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sexta-feira, agosto 02, 2013

Corrupção do PSDB, saia justa e ginástica dos jornais

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Capa que expôs o PSDB nas bancas do país
Como as acusações de corrupção e outras irregularidades contra os governos estaduais do PSDB em São Paulo estão repercutindo até lá na Alemanha, a "grande" imprensa brasileira bem que hesitou, mas não teve como esconder o megaescândalo de seus adorados tucanos. A revista IstoÉ foi a primeira a dar destaque como matéria de capa (leia aqui), resumindo que "em troca de imunidade civil e criminal para si e seus executivos, a empresa [Siemens] revelou como ela e outras companhias se articularam na formação de cartéis para avançar sobre licitações públicas na área de transporte sobre trilhos" e que isso "lançou luz sobre um milionário propinoduto mantido há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB em São Paulo para desviar dinheiro das obras do Metrô e dos trens metropolitanos".

Em resumo, segundo a publicação, "desde que foram feitas as primeiras investigações, tanto na Europa quanto no Brasil, as empresas envolvidas continuaram a vencer licitações e a assinar contratos com o governo do PSDB em São Paulo. O Ministério Público da Suíça identificou pagamentos a personagens relacionados ao PSDB realizados pela francesa Alstom – que compete com a Siemens na área de maquinários de transporte e energia – em contrapartida a contratos obtidos. Somente o Ministério Público de São Paulo abriu 15 inquéritos sobre o tema." Com base nos inquéritos, a revista observou ainda que "só em contratos com os governos comandados pelo PSDB em São Paulo, duas importantes integrantes do cartel apurado pelo Cade, Siemens e Alstom, faturaram juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões."

Sem saída, os jornalões, tradicionalmente preocupados em poupar os peessedebistas (vide silêncio orquestrado e constrangedor no episódio Privataria Tucana), se viram na saia justa de também ter que noticiar o escândalo internacional. Mas, claro, fazendo ginásticas para amenizar ou evitar dar nome aos bois - ou ao partido envolvido. O Estadão deu uma primeira materinha (leia a versão online aqui) citando o PSDB somente na última frase do pé do texto. E, até hoje, a versão impressa do jornal dos Mesquita não deu manchete de capa sobre o assunto. Já a Folha, da família Frias, noticiou pela primeira vez de forma ainda mais generosa (leia aqui), sem citar uma única vez nem o PSDB nem Covas, Serra ou Alckmin. Hoje, dez dias após a publicação gritante da IstoÉ, cuja capa expôs o "tucanato paulista" nas bancas de todo o país, a Folha de S.Paulo se dignou a dar uma manchete sobre o caso.

'Mensalão mineiro': saída para 'do PSDB'
Porém, a notícia bombástica de que a "multinacional alemã Siemens apresentou às autoridades brasileiras documentos nos quais afirma que o governo de São Paulo soube e deu aval à formação de um cartel para licitações de obras do metrô no Estado" (acesse a versão online aqui) aparece na capa da Folha sob a manchete "Governo paulista deu aval a cartel do metrô, diz Siemens" (o grifo é nosso). Ou seja, o mesmo expediente de quando se veem obrigados a noticiar o Mensalão do PSDB, como já observou o Glauco aqui nesse post: escondem o nome do partido e usam "mensalão mineiro" nos títulos e manchetes - como exemplo, clique aqui para ver materinha sobre mais esse assunto espinhoso ao PSDB publicada pela mesma Folha de S.Paulo. Aliás, a artimanha "mensalão mineiro" já foi utilizada em uma capa da mesma revista IstoÉ que agora decidiu escancarar os termos explícitos "propinoduto do tucanato" e expor as caras de Covas, Serra e Alckmin nas bancas (certa música dos Titãs comentaria: "Alguma coisa aconteceu/ Inevitável, acidente...").

É óbvio que, se o partido fosse outro, a manchete diria que o aval para o cartel teria sido dado pelo "governo do PT", "governo petista", "governo Lula", "governo Dilma" etc. Como eu já disse aqui, é dessa forma que se constroem "bandidos" e "mocinhos" para o público consumidor de informações. Ou, como já dizia Malcom X, "se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas - e amar as pessoas que estão oprimindo." E é curioso como essa frase se aplica perfeitamente à notícia publicada ontem pelo Estadão: "Alckmin rebate críticas de Dilma e cobra investimentos federais em metrô"...

Só no 'Dia de São Nunca' essa manchete diria 'Governo DO PSDB deu aval a cartel...'

PÓS SCRITPTUM - Tava demorando: a mesma Folha de S.Paulo, agora, já cumpre o habitual papel de "assessoria de imprensa" tucana e, impossibilitada de rotular o caso de "trololó petista", denuncia que o megaescândalo envolvendo o PSDB (farto de provas no Brasil e no exterior) não passa, na verdade, de um "trololó Cadista"...

Os jornalões nunca dizem que tem alguém querendo 'prejudicar' quando o rolo é do PT

quinta-feira, maio 16, 2013

Com nação e sem noção

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Em 2011, quando o Corinthians foi eliminado da Libertadores, um amigo comentou sobre as gozações ouvidas por um corintiano chamado Roberto Lima. Pois bem, depois do golaço do Riquelme no Pacaembu, ontem, surge a notícia de que um outro integrante da nação corintiana está passando por situação ainda mais embaraçosa: além de ter batizado o filho como Juan Riquelme (porque o Boca Juniors venceu o Palmeiras nas Libertadores de 2000 e 2001), Rodrigo Guimarães ainda tatuou o nome do jogador - e do filho - nas costas. Pois é. O mundo (da bola) dá voltas...


(Foto: Rafaela Gonçalves/ Globoesporte.com)

quarta-feira, abril 17, 2013

O povo não é bobo: tucana é a Rede Globo!

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Há exatos três anos, fiz um post aqui comentando a cara de pau da Rede Globo de aproveitar seu aniversário de 45 anos para fazer um vídeo safado remetendo descaradamente à campanha presidencial do tucano José Serra - ao pisar e repisar sete vezes a palavra "mais" em míseros 30 segundos (além de incluir "Brasil, muito mais"), aludindo ao mote "O Brasil pode mais", slogan eleitoral do PSDB naquela ocasião. Teve gente que ironizou, dizendo que a esquerdalha tava procurando chifre em cabeça de cavalo, pois a emissora não tinha culpa de completar 45 anos justo em ano de eleição presidencial, sendo 45 o número do PSDB.

Mas criar um vídeo "institucional" de aniversário da empresa com artistas falando coisas que não têm nada a ver com isso, como "mais educação e saúde", pareceu palanque explícito. Tanto que a Globo vestiu a carapuça e tirou o vídeo do ar, passando o vexame de dizer que ele havia sido feito em 2009 quando, descobriu-se, tinha sido feito mesmo naqueles dias de campanha eleitoral. Coisa feia.

