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quarta-feira, junho 08, 2011

Periódico parlamentarista

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Manchete de hoje do tablóide gratuito Destak:

Cai o primeiro ministro de Dilma

Se o regime político brasileiro fosse o parlamentarismo, teria sido uma verdadeira hecatombe no governo. E é indisfarçável a "torcida" do jornal ao usar o termo "primeiro", dando a entender que iniciou a contagem da queda do máximo de ministros possível...

sexta-feira, maio 20, 2011

Um governo inexistente - ou que ninguém quer mostrar

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Acompanhando o noticiário sobre o assassinato do estudante Felipe Ramos dentro da Universidade de São Paulo (USP), constatei, sem surpresa, que a chamada "grande" imprensa (grande só no lucro...), mais uma vez, não dá nome aos bois e muito menos vai atrás deles. Por isso, resolvi fazer um post "didático". Se houve um crime, é problema de segurança. No Estado de São Paulo, a vigilância é feita pela Polícia Militar, que, por sua vez, é subordinada à Secretaria Estadual de Segurança. Nas notícias sobre o crime - ou crimes, parece que foram mais de 200 dentro da USP, somente no último mês - será difícil ver o nome ou a figura do cidadão da foto à esquerda. Mas, sim, ele é o secretário de Segurança Pública do Estado, Antônio Ferreira Pinto. Muito prazer, senhor Ferreira Pinto! Como vai?

Pois bem. Se o crime ocorreu dentro de uma universidade pública, quem é responsável por ela? A USP, assim como a Polícia Militar paulista, é mantida pelo governo do Estado. Ah! Que coisa! Logo, está subordinada à Secretaria Estadual de Educação. Parece lógica toda essa associação e encadeamento de subordinações e responsabilidades, mas, dificilmente, vocês também vão ver, no noticiário sobre o crime na USP, o distindo cidadão da foto à direita, o secretário de Educação, Herman Voorwald. Muito prazer, senhor Voorwald! Sim, eu sei: uma cobertura lógica, racional e jornalística do fato procuraria esses dois funcionários públicos. Mas nós estamos no Estado de São Paulo e, por questões políticas e financeiras, não interessa (ou antes, é proibido) mostrá-los. Sabem por quê?

Porque, voltando à sequência de subordinações e responsabilidades, em última instância, ambos os secretários são subordinados à autoridade máxima do Estado paulista. E esse, meus amigos, não vai aparecer em reportagem negativa nem se ele matasse a própria mãe. Sim, estamos falando do atual governador (governador?!?) do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (foto à esquerda). Aquele, do PSDB - sigla que denomina um partido que, quase nunca, vocês vão ver na imprensa quando o assunto é negativo. Exagero? Por que ele não aparece na TV, rádio, portal de internet, jornal ou revista falando sobre os crimes na USP? Como disse, em última instância, ele é a autoridade máxima, responsável pela USP e pela polícia estadual.

Acontece, meus queridos irmãos, que aqui, no Estado mais rico do Brasil, a imprensa tem posição política muito definida - embora insista em enganar a população, dizendo que não tem "rabo preso" com ninguém. Tem, sim. Nesta semana que passou, foram completos cinco anos dos ataques de uma facção criminosa em todo o Estado, que culminou com a Polícia Militar assassinando mais de 400 pobres, a esmo (a maioria, negros). Nada foi investigado e ninguém foi punido de lá para cá. E o secretário Antônio Ferreira Pinto também não apareceu no noticiário, falando sobre o assunto, nem o governador Alckmin. Da mesma forma, no mês passado, funcionários da limpeza da mesma USP entraram em greve, pois a empresa terceirizada que os empregava atrasou salários. A empresa foi contratada pela USP, que é subordinada à Secretaria de Educação - do governo estadual. Mas, para (não) variar, ninguém da "grande" imprensa procurou o secretário Herman Voorwald. Nem Geraldo Alckmin.

Para o leitor, ouvinte, internauta ou telespectador, a impressão é de que o governo de São Paulo é inexistente. Como diria o Padre Quevedo, "nom equiziste!". E, se não existe, não tem culpa nem responsabilidade de nada. Nem Ferreira Pinto, nem Voorwald e nem Alckmin jamais serão associados, por esses consumidores de "informação", a qualquer crime ou problema relacionados à segurança ou educação pública. Legal, né? Mas deviam perguntar para a família do rapaz assassinado e para os alunos da USP o que eles acham disso. Ah, mas que bobagem! Isso a "grande" imprensa também não vai fazer, nunca...

quarta-feira, maio 04, 2011

Verba menor OU por quê a 'grande imprensa' detona Lula

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Uma materinha muito elucidativa do O Globo de hoje, com a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, confirma, com todas as letras e números, o que eu, como jornalista e frequentador dos bastidores dos meios de comunicação, canso de apontar para os anti-lulistas e anti-petistas como PRINCIPAL motivo de a chamada "grande imprensa" bater tanto em Lula e no PT:

Pelas informações da ministra, até o início do primeiro governo Lula, o dinheiro da publicidade era repartido entre 400 empresas. Agora, oito anos depois, a verba é destinada a aproximadamente 6 mil empresas.

Como diria nosso amigo Glauco: "Difícil ou fácil?".

segunda-feira, maio 02, 2011

Osama Bin Laden ou Emmanuel Goldstein - tanto faz

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"Mais um instante e um guincho horrendo, áspero, como de uma máquina monstruosa funcionando sem óleo, saiu do grande televisor. Era um barulho de ranger os dentes e arrepiar os cabelos da nuca. O ódio começara. Como de hábito, a face de Emmanuel Goldstein, o Inimigo do Povo, surgira na tela. Aqui e ali houve assobios entre o público. (...) O programa dos Dois Minutos de Ódio variava de dia a dia, sem que porém Goldstein deixasse de ser o personagem central cotidiano. (...) Nalguma parte do mundo ele continuava vivo e tramando suas conspirações: talvez no além-mar, sob proteção dos seus patrões estrangeiros; talvez até mesmo - de vez em quando corria o boato - nalgum esconderijo na própria Oceania.

No mesmo momento, porém, arrancando um fundo suspiro de alívio de todos, a figura hostil fundiu-se na fisionomia do Grande Irmão, de cabelos e bigodes negros, cheio de força e de misteriosa calma, e tão vasta que tomava quase toda a tela. Ninguém ouviu o que o Grande Irmão disse. Eram apenas palavras de incitamento, o tipo de palavras que se pronunciam no calor do combate, palavras que não se distinguem individualmente mas que restauram a confiança pelo fato de serem ditas. Então o rosto do Grande Irmão desapareceu de novo e no seu lugar apareceram as três divisas do Partido, em maiúsculas, em negrito: GUERRA É PAZ; LIBERDADE É ESCRAVIDÃO; IGNORÂNCIA É FORÇA."

Trechos extraídos do livro "1984", de George Orwell (Inglaterra, 1949).

"Os ataques de 11 de setembro deram não só credibilidade e legitimidade ao presidente como também permitiram a ele renascer politicamente sem sofrer o custo político da mudança. 'Bush tornou-se um presidente integralmente legítimo, não só para governar, mas também para reinventar-se como político', afirmou Andrew Kohut, diretor do instituto de pesquisas Pew Research Center for the People. (...) Depois dos atentados, Bush definiu o terrorismo como principal inimigo da humanidade e condicionou qualquer apoio financeiro e diplomático dos EUA ao engajamento de outros países à guerra contra o terror. Bush propôs a substituição da 'contenção' e da 'dissuasão', princípios da Guerra Fria, pela realização de ataques preventivos, inclusive com armas nucleares, contra grupos terroristas ou Estados hostis aos EUA."

Matéria da Folha de S.Paulo de 8 de setembro de 2002, um ano após os atentados em Nova York (a íntegra está aqui).

"O anúncio da morte do fundador da rede extremista Al Qaeda, Osama Bin Laden, em uma operação das forças americanas, deverá fortalecer a imagem do presidente Barack Obama como líder, diz a imprensa dos Estados Unidos. (...) A morte de Bin Laden também poderá dar novo fôlego à popularidade de Obama, neste início de campanha para um segundo mandato na Casa Branca e no momento que enfrenta uma oposição acirrada do Partido Republicano, desde novembro passado no comando da Câmara dos Representantes (deputados federais). Analistas já preveem que as divergências partidárias no Congresso sejam colocadas de lado diante da vitória, assim como ocorreu logo após os atentados de 11 de setembro de 2001."

Matéria da BBC Brasil de 2 de maio de 2011 replicada pela Folha de S.Paulo (a íntegra aqui).

