paris, comprou um passaporte falso e fez uma cirurgia plástica - o que indica explicitamente que, para conseguir fazer tudo isso, ele ainda detinha (boa) parte do dinheiro roubado e meios para movimentá-lo.

Biggs e Mike, o filho brasileiro
Dizem que, nesse meio tempo, passou ainda por Bélgica e Panamá. Em 1970, mudou-se para Adelaide, na Austrália, com a família que havia formado antes do assalto - mulher e três filhos. Tranquilamente, trabalhou na montagem de cenários no Channel 10, até que um repórter o reconheceu. Daí, fugiu para Melbourne, permanecendo ali por algum tempo antes de escapulir para o Brasil no mesmo ano - e deixando toda a família para trás (em 1971, seu filho Nicholas, de 10 anos, morreria em um acidente de carro). Em 1974, Biggs foi flagrado por um repórter do jornal Daily Express no Rio de Janeiro, a partir de informações da Scotland Yard. Porém, não havia compromissos ou tratados de extradição firmados entre Brasil e Inglaterra e a então namorada do assaltante, Raimunda de Castro, estava grávida, situação que impedia a expulsão, segundo nossa legislação. O filho brasileiro, Michael, ficaria famoso no início da década seguinte como Mike, um dos integrantes do grupo musical infantil Balão Mágico, junto com Simony, Tob e Jairzinho.

Compacto dos Pistols gravado no Brasil
Até 2001, Biggs viveu incólume em terras brasileiras, até que, aos 72 anos, resolveu viajar voluntariamente à Inglaterra e se entregar à polícia (dizem que estava gravemente doente e não tinha recursos para se tratar). Porém, nos 30 anos de exílio em nosso país, o ex-assaltante se tornou uma "celebridade", temperando ainda mais sua biografia digna de enredo fictício. Proibido de trabalhar legalmente, ganhava a vida no Rio, nos anos 1970, vendendo xícaras e camisetas com sua foto e cobrando alguns dólares para almoçar e bater papo com turistas. Em 1978, foi visitado por dois dos Sex Pistols, Steve Jones e Paul Cook, que gravaram aqui uma música com letra e vocais de Biggs, a hilária "No one is innocent" - "Ninguém é inocente". O vídeo abaixo mostra os punks ingleses batendo na porta do famoso assaltante, no Rio, que sai da casa sem camisa e com uma garrafa na mão. Na sequência, sempre enchendo a cara, eles vão ao Cristo Redentor, a um bar, ao estúdio de gravação, à praia e a um baile repleto de mulatas seminuas sambando:


Bebendo, no clipe dos alemães
Mas nem tudo foi farra: em 1981, Biggs foi sequestrado e levado até Barbados por um grupo que esperava alguma recompensa da polícia britânica. Porém, o assaltante fez uso de artifícios na lei para ser mandado de volta ao Brasil. Voltou à vida de "artista", formou uma banda e gravou o disco "Mailbag Blues" (novo sarcasmo: "Blues da Mala Postal") e participou ainda, em 1991, da gravação da faixa "Carnival In Rio (Punk Was)", da banda alemã Die Toten Hosen. No vídeo abaixo, também gravado no Rio de Janeiro, Biggs canta e, no final, aparece rapidamente tomando cerveja (o inglês era manguaça!). Além de aproveitar muito bem a boa vida tupiniquim, o inglês também defendeu uns trocos no livro que conta a história do assalto, autorizado mediante pagamento pelos criminosos, "The great train robbery", e com seu próprio livro, "Odd man out" - "Um estranho no ninho".


Drake: 'queridinho' da realeza
OSSOS DO ORIFÍCIO - Apesar da vida fantástica e inacreditável, Ronnie Biggs foi um criminoso e, como tal, não deve ser louvado. Mas é engraçado que tenha sido uma das maiores e mais famosas pedras no sapato da polícia inglesa. Sua prisão era vista como "justiçamento moral". E é engraçado porque a própria Inglaterra, no século 16, adotou oficialmente uma política que incentivava a pirataria marítima (invasão, roubo e pilhagem) para engordar suas divisas, tendo como principais vítimas os espanhóis - que, aliás, saqueavam os índios e as terras latino-americanas. Naquele tempo, o roubo (o grifo é nosso) de navios, com incentivo oficial da rainha Elizabeth I, era prática corriqueira. Francis Drake, o pirata mais famoso, ganhou da realeza os títulos de capitão e vice-almirante, depois de saques espetaculares, violentos e muito lucrativos. Por essa ótica, visto como um inglês entre os ingleses, Ronald Biggs poderia até justificar o dito popular de que "ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão". Ou, no mínimo, como diz o título de sua música gravada com os Sex Pistols, "ninguém é inocente"...