Pois bem, três anos depois, o mesmo golpe volta a ser aplicado: na terra do tucano Aécio Neves, a Globo Minas, cuja emissora regional completa 45 anos em 2013, resolveu ressuscitar a campanha nacional cancelada em 2010 e usar o gigantesco 45 (com a palavra "anos" bem pequena) nos carros de reportagem da emissora. Abaixo, foto de alguns carros da empresa estacionados na Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte. Não basta bolinha de papel e tomate. Tem que vestir a camisa (da campanha). Alguém aí consegue imaginar do que a Globo será capaz até as eleições de 2014?

Globo 45 e PSDB: TUDO A VER!



domingo, abril 14, 2013

Brasil, um país de tolos

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Sobre jornalismo, tomates e gente

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Por Fabrício Lima

A musa do Cansei e seus tomates: um novo patamar para o ridículo
Diz a Embrapa em seu site institucional sobre olericultura que o semiárido brasileiro tem papel fundamental na cultura do tomate graças a "possibilidade do cultivo durante quase todo o ano, em função do clima seco, com estação chuvosa em dois ou três meses do ano, com produção de excelentes características qualitativas quanto à cor, brix e sanidade dos frutos".

Mas e quando a chuva não vem?

Em alguns dos mais de 1415 municípios afetados por aquela que já é considerada a pior estiagem desde 1958, não chove há mais de 18 meses. A previsão dos técnicos do setor de meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) é ainda pior: o inverno tipicamente chuvoso do semiárido não deve acontecer em 2013. Naquele estado, o Grupo de Apoio a Desastres (GADE) está mobilizado desde o ano passado. Há três dias a Defesa Civil do Piauí disponibilizou mais 250 caminhões-pipa para atender a demanda de água para consumo humano em pelo menos 90 municípios. Apenas em Pernambuco, Minas Gerais e Bahia, mais de 440 municípios estão em estado de emergência desde o segundo semestre de 2012.

Em alguns estados a produção de leite já caiu mais de 70% por causa da morte do rebanho. As safras de chuchu, maracujá, arroz e milho estão severamente comprometidas. Até agora, estima-se em uma década o tempo que será necessário para recuperação da região a estágios anteriores à seca.

Mas voltemos aos tomates.

Durante o mês de abril as redes sociais pareciam o centro de Buñol na ultima quinta-feira de agosto. A festa espanhola da guerra de tomates ganhou uma versão digital do Brasil com tomates de todas as cores e tamanhos esparramados pelas timelines. Tinha maquiagem de tomate, joias feitas com tomates, carros de tomate, tomate nas novelas, no esporte, na música e na política.

Mas é claro que um perfil pessoal nas redes sociais não deve satisfação a ninguém. Cada usuário é responsável pelo que compartilha entre os seus pares. Não vejo pecado algum em externar uma alfinetada bem-humorada consolidada em uma informação parcial, afinal, há uma diferença gritante entre o compromisso de abastecer o público com informações qualificadas e uma piada ou protesto entre amigos.

Eis que entra no ar a eterna musa do “Cansei” Ana Maria Braga ostentando um colar feito de tomates em um canal de concessão pública de alcance nacional. Seria um protesto divertido se não fosse pela subtração de duas informações importantíssimas sobre a questão: a) A pior seca no semiárido brasileiro dos últimos cinquenta anos é fundamental para entender a inflação do preço do tomate; e b) o preço exorbitante do tomate é, de longe, o menor dos problemas provocados ou perpetuados pela seca. E quando a iniciativa parte de uma jornalista de formação e ex-âncora de telejornal, ela torna-se de extremo mau gosto.

Mesmo os canais de comunicação apegados à formalidade, com toda aquela pompa e circunstância teimosa do ofício do jornalismo, negligenciaram um elemento essencial no ato de informar: a apuração do contexto.

Coordenação desse nível só no meio de campo do Barcelona
Enquanto as publicações regionais dos estados afetados pela seca  fazem atualizações catastróficas há meses, os veículos mais robustos de alcance nacional rolam no tomate da Espanha brasileira. A revista semanal de maior circulação do país acusa o governo federal de ter deixado – ainda que por apenas algumas semanas – o preço do tomate alcançar patamares exorbitantes. A cada  linha impressa choram os economistas e as cantinas italianas, sofrem as fábricas de ketchup, definha a instituição brasileira da “salada nossa de cada dia”.

Enquanto isso, pelo menos na zona do semiárido, partidos de situação e oposição fazem coro pedindo por socorro às suas cidades. Além do desespero, partilham a negligência e a impotência diante do poder de ação irredutível que a natureza tem e a humanidade, não.

Baixado o preço do tomate os grandes veículos nacionais começam aos poucos a se voltar para a a mais terrível das secas, publicando notícias com um atraso de quase seis meses em relação aos veículos regionais. Ficou claro que a naturalização da miséria é tão aguda que o flagelo da seca já não vende mais jornais e mal serve como palanque político.


Fabrício Lima é baiano de nascença, jornalista e publicitário de formação, videomaker de ofício, torcedor do Bahia por sina e só bebe Kaiser por falta de opção.


quarta-feira, abril 03, 2013

Público-alvo

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Exemplo prático para observar a quem a Veja se dirige: "Você", o leitor próximo, que interessa à publicação da editora Abril, é um homem, branco, classe média/rico, tipo executivo - com cara de desconsolo por um "direito" (privilégio) perdido; "Ela", o ser distante, estranho e indesejável, é uma mulher, negra, nordestina, pobre, com pouco estudo - e a revista dá a entender que, por isso mesmo, decide errado (prejudicando "Você"). Ou seja, "A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes" (Karl Marx). Situe-se. E observe o discurso e sua direção.

sábado, fevereiro 09, 2013

Manchete pleonástica

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"Desembarque de Barcos"? Pensando bem, é justo.


terça-feira, janeiro 29, 2013

Jornalismo "fófis"

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Essa nova categoria de "jornalismo", descoberta e batizada pelo colega João Paulo Soares (do Blog Sem Governo), foi inaugurada nesta semana por Luiz Maklouf Carvalho, em sua matéria sobre o governador de Pernambuco Eduardo Campos para a Revista Época - confira um pequeno trecho aqui. O período mais revelador (ou seja, mais "fófis") da verve apaixonada de Maklouf é esse aqui:

"Campos (...) esporeia com o ritmo acelerado de sua fluência verbal, (...) o dorso ainda atlético de 47 anos também assoma, enfático. Seus translúcidos olhos verdes são, surrupiando um autor contemporâneo, como pássaros querendo voar para fora da cara. Campos é, sobretudo, olhos. Na beleza variante da cor, que fisga a atenção, e, principalmente, na mirada, no manejo que lhes sabe dar, ora águia, ora cobra, focados na sedução."