Lembrem-se todos vocês: "O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI!".

Foto divulgada de Osama Bin Laden morto e outra dele vivo. Photoshop?

quarta-feira, abril 20, 2011

Lei Seca é prejudicial à saúde!

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A esdrúxula e incongruente imposição de Lei Seca pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, durante a Virada Cultural, no fim de semana, teve como efeito colateral um problema de saúde muito pior do que possíveis ressacas. Segundo o portal IG, em materinha intitulada "Vinho químico é o crack das bebidas", a proibição da venda de bebidas pelos estabelecimentos comerciais legalizados durante o festival de eventos públicos que atravessou todo o sábado e domingo fez com que milhares de ambulantes clandestinos oferecessem ao público "uma perigosa mistura artesanal de etanol (o mesmo vendido em postos de gasolina), pigmento e doçura similar à groselha e corante". De acordo com a reportagem, "com 96% de álcool, bebida apreendida em São Paulo é altamente tóxica e compromete fígado e cérebro".

Mais de 17 mil litros (!!!) do chamado "vinho químico" foram apreendidos. A bebida era oferecida em garrafinhas (foto acima) com valores entre R$ 1,5 e R$ 10 - um convite tentador aos milhares de manguaças que se viram privados de beber enquanto se divertiam. Segue o texto do IG: "O que assusta é a quantidade elevada de etanol, que representa 96% da mistura. Esse índice supera o teor alcoólico de bebidas fortes como a cachaça, que tem de 38% a 54% de álcool no Brasil. A graduação máxima permitida por lei, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é de 54%. (...) Se comparada a outras bebidas, a discrepância é ainda maior. Vodca e uísque variam o teor alcoólico entre 40% e 50%. Um vinho de verdade apresenta em torno de 12%, enquanto uma cerveja pilsen, o tipo mais consumido no país, contem entre 4,5% e 5% de álcool". Uma médica ouvida pela reportagem classificou a mistura como "uma bomba".

Pois é, moralistas de plantão (ou pior que isso: políticos moralistas de plantão). Proibir não resolve, quando as pessoas querem consumir, sempre vai ter alguém querendo ganhar dinheiro em cima. O problema não é proibir, é controlar, fiscalizar, acompanhar, punir excessos e prestar assistência. Moralistóides como Gilberto Kassab só conseguem regredir o Brasil ao início do século passado, quando a Lei Seca foi adotada nos Estados Unidos e, como consequência, criou uma das quadrilhas mafiosas mais notórias de todos os tempos, além de matar milhares de pessoas com bebidas da pior qualidade e procedência desconhecida - porque, óbvio, ninguém deixou de beber! É o que acontece agora, com o tal "vinho químico". Essa é a política de saúde (moralista e irresponsável) da maior cidade da América Latina.

terça-feira, abril 12, 2011

Editora Abril quer Luciano Huck presidente do Brasil

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Depois de classificar os posicionamentos políticos de Chico Buarque como "molecagem", por apoiar Lula, Dilma Rousseff, Hugo Chávez, Evo Morales e Fidel Castro (entre outros inimigos eternamente demonizados pela mídia tucana), a revista "Alfa Homem" traz agora na capa o que considera o ideal "político" da Editora Abril. O (asqueroso) Luciano Huck aparece de terno, em foto com esmero de marketing eleitoral (reprodução à direita), e, sem meias palavras, a publicação pergunta ao leitor se ele não seria o "salvador da pátria" para "acabar com a pobreza" no país. À primeira vista, parece uma piada inconsequente - tanto quanto o programa que Huck apresenta na TV Globo. Mas é sério isso. Muito sério.

O apresentador de programas televisivos e empresário Luciano Huck, paulistano de origem judaica e muito abastada, é apresentado como o supra sumo de tudo o que a Abril considera "bom", "correto" e "confiável". Um novo "caçador de marajás": jovem, rico, ídolo televisivo e com ações sociais "beneméritas" e assistenciais. A revista "Alfa" lista os "atributos" para você votar nele (o grifo é nosso): "Tem helicóptero, alguns carros importados, está construindo uma mansão de 16 quartos com heliporto no Rio de Janeiro. Vive um casamento feliz, com dois fillhos perfeitos". Não contente, a publicação ameaça e aposta: "Porque, goste ou não de Luciano Huck, ele é uma presença obsessiva na vida nacional — e vai crescer ainda mais. Seus amigos mais próximos já se perguntam por que não o colocar de vez num cargo público".

E os nomes de alguns desses "amigos" do apresentador ajudam a entender o motivo de tanta festa por parte da editora da família Civita (mais um grifo nosso): "Bons contatos na política não faltam. José Serra é amigo da família e o mineiro Aécio Neves se mantém ainda mais próximo". Ou seja, Huck é, para a Editora Abril, um potencial "novo iluminado" entre os "iluminados" tucanos da capital de São Paulo, grupo que representa tudo o que há de mais arrogante, prepotente, preconceituoso, retrógrado, classista e conservador na política nacional. Não por acaso, a reportagem recorre ao empresário Alexandre Accioly, de estreitas relações com Aécio Neves (foto), para dizer que Huck será "o próximo Ronald Reagan" (cruz credo!). Pois é, até o dinheiro de campanha já está garantido...

Um peixe indigesto
Obviamente, fica explícito que "amigos" de Luciano Huck também são os próprios membros da família Civita, proprietária da Editora Abril. Digo explícito porque, antes, de forma implícita (mas nada discreta), a editora já havia "socorrido" o apresentador em uma recente "saia justa". Em dezembro de 2010, Huck comprou uma parte (especula-se que 5%) do site de compras coletivas Peixe Urbano. De imediato, usou o Twitter para impulsionar e tentar um novo recorde de venda de cupons de desconto do site. E a (mórbida) oportunidade viria no mês seguinte, quando milhares de pessoas morreram em deslizamentos provocados pelas fortes chuvas no Rio de Janeiro. Huck tuitou: "Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita".

Acontece que a exploração da tragédia foi denunciada por Luís Nassif em seu blogue: "A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes. Parece bonito, mas não é. Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano. Depois, é preciso se cadastrar no site. E então comprar um ou mais cupons de R$10,00. Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente. Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs)". A "esperteza" repercutiu forte na internet e a imagem de Luciano Huck ficou bem arranhada.

Por isso, a Editora Abril não tardou em "salvá-lo". Com a sutileza de um elefante numa loja de cristais, lançou uma edição da Veja (aaarrghh...), no final de janeiro, com Huck e sua esposa Angélica na capa, sob a angelical manchete: "A reinvenção do bom-mocismo" (reprodução à direita). Isso, como bem observou o blogue "Somos andando", na mesma semana que uma revolução podia "mudar a cara do mundo islâmico" (assunto que a capa da revista deixou para terceiro plano). Agora, a "Alfa Homem" completa o serviço: "'Hoje, aos 39 anos, acho que estou cumprindo esse papel na televisão', diz Luciano, depois de pensar um pouco. Mas seria presidente do Brasil? 'Agora, não. Daqui a dez anos, talvez eu tenha mudado a resposta'".

Em dez anos, se outros (poderosos) meios de comunicação, além da Globo e da Abril, outras (poderosas) forças políticas, como Aécio e Serra, e econômicas, como Accioly, continuarem construindo e massificando a imagem desse playboyzinho yuppie e ganancioso como "salvador da Pátria", poderemos ter um grande problema e, na pior das hipóteses, retroagir nossa política aos tempos do não menos playboyzinho-yuppie-ganancioso Fernando Collor de Mello. Duvidam?

Com o grupo mais reacionário entre a (hiper) reacionária elite brasileira, não se brinca. Quando essa cobra põe a cabeça pra fora, é difícil matá-la à pauladas (não é mesmo, Leonel Brizola?). Por isso, volto a afirmar: isso é sério. Muito sério.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Quando os jornalistas também eram barbudos

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No finzinho de um post do Glauco de dois anos atrás, ele chamava a atenção para um texto do blogue Futebol é Literatura sobre a ausência, hoje, de jogadores barbudos. "Parece que barba é crime. Será uma proibição contratual? Uma exigência dos técnicos? Penso saudosamente em Sócrates, no zagueiro campeão do mundo Hugo de León, do ponta Mário Sérgio, do atacante Kita. Coitados, órfãos do futuro, sem sucessores", dizia Fabrício Carpinejar, o autor. Pois é, os tempos eram outros. Hoje em dia a "rebeldia barbuda" quase não é mais tolerada. E não é só no futebol que isso acontece, infelizmente. Os pelados vigiam os peludos.

