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sexta-feira, outubro 02, 2009

E o Rio vai ser sede olímpica em 2016

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O Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Chicago, considerada a principal adversária do Rio, saiu na primeira votação, sendo a menos votada. Tóquio foi eliminada na votação seguinte e o Rio de Janeiro superou Madri na grande final. Uma lavada: 66 a 32.

E aí, isso é bom ou ruim para nós?


Pude participar junto com o companheiro Maurício da elaboração do dossiê da pré-candidatura de São Paulo às Olimpíadas de 2012, que acabou derrotado pelo Rio (só uma candidatura oficial por país é permitida). Menos que a competição em si, a parte mais fascinante do projeto paulista – paulista mesmo, não paulistana, já que, como a postulação carioca, envolvia outros municípios da Grande São Paulo, além de Santos e São Sebastião - era a possibilidade de ver a cidade totalmente reformulada. Ali, se podia vislumbrar um Tietê navegável, o trem expresso do aeroporto de Guarulhos, um sistema de transportes remodelado e integrado com uma ampliação brutal do atendimento do transporte coletivo, em especial o metrô, e muitas outras mudanças positivas.

Isso tudo, além das instalações esportivas, fazia parte do chamado legado olímpico, aquilo que permanece depois que o evento acaba e se torna benefício permanente para a população local. E esse ganho para a cidade e para o país é determinante para a escolha do Comitê Olímpico Internacional: vale mais escolher um lugar em que seja possível realizar avanços em função dos Jogos, analisando-se a viabilidade dessas melhorias acontecerem de fato, do que optar por um local pronto e acabado. É bom para o marketing do Comitê e preserva a imagem do dito “espírito olímpico”.

Isto posto, vem duas questões interligadas que fundamentam boa parte das críticas aos Jogos no Rio. Primeiro, porque não se investem esses recursos para transformar as cidades mesmo sem os Jogos? Segundo, o país tem outras prioridades e deveria investir recursos em áreas como Educação, Saúde, programas sociais etc. e não aplicar recursos nas Olimpíadas.

É necessário considerar que os Jogos Olímpicos servem como um grande catalizador de investimentos. A realização de um evento com divulgação planetária facilita bastante a atração de parceiros para execução de projetos, além de ser mais fácil a obtenção de recursos de instituições e bancos nacionais e internacionais. Afinal, todo mundo tem interesse em ter seu nome associado às Olimpíadas.

E não são investimentos sem retorno. Segundo estudo da Fundação Instituto de Administração (FIA), a escolha do Rio como cidade-sede da Olimpíada de 2016 deve gerar mais de 2 milhões de empregos no Brasil até 2027. Os quase R$ 30 bilhões de recursos aplicados assegurariam 120 mil empregos por ano até a realização dos Jogos e mais 130 mil empregos anuais até 2027. Há também outros ganhos econômicos como no valor médio da massa salarial, aproximadamente 8% acima em relação ao que era antes dos Jogos em função da qualificação da mão-de-obra necessária. No total, cada US$ 1 investido, outros US$ 3,26 adicionais devem ser gerados até 2027.

Possibilidade de transformação

Ainda assim, os críticos podem perguntar: de que legado se fala se depois do Pan tudo ficou a mesma coisa no Rio? Primeiro, a comparação de um evento com o outro é absolutamente descabida. Apesar de ter sido legal ver os Jogos Pan-americanos no Brasil, é inegável seu caráter de competição esportiva de segunda categoria, já que na maioria das modalidades os países sequer enviam seus principais atletas. Já os Jogos Olímpicos são a principal disputa para quase todos os atletas, exceção feita ao futebol masculino, com uma capacidade de atrair atenção e investimentos, e necessidade de infraestrutura infinitamente maior, por isso os legados são incomparáveis.

Barcelona é o exemplo mais completo de uma cidade – e um país – que conseguiu usufruir de todas as vantagens de sediar uma Olimpíada. A transformação foi total, não somente em termos de modelo urbano como também foi decisiva para que hoje seja um dos destinos turísticos mais importantes do mundo. Região estagnada nos anos 80, é consenso de que não seria a mesma sem o evento de 1992. Seul também pode ter avanços como a despoluição do rio que corta a capital sul-coreana, e mesmo Atenas, que teve prejuízos com os Jogos principalmente em função das ameaças de terrorismo, apresenta atualmente uma infraestrutura de transporte totalmente nova e muito maior do que a que havia antes.

As condições estão dadas e as possibilidades de se obterem avanços permanentes em função do evento é enorme e impossível de ser desprezada. Inclusive os chamados ganhos intangíveis, que dizem respeito à autoestima da população (o afastamento definitivo do “complexo de vira-latas”) e o esporte ainda mais incorporado ao cotidiano dos brasileiros.

Mas, acima de tudo, é preciso garantir o controle social da organização dos Jogos, para evitar os inúmero problemas que envolvem esse tipo de evento, desde desvio de dinheiro (como em qualquer outro grande negócio em qualquer parte do planeta) e de finalidade assim como a exclusão e expulsão de pobres de áreas urbanas.

Está na hora da sociedade brasileira mostrar que é madura para fiscalizar a ação de políticos e dirigentes esportivos, exigindo a contrapartida já que um montante considerável de recursos públicos estará em jogo.

Mas agora, na minha opinião, é hora de comemorar o reconhecimento do Brasil frente ao mundo. Sim, podemos. Porque crescemos.

*****

Inegável que o projeto é bem acabado, o Rio e a mais bela das candidatas etc. Mas a força política do país, visto hoje de uma forma bem distinta do que há alguns anos foi decisiva, já que é preciso passar segurança jurídica e econômica para se constituir em sede olímpica. E nisso, o governo e a figura de Lula foram fundamentais. Nem Obama segurou "o cara".

terça-feira, março 16, 2010

A ditadura da felicidade

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Uma amiga volta do almoço dizendo que foi a uma padaria onde havia uma placa advertindo: "Você está sendo monitorado por 12 câmeras". Assustador, mas não deixaram de acrescentar abaixo: "Sorria!". Na hora, me lembrei da letra de "Um sorriso nos lábios", do Gonzaguinha: "Ou então acha graça/ É tão pouca a desgraça/ Mas no fim do mês/ Lembra de pagar a prestação/ Desse sorriso nos lábios" (no final da gravação original ele imita um guarda e ordena: "Põe um sorriso aí, cidadão! Põe esse sorriso aí!"). Mas, em seguida, recordei outra letra, "Menina, amanhã de manhã", do Tom Zé:

Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens


É isso: essa ordem para sorrir, essa felicidade desabando sem piedade sobre nós. Exagero? Pois vejam o que o site Mundo do Marketing observou sobre a "mania feliz" que também está empesteando as propagandas:


"Vem ser feliz", "A escolha feliz", "Lugar de gente feliz", "Você feliz", "A TV mais feliz". Quanta felicidade, valha-me Deus! Que inferno! Quem aguenta isso? Preciso beber. Nada mais apropriado que um vinho Santa Felicidade...

Ah, e só pra você não esquecer: SORRIA!

quinta-feira, abril 11, 2013

Mano Brown "vetou" Rafael Moura no Santos e diz que Neymar é "a melhor coisa que aconteceu no Brasil depois da eleição do Lula"

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Claro que sou suspeito por ter participado da conversa, mas a entrevista com Mano Brown para a revista Fórum (aqui e aqui) vale a pena ser lida pela contundência e transparência de suas análises, que vão muito além do que pensam alguns acadêmicos encastelados de nossas universidades. Contudo, fora a política, tema tratado por ele em boa parte do papo, Brown também fala sobre outra questão atinente a este blogue: o futebol.

"Ah, melei mesmo, contrata a Xuxa também" (Foto Guilherme Perez)
Torcedor fanático do Santos, ele conta como "vetou" a contratação do atacante Rafael Moura, vulgo "He-Man" pelo time da Vila. "Inviabilizei a contratação do Rafael Moura, ah, melei mesmo, contrata a Xuxa também, tá de brincadeira [risos]. Aquela reunião [com alguns dirigentes do clube] foi treta, aí eu sugeri: 'Traz o André aí'."

Brown ainda fez outra crítica à forma como o estádio da Vila Belmiro, já há algum tempo, vem sendo modificado pelos dirigentes. "O Santos tá com um complexo de pobreza que eu não compreendo, esse negócio ridículo de colocar vidro no estádio inteiro, não dá pra ouvir as vozes da torcida, diminui a pressão. Os caras ficam batendo nos vidros, ficam parecendo loucos, esse negócio de colocar televisão nos camarotes", criticou. "O setor Visa é vazio o ano inteiro, eu já perguntei ao presidente pra quem que é bom o marketing da torcida vazia, abre a câmera e o estádio está vazio."

Sobre Neymar, o rapper não poupa elogios. "O Neymar é sensacional, melhor coisa que aconteceu no Brasil depois da eleição do Lula", diz. "Só poderia ter nascido no Santos mesmo, é foda, não cabe em outro time, mano."