Sem comentários.


segunda-feira, janeiro 28, 2013

O papel da imprensa na tragédia de Santa Maria

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Mais uma vez, Latuff diz tudo... Charge original aqui.

domingo, janeiro 27, 2013

Uma triste imagem da tragédia em Santa Maria

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Em 1997, no Clube de Regatas Santista, o Raimundos terminava seu show por volta das três horas da manhã, e apenas uma das cinco escadarias para a saída estava liberada. O excesso de pessoas e, consequentemente, de peso, fez os degraus cederem e o resultado do pânico que se instalou e do despreparo do clube foi um saldo de oito mortos e 63 feridos.

Não havia internet e só soube do acidente pela namorada de um amigo, que me acordou no dia seguinte com um telefonema angustiado. Ele havia ido ao show e ela não conseguia localizá-lo; o desencontro de informações fazia com que se pensasse no pior. Comecei a ligar pra outros amigos pra saber se ele havia dormido na casa de algum deles, já que não estava em casa. Como não havia nenhum telefone para informações, liguei para a redação do jornal A Tribuna. Ali, perguntei se tinham a lista de mortos e feridos, e havia somente a de óbitos. Perguntei pelo meu amigo, Kléber, e dei o nome, mas meu interlocutor falou que só iria ler a lista, e não conferi-la. Respirei fundo, àquela altura já com taquicardia, e pedi para ele fazer aquele favor. Não constava o nome na lista, e depois viemos saber que ele havia dormido na casa da madrinha.

Deivid Dutra / Agência Freelancer
Além de não haver internet, celular era artigo de luxo. Conhecia muitas pessoas que nem telefone residencial tinham. Hoje, a tragédia ocorrida em Santa Maria, que já conta mais de duas centenas de mortos e outros tantos feridos, repercutiu rapidamente em todo o mundo por conta das novas tecnologias. Mas estas também criaram uma cena típica de um filme de terror ou de catástrofe.

Foi ouvindo a Rádio Bandeirantes, no Domingo Esportivo do Milton Neves – aliás, nesse tipo de cobertura, as emissoras de rádio batem a internet e dão goleada nas TVs –, que escutei um depoimento chocante. Um tenente-coronel contou que, ao chegar no local da tragédia, viu a triste cena de vários corpos no chão, obstruindo que se chegasse até o fundo da casa noturna. Ao mesmo tempo, uma sinfonia macabra de sons de celulares, tocando de forma incessante melodias distintas, enquanto os bombeiros e o pessoal do resgate tentavam achar sobreviventes e remover os corpos. Os aparelhos tocavam no chão, nos bolsos e nas bolsas, sem parar. Mais tarde, um soldado pegou um dos celulares e viu 104 chamadas perdidas. Impossível não pensar e se comover com a angústia daqueles que buscavam notícias de suas pessoas queridas.

Nossos sentimentos a todos.

sábado, agosto 25, 2012

Santos bate Palmeiras de virada com dois de Neymar

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Antes da partida, quase toda a mídia esportiva lembrava que o Santos, recentemente, tem levado a pior contra o Palmeiras, mesmo em ocasiões nas quais tinha time superior (o que é verdade). E também destacando que Neymar tinha, até a partida, 29% de aproveitamento contra o Alviverde. Esta, a propósito, era uma das três matérias negativas em relação a Neymar no portal Uol, nenhuma delas original. As outras duas diziam respeito a uma reportagem curiosa da Forbes sobre possíveis gastos excessivos do atacante (ah, como ele tem pais em todo o mundo) e outra comentando a respeito de um colunista do Ole que disse que o atacante praticava “futebol foca”, tal qual Cristiano Ronaldo. Realmente, está faltando pauta.

Sempre ele. (Santosfc)
Talvez por conta desse seu histórico contra o Palmeiras, o atacante foi individualista em excesso na primeira etapa, buscando resolver por conta própria quando nem sempre era a melhor opção. Com os donos da casa procurando mais o gol (ainda que sem criar muita coisa, exceção de um lance de Barcos, que tentou uma assistência para Mazinho), o Alvinegro não conseguia levar perigo nos contra-ataques, a exceção foi uma jogada do Onze santista, aos 29 minutos. Uma partida truncada, pegada e, nesse cenário, foi o Palmeiras quem marcou aos 41, uma grande finalização fora da área de Côrrea, que ainda tocou no gramado e ganhou velocidade antes de entrar.

No entanto, ainda no primeiro tempo, Ganso, que pouco fazia àquela altura, sofreu uma falta desnecessária de Valdívia que voltou pra mostrar “vontade”, ao marcar na intermediária. Neymar cobrou a falta que vale o adjetivo dos locutores de rádio de outrora: magistral, sem chances para Bruno.

Na segunda etapa, o Santos voltou tocando mais a bola, marcando melhor no meio de campo e não deixando o Palmeiras fazer a pressão que tentou no tempo inicial. Mais uma vez coube ao Onze peixeiro “achar” uma finalização no canto direito do arqueiro rival. A partir dali, deu pra perceber o quanto a situação palmeirense na tabela pesa. Jogadores errando passes fáceis, nervosismo e poucas chances efetivas de gol. As duas principais foram com Barcos. O avante desperdiçou diante de Rafael e, mais tarde, cabeceou certo mas esbarrou em uma defesa incrível do arqueiro santista.

Essa última finalização de Barcos, aliás, veio depois de uma oportunidade espetacularmente perdida por Ganso que, à frente do goleiro, preferiu dar o passe – errado – para o lado. Mas o meia, ainda santista, merece um capítulo à parte aqui.

O Santos consegue assim sua terceira vitória seguida, sendo duas em clássicos, e termina o primeiro turno em uma posição menos vexatória do que se ensaiava. Dos últimos quinze pontos, foram treze ganhos, e o sonho da Libertadores ainda está vivo, ainda que o caminho seja árduo e Neymar vá desfalcar o time em algumas ocasiões por conta da seleção.



Caso Ganso

Neymar tem muitos “pais”. É gente querendo dar lição de ética, moral, educação cívica, educação financeira, cortesia, relação com a mídia, gerenciamento de carreira, de como influenciar pessoas etc e tal. Mas Paulo Henrique Ganso, um jogador que pintou como grande estrela e, além de estagnar, retrocedeu, não conta com tanta gente na mídia e na imprensa esportiva, especificamente, lhe dando conselhos ou ensinando como proceder. Talvez porque alguns – ou muitos – joguem com a confusão e queiram mesmo que o jogador saia da Vila, ainda mais se for para times bem quistos pelos media, como um que “comprou” o meia no ano passado ou o outro que tenta levá-lo hoje.