Na política, com exceção do Lula, do José Genoíno e de mais meia dúzia de três ou quatro, é difícil achar alguma figura de maior proeminência que mantenha com orgulho seus pêlos na cara. E na imprensa não é diferente: o visual yuppie e mauricinho que passou a imperar nas redações a partir dos anos 1990 limpou de vez o rosto dos jornalistas - com exceção, talvez, dos manguaças de alguns blogues e publicações "de esquerda" (a exemplo do rapaz na foto acima). Por isso, foi com satisfação que vi, no Facebook, um retrato do arquivo de nosso camarada Jesus Carlos, da agência Imagenlatina. Vejam aí, com legenda dele:

Greve - ABCD. Jesus Carlos (Em Tempo) e Lula conversando, com Irmo Pasoni (Veja), Hélio (free-lancer) e U. Detimar (Folha de São Paulo) durante a greve de 1979, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Foto: Roberto Faustino.

sábado, fevereiro 26, 2011

'Vamos assistir futebol! Vamos tomar cerveja!'

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Os gringos estão embasbacados com o Brasil - e o vídeo abaixo diz tudo (e, principalmente, aquele tudo que a nossa mídia aqui não diz). Temos problemas? Sim, lógico. Mas a perspectiva é a de que sejamos um dos protagonistas da economia mundial neste século 21. O melhor de tudo é que, para arrematar a reportagem, o empresário Eike Batista aparece recomendando: "Let's watch a soccer game! Let's go to the beach! Let's drink a beer!" ("Vamos assistir um jogo de futebol! Vamos para a praia! Vamos beber cerveja!"). Quem somos nós para desobedecer???



Ps.: Curioso é que os gringos não citam uma única vez, como agente do desenvolvimento brasileiro, o período de governo do PSDB, entre 1995 e 2002. A virada espetacular veio mesmo com Lula, o "pop star". Talvez para compensar, resolveram enfiar um inusitado tucano, ali pelo 12:51. Mensagem subliminar?

domingo, fevereiro 13, 2011

Revista da Editora Abril chama Chico Buarque de 'moleque' por defender Lula, Dilma, Chávez e Fidel

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Depois do despropósito de enfiar uma foto de José Serra no encarte de um CD de Chico Buarque, a Editora Abril volta a fustigar o artista carioca. Chico está na capa da edição de fevereiro da revista "Alfa Homem" (à direita), o que me convenceu a comprá-la. O mote da reportagem, que visitou o entrevistado em seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro, é a sua volta à música: ele deve entrar em estúdio até abril, para gravar um novo álbum, depois do jejum imposto pela produção do (muito premiado) livro "Leite derramado". Até aí, tudo bem. A materinha conta trivialidades curiosas, como o fato de hoje Chico só beber moderadamente, com uma tacinha de vinho ou de grappa (cachaça italiana) após o jantar, depois de livrar-se do consumo forte de álcool nos anos 1980, ao ingerir ervas amazônicas do "bruxo" Lourival; e também sua paixão pelo futebol, que o levou, certa vez, a identificar-se como "um famoso jogador" no aeroporto de Paris. "E aquela caixa de violão na esteira?", perguntou, cético, o funcionário. "É o disfarce para as minhas chuteiras", respondeu o artista.

Porém, o texto de Regina Zappa guarda um certo tom de "desagravo", uma linha condutora que leva a crer que a reportagem louva Chico Buarque "apesar de alguma coisa". E essa "alguma coisa", lógico, é sua posição política. Chico se engajou publicamente na campanha de Dilma Rousseff, em 2010 (contra José Serra, o candidato da família Civita, proprietária da Editora Abril). E nunca deixou de defender Fidel Castro e as transformações em Cuba ou mesmo Hugo Chávez e os avanços sociais na Venezuela. Isso, para a revista Alfa Homem, é pecado. "(Chico) É amado, respeitado, invejado, celebrado - e odiado, muitas vezes por causa de suas posições políticas de esquerda", opina o texto de Regina Zappa. "Deixou claro, várias vezes, seu apreço a Lula e apoiou Dilma Rousseff durante a campanha. 'Dilma é uma mulher corajosa', declarou no programa eleitoral. Para o bem ou para o mal, nunca causou surpresa nessa área. Chico sempre foi de esquerda", prossegue a matéria.

Mas o acusatório "para o bem ou para o mal" não foi suficiente. Os editores resolveram agregar um "desagravo" ainda mais contundente para o "hediondo defeito" de Chico Buarque. Escalaram um tal de Caco de Paula para escrever um breve - e inacreditável - textinho para ser agregado à reportagem, sob o singelo título de "Não chute o poeta". Diz um trecho (o grifo é nosso): "Sua obra tem grande importância, independentemente de suas opiniões favoráveis aos dinossauros de Cuba e da Venezuela. Por crença pessoal, estilo, molecagem, necessidade de seguir contra a corrente, ou tudo isso junto, Chico se mantém fiel ao ideário romântico e utópico que em alguma esquina da história acabou fulanizado nas imagens patéticas de Fidel e Chávez". E mais: "Chico tem o direito de expressar sua opinião sobre os 'comandantes' e pode perfeitamente ser criticado por quem os considera, estes sim, os verdadeiramente imperdoáveis" - como se Chico precisasse ser "perdoado"...

Tá, eu também tô careca de saber a posição política da Editora Abril e de suas publicações, de seu conservadorismo, fascismo ou o que seja. Basta dar uma olhada nas capas da Veja, não precisa nem abrir para ler. Mas dessa vez eles estão usando (repito: usando) alguém que não compartilha de suas opiniões, mas que é simplesmente Chico Buarque, para dizer que "sim, ele é legal, mas não devemos odiá-lo por apoiar essa corja esquerdista; você deve considerá-lo apenas um genial artista, mas, em política, é uma besta". E, para fazer essa patifaria, eles vão até a casa do cidadão, partilham de sua privacidade e boa vontade, colocam sua cara na capa para vender mais revistas e, depois disso tudo, enxertam um textinho classificando de "molecagem" sua militância e postura política. Quando a gente acha que já viu de tudo, eles conseguem se superar. Ô, racinha, essa tucanada "iluminada"...

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Por não ser dono de bar, jornalista é cliente assíduo

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Muita gente não entende o motivo de a maioria dos jornalistas beber tanto. Já elocubrei sobre isso aqui no blogue, mas vejo que o assunto gerou até análises acadêmicas. No livro "Jornalismo freelance - Empreendedorismo na Comunicação", de João Marcos Rainho (Summus Editorial, 2008), o autor afirma que três caminhos surgem quando um jornalista está desempregado. Primeiro, óbvio, é procurar e arrumar outro emprego. Segundo, profissionalizar-se como freelance. E, terceiro, continuar desempregado e mudar de ramo - e Rainho observa que "esta última possibilidade está se tornando muito comum nos últimos anos!" (e deve ser, mesmo, ainda mais depois que acabaram com a necessidade de diploma para exercer a profissão). Pois bem, mais algumas páginas à frente há um trecho interessante sobre os que renegam ou pretendem renegar o ofício (os grifos são nossos):

"Pesquisando sobre o modo de vida dos jornalistas para sua tese de mestrado, Isabel Siqueira Travancas entrevistou dezenas de profissionais no Rio de Janeiro [trabalho publicado no livro 'O mundo dos jornalistas']. Ela descreve que o sonho da maioria dos jornalistas dos grandes centros urbanos é ser dono de um jornal - ou ter um bar, para se libertar do esquema empresarial do grandes jornais e do próprio anonimato."

Taí: na impossibilidade de ter um bar, o jornalista vira cliente. Ou melhor: verdadeiro devoto e militante da causa! E o problema do anonimato acaba quando ele passa de alcoólatra anônimo para bêbado conhecido...

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Bebê atômico mandava todo mundo tomar pinga

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No meio jornalístico brasileiro, um dos fatos mais bizarros foi a inacreditável série de 27 manchetes que o extinto jornal paulista Notícias Populares deu entre maio e junho de 1975, sobre um suposto "bebê diabo" que teria nascido em São Bernardo do Campo (curiosamente, no mesmo ano em que Luís Inácio Lula da Silva assumia a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, na mesma cidade). Fruto da audácia do secretário de redação, José Luiz Proença, e do editor de polícia, Lázaro Campos Borges, em um plantão de sábado em que não havia uma pauta sequer para salvar a edição do dia seguinte, a inacreditável matéria "Nasceu o diabo em São Paulo", que iniciou a série e triplicou as vendas do jornal, surgiu a partir de uma notinha da Folha de S.Paulo sobre um bebê que havia nascido com prolongamento do cóccix e duas pequenas saliências na testa em um hospital do ABC paulista.