Confira o resto da entrevista aqui.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Três jogos para esquecer

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Não tem nada que se salve da noite passada para o Corinthians. Eliminação inédita para um time brasileiro, desde que a tal Pré-Libertadores começou a ser disputada, em 2004. Eliminado sem marcar nenhum gol. Eliminado jogando mal de doer os olhos do torcedor, tanto em casa quanto na Colômbia.
Tudo isso em dois jogos que nem deveriam ter acontecido. Bastava ter vencido o Goiás na última rodada do Brasileiro que estariam garantidos o segundo lugar e a vaga na fase de grupos. Com isso, perde o torcedor, que vai aguentar um bom tempo de piadas dos rivais, e perde até o tal do marketing, apontado como culpado por muitos: são pelo menos três jogos como mandante com casa cheia no Pacaembu, mais cota de TV e outros bichos de perda financeira, sem falar na diminuição da exposição da marca, que impacta em acordos de patrocínio.
Voltando a ontem, nada funcionou. O técnico (fora!) Tite montou uma espécie de 4-3-3 sem meias, com Jucilei e Paulinho de volantes-armadores, Dentinho e Jorge Henrique de pontas-armadores. Na prática, ninguém armava, e todos tinham prejudicadas suas outras funções, fosse marcar ou atacar. Quando vi a notícia, imaginei que Dentinho ou Jorge Henrique jogariam livres, bem próximos de Ronaldo. Na vida real, via-se Dentinho dando botinadas na defesa corintiana e JH correndo atrás dos meias. Retranca da braba.
Na defesa, o desentrosado Fábio Santos deixava espaços que o fraco, pra dizer o mínimo, Leandro Castán não tinha qualquer condição de cobrir. A dupla não ganhou uma jogada sequer contra o ataque do Tolima e (fora!) Tite demorou a mexer no posicionamento dos volantes para dar mais segurança por ali.
Mas esses são meio que detalhes no cenário mais amplo de um time desarrumado, sem organização, sem criatividade. Presa fácil para um time que se não é tão ruim quanto imagina a cabeça futebolisticamente auto-centrada de nós brasileiros, está longe, muito longe de ser uma brastemp.
Tite tem muita culpa no cartório, não tenho dúvida, e por mim nem teria vindo. Mas o buraco é mais embaixo. Desde o ano passado, talvez antes, o Corinthians tem que se espremer para acomodar o principal nome de seu elenco. Ronaldo não vai jogar nada muito diferente do que fez ontem ou na reta final do Brasileiro do ano passado. Parado, com piques de no máximo três metros, sem brigar pela bola, mas com lampejos de inteligência em passes e finalizações acima da média. Dessa forma, pode até contribuir, mas a equipe precisa se armar em torno dele. Não é possível uma renovação ampla do jeito de jogar sem que Ronaldo saia da equipe.
E o Corinthians hoje precisa de renovação. Este campeonato Paulista é a hora perfeita para começar a colocar alguns jogadores com potencial, mas que ficaram encostados na reserva, e garotos que se destacaram na base. E aí aparece outro problema do tal do planejamento. Na primeira categoria, temos Edno, que voltou de empréstimo, mas teríamos também Defederico, emprestado sei lá pra quem. Na segunda, temos um atacante, Elias, mas teríamos William Morais e Dodô, também despachados para “ganhar experiência”.
Enfim, depois de dois anos de futebol em bom nível e altas expectativas, entrando com chances reais de ganhar os torneios que disputou, o Timão começa 2011 em baixa. Para completar, hoje torcedores invadiram o CT e quebraram carros de jogadores e funcionários (espero que o clube ajude estes últimos, que não ganham nem de longe o salário dos boleiros). E Roberto Carlos tira o seu da reta, dizendo que sua ausência no jogo de ontem não foi causada por lesão, mas decisão de Tite. Ah, e tem eleição no final do ano. Jogue-se com um barulho desses...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

3 a 0. Meu problema é não aguentar mais Luxemburgo

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Vai soar a bordão do Hardy ("Isso não vai dar certo), mas eu juro que não é a mesma coisa. Quando Vanderlei Luxemburgo foi contratado, escrevi que não acreditava que a relação custo-benefício valeria a pena. Meu problema era com os limites que um técnico tem para, de fato, decidir, já que isso passar por outros fatores dentro e fora de campo. Consta lá que queria ser calado por resultados.

Desde então, mudei um pouco de opinião. Patrocinador novo de um lado, parceria com gigante de marketing esportivo trazendo reforços de outro e um distanciamento da leitura diária de notícias da imprensa -- pra me informar pela mídia palestrina -- tiveram impacto sobre meu humor.

Apesar das derrotas, a idéia de que o time precisa ser arrumado estava confortável. Então, comecei a perceber que tanto quanto a falta de resultados, neste momento, o que mais cansa é o técnico. Não o esquema tático, erros de posicionamento ou qualquer outra coisa que esteja na lista de afazeres do cargo. Claro que a defesa não se resolveu e o ataque precisa mostrar serviço.

Mas o problema é a figura de terno aberto e grava balançando. Os percentuais de responsabilidade e a visão de melhoras na derrota. Um técnico cuja empresa WL assina contrato de "consultoria técnica" com o Joinville, mas até o clube catarinense fica cheio de dedos. Que entra numas de defender jogador que não está rendendo o que poderia e não pensar em formas de livrar o time da marcação (ou das pancadas, que seja).

É birra. Claro que é. A diretoria alviverde não vem atribuindo responsabilidades ao técnico. Surpreendente diante da cultura futebolística, mas nada mais natural do que todo mundo negar que haja pressões sobre o técnico. Tampouco atribuo-lhe a responsabilidade pela 14ª posição no Paulista, nem pela derrota para o líder Guaratinguetá. Só não aguento mais o cidadão como técnico do meu time.

Ah, a oposição sem proposta. E a quarta-feira de cinzas.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Santista, faça as contas, fique feliz e deixe o Ganso jogar

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Claro que a longa negociação que envolveu a transferência de Paulo Henrique Ganso para o São Paulo desgastou não apenas as partes envolvidas, mas também o torcedor santista. Até porque não é de hoje que o meia é alvo de especulações. A imprensa já tinha “vendido” o atleta para outro time no ano passado. Ainda que a diretoria do Santos tenha sempre negado ter recebido propostas oficiais por Ganso nesse período de dois anos, com exceção de uma feita pelo Porto, de cerca de US$ 8 milhões, o torcedor tinha conviver com a possibilidade de saída do jogador a cada janela, para diversos times.

Quando questionado, na coletiva de domingo, 23, sobre o que teria sido determinante para que desejasse sair da Vila Belmiro, Ganso desconversou. Disse que há dois anos a relação só se desgastava. De fato, o jogador queria sair desde então do clube. O que não havia, até agora, era uma proposta formal que contemplasse, principalmente, o que o Santos queria para liberar o atleta. Ele queria sair, mas ninguém queria bancar o risco de contratá-lo.

Faz tempo que Ganso está em outra... (Ricardo Saibun/Santos FC)
É quando tem início a novela que durou 32 dias, que revelou bem o modus operandi das partes. Em um domingo, salvo engano no dia 26 de agosto, ouvi pelo rádio uma coletiva quebra-queixo do vice-diretor de futebol do São Paulo, João Paulo de Jesus Lopes, na qual dizia que o clube do Morumbi não iria fazer outra proposta por Ganso. A primeira dava ao clube da Vila aproximadamente R$ 12 milhões. O Santos já havia recusado a proposta oficialmente. Ao mesmo tempo em que negava disposição de fazer outra investida, o cartola não dizia que o Tricolor havia desistido do negócio. Ou seja, obviamente o São Paulo contava com a vontade do atleta de sair e com o constrangimento do Santos por parte da DIS e, diga-se, de boa parte da mídia esportiva que joga junto com o grupo e com o clube paulistano. A ideia era forçar a saída por menos do que aquilo que o clube praiano achava justo.

Mas os santistas fizeram jogo duro. O grupo, dono de 55% dos direitos econômicos de Ganso, mais o próprio atleta poderiam até tentar a liberação na Justiça, mas os problemas decorrentes disso seriam inúmeros. Ainda mais porque o Santos nunca negou ao boleiro o direito de trabalhar. Ao fim, o clube conseguiu quase o dobro do que o São Paulo propôs inicialmente, além de 5% do valor de eventual transação futura (sem prejuízo dos 5% que já tem direito por ser o clube formador). E ainda trocou a penhora de 20% de parte de suas receitas – que iriam ser depositadas judicialmente, não podendo ser utilizadas pelo clube – pela penhora de um dos seus centros de treinamento, o CT Meninos da Vila.

Para se ter uma ideia do quanto o Santos lucra com o negócio, cabe um exercício: imaginem que Ganso estoure, jogue como nunca, não sofra mais com contusões e instabilidade emocional e seja vendido daqui a um tempo pelo valor da sua atual multa rescisória, 60 milhões de euros ou, pela cotação de hoje da moeda, R$ 156,6 milhões de reais. Viriam para os cofres da Vila Belmiro R$ 15,6 milhões. O São Paulo embolsaria R$ 45,12 milhões, o equivalente a 32% do restante, porcentagem que adquiriu ao pagar R$ 16,4 milhões (a outra parte do pagamento feito ao Santos para se chegar aos R$ 23,9 milhões veio da DIS, que subiu sua participação nos direitos econômicos do atleta de 55% para 68%).

Resumindo, fazendo as contas da transação de um Ganso mais que recuperado e valendo mais do que vale Neymar hoje, o Tricolor teria como “lucro”, descontando o investimento feito para levá-lo do Santos, R$ 28,72 milhões. O Alvinegro, somando o que ganhou agora com o que receberá caso a transação para o exterior ocorra nesses termos, R$ 40,3 milhões. Pode-se incluir mais ganhos de marketing e venda de produtos para o São Paulo, mas também é preciso levar em conta o salário pago ao atleta. Em um ano, o Tricolor deve gastar praticamente o que o Santos pagou a Ganso durante todo seu período como profissional.

Ainda assim, a venda de Ganso não envolve só dinheiro. Existe o ganho intangível, que envolve possíveis títulos e futebol bem jogado. Isso o ex-Dez já deu aos santistas, sendo fundamental, em menor ou maior grau, em cinco títulos nos últimos três anos. Mas o fato é que ele já não estava na Vila há muito tempo. Seus belos lances eram lampejos em meio a uma aparente apatia e constantes visitas ao departamento médico.

Fui a um jogo no Pacaembu neste ano no qual ele sequer saudou a torcida quando teve seu nome entoado pela massa. Se o Santos já não poderia tê-lo, que fizesse uma boa negociação. E foi, de fato, das melhores que se podia fazer.

