Destaques

sábado, fevereiro 28, 2009

Em busca do marafo perdido – Capítulo 4

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MARCÃO PALHARES

Nevoeiro. Denso, cerrado, intransponível. Saio da neblina e entro numa casa. Tudo difuso, vago. Não enxergo claramente. Há um vulto, uma mulher sorrindo – ou algo do tipo. Me oferece uma garrafa esverdeada. Tento alcançar, mas a distância aumenta. Ela começa a gargalhar. A garrafa cai no chão e se estilhaça. Eu grito. E desperto do sono profundo...

Sol na cara, muito forte. Os olhos embaçados não suportam a claridade excessiva. Deve ser meio-dia ou perto disso. Estou deitado num beco, dentro de uma lixeira. Os lábios doem. A cabeça lateja. O corpo está moído. A boca seca guarda um gosto horrível de bebida fermentada, areia e sangue. Acho que arrumei briga. E acho que apanhei muito.

Tento levantar, zonzo. O sol desnorteia as ideias. Quando comecei a beber, chovia e fazia frio. Deve ter sido há muitos dias. O clima agora é exatamente inverso. Calor, sede, tontura. Alguma coisa está errada, alguma costela fora do lugar. Ponho os pés no chão – e desabo. Calça suja, pés descalços, camisa rasgada e repleta de sangue seco. Um cheiro azedo de cerveja.

Levanto, caio novamente. Rastejo e me apóio na parede. Vou cambaleando, meio louco de dor, tremedeira e uma vontade apavorante de morrer. Preciso beber alguma coisa. Chego na porta do bar e ele está fechado. Tudo bem: não tenho mais dinheiro, mesmo. Nem carteira, nem documentos, nem nome, nem futuro, nem alma, nem nada. Tanto faz.

Deito na calçada, meio morto. Passa uma nuvem e a sombra alivia um pouco os olhos doloridos. Tento ficar sentado. Chega uma senhora e me atira umas moedas. Os dedos trêmulos fazem um esforço desumano até conseguir reuni-las. Dois contos e vinte e cinco centavos. Acho que está na hora de voltar a beber. E retirar o lucro líquido de uma vida bruta. Salute!

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

VÁRZEA: vereador que vai à Câmara com camisas de futebol registra compra de votos em cartório!

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DIEGO SARTORATO*

Quando ouvi falar pela primeira vez, tardei a acreditar. Aí vi o papel, carimbado e protocolado, prova física do descalabro. Era verdade: o vereador Vandir Mognon (PSB), de São Bernardo do Campo (SP), registrou em cartório que ofereceria dois cargos públicos na Secretaria de Esportes a um cabo eleitoral – Júlio César Fuzari - caso ele conseguisse votos que garantissem a sua reeleição. Absurdo? Nem tanto quanto o parágrafo único do mesmo documento: "caso Vandir Mognon não seja nomeado secretário de Esportes no município, garante uma vaga no gabinete de vereador, na Câmara Municipal, com salário de R$ 3,3 mil ou mais". É sério isso! Quem duvida pode conferir com os próprios olhos:


Denunciei essa insanidade inacreditável no jornal ABCD Maior (que gentilmente cedeu ao blogue o fac símile e a foto abaixo, feita por Antonio Ledes). O grotesco da picaretagem formalizada começa pela linguagem cartorial: "As partes obrigam-se ao fiel e integral cumprimento deste contrato, que é firmado em caráter irretratável e irrenunciável". Encerrado o documento, está lá, oficializada, a compra de votos com registro em cartório. Não sei nem dizer quem estava mais manguaçado. Seria o escrivão, que lavrou uma ata de crime e nem se tocou? Ou o vereador-marreteiro, que voluntariamente registrou o crime eleitoral em cartório? Ou então o cabo eleitoral, que confia tanto no candidato que precisa fazer ele registrar a negociata pra ter certeza que vai ser cumprida?

Mas o mais engraçado é que o "compromisso legal" não serviu para seu devido fim: Mognon foi reeleito mas, como seu candidato a prefeito (o tucano Orlando Morando) não venceu as eleições, não teve como oferecer os cargos na Secretaria de Esportes. E mesmo o prêmio de consolação, o carguinho de assessor parlamentar que ele se comprometeu a ceder a Fuzari no documento oficial, o vereador ainda não pagou. Traduzindo: o maluco registrou a compra de votos em cartório, foi reeleito vereador e nem cumpriu o combinado com o comparsa! E depois o bêbado sou eu!