Segundo o livro "Nada mais que a verdade", de autoria de Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima, o repórter Waldemar de Paula, do NP, telefonou para alguns hospitais da região e, como não obteve informação, partiu para a imaginação e a cara de pau. No domingo, 11 de maio de 1975, a "reportagem" dizia que "o bebezinho (...) já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros". Mais à frente, o texto explicava: "parece que tudo começou na Semana Santa, quando o marido da mulher, que é muito religioso, convidou-a para ir à igreja, ver a procissão. A mulher grávida bateu com as mãos na barriga e respondeu, indignada: - Não vou, enquanto este diabo aqui não nascer".

A lorota vendeu horrores e só restou ao jornal prosseguir com a farsa. Por quase um mês, publicou em manchete principal a saga do "bebê diabo", que mobilizou a população em São Paulo e em outros estados (minha sogra, que estava grávida na época, disse que no Rio de Janeiro também só se falava sobre isso). A série espetacular do NP teve capítulos esdrúxulos como "Bebê-diabo inferniza o padre do ABC", "Viu bebê-diabo e ficou louca", "Bebê-diabo nos telhados das casas do ABC", "Diabo explode o mundo em 1981", "Fazendeiro é pai do bebê-diabo", "Bebê-diabo foge para o Nordeste" e "Zé do Caixão vai caçar bebê-diabo no Nordeste", entre outros. Em 24 de maio, por exemplo, o jornal noticiava que "Bebê-diabo parou táxi na avenida" e, respondendo ao taxista qual seria o destino, teria dito: "Toca para o inferno".

Depois de tanto absurdo (e de milhões de exemplares vendidos), o NP resolveu encerrar o assunto quando o "bebê-diabo" havia se perdido nos sertões da Bahia e Pernambuco.

Guta, o "bebê atômico"
Porém, o departamento comercial pressionou e, pouco depois, o jornal apelaria novamente com a notícia de nascimento de um "bebê peixe" na floresta amazônica, com "pele escamosa e cauda de peixe nos membros inferiores". A segunda manchete foi: "Boto é pai do bebê-peixe", em que um médico explicava que a mãe tivera relações sexuais com um "cetáceo fluvial". Saturado pelo "bebê diabo", o público não deu bola e as edições encalharam. Aí, o NP decidiu esculhambar de vez. Em 11 de novembro de 1975, lia-se que "Bebê atômico nasceu em SP". A criança, chamada Guta, tinha o poder de controlar raios e relâmpagos, além de ficar invisível e transformar seu corpo em substância líquida e gasosa. Pior: ela morava no esgoto e passeava por bairros distantes porque, no Centro de São Paulo, as ondas de rádio e TV lhe faziam cócegas.

Segundo o jornal, o pai do bebê, um pedreiro, tivera contato com uma pistola de raios alimentada por urânio enriquecido, "a mesma fonte de energia dos submarinos nucleares". Assim, no dia 14 de novembro, a notícia era a de que a médica Vânia teria recebido uma visita de Guta, que saíra junto com o vapor do chuveiro e, sorridente, se materializara em sua frente (!). Em seguida, a garotinha nuclear parou em uma oficina para recarregar as energias com a bateria de um carro Galaxie azul. Mas a loucura chegou ao ápice quando a garota entrou em uma bar da Vila Prudente para beber todo o leite gelado do local (sua bebida preferida) e, ao mesmo tempo, ordenar: "Quando eu bebo, todo mundo bebe também. Aqui não vai ficar ninguém sem tomar pelo menos uma garrafa de pinga". O livro "Nada mais que a verdade" observa que, talvez, esse fosse o desejo inconsciente do repórter que escreveu essa pérola...

Sem o mesmo sucesso do "bebê diabo", a nova série acabou quando Guta levou um tiro de chumbinho do proprietário da lancha Tiririca, às margens da represa de Guarapiranga.

Os futepoquenses, esses pingagistos
Mas, falando em bar, em cachaça e em jornalistas manguaças, o livro comenta que o romeno Jean Mellé, mentor do Notícias Populares, não falava português direito, confundindo o idioma com uma mistura de alemão, francês e espanhol. Quando aprendeu que o indicativo do gênero masculino era a letra "o", passou a empregar a lição ao pé da letra. Por isso, para Mellé, todo jornalista do sexo masculino era "jornalisto", artista era "artisto", e assim por diante. Seus funcionários (que deviam frequentar o bar com certa assiduidade) lembram que, por associação "lógica" com o termo tabagista, o romeno tratava os bêbados de "pingagistos"...

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Internautas brasileiros entrevistam Julian Assange

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Imagem por Abode of chaos
“Não somos uma organização exclusivamente da esquerda. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e pela justiça”. Essa é apenas uma das muitas afirmações feitas pelo fundador e publisher do WikILeaks, Julian Assange, em entrevista aos internautas brasileiros.

A entrevista está sendo publicada por diversos blogues - 
publicada por diversos blogs, entre eles: Blog do Nassif, Viomundo, Nota de Rodapé, Maria Frô, Trezentos, Fazendo Média, FAlha de S Paulo, Escrevinhador, Blog do Guaciara, Observatório do Direito à Comunicação, Blog da Dilma, Elaine Tavares, Blog do Mello, Altamiro Borges, Doutor Sujeira, Blog da Cidadania, Óleo do Diabo, Escreva Lola Escreva. E por este Futepoca, claro. 

Julian, que enfrenta um processo na Suécia por crimes sexuais e atualmente vive sob monitoramento em uma mansão em Norfolk, na Inglaterra, concedeu a entrevista para internautas que enviaram perguntas a este blog da jornalista Natalia Viana, que selecionoudoze perguntas dentre as cerca de 350 recebidas.Todas as perguntas serão publicadas depois.

No final, os brasileiros não deram mole para o criador do WikiLeaks. Julian teve tempo de responder por escrito e aprofundar algumas questões. O resultado é uma entrevista saborosa na qual ele explica por que trabalha com a grande mídia - sem deixar de criticá-la -, diz que gostaria de vir ao Brasil e sentencia: distribuir informação é distribuir poder.


Em tempo: se virasse filme de Hollywood, o editor do WikiLeaks diz que gostaria de ser interpretado por Will Smith.

A seguir, a entrevista.  

Vários internautas - O WikiLeaks tem trabalhado com veículos da grande mídia – aqui no Brasil, Folha e Globo, vistos por muita gente como tendo uma linha política de direita. Mas além da concentração da comunicação, muitas vezes a grande mídia tem interesses próprios. Não é um contra-senso trabalhar com eles se o objetivo é democratizar a informação? Por que não trabalhar com blogs e mídias alternativas?

Por conta de restrições de recursos ainda não temos condições de avaliar o trabalho de milhares de indivíduos de uma vez. Em vez disso, trabalhamos com grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos humanos que têm uma audiência significativa. Muitas vezes isso inclui veículos de mídia estabelecidos; mas também trabalhamos com alguns jornalistas individuais, veículos alternativos e organizações de ativistas, conforme a situação demanda e os recursos permitem.

Uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes. Em outros países, usamos a equação inversa. O ideal seria podermos trabalhar com um veículo governista e um de oposição.

Marcelo Salles – Na sua opinião, o que é mais perigoso para a democracia: a manipulação de informações por governos ou a manipulação de informações por oligopólios de mídia?

A manipulação das informações pela mídia é mais perigosa, porque quando um governo as manipula em detrimento do público e a mídia é forte, essa manipulação não se segura por muito tempo. Quando a própria mídia se afasta do seu papel crítico, não somente os governos deixam de prestar contas como os interesses ou afiliações perniciosas da mídia e de seus donos permitem abusos por parte dos governos. O exemplo mais claro disso foi a Guerra do Iraque em 2003, alavancada pela grande mídia dos Estados Unidos.

Eduardo dos Anjos - Tenho acompanhado os vazamentos publicados pela sua ONG e até agora não encontrei nada que fosse relevante, me parece que é muito barulho por nada. Por que tanta gente ao mesmo tempo resolveu confiar em você? E por que devemos confiar em você?

O WikiLeaks tem uma história de quatro anos publicando documentos. Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos um dia cometer um erro. No entanto até o momento temos o melhor histórico do mercado e queremos trabalhar duro para manter essa boa reputação.

Diferente de outras organizações de mídia que não têm padrões claros sobre o que vão aceitar e o que vão rejeitar, o WikiLeaks tem uma definição clara que permite às nossas fontes saber com segurança se vamos ou não publicar o seu material.

