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O livro Sem medo de ser feliz (Scritta Oficina Editorial) é imperdível pra quem quer lembrar ou conhecer o que foi a campanha presidencial de Lula em 1989, talvez a mais emocionante da história política recente. Além de imagens fantásticas, o livro traz um depoimento do então assessor de imprensa de Lula, Ricardo Kotscho, e uma entrevista com o candidato derrotado feita em fevereiro de 1990.
Quando questionado a respeito de qual teria sido o pior momento de toda a campanha, lia e esperava que a resposta do do petista fosse relativa ao depoimento pago de Miriam Cordeiro, sua ex-namorada, que patrocinou um sujo episódio no programa eleitoral de Fernando Collor. Mas, para minha surpresa, o pior momento de Lula aconteceu em um estádio de futebol.
Na véspera da votação do segundo turno, havia a final do Brasileiro entre São Paulo e Vasco, no Morumbi. Kotscho sugeriu a Lula que fosse assistir à final in loco, para aproveitar a cobertura da mídia e tentar desfazer o clima de terrorismo patrocinado pelo adversário, cujos correligionários espalhavam os piores boatos possíveis sobre o PT e seu candidato. As “acusações” iam desde futuros fechamentos de igrejas evangélicas que seriam realizados pelo barbudo até a atribuição de culpa ao partido pelo seqüestro de Abílio Diniz.
“Estávamos num dia tranquilo, eu tinha uma coletiva no sindicato, fomos tomar cerveja com os aposentados, num clima muito festivo. Aí seguimos para o Morumbi. Ah, minha gente, foi a coisa mais degradante que aconteceu na minha vida!”, contou Lula.
Kotscho descreve assim o momento:
Acontece que as cabines de rádio e TV ficam nas cadeiras cativas do Morumbi, o covil do que há de mais reacionário no país. Nem deu para ouvir a torcida do Vasco e parte da torcida do São Paulo cantando o “Sem medo de ser feliz” nas arquibancadas quando souberam da sua presença no estádio. Aos urros, histéricos, os elegantes senhores da mais fina sociedade paulistana reagiram como animais diante da passagem de Lula, dando uma idéia do que seriam capazes de fazer em caso de vitória da Frente Brasil Popular. Chegaram até a cantar o Hino Nacional, junto com as palavras de ordem de Collor, mas só com algumas estrofes, já que esqueceram a letra, e voltaram a gritar palavrões com todos os preconceitos de classe imagináveis. (...)
Devido ao horário, as cenas de collorismo explícito do Morumbi tiveram quase repercussão nenhuma na imprensa, mas calaram fundo na já abalada alma do candidato, habituado a ser aclamado e não vaiado por onde passara nos últimos dias, semanas e meses.
Curiosamente, quando perguntado sobre o melhor momento daquela campanha, Lula responde: “Eu me lembro especialmente do dia em que aquele povo todo começou a cantar no Rio de Janeiro, ainda no primeiro turno. Foi a primeira vez que cantaram “olê, olê, olê, olá...” Foi um negócio fantástico”. O canto era uma adaptação de um grito usual da torcida do Flamengo à época. Ali, o futebol jogou a seu favor.
Em tempo: no segundo turno, Lula teve no estado do Rio de Janeiro 63,79% dos votos contra 23,69% de Collor, a maior diferença conquistada a favor de um dos dois candidatos naquela eleição. Já em São Paulo, Collor teve 50,11% dos votos contra 36,43% do petista. Os senhores do Morumbi riram à toa.









Tinha tudo preparado para minha estréia neste novo e nobre espaço. Não que eu seja um entusiasta admirador do são-paulino Felipe Massa. Até pelo contrário. Quem leu meu perfil sabe de quem sou fã, mesmo! Mas infelizmente já se vão 17 anos que Nelson Piquet Souto Mayor descalçou as sapatilhas e guardou a balaclava. De qualquer maneira, seria um bom começo no site, com um brasileiro vencendo pela sétima vez no travado e enfadonho circuito de Hungaroring. Até já me preparava para chamá-lo de Brasilring. Mas quando tudo parecia resolvido, eis que os fantasmas da pista magyar resolveram aprontar mais uma. A três voltas do fim, o até então confiável propulsor de Massa foi pelos ares, produzindo fumaça e lágrimas no rosto do piloto que estava prestes a colocar as mãos na liderança do championship (acima). Aliás, sou de um tempo em que piloto não chorava. Nem quando ficava preso entre as frágeis ferragens de outrora. Mas deixemos isso para lá. Em matéria de lágrimas, prefiro as de Jade Barbosa.