Que pena, Ganso... (Ricardo Saibun / Santosfc.com.br)
Claro que veículos de comunicação são atores desse enredo, não os principais responsáveis pela situação do meia hoje. Estes são o próprio jogador e seu estafe, além da diretoria do Santos. Se a Forbes se preocupasse com a situação financeira de Ganso, e não de Neymar, veria que o meia perdeu alguns milhões ao não aceitar uma das propostas de contrato do clube, lá atrás. Talvez porque, autossuficiente, o jogador confiasse que iria receber uma proposta milionária pelo seu futebol. Todas as três propostas recebidas até agora (Porto, Inter e São Paulo) não são o que se pode esperar para um atleta que fez outrora atuações dignas de gala. Mas que muitos enxergam serem coisa do passado.

Uma rotina de contusões, operações e uma extrema instabilidade fora de campo fazem de Ganso uma incógnita no futuro. E o cenário de leva-e-traz que o envolve irritou Muricy Ramalho, que o protege em entrevistas mas que na coletiva pós-jogo de hoje espetou o colega de profissão e técnico do São Paulo, Ney Franco, ao afirmar que não sabia se poderia escalar o meia hoje, já que o “cara lá até escalou ele”. O fato é que a diretoria do Santos se vê acuada não só pela movimentação da DIS, que detém 55% dos direitos econômicos do atleta, mas também por clubes rivais e pela própria imprensa, que martelou durante toda a semana que a transação envolvendo Ganso estava concretizada e que era possível até mesmo ele atuar no clássico de domingo. Só esqueceram de “combinar com os russos”, no caso, o contratante Santos. 
 
Se Ganso sair pelo valor da multa, será ótimo para o clube, mas é pouco provável que isso aconteça sem seus investidores colocarem a mão no bolso, coisa que aparentemente eles não farão, a despeito de todo apreço que tentam passar ter pelo atleta. E, caso não seja negociado agora, a vida seguirá e o meia vai ter que lutar para recuperar o espaço nobre perdido na seleção, no coração dos santistas e na mente de quem gosta de futebol bem jogado.

terça-feira, agosto 07, 2012

Saindo um pouco de Londres: Mamãe no Face, de Zeca Baleiro

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Para arejar um pouco o Futepoca do noticiário olímpico, abaixo o vídeo da música "Mamãe no Face", novo clipe de Zeca Baleiro. A faixa faz parte do álbum "O Disco do Ano" e simula uma conversa via rede social do músico com sua mãe, onde prevalecem a ironia e o sarcasmo já conhecidos do compositor, dirigidas ao grande supermercado midático que faz e desfaz (de) sucessos. Vale conferir:

terça-feira, maio 29, 2012

Brizola tinha razão

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Às vezes é bom recordar que a manipulação e a defesa dos interesses escusos da grande imprensa não são uma invenção de hoje e nem da Veja.

O bravo Brizola sabia que o bom combate nunca é perdido e se insurgiu contra o gigante várias vezes. Em poucas, ganhou, mas fez história.

quinta-feira, outubro 13, 2011

Nossa Senhora contra a corrupção

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Todos já esperavam que as “marchas contra a corrupção” ocupariam hoje as capas dos dois jornalões paulistas. A ênfase esperada seria a marcha de Brasilia, onde números oficiais falam em 20 mil pessoas (o mesmo que na marcha de 7 de setembro).

O blogueiro Eduardo Guimarães foi à marcha em São Paulo, e contou cerca de 700 pessoas. Aliás, entrevistou 27 pessoas e traçou um interessante perfil dos manifestantes: quase unanimemente responderam que leem Veja, Folha e Estado, que o país está muito pior que há 10 anos e que a corrupção aumentou muito no período. Entre os que responderam à enquete, apenas um negro.

Até aí, sem novidade. Ontem, já havia uma certa expectativa em relação à cobertura dos veículos da mídia comercial sobre as manifestações, bem menos ruidosas do que se esperava. No Twitter, o perfil @Suxbernardo fez a previsão/pilhéria:



Mas não foi a Veja, e sim a Folha, quem resolveu "ousar". Na capa, o texto faz a confusão (deliberada?) entre manifestação religiosa e marcha contra a corrupção e, sob o título Arcebispo de SP critica 'corrupção por toda a parte', diz a chamada:

"A mobilização contra a corrupção não foi só nas redes sociais. O arcebispo de SP, dom Odilo Scherer, disse que a corrupção 'está por toda parte'. Segundo organizadores, 140 mil visitaram a basílica de Aparecida, e o padre Marcelo Rossi reuniu 70 mil em SP".

Clique para ver melhor


Quer dizer que os fiéis foram a Aparecida protestar à padroeira “contra a corrupção”? Porque é isso que um desavisado vai entender lendo o texto...

Detalhe: Serra e Alckmin também peregrinaram a Aparecida e assistiram de corpo presente ao discurso do arcebispo.

quarta-feira, setembro 28, 2011

O machismo nosso de cada dia ou Gisele Amélia Bündchen

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Hoje a comunidade virtual brasileira está fervilhando com o debate sobre a legalização do aborto. O assunto começou por conta da Campanha 28 de Setembro pela Despenalização e Legalização do Aborto na América Latina e no Caribe, que inspirou posts em muitos blogs, feministas ou não.


Sem muito o que acrescentar depois de textos tão completos (exemplos aqui e aqui), vou falar de outro assunto que afeta as mulheres. Pipocaram aqui e ali algumas discussões sobre o comercial estrelado por Gisele Bündchen, de uma marca de lingerie. Na peça, a modelo "ensina" como as mulheres devem comunicar más notícias para seus maridos/namorados. Falar que bateu o carro ou que estourou o limite do cartão de crédito (oi?) vestida não dá certo. A pedida é mostrar o corpão na hora de comunicar ao macho provedor que você, mulher, não se comportou como ele gostaria.

Sério mesmo?

O comercial tem tantos problemas conceituais que é até difícil falar de tudo. Mas vou tentar mesmo assim. Em primeiro lugar, é sabido que há anos existem mulheres trabalhando. Pode parecer incrível para alguns, mas mulheres saem de casa todo dia, vão ao trabalho, ralam bastante e ganham um salário (menor que o dos homens que cumprem as mesmas funções) para pagar as contas. A ideia de que mulheres devem explicar seus gastos para o homem da casa é muito, muito velha.