Aceitamos vazamentos de relevância diplomática, ética ou histórica, que sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos por alguma ordem judicial.
Vários internautas - Que tipo de mudança concreta pode acontecer como consequência do fenômeno Wikileaks nas práticas governamentais e empresariais? Pode haver uma mudança na relação de poder entre essas esferas e o público?
James Madison, que elaborou a Constituição americana, dizia que o conhecimento sempre irá governar sobre a ignorância. Então as pessoas que pretendem ser mestras de si mesmas têm de ter o poder que o conhecimento traz. Essa filosofia de Madison, que combina a esfera do conhecimento com a esfera da distribuição do poder, mostra as mudanças que acontecem quando o conhecimento é democratizado.

Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento individual ao negar informação aos indivíduos. É esse vácuo de conhecimento que delineia quem são os mais poderosos dentro de um governo e quem são os mais poderosos dentro de uma corporação.

Assim, o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto uma força equalizadora e democratizante na sociedade.
Marcelo Träsel - Após o Cablegate, o Wikileaks ganhou muito poder. Declarações suas sobre futuros vazamentos já influenciaram a bolsa de valores e provavelmente influenciam a política dos países citados nesses alertas. Ao se tornar ele mesmo um poder, o Wikileaks não deveria criar mecanismos de auto-vigilância e auto-responsabilização frente à opinião pública mundial?
O WikiLeaks é uma das organizações globais mais responsáveis que existem.

Prestamos muito mais contas ao público do que governos nacionais, porque todo fruto do nosso trabalho é público. Somos uma organização essencialmente pública; não fazemos nada que não contribua para levar informação às pessoas.

O WikiLeaks é financiado pelo público, semana a semana, e assim eles “votam” com as suas carteiras.

Além disso, as fontes entregam documentos porque acreditam que nós vamos protegê-las e também vamos conseguir o maior impacto possível. Se em algum momento acharem que isso não é verdade, ou que estamos agindo de maneira antiética, as colaborações vão cessar.

O WikiLeaks é apoiado e defendido por milhares de pessoas generosas que oferecem voluntariamente o seu tempo, suas habilidades e seus recursos em nossa defesa. Dessa maneira elas também “votam” por nós todos os dias.
Daniel Ikenaga - Como você define o que deve ser um dado sigiloso?
Nós sempre ouvimos essa pergunta. Mas é melhor reformular da seguinte maneira: "quem deve ser obrigado por um Estado a esconder certo tipo de informação do resto da população?"

 A resposta é clara: nem todo mundo no mundo e nem todas as pessoas em uma determinada posição. Assim, o seu medico deve ser responsável por manter a confidencialidade sobre seus dados na maioria das circunstâncias - mas não em todas.


"No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes". Foto por New Media Center.
Vários internautas - Em declarações ao Estado de São Paulo, você disse que pretendia usar o Brasil como uma das bases de atuação do WikiLeaks. Quais os planos futuros?  Se o governo brasileiro te oferecesse asilo político, você aceitaria?

Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro. Com base nisso e na característica independente do Brasil em relação a outros países, decidimos expandir nossa presença no país. Infelizmente eu, no momento, estou sob prisão domiciliar no inverno frio de Norfolk, na Inglaterra, e não posso me mudar para o belo e quente Brasil.

Vários internautas - Você teme pela sua vida? Há algum mecanismo de proteção especial para você? Caso venha a ser assassinado, o que vai acontecer com o WikiLeaks?

Nós estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos intimidamos nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós.

Minha maior proteção é a ineficácia das ações contra mim. Por exemplo, quando eu estava recentemente na prisão por cerca de dez dias, as publicações de documentos continuaram.

Além disso, nós também distribuímos cópias do material que ainda não foi publicado por todo o mundo, então não é possível impedir as futuras publicações do WikiLeaks atacando o nosso pessoal.

Helena Vieira - Na sua opinião, qual a principal revelação do Cablegate? A sua visão de mundo, suas opiniões sobre nossa atual realidade mudou com as informações a que você teve acesso? 


O Cablegate cobre quase todos os maiores acontecimentos, públicos e privados, de todos os países do mundo – então há muitas revelações importantíssimas, dependendo de onde você vive. A maioria dessas revelações ainda está por vir.

Mas, se eu tiver que escolher um só telegrama, entre os poucos que eu li até agora - tendo em mente que são 250 mil - seria aquele que pede aos diplomatas americanos obter senhas, DNAs, números de cartões de crédito e números dos vôos de funcionários de diversas organizações – entre elas a ONU.

Esse telegrama mostra uma ordem da CIA e da Agência de Segurança Nacional aos diplomatas americanos, revelando uma zona sombria no vasto aparato secreto de obtenção de inteligência pelos EUA.

Tarcísio Mender  e Maiko Rafael Spiess - Apesar de o WikiLeaks ter abalado as relações internacionais, o que acha da Time ter eleito Mark Zuckerberg o homem do ano? Não seria um paradoxo, você ser o “criminoso do ano”, enquanto Mark Zuckerberg é aplaudido e laureado? 


A revista Time pode, claro, dar esse título a quem ela quiser. Mas para mim foi mais importante o fato de que o público votou em mim numa proporção vinte vezes maior do que no candidato escolhido pelo editor da Time. Eu ganhei o voto das pessoas, e não o voto das empresas de mídia multinacionais. Isso me parece correto.

Também gostei do que disse (o programa humorístico da TV americana) Saturday Night Live sobre a situação: "Eu te dou informações privadas sobre corporações de graça e sou um vilão. Mark Zuckerberg dá as suas informações privadas para corporações por dinheiro – e ele é o 'Homem do Ano’."

Nos bastidores, claro, as coisas foram mais interessantes, com a facção pró-Assange dentro da revista Time sendo apaziguada por uma capa bastante impressionante na edição de 13 de dezembro, o que abriu o caminho para a escolha conservadora de Zuckerberg algumas semanas depois.
Vinícius Juberte - Você se considera um homem de esquerda?
Eu vejo que há pessoas boas nos dois lados da política e definitivamente há pessoas más nos dois lados. Eu costumo procurar as pessoas boas e trabalhar por uma causa comum.  
Agora, independente da tendência política, vejo que os políticos que deveriam controlar as agências de segurança e serviços secretos acabam, depois de eleitos, sendo gradualmente capturados e se tornando obedientes a eles.
Enquanto houver desequilíbrio de poder entre as pessoas e os governantes, nós estaremos do lado das pessoas.
Isso é geralmente associado com a retórica da esquerda, o que dá margem à visão de que somos uma organização exclusivamente de esquerda. Não é correto. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e justiça – e isso se encontra em muitos lugares e tendências.
Ariely Barata - Hollywood divulgou que fará um filme sobre sua trajetória. Qual sua opinião sobre isso?
Hollywood pode produzir muitos filmes sobre o WikiLeaks, já que quase uma dúzia de livros está para ser publicada. Eu não estou envolvido em nenhuma produção de filme no momento.

Mas se nós vendermos os direitos de produção, eu vou exigir que meu papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L Jackson, e a minha bela assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar "WikiLeaks Filme Noire".

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Velha mídia: a diferença entre a chuva tucana e a petista

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Há três anos a Thalita fez, neste espaço, a comparação entre dois editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. Cada um dos textos tratava de uma obra então realizada pelo poder público e ambas tiveram tratamento bem distinto: o alagamento do túnel da Avenida Rebouças no início do mandato (incompleto) de José Serra na prefeitura paulistana e o episódio do "buraco do metrô", que fez sete vítimas fatais, também na capital do estado.