Mognon foi secretário de Esportes nos dois anos finais da gestão do ex-prefeito William Dib (PSB, 2002-2008) e é notório por ser o único vereador que não vai às sessões da Câmara com traje social: só usa camisetas de time de futebol (foto acima) - e nunca repetiu nenhuma! Dizem que tem mais de 200, de times latino-americanos, europeus, da primeira e da segunda divisão.

Mas parece mesmo que tem um gostinho todo especial pela várzea...

*Diego Sartorato é jornalista, corintiano, comunista, pró-palestinos, apreciador de 'vodka' Zvonka e colaborador bissexto do Futepoca.

Dois toques

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Rodrigo Ponce Santos*

Quem acompanha meus posts já deve ter percebido que a lentidão está entre meus maiores defeitos como “blogueiro”. Estipular prazos nunca funcionou direito pra mim. Mas aos poucos estou aprendendo que a coisa funciona melhor assim: aconteceu ontem, tem que publicar ontem. Para tanto, é preciso sentar e começar. Pensar um pouco ajuda, mas só desenhar mentalmente o assunto não funciona. Não dá pra ficar prendendo a bola. O tempo te rouba a oportunidade e ninguém vai gritar “ladrão!”.

Em sua última coluna na Carta Capital, Thomaz Wood Jr. falou sobre a procrastinação . O famoso hábito de “empurrar com a barriga” foi objeto de pesquisa científica que apontou o seguinte: costumamos adiar a execução de uma tarefa que parece mais distante e abstrata. A dica dos pesquisadores é “apresentar certas tarefas de forma mais detalhada e objetiva”. O problema, acredito, é que detalhe não rima com objetivo. Como uma das infelizes pessoas que adoram chamar reuniões e discutir tudo em seus pormenores, estou em posição confortável para admitir que planejar demais deixa tudo mais distante e abstrato, ou seja, fácil de ser adiado.

Tanto pior se as intermináveis reuniões são uma conversa entre eu e eu mesmo. Pois ainda mais do que a conversa, o pensamento carrega esta terrível sina de ser intangível, incerto e inútil do ponto de vista prático. Hannah Arendt, ao defender a tarefa do pensamento nas considerações morais, também definiu sua inextricável consequência: “quando começamos a pensar em qualquer coisa, interrompemos tudo o mais” (A Dignidade da Política, Ed. Relume-Dumará, p. 149). Ora, definir os detalhes de uma ação é pensá-la exaustivamente e, portanto, se afastar dela. Não me entendam mal. Pensar é preciso e cada vez mais necessário em um mundo onde tudo se faz no modo automático. Mas se existe o momento (e por que não a tarefa) da ponderação, também existe o momento de agir sem planejar. Ninguém vai negar que existem coisas que precisam ser feitas quase sem pensar. Entre elas, o futebol.

Não prender a bola foi um dos méritos do time do Atlético na partida contra o Iguaçu. Basta ver os dois gols do Marcinho (foto) para entender o que estou falando. No primeiro, a bola atravessou todo o campo e chegou até a rede adversária na base do “dois toques” – um deles a letra do garoto Renan. No outro, depois de boa jogada individual de Wallyson (driblar é diferente de prender a bola e também exige uma boa dose de “irracionalidade”), Renan pegou o rebote e deu um tapa para o novo camisa 10, que arrematou de primeira.

A semana do Atlético teve duas notícias importantes: a saída de Ferreira e a entrada de alguns garotos da Copa São Paulo no time principal. Se a promoção dos guris deixa a torcida animada, a atuação de Marcinho serviu para tranqüilizar a torcida depois do empréstimo do colombiano para o Dallas após quatro anos sem títulos na Baixada. Apesar do carinho da torcida, acho que desta vez não vai ficar saudade. Se não houve jogada de craque, sobrou objetividade. Além dos gols, Marcinho jogou com velocidade, coisa que ainda falta para o Atlético. Pela esquerda, Márcio Azevedo também voltou muito bem e ajudou a fazer a bola correr. Mas o destaque na minha opinião é mesmo o outro cabeludo, Renan, que tem boas chances de ganhar a vaga ao lado do Valência. Tenho birra de dois volantes, mas dou aqui o braço a torcer. Nem precisa pensar muito.



*Rodrigo Ponce Santos é torcedor do Atlético-PR, escreve sobre o futebol do Paraná para o Futepoca e é autor do blogue Pretexto.


