Destaques

domingo, fevereiro 13, 2011

Revista da Editora Abril chama Chico Buarque de 'moleque' por defender Lula, Dilma, Chávez e Fidel

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Depois do despropósito de enfiar uma foto de José Serra no encarte de um CD de Chico Buarque, a Editora Abril volta a fustigar o artista carioca. Chico está na capa da edição de fevereiro da revista "Alfa Homem" (à direita), o que me convenceu a comprá-la. O mote da reportagem, que visitou o entrevistado em seu apartamento no Leblon, no Rio de Janeiro, é a sua volta à música: ele deve entrar em estúdio até abril, para gravar um novo álbum, depois do jejum imposto pela produção do (muito premiado) livro "Leite derramado". Até aí, tudo bem. A materinha conta trivialidades curiosas, como o fato de hoje Chico só beber moderadamente, com uma tacinha de vinho ou de grappa (cachaça italiana) após o jantar, depois de livrar-se do consumo forte de álcool nos anos 1980, ao ingerir ervas amazônicas do "bruxo" Lourival; e também sua paixão pelo futebol, que o levou, certa vez, a identificar-se como "um famoso jogador" no aeroporto de Paris. "E aquela caixa de violão na esteira?", perguntou, cético, o funcionário. "É o disfarce para as minhas chuteiras", respondeu o artista.

Porém, o texto de Regina Zappa guarda um certo tom de "desagravo", uma linha condutora que leva a crer que a reportagem louva Chico Buarque "apesar de alguma coisa". E essa "alguma coisa", lógico, é sua posição política. Chico se engajou publicamente na campanha de Dilma Rousseff, em 2010 (contra José Serra, o candidato da família Civita, proprietária da Editora Abril). E nunca deixou de defender Fidel Castro e as transformações em Cuba ou mesmo Hugo Chávez e os avanços sociais na Venezuela. Isso, para a revista Alfa Homem, é pecado. "(Chico) É amado, respeitado, invejado, celebrado - e odiado, muitas vezes por causa de suas posições políticas de esquerda", opina o texto de Regina Zappa. "Deixou claro, várias vezes, seu apreço a Lula e apoiou Dilma Rousseff durante a campanha. 'Dilma é uma mulher corajosa', declarou no programa eleitoral. Para o bem ou para o mal, nunca causou surpresa nessa área. Chico sempre foi de esquerda", prossegue a matéria.

Mas o acusatório "para o bem ou para o mal" não foi suficiente. Os editores resolveram agregar um "desagravo" ainda mais contundente para o "hediondo defeito" de Chico Buarque. Escalaram um tal de Caco de Paula para escrever um breve - e inacreditável - textinho para ser agregado à reportagem, sob o singelo título de "Não chute o poeta". Diz um trecho (o grifo é nosso): "Sua obra tem grande importância, independentemente de suas opiniões favoráveis aos dinossauros de Cuba e da Venezuela. Por crença pessoal, estilo, molecagem, necessidade de seguir contra a corrente, ou tudo isso junto, Chico se mantém fiel ao ideário romântico e utópico que em alguma esquina da história acabou fulanizado nas imagens patéticas de Fidel e Chávez". E mais: "Chico tem o direito de expressar sua opinião sobre os 'comandantes' e pode perfeitamente ser criticado por quem os considera, estes sim, os verdadeiramente imperdoáveis" - como se Chico precisasse ser "perdoado"...

Tá, eu também tô careca de saber a posição política da Editora Abril e de suas publicações, de seu conservadorismo, fascismo ou o que seja. Basta dar uma olhada nas capas da Veja, não precisa nem abrir para ler. Mas dessa vez eles estão usando (repito: usando) alguém que não compartilha de suas opiniões, mas que é simplesmente Chico Buarque, para dizer que "sim, ele é legal, mas não devemos odiá-lo por apoiar essa corja esquerdista; você deve considerá-lo apenas um genial artista, mas, em política, é uma besta". E, para fazer essa patifaria, eles vão até a casa do cidadão, partilham de sua privacidade e boa vontade, colocam sua cara na capa para vender mais revistas e, depois disso tudo, enxertam um textinho classificando de "molecagem" sua militância e postura política. Quando a gente acha que já viu de tudo, eles conseguem se superar. Ô, racinha, essa tucanada "iluminada"...

sábado, fevereiro 12, 2011

Tarde de Tardelli e a maldição da torcida única

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Como atleticano, estou gostando muito dessa história de torcida única nos jogos Atlético e Cruzeiro. Primeiro porque prova quem vai mais ao estádio. Sozinhos, os cruzeirenses não enchem meio estádio, foram menos de 10 mil almas.


Segundo que, pela segunda vez, só com cruzeirenses presentes o Galo ganhou de 4 a 3, com três gols de apenas um jogador. No Brasileirão foi a vez de Obina. Agora, a tarde foi três vezes de Tardelli.

E foi um jogo extremamente corrido (mesmo com um sol para cada jogador) e emocionante. Se o primeiro gol de Wellington Paulista animou os cruzeirenses, logo em seguida veio a virada com dois gols do inspirado atacante alvinegro.

Para não fugir de polêmica, mas fugindo, não consegui ver se foi pênalti ou não no lance marcado pelo árbitro a favor do Galo. Houve um pênalti no segundo tempo para o Cruzeiro que não foi marcado no Roger, que se jogou tanto que deve ter cansado os olhos do juiz. Além de duas bolas na trave dos azuis.

Mas além de Tardelli vale destacar a tarde inspirada do goleiro Renan Ribeiro, que fez três a quatro defesas importantíssimas. Mostrou que não treme em clássico. Além da boa estreia do zagueiro Leonardo Silva, muito vaiado pela torcida azul por ter trocado de lado, mas que não se intimidou e fez grande jogo mesmo sendo a primeira partida depois de seis meses sem jogar. Com a volta de Réver, que está machucado, o Galo tem tudo para ter uma das melhores zagas do Brasil.

Mas o grande destaque da tarde mesmo foi Dorival Júnior. Improvisou um jovem meia (Jackson) na lateral direita porque não tinha nenhum especialista, pôs para jogar quem está bem fisicamente sem se importar com o nome do jogador (Diego Souza e Jobson estavam na reserva) e quando estava 4 a 2 trocou atacantes e meias por atacantes e meias, sem medo, sem a estratégia de botar mais um zagueiro . Pela segunda vez seguida venceu Cuca e a torcida única azul.

Vamos ver agora no próximo jogo com mando do Galo se a escrita de ganhar o time sem torcida se mantém ou se o Atlético encaçapa a terceira vitória seguida.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Bela estreia

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O estreante Liédson roubou a cena e foi nome da bela vitória corintiana sobre o Ituano, na noite desta quarta, no Pacaembu. Ele marcou dois dos quatro tentos alvinegros, se movimentou, tabelou, pressionou a zaga adversária e, imaginem, chutou a gol. A comparação com as últimas atuações do fenomenal titular da camisa 9 do Parque São Jorge é vexatória pra o obeso atacante.

Tambem causa estranhez comparar o desempenho do time contra o Tolima e mesmo na apertada vitória contra o Palmeiras, em que o Timão foi apertado o jogo inteiro e só saiu vitorioso por conta da fraca zaga verde.
A mudança não é da tal da raça, vontade e outros termos tão na moda (cabe uma pesquisa sobre isso, porque diabos o pessoal começou a acreditar que futebol não tem mais nada a ver com tática, técnica, preparo físico, basta apenas ter “vontade”).
Pergunto aos oráculos por que diabos Tite escalou nenhum meia contra Tolima, quando utilizou em tese força total, e dois na partida seguinte. Saíram Paulinho e Dentinho e entraram Danilo e Cachito Ramires. Com eles, o time prende mais a bola na frente, tem mais toque de bola, essas coisas de meio-campistas. Morais, outro meia, entrou muito bem no segundo tempo e deu novo passe para gol.