Lembrei desse post por conta do editorial desta quarta-feira, 12, do mesmo Estadão, intitulado "São Paulo pode conter as enchentes". O otimismo do título já é louvável e merecedor de elogios. Trata-se de um periódico que torce e acredita na terra bandeirante no mais entusiasmado estilo "yes, we can". Mas é interessante ler o texto, na íntegra, abaixo:

São Paulo pode conter as enchentes
O Estado de S. Paulo - 12/01/2011



A forte chuva que caiu na noite de segunda-feira e início da madrugada de ontem traz mais uma vez à discussão o renitente problema das enchentes que todos os anos castigam São Paulo e cidades próximas, e para o qual até agora as autoridades municipais e estaduais, que dividem as responsabilidades nesse caso, não conseguiram oferecer qualquer esperança de solução satisfatória. Solução, aqui, significa minorar significativamente os seus efeitos, já que eliminá-los é praticamente impossível tendo em vista as peculiaridades da capital paulista.
Repetiu-se o cenário desolador já bem conhecido dos paulistanos: quatro mortos na capital e outros quatro em municípios vizinhos; centenas de desabrigados que tiveram suas casas, construídas em áreas de risco, destruídas e perderam tudo; e ruas, avenidas e túneis alagados, com lixo e carros boiando e passageiros desesperados.
O transbordamento dos Rios Tietê e Pinheiros, em vários pontos das marginais, e de córregos, como o Cabuçu de Baixo, na zona norte, o Jaguaré, na zona oeste, e o Morro do S, na zona sul, paralisou boa parte da cidade até as 10 horas da manhã. Foram registrados 135 pontos de alagamento, e 58 deles ficaram intransitáveis por várias horas. Nos próximos dias, as avaliações da Defesa Civil, das administrações municipal e estadual e de entidades empresariais darão uma ideia mais precisa dos prejuízos para a população e a economia da capital.
É verdade que a topografia de São Paulo, em cuja área se alternam violentas ondulações e várzeas, não ajuda. Essa fatalidade geográfica é uma limitação importante. Apesar disso, o poder público pode fazer muito para reduzir os efeitos das enchentes, como sabem os estudiosos da questão. Elas nunca deixarão de ser um problema, mas podem deixar de ser um desastre periódico, como acontece hoje. As medidas para chegar a esse resultado são bem conhecidas, há muito tempo, e a maior parte delas já está sendo executada, mas infelizmente não de maneira satisfatória.
Os melhores exemplos disso são a limpeza do Rio Tietê, a construção de piscinões e a canalização de córregos. Bilhões já foram gastos no Projeto Tietê, destinado à recuperação desse rio, boa parte dos quais para o seu desassoreamento, com a retirada da sujeira acumulada durante décadas em seu leito, que possibilitou o aprofundamento da calha, o alargamento das margens e o aumento considerável da vazão. O resultado disso foi uma sensível redução do risco de transbordamento.
Desde que se concluiu essa etapa do projeto, todos sabiam que, sem um trabalho de manutenção adequado, com a limpeza constante do leito, essa importante conquista estaria ameaçada. Infelizmente, foi o que aconteceu. Mas, ainda que a vazão do Tietê não seja a mesma de quatro anos atrás, ela é suficiente para evitar um mal maior. Sem ela, a situação teria sido muito pior nas últimas enchentes. O governador Geraldo Alckmin já anunciou um remanejamento de verbas destinado a garantir recursos para acelerar a limpeza da calha do rio, que deve estar concluída em dois anos.
Quanto aos piscinões, destinados a reter a água das chuvas em pontos estratégicos, há dois problemas a resolver. Em primeiro lugar, seu número - hoje são 49 na Grande São Paulo - é insuficiente. Para completar o sistema, o governo do Estado deve contar com colaboração maior das prefeituras da região metropolitana. Até agora, só a capital deu contribuição significativa. Em segundo lugar, sua limpeza tem deixado a desejar.
A canalização dos córregos e a execução de outras medidas importantes cabem à Prefeitura da capital. Entre estas, a conservação, a limpeza e ampliação do sistema de drenagem, em especial de bueiros e galerias pluviais, que não têm sido satisfatórias, e o mapeamento das áreas de risco, a retirada dos que nelas se instalaram e ações para coibir novas ocupações.
É verdade que todas essas obras e serviços de manutenção, que podem minorar de forma significativa os efeitos das enchentes, custam caro. Mas é igualmente verdade que a sua ausência tem um custo ainda maior para a cidade. Elas são, portanto, altamente compensadoras.
Todos os negritos são meus e estão aí para realçar o quanto o escriba se esforçou para dizer que o problema da enchentes numa metrópole como São Paulo é complexo, o que seria até acaciano dizer. O texto afirma ainda que o governo paulista de fato agiu para evitar o pior por meio do Projeto Tietê. "Só" faltou manutenção, a limpeza do leito que não foi feita. Nas linhas, não se mostra o nome do responsável pelo malfeito, mas foi o mesmo gestor público que o jornal apoiou em outro editorial para a presidência da República.

Enfim, é tocante a compreensão do Estadão para com os problemas urbanos e como ele de fato enxerga o esforço do poder público e confia nos investimentos futuros para evitar que novas tragédias ocorram novamente. Curiosamente, disposição parecida não houve há quase seis anos:
Pressa e inépcia se uniram para tornar precário o Túnel Rebouças 
O Estado de S.Paulo - 15/01/05 
Quem errou vai pagar, avisou o prefeito José Serra durante visita, na semana passada, ao Túnel Jornalista Fernando Vieira de Mello, na Avenida Rebouças, construído às pressas pela administração Marta Suplicy para ser inaugurado às vésperas das eleições. Na primeira chuva intensa de novembro, a passagem foi invadida pelas águas e se transformou num piscinão. De lá para cá, a cada precipitação forte, o acesso ao túnel – construído para dar maior fluidez ao tráfego no cruzamento com a Avenida Faria Lima, ao custo de R$ 97,4 milhões – é fechado e o trânsito se torna pior do que antes da obra.
Agora, atendendo a pedido do prefeito, engenheiros do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Escola Politécnica da USP, do Instituto de Engenharia e da Secretaria de Infra-Estrutura e Obras apresentaram relatório sobre os problemas de execução do túnel. O secretário municipal de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz e Silva, afirmou que a pressa foi inimiga da qualidade. A galeria de águas pluviais, construída ao lado da passagem subterrânea, foi feita com tubos de PVC e areia em vez de concreto, material muito mais resistente.
A análise dos técnicos do IPT aponta para deformações, rachaduras, remendos, assoreamento e infiltrações na galeria. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente da Construcap, contratada pela empreiteira Queiroz Galvão para executar as obras, admitiu que “a técnica construtiva foi escolhida por causa da exigüidade do prazo imposto pela Queiroz Galvão”. Segundo ele, tudo foi feito em menos de 40 dias, com os operários trabalhando de madrugada para não atrapalhar o tráfego. Capobianco lembra que a Emurb autorizou o uso do material.
Identificadas as falhas de execução, o prefeito José Serra quer agora que os responsáveis pela obra realizem as reformas imediatamente, sem que a administração municipal desembolse um único centavo.
O contrato firmado entre a Prefeitura e a construtora Queiroz Galvão, em 2003, estabelecia o prazo de 18 meses para a entrega do túnel. No primeiro semestre de 2004, o governo petista alterou os planos para inaugurar a obra em novembro. Alegando dificuldades técnicas, mudou o padrão de construção. A decisão elevou em 47% o preço da obra, cujo ritmo foi acelerado, permitindo que fosse inaugurada em setembro.
Tanta correria numa construção complexa, a poucos metros do Rio Pinheiros, não poderia ter outro resultado. Há décadas, nas ocorrências de chuvas fortes, as ruas próximas do túnel apresentam alagamentos por causa das galerias subdimensionadas e da impermeabilização do solo, que leva as enxurradas em grande velocidade em direção ao Rio Pinheiros, onde não conseguem desaguar e há o refluxo pelas bocas-de-lobo.
O prefeito acerta ao cobrar o trabalho bem-feito dos responsáveis pela obra. Além dos riscos trazidos pela inundação do túnel, as falhas na execução da obra comprometem a segurança do corredor de ônibus. Segundo o secretário de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz Filho, a deformação excessiva da tubulação pode provocar o solapamento do piso do corredor.
A administração Marta Suplicy prometeu fazer da Rebouças uma avenida-modelo, com o corredor do Passa-Rápido, um belo projeto paisagístico e a passagem subterrânea, que acabaria com um dos principais gargalos do trânsito na região.
Ocorreu, de fato, grande mudança na avenida que, atualmente, parece um cenário de guerra. Um dos mais nobres corredores da cidade está sem calçadas e tomado por entulhos. O projeto paisagístico se perdeu, com as plantas emaranhadas, sem os cuidados necessários, e o trânsito continua complicado. E assim ficará por bom tempo. Afinal, as reformas do que foi feito às pressas vão ser iniciadas, haverá bloqueio de duas faixas da Rebouças e carros e ônibus terão de se espremer em apenas 5,7 metros de via. O fechamento das pistas permitirá que 3,5 mil veículos trafeguem por hora na Rebouças, quando o movimento normal é de 4,5 mil.
Por conta dos caprichos e da irresponsabilidade da administração passada, os moradores de São Paulo voltarão a enfrentar transtornos ainda maiores no trânsito.