Memória

Sebastían Pinto, presente da DIS
A diretoria do Santos pode ter sido inábil nesse período em que Ganso esteve no clube insatisfeito, mas é bom lembrar que o atleta já se envolveu em confusão com seu “descobridor”, o eterno Giovanni, que diz ter direito a parte dos direitos econômicos do meia, mas nem se anima a ir à Justiça por eles. A DIS, que detém 55% dos direitos, é outro “parceiro” difícil, que já se envolveu em imbróglios em vários outros clubes. E essa é uma “herança maldita” de nosso dileto ex-presidente Marcelo Teixeira, que trouxe o grupo como parceiro preferencial.

Pra quem não lembra, o grupo traria reforços de peso para o time em 2008, mas chegaram Molina, Michael Jackson Quiñones, Sebastían Pinto e Trípodi. Levaram embora o lateral Kléber para o time de coração do dono do grupo, o Internacional, e ainda compraram, a preço de banana, parte dos direitos econômicos de jogadores da base do clube, como Neymar, Ganso, André e Wesley.

No caso do meia, a DIS também gerencia sua carreira, o que não acontece (ainda bem) com Neymar, por exemplo. Daí toda a dificuldade enfrentada pelo clube para lidar com Ganso.

Antes de falar mal da atual gestão, é bom lembrar quem trouxe esse “parceirão” para o Santos...

terça-feira, abril 12, 2011

Editora Abril quer Luciano Huck presidente do Brasil

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Depois de classificar os posicionamentos políticos de Chico Buarque como "molecagem", por apoiar Lula, Dilma Rousseff, Hugo Chávez, Evo Morales e Fidel Castro (entre outros inimigos eternamente demonizados pela mídia tucana), a revista "Alfa Homem" traz agora na capa o que considera o ideal "político" da Editora Abril. O (asqueroso) Luciano Huck aparece de terno, em foto com esmero de marketing eleitoral (reprodução à direita), e, sem meias palavras, a publicação pergunta ao leitor se ele não seria o "salvador da pátria" para "acabar com a pobreza" no país. À primeira vista, parece uma piada inconsequente - tanto quanto o programa que Huck apresenta na TV Globo. Mas é sério isso. Muito sério.

O apresentador de programas televisivos e empresário Luciano Huck, paulistano de origem judaica e muito abastada, é apresentado como o supra sumo de tudo o que a Abril considera "bom", "correto" e "confiável". Um novo "caçador de marajás": jovem, rico, ídolo televisivo e com ações sociais "beneméritas" e assistenciais. A revista "Alfa" lista os "atributos" para você votar nele (o grifo é nosso): "Tem helicóptero, alguns carros importados, está construindo uma mansão de 16 quartos com heliporto no Rio de Janeiro. Vive um casamento feliz, com dois fillhos perfeitos". Não contente, a publicação ameaça e aposta: "Porque, goste ou não de Luciano Huck, ele é uma presença obsessiva na vida nacional — e vai crescer ainda mais. Seus amigos mais próximos já se perguntam por que não o colocar de vez num cargo público".

E os nomes de alguns desses "amigos" do apresentador ajudam a entender o motivo de tanta festa por parte da editora da família Civita (mais um grifo nosso): "Bons contatos na política não faltam. José Serra é amigo da família e o mineiro Aécio Neves se mantém ainda mais próximo". Ou seja, Huck é, para a Editora Abril, um potencial "novo iluminado" entre os "iluminados" tucanos da capital de São Paulo, grupo que representa tudo o que há de mais arrogante, prepotente, preconceituoso, retrógrado, classista e conservador na política nacional. Não por acaso, a reportagem recorre ao empresário Alexandre Accioly, de estreitas relações com Aécio Neves (foto), para dizer que Huck será "o próximo Ronald Reagan" (cruz credo!). Pois é, até o dinheiro de campanha já está garantido...

Um peixe indigesto
Obviamente, fica explícito que "amigos" de Luciano Huck também são os próprios membros da família Civita, proprietária da Editora Abril. Digo explícito porque, antes, de forma implícita (mas nada discreta), a editora já havia "socorrido" o apresentador em uma recente "saia justa". Em dezembro de 2010, Huck comprou uma parte (especula-se que 5%) do site de compras coletivas Peixe Urbano. De imediato, usou o Twitter para impulsionar e tentar um novo recorde de venda de cupons de desconto do site. E a (mórbida) oportunidade viria no mês seguinte, quando milhares de pessoas morreram em deslizamentos provocados pelas fortes chuvas no Rio de Janeiro. Huck tuitou: "Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita".

Acontece que a exploração da tragédia foi denunciada por Luís Nassif em seu blogue: "A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes. Parece bonito, mas não é. Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano. Depois, é preciso se cadastrar no site. E então comprar um ou mais cupons de R$10,00. Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente. Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs)". A "esperteza" repercutiu forte na internet e a imagem de Luciano Huck ficou bem arranhada.

Por isso, a Editora Abril não tardou em "salvá-lo". Com a sutileza de um elefante numa loja de cristais, lançou uma edição da Veja (aaarrghh...), no final de janeiro, com Huck e sua esposa Angélica na capa, sob a angelical manchete: "A reinvenção do bom-mocismo" (reprodução à direita). Isso, como bem observou o blogue "Somos andando", na mesma semana que uma revolução podia "mudar a cara do mundo islâmico" (assunto que a capa da revista deixou para terceiro plano). Agora, a "Alfa Homem" completa o serviço: "'Hoje, aos 39 anos, acho que estou cumprindo esse papel na televisão', diz Luciano, depois de pensar um pouco. Mas seria presidente do Brasil? 'Agora, não. Daqui a dez anos, talvez eu tenha mudado a resposta'".

Em dez anos, se outros (poderosos) meios de comunicação, além da Globo e da Abril, outras (poderosas) forças políticas, como Aécio e Serra, e econômicas, como Accioly, continuarem construindo e massificando a imagem desse playboyzinho yuppie e ganancioso como "salvador da Pátria", poderemos ter um grande problema e, na pior das hipóteses, retroagir nossa política aos tempos do não menos playboyzinho-yuppie-ganancioso Fernando Collor de Mello. Duvidam?

Com o grupo mais reacionário entre a (hiper) reacionária elite brasileira, não se brinca. Quando essa cobra põe a cabeça pra fora, é difícil matá-la à pauladas (não é mesmo, Leonel Brizola?). Por isso, volto a afirmar: isso é sério. Muito sério.

terça-feira, outubro 30, 2007

Se o Brasil não faz um bom negócio com a Copa, fecha esse país!

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Sim, o Brasil foi escolhido por unanimidade como sede da Copa de 2014, como já adiantava no post debaixo o Nicolau. A escolha, sem dúvida, beneficia a perpetuação no poder (como se precisasse disso) de um grupo que comanda o futebol brasileiro há anos. E é claro que esse grupo, tendo o poder de organizar o Mundial, vai lucrar politicamente e de outros modos idem. Ninguém gosta de ver os vilões que fizeram do futebol brasileiro essa nau dos insensatos sorrindo, mas, nem por isso, deve se condenar de forma tão veemente o fato do Brasil ter sido indicado.

Tirando o argumento acima, sinceramente, não vejo muito sentido na ladainha repetida pela tal "mídia esportiva séria". O mais banal é o de que "não temos capacidade para organizar o evento". Ora, a CBF não vai ser a responsável por isso sozinha. A FIFA, que tem alguma experiência na área já que organiza todos os Mundiais desde que os animais são animais, vai estar junto exigindo um relatório minucioso a cada três meses. E também deve desembolsar US$ 400 milhões em 2008, podendo contribuir com mais nos anos seguintes. Além disso, dada a magnitude do evento, grandes parceiros da iniciativa privada também estarão junto não só injetando investimentos como também auxiliando na logística. E, obviamente, o Poder Público, representado em seus três níveis, vai colaborar com a Copa.

Outro ponto é que o "governo vai investir em futebol enquanto deveria investir em saúde e educação". Falácia. O montante de fato significativo de recursos do Poder Público vai ser voltado para obras de infra-estrutura - algumas, de responsabilidade do governo federal, que já estão previstas no Programa de Aceleração do Crescimento, PAC -, em transporte, saúde e tudo que for necessário para viabilizar o conforto de quem vier assistir a Copa no país. Investimento no sentido lato, porque o legado fica, não some. Quanto aos estádios, provavelmente a maioria será transformada em arenas multi-uso e compartilhadas com empresas privadas que irão bancar os projetos para depois explorar comercialmente os mesmos.

O papel desempenhado pelos governos é a grande vantagem de um evento como este. Obriga o Estado a cumprir sua função, sendo que o dinheiro retorna em impostos e ganhos de outra ordem. E quem duvida do potencial de marketing do país do futebol sediando uma Copa do Mundo? A Alemanha não só mudou sua imagem para o resto do mundo, afastando o estigma de xenofobia, como a Associação de Comerciantes Alemães estimou que o torneio gerou diretamente 2 bilhões de euros. Foram contabilizados 50 mil novos postos de trabalho e o ministério das Finanças arrecadou com impostos 7,2 milhões de euros só da FIFA, referente às premiações pagas pela entidade, mais 57 milhões de euros provenientes do comitê organizador, além de 40 milhões de euros sobre a venda de ingressos.

Se isso não for bom negócio, não sei o que é. E se o Brasil, uma das doze maiores economias do mundo, não consegue gerir isso, é melhor fechar a lojinha.

segunda-feira, outubro 03, 2011

A “festa” sem vitória, motivos para não ser campeão e a baixa qualidade

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Por Moriti Neto

63 mil torcedores. Reestreia de Luis Fabiano. Os bons Ceni, Lucas, Dagoberto, Casemiro, Rodolpho e Denílson. Público recorde, a volta de um ídolo, qualidade individual. A festa estava armada para o São Paulo contra o Flamengo ontem, no Morumbi. Só faltou a vitória.