Voltando aos virabrequins, não é de hoje que o autódromo húngaro prega peças em pilotos que já se imaginavam ouvindo o hino no pódio. A primeira vítima foi Nigel Mansell. O arrojado e estabanado inglês passeava pelo circuito contando os minutos para mais uma vitória na temporada de 87. Até que, em um trecho intermediário, o Williams 5 começou a sambar feito bêbado em final de desfile de carnaval. No pit-stop, um mecânico descuidado não apertou a porca de uma das rodas do carro do bigodudo como o manual manda. Para desespero do inglês, o rival e desafeto Nelson Piquet (à direita) conquistou a segunda vitória consecutiva no autódromo húngaro, o primeiro de um país da extinta cortina de ferro a receber o milionário e capitalista circo da F-1. Na época, houve quem desconfiasse que Piquet havia dado uns trocados para o mecânico desastrado. Como isso nunca se provou, a história entrou para o folclore da categoria. A vitória na Hungria foi a plataforma do tricampeonato do maior piloto brasileiro de todos os tempos.
Em 2006, outro ilustre competidor passou por mico semelhante ao de Mansell. Então lutando pelo seu segundo título mundial, o marrento espanhol Fernando Alonso viu seu campeonato se complicar após um simples pit-stop. Contrariando a célebre máxima de Karl Marx, dessa vez "a história não se repetiu como farsa". Outro mecânico desatento não apertou como deveria uma das porcas da roda do Renault do asturiano. Com o carro descontrolado, Alonso abraçou a barreira de pneus. A prova, disputada sob chuva e coalhada de acidentes, dessa vez foi vencida por um inglês. Jenson Button (à esquerda) redimiu seus conterrâneos e faturou aquela que é até hoje sua única vitória na F-1. Se isso serve de consolo para o chorão Massa, Hungaroring não conseguiu impedir que Hill, Mansell e Alonso entrassem para o fechado clube dos campeões mundiais de F-1. Massa tem boas chances de conseguir sua carteirinha. Sorte dele que Hungaroring só tem uma vez por ano...
A exceção talvez seja o campeão mundial de 1982, Keke Rosberg (à direita). O ex-piloto da Fittipaldi e da Williams ostentava um belo e hoje fora de moda bigodão. Além da fisionomia, aparência e talento, os finlandeses têm outro gosto comum. Aliás, uma qualidade muito apreciada por este blogue: a manguaça. 
Sou Chico Silva, jornalista, santista, wilderista (alguém que é louco por Billy Wilder) e, acima de tudo e todos, nelson-piquetista. Aliás, devo o interesse no jornalismo ao Piquet (que aparece na foto, de branco, trocando "afagos" com Eliseo Salazar). E é engraçado: escrevi sobre quase tudo nessa vida, menos sobre F-1 - até o Futepoca me pôr na pista. Iniciei minha carreira no Lance!, em 1997. Depois passei pelo IG, um mês, e IstoÉ, sete anos, na qual atuei nas editorias de Brasil e Comportamento. Aí fui ver como era a vida do lado de lá do balcão. E nesse caso não era o do bar, infelizmente. Fiz assessoria para o ministro do Esporte nos Jogos Pan e Parapan-americanos e depois integrei a equipe de jornalistas que produziu o relatório oficial do governo federal sobre o Rio 2007. Ah, ia esquecendo um detalhe relevante: fui jurado da primeira edição do Boteco Bohemia de São Paulo, realizado em 2004. No Futepoca, não poderia omitir tal informação. Abraço a todos e até minha primeira coluna, nesta segunda-feira, com a análise do GP da Hungria!