A troca do veteraníssimo Roberto Carlos por Marcelo Oliveira deu uma excelente opção pela esquerda. Aqui, cabe uma explicação. Nem todos os velhinhos não necessariamente devem ser descartados. A questão é que demora bem mais para um cabra de 38 anos entrar em forma física e técnica do que para um rapaz de vinte e poucos, caso de Oliveira.
O time melhorou, mas o Ituano pareceu fraquinho e convém manter as barbas de molho. Tite ainda não parece saber bem o que quer da equipe e os ânimos seguem acirrados. E o Gordo pode querer voltar...
PS.: Estou curioso para saber o que Bruno César fez com quem lá no Corinthians. O artilheiro do time na temporada passada nem ser relacionado para os jogos é bizarro.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Hernanes para baixinhos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Crianças, quando estiverem jogando bola na rua e tomarem um chapéu, podem fazer falta. Mas não façam isso, por favor...



PS 1: Evitamos fazer a comparação com Anderson Silva porque já tinham feito antes.
PS 2: Zidane não gostou. Afinal, até quando foi expulso na final da Copa de 2006 foi mais elegante...

Por não ser dono de bar, jornalista é cliente assíduo

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Muita gente não entende o motivo de a maioria dos jornalistas beber tanto. Já elocubrei sobre isso aqui no blogue, mas vejo que o assunto gerou até análises acadêmicas. No livro "Jornalismo freelance - Empreendedorismo na Comunicação", de João Marcos Rainho (Summus Editorial, 2008), o autor afirma que três caminhos surgem quando um jornalista está desempregado. Primeiro, óbvio, é procurar e arrumar outro emprego. Segundo, profissionalizar-se como freelance. E, terceiro, continuar desempregado e mudar de ramo - e Rainho observa que "esta última possibilidade está se tornando muito comum nos últimos anos!" (e deve ser, mesmo, ainda mais depois que acabaram com a necessidade de diploma para exercer a profissão). Pois bem, mais algumas páginas à frente há um trecho interessante sobre os que renegam ou pretendem renegar o ofício (os grifos são nossos):

"Pesquisando sobre o modo de vida dos jornalistas para sua tese de mestrado, Isabel Siqueira Travancas entrevistou dezenas de profissionais no Rio de Janeiro [trabalho publicado no livro 'O mundo dos jornalistas']. Ela descreve que o sonho da maioria dos jornalistas dos grandes centros urbanos é ser dono de um jornal - ou ter um bar, para se libertar do esquema empresarial do grandes jornais e do próprio anonimato."

Taí: na impossibilidade de ter um bar, o jornalista vira cliente. Ou melhor: verdadeiro devoto e militante da causa! E o problema do anonimato acaba quando ele passa de alcoólatra anônimo para bêbado conhecido...

Tudo errado

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Na madrugada de hoje, o atacante manguaça Adriano teve a carteira de habilitação apreendida durante blitz da Lei Seca, na Avenida das Américas, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O motivo já diz tudo: o "imperador" recusou-se a fazer o teste do bafômetro. Agora, será julgado pelo Detran e poderá ser proibido de dirigir por um ano. Que Adriano bebe, é irresponsável, inconsequente, pouco profissional e que sempre se mete em encrencas ridículas, o mundo inteiro já está mais careca do que ele de saber. O que impressiona, no caso de hoje, é a sequência de coisas erradas. Jogador do Roma, Adriano está no Rio para se recuperar de uma cirurgia no ombro; logo, por causa da lesão, não deveria estar dirigindo. E, se estava dirigindo, não devia estar bebendo. Ou então que não vestisse a carapuça, ao recusar o bafômetro. Enfim, mais do mesmo. Literalmente.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Som na caixa, manguaça! - Volume 66

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

LÁGRIMAS ALCOÓLICAS
(Composição: Dee Diedrich)

Pelebrói Não Sei?

Tens mesmo certeza que essa angústia vai passar
Que serás feliz tendo dinheiro pra gastar
Um Corsa usado e sujo em frente ao portão
Missa aos domingos, ver televisão
(HA, HA...)

Conquistar o mundo sem sair do teu sofá
Ser bem conhecido, ter piadas pra contar
Visitar parentes, casamentos, batizados
Décimo terceiro pra curtir o feriado
(de Natal)

Tudo é tão legal, basta não olhar
E seguir fingindo sonhos encontrar
Futebol na quarta, férias no verão
Lágrimas alcoólicas pra pedir perdão
(HA, HA...)

Conquistar o mundo sem sair do teu sofá
Ser bem sucedido, ter bobagens pra falar
Visitar parentes, funerais e batizados
Décimo terceiro pra curtir o feriado
(em Natal)

Tudo é tão legal, basta não sonhar
Sonhos são pra loucos que querem amar
Futebol na quarta, férias no verão
Lágrimas e cólicas pra pedir perdão
(HA, HA...)

(Do CD "Lágrimas alcoólicas", Barulho Records, 2003)

O ônibus tá barato em São Paulo

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Foram dois os passageiros de dois ônibus diferentes em um só dia a mesma frase os autores da frase que intitula este post. Um, ouvi pela manhã de quinta-feira da semana passada. O outro, à noite. Os contextos vão a seguir.

O cobrador recebe o pagamento da passagem quando o coletivo entra na Xavier de Toledo rumo à Praça Ramos. O passageiro sem Bilhete Único separa R$ 2,70 mas se dá conta de que o preço já subiu há umas três semanas. Tira cincão da carteira e reclama com uma das pérolas da sabedoria popular mais repetidas em toda a história inflacionária tupiniquim:

– Três reais. O ônibus aumenta, só o salário é que não.

– É. Aumentou o ônibus, mas pergunta se o nosso salário aumentou – corrobora o cobrador, referindo-se a um dos custos que compõe a planilha usada para definir o preço. Ele próprio responde sem que ninguém aceite o desafio: – Aumentou nada.

Na sequência, um passageiro de uns 50 anos surge na catraca e discorda:

– Não é caro, por R$ 3 o cabra pega três ônibus por três horas... Sai R$ 1 por condução, tá barato.

Na realidade, pelo valor de uma passagem, usando o Bilhete Único, o passageiro pode tomar até quatro ônibus diferentes em um intervalo de três horas. Se tomar um carro só, pagará o mesmo valor. Desci antes de ouvir se alguém tinha arriscado um contra-argumento.

* * *

Na volta, depois de um dia de trabalho, o ônibus sobe a rua da Consolação e cruza com uma manifestação do Movimento pelo Passe Livre que pede a revisão do aumento na capital paulista. Em meio a gritos como "quil-pariu, é a maior tarifa do Brasil", os estudantes tinham o apoio de quem passava na rua, menos os motoristas dos carros engarrafados atrás da marcha.

Dentro do coletivo em que este autor encontrava-se (sóbrio até então), surge uma voz no esperado tom reacionário, muito comum ao se presenciar protestos:

– Tudo cambada de vagabundo. O cidadão trabalhou o dia todo, quer chegar em casa e não pode porque essa cambada de vagabundo fica aí tapando a rua. Como se fosse caro R$ 3... Passou dois anos sem aumentar, agora aumentou – justificou.

Ninguém respondeu, aparentemente ninguém concordou.

Até porque, o meliante enganava-se, já que a tarifa ficou congelada apenas em 2009, o primeiro ano da gestão de Gilberto Kassab. Era promessa de campanha. No ano seguinte, o preço subiu de R$ 2,30 para R$ 2,70 e, deste valor, para os atuais R$ 3.


* * *

Gente reclamando que tudo está caro é comum, normal. O contrário é atípico, sinal de que o pessoal tomou umas e outras ou que está ganhando bem demais.

A sequência de episódios, em um mesmo dia, me lembrou do memorável esquete dos Trapalhões em que Mussum explica para Dedé os motivos porque considera que o governo de então fazia bem de reajustar os preços dos mais variados insumos. Os valores eram tabelados e o governo tornava-se alvo de qualquer um que precisasse pagar as contas. Mussum defende o governo e os aumentos sem desfaçatez. A coisa só muda quando... Bom, aí quem não assistiu, precisa fazê-lo.