Os cariocas foram melhores e venceram justamente, por 2 x 1. Após uma primeira etapa com os donos da casa tomando a natural iniciativa de ataque e o Flamengo posicionado para contragolpear,  o segundo tempo mostra Rogério pegando muito e evitando ao menos quatro gols flamenguistas, em boas jogadas criadas pelos lados, contando com o rotineiramente  fraco desempenho são-paulino nos flancos, antes de Thiago Neves, aos 19, abrir o placar. Dagoberto empatou, num belo chute, aos 34. Mas foi Renato Abreu quem deu números finais ao placar, aos 39, em finalização despretensiosa que desviou em Carlinhos Paraíba e tirou Ceni do lance.

A arbitragem esteve mal. O meia são-paulino Lucas foi expulso aos 9 minutos do segundo tempo. Tomou um justo segundo amarelo. O problema é que o primeiro cartão foi discutível. Já indiscutível, é que o volante flamenguista Willians, excluído aos 26, também pelo segundo amarelo, nem encostou em Carlinhos Paraíba que, ridiculamente, caiu após tropeçar nas próprias pernas. Também sem discussão, aos 40, Dagoberto deveria ter recebido a segunda advertência na partida, o que acarretaria na expulsão do atacante.

Clinica de reabilitação 2

disse aqui que os adversários em má fase podem ter boas perspectivas quando olham a tabela e veem o próximo jogo contra o São Paulo, no Morumbi. O Flamengo foi só mais um que se encaixou nessa situação. Nos onze jogos anteriores, o time da Gávea tinha aproveitado só oito dos 33 pontos disputados, sendo que a única vitória ocorreu contra o último colocado, o América Mineiro.

O aproveitamento são-paulino em casa é pífio sob o comando de Adilson Batista. Empatou com Atlético Goianiense,  Atlético Paranaense, Corinthians e Palmeiras. Perdeu para Vasco, Fluminense e Flamengo. Ganhou apenas de Bahia, Atlético Mineiro e Ceará. Então, vitórias só contra três times que brigam para não cair.



Sem ganhar dos melhores não dá

Dos concorrentes mais bem colocados no campeonato, o São Paulo só ganhou do Fluminense, na primeira rodada do certame. Depois, perdeu e empatou com o Corinthians, foi derrotado duas vezes pelo Flamengo, perdeu do Vasco, teve derrota e empate diante do Botafogo, e sofreu revés do  Fluminense na abertura do returno. Ainda tem pela frente o time da Colina, em São Januário.

Detalhe curioso é que, no Morumbi, o Tricolor perdeu todos os confrontos com os cariocas. Pelos lados do Cícero Pompeu de Toledo, deve haver quem se sinta aliviado por não ter mais nenhum enfrentamento contra times do Rio de Janeiro em casa.

De qualquer forma, como mandante ou visitante, o São Paulo não conseguir vencer os ponteiros de cima da tabela é sintomático de um time sem grandes possibilidades de título.

Adilson Batista

Não é só pela péssima campanha em casa que o técnico são-paulino é mal avaliado. Adilson Batista, desde que chegou ao Tricolor, se mostra apático, covarde até.  Com um bom elenco, não é capaz de formar um time, não organiza um padrão de jogo. Também mexe mal, como ontem, quando tirou Luis Fabiano e colocou Carlinhos Paraíba, chamando o Flamengo, com um a mais, de vez para o ataque. Sim, o centroavante tinha que sair, mas era Rivaldo o nome para substituí-lo.  

Outro erro gritante do treinador é com Lucas. Antes da volta de Luis Fabiano, a insistência era manter o garoto no ataque, de costas para o gol. Contra o Flamengo, o menino, na maior parte do tempo, ocupava a mesma faixa de campo que Casemiro, que deu para achar que é meia. O camisa 7, muitas vezes, tinha inclusive que ficar preso à marcação e cobrir as constantes subidas do volante.

Porém o pior é que Adilson tem muito medo. Parece refém de uma situação que coloca o São Paulo como a última esperança de carreira num grande clube, depois de insucessos consecutivos, principalmente em Corinthians e Santos, e, lateralmente, no Atlético Paranaense. O receio de perder a atual oportunidade o deixa em condição delicada, inclusive à mercê das vaidades e chiliques dos jogadores.

Dagoberto

Por falar em chiliques, impossível não pensar em Dagoberto.  Individualista ao extremo, joga para ele, sem responsabilidade coletiva. Quando perde uma bola no ataque, logo leva as mãos à cintura, olha para os lados e caminha devagar. A cena é repetitiva. Passa-se em todos os jogos do São Paulo.  O atacante não recompõe, não ajuda na marcação. Acha que é craque, protagonista, quando é só bom jogador e coadjuvante.

Fez um belo gol ontem, é fato, mas o que ocorreu depois evidencia o individualismo. Num dos tradicionais chiliquinhos, foi comemorar sozinho, “desabafando”, tirou burramente a camisa, foi amarelado e, só por conivência da arbitragem, não recebeu merecida expulsão.

Dependência

Desde março, quando anunciou a contratação de Luis Fabiano, o Tricolor passou a sentir estranha dependência de um jogador sem data para atuar. Ainda com Carpegiani, o time foi montado para jogar com o centroavante, que veio com ares esquizofrênicos de ao mesmo tempo “salvador da pátria” e de única peça que faltava para montar um bom sistema.

Eis que finalmente, Luis Fabiano jogou. Não foi mal. Sete meses parado e se movimentou razoavelmente. Fez o pivô, recuou para buscar a bola, chegou a tirar bons lançamentos. Mostrou a incontestável presença de área, não fez o gol por intervenções providenciais de Felipe e Alex Silva. Ainda assim, dá o que pensar a aposta desde o início num jogador fora de ritmo – que se sabia não aguentaria em nível razoável mais que um tempo. Para o bem do time, poderia ter entrado na segunda etapa. Pensou-se no marketing, na mídia, na renda. Parece que a vitória foi um tanto esquecida.       

Sinal da baixa qualidade

Já disse acima que o Flamengo, antes da vitória de ontem, anotou só oito pontos em 33 disputados. Hoje, está com 44, a seis do líder Vasco, e não dá para dizer que, bem como o Fluminense, é carta fora da briga pelo título.

Quando um time do tamanho do Flamengo fica dez rodadas sem vencer e tem um aproveitamento no segundo turno digno de candidato ao rebaixamento, e ainda assim os que estão brigando pela liderança não conseguem se distanciar, a impressão que fica para este escriba é de que, na média, falta de qualidade.

domingo, maio 26, 2013

A despedida de Neymar. O difícil adeus do torcedor do Santos

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Naquele dia, no Pacaembu, um burburinho começou a tomar conta da torcida no início do segundo tempo. Logo, o zumbido eclodiu em gritos que pediam a entrada de um jogador que nunca tinha sequer vestido a camisa do Santos no time de cima até então. Mesmo assim, era falado, cotado como futuro craque, tanto que já valia US$ 25 milhões. Era a esperança de um futebol melhor para uma torcida que já havia sofrido em 2008, e se previa àquela altura um ano também difícil.

7 de março de 2009. Eu estava no Pacaembu naquele dia, vendo o garoto que acabara de entrar colocar uma bola na trave, aos seus dois minutos como profissional. O Santos venceu o Oeste por 2 a 1 e aquele menino cheio de técnica e personalidade já me fazia sorrir. E sonhar com o que poderia vir a ser.

Foi em seu terceiro jogo, contra o Mogi Mirim, que marcou seu primeiro gol. Ironicamente, do outro lado estava um outro ídolo eterno peixeiro, Giovanni. No final, o moleque foi abraçar o meia e falou: “Você jogou pra caralho!”. Não era exatamente verdade, mas era mais que uma gentileza, quase uma reverência de alguém que reconhecia no outro uma inspiração, uma referência. Sinal de respeito de um craque que surgia por outro que já quase acabava de escrever sua história.

No ano seguinte, ambos jogariam juntos. Quando Giovanni surgiu, logo foi apelidado de Messias. Sim, nós santistas temos, como tantas outras torcidas, algo de religiosos, mas não é exatamente o fanatismo que nos determina. É algo como a espera de alguém que traga um futebol bem jogado, ofensivo, criativo, fora do comum, que honre toda uma história de goleadores, de craques habilidosos. Que vimos e que não vimos. Os profetas que nos salvariam dos jejuns, das filas, do futebol comezinho e medíocre. Que fariam torcedores como eu e outros irem homenagear os jogadores que foram vice-campeões em 1995 em uma praça no Gonzaga. Celebrar mais o futebol apresentado do que protestar contra uma arbitragem. Porque havíamos renascido, éramos gratos.

Neymar comemora seu primeiro gol pelo Santos
E volta e meia eles, os profetas da bola, vêm ao campo sagrado da Vila Belmiro. Às vezes, quase solitários, como Giovanni; em outras ocasiões, em dupla, como Diego e Robinho. Ou, ainda, estrelando com belas companhias, como o menino que fez mais que bela figura junto a um inspirado Ganso, a um renovado Robinho, a um então polivalente Wesley ou um múltiplo e incansável Arouca.

Quando se cresce com seu time vivendo uma seca de títulos, imagina-se várias vezes como será sua reação na hora em que ele ganhar um título. Em 2002, não chorei, simplesmente não parava de rir. Mais tarde, quantas vezes ri com esse menino. Não o riso de deboche com o adversário, mas de alegria ou de estupefação com um lance bem tramado, um drible impossível, uma jogada improvável. Após um lindo gol do moleque, um santista que assistia a uma partida comigo teve um ataque de riso e repetia: “isso é futebol! Isso é futebol”.

Títulos. Sim, vieram títulos, como são bons. Mas são melhores com aquele quê, com aquele tempero dele, que faz aquele lance que você viu e vai ficar comentando daqui a alguns anos para quem não teve o prazer de ver. Vão duvidar de você, que terá que recorrer ao YouTube e perder horas porque não lembra em que jogo foi.