Ceni volta, Washington marca, zaga muda e 3 a 0

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O São Paulo jogou contra ning..., perdão, contra o Oeste de Itápolis, ontem, e venceu por 3 a 0 sem maiores dificuldades. Pontos positivos: Rogério Ceni adiantou sua volta para pegar ritmo de jogo e Washington renovou a confiança quebrando o jejum de gols. Outro detalhe é que Muricy Ramalho começou a partida com dois zagueiros (algo raro). E o outrora titular Hugo foi para o banco, de onde Arouca saiu para entrar como titular e jogar 90 minutos. Nada de extraordinário, mas sinaliza que o treinador abdicou da teimosia para tentar alguma coisa que dê um mínimo padrão de jogo para o time. No mais, o Paulistinha mostra que, fora os quatro da capital (incluindo a Portuguesa) mais o Santos, o nível dos outros clubes é muito fraco. Isso é ruim para os que disputam a Libertadores, pois lá não existe vida fácil.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

O maluco, o chato, a música, o futebol e a cachaça

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Depois de apresentar "Let me sing, let me sing" no Festival Internacional da Canção, o baiano Raul Seixas (à direita) surgiu nas paradas de sucesso, em 1973, com uma música que denunciava o engodo do "milagre brasileiro" de Delfim Netto e, ao mesmo tempo, "respondia" a canção "A montanha", de Roberto Carlos. Enquanto o "rei" dizia "Obrigado Senhor/ Por mais um dia", Raulzito cantava, em "Ouro de tolo": "Eu devia agradecer ao Senhor/ Por ter tido sucesso na vida como artista". Só que o mais engraçado, nessa história, é que a própria música de Raulzito ganharia uma "réplica".

Em 1974, o mineiro Silvio Brito (à esquerda) apareceu com "Tá todo mundo louco", na qual escancara: "Eu fiz tudo pra não fazer um plágio/ Mas ela saiu muito parecida com a música do Raul Seixas". O discurso é quase o mesmo. Raul reclama: "Macaco, praia, carro, jornal, tobogã/ Eu acho tudo isso um saco". Silvio emenda: "Essa música foi feita num momento de depressão/ Eu tava com saco cheio, com raiva da vida, com raiva de tudo/ Eu fiz essa música pra encher o saco de todo mundo".

Ouro de tolo:


Tá todo mundo louco:


A mesma agressividade está no desabafo de Raul Seixas: "É você olhar no espelho/ Se sentir um grandessíssimo idiota/ Saber que é humano, ridículo, limitado/ Que só usa dez por cento de sua cabeça animal". Aliás, falando em olhar no espelho, não parece de todo impossível que o descarado Silvio Brito tenha se inspirado na letra do colega baiano para emplacar, na sequência, "Espelho meu". A letra parece confessional: "Tomo a dimensão de quem não tem razão pra ser normal/ Sou débil mental".

O mineiro insistia em construir uma imagem de "maluco", "doido assumido" - e feliz com isso. Em "Espelho meu", grita: "Salve os loucos, salve os loucos!". Curioso é que, pouco tempo depois, Raul soltaria "Maluco beleza" – e ficaria com esse apelido e estereótipo até o fim da vida. Mas, antes disso, o roqueiro baiano decidiu esculhambar Silvio Brito com "Eu também vou reclamar", de 1976. Que já começa avisando: "Eu vou tirar meu pé da estrada/ E entrar também nessa jogada/ E vamos ver quem é que vai ‘güentar’".

Eu também vou reclamar:


Pare o mundo que eu quero descer:


Na época, uma das músicas mais grudentas de Silvio era "Pare o mundo que eu quero descer". A letra faz menção ao futebol: "Pare o mundo que eu quero descer/ Que eu não aguento mais esperar o Corinthians ganhar o campeonato/ E ver no rosto das pessoas a mesma expressão" (o time de Parque São Jorge sairia de uma fila de mais de duas décadas no ano seguinte - foto acima). Para rebater, Raul Seixas foi direto ao assunto: "Ligo o rádio e ouço um chato/ Que me grita nos ouvidos/ Pare o mundo que eu quero descer".

Outra coincidência entre a produção musical do mineiro e do baiano, naquela época, foi a implicância feminina com a – indispensável – manguaça nossa de cada dia: "Já estou cansado de ouvir você dizer/ Que eu não sei fumar, que eu não sei beber, que eu não sei cantar" (de "Tá todo mundo louco") e "Entro com a garrafa de bebida/ Enrustida/ Porque minha mulher não pode ver" (de "Eu também vou reclamar"). Raul morreria de pancreatite aguda, aos 44 anos, exatamente por abuso da bebida. Silvio Brito - que homenageou Raul - continua vivo. Mas quase ninguém repara...