Governozinho danadis.

domingo, fevereiro 06, 2011

Santos só empata com Santo André e perde chance de voltar à liderança

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Ontem, o Santos empatou com o Santo André, no Pacaembu (apesar do mando de campo ser do Ramalhão) em 1 a 1. Sem Elano e o goleiro Rafael, suspensos, e com Durval “poupado”, o Peixe pressionou durante quase todo o tempo, mas não conseguiu a vitória em cima do atual vice-campeão paulista que, muito provavelmente, não vai repetir o desempenho em 2011.


O fato é que a partida mostrou que o Santos, que já vinha jogando desfalcado dos jogadores da Sub-20, de Arouca e Jonathan, além do recém-contratado Charles e de Ganso, que ainda não atuaram em 2011, sentiu principalmente a ausência forçada de Elano. A equipe ficou sem referência no meio de campo já que seu substituto, Felipe Anderson, tem características bem distintas e nem ele, nem Róbson, conseguiram fazer o mesmo papel tático que a melhor figura alvinegra deste começo de ano.

A partida em si, na maior parte do tempo, foi quase ataque contra defesa. Se levarmos em conta o critério do quase comentarista esportivo e de arbitragem Rogério Ceni, o Santos deu bem mais que um “chocolate” no adversário. O Santo André fez o seu gol aos 4 minutos e voltou a finalizar (com perigo, mas para fora) aos 39. Do segundo tempo. Foram 17 finalizações peixeiras contra 3, 14 escanteios contra 2. Mas a falta de qualidade técnica - e de entrosamento, diga-se - do meio pra frente, foi determinante para que os santistas não saíssem como vencedores.

Como na peleja contra o São Paulo, o lateral-esquerdo Léo foi o mais acionado e quem mais trabalhou na transição da defesa para o ataque. Poupado na partida contra a Ponte, ele mostrou mais uma vez que estando bem fisicamente é um jogador imprescindível. E a acefalia do meio campo peixeiro, como naquela vez, ficou ainda mais evidente com a ausência de Elano. Ver Adriano “armando” o jogo e notar que Possebon pouco pode fazer como apoiador (a despeito do belo gol) desanima qualquer torcedor.


Mas são justamente todos esses desfalques que fazem o futuro ser mais promissor do que aparenta hoje para o time que pode perder a vice-liderança do Paulistão no fim da rodada. Adílson está testando a equipe e já tem uma razoável noção a respeito dos atletas com que pode ou não contar. Felipe Anderson fez uma apresentação razoável pra boa ontem, oscilando bastante, e Diogo mostrou que pode render na equipe. 

E é bom lembrar que no ano passado, a essa altura, o Santos que se formava já havia perdido do Mogi Mirim e, coincidentemente, empatado com a mesma Ponte Preta. Paciência, torcedor... 

sábado, fevereiro 05, 2011

Tipos de cerveja 59 - As Ice Beer

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Como o próprio nome sugere, a elaboração das Ice Beer implica baixar a temperatura da cerveja até que se formem cristais de gelo. Posteriormente, o líquido é filtrado e, como a água congela antes do álcool, o resultado é uma bebida com maior teor alcoólico. Como o gelo também se forma em volta das células do fermento e das partículas de proteínas, estas ficam igualmente retidas na filtragem - sobrando, no fundo, uma cerveja com menos componentes mas, teoricamente, com mais sabor e volume alcoólico. Este processo não é novo na indústria cervejeira, já que as Eisbocks são elaboradas segundo um método semelhante. A produção das Ice foi iniciada pela Labatt, empresa que serviu de exemplo para muitas outras cervejeiras, especialmente dos Estados Unidos. "A diferença é que uma Ice Beer nunca será melhor do que a cerveja que lhe deu origem e, infelizmente, as cervejas que são utilizadas para isso nunca são de grande qualidade", adverte Bruno Aquino, do site parceiro Cervejas do Mundo. "Já as Eisbock têm origem em cervejas de qualidade e de forte caráter, pelo que o resultado final continua a ser bastante bom", completa. Exemplos de Ice Beer para experimentar: Labatt Ice, Genny Ice Beer e Carlsberg Ice (foto).

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Estreia, gosto bom e esperança

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Por Moriti Neto (visão de outro sampaulino)

Teve quase de tudo na noite desta quinta-feira, no Morumbi. A partida entre São Paulo e Linense, que mostrou a primeira apresentação de Rivaldo com a camisa Tricolor, não foi um desfile de exuberância técnica no todo, mas certos ingredientes garantiram a estreia marcante.
Pra começar, o novo camisa 10 são-paulino, aos 38 anos, mostrou disposição de garoto. Desde a etapa inicial, chamou o jogo e tomou conta do time. Armou, finalizou e ficou responsável pelas bolas paradas. Só no primeiro tempo – que não teve lá grandes emoções, além da presença de Rivaldo – bateu, a maioria com veneno, todos os dez escanteios que a equipe conquistou.

Virada

Mas, o melhor estava por vir. Início do segundo tempo. Não demora e o Linense faz 1 x 0, com Eric. O São Paulo marcava mal, continuando com o problema dos volantes pesados, sem mobilidade e pegada, como Rodrigo Souto. Porém, tinha Rivaldo. E, cinco minutos depois de sair perdendo, o meia fez mais do que este escriba esperava, ao menos pra ontem. Dagoberto fez bom lançamento e o pernambucano, com uma matada na coxa, tirou o marcador do lance e tocou na saída de Paulo Mussi. Golaço e 1 x 1 no placar.

Daí pra frente, o São Paulo foi todo ataque e, novamente em jogada iniciada por Dagoberto, Marlos, pela esquerda, invadiu a área em velocidade e chutou no ângulo, anotando outro belo tento.

Bate-boca

O Tricolor ganhava, Rivaldo ia bem, mas Dagoberto, apesar de atuação interessante, não parecia estar no clima de festa. Rebateu orientações de Carpegiani sobre posicionamento e arrumou uma discussão desnecessária. Isso não é novidade na carreira do atacante, que já se desentendeu com Muricy Ramalho e Ricardo Gomes. O problema do atleta é simples: inteligência limitada, que não o permite perceber, inclusive, ser bem menos jogador do que ele próprio imagina.
Uma passagem curiosa. Durante a desinteligência, o técnico são-paulino chamou Dagoberto de “bobalhão”. Já ouvi muitas coisas em jogos de futebol, algumas quase impublicáveis, mas “bobalhão” é a primeira vez.

Espectador privilegiado

Passado o chilique, Dagoberto participou da trama que originou o terceiro gol. Ele fez passe a Jean, que sofreu falta na entrada da área. Rivaldo se aproximou da bola, mas foi somente espectador privilegiado da cobrança magistral de Rogério Ceni. Paulo Mussi nem saiu do lugar e o goleiro artilheiro marcou o terceiro do São Paulo e o incrível de número 97 na carreira. Ainda haveria tempo de Alessandro Cambalhota (que tomou chapéu de Rivaldo durante a peleja) diminuir, após bate-rebate na área Tricolor, fechando o placar da noite em 3 x 2.

Deu gosto e esperança

Em tempos de escassez de talentos, de muito marketing e mecanização no futebol, foi legal demais ver Rivaldo de volta aos campos. Claro que não dá pra usar o jogo de ontem como parâmetro, o adversário era frágil e é importante conferir qual vai ser o comportamento do atleta ao longo de uma sequencia de atuações. Contudo, é bom levar em consideração que o cara ficou em campo e correu os 90 minutos, tempo em que fez gol, deu chapéu, caneta, toque de letra e ainda contribuiu na marcação, principalmente depois da entrada de Fernandão em lugar de Zé Vítor, quando passou a jogar de segundo volante.

Com Rivaldo trazendo, finalmente, a qualidade de um grande camisa 10 ao time, mais as voltas dos garotos da seleção sub-20 e algumas contratações que estão chegando, pelo menos é possível sonhar com bons jogos do São Paulo este ano.

Quem sabe, sabe

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No dia 13 de dezembro de 1953, o São Paulo foi ao interior enfrentar o Linense e sofreu uma sonora derrota: 4 a 1. O resultado, de tão inesperado, foi comemorado como um título pelas ruas de Lins, com os torcedores desfilando com um enorme elefante, símbolo do time. E o São Paulo, do técnico argentino Jim Lopes e da goleadora linha de ataque Maurinho, Albella, Gino, Negri e Teixeirinha, levantaria a taça do Paulistão dali a 40 dias, em 24 de janeiro de 1954, após uma vitória por 3 a 1 sobre o Santos, em plena Vila Belmiro.