E como é bom ver in loco. No Pacaembu, assisti o menino marcar quatro gols (seriam cinco, se o árbitro não tivesse anulado um de forma errada). Sabia que teria que aproveitar aquele e outros momentos, porque um dia ele iria embora.

Hoje, foi. Ainda não, mas a saída foi sacramentada. O clube lucrou com uma estratégia de bancar seus salários que não seria possível de outra forma. Ganhou no campo, também no marketing. Como não havia possibilidade de renovação além de 2014, vendeu seus direitos que nada valeriam daqui a alguns meses. Para um jogador prestes a encerrar um contrato, uma ótima soma. Mas aqui não se trata de dinheiro, e sim do vazio que fica.

Mais de quatro anos de convivência, com o fantástico posto de 13º maior artilheiro da história do Santos (por enquanto) e, até hoje, 229 jogos, 138 gols e 70 assistências. Dos ídolos que vi irem embora – porque, ainda hoje, é assim que a banda toca no Brasil exportador –, esse é o que deixa a pior sensação. Mas foi uma despedida que vinha acontecendo aos poucos, com um futebol opaco de sua equipe que nem ele conseguia erguer. Ao contrário, foi sendo trazido também para baixo. Uma alegria em seu rosto que minguava com a enorme pressão pela sua saída, cantada por veículos midiáticos, jogadores, técnicos e empresários/ex-jogadores. Por fim, pela própria diretoria do seu clube. O futebol, o meio que o circunda e seus interesses não são para qualquer um.

O ludopédio brasileiro, é fato, não está preparado para segurar talentos como o dele. Triste. Para ele, para os santistas, para o futebol das bandas de cá. Podem surgir outros casos similares, nos quais jogadores queiram ficar aqui ou em algum outro país vizinho, mas, por enquanto, serão exceções, não regra. vão sempre calcular e especular sobre o dia em que partirão. Vai demorar muito para erguermos a cabeça e olharmos o Velho Mundo de igual para igual. A ida do moleque faz o santista lamentar, mas deveria fazer os "gênios" do futebol brasileiro refletirem. Olhamos pra você e vemos nossa pequeneza, e o quanto poderíamos ser grandes e não somos.

Vai, garoto, o mundo é seu. Vou sentir saudades de gritar “vai pra cima deles, Neymar”. Mas é hora de não ser egoísta e de desejar que a mesma alegria que você proporcionou a mim e a tantos, santistas ou não, possa ser compartilhada em outras plagas. Torço por você. E por aqueles que o sucederão por aqui. 

Adeus, ou até breve. Você não foi e nem será Pelé (tudo bem, Messi também não será), mas foi o meu Pelé e de muitos outros. E de tantas crianças que terão sempre você como meta. E como sonho. Por isso, muito obrigado.


O comunicado do jogador:

Galera !! Tô aqui reunido com amigos e familiares e eles me ajudaram a escrever algumas coisas aqui... É que não vou aguentar até segunda-feira... Minha família e meus amigos já sabem a minha decisão. Segunda-feira assino contrato com o Barcelona. Quero agradecer aos torcedores do Santos por esses 9 anos incríveis. Meu sentimento pelo clube e pela torcida nunca mudará. É eterno !! Só um clube como o Santos FC poderia me proporcionar tudo o que vivi dentro e fora de campo. Sou grato a maravilhosa torcida do peixe que me apoiou mesmo nos momentos mais difíceis. Títulos, gols, dribles, comemorações e as canções que a torcida criou pra mim estarão pra sempre em meu coração... Fiz questão de jogar a partida amanhã em Brasília. Quero ter a oportunidade de mais uma vez entrar em campo com o "manto" e ouvir a torcida gritar meu nome... como diz o hino, "é um orgulho que nem todos podem ter..." É um momento diferente pra mim, triste (despedida) e alegre (novo desafio). Que Deus me abençoe nas minhas escolhas... E estarei sempre em Santos !! #Toiss

Nunca foi tão triste escrever um post.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Governo de São Paulo não quer blogues no projeto de inclusão digital Conexão Cultura

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DIEGO SARTORATO*

A Fundação Padre Anchieta divulgou os resultados de uma pesquisa que realizou em 27 lan houses da capital, com 349 pessoas, sobre a forma como pessoas das classes A, B, C e D usam a internet naqueles comércios. As entrevistas não foram à toa: o governo do Estado vai criar o projeto Conexão Cultura (que não é subordinado à TV pública mantida pela mesma fundação), com o objetivo de planejar uma barra de ferramentas que passará a ser instalada nos computadores de lan houses e cyber cafés da capital que entrarem (voluntariamente, esperamos) no projeto. A ideia é fornecer conteúdo informativo e educativo gratuito aos internautas - desde que os grandes poderios econômicos e os setores tradicionais da comunicação não fiquem de fora, claro.

Um detalhe curioso é que os blogues devem ficar de fora. "Sinceramente, não pensamos nisso. Não sei. Mas não acho que seja o nosso perfil. Até porque é um pessoal que está muito bem divulgado em outras mídias e provavelmente não terá interesse em nós", afirmou o coordenador do projeto, Luiz Henrique Barreto do Amaral, do setor de marketing (!) da Fundação Padre Anchieta. Ele resume a proposta do Conexão Cultura: "Vai ser uma barra lateral que vai estar no computador, e que terá links direcionados a páginas dos parceiros do projeto, em que haverá notícias, cursos online, material educativo". Os parceiros, que também devem participar do projeto com patrocínio financeiro, são os de sempre. "Por enquanto, fechamos com o Itaú Cultural e com o SESC-SP", adianta Amaral.

Poderio econômico preponderante
A imprensinha também não deve ficar de mãos abanando. "Se a Globo ou o UOL quiserem participar, não há impedimento. Não existe o braço educativo da Globo, o Futura?", pergunta. "Corremos o risco que grupos de maior poderio econômico sejam preponderantes. Mas existe uma parcela muito grande do empresariado que, de certa forma, assumiu um papel que deveria ser do Estado de promover a inclusão digital", admite. Só que ainda não se sabe como fazer com que os internautas acessem os links do projeto. "Então haverá um quiz, para ter certeza de que a pessoa leu mesmo", comenta Amaral. Isso para ter certeza que a pessoa leu mesmo o UOL (parceria de Folha de S.Paulo e Editora Abril), o G1 (Globo), o site do banco Itaú...

Interessante foi o comentário postado na matéria sobre a pesquisa postada pelo UOL: "Olá, sou diretor de uma entidade que representa as lan houses no Brasil, a ABCID. Em relação à classe D na pesquisa, há uma controvérsia, pois hoje em dia a maior parte do público é da classe C e D", observou Rafael Maurício, da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital. Para quem quiser analisar com mais detalhes, tivemos acesso ao resultado completo da pesquisa, que está disponibilizado aqui. Negritos e números de tamanho aumentado são da própria equipe da Cultura Data. Qualquer semelhança com um levantamento mercadológico só pode ser mera coincidência. Ou estaríamos presenciando o nascimento do spam oficial?


*Diego Sartorato é jornalista, corintiano, comunista, pró-blogues, apreciador de 'vodka' Zvonka e colaborador bissexto do Futepoca.

quinta-feira, março 12, 2009

A Globo ama o Ronaldo

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Dizem por aí que a imprensa é corintiana. Eu sempre achei que isso só procede no quesito "excesso de pautas", porque acham que tudo o que tem a ver com o Corinthians vende. Então inventam crises que não existem, geram e ampliam outras crises, programam jogos que talvez não merecessem ir à TV. Mas minha impressão de torcedor é que gostam mais de falar mal do que bem do Timão. Ao contrário do que acontece com o São Paulo, de quem a mídia gosta de falar bem.

A chegada de Ronaldo inaugura uma nova fase, como já apontaram aqui no Futepoca e muita gente internet afora. Começou por um inusitado e insistente interesse pelo banco de reservas e – inovação – a narração esportiva do que acontece no banco. "Ronaldo sorri", "Ronaldo reclama, não concordou com a marcação do juiz", "Ronaldo está muito atento no jogo" e todas essas coisas que o Brasil tanto quer saber.

Agora que ele entrou em campo... O "carinho" que a Globo dedica ao Ronaldo é todo especial. Ontem, Palmeiras e Ituano na telinha, empate que ficou barato aos reservas do Palestra, Ronaldo se infiltrava na transmissão a cada 5 minutos e a fala do Cleber Machado se enchia de afeto. "Olha só esse lance do Ronaldo", "Ele parece que está bem, será que ele fica 60 minutos?".

Ainda no primeiro tempo, Ronaldo perdeu um gol na cara, fez até aquela careta, puxando os cantos da boca e mostrando a dentadura, como quem diz "olha a merda que eu fiz". Cleber, de sua tribuna, não foi tão duro como queria o atacante: "É, essa aí, olha, dá até pra dizer que ele perdeu". Mas o carinho pelo craque é tamanho, mas tamanho, que começa a contaminar a relação com o clube como um todo. Em seguida, numa sequência de boas defesas do Felipe, o narrador nem se abalou: "Olha só, deram algum trabalho ao goleiro Felipe" – parecia que nada podia de fato ameaçar o Corinthians, afinal, tem em sua linha o ungido, o abençoado, ou ainda o "guerreiro", como querem alguns.

Mas Felipe alterna grandes defesas com grandes falhas, e o São Caetano chegou ao gol numa saída um tanto quanto bizonha do arqueiro. Na narração, o São Caetano chegou "neutramente" ao gol numa bola cruzada. Mas quem se interessa? O que importa é o drible que o Ronaldo vai dar daqui a pouco, e os muitos gols que ele vai fazer nessa goleada certa. Ou então, se esse bravo guerreiro vai suportar ficar ali no jogo, se vai atuar por 60, 70, 73, 87, ou 90 minutos. A cada momento, queremos muito saber se o Ronaldo demonstra cansaço, se aparenta sentir-se bem, se está feliz, se não tem nada doendo...