Ps.: Eu posso ser chato (ou "chacrilongo"), mas as melodias dessas músicas abaixo não são extremamente parecidas, não?

Chacrilongo:


Capim guiné:

A última do Carnaval...

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Na transmissão ao vivo do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, uma gafe do ex-jogador Raí em entrevista para a Rede Globo:

- Acho que eu estou bem preparado, me deixaram e é uma honra levar a Mangueira na mão!

E a repórter ainda tripudia:

- É o Raí apaixonado pela Mangueira!

Confiram:

E se o beneficiado fosse um time grande?

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Ontem o Botafogo venceu o Fluminense por 1x0, gol de Fahel, e se classificou para a decisão da Taça Guanabara, o primeiro turno do estadual do Rio.

O time da Estrela Solitária pode, na final que será jogada no domingo, conquistar um título de turno pelo quarto ano consecutivo. Em 2006, venceu a Taça Guanabara e também o Campeonato Estadual; em 2007 e 2008, foi o campeão da Taça Rio e perdeu o título maior para o Flamengo nas duas ocasiões.

Embalado e entrando nos eixos ao longo da competição, o Botafogo vai para a decisão da Guanabara como favorito. Mais um bom trabalho de Ney Franco.



E quem será o adversário do Botafogo? O pequeno e "simpático" Rezende, que humilhou o Flamengo em pleno Maracanã, enfiando inapeláveis 3x1 sobre o rubro-negro. Assim, o Rezende está a um passo de fazer história e vencer um turno do Estadual do Rio, tornando-se então, por antecipação, um finalista do Cariocão.

Acontece que o que poderia ser mais uma bela história de um time pequeno que supera os grandes é um evento que tem suas manchas. O Rezende não está aí unicamente por seus méritos. O time ficou em terceiro na tabela de classificação do Grupo A e só avançou para as semis por causa da lambança da diretoria do Vasco, que escalou um jogador irregular e perdeu seis pontos. Não fosse esse incidente, o Clube da Colina seria o primeiro colocado do seu grupo e enfrentaria o próprio Botafogo; a outra semifinal da Guanababara teria o clássico Fla-Flu, e o Rezende apenas assistiria aos duelos pela televisão.

Estranho é ver que tais ocorrências renderam poucos comentários na imprensa esportiva paulista. Fico pensando como seria se a moeda tivesse outra cara. Se, por exemplo, tirassem seis pontos do Rezende e o beneficiado fosse o Vasco. Imaginem só! O mínimo que iam falar por aqui (sim, sou paulista, antes que alguém duvide) era que o Rio não é sério, que tava na cara que isso ia acontecer, que sempre o grande é o beneficiado, que futebol é armação, e mais um monte de frases feitas...

A ditabranda do Otavinho na Folha de S.Paulo

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O Assunto jé é meio velho, mas não pode passar sem registro aqui no Futepoca por misturar política e, provavelmente, cachaça que alguém bebeu. Basicamente porque o líquido ajuda a destravar a língua, daí alguns acabam falando (ou escrevendo) sinceramente demais.


Em 18 de fevereiro, a Folha de S.Paulo, mais uma vez, soltou um editorial raivoso contra Chavez cahamando-o de ditador etc... pelo resultado do plebiscito em que poderá se reeleger quantas vezes quiser (e o povo deixar, óbvio). Até aí nada demais, Estadão e o Globo fazem o mesmo cotidianamente.

O pior foi a comparação: "Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente."

Ok, dá vontade de perguntar ao Otavinho (publisher do jornal) quem mais chama de Ditabranda a ditadura brasileira. Até onde sei, a Folha inventou essa agora. 

Não vou me estender muito em comentários, mas publicar as cartas enviadas pelos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides, por coincidência dois personagens que já entrevistei e dos quais tenho as melhoes impressões possíveis.

Cartas

Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda'? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -que horror!" 
MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP) 


"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana." 
FÁBIO KONDER COMPARATO , professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP) 

Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa. 

Dizer que as indignações de Comparato e Benevides são obviamente cínicas e mentirosas... O que foi então esse editorial e a resposta da Folha, que não teriam saído sem a aprovação do dono do jornal, ou seja, Otávio Frias Filho?