Ontem, passados 57 anos daquela histórica partida (e inesquecível, principalmente em Lins), as duas equipes voltaram a se enfrentar numa disputa de Paulistão, dessa vez no Morumbi. O jogo marcava a estreia do craque Rivaldo no time da capital, aos 38 anos e cercado de todas as expectativas e desconfianças. O São Paulo jogou mal, errou muito, levou (mais) um gol besta logo no início da segunda etapa e tudo levava a crer que desperdiçaria outros três pontos como mandante. Mas o veterano estreante resolveu mostrar serviço. E como!

Rivaldo chamou o jogo pra si, correu, bateu uma falta em que a bola quase entrou, chapelou bonito um adversário, driblou, deu passes e, para coroar sua atuação, marcou um senhor golaço. Claro que é pra lá de cedo pra dizer que ele vai resolver tudo ou, no mínimo, manter o mesmo nível. O Linense é fraco, o São Paulo continua com os mesmíssimos e velhos problemas de falta de marcação, de ausência de lateral direito, de lentidão na ligação com o ataque e da falta de um matador. Mas, pelo menos, agora, tem um camisa 10. Um Senhor Camisa 10.

Salve, Rivaldo! Vida longa nessa temporada!

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Nome (im)próprio

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No país da piada pronta, o colega João Paulo diz que encontrou hoje um conhecido, corintiano fanático, que se chama Roberto Lima...

Três jogos para esquecer

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Não tem nada que se salve da noite passada para o Corinthians. Eliminação inédita para um time brasileiro, desde que a tal Pré-Libertadores começou a ser disputada, em 2004. Eliminado sem marcar nenhum gol. Eliminado jogando mal de doer os olhos do torcedor, tanto em casa quanto na Colômbia.
Tudo isso em dois jogos que nem deveriam ter acontecido. Bastava ter vencido o Goiás na última rodada do Brasileiro que estariam garantidos o segundo lugar e a vaga na fase de grupos. Com isso, perde o torcedor, que vai aguentar um bom tempo de piadas dos rivais, e perde até o tal do marketing, apontado como culpado por muitos: são pelo menos três jogos como mandante com casa cheia no Pacaembu, mais cota de TV e outros bichos de perda financeira, sem falar na diminuição da exposição da marca, que impacta em acordos de patrocínio.
Voltando a ontem, nada funcionou. O técnico (fora!) Tite montou uma espécie de 4-3-3 sem meias, com Jucilei e Paulinho de volantes-armadores, Dentinho e Jorge Henrique de pontas-armadores. Na prática, ninguém armava, e todos tinham prejudicadas suas outras funções, fosse marcar ou atacar. Quando vi a notícia, imaginei que Dentinho ou Jorge Henrique jogariam livres, bem próximos de Ronaldo. Na vida real, via-se Dentinho dando botinadas na defesa corintiana e JH correndo atrás dos meias. Retranca da braba.
Na defesa, o desentrosado Fábio Santos deixava espaços que o fraco, pra dizer o mínimo, Leandro Castán não tinha qualquer condição de cobrir. A dupla não ganhou uma jogada sequer contra o ataque do Tolima e (fora!) Tite demorou a mexer no posicionamento dos volantes para dar mais segurança por ali.
Mas esses são meio que detalhes no cenário mais amplo de um time desarrumado, sem organização, sem criatividade. Presa fácil para um time que se não é tão ruim quanto imagina a cabeça futebolisticamente auto-centrada de nós brasileiros, está longe, muito longe de ser uma brastemp.
Tite tem muita culpa no cartório, não tenho dúvida, e por mim nem teria vindo. Mas o buraco é mais embaixo. Desde o ano passado, talvez antes, o Corinthians tem que se espremer para acomodar o principal nome de seu elenco. Ronaldo não vai jogar nada muito diferente do que fez ontem ou na reta final do Brasileiro do ano passado. Parado, com piques de no máximo três metros, sem brigar pela bola, mas com lampejos de inteligência em passes e finalizações acima da média. Dessa forma, pode até contribuir, mas a equipe precisa se armar em torno dele. Não é possível uma renovação ampla do jeito de jogar sem que Ronaldo saia da equipe.
E o Corinthians hoje precisa de renovação. Este campeonato Paulista é a hora perfeita para começar a colocar alguns jogadores com potencial, mas que ficaram encostados na reserva, e garotos que se destacaram na base. E aí aparece outro problema do tal do planejamento. Na primeira categoria, temos Edno, que voltou de empréstimo, mas teríamos também Defederico, emprestado sei lá pra quem. Na segunda, temos um atacante, Elias, mas teríamos William Morais e Dodô, também despachados para “ganhar experiência”.
Enfim, depois de dois anos de futebol em bom nível e altas expectativas, entrando com chances reais de ganhar os torneios que disputou, o Timão começa 2011 em baixa. Para completar, hoje torcedores invadiram o CT e quebraram carros de jogadores e funcionários (espero que o clube ajude estes últimos, que não ganham nem de longe o salário dos boleiros). E Roberto Carlos tira o seu da reta, dizendo que sua ausência no jogo de ontem não foi causada por lesão, mas decisão de Tite. Ah, e tem eleição no final do ano. Jogue-se com um barulho desses...

Com quatro desfalques, mesmas limitações, mas agora líder

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O Palmeiras é líder isolado do Campeonato Paulista. Nada para soltar foguete, mas uma situação que este torcedor pessimista não imaginava para o time. Conseguiu a ponta no mesmo dia em que o Corinthians caiu diante do Tolima e ficou de fora da Libertadores da América. E o Santos empatou com a Ponte Preta. Uma quarta-feira um tanto, esta do dia 2.

A vitória sobre o Mirassol ocorreu sem quatro titulares. Tudo bem que dois deles – Lincoln e Valdívia – já vinham fora. Marcos, o Goleiro, não entra nessa conta, já que é um meio-titular. Marcos Assunção, contundido, e Kléber, suspenso, não atuaram. Fizeram falta como referência – e jogador com noção nas finalizações – no ataque e como cobrador de faltas.

Sobrou a velocidade para o time criar jogadas. E sobrou para Dinei o desperdício das oportunidades. O primeiro tempo foi melhor do que o segundo, e faltou capacidade de fazer a bola passar a meta do goleiro Fernando Leal.

O time do Palmeiras continuou limitado, mesmo com três atacantes. Só ganhou a partida quando Patric entrou e fez o gol da vitória. Melhor assim.

Luiz Felipe Scolari admite que a boa fase surpreende. O time é tão limitado quanto aplicado taticamente, o que explica por que consegue marcar razoavelmente bem – contra times ainda mais fracos – e não se abalar quando a bola demora a entrar. Enquanto entrar, mesmo no final, tudo bem.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Uma lei contra "estrangeiros" na seleção

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O futebol é o que interessa, ensinou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, em uma das citações preferidas de três entre oito autores do Futepoca. Assim, ninguém pode dizer que o Congresso Nacional, cujos trabalhos durante a 54ª legislatura foram iniciados nesta quarta-feira, 2, esteja alheio aos problemas nacionais.

Tema de acaloradas mesas quadradas – normalmente de plástico ou de metal – nos botecos do Brasil, a presença entre os convocados para a seleção de jogadores que atuam no exterior é polêmica recorrente. Lembro-me de participar de uma dessas na Eliminatória de 1990. Depois, o mesmo aconteceu em todos os mundiais seguintes, até mesmo em 2002, quando o time de Luiz Felipe Scolari teve apenas 10 "importados".

Os críticos alegam falta de compromisso com a camisa canarinho – com ou sem faixa horizontal verde –, uma roupagem mais elaborada para o tradicionalíssimo xingamento de "mercenário", proferido em estádios para quem quiser ouvir.

Foto: Xavier Marit/Getty Images
Kaká, um dos alvos da ira dos adeptos da "xenófobia"
apliacada à seleção brasileira

Cadê a proposta?

O deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO) ouviu o clamor de parte dos interlocutores da mesa do bar e propôs o que, no jargão do Legislativo, recebe a carinhosa alcunha de "contrabando". Na tramitação das medidas provisórias, é possível inserir emendas a leis variadas, que eventualmente tratam de medidas completamente diferentes daquelas discutidas pelo texto original.

Foto: Divulgação
Na medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em setembro do ano passado, altera-se o repasse de recursos para atletas atendidos pelo Bolsa-Atleta, além de se criar novas categorias, como o Atleta Pódio, por exemplo.

Arantes (foto), torcedor do Atlético-GO, disse ao Marca que pretende propor uma emenda que limitaria as vagas para quem atua no exterior a 20% dos convocados.

Dos 23 convocados de uma Copa do Mundo, 4,4 poderiam jogar no estrangeiro. Como não se pode convocar 0,4 de jogador, resta saber se o arredondamento seria para baixo ou para cinco

"Quando chega a Copa, 20, 21 convocados atuam em times estrangeiros. Aí, quando ganha, vem para o Brasil desfilar. Quando perde, fica lá, envergonhado. Não tem identidade com a seleção. Não tem comprometimento com os clubes ou os torcedores brasileiros", critica. Arantes calcula que a mudança poderia incentivar a repatriação de jogadores.

O parlamentar acredita que a medida não comprometeria a qualidade do escreve canarinho por considerar que existem, "no máximo", quatro nomes capazes de comer a bola que exibam seu talento longe do relvado tupiniquim. "Aí você pretere um Rogério Ceni, que está há anos jogando no São Paulo e é um dos melhores do mundo, e não é convocado", exemplifica Arantes, sem muita felicidade na escolha.

Projeção de debate

Ninguém especula sobre as possibilidades de a emenda ser votada e ainda menos sobre o que sairia dos resultados de uma eventual discussão pelos excelentíssimos parlamentares. O que com certeza seria um debate profícuo seria pôr os nobres congressistas para escalar a seleção – de preferência no bar do plenário. Dá para imaginar o calor do debate:

– (...) Já não se fazem mais pontas como o saudoso Esquerdinha...
– Um aparte, excelência. Hoje em dia, no futebol moderno, sequer é empregado o ponta-esquerda no estilo clássico... Vossa excelência não entende patavina do ludopédio nacional.
– Vossa excelência me respeite!

Faria um sucesso na TV Câmara.

Escalação

E aí, alguém se arrisca a montar um time só com 20% de jogadores "estrangeiros".

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Camisa canarinho com uma faixa verde. Não rolou

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Fosse toda verde, ficaria linda (do meu ponto de vista), mas a camisa da seleção brasileira anunciada pela fabricante de material esportivo que patrocina o escrete tem apenas uma a faixa verde horizontal no meio do peito. A divulgação ocorreu na tarde desta terça-feira, 1º, em Niterói-RJ. Ela revestirá os convocados de Mano Menezes que enfrentarão a França, os carrascos em copas do mundo, na quarta-feira da próxima semana, dia 9. Ah, o treinador não veio ver a peça, ficou em Lima, onde acompanha a seleção sub-20 como espectador.

Foto: Divulgação

Assim como na camisa da Copa de 2010, o tecido é integralmente feito de material reciclado. Leia-se de garrafas pet. Calções e meias têm o mesmo material como base. Se eram necessárias oito garrafas de dois litros para cada camiseta, o jogo completo deve precisar de uma dúzia.

Como (felizmente) não se embalam cervejas nem quaisquer bebidas alcoólicas de qualidade nestas embalagens, a seleção pode dizer que veste a camisa do refrigerante. Deve ser melhor ainda para outros contratos de patrocínio, não para o Futepoca.

Ainda segundo a fabricante, a inspiração da faixa é "a pintura de corpo dos guerreiros", o que faria da tal faixa um "símbolo da proteção e do fechamento do corpo de um atleta", nas palavras do diretor de marketing Tiago Pinto.

O lado bom para quem tampouco achou a faixa legal é que um uniforme novo será produzido a cada ano até 2016, ano dos Jogos Olímpicos sediados no Rio de Janeiro.

Alguém aí gostou?

Bebê atômico mandava todo mundo tomar pinga

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No meio jornalístico brasileiro, um dos fatos mais bizarros foi a inacreditável série de 27 manchetes que o extinto jornal paulista Notícias Populares deu entre maio e junho de 1975, sobre um suposto "bebê diabo" que teria nascido em São Bernardo do Campo (curiosamente, no mesmo ano em que Luís Inácio Lula da Silva assumia a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, na mesma cidade). Fruto da audácia do secretário de redação, José Luiz Proença, e do editor de polícia, Lázaro Campos Borges, em um plantão de sábado em que não havia uma pauta sequer para salvar a edição do dia seguinte, a inacreditável matéria "Nasceu o diabo em São Paulo", que iniciou a série e triplicou as vendas do jornal, surgiu a partir de uma notinha da Folha de S.Paulo sobre um bebê que havia nascido com prolongamento do cóccix e duas pequenas saliências na testa em um hospital do ABC paulista.

Segundo o livro "Nada mais que a verdade", de autoria de Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima, o repórter Waldemar de Paula, do NP, telefonou para alguns hospitais da região e, como não obteve informação, partiu para a imaginação e a cara de pau. No domingo, 11 de maio de 1975, a "reportagem" dizia que "o bebezinho (...) já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros". Mais à frente, o texto explicava: "parece que tudo começou na Semana Santa, quando o marido da mulher, que é muito religioso, convidou-a para ir à igreja, ver a procissão. A mulher grávida bateu com as mãos na barriga e respondeu, indignada: - Não vou, enquanto este diabo aqui não nascer".

A lorota vendeu horrores e só restou ao jornal prosseguir com a farsa. Por quase um mês, publicou em manchete principal a saga do "bebê diabo", que mobilizou a população em São Paulo e em outros estados (minha sogra, que estava grávida na época, disse que no Rio de Janeiro também só se falava sobre isso). A série espetacular do NP teve capítulos esdrúxulos como "Bebê-diabo inferniza o padre do ABC", "Viu bebê-diabo e ficou louca", "Bebê-diabo nos telhados das casas do ABC", "Diabo explode o mundo em 1981", "Fazendeiro é pai do bebê-diabo", "Bebê-diabo foge para o Nordeste" e "Zé do Caixão vai caçar bebê-diabo no Nordeste", entre outros. Em 24 de maio, por exemplo, o jornal noticiava que "Bebê-diabo parou táxi na avenida" e, respondendo ao taxista qual seria o destino, teria dito: "Toca para o inferno".

Depois de tanto absurdo (e de milhões de exemplares vendidos), o NP resolveu encerrar o assunto quando o "bebê-diabo" havia se perdido nos sertões da Bahia e Pernambuco.

Guta, o "bebê atômico"
Porém, o departamento comercial pressionou e, pouco depois, o jornal apelaria novamente com a notícia de nascimento de um "bebê peixe" na floresta amazônica, com "pele escamosa e cauda de peixe nos membros inferiores". A segunda manchete foi: "Boto é pai do bebê-peixe", em que um médico explicava que a mãe tivera relações sexuais com um "cetáceo fluvial". Saturado pelo "bebê diabo", o público não deu bola e as edições encalharam. Aí, o NP decidiu esculhambar de vez. Em 11 de novembro de 1975, lia-se que "Bebê atômico nasceu em SP". A criança, chamada Guta, tinha o poder de controlar raios e relâmpagos, além de ficar invisível e transformar seu corpo em substância líquida e gasosa. Pior: ela morava no esgoto e passeava por bairros distantes porque, no Centro de São Paulo, as ondas de rádio e TV lhe faziam cócegas.