Vou me contradizer nesse momento e dizer que, apesar de a ideia da frase anterior ser velha, a prática de homens que acham que podem cobrar de suas esposas (ou até filhas) que lhes entregue o salário ainda existe. Sim, homens acham que devem controlar o orçamento doméstico para que a mulher não gaste demais. Não importa que as mulheres sejam mais responsáveis com dinheiro, como mostra a opção dos programas sociais de ter como titular do benefício a mulher e não o homem. Essa realidade faz com que a propaganda seja ainda mais ofensiva.

Outra questão é o uso do corpo como passaporte para se safar de situações difíceis (considerando o que já foi dito antes, que é um absurdo falar que bateu o carro ser uma situação difícil). Não quer criar problema? É só oferecer sexo e tudo bem. Mas veja bem, se você não for linda, alta, magra e loira não adianta, porque, afinal, quem é que quer uma mulher que não seja perfeita fisicamente? (e sim, indo um pouco além, sexo, para as mulheres, serve só para agradar os homens. Mulher tendo prazer? Isso é coisa do demo!)

E, num exercício de imaginação, vamos continuar a cena em que a notícia é dada quando a modelo está vestida. Se o filme sugere que o melhor é fazer isso pelada, é porque algo aconteceria se ela estivesse com roupas (ou fosse baixinha, gordinha e morena). O homem poderia ficar chateado, dar uma bronca e, quem sabe, até gritar com a pobre acidentada. Na vida real, isso acontece, o que já é bizarro, mas acontece mais, e pior. Acontecem agressões. E não me venham dizer que isso não é motivo para que agressões aconteçam, que isso só na minha cabeça de feminista que não tem mais o que fazer além de ter inveja da Gisele, já que sou feia, peluda, lésbica e mal comida (sim, são esses os argumentos de algumas pessoas). Qualquer motivo pode ser estopim de violência doméstica, basta ser desagradável ao macho provedor.

E quando você acha que não pode piorar, lê um texto, escrito por uma mulher, defendendo a propaganda com unhas e dentes.

Defender a propaganda, vá lá. Mas duas coisas me irritaram. A primeira foi o tom de desprezo pela opinião contrária. A segunda, a crítica à ação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, que, depois de receber reclamações, resolveu pedir a suspensão da propaganda. Afinal, uma Secretaria paga com o "nosso dinheiro" deveria se meter em assuntos mais importantes.

Calma lá, cara pálida. Quem é você para decidir, sozinha, o que é importante para as mulheres? Então é assim: se você, que tem um blog no Estadão, acha que está tudo bem com a peça, então a Secretaria não deve se manifestar? Afinal, você trabalha no Estadão, tem voz, e por isso deve ser muito melhor que o resto das mulheres, certo? As mulheres que reclamaram para o órgão têm mais é que assistir a esse machismo caladas. Ah, faça-me o favor.

Dizer que é desperdício de dinheiro público também é uma piada. Quantos reais será que foram gastos com o pedido de suspensão e com a nota de repúdio? Uns R$ 10? Se o pessoal acha muito, eu reembolso a Secretaria, sem problemas.

Acho também muito curioso que uma pessoa que escreva sobre propaganda ignore a força de propagação de mensagens que esse tipo de mídia tem. Bom, na verdade é óbvio que a autora do texto acredita na força da publicidade, não fosse assim não escreveria sobre o tema nem seria paga para ter um blog sobre ele. Mas quando convém, a propaganda passa a ser apenas uma atividade inocente.

Eu tenho muito orgulho da atitude da Secretaria de ter passado por cima do óbvio e criticado a propaganda. O fato de não ser a primeira peça publicitária sexista não tira o mérito da ação. Espero que tenha êxito e faça com que nossos publicitários pensem um pouco mais na hora de fazer piadas com estereótipos.

Bom, é isso que eu gostaria que acontecesse, mas não tenho muita esperança, já que nossos criativos criadores sempre acham um jeito de burlar certas proibições. É só ver as propagandas de cerveja, que podem até não ter mais mulheres peladas, mas continuam machistas em sua maioria. Parece que, para algumas pessoas, é difícil entender que o que importa é a essência de uma regra, não as letras miúdas.

Os argumentos reaças vão ficando piores nos comentários depois do texto. É triste, mas sempre acho esse tipo de leitura um aprendizado. Porque costuma ser assim: quando você acha que não dá para piorar...

PS: Não vou colocar a propaganda aqui, me recuso. Todo mundo já viu mesmo...
PS2: desculpem pela banalização do PS, mas a gente fica criticando aqui sem dar nome aos bois, parece protesto contra corrupção que não fala de corruptor. A agência que criou as peças é a Giovanni+DraftFCB. Eles merecem ser expostos também.

terça-feira, setembro 27, 2011

Lula deve desculpas à elite ou A casa grande tem raiva

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O Eduardo Guimarães e o Rodrigo Vianna já falaram a respeito, mas é difícil ignorar esse assunto. É possível conhecer muitas pessoas, ainda mais no estrato social dos autores do Futepoca, que não gostam do Lula. Os motivos são variados: há quem faça críticas à esquerda; outros, à direita; alguns citam tolerância à corrupção; outros destacam contradições de seus dois governos. Tudo isso faz parte do debate democrático, e que bom que é assim.

Mas muitos dos “críticos” que conhecemos não enveredam por esse lado. Gostam de lembrar da origem social do ex-presidente, falam do seu jeito de se expressar, do seu português, da sua não-formação universitária. A desqualificação é baseada no preconceito, em uma suposta superioridade que o tal canudo da universidade confere a seu possuidor. Os antecessores de Lula provam que isso não é bem verdade.

Abaixo, a tradução do artigo Esclavistas contra Lula, de Martín Granovsky, feita pela Thalita Pires. O jornalista mostra perplexidade diante dos jornalistas brasileiros que elaboram perguntas que tentam emparedar Richard Descoings, diretor de Sciences Po, que concedeu o título Honoris Causa ao ex-torneiro. Vale ler e perceber como um argentino pode entender tão bem as motivações da elite do país vizinho. E do servilismo de parte da sua mídia em relação a essa mesma elite.


Os escravocratas contra Lula

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Eles podem pronunciar sians po. É mais ou menos assim que se diz sciences politiques. Dizer Sciences Po é o suficiente para se referir ao encaixe perfeito de duas estruturas, a Fundação Nacional de Ciências Políticas na França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Não é difícil de pronunciar Sians Po. O difícil é entender, nesta altura do século XXI, como as ideias escravocratas permeiam as mentes das elites sul-americanas.

Esta tarde, o diretor da Sciences Po, Richard Descoings, entregará pela primeira vez o título de Doutor Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio "Lula" da Silva. Descoings discursará, e Lula também, claro.