Estão mantidos os negritos na Thalita no texto original porque eles refletem, primeiro, a condenação sem rodeios da administração petista que realizou a obra, pautada por declarações do prefeito e do secretário tucanos. Segundo, evidencia o diagnóstico do jornal: pressa e inépcia. Mas, no editorial de hoje, não se questiona o que deixou de ser feito tampouco os erros repetidos da falta de planejamento urbano de São Paulo. Como é o caso da ampliação da marginal do Tietê, obra bilionária que conta com uma duvidosa compensação ambiental e reforça um modelo viário que ajuda a tornar a cidade inviável em breve. Sobre isso, comenta Raquel Rolnik em seu blog:
Me parece, e tenho repetido isso, que evidentemente não é a obra de ampliação da marginal que causou enchentes, pois isso não faz nenhum sentido. A questão é que esta é uma área sujeita a enchentes e alagamentos, porque está na beira do rio. Sempre podem ocorrer chuvas excepcionais e a beira do rio está sujeita a enchentes e alagamentos. O problema é colocar o sistema viário estrutural da cidade em um lugar dessa vulnerabilidade, significa claramente expor o sistema de mobilidade principal a essa situação.
Na terça-feira, 11, também foi curioso assistir ao Jornal das Dez na Globo News. A única menção ao poder público na escalada (abertura) do noticiário foi relativa às verbas para prevenção de desastres do Ministério da Integração teriam diminuído de R$ 168 milhões em 2010 para R$ 137 milhões em 2011. Ou seja, a culpa é do Lula, claro! Essa foi a primeira pergunta feita ao urbanista João Whitaker, que colocou os pingos nos is de forma diferente da imaginada pela pauta (veja aqui).

É bom ressaltar que o montante reservado no orçamento do governo federal para prevenir desastres em todo o país, e que é irrelevante para São Paulo, é um pouco maior do que os R$ 100 milhões obtidos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na gestão Marta Suplicy para a construção de dois piscinões na capital paulista. As obras foram canceladas por seu sucessor, José Serra, e os recursos estão intocados para que o atual alcaide possa usar. Mas talvez a cidade não precise de obras contra enchentes, por isso a demora.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Efeitos subterrâneos da amplificação da "crise dos cargos"

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Ao amplificar a sede de cargos do PMDB no governo petista, a pauta da grande mídia é ainda aquela veiculada na campanha de José Serra: "A Dilma não dá conta". Ela não é o Lula, que "com seu carisma" conseguia segurar as feras do PMDB e também – no momento fora de foco – os "radicais do PT", como se o carisma fosse a sua única qualidade, ignorando a enorme capacidade de articulação política, que não se perde com a entrada de Dilma, pois o know how é da equipe: há continuidade. Como Dilma dará conta, haverá uma partilha dos cargos, em algum momento terá que ser construída a versão para a "solução da crise", ou seja, o momento em que conseguirem mostrar que houve "derrota do PT para o PMDB" (ou derrota do governo dentro do governo). Mas isso passará.

O PMDB, tal como é, sabe que não pode ter qualquer existência como oposição. Teria o mesmo fim do DEM, o encolhimento vertiginoso, até um provável sumiço dentro de uns dez anos. Então a pressão por cargos também tem os seus limites.

Talvez não percebam que, subterraneamente, estão desenvolvendo uma pauta que interessa ao PT: a desmoralização do PMDB, que se mostra apenas como uma massa fisiológica, salvo as sempre citadas exceções, como o governador Sergio Cabral. Quanto mais investirem nessa crise, o desgaste não será exatamente do PT, mas do próprio PMDB, que terá cada vez mais dificuldade de se mostrar como um partido com projeto de país e capaz de propor uma real alternativa de poder. No médio-longo prazo, é um cenário positivo para os petistas.

terça-feira, novembro 16, 2010

Mortes em rodovias no feriado: a culpa é do Lula

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A campanha de esgoto que o tucano José Serra fez este ano, nas eleições presidenciais, conseguiu trazer para os holofotes os setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira e acentuou à tensão máxima o ódio, o preconceito e a divisão raivosa entre nós. Como nunca antes na História desse país, a xenofobia entre compatriotas esteve tão explícita, orgulhosa e falando em tão alto e bom som.

Depois do revelador manifesto "São Paulo para os paulistas", que diz muito sobre o PSDB perpetuar-se no Palácio dos Bandeirantes desde 1995 (ou desde 1983, considerando que é praticamente o mesmo grupo que chegou ao poder com Franco Montoro), presenciamos a lamentável sequência de barbaridades no Twitter e a escalada oficial do preconceito em plena mídia de informação.

O mais recente (e triste) exemplo vem de Santa Catarina. No jornal da RBS, retransmissora da TV Globo no Sul do país, o comentarista Luiz Carlos Prates afirmou, sobre a alta incidência de mortes nas estradas no feriadão que se estendeu até segunda-feira (grifos nossos): "Antes de mais nada, a popularização do automóvel. Hoje, qualquer miserável tem um carro. O sujeito jamais leu um livro, mora apertado numa gaiola que hoje chamam de apartamento, não tem nenhuma qualidade vida, mas tem um carro na garagem".

Depois de dizer que o tal "miserável" ainda tem problemas matrimoniais e por isso desconta suas frustrações abusando da velocidade no trânsito, o comentarista volta à carga: "Popularização do automóvel, resultado deste governo espúrio, que popularizou pelo crédito fácil o carro para quem nunca tinha lido um livro. É isso".

Ou seja, o Lula é culpado por ter distribuído renda e dado o direito ao consumo e ao lazer aos "miseráveis analfabetos", culpados por todo e qualquer acidente de automóvel. Pelo o que dá a entender, os ricos, esses iluminados, nunca morrem nem matam ninguém no trânsito. Será?

Parabéns, José Serra. Colha com prazer o que você semeou:



Ps.: É sintomático que os lamentáveis comentários tenham vindo de Santa Catarina, estado que, a exemplo de São Paulo ("dos paulistas"), de Minas Gerais e do Paraná, também elegeu governador do PSDB. Vejam aí mais um exemplo da xenofobia que a campanha repulsiva dos tucanos fez emergir:

sexta-feira, novembro 05, 2010

Globo News, previdência e a pauta do governo Dilma

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A entrevista da GloboNews com a professora Lena Lavinas, da UFRJ, cumpre duas funções. Primeiro, mostra como a grande mídia está tentando novamente influenciar a agenda do governo eleito, inserindo uma pauta conservadora no debate, apesar da clara mensagem das urnas em favor de políticas de combate à desigualdade. Aqui, cabe lembrar que o pessoal de esquerda (também conhecido como "nóis") precisa cumprir o mesmo papel e puxar o governo para a pauta que nos interessa, especialmente uma ação mais forte no combate à desigualdade.

Aliás, já que a presidenta está falando em reforma tributária, que o debate passe pela introdução de maior progressividade nos impostos, diminuindo a carga sobre os mais pobres (e a classe média deve se beneficiar aqui, creio, do alto de minha ignorância tributária) e aumentando sobre os mais ricos. Se houver conhecedores do tema entre os leitores, por favor, contribuam.

A segunda razão para ver o vídeo é dar destaque mais uma vez à absoluta contradição entre a chamada "Dilma terá que lidar com rombo milionário na previdência" e a argumentação da professora, que nega desde o início a existência do tal rombo. Nesse ponto, destaque para o baile que as jornalistas globais levam de Lavinas, que dá uma verdadeira aula sobre previdência e seguridade social.

A terceira razão é a supracitada aula sobre um tema dos mais importantes para quem acredita na construção e consolidação de um aparato de proteção social no Brasil. Não consegui achar um jeito de reproduzir o vídeo direto aqui, por isso vai o link:

http://globonews.globo.com/videos/v/dilma-tera-que-lidar-com-rombo-bilionario-na-previdencia/1366939/

quinta-feira, novembro 04, 2010

Pensamentos esparsos sobre Lula, Dilma, FHC e a oposição autofágica

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Lembro bem, quando Lula venceu a eleição de 2002, a primeira ação orquestrada da mídia foi tratar de “separá-lo" do PT. Isso se intensificou quando iniciou o governo com nomeações (como o Henrique Meireles) e medidas econômicas tidas como "ortodoxas", elogiadas como a continuidade de FHC – o que mostrou ser de grande prudência, já que uma mudança drástica fatalmente teria consequências indesejadas –, e ao mesmo tempo se falava em "radicais do partido" sempre desenhados como monstros rapinosos. O que se desenhou o tempo todo no discurso (e ainda permanece) foi que Lula estava acertando por continuar FHC e que isso acontecia contra a vontade de seus correligionários. A mídia, assim como a oposição, permaneceu cega quanto a todas as novidades que foram introduzidas, e acredito que haja aí uma boa dose de ilusão.