Segundo o jornal, o pai do bebê, um pedreiro, tivera contato com uma pistola de raios alimentada por urânio enriquecido, "a mesma fonte de energia dos submarinos nucleares". Assim, no dia 14 de novembro, a notícia era a de que a médica Vânia teria recebido uma visita de Guta, que saíra junto com o vapor do chuveiro e, sorridente, se materializara em sua frente (!). Em seguida, a garotinha nuclear parou em uma oficina para recarregar as energias com a bateria de um carro Galaxie azul. Mas a loucura chegou ao ápice quando a garota entrou em uma bar da Vila Prudente para beber todo o leite gelado do local (sua bebida preferida) e, ao mesmo tempo, ordenar: "Quando eu bebo, todo mundo bebe também. Aqui não vai ficar ninguém sem tomar pelo menos uma garrafa de pinga". O livro "Nada mais que a verdade" observa que, talvez, esse fosse o desejo inconsciente do repórter que escreveu essa pérola...

Sem o mesmo sucesso do "bebê diabo", a nova série acabou quando Guta levou um tiro de chumbinho do proprietário da lancha Tiririca, às margens da represa de Guarapiranga.

Os futepoquenses, esses pingagistos
Mas, falando em bar, em cachaça e em jornalistas manguaças, o livro comenta que o romeno Jean Mellé, mentor do Notícias Populares, não falava português direito, confundindo o idioma com uma mistura de alemão, francês e espanhol. Quando aprendeu que o indicativo do gênero masculino era a letra "o", passou a empregar a lição ao pé da letra. Por isso, para Mellé, todo jornalista do sexo masculino era "jornalisto", artista era "artisto", e assim por diante. Seus funcionários (que deviam frequentar o bar com certa assiduidade) lembram que, por associação "lógica" com o termo tabagista, o romeno tratava os bêbados de "pingagistos"...

domingo, janeiro 30, 2011

Elano decide e Santos bate São Paulo

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Elano: 5 gols em 3 partidas. (Divulgação-Santos FC)
Um San-São mais uma vez como primeiro clássico paulista do ano. Assim como em 2010, a Arena Barueri foi o estádio que sediou o duelo, desta vez com o Alvinegro como mandante, já que a Vila Belmiro está com seu gramado em obras. E, como no ano passado, o Santos levou a melhor.

Sem Neymar, na seleção sub-20, e Ganso, em fase final de recuperação, e ainda sem Arouca e o lateral-direito Jonathan, que se contundiu contra o São Caetano, a condição de estrela recaiu naturalmente sobre Elano, que fez seu terceiro jogo em sua volta ao futebol nacional. E ele não decepcionou. Fez o primeiro gol logo aos 11 minutos de partida e, quando o Tricolor pressionava no segundo tempo, arrematou de longe e Ceni rebateu para Maikon Leite marcar o segundo.

Elano desponta como artilheiro do time e do Paulista juntamente com Maikon Leite, ambos com 5 gols. Tem sido decisivo mas, ainda assim, tem errado muitos passes (só no clássico foram 11) e apresenta um certo cansaço na segunda etapa. Isso mostra que seu futebol ainda pode e deve evoluir, mas o que sempre me impressionou em Elano foi seu senso de colocação, o que serve tanto na hora de defender e fechar espaços no meio como de ataca. Ontem, foi o elemento surpresa que aproveitou o belo passe de Róbson. Aliás, era ele também que veio de trás para fazer o gol de cabeça que deu o título brasileiro ao Santos em 2004 (confira aqui).

Voltando à peleja, o resultado não quer dizer que a parada foi tranquila. Durante a maior parte dos 90 minutos o São Paulo manteve a posse de bola e teve uma chance de ouro com Jean no segundo tempo, que mandou uma bola na trave de Rafael, desperdiçando a chance de empatar. Mas também é verdade que esse domínio territorial esbarrou na falta de qualidade do ataque tricolor. Para se ter uma ideia, a equipe do Morumbi finalizou 20 vezes, sendo 6 bolas em direção o gol. O Santos, que teve 13 finalizações, mandou 9 delas para o gol de Rogério, ou seja, 3 a mais que o adversário. O arqueiro sãopaulino fez duas grandes defesas em cabeçada de Rodrigo Possebom no primeiro tempo e em uma bela jogada de Léo no segundo.


Mas o comportamento do Santos na partida deixa evidente uma deficiência do time nesse início de temporada. O meio de campo com Adriano, bom e rápido marcador mas que tem sérias dificuldades de passe assim como seu parceiro Rodigo Possebom, faz com que a saída de bola do time seja ruim e a equipe sofre com uma marcação no seu próprio campo como a feita pelo São Paulo. Mesmo com times menores o Alvinegro passou aperto em determinados momentos, sendo salvo pela eficiência do veloz ataque. Em vista disso, no clássico, o atleta mais acionado do Santos para levar a bola ao ataque não foi alguém do meio, mas o lateral-esquerdo Léo, que fez talvez a sua melhor partida, taticamente falando, desde que retornou à Vila Belmiro.

Esse problema no meio fez com que a defesa fosse exigida e, ao contrário do que aconteceu contra o São Caetano, a atuação foi exemplar, exceção feita a uma lambança de Durval no primeiro tempo dentro da área. Com a volta de Arouca e a entrada de Charles, o problema pode ser resolvido. Mas como futebol é dinâmico, como diriam os filósofos, ninguém duvide que os laterais que hoje estão na seleção sub-20, Danilo e Alex Sandro, possam eventualmente ocupar uma vaga no meio de campo peixeiro. Com mais opções, Adílson Batista pode ter uma formação que passe menos aperto e deixe o torcedor mais calmo. Tomara.

****

Ah, sim, na preliminar houve futebol feminino, Santos contra Juventus. E Marta fez um gol de placa, que vale ser visto.Sobre o jogo (5 a 1 pro Alvinegro), leiam quem sempre cobre o futebol feminino.

sábado, janeiro 29, 2011

Fora Tite!!!

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Antes tarde do que nunca, antes breve do que nada. E aliás, o assunto não permite muita ladainha: o Corinthians contra o Tolima foi abaixo de cu de cobra. O time colombiano é fraquíssimo, e ainda assim não conseguimos sequer dar um sustinho em nossa hipertensa torcida (única com mérito no estádio, pois cantou e apoiou sem pausa). Só me resta gritar: Fora Tite!

A coisa mais curiosa de se ver eram os tombos do Ronaldo. Gordo cai devagar, não é? Vai girando aquele monte de carne, as pernas se perdendo pra cima, aleatoriamente, até se acomodar meio de lado. A imagem mais precisa seria o aflorar de uma bosta de elefante (sem ofensa ao Ronaldo, a comparação é só com o seu aspecto em queda), caindo, caindo e se espalhando, aquele estrago. Ou se mexe nessa joça de time, ou a metáfora vai virar carapuça.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Com metade dos gols marcados, um terço dos sofridos, Palmeiras alcança o Santos

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Ainda não comecei corretamente o ano. Mas faz bastante tempo que meu time não alcança a liderança de um campeonato. Desde 2009, se não me falha a memória. Parece mais tempo se eu pensar no que esse período significou para a nação alviverde.

O que importa é que, com a vitória por 3 a 1 sobre o Paulista no Pacaembu, o Palmeiras alcançou o Santos com 10 pontos ganhos na ponta da tabela. Tem oito gols marcados, contra 14 do alvinegro; sofreu dois, ante seis. A campanha do time da Baixada é bem mais exuberante, assim como o elenco de lá, que ainda tem Neymar na seleção sub-20.

Como São Paulo e Americana têm nove pontos cada, isso quer dizer que é preciso ir além das três vitórias concecutivas para se manter nas primeiras posições.

Como o Palmeiras é limitado, a expectativa é de que as coisas sigam bem contra as equipes mais fracas. Sem meias, Luan segue escalado de forma mais recuada para revesar com Rivaldo (o novo e de bem menor brilho) a função de servir de ala.

Se Valdívia e Lincoln voltarem, se os salários forem pagos, talvez o time possa sonhar com um Brasileirão tranquilo, sem sustos.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

O cara pede...

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Nós aqui do Futepoca estamos super-acostumados (tem hífen, raios?) às acusações de esquerdice explícita. É tudo verdade, não negamos isso. Às vezes acham que a gente exagera na perseguição a tucanos, especialmente a um certo ex-governador de São Paulo. Pode ser. Mas eles pedem!