Para explicar corretamente sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório na Rue Saint Guillaume, perto da igreja de Saint Germain des Pres, de onde se podiam ver castanheiros com folhas amareladas. Entrar na cozinha é sempre interessante. Se alguém vai para Paris para participar como palestrante em dois eventos, um sobre a situação política na Argentina e outra no das relações entre Argentina e Brasil, não é mau entrar na cozinha em Sciences Po.

Pensa o mesmo a historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige o Observatório de Paris sobre a Argentina contemporânea, é diretora da Instituto das Américas e foi quem teve a idéia de organizar atividades acadêmicas na Argentina e no Brasil, do qual também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano de Phoenix há 10 anos.

Claro que, para ouvir Descoings, haviam sido convidados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser agradável e didático. A Sciences Po tem uma cátedra sobre o Mercosul, os estudantes brasileiros vão cada vez mais para a França, Lula não saiu da elite tradicional brasileira, mas atingiu o maior nível de responsabilidade no país e aplicou planos de alta eficácia social.

Um dos meus colegas perguntou não havia problema premiar quem se gaba de nunca ter lido um livro. O professor manteve a calma e olhou espantado. Talvez ele saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, embora seja verdade que ele não tenha título universitário. Tanto é verdade que quando ele assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2003, levantou o diploma dado aos presidentes do Brasil e disse: "Pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginei que o primeiro seria o de presidente da república. " E chorou.

"Por que premiar um presidente que tolerou a corrupção?" foi a pergunta seguinte.

O professor sorriu e disse: "Olhe, a Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais nem tira conclusões precipitadas. Deixamos esse e outros assuntos importantes, como a chegada da eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais, para o julgamento histórico." Ele acrescentou: "Hoje, que país pode medir outro moralmente? Se você quer levar a questão mais longe no tempo, lembre-se que um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante." Ele falou de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro da Defesa alemão até que se soube do plágio. Além disso: "Não desculpamos, não julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países."

Outro colega perguntou não havia problema em premiar quem uma vez chamou Muammar Khadafi de irmão. Com desculpas devidas, que foram expressas para o professor e colegas, a impaciência argentina levou a perguntar onde Khadafi tinha comprado suas armas e que país refinava petróleo, bem como o comprava. O professor deve ter ficado grato que a questão não citou, por nome e sobrenome, a França e Itália.

Descoings aproveitou para destacar em Lula "o homem de ação que mudou o curso das coisas" e disse que a concepção de Sciences Po não é o ser humano como "um ou outro", mas como "um e outro", destacando o et, que significa "e" em francês.

Diana Quattrocchi, como uma latino-americana que estudou e se doutorou em Paris após sair de uma prisão na ditadura na Argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa de que a Science Po tenha dado o Honoris Causa a um presidente da região e perguntou quais eram os motivos geopolíticos para isso.

O mundo todo se pergunta", disse Descoings. "E nós temos que ouvir todos. O mundo ainda nem sabe se a Europa vai existir no ano que vem."

Na Science Po, Descoings introduziu incentivos para que alunos presumivelmente em desvantagem pudessem passar no exame. O que é chamado de discriminação positiva ou ação afirmativa, e parece, por exemplo, com a cota exigida na Argentina para que um terço das candidaturas ao legislativo sejam de mulheres.

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa a Lula era um exemplo de ação afirmativa da Science Po.
Parte da elite daqui parece ter saudades de tempos idos
Descoings observou-o cuidadosamente antes de responder. "As elites não são apenas educacionais ou sociais", disse ele. "Aqueles que avaliam os que são melhores são os outros, não aqueles que são iguais. Se não, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro que se tornou presidente, mas até onde entendo, foi eleito por milhões de brasileiros em eleições democráticas."

Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembléia Geral da ONU, Lula enfatizou que a reforma do FMI e Banco Mundial estão atrasadas. Ele diz que essas agências, como funcionam hoje, "não servem para nada". Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) ofereceram ajuda para a Europa. A China sozinha tem o maior nível de reservas no mundo. Em um artigo publicado no El Pais os ex-primeiros-ministros Felipe Gonzalez e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Eles querem que o organismo seja o auditor do G-20. Em outras palavras, eles querem o oposto do que pensam os Brics.

No meio dessa discussão, Lula chegará à França. É conveniente avisá-lo que, antes de receber um Honoris Causa na Sciences Po, ele deveria pedir desculpas para a elite do seu país. Um metalúrgico não pode ser presidente. Se por algum acaso chegou ao Planalto, agora deveria se esconder. No Brasil, a casa-grande das propriedades eram reservadas aos proprietários de terras e escravos. Então, Lula, agora silêncio, por favor.

A casa-grande tem raiva.

O original está aqui.

sexta-feira, julho 08, 2011

168 anos, 3 milhões de exemplares e fim

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Por Moriti Neto


Fundado em 1843 e com tiragem de 3 milhões de exemplares, o tabloide dominical britânico News of the World deixará de circular depois do escândalo do monitoramento de quatro mil telefones na Inglaterra, informou nesta quinta, 7, o grupo News Corp International, que o edita. “Decidimos que devemos tomar mais medidas em relação ao jornal. Este domingo (10) será a última edição do News of the World”, diz o comunicado.

James Murdoch, presidente do grupo e filho do magnata Rupert Murdoch, dono do jornal desde 1969, disse que a empresa admite os erros cometidos e prometeu fazer o máximo para consertá-los. Ele também afirmou que o dinheiro da última edição será doado para “boas causas”, numa tentativa de atenuar o que é irreparável.

O caso ganhou repercussão internacional após a revelação de que, em 2002, o jornal acessou ilegalmente a caixa postal do celular da estudante Milly Dowler, que estava desaparecida, em busca de informações para reportagens. Durante as escutas, mensagens foram apagadas, fazendo com que os investigadores e a família acreditassem que a garota – que foi assassinada – ainda estava viva. Familiares das vítimas dos atentados de 7 de julho de 2005, que atingiram estações do metrô londrino, também tiveram os celulares violados.

O limite da crise se deu no início desta semana, quando o ator Hugh Grant revelou que gravou uma conversa tida com um ex-editor do News of The World, em que foram revelados detalhes sobre o monitoramento ilegal feito pelos jornalistas

Na realidade, o estrago ético e moral causado pelo jornal é enorme, equivalente ao número de telefones invadidos. E são muitos. A polícia britânica declarou que analisa 11 mil páginas de material, com quase quatro mil nomes de possíveis vítimas de monitoramento telefônico ilegal feito por jornalistas do tablóide. O comando da polícia inglesa entrará em contato com todos os que tiverem detalhes pessoais encontrados nos documentos.

Jornal não hesitava em invadir o telefone alheio. Foto de http://www.flickr.com/photos/eklektikos/

Além disso, existem sinais de relações escusas com instituições que excedem o circuito midiático. O chefe da força policial de Londres, Paul Stephenson, garante que está determinado a descobrir quaisquer casos de corrupção dentro da própria polícia, após revelações de que o jornal teria pago para obter informações.