Agora, pra pôr o link aí embaixo, que eu tirei do Globo.com, não são os melhores momentos do jogo, mas o gol e outros lances do Ronaldo.



Se ao contratar o Fenômeno, Andrés Sanches pensou no marketing, acertou. O Corinthians é agora notícia no mundo, pelos pés do atacante.

E acertou também pelo futebol, porque o cara é craque mesmo. Enquanto durar o joelho, vai fazer muitos gols para orgulhar a Fiel Torcida.

E pra Globo já é um dos maiores eventos da história do Corinthians. There's only one Ronaldo!

terça-feira, agosto 12, 2008

No butiquim da Política - O grande debate

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Debate. O pior da campanha política começou. Tanto se fala. Tanto se reúnem as equipes dos candidatos à prefeitura. Tanto se faz exigências, que distraidamente a gente começa, sem perceber, a acreditar. Vamos tomar um banho de civilidade. Tanto se toca em comportamentos éticos, tanto se fala em respeito aos oponentes, tanto se diz sobre a autoridade dos entrevistados, que a gente esquece que, entra campanha, sai campanha, com pompas de moralidade, e nada acontece.

O debate deveria ter respeito pelo eleitor, sim o eleitor. Os candidatos fazem uso do marketing, estão preocupadas apenas em se beneficiarem do espetáculo. Veste-se o apresentador de autoridade. A empresa está salva. O esclarecimento à opinião pública até pode acontecer. A beleza plástica. Os cabelos, os ternos, os vestidos ficaram bem, está tudo em harmonia com o cenário. A produção está perfeita, diz o diretor do debate. O espetáculo vai começar. Vamos ao debate, instrumento maior da democracia. Vamos nos arrumar nas cadeiras.

As informações começam a surgir, o debate vai trazer esclarecimentos, é o que se presume. Agora vamos construir mais um pilar da democracia. Ledo engano. Com o modelo de debate que aí está, o desrespeito ao eleitor começou. Cada candidato, polidamente, e não poderia ser diferente, fala o que bem entende. Todos olhamos perplexos as sandices. Nem pra papo de boteco serve. Butiquim que é butiquim, nas conversas, tem viagens e imaginações à vontade sobre ações factíveis. Mentira é inadmissível. O papo rola. Alguém observa: parece que eles tomaram todas. O outro completa: "-Não, é que eles não têm respeito nem por eles próprios".

"-Mas sabe que a rapaziada tem razão?", penso com meus botões. Debate pelo debate não esclarece. Afinal, debate político presume esclarecimento aos eleitores. Nossa democracia tem costas largas, aceita espetáculo como esclarecimento. Deixemos os "tantos". Aliás, no butiquim não temos que achar nada, temos que lembrar da primeira frase do samba de Noel Rosa e Vadico, Feitio de Oração que diz: "Quem acha vive se perdendo...".
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*Clóvis Messias é dirigente do Comitê de Imprensa da Assembléia Legislativa de São Paulo e escreve semanalmente para o Futepoca.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O técnico-torcedor, o patrocínio e a moral

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Quando cheguei ao trabalho, ouvi de corintianos comentários fáceis – e obrigatórios – do tipo "você acha que o Muricy dura mais dois jogos?" e "Dois jogos não é muito?" Claro que troça é troça, e depois de um clássico vencido, é inevitável. Até porque os alvinegros passaram três anos sem esse sabor. E não serão torcedores rivais que vão pautar o torcedor.

No domingo, enquanto o Palmeiras perdia para o Corinthians jogando a maior parte do tempo com um jogador a mais, o treinador Muricy Ramalho desfilava com um novo uniforme. O que está em questão não é a superstição praticada por alguns treinadores e jogadores no passado, que repetiam camisetas, bonés, meias e tudo quanto é peça de roupa.

Segundo a empresa patrocinadora, "nunca, na história deste planeta", uma empresa estampa sua marca no uniforme do técnico de um time profissional. E só dele.

De lambuja, leva carrinho da maca, placas nos Centros de Treinamentos, outdoor no Centro de Treinamento de Guarulhos e também o backdrop – aquela lona que compõe o cenário onde jogadores, comissão técnica e cartolas concedem entrevistas. A seguradora da Unimed levou R$ 1,3 milhão aos cofres do clube, por um ano.

Segundo o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, Muricy "topou ajudar na hora" e não levou nada a mais pela fórmula. Exceto os direitos de imagem já definidos por contrato, mostrando ser "um excelente profissional", de acordo com o diretor de marketing do clube, Rogério Dezembro.

Tanta moral exibida na coletiva com a diretoria seria pra inglês ver?

A insatisfação com o futebol apresentada é geral, inclusive de Muricy e da diretoria, que promete mais atacantes. E as críticas que aparecem são mais à diretoria do que ao treinador.

Um sinal que deixa claro para mim que o clima é tranquilo por lá – pelo menos por enquanto – foi a forma como o Terceira Via Verdão abriu a entrevista com Muricy. Além de não editar nem cortar palavrões e maneirismos, o que deixa o texto mais divertido, está lá que "ouvimos coisas que há menos de um ano não achávamos que fossemos ouvir da boca do treinador". A saber: "Sim, Muricy era palmeirense quando criança".

A entrevista é divertida. O técnico elogia o time atual por ter boa escolaridade e boa cabeça, atributos de um elenco que não me lembro de ver elogiada. Diz que o Palmeiras não tem um 10 como Ademir Da Guia, "só tem cara que é força, corredor".

Apesar disso, diz que o time da Copa São Paulo, eliminado pelo Santos na semifinal, é muito bom, o que justifica tanta molecada compondo o elenco – além da falta de contratações, é claro. "Pô, tem um puta trabalho, essa safra é muito boa!", afirma. E o trabalho foi bom principalmente levando em conta que as categorias de base só produzem jogadores fortes, sem qualidade de passe – como já havia criticado antes.

Como faltam zagueiros e laterais bons, precisa optar por três zagueiros. "O São Paulo? Mudou [o esquema de jogo quando Muricy saiu] e se fudeu", sentenciou.

Tem que ler.

segunda-feira, março 09, 2015

Sim, o consumo exagerado de álcool mata. Mas falta discutir (e tolher) a propaganda de bebidas

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Depois que um rapaz de 23 anos morreu após ingerir cerca de 30 doses de vodca numa espécie de "gincana alcoólica" disputada entre repúblicas universitárias, o consumo excessivo de álcool entre os jovens voltou à pauta midiática. Como o tom das notícias, editoriais e opiniões é sempre meio acaciano (sim, óbvio: beber exageradamente mata, não importa a idade), o Estadão fuçou algum dado concreto para fugir da subjetividade e publicou, baseado em números do portal Datasus, que, no Brasil, "a cada 36 horas um jovem morre por intoxicação aguda por álcool ou de outra complicação decorrente do consumo exagerado de bebida alcoólica". Tal cálculo baseia-se no último levantamento disponível, de 2012, quando ocorreram 242 mortes na faixa etária dos 20 aos 29 anos "por transtornos por causa do uso do álcool", conforme definido na Classificação Internacional de Doenças (CID).

Mas o dado mais interessante da reportagem talvez seja o fato de que, segundo o Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Inpad/Unifesp), entre os brasileiros que consomem álcool, o hábito chamado de "beber em binge" [ou "beber pesado episódico], quando há ingestão de pelo menos cinco doses de bebida em um período de duas horas, cresceu de 45%, em 2006, para 59%, em 2012. De acordo com o psiquiatra Jerônimo da Silva (leia aqui), um drinque - ou uma dose - seria o equivalente a uma lata de cerveja (350 mililitros) ou a uma taça de vinho (150 ml) ou a uma dose de destilado (50 ml). "Esse abuso ['beber em binge'] é mais comum entre jovens, porue nessa faixa etária é realmente mais difícil controlar os impulsos", disse, ao Estadão, Clarice Madruga, pesquisadora do Inpad/Unifesp.

E ela acrescentou: "É preciso que o poder público intervenha na venda de bebida". Tudo bem, concordo que é responsabilidade do governo (principalmente o federal) impor limites no comércio de bebida alcoólica. Porém, como sabemos que o poder público, atualmente, é muitas vezes refém do poder econômico (desde o financiamento privado de campanhas eleitorais até a pressão exercida para estabilização ou desestabilização da economia do país, dependendo dos interesses), fica difícil imaginar que consiga se impor contra um setor tão lucrativo do mercado. Segundo o jornal Correio Braziliense, "o Brasil é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, e a produção cresce a uma taxa média de 5% ao ano. O segmento cervejeiro responde por 80% do mercado de bebidas alcoólicas, com faturamento anual de R$ 70 bilhões. Recolhe R$ 21 bilhões em impostos por ano e paga R$ 28 bilhões em salários para um universo de 2,7 milhões de empregados em mais de 200 fábricas".

Essa mesma notícia confirma o a supremacia do setor privado sobre o público, pois aponta que "o Brasil perde hoje, com os problemas decorrentes do álcool, 4,5 vezes mais do que o faturamento da indústria das bebidas alcoólicas, enquanto o alcoolismo suga o equivalente a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB), pequenos e grandes grupos do setor movimentam, juntos, 1,6% de todas as riquezas produzidas no país". Ora, então está claro que o governo e a população "que se danem", o que interessa é lucrar! Se a situação chegou a esse ponto de prejuízo social, e o governo se mostra "de mãos atadas", fica explícito que o mercado é quem dá as cartas nesse jogo. Assim sendo, resta-nos a velha "política de redução de danos". Se não dá pra cercear a venda, podemos reivindicar então maior controle na propaganda de bebida alcoólica, que é um verdadeiro "vale-tudo" no Brasil.