terça-feira, dezembro 17, 2013

'No céu não tem jogo nem bebida'

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Na TV, Tarcísio Meira atuou como o Capitão
Hoje, 17 de dezembro, o escritor gaúcho Érico Veríssimo estaria completando 108 anos. Em outros posts (como aqui e também aqui), já destaquei trechos de seus livros, mas gostaria de homenageá-lo com uma das passagens mais brilhantes de sua literatura - uma aula sobre política, religião, hipocrisia e falso moralismo em forma de diálogos esparsos entre os personagens Capitão Rodrigo e Padre Lara, na saga "O Tempo e o Vento". Li isso quando tinha uns 14 anos e, pelos anos seguintes, reli muitas vezes. 'Buenas e me espalho', vamos direto ao que interessa:

"- Capitão...
Rodrigo voltou os olhos para o padre.
- Vosmecê é um soldado, não é?
- E vosmecê é um padre...
- Espere, estou falando sério. Como militar vosmecê sabe que num batalhão tem de haver disciplina, o soldado tem de obedecer ao seu superior.
- Naturalmente.
- Desde que o mundo é mundo sempre houve os que mandam e os que obedecem, um servo e um senhor. O mais moço obedece ao mais velho...
- Isso depende...
- Deixe-me terminar. O filho obedece ao pai, a mulher obedece ao marido. Se as coisas não fossem assim o mundo seria uma desordem...
- Mas quem foi que lhe disse que o mundo  não é uma desordem?
(...)
- Capitão, vosmecê não é religioso?
- Não. Religião nunca me fez falta.
- Há pessoas que só se lembram da Virgem quando troveja.
- Quando troveja me lembro do meu poncho.
(...)
- Vosmecê já pensou no que lhe pode acontecer depois da morte?
- Não.
- Não tem medo de ir para o inferno?
Rodrigo cruzou as pernas, atirou o busto para trás e recostou-se contra a porta da capela.
- Padre, ouvi dizer que no céu não tem jogo nem bebida nem carreiras nem baile nem mulher. Se é assim, prefiro ir pro inferno. Além disso, as tais pessoas que todo mundo diz que vão pro céu por serem direitas e sem pecado são a gente mais aborrecida que tenho encontrado em toda a minha vida. Tenho conhecido muito patife simpático, muito pecador bom companheiro. Se eles vão para o inferno, é para lá mesmo que eu quero ir.
(...)
- Mas vosmecê nunca pensa em Deus?
- Uma vez que outra.
- Não reconhece que Ele fez o mundo e todas as pessoas que há no mundo?
- Se Deus fez o mundo e as pessoas, Ele já nos largou, arrependido.
- Não diga tamanho absurdo! Se Ele tivesse largado, tudo andava de pernas para o ar.
- E não anda?
(...)
- Nunca aprendi nenhuma reza nem me habituei a ir à igreja.
- Mas ainda tem tempo. Nunca é tarde, meu filho.
- Qual! Há certas coisas que a gente ou aprende quando é menino ou nunca mais. Mas, pra lê ser franco, não tenho sentido falta de igreja nem de reza nem de santo.
- Nem na hora do perigo?
- Pois na hora do perigo mesmo é que não penso nessas coisas.
- Paciência. Pode ser que um dia vosmecê mude. Deus é grande.
- E o mato é maior, padre. É o que esses caboclos aprendem na luta dura desde pequeninos. Não podem confiar em Deus e ficar parados. Quem fizer isso acaba degolado ou furado de bala. Às vezes o melhor recurso é ganhar o mato. A gente não pode estranhar que essa gente pense assim. Foi a vida que ensinou...
- Deus escreve direito por linhas tortas.
Rodrigo abriu a boca num bocejo cantado e depois disse:
- Mas o diabo é que ninguém sabe ler o que Ele escreve.
(...)
Rodrigo apanhou um seixo, fez pontaria numa árvore e arremessou-o, errando o alvo.
- Se eu fosse dono do mundo, fazia algumas mudanças...
- Por exemplo... - pediu o padre.
- Acabava com essa história de trabalhar...
- Sim, e depois?
- Fazia os filhos virem ao mundo de outro jeito. Eu vi o que a Bibiana sofreu. É medonho.
O vigário sorria. Aquelas palavras, partidas dum egoísta, não deixavam de ter seu valor.