Toda a celeuma em torno do caso desperta para dois importantes aspectos que podem ser transportados para a mídia brasileira Os limites da propalada “liberdade de imprensa” e a adoção de mecanismos que regulem a atividade jornalística.

No Brasil, é comum a grita quando algum veículo de comunicação é multado e/ou impedido de publicar algo. Há um inconformismo, uma indignação estridente e irritante de publicações e associações, evocando essa entidade denominada “liberdade de imprensa” como se ela pairasse acima de todos os outros direitos – individuais e coletivos – e concedesse licença para ofender, assim como invadir a privacidade das pessoas, explorando tragédias, sofrimento, tendo por base o mau gosto e a objetivação da venda da notícia a qualquer custo.

Exemplo disso é a proposta – feita pela Fenaj, durante a primeira gestão Lula – da criação do Conselho Nacional de Jornalismo. Alguns argumentos tresloucados, sem nenhum embasamento, chegaram a comparar a ideia com censura ditatorial. Não se pode falar de regulação da mídia por aqui e, quando o assunto entra na pauta, é lugar comum apelar para “países avançados”, “realmente democráticos”, como... A Inglaterra.

Pois está posto mais um elemento para o debate sobre “liberdade de imprensa”. Os “democratas” ingleses tiveram espaço para pressionar pelo fechamento de um jornal que caminhava para completar dois séculos e veiculava milhões de exemplares a cada edição. No Brasil, continuamos na luta incipiente para explicar a quem não entende – e para vencer os discursos de má fé – da necessidade de regulamentar as atividades da mídia.

terça-feira, junho 21, 2011

Patrões continuam escravocratas - e a mídia apoia

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Relacionando o post que a Thalita fez sobre o tratamento humilhante dado às trabalhadoras domésticas no Brasil e outro post em que questionei os interesses mal dissimulados de nossa imprensa, recupero aqui uma inacreditável materinha da Folha de S.Paulo (aaarrgghhh...), publicada na última sexta-feira: "Empregadas domésticas já têm direitos demais, dizem patrões". Pois é. Parece que ainda vivemos nos tempos em que empregados eram tratados como animais (foto ao lado). Não sei o que é mais absurdo e agressivo: se a coragem da classe patronal de assumir essa postura escravocrata publicamente, em pleno século XXI, ou do jornal, ao abrir espaço, dar voz e amplificar a "reclamação". Mais um exemplo de quem são os "senhores" da subserviente "grande" imprensa.

"As empregadas têm mais direitos que as outras categorias: já comem, bebem e dormem nas casas dos patrões", disse à Folha Margareth Galvão Carbinato, presidente do Sindicato dos Empregadores Domésticos do Estado de São Paulo (Sedesp). Além do fato de que receber alimentação é um direito do trabalhador, faltou observar que, na imensa maioria das vezes, as empregadas que aceitam residir ou dormir na residência dos patrões fazem isso A PEDIDO DELES, para que tenham sempre alguém em casa, à disposição, e não precisem gastar com transporte delas. E é mais prático, pois eliminam a hipótese de a trabalhadora faltar ao serviço. Geralmente, por morarem ali, as empregadas acabam trabalhando muito mais, pois estão à mão todo momento. E não ganham NADA a mais por isso. Fora que, comendo a mesma comida preparada para a família, os patrões se isentam de dar vale alimentação, para ela escolher como, onde e quando comer, nem cesta básica. Ou seja: não é direito, É ABUSO!

E a tal "senhora de engenho" Margareth Cabinato ainda reclama que a aprovação na Organização Internacional do Trabalho (OIT) da convenção que amplia os direitos dos empregados domésticos vai causar desemprego porque tende a aumentar os salários! Para ela, também há problema em conceder horas extras para a categoria: "Você nunca sabe se a doméstica está trabalhando. Não existe controle do trabalho delas porque o patrão não fica fiscalizando. Não há como comprovar que elas trabalharam por um determinado período de tempo". Sim, há como comprovar: é só ver o tanto de serviço feito. Qualquer pessoa que não tem empregada doméstica sabe o quanto esse trabalho é volumoso e desgastante. Não por outro motivo, os patrões recorrem a elas, ora bolas! Quando morei na Irlanda, NINGUÉM tinha empregados em casa. Porque lá existem direitos trabalhistas e, se você quiser empregado, paga MUITO caro. Aqui, os patrões ainda pensam que podem resolver na base do chicote. Que são "superiores" e que têm o direito de se servir dos "inferiores". Basta!

sábado, junho 18, 2011

FHC 80 se diz 'tonto' e plagia Lula: 'eu não sabia'

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Talvez animada pela grande repercussão dos 80 anos do músico, cantor e 'maconheiro' João Gilberto, no início do mês, a "grande" imprensa (grande só no nome) resolveu aproveitar para fazer um desagravo a outro de seus queridinhos, o sociólogo, ex-presidente da República e 'maconheiro nasal' Fernando Henrique Cardoso, que também está completando oito décadas. O jornal O Globo se esmerou na bajulação em seu sítio virtual, com um "especial multimídia" sobre FHC (não confunda com outra droga, o já citado THC), trazendo artigos baba-ovísticos e exagerados de Mirian Leitão e Merval Pereira, charges do Chico Caruso, repercussão com os "mentores" do Plano Real e - o melhor (ou pior) de tudo - uma favorável entrevista com o célebre tucano homenageado.

"Nunca na História desse país" se viu tantas loas e confetes para o aniversário de um ex-presidente da República em nossa imprensa. O esforço para tirar FHC do limbo, em quilos de vassalagem e beija-mão midiáticos, me levam, como jornalista, à exacerbação da vergonha alheia. Mas, sem querer comentar as dúzias de bobagens, incoerências e delírios ditas mais uma vez por Fernando Henrique (até em respeito à sua idade e também poupando as velas do blogue para um defunto que não compensa), separei dois trechos muito reveladores, que, das duas, uma: ou comprovam sua senilidade ou atestam a sua cara de pau. No primeiro, ele diz que assinou a manutenção do sigilo dos documentos oficiais (que tanta dor de cabeça está dando agora à presidente Dilma Rousseff) no último dia de seu mandato (!), sem ler (!!), e que só se tocou disso um ano depois (!!!):


FH - Nesta discussão que está aí hoje [sobre a manutenção do sigilo eterno para documentos de Estado]... Foi no dia 31 de dezembro de 2002, último dia do governo. Porque tem dois canais, ou vem pela Casa Militar ou vem pela Casa Civil. Bem, quando veio esse negócio, eu disse [depois]: não é possível que eu tenha assinado isso. Aí chamei o Pedro Parente: vê se é possível que eu tenha assinado isso. Reconstituiu, não passou pela Casa Civil. Foi pela Casa Militar. Sem a assinatura do general Cardoso. Mas eu não sabia. E uma coisa me chama a atenção: nunca nem o Itamaraty nem as Forças Armadas falaram nesse assunto comigo, nunca pressionaram.