No artigo “Propaganda de álcool e associação ao consumo de cerveja por adolescentes”, publicado na edição de junho da Revista da Saúde Pública, os pesquisadores mostram os resultados do estudo que interrogou 1.115 estudantes, do 7º e 8º anos de escolas públicas de São Bernardo do Campo (SP): a maioria dos jovens afirmou que se identifica com o marketing da indústria de bebidas, pois (o grifo é meu) "os comerciais parecem refletir situações de suas vidas". Segundo o artigo, essa similaridade faz os adolescentes classificarem a mensagem recebida como "verdadeira", como exemplifica uma das opções mais marcadas no questionário (o grifo é meu): "as festas que eu frequento parecem com as dos comerciais". E mais: segundo o estudo, a noção de fidelidade à marca, exposta constantemente nas propagandas de cerveja (a bebida mais consumida no país), tem um "impacto essencial para a ingestão de álcool precocemente".

De fato, as propagandas de cerveja costumam mostrar sempre um ambiente de muita alegria, muita brincadeira, muita paquera, muita gente "bonita" e sorridente - e MUITA bebida. Procuram convencer o consumidor de que quem não bebe - ou bebe pouco - está automaticamente "excluído" da "turma", do grupo "bacana", "popular" e que "curte a vida adoidado". Mesmo quando os problemas decorrentes do álcool são abordados nessas propagandas - ressaca, amnésia, briga de casal e besteiras cometidas tipicamente por bêbados -, o clima é de gozação, de palhaçada, de algo risível. Nunca censurável. Ou seja, se até "dar vexame" ou "fazer merda" é engraçado, isso é mais um motivo para entrar para a "turma", para "encher a cara", para não ter limites ao beber. Pode parecer besteira, mas acho que subestimamos o poder e o alcance da propaganda e da televisão. Os mesmos telejornais que noticiaram a morte do rapaz de 23 anos que ingeriu 30 doses de vodca exibiram, no intervalo comercial, propagandas divertidas e estimulantes de bebidas alcoólicas.

Nunca é demais lembrar: canal de TV é concessão. Propaganda de bebida alcoólica (e de cigarro) deve ser assunto prioritário no debate de saúde pública. E deve, sim, ser tolhida.


quarta-feira, novembro 03, 2010

O círculo vicioso das eleições

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por Djalma Oliveira

Com a vitória de Dilma Roussef para a presidência da república do Brasil, encerra-se mais uma espetaculosa campanha política, a qual, desde 1989, não era tão disputada e rasteira. Após breves conjecturas, seria a hora de reflexões, esperanças e merecido descanso do cidadão, extenuado pelo massacrante noticiário eleitoral. Primeira mulher a presidir o país; segunda política brasileira a ganhar a presidência do Brasil sem nunca ter disputado uma eleição anteriormente; fenomenal transferência de votos do presidente Lula a uma tecnocrata competente, mas desconhecida; receio inevitável ao imaginar o astuto e insípido Michel Temer vice-presidente e a avidez de seu partido (PMDB) por cargos e poder etc.

Nada diferente do que seria se o outro candidato tivesse ganhado a disputa (com o agravante de que seu partido posa de "vestais do cenário político", inclusive com a obsoleta cafajestagem de utilizar religião em assuntos laicos). Porém, preocupa a impossibilidade da reflexão tão necessária e fundamental para a evolução dos principais interessados nesse acontecimento democrático: nós, o povo. Ocorre algo parecido com a diferença entre o cinema e a televisão. Ao terminar um bom filme no cinema o próprio "apagar das luzes" nos remete a reflexão, remoem-se as mensagens num saudável exercício evolutivo. Em contrapartida, mesmo assistindo a algo profundo na televisão, com o seu término, o processo de ponderação é interrompido abruptamente por uma nova atração.

Partindo do disposto no parágrafo único do primeiro artigo da Constituição Federal, o qual diz que: "todo o poder emana do povo...", abordemos os direitos sociais previstos e tutelados por aquela carta - direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e infância, e a assistência aos desamparados), e vamos ao debate, às proposições, às cobranças, e brademos: estamos aqui! Por que assumirmos a posição de meros coadjuvantes nos processos eleitorais, meros espectadores do show de marketing político? Ao contrário disso, somos bombardeados imediatamente ao pleito por uma nova campanha.

Toda a imprensa dedicou quase que exclusivamente seu espaço à biografia da futura presidente e as manobras que já se iniciaram visando as próximas eleições. E o objetivo principal disso tudo, que seria nossa evolução social? A campanha para as prefeituras em 2012 já está à todo vapor: Netinho de Paula se lança candidato e força Luiza Erundina a lançar-se também. José Aníbal antecipa-se ao "cadáver insepulto" José Serra e diz que disputará a convenção do PSDB. E, para 2014 Aécio Neves (com sua raquítica biografia nem de longe comparável a de seu avô Tancredo Neves) sai fortalecido como candidato; Beto Richa assanha-se; Alckmin não convence nem o mais incauto dos cidadãos com o aceno positivo às costas de Serra, ao ouvi-lo dizer que a briga está apenas no começo.

E estamos envolvidos novamente em disputas eleitorais, relegando o sentido disso tudo à segundo plano. Basta, quero sinceramente sentir a política no meu cotidiano e não apenas o subproduto que ela infelizmente produz. Um abraço!

Djalma Oliveira se define como "brasileiro nato, contestador visceral, otimista incorrigível. Optante pelo caminho árduo, movimentado; o do homem inteiro, não o do homem mutilado. Remando contra a maré, lutando contra o 'Leviatã'. Lançando palavras ao vento, seguindo Clarice Lispector: 'Porque há o direito ao grito, então eu grito; grito puro e sem pedir esmola'. (djalmaoliveir@gmail.com)"

sexta-feira, março 26, 2010

Fala, FHC, que eu te escuto

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Prosseguindo com nossa campanha para que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fale o máximo que puder à imprensa nesse ano de eleições, ao contrário da vontade tucana, vamos à nova pérola do sociólogo que fala francês (o grifo é nosso):

- Nós temos que pensar: qual Brasil vamos inventar? Está faltando neurônio. O Brasil será grande no mundo quando fornecer conhecimento. No conjunto desses desafios, que são grandes, o importante na universidade, além de produzir modelos culturais, é começar a discutir o futuro, disse o "iluminado" político do PSDB, na quarta-feira (24/03), durante a palestra "Ensino Superior como área crítica e estratégica para o Futuro do Brasil", na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Essa conversa de neurônio me lembra a análise de um reitor baiano sobre o berimbau. Mas FHC não foi convocado a dar pitaco sobre o ensino brasileiro de graça. Para quem não sabe, há uma greve de professores em São Paulo, território do (des)governador e pré-candidato à presidente da República José Erra, digo, Serra. E FHC aproveitou o assunto para defender a famigerada meritocracia tucana, pois em São Paulo, em vez de Serra dar aumento de salário, escolhe os professores mais "bonzinhos" e "comportadinhos" para "merecer" um troquinho a mais.

- Hoje se tem uma greve em São Paulo em parte contra isso. Até hoje não se aceita que haja incentivo pecuniário para quem for melhor. Não acredito que a meritocracia possa substituir a democracia, mas acho que é preciso prestar atenção, pois ela pode significar um grande desafio: além de ter uma força econômica, baseia suas grandes decisões num sistema de mérito, defendeu FHC.

Palmas para o "iluminado" que ele merece! E o Futepoca aproveita para lançar aqui, a partir desse post, uma campanha que mobilizará a nação:

FALA MAIS, FHC!

domingo, dezembro 27, 2009

Os dez mais lidos do Futepoca em 2009

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Com especulações rolando à solta no futebol (sendo que 90% não se tornarão realidade), jogos de amigos de não sei quem contra amigos de não sei que lá, congresso nacional em recesso (que raro) e políticos de férias, falta assunto para a imprensa em geral, quem dirá para o pessoal do Futepoca, em ritmo de merecido recesso. Por isso, e como é época de retrospectiva, publicamos os dez posts mais lidos de 2009. Se você ainda não leu, é tempo:

10 - Flamenguistas prometem até comitiva de travestis para receber Ronaldo

Ah, o ressentimento... Como vingança das falsas juras de amor do Fenômeno à torcida rubro-negra, alguns torcedores começaram a organizar uma recepção calorosa para o hoje corintiano quando ele fosse ao Maracanã. Relembre.

9 - A arte de ser moleque e beber qualquer coisa

Ah, quando se é jovem o fígado parece nunca se render à razão e ao bom senso. O resultado (que é cobrado mais pra frente) são experimentações de bebidas e drinques de gosto e qualidade pra lá de duvidosos... Confira aqui.

8 - O manual da Maria Chuteira

A modelo Nives Celsius resolveu dar uma ajuda a quem quiser fisgar um jogador de futebol como ela fez. Para tanto, resolveu circular dicas e informações valiosas como “confortar sexualmente após uma derrota é sempre bem pensado”. Mais pérolas desse naipe aqui.

7 - Palmeiras virou porco há 40 anos

Uma provocação que resultou na mudança do mascote de um time. Se você ainda não sabe, veja as origens do apelido que os palmeirenses hoje ostentam diante dos adversários. O post é esse.

6 - Ideia de bêbado

A incrível história de como um manguaça teve a brilhante ideia de escolher uma foto de tiração de sarro que retrata um verdadeiro "açougue humano" para a capa de uma coletânea dos Beatles nos Estados Unidos. Conheça.

5 - Por que você torce para o seu time?

Pais, tios, padrinhos, amigos, moda... Afinal, o que fez com que você virasse um sofredor apaixonado (ou não) pelo seu time. Saiba o que pode levar alguém a escolher sua camisa e evite riscos de seu filho torcer para outra equipe. Aqui.