Cabem as perguntas, o que eles beberam, fumaram ou cheiraram antes de tanta bobagem? Essas acho que nem Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi publicariam na Veja. Ou publicariam?

Palmeiras e São Caetano: em jogão de sete gols, a liderança é mantida

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O Palmeiras venceu o São Caetano por 4 a 3 no Anacleto Campanela. Depois de sair perdendo por 2 a 0 com oito minutos do primeiro tempo, o Verdão virou o jogo e passou para a segunda etapa com 4 a 2. Depois, o time caiu de produção, mostrou limitações e cedeu às investidas ofensivas do técnico Vadão. Os difíceis 4 a 3 mantém a invencibilidade na competição e a liderança.

Foto: Divulgação/Palmeiras
Tirando a estreia, quando não tem o mando do jogo, o Palmeiras mantém uma marca complicada: toma pelo menos dois gols (Portuguesa, Mirassol, Ponte Preta ). Marcão estreiou bem, fez cobertura de Armero, lançou, mas ainda não solucionou a retaguarda, cuja idade média é elevada. Aos 33, ele tem Edmilson com 32 e Marcos com 35 como companhia.

Que primeiro tempo!
Foi um jogão, mas uma partida de personagens. O primeiro deles foi Cleiton Xavier que escorregou quando recebia um passe na fogueira de Pierre logo aos três minutos. Dali saiu o primeiro gol do azulão. Depois, o camisa 10 foi quem cobrou a falta e o escanteio de onde saíram o segundo e terceiros tentos do visitante.

Outro personagem foi Edmilson. Ele continua se desentendendo com Marcos na defesa. Fez o gol de empate, quase marcou o quinto no segundo tempo, mas poderia ter sido expulso em dois lances. O mais claro foi uma falta sobre Tuta, o da rima rica, quando o placar marcava 3 a 2. O outro, que aconteceu bem antes, foi na reclamação acintosa de falta inexistente marcada pelo árbitro. Curiosamente, da falta saiu o segundo gol do time da casa, quando o camisa 3 desapareceu e Marcos não saiu de baixo das traves. A defesa continua sem estar acertada, fica muito exposta e não tem entrosamento suficiente. E tem um buraco do lado direito. Isso talvez explique que, em todos os outros lances, o Goleiro tenha se precipitado em sair da meta. Mas ele não está bem.

A reação do Palmeiras teve em Diego Souza seu principal motor. O jogador correu, criou jogadas, distribuiu passes... Foi o melhor em campo do escrete verde-limão-siciliano no primeiro tempo. No segundo, foi displiscente, mas criou uma jogada linda na lateral direita, com dribles, rolinhos e rodopios. Seu gol de cabeça, o da virada, foi um prêmio. Pena que não joga contra o Guarani, suspenso pelo terceiro amarelo.

Keirrison fez dois, se isolou na artilharia do campeonato com nove gols. O autor do primeiro e do quarto gols desapareceu no segundo tempo, um sinal da pouca eficiência do meio de campo do time de Vanderlei Luxemburgo para tocar a bola e jogar com mais paciência. Não, Willians, Cleiton Xavier e Diego Souza só funcionam para pôr o time para criar chances de gol com rapidez. Isso é ótimo, tem méritos do treinador, mas foi a fragilidade no segundo tempo.

E a fragilidade foi agravada pelas mexidas de Vadão no São Caetano. Três atacantes e três meias, menos um zagueiro, e o time da casa diminuiu a diferença (com Vandinho impedido). Por falta de tranquilidade, não conseguiu o empate. Enquanto isso, Luxemburgo demorou para mexer no time, mesmo com o notório buraco nas costas de Fabinho Capixabana na lateral-direita. Ainda bem que ele não joga a próxima partida, suspenso com o terceiro cartão.

Vizinhança do júbilo ao silêncio
Fazia tempo que eu não reparava no comportamento dos secadores. Quando o placar marcou 2 a 0, a ala antipalmeirense da vizinhança foi ao delírio. Depois da virada, claro, as ofensas foram devolvidas pela torcida do clube da Turiassu. Mas quando saiu o terceiro gol do Azulão – e eu temi pelo sufoco do fim do jogo –, esperei uma nova onda de confiança dos secadores. Não foi o caso. Os profissionais da desidratação futebolística à distância se desmobilizaram, como era de se esperar. Curioso que, quando acabou o jogo, tampouco teve muita festa dos parmeristas das redondezas. Vai ver que também foram dormir mais cedo.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Tipos de cerveja 29 - California Common/Steam Beer