- E depois?
- Dividia essas grandes sesmarias de homens como o coronel Amaral.
- Dividia? Como? Pra quê?
- Dividia e dava um pedaço pra cada peão, pra cada índio, pra cada negro.
- Não vá me dizer que ia libertar os escravos...
- E por que não? Acabava com a escravatura imediatamente.
(...)
- Ah! Eu ia m'esquecendo. Pra principiar, fazia o mundo mais pequeno, pra gente poder atravessar todo ele a cavalo, sem levar muito tempo.
- E como é que vosmecê ia se arranjar, indo dum país pra outro sem conhecer outra língua senão a sua?
- Eu acabava com esse negócio de línguas diferentes... Rodrigo fez uma pausa e ficou pensativo.
- Que mais?
- Acabava também com a velhice.
- Acabava?
- Quero dizer, ninguém envelhecia mais...
- Nem morria?
- Morrer... morria. Mas se morria era de desastre, nos duelos, nas guerras.
(...)
Rodrigo desabotoou a camisa e puxou-a para fora das bombachas. Sentia calor. Não havia a menor viração na noite cálida.
- Conheci muitos padres por esse mundo velho que tenho corrido. Eles nunca estão contra o governo.
- A Igreja não é revolucionária - exclamou o vigário. - A Igreja não é lugar de conspirações. Ela representa o poder espiritual, que está acima, muito acima do temporal.
- Não me venha com essas palavras difíceis, padre, que eu não entendo. Fale claro. Temporal pra mim é mau tempo. Mas, falando sério, amigo Lara, cá pra nós, no maior segredo, vosmecês nunca se arriscam a ir contra o governo, não é mesmo?
O padre rosnou alguma coisa ininteligível. Depois sua voz se fez clara e ele murmurou:
- Não é a Igreja que está com o governo. É o governo que está com a Igreja.
- Aha! - e a gargalhada de Rodrigo encheu aquele pedaço da noite que parecia envolver a casa. - Quando nós brigamos com os castelhanos, nossas bandeiras e nossas espadas eram benzidas aqui pelos padres católicos. E os padres católicos lá da Banda Oriental faziam o mesmo com as bandeiras e as espadas dos castelhanos. Como é que se explica isso?
- Isso prova que a Igreja Católica é universal. Está acima das paixões e dos interesses dos homens, que são todos iguais perante Deus.
- Iguais? Até os negros?
O padre teve um levíssimo instante de hesitação - não porque considerasse os negros animais, mas porque lhe passou pela cabeça uma dúvida quanto à maneira como o outro podia usar sua resposta.
- Até os negros, claro.
- Então por que é que vosmecê nunca protestou contra a escravatura?
O padre mexeu-se, tomado de mal-estar. Nessas ocasiões ele sentia mais agudamente que nunca aquele fogo no peito.
- Os escravos nesta província são muito mais bem tratados que em qualquer outra parte do Brasil! Eu queria que vosmecê visse como os senhores de engenho tratam os negros lá no Norte.
- Eu sei, mas vosmecê não respondeu à minha pergunta... Será que Deus não fez os homens iguais?
- Mas tem de haver categorias para haver ordem e respeito. - Usou uma palavra grande para esmagar o outro. - Tem de haver hierarquia. No fim de contas esse foi o mundo que nós encontramos ao nascer, capitão. Não podemos mudar tudo de repente.
Ia acrescentar: 'Um dia essas mudanças hão de fazer-se'. Mas achou melhor calar-se. As paredes tinham ouvidos."

sábado, dezembro 14, 2013

Como Fernando Haddad enxerga a comunicação

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Abaixo, trechos da entrevista concedida pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a Cristiane Agostine, do jornal Valor Econômico, publicada no dia 12:

Para Haddad, comunicação e publicidade são iguais (Foto Henrique Boney)
Valor: O senhor enfrenta dificuldades para melhorar a aprovação da gestão até mesmo entre os mais carentes, que devem ser beneficiados com o Bilhete Único Mensal e as faixa de ônibus. A que atribui isso?