Parece que é uma tradição de governadores em início de mandato aqui em São Paulo dar uma aula inaugural em alguma escola. Nosso alvo predileto, José Serra, inclusive gostava de dizer que ia todas as semanas dar aulas em uma escola pública, sem chamar a imprensa pra cobrir (mas depois espalhava o fato, claro).

Pois bem.

Não é que Geraldo Alckmin escolheu uma escola particular para dar sua aula? Tive que ler duas vezes para acreditar. O cara escolheu o Dante Alighieri, tradicionalíssimo colégio da elite paulistana mais abastada, que cobra mensalidades de até R$ 1.750.

Textos sobre isso aqui e aqui.

O que ele pretendia com esse ato não me alcança imaginar. A simbologia, no entanto, é tão explícita que nem precisa escrever nada. Fico imaginando se ele tem vergonha das escolas da rede estadual, ou nojo, ou simples desprezo.

Que vergonha desse governador...

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Internautas brasileiros entrevistam Julian Assange

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Imagem por Abode of chaos
“Não somos uma organização exclusivamente da esquerda. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e pela justiça”. Essa é apenas uma das muitas afirmações feitas pelo fundador e publisher do WikILeaks, Julian Assange, em entrevista aos internautas brasileiros.

A entrevista está sendo publicada por diversos blogues - 
publicada por diversos blogs, entre eles: Blog do Nassif, Viomundo, Nota de Rodapé, Maria Frô, Trezentos, Fazendo Média, FAlha de S Paulo, Escrevinhador, Blog do Guaciara, Observatório do Direito à Comunicação, Blog da Dilma, Elaine Tavares, Blog do Mello, Altamiro Borges, Doutor Sujeira, Blog da Cidadania, Óleo do Diabo, Escreva Lola Escreva. E por este Futepoca, claro. 

Julian, que enfrenta um processo na Suécia por crimes sexuais e atualmente vive sob monitoramento em uma mansão em Norfolk, na Inglaterra, concedeu a entrevista para internautas que enviaram perguntas a este blog da jornalista Natalia Viana, que selecionoudoze perguntas dentre as cerca de 350 recebidas.Todas as perguntas serão publicadas depois.

No final, os brasileiros não deram mole para o criador do WikiLeaks. Julian teve tempo de responder por escrito e aprofundar algumas questões. O resultado é uma entrevista saborosa na qual ele explica por que trabalha com a grande mídia - sem deixar de criticá-la -, diz que gostaria de vir ao Brasil e sentencia: distribuir informação é distribuir poder.


Em tempo: se virasse filme de Hollywood, o editor do WikiLeaks diz que gostaria de ser interpretado por Will Smith.

A seguir, a entrevista.  

Vários internautas - O WikiLeaks tem trabalhado com veículos da grande mídia – aqui no Brasil, Folha e Globo, vistos por muita gente como tendo uma linha política de direita. Mas além da concentração da comunicação, muitas vezes a grande mídia tem interesses próprios. Não é um contra-senso trabalhar com eles se o objetivo é democratizar a informação? Por que não trabalhar com blogs e mídias alternativas?

Por conta de restrições de recursos ainda não temos condições de avaliar o trabalho de milhares de indivíduos de uma vez. Em vez disso, trabalhamos com grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos humanos que têm uma audiência significativa. Muitas vezes isso inclui veículos de mídia estabelecidos; mas também trabalhamos com alguns jornalistas individuais, veículos alternativos e organizações de ativistas, conforme a situação demanda e os recursos permitem.

Uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes. Em outros países, usamos a equação inversa. O ideal seria podermos trabalhar com um veículo governista e um de oposição.

Marcelo Salles – Na sua opinião, o que é mais perigoso para a democracia: a manipulação de informações por governos ou a manipulação de informações por oligopólios de mídia?

A manipulação das informações pela mídia é mais perigosa, porque quando um governo as manipula em detrimento do público e a mídia é forte, essa manipulação não se segura por muito tempo. Quando a própria mídia se afasta do seu papel crítico, não somente os governos deixam de prestar contas como os interesses ou afiliações perniciosas da mídia e de seus donos permitem abusos por parte dos governos. O exemplo mais claro disso foi a Guerra do Iraque em 2003, alavancada pela grande mídia dos Estados Unidos.

Eduardo dos Anjos - Tenho acompanhado os vazamentos publicados pela sua ONG e até agora não encontrei nada que fosse relevante, me parece que é muito barulho por nada. Por que tanta gente ao mesmo tempo resolveu confiar em você? E por que devemos confiar em você?

O WikiLeaks tem uma história de quatro anos publicando documentos. Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos um dia cometer um erro. No entanto até o momento temos o melhor histórico do mercado e queremos trabalhar duro para manter essa boa reputação.

Diferente de outras organizações de mídia que não têm padrões claros sobre o que vão aceitar e o que vão rejeitar, o WikiLeaks tem uma definição clara que permite às nossas fontes saber com segurança se vamos ou não publicar o seu material.

Aceitamos vazamentos de relevância diplomática, ética ou histórica, que sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos por alguma ordem judicial.
Vários internautas - Que tipo de mudança concreta pode acontecer como consequência do fenômeno Wikileaks nas práticas governamentais e empresariais? Pode haver uma mudança na relação de poder entre essas esferas e o público?
James Madison, que elaborou a Constituição americana, dizia que o conhecimento sempre irá governar sobre a ignorância. Então as pessoas que pretendem ser mestras de si mesmas têm de ter o poder que o conhecimento traz. Essa filosofia de Madison, que combina a esfera do conhecimento com a esfera da distribuição do poder, mostra as mudanças que acontecem quando o conhecimento é democratizado.

Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento individual ao negar informação aos indivíduos. É esse vácuo de conhecimento que delineia quem são os mais poderosos dentro de um governo e quem são os mais poderosos dentro de uma corporação.

Assim, o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto uma força equalizadora e democratizante na sociedade.
Marcelo Träsel - Após o Cablegate, o Wikileaks ganhou muito poder. Declarações suas sobre futuros vazamentos já influenciaram a bolsa de valores e provavelmente influenciam a política dos países citados nesses alertas. Ao se tornar ele mesmo um poder, o Wikileaks não deveria criar mecanismos de auto-vigilância e auto-responsabilização frente à opinião pública mundial?
O WikiLeaks é uma das organizações globais mais responsáveis que existem.

Prestamos muito mais contas ao público do que governos nacionais, porque todo fruto do nosso trabalho é público. Somos uma organização essencialmente pública; não fazemos nada que não contribua para levar informação às pessoas.

O WikiLeaks é financiado pelo público, semana a semana, e assim eles “votam” com as suas carteiras.

Além disso, as fontes entregam documentos porque acreditam que nós vamos protegê-las e também vamos conseguir o maior impacto possível. Se em algum momento acharem que isso não é verdade, ou que estamos agindo de maneira antiética, as colaborações vão cessar.

O WikiLeaks é apoiado e defendido por milhares de pessoas generosas que oferecem voluntariamente o seu tempo, suas habilidades e seus recursos em nossa defesa. Dessa maneira elas também “votam” por nós todos os dias.
Daniel Ikenaga - Como você define o que deve ser um dado sigiloso?
Nós sempre ouvimos essa pergunta. Mas é melhor reformular da seguinte maneira: "quem deve ser obrigado por um Estado a esconder certo tipo de informação do resto da população?"

 A resposta é clara: nem todo mundo no mundo e nem todas as pessoas em uma determinada posição. Assim, o seu medico deve ser responsável por manter a confidencialidade sobre seus dados na maioria das circunstâncias - mas não em todas.


"No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes". Foto por New Media Center.
Vários internautas - Em declarações ao Estado de São Paulo, você disse que pretendia usar o Brasil como uma das bases de atuação do WikiLeaks. Quais os planos futuros?  Se o governo brasileiro te oferecesse asilo político, você aceitaria?

Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro. Com base nisso e na característica independente do Brasil em relação a outros países, decidimos expandir nossa presença no país. Infelizmente eu, no momento, estou sob prisão domiciliar no inverno frio de Norfolk, na Inglaterra, e não posso me mudar para o belo e quente Brasil.