O GLOBO - Então o senhor assinou sem ver? E quando soube?

FH - Quando saiu no jornal, um ano depois. Como eu assinei um negócio proibindo eternamente?



Buenas, se o senhor, que assinou, não sabe, muito menos eu ou o repórter que o entrevistou! Vai ver que, se foi em 31 de dezembro, tava muito desesperado pra abrir a champanhe no Reveillón, ou distraído pela dolorida tarefa de ter que passar a faixa para o Lula no dia seguinte, sei lá. Mas essa desculpinha é de lascar - e ninguém vai repercutir isso. Imaginem se fosse o Lula dizendo tal absurdo, o carnaval que a mídia ia fazer... Aliás, para exemplificar isso, é só perceber, na expressão que grifei em negrito no trecho reproduzido acima, que o sociólogo que fala francês tem todo o direito de dizer que não sabia de nada, ao contrário do torneiro mecânico que o sucedeu, achincalhado quando usou a mesma justificativa. Mas passemos ao segundo trecho que resolvi destacar da entrevista do O Globo, ainda mais eloquente em termos de FHC:


FH - É muito cansativo esse negócio de ser presidente, não sei por que o pessoal quer tanto... (risos)

O GLOBO - Por que o senhor quis tanto?

FH - Pois é, por engano. (ri)

O GLOBO - Duas vezes, presidente?

FH - Eu sou meio tonto...



Impressionante. Diante de tão comovente declaração, é justo considerar que tonto foi quem votou nele. E mais tonto quem votou duas vezes!

Gente diferenciada - e agora despreparada
Conhecido por criar neologismos arrogantes como fracassomaníacos ou neobobos, FHC não perdeu a oportunidade de lançar mais uma nomenclatura na entrevista publicada hoje. Talvez indignado com a "gente diferenciada" que ameaça invadir o bairro onde ele reside em São Paulo, Higienópolis, com a estação do metrô que será construída lá, o ex-presidente octogenário inventou a expressão "gente despreparada" para essa ralé que, ao contrário de seus "iluminados" colegas do mundo acadêmico, foi obrigado a (com tom de asco) "lidar" quando governava o Brasil:


FH - Acho que, em parte, a liderança presidencial tem de ser intuitiva, veja o Lula, mas, quando você tem um pouco mais de capacidade de análise, fica vendo por que as pessoas estão fazendo isso ou aquilo. Ao mesmo tempo que desculpa umas, condena outras.

O GLOBO - Mas isso faz ficar mais pessimista ou otimista a respeito do mundo?

FH - Mais realista. Não digo pessimista porque dá para avançar. Meus colegas acadêmicos puro-sangue sempre ficavam um pouco horrorizados de ver como é que eu lidava com o que, para eles, é uma gente despreparada. Eu dizia que eles não eram preparados para umas coisas, mas muito bem preparados para o que eles fazem.



De fato, a soberba desses tucanos de Higienópolis sempre consegue um jeito de se superar. E eu, sem capacidade de análise e assumidamente sem qualquer tipo de preparo (para me sentir superior), encerro este post com a única coisa que gostaria de dizer ao aniversariante FHC: "-Credo."

quarta-feira, junho 15, 2011

A mídia, seus atos, diferenças e consequências

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Leio agora sobre a demissão da servidora do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), por conta de vazamento de dados sigilosos de uma Agência do Fisco no município paulista de Mauá, em 2009. O caso virou um enorme escândalo - turbinado pela mídia - em plena campanha presidencial do ano passado, por envolver informações sobre Verônica Serra, filha do candidato José Serra, do PSDB, e sobre o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge. Sim, o vazamento de dados é ilegal e quem fez deve ser punido. Mas, se os dados mostram irregularidades de Verônica e Eduardo, por que também não há investigação ou punição?

Assim como nas eleições de 2006, quando a compra de um suposto dossiê contra Serra pelo PT ganhou mais destaque do que as informações de falcatruas contidas no próprio dossiê, a imprensa preferiu transformar lobos em cordeiros e criminalizar apenas o meio como as informações surgiram, desprezando completamente supostos crimes que os dados mostram. Em resumo, Verônica, Eduardo e Serra, além de nada sofrerem, ainda tiveram a imagem construída, pela mídia, de "mártires" da injustiça, da bisbilhotice, da invasão de privacidade e da "sanha petista".

Pois bem, comparemos agora com outro caso onde ocorreu o contrário, ou seja, as atenções concentraram-se nos dados vazados e quase nada se questiona sobre os meios como foram obtidos. Falo sobre o mais recente escândalo elevado à estratosfera pela mídia, as denúncias contra Antonio Palocci, do PT. A bancada do partido na Câmara de São Paulo denunciou que os dados da empresa dele vazaram ilegalmente da Secretaria de Finanças da Prefeitura, comandanda por Mauro Ricardo, ex-secretário estadual da Fazenda durante a gestão de... José Serra.

Mauro é considerado simplesmente o principal aliado de Serra no secretariado do prefeito Gilberto Kassab (DEM/PSD). A denúncia do PT paulistano gerou meia dúzia de notícias sem muito destaque, com o tom de que seria uma "estratégia" (leia aqui) para tentar abafar os "crimes" de Palocci. Duvido que algum dos 15 funcionários da Secretaria de Finanças apontados como responsáveis pelo vazamento de informações tenha o mesmo destino da servidora do Serpro. Ou, no mínimo, que a imprensa retome o assunto. E Palocci, como todos sabemos, perdeu seu cargo de ministro da Casa Civil - o mais importante depois da presidência da República.

Claro que Palocci deve ser investigado e punido, caso tenha cometido atos ilegais. Não há dúvida. Mas ninguém falou, dessa vez, em bisbilhotice, invasão de privacidade ou "sanha tucana" em relação a ele. Repito: por que não investigam e punem, se for o caso, Verônica Serra e Eduardo Jorge? Por que nem se discute essa hipótese na imprensa, ao contrário de Palocci, "julgado", "condenado" e apontado como "bandido" desde o início, na imprensa? Como se vê, o tratamento da mídia e as consequências para tucanos e petistas são MUITO diferentes.

É assim que se protegem candidatos de uns e se derrubam ministros de outros. E é assim, infelizmente, que se constroem "mocinhos" e "bandidos" na opinião pública.