Fernando Haddad: Jornalista se preocupa muito com pesquisa. Governante tem um outro tempo. O meu tempo é de quadrianual. Peço menos ansiedade.

Valor: Mas as pesquisas mostram que suas ações não têm se refletido em apoio, nem entre os que estão sendo beneficiados...

Haddad: E as campanhas de desinformação que foram feitas? Tem gente em Guaianases [zona leste] achando que o IPTU vai aumentar 200%. É muita desinformação, sobretudo sobre temas polêmicos como o IPTU. Vi programas de rádio dizendo que o IPTU ia aumentar 200%, sendo que na periferia vai cair.

Valor: O senhor vai mudar a comunicação da prefeitura?

Haddad: Sou contra gastar rios de dinheiro com publicidade
[Grifo nosso]

Na pergunta direita feita a respeito da comunicação da prefeitura de São Paulo, a sucinta resposta do prefeito equipara comunicação à publicidade. Se Haddad realmente tem essa visão, explica-se em parte o porquê de sua popularidade estar no nível que está.

Seria bom se ele lesse a entrevista do coordenador de seu programa de governo, Aldo Fornazieri, à Rede Brasil Atual. Aqui. Talvez mude um pouco o seu ponto de vista.

terça-feira, dezembro 10, 2013

Não é pelos 20 centavos. Não mesmo!

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Num outro post aqui do Futepoca, em abril, já tínhamos comentado sobre o público-alvo a quem a revista Veja se dirige: a classe média/alta conservadora, tacanha e egoísta. Principalmente a partir do início do governo Lula, em 2003, ficou explícito, de forma gritante, o direcionamento do discurso pretensamente "jornalístico". Não só na publicação da família Civita; quase todos fazem isso. Na imagem acima, com edições regionais direcionadas ao público paulistano de duas revistas - Veja SP (de novembro de 2010) e Época SP (de dezembro de 2013) -, vemos mais um exemplo didático da priorização do interesse dos ricos frente ao dos pobres. Três anos atrás, a Veja SP celebrava o sucesso de um empresário que vendia "um carro a cada três minutos", sem se importar se isso ia entupir as vias urbanas e inviabilizar o trânsito. Já na edição atual da Época SP, o prefeito Fernando Haddad (não por acaso, do PT) é achincalhado por ter reservado mais faixas exclusivas para os ônibus, priorizando o transporte coletivo e a maioria da população, que depende dele - mas "prejudicando", segundo a ótica da revista, os que possuem automóveis. 

Notem os dogmas do discurso elitista: o empresário está correto ao desovar milhares de carros nas ruas/ o prefeito (petista) está errado ao favorecer o transporte coletivo; as pessoas que compram carros são prioridade/ os que andam de ônibus que se danem. Curiosamente, essas mesmas publicações, dirigidas ao povo paulista, quase nada dizem sobre o metrô e os trens urbanos, superlotados, insuficientes, com falhas frequentes e sob suspeita de corrupção. Também evitam falar sobre os preços aviltantes dos pedágios nas estradas estaduais. A lógica da classe média/alta (e, por extensão, das publicações direcionadas a ela) é a da exclusão - como sendo algo positivo e almejado. Ninguém reclama dos pedágios porque eles mantêm os pobres longe do caminho dos "bem nascidos" nas rodovias. E os mesmos "bem nascidos" gritam e esperneiam quando se defrontam com os aeroportos lotados pelos pobres, que hoje têm condição econômica (e o direito!) de frequentá-los. Por isso, imaginem o ódio desses "bem nascidos" quando os ônibus recebem - com justiça - mais espaço nas ruas e avenidas da metrópole. É esse ódio (de classe) que vende essas revistas.

quinta-feira, novembro 28, 2013

Os Beatles, esses comunistas hipnotizadores!