Nos tempos de FHC, aprendemos a acompanhar de perto a tal da "taxa de juros", que seria o grande instrumento do Estado para interferir na economia. Acho que muita gente chegou a acreditar (e ainda acredita) que o tal do tripé câmbio livre (praticado apenas no segundo mandato de FHC, diga-se), meta de inflação e superávit primário resuma o que o Estado pode fazer para interferir na economia. Talvez no mundo do Estado mínimo, desejado pelos tucanos, isso até seja de algum modo verdade. Não quero aqui desconsiderar que os grandes economistas tucanos ignorem a importância de outros fatores, mas é fato que a discussão ficava enrolada em torno desse ponto.

Também não há dúvida de que hoje a discussão está muito mais rica. Fala-se em infraestrutura, em microcrédito, em ampliação do mercado interno (vamos nos lembrar que foi Lula que fez os empresários brasileiros a aprenderem a lidar com a classe C e D, que passou a consumir) com o aumento do poder de compra dos salários mais baixos. Outra coisa que muitos não percebem: não creio que Lula seja contra privatizações "por princípio", mas sim porque quando o Estado não participa de igual para igual nas disputas no mercado os consumidores ficam à mercê de interesses privados (que naturalmente é o interesse das empresas). O Estado perde poder de pressão. Mas Lula mostrou, com a Vale, que o Estado deve defender seus interesses enquanto "sócio" que é da empresa (embora isso seja tratado como ingerência por muita gente).

Li isso por esses dias (não me lembro onde, que me perdoe a fonte não citada aqui). Enquanto FHC injetou dinheiro na economia pelo topo, por meio das privatizações, Lula injetou pela base, com microcrédito e aumento da renda das classes mais pobres. Por isso a política de FHC era essencialmente excludente (e o desemprego e as perdas salariais eram vistas como "o preço a se pagar pelo desenvolvimento") e a de Lula, essencialmente inclusiva. E mais segura, porque pulverizada, não concentrada.

O Bolsa Família, na verdade, embora importante, não é o grande diferencial. Dilma (e Serra também, vejam só) fala sempre nele porque sabe que é um programa que pegou, tem um potencial marqueteiro forte. Mas ela sabe muito bem que o principal está em outra parte.

Agora, com a vitória de Dilma, estão tentando consolidar o entendimento de que ela ganhou roubado, porque quem moveu as peças foi o Lula, que agiu "ilegalmente", já que "um chefe de Estado" não pode ser líder de partido. Obviamente, um dos requisitos normais de um chefe de Estado é que ele seja líder de partido. Mas o que espanta é que essa ilegalidade só existe na cabeça deles. É tão disparatado isso que me vejo obrigado a imaginar a situação de um presidente disputando reeleição sem poder fazer campanha para si mesmo, já que o hábito de chefe de Estado não permite. Ouvi de um tucano ainda que "o FHC não fez isso" quando Serra disputou pela primeira vez a presidência. Não custa lembrar que nas três últimas campanhas presidenciais, FHC foi escondido pelo "seu" candidato, já que suas aparições sempre resultaram em perda de votos por parte daqueles em cuja defesa ele vem.

Além disso, todos os olhos gordos agora estarão sobre Dilma, a tentar capturar cada um de seus deslizes, cada ameaça de titubeio que será anunciada como fraqueza e incapacidade. Não faltará veneno a cada dia. Tentarão desrespeitar Dilma, como o fizeram tantas vezes com o "presidente analfabeto". E se qualquer líder político trombar com a Dilma, isso poderá ser eventualmente ignorado, mas cada gesto do Lula será interpretado como uma mensagem para Dilma, que sem ele não saberia o que fazer. Mais ou menos como um jogo de truco político.

Acabou a eleição, mas a campanha apenas começou, alertou o vampiresco Serra. Vem mais chumbo por aí, podemos esperar, e darão todo o espaço que Serra desejar para falar (já dão para o FHC, imagine para alguém não senil...).

Enquanto isso, fecham os olhos para o fato de que a oposição (anunciada como a grande vitoriosa dessas eleições, tipo "perdeu mas levou") está se devorando a si mesma. Serra já tenta matar o Aécio, que não é bobo mas não terá tanta bala na agulha quanto dizem. Serra também não terá tanto apoio assim de Alckmin, que não vai esquecer as rasteiras que levou do colega careca; ao contrário, o opus dei vai reduzir o serrismo em São Paulo ao "mínimo indispensável". FHC dá show de declarações non-sense, e mostra justamente a desunião do partido. Sergio Guerra e Eduardo Jorge fatalmente se enrolarão nos desdobramentos do escândalo do Arruda. "Líderes" outrora importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes foram excluídos da cena principal. O Kassab já fala em sair do DEM, que agoniza.

Há que trabalhar muito agora, pois ganhar espaço nas eleições municipais de 2012 será mais um passo importante para o gradual desaparecimento do DEM. Enquanto isso, estarão em estado de "vale tudo", em desesperto pela sobrevivência, apegados a um passado que não existe mais, mas que insiste em assombrar-nos.

sábado, outubro 30, 2010

Felipão, o Serra dos bancos de reserva

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É questionável o título, mas quem mais deu xilique com jornalista na campanha foi o candidato da oposição, José Serra (PSDB). Por coincidência, trata-se de um palmeirense. Só por isso a piadinha.

Luiz Felipe Scolari reclamou da insistência dos representantes da imprensa em relação à fibrose do chileno Valdívia, que impediu o atleta de atuar mais do que 18 minutos na última quarta-feira, no empate com trapalhada da arbitragem com o Atlético-MG.

Na partida anterior, Felipão já havia soltado um palavrão a respeito do mesmo tema (ele disse "merda", ao que responderam, com um "afe! Que horror!", as iminentes diretoras da liga das senhoras da Pompeia).

Neste sábado, 30, véspera do segundo turno presidencial, quando o Palmeiras venceu o pujante Goiás, penúltimo colocado do Brasileirão, por 3 a 2, veio a reação.

Não, não há menção aqui à reação do Palmeiras sem Valdívia e muito menos à do Goiás. Trata-se de uma mobilização da categoria dos jornalistas esportivos setoristas do Palmeiras (Jesp, na sigla que eu acabei de inventar).

A turma apareceu para trabalhar na Arena Barueri com nariz de palhaço. A resposta foi um sorrisinho irônico de Felipão, que não soube (ou não quis responder) o que dizer. Pouco tempo depois de sua chegada aos domínios alviverdes neste ano, o técnico havia desagradado os profissionais da imprensa por decretar a lei do silêncio entre os jogadores na saída do gramado. Tudo para evitar que os cabeças-quentes acionassem líguas desatadas que, a seu ver, prejudicariam o grupo.

Segundo Carlos Augusto Ferrari, alguns veículos anunciaram que seus repórteres estão de folga – quer dizer, não vão participar de coletivas do treinador – até que haja um pedido de desculpas. Provavelmente o mundo fique melhor na próxima semana, ainda segundo o jornalista do GloboEsporte, quando um almoço (boca-livre) para setoristas selará o fim dos atritos.
Pra pensar

Diferentemente de Serra, no Felipão eu voto. Bom, para a sucessão de Luiz Gonzaga Belluzzo, se eu votasse, talvez até optasse pelo tucano se o concorrente fosse, por exemplo, o Mustafá Contousi. Mas feliz ou infelizmente, o estatuto da Sociedade Esportiva Palmeiras impede que alguém que não tenha sido conselheiro do clube esteja apto a disputar a presidência. Assim sendo, segue o jogo.

Já pensou a moda pega? Se um jornalista for cobrir candidato à Presidência da República com nariz de palhaço, terá mais do que sorriso irônico. E vai ter gente achando que é coisa de comunista.
E se a moda pegar para outros grupos? Por exemplo, se, em vez de gritar "or, or, or, queremos jogador", a torcida comparecer às arquibancadas com esferas vermelhas diante das narinas? Bom, aí os jornalistas – com ou sem o nariz postiço – vão estampar: "Crise no Palestra Itália".

Enquanto isso não acontece (ufa!), na décima posição, a quatro do quarto lugar Botafogo, os 3 a 2 sobre o vice-lanterna foram um bom resultado – obrigatório, mas bom. Os gols saíram de duas jogadas individuais e de um cruzamento para gol de cabeça. O adversário frágil ainda fez mais do que lhe deveria ter sido permitido. Mas a vitória é o que interessa nesse caso.