Vários internautas - Você teme pela sua vida? Há algum mecanismo de proteção especial para você? Caso venha a ser assassinado, o que vai acontecer com o WikiLeaks?

Nós estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos intimidamos nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós.

Minha maior proteção é a ineficácia das ações contra mim. Por exemplo, quando eu estava recentemente na prisão por cerca de dez dias, as publicações de documentos continuaram.

Além disso, nós também distribuímos cópias do material que ainda não foi publicado por todo o mundo, então não é possível impedir as futuras publicações do WikiLeaks atacando o nosso pessoal.

Helena Vieira - Na sua opinião, qual a principal revelação do Cablegate? A sua visão de mundo, suas opiniões sobre nossa atual realidade mudou com as informações a que você teve acesso? 


O Cablegate cobre quase todos os maiores acontecimentos, públicos e privados, de todos os países do mundo – então há muitas revelações importantíssimas, dependendo de onde você vive. A maioria dessas revelações ainda está por vir.

Mas, se eu tiver que escolher um só telegrama, entre os poucos que eu li até agora - tendo em mente que são 250 mil - seria aquele que pede aos diplomatas americanos obter senhas, DNAs, números de cartões de crédito e números dos vôos de funcionários de diversas organizações – entre elas a ONU.

Esse telegrama mostra uma ordem da CIA e da Agência de Segurança Nacional aos diplomatas americanos, revelando uma zona sombria no vasto aparato secreto de obtenção de inteligência pelos EUA.

Tarcísio Mender  e Maiko Rafael Spiess - Apesar de o WikiLeaks ter abalado as relações internacionais, o que acha da Time ter eleito Mark Zuckerberg o homem do ano? Não seria um paradoxo, você ser o “criminoso do ano”, enquanto Mark Zuckerberg é aplaudido e laureado? 


A revista Time pode, claro, dar esse título a quem ela quiser. Mas para mim foi mais importante o fato de que o público votou em mim numa proporção vinte vezes maior do que no candidato escolhido pelo editor da Time. Eu ganhei o voto das pessoas, e não o voto das empresas de mídia multinacionais. Isso me parece correto.

Também gostei do que disse (o programa humorístico da TV americana) Saturday Night Live sobre a situação: "Eu te dou informações privadas sobre corporações de graça e sou um vilão. Mark Zuckerberg dá as suas informações privadas para corporações por dinheiro – e ele é o 'Homem do Ano’."

Nos bastidores, claro, as coisas foram mais interessantes, com a facção pró-Assange dentro da revista Time sendo apaziguada por uma capa bastante impressionante na edição de 13 de dezembro, o que abriu o caminho para a escolha conservadora de Zuckerberg algumas semanas depois.
Vinícius Juberte - Você se considera um homem de esquerda?
Eu vejo que há pessoas boas nos dois lados da política e definitivamente há pessoas más nos dois lados. Eu costumo procurar as pessoas boas e trabalhar por uma causa comum.  
Agora, independente da tendência política, vejo que os políticos que deveriam controlar as agências de segurança e serviços secretos acabam, depois de eleitos, sendo gradualmente capturados e se tornando obedientes a eles.
Enquanto houver desequilíbrio de poder entre as pessoas e os governantes, nós estaremos do lado das pessoas.
Isso é geralmente associado com a retórica da esquerda, o que dá margem à visão de que somos uma organização exclusivamente de esquerda. Não é correto. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e justiça – e isso se encontra em muitos lugares e tendências.
Ariely Barata - Hollywood divulgou que fará um filme sobre sua trajetória. Qual sua opinião sobre isso?
Hollywood pode produzir muitos filmes sobre o WikiLeaks, já que quase uma dúzia de livros está para ser publicada. Eu não estou envolvido em nenhuma produção de filme no momento.

Mas se nós vendermos os direitos de produção, eu vou exigir que meu papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L Jackson, e a minha bela assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar "WikiLeaks Filme Noire".

Tudo acaba

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Hoje me sinto muito velho. Muito mais velho do que me senti no início do mês, quando fiz (mais um) aniversário. Muito mais velho do que sou ou do que aparento. Porque, mais do que envelhecer, percebo que o mundo que conheci na infância está desaparecendo completamente. Seus cenários e personagens somem, como que por encanto, e nem se despedem de mim. É triste.

Ontem, em minha cidade natal, morreu mais um pedaço desse mundo longínquo e cada vez menos recuperável. Morreu um personagem, um símbolo de uma época. O popular Cido Guarda-Chuva (foto) era um brasileiro padrão: negro, pobre, simples. Figura carimbada de uma cidadezinha do interior. E, para complicar ainda mais sua jornada neste planeta, tinha um leve retardo mental, que o congelou, a vida inteira, como uma criança, um ingênuo, um inocente. Vivia com o auxílio da igreja católica e dos habitantes mais caridosos da cidade. Vivia sorrindo, com os olhos bondosos e totalmente alheios à crueldade dos homens. As crianças zombavam dele. E ele só dava risada, sempre. Eu fui uma dessas crianças, mas sem maldade no que fazia. Espero que ele tenha compreendido isso. E que me perdoe.

Cido é mais uma figura de um tempo que não volta, de uma época que me parece, cada vez mais, ter sido apenas um sonho. O ano passado já tinha nos levado o Alemão Barbeiro, que brincava comigo quando eu era pequeno e que, nos últimos tempos, me fazia a barba reclamando das agruras de seu time do coração, o Palmeiras. Há alguns meses eu estava lá, conversando com ele. E agora ele não está mais. O salão da barbearia está fechado. Alemão morreu. Cido Guarda-Chuva morreu. E eu também morri um pouco com eles.

Não é possível. Nada disso aconteceu, foi tudo imaginação. Já não acredito que eu tenha vivido em uma época assim, com pessoas sem maldade, sem egoísmo, sem ganância, sem pressa. Um mundo que não existe mais, em lugar algum. E que eu desconfio, agora, que talvez nunca tenha existido.

Eu sei, nada justifica. Mas acho que é por isso que eu bebo.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Precedente complicado

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

A notícia de que o veterano Rivaldo (foto) já fechou contrato de 1 ano e será apresentado pelo São Paulo é surpreendente, mas nem tanto pela idade do jogador, que fará 39 anos em abril. Zizinho chegou ao clube com 35, Toninho Cerezo com 37 - e ambos tiveram boas passagens. Aliás, eu lamentei que a diretoria do São Paulo não tenha se mexido na época em que Edmundo pendurou as chuteiras. Gostaria de vê-lo encerrando a carreira no Morumbi, mesmo que não rendesse muita coisa. Era um baita jogador, assim como é Rivaldo. Mas o buraco, agora, é bem mais embaixo.

A exemplo dos ex-sãopaulinos Jamelli (foto) e Juninho Paulista, que encerraram suas carreiras de jogadores atuando também como dirigentes (o primeiro no Barueri, em 2008, e o segundo no Ituano, em 2010), Rivaldo é presidente do Mogi Mirim - clube pelo qual disputaria o Paulistão. Só que agora vai atuar por outro time, no mesmo campeonato, e já avisou que não pretende se licenciar da função de dirigente do Mogi. Atitude que, se for confirmada, levantará todo tipo de suspeita quando os dois times se enfrentarem e, bem pior que isso, se um precisar do outro para se classificar ou não cair para a segunda divisão. Isso abriria um precedente complicado no futebol.

Pois é, virou bagunça. Um exemplo é a promoção "Casa cheia", que o Mogi Mirim lançou para seus torcedores: 5 mil carnês com ingressos para os nove jogos do time no Estádio Romildo Ferreira (nome do pai de Rivaldo), ao preço de R$ 135 (inteira) e R$ 90 (meia). O carnê traz uma foto de Rivaldo com a camisa do time e a frase: "Eu voltei. Agora é a sua vez". Mas voltou pra onde? E quem comprou o pacote só pra ver Rivaldo jogando pelo Mogi? O mesmo Rivaldo que, como presidente do clube, negociou o próprio empréstimo para o São Paulo (!). Sim, palhaçada é o termo.