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'I wanna hold the sickle and the hammer'
O peculiar apreço por bizarrices literárias já me levou a ler, por exemplo, um dos livros "Universo em Desencanto", da Cultura Racional, que fisgou Tim Maia nos anos 1970. Por ele fiquei sabendo que descemos de uma planície do mundo superior e, quando o sol começou, regredimos para a energia animal, ressurgindo deformados a partir da resina e da goma - ou algo parecido. Como acredito que todas as pessoas são loucas, em maior ou menor grau, explícita ou implicitamente, diferenciadas apenas pelos milhares de tipos de distúrbios conhecidos ou ainda não catalogados, esses delírios publicados com a chancela de "coisa séria" comprovam minha orientação filosófica de que "nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle". Sob o "estandarte do sanatório geral" do Chico Buarque.

Pôster dos quatro rapazes de Leningrado
Por isso, fuçando coisas inúteis, acabei encontrando meu próximo alvo: o livro "Comunismo, hipnotismo e os Beatles" ("Comunism, hypnotism and The Beatles"), do reverendo David A. Noebel, publicado em 1964. O que mais espanta é que o autor classifica sua obra como uma "tese" e desenvolve uma teoria da conspiração absolutamente sincera de sua parte - o que torna tudo ainda mais divertido. Impregnado pela paranoia anti-comunista disseminada nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial e indignado com a beatlemania que tomava conta do país naquele início dos anos 1960, Noebel afirma que os quatro rapazes de Liverpool foram treinados em um laboratório de "hipnose em massa e neurose artificial" na União Soviética para hipnotizarem os jovens e torná-los histéricos, retardados, rebeldes, promíscuos e... comunistas! Como é que ninguém percebeu?!??

Lembre-se: 'She loves you, yeah,yeah,yeah!'
Deliciem-se com o seguinte trecho do livro: "Os comunistas, através de seus cientistas, educadores e artistas, inventaram uma técnica elaborada, de cálculo e científica, voltada para fazer uma geração de jovens americanos inútil, para, através do nervo óptico, atingir a deterioração e o retardo mental. O plano envolve reflexos condicionados, hipnotismo e certos tipos de música. Os resultados, destinados a destruir a nossa nação, são precisos. Não é de admirar o Kremlin dizer que não vai levantar a bandeira vermelha sobre os norte-americanos, pois eles mesmos irão fazê-lo. Se o seguinte programa científico destinado a fazer os nossos filhos mentalmente doentes não for exposto, os americanos ficarão mesmo mentalmente degenerados". Excelente! Sim, é paranoia, delírio, mistificação e mais um monte de disparates interessantes!

Pra quem quiser me dar um presente de Natal, fica a dica. E EU SOU NORMAL!

'Nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle'

P.S.: Caso não encontrem essa obra prima, tá valendo essa aqui também, ó:

Elvis não morreu: ele está vendendo incensos em uma tenda no Nepal

segunda-feira, novembro 18, 2013

No processo kafkiano, delação é premiada com prisão

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Jefferson em 2005 e hoje: delação levou à prisão, mas ele parece tranquilo e satisfeito

A prisão dos condenados pelo chamado "esquema do mensalão" é o desfecho de um processo kafkiano que tem a imprensa como principal condutora dos fatos - e uma "delação premiada" que, curiosamente, teve como "prêmio" a prisão. Voltemos no tempo: dois anos e cinco meses após o início do governo Lula, em maio de 2005, a revista Veja finalmente encontrava um porrete para bater com força no presidente petista, ainda que indiretamente. O alvo da matéria era um partido aliado da base do governo federal (ainda que de menor importância) mas a chamada de capa já prenunciava o chumbo grosso que viria naquele ano pré-eleitoral: "O vídeo da corrupção em Brasília". A reportagem denunciava um suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e, já a partir do título, "O homem-chave do PTB", apontava o dedo inquisidor com a chancela "corrupto" para o deputado federal Roberto Jefferson, presidente do partido. Ato contínuo, toda a imprensa partiu para cima de Jefferson. E o que ele fez? Tudo o que a mídia estava louca para que algum "delator" fizesse: desviou o dedo apontado para ele diretamente para o braço direito de Lula até então, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