4 - Entenda - finalmente - como funciona o ranking de seleções da Fifa

Papo de muitas discussões em mesa de bar, o ranking da entidade futebolística é mais contestado que aprovado, mas pouco entendido. Descubra como funciona e quais são os critérios adotados pela Fifa e veja se é justo ou não. Confira.

3 - O marketing viral e a Nike

Embora tenha sido escrito em 2008, o post continua sendo dos mais lidos do blogue, já que causou uma série de discussões a respeito da relação entre a publicidade e a blogosfera. Leia ou releia aqui.

2 - Boa causa para alavancar a orgia

A história de dez prostitutas paraibanas que decidiram doar uma noite de seu trabalho para resgatar uma dívida da Associação das Profissionais do Sexo da Paraíba (Apros-PB). Veja como a vida imita a arte - ou vice-versa - aqui.

1 - Decotes e roupas curtas: essa é a tática dos banqueiros para "conquistar clientes"

Post-denúncia sobre uma ex-bancária cujo empregador a obrigava a se insinuar para os clientes para cumprir as suas metas de vendas. Relembre ou conheça esse fato absurdo nesse texto.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Andrés Sanchez deixa o Corinthians para "beber e trepar"

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Foto: Ricardo Matsukawa/Futura Press

Nesta sexta-feira, 16, o Corinthians amanheceu com um novo presidente. Na véspera, Andrés Sanchez afastou-se do comando do clube para, em suas palavras, "beber e trepar", segundo entrevista concedida na segunda-feira ao Diário de São Paulo. Ele deixou com o vice Roberto Andrade o cargo que ocupava desde o fatídico ano de 2007, que se encerrou com o rebaixamento da equipe para a segunda divisão do campeonato brasileiro – resultado mais vistoso dos desmandos a que o clube foi exposto durante a longa gestão de Alberto Dualib, em especial no período da parceria com a MSI. Quatro anos e uma reeleição depois, Sanches reúne conquistas importantes dentro e, principalmente, fora dos gramados.

Dentro de campo, em sua gestão foram conquistados três títulos: Brasileirão 2011, Copa do Brasil 2009 e Paulistão 2009. Teve também o título da Série B, mas esse só conta mesmo pelo retorno à primeira divisão. Mais do que os títulos, o que a gestão deixa é um time que disputou todas as competições com chances de vitória. Tanto que será a terceira participação seguida do time na Libertadores (considerando a palhaçada contra o Tolima como “Libertadores”, claro), coisa inédita. Futebol é um negócio complicado, que pode ser decidido numa jornada ruim ou num golaço inesperado, e não dá pra um dirigente garantir títulos. Dá pra garantir um time forte que chegue forte. E isso o Corinthians tem sido desde 2008.


Foto: Andrea Machado
Dois fatores relacionados com a diretoria entram nessa conta, a meu ver. Primeiro, a montagem dos elencos, mesclando grandes nomes (Ronaldo o maior deles – e nem é o diâmetro da cintura do moço que está em questão –, acerto gigantesco de Andres, com frutos muito além das quatro linhas) com investimentos acertados em atletas baratos que se mostraram bons ou, no mínimo, úteis. O Corinthians tem um olheiro que, na pior das hipóteses, sabe escolher volantes. Christian, Elias, Jucilei, Ralph e Paulinho foram todos considerados entre os melhores da posição em suas passagens pelo clube.

O outro ponto é a paciência com treinadores. Mano Menezes foi contratado logo após a definição do rebaixamento e só saiu do clube por conta do convite para assumir a seleção brasileira, em 2010, resistindo a uma queda nas oitavas de final da Libertadores no caminho, quando a torcida pediu sua cabeça. Tite foi ainda mais questionado, inclusive por este escriba. Sanchez bancou a permanência e se deu bem no Brasileirão. O comportamento é exceção entre os clubes brasileiros.

Fora de campo, também há o que se comemorar. Antes de tudo, há a alteração do estatuto do clube, abrindo as eleições para o voto direto dos associados e eliminando a possibilidade de reeleições. Dualib, nunca mais.

Em números

No campo financeiro, a edição desta segunda-feira do Diário de S. Paulo reúne alguns números interessantes para ilustrar os êxitos da presidência do ex-feirante, membro fundador da organizada Estopim da Fiel e futuro diretor de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cargo que o deixa muito bem posicionado para a sucessão de Ricardo Teixeira, em 2015, se ele durar até lá e se não costurar um acordão político para se manter – Teixeira tem tanto apreço ao posto quanto detratores e críticos.


Robson Ventura/Folhapress
Segundo o jornal, as receitas do clube saltaram de R$ 52,2 milhões em 2007 para R$ 176,8 milhões em 2011 (a Folha de hoje fala em estimativa de R$ 220 milhões). Os maiores valores continuam vindo da TV (R$ 55 mi), seguidos pela área social (R$ 36 mi, em um setor historicamente problemático) e patrocínio da camisa (R$ 32,5 mi). Mas o maior crescimento aparece numa área antes quase ignorada pelo clube: os licenciamentos. Responsável por míseros (para o Corinthians, eu fugiria do país com esse dinheiro) R$ 300 mil em 2007, hoje já são R$ 17 milhões, a quarta fonte de receita. Fruto de uma estratégia inteligente, que diversificou produtos e criou a rede própria de lojas Poderoso Timão, que hoje possui 106 pontos de venda.

A Folha destaca que cresceu também a dívida do clube, de R$ 101 milhões para R$ 195 milhões. Sobre o tema, vi uma declaração do Luiz Paulo Rosemberg, diretor de marketing, mais ou menos assim: “dívida não se paga, se administra”. Nessa linha também vai o hoje ex-presidente, que na entrevista ao Diário, fala em “investimento”.
Pra mim, os dois argumentos fazem sentido. A dívida nominal pode ter crescido, mas a relação “dívida X PIB” (ou faturamento, no caso) está bem melhor, graças ao aumento das receitas. Houve contratações de peso, como Alex, Emerson Sheik, Liedson e Adriano, que ajudaram bastante na conquista do título e na arrecadação na bilheteria. Mais que isso, foram feitos investimento em infraestrutura substanciais, com a construção de um Centro de Treinamento moderno e o início das obras do estádio. Coisas que ficam.

Negócios

O blogueiro do UOL Erich Beting destacou recentemente pontos positivos da gestão Sanchez. Para ele, “a chegada de Andrés ao poder no Corinthians marca uma mudança de conceito do que é a gestão num clube de futebol do Brasil.” Até que é simples: dirigentes especializados em áreas chave cuidando do dia a dia do clube e liberando o presidente para exercer um papel mais externo, político. No caso, Beting destaca o papel de Raul Correa, diretor financeiro, que renegociou e geriu a dívida do clube, e Luiz Paulo Rosemberg, do marketing, que lançou campanhas para resgatar a autoestima do torcedor e valorizou fortemente a marca do clube. Como figura pública, Andrés atraiu as atenções para deixar o restante trabalhar em paz.


Djalma Vassão/Gazeta Press
Mas as vitórias de Sanchez na arena política também não foram pequenas. As duas maiores, e mais controversas, são o racha do Clube dos 13 por conta das verbas de televisão e a disputa com o São Paulo pela sede paulista da Copa 2014. Nas duas, Sanches venceu. Segundo noticiado, dobrou a verba recebida pelo Corinthians pela transmissão na TV, que dizem ter ficado perto de R$ 110 milhões, e aumentou significativamente a diferença para outros clubes (com exceção do Flamengo). E garantiu os financiamentos e apoios necessários para a construção do estádio em Itaquera, antiquíssimo sonho da torcida – e que poderá se tornar fonte de renda importante mais adiante.


O preço nas duas vitórias foi se aliar a Ricardo Teixeira, figura das mais sombrias do esporte nacional; à rede Globo, que pela primeira vez viu seu monopólio nas transmissões ameaçado pela Record; a Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin, que apoiaram o Itaquerão de várias formas. Isso são fatos e dessas alianças, não gosto. Mas também é um fato que esse é o jogo político estabelecido no futebol brasileiro. E ele é jogado por todos os dirigentes, com maior ou menor desenvoltura. Andrés não mexeu um balde para mudar a correnteza, pelo contrário: nadou de braçada nela. Os resultados, para o Corinthians, são inegáveis.

Pessimismo numa hora dessas?

Ao revisar o texto, reconheço um otimismo muito grande na avaliação do mandatário. Para não dizer que faltaram críticas, vai pelo menos uma: o trato com as categorias de base. Foram poucas revelações no período. Apenas o goleiro Júlio César é cria do clube entre os atuais titulares. Além dele, frequentaram os profissionais os atacantes Dentinho, Elias, Marcelinho e Taubaté, os meias Boquita, Lulinha e William Morais, e o lateral-esquerdo Dodô, se bem me lembro. Sobre o fracasso, cabe destacar uma tragédia e uma agressão: respectivamente, o assassinato de William em Minas Gerais e a contusão de Dodô, emprestado ao Bahia, após entrada violenta do zagueiro Bolívar, do Inter.


Primeiro, há claramente um problema na transição entre a base e o profissional. Os jogadores não tem acompanhamento psicológico e não há uma cultura no clube de se proteger e valorizar os “prata da casa”. O outro é a vitoriosa estratégia de comprar jogadores bons e baratos. Isso fecha espaços no elenco que poderiam ser preenchidos dando chances para jogadores formados no “Terrão”.


O próprio Sanches já reconheceu em entrevistas que esse é o ponto fraco de sua gestão e disse que gostaria de ter deixado um centro de treinamento exclusivo para a formação de jogadores. Imagina-se, então, que o provável sucessor do bem sucedido presidente, o delegado Mário Gobbi, vá mexer nesse vespeiro – que inclui ainda, é claro, um monte de relações que vão de questionáveis a escrotas entre conselheiros, empresários e jogadores. Se assim for, a oposição, que disputa as eleições de fevereiro próximo com Roberto Garcia, vai precisar trabalhar bastante para chegar ao poder.

Foto: Ari Ferreira