No dia 6 de junho daquele ano, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista exclusiva com o deputado petebista, concedida à então editora da coluna "Painel", Renata Lo Prete. Jefferson tirou da cartola a denúncia de que Delúbio Soares, tesoureiro do PT, pagava, a mando de Zé Dirceu, mensalidade de R$ 30 mil a alguns deputados do Congresso Nacional, para que eles votassem junto com o bloco governista, e referiu-se ao pagamento como "mensalão", cunhando o mote que os jornais (e os oposicionistas) tanto precisavam para carimbar a testa do governo Lula e emporcalhá-lo diariamente como "corrupto" e "ladrão", com violência e virulência dignas da imprensa mais udenista e lacerdista dos anos 1950, por todos anos seguintes. Pergunta que ninguém fez: por que a denúncia-bomba foi feita como entrevista, e não em forma de reportagem? Porque o entrevistador não precisa apresentar provas ou dados que confirmem o que o acusador está falando. É só uma entrevista, quem está dizendo é Jefferson, a jornalista e o jornal não têm nada com isso - o que também não os impede de dar manchete e trombetear a denúncia (sem provas) para todo o Brasil. Foi assim que estourou a maior crise do governo Lula, baseada em acusações, ilações, suposições e teorias de conspirações, sempre chanceladas como "verdades absolutas" pela imprensa.

A forçação de barra contra o PT ficou evidente por dois motivos: 1) Jefferson nunca apresentou provas do que disse (o que colaborou para que tivesse o mandato de deputado federal cassado - afinal, "cabe ao acusador o ônus da prova") e contradisse vários pontos de suas denúncias ao depor ao Conselho de Ética da Câmara e em outras ocasiões em que foi questionado sobre o assunto; 2) As investigações caíram no que de fato existe no Brasil, caixa 2 (doações não contabilizadas) em campanhas eleitorais, lavagem desse dinheiro e seus acertos posteriores - coisa que TODOS os partidos fazem, o que a mídia escondeu (o episódio mais constrangedor foi o de Paulo Markun no programa Roda Viva, da TV Cultura) e o que não tem NADA a ver com a denúncia - nunca comprovada - de que o governo federal estivesse dando dinheiro à parlamentares em troca de votos. Bom, o resto, como se diz, "é história". Não há nem espaço para relembrar, aqui, a avalanche de episódios bombásticos do tal "mensalão" que atordoou a população naquele ano de 2005 e que alimentou manchetes diariamente até o julgamento do caso, em 2012, e a ordem de prisão para vários dos acusados agora, no presente mês. Incluindo o "delator" Roberto Jefferson, que está aguardando a Polícia Federal em sua casa. Sim, ele, o "herói" da mídia golpista.

Jefferson diz que aguarda a prisão "com serenidade". Desde o início, ele sempre pareceu satisfeito ao deixar de ser o alvo principal das denúncias de corrupção da mídia e, em troca (talvez num acordo "negociado"), topar ser a voz "em on" da delação contra o governo federal. Pode ser que, se as investigações tivessem focado o esquema nos Correios, muito mais coisa tivesse sido descoberta contra ele, contra o PTB e os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor, dos quais Jefferson e seu partido também participaram. Ou seja, tudo leva a crer que o esquema nos Correios vinha de longe. Mas, numa cobertura "jornalística" (e bota aspas nisso!) que sequer se preocupou em checar e confirmar com provas a denúncia central de Jefferson sobre o pagamento de "mensalão", cobrar perguntas racionais e básicas parece tão absurdo quanto o próprio teor das toneladas de matérias sobre o caso. Nem Franz Kafka, em "O processo", chegou a tais requintes de nonsense quanto a imprensa brasileira. E agora temos milhões de pessoas comemorando a prisão dos tais "mensaleiros" como se fosse título de Copa do Mundo. Roberto Jefferson, personagem central dessa ficção, que de acusado passou a "herói nacional" por delatar a "corrupção", hoje já não tem utilidade alguma para a imprensa, nem defensores.

Foi usado e descartado, como tantos outros "inocentes úteis". Porém, nunca foi inocente. E sua "utilidade" à imprensa provocou uma das mais graves distorções jurídicas do planeta, criando um precedente - condenar sem provas - extremamente perigoso, um feitiço que, um dia, pode muito bem virar contra os feiticeiros. De caixa 2 e financiamento público de campanha ninguém fala nada. O que importa é o triunfo do ódio. Viva a imprensa nacional, baluarte da "moral", da "ética" e da "virtude"! E quem falar em controle da mídia também será "esquartejado" exemplarmente.