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Esse tipo de cerveja estadunidense é, em geral, produzida com um tipo especial de fermento, que consegue melhores resultados a temperaturas mais mornas do que o habitual para uma Lager. O método teve origem no século XIX, na Califórnia, onde a refrigeração ainda era um luxo. Desse modo, os agricultores utilizavam fermento típico de Lagers, mas a uma temperatura mais própria para ales - o que resulta em um caráter singular, com a leveza característica das Lagers e paladar parecido com o das Ale. A Anchor Brewing Co. registou o termo Steam Beer, pelo que, em geral, todas as outras marcas são referidas como California Common. Exemplos: Anchor Steam Beer, Park City Steamer e New England Atlantic Amber (foto).

De olho na redonda: A bola pós-carnaval... E Barrichello pode correr com Danica Patrick

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Depois do carnaval, a bola. Não que ela não tenha rolado, principalmente no sábado, quando o Resende superou um perturbado Flamengo, que teve dois jogadores expulsos e ficou de fora da semifinal da Taça Guanabara. Trocadalhos dos mais previsíveis possíveis foram feitos em profusão para falar da façanha do time, mas quando a decisão é em um partida só e, ainda por cima, em fim de semana de carnaval, zebras assim podem aparecer mesmo...

Já o Paulistão terminou o fim de semana da forma mais previsível possível. Com os quatro grandes no G-4 e a Lusa em quinto. Claro que o andamento de competições paralelas como a Copa do Brasil e a Libertadores podem alterar o quadro, mas o estadual promete ser isso que está aí. De se destacar, apenas o grande público que compareceu ao Pacaembu para ver Santos e Botafogo em pleno domingo de carnaval: quase 21 mil pagantes, mais que o dobro do clássico (ou semiclássico?) entre Lusa e Palmeiras. Mas o Eterno ainda resiste a fazer o Peixe jogar mais em São Paulo, atendo-se às superstições e ao provicianismo de sempre, embora acene com a possibilidade de a partida contra o Rio Branco ser realizada na capital. Ao santista paulistano, mais fiel que o da Baixada (e olha que sou de lá), restam as sobras...

O ponta-artilheiro

Garrincha, Canhoteiro, Julinho Botelho, Zagallo... Nenhum deles chegou perto da fantástica marca de Pepe, segundo maior artilheiro da história do Santos com 405 gols. É o maior ponta artilheiro do país, e com tal marca supera os goleadores máximos de clubes como Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Fluminense etc etc etc. Hoje, ele faz 74 anos. Parabéns, Canhão!   

Barrichello e Danica Patrick juntos?


Invado aqui o espaço do inigualável Chico Silva para falar de automobilismo. Ou quase isso. Após penar na sofrível e hoje falida Honda, Rubens Barrichello está prestes a se aposentar de maneira forçada. Mas o descanso pode durar apenas um ano. A USF1, equipe estadunidense lançada na terça-feira e que estreará na Fórmula-1 em 2010, declarou publicamente o interesse em contar com o brasileiro já que, em seu primeiro ano na categoria, precisaria contar com um piloto rodado (no bom sentido). "Rubens Barrichello seria bom, pois experimentou dois anos ruins na Honda, o que seria uma coisa muito útil para nossa operação. Mas ele é quase o único dos pilotos que potencialmente preencheriam o papel de piloto experiente", disse Peter Windsor, diretor esportivo da agremiação.

 
Fotos comportadas porque esse é um blogue de família.
 
E, para acompanhar Barrichello na equipe, uma das apostas é Danica Patrick, que hoje disputa a F-Indy. Hoje ela integra a equipe Andretti-Green se destacou por ser a primeira mulher a vencer uma prova na categoria, no Japão em 2008. Certamente, como se sê nas fotos da moça, seria também uma bela jogada de marketing, podendo ajudar a combalida F-1, tão afetada pela crise econômica mundial.

Perdendo a freguesia

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Sexta-feira de Carnaval, nove e meia da manhã. Na calçada de esquina, em frente ao bar, dois foliões cozidos de cachaça dormem um sono de morte. O dono do estabalecimento chega, abre as portas e, com uma vassoura, vai cutucar os inoportunos.

- Pô! Isso é hora de abrir o bar? Muito cedo!, reage, indignado, o primeiro manguaça.

- Ó, é isso aí! Muito cedo! E tem mais: amanhã eu juro que vou procurar outro bar pra dormir!, ameaça, com cara feia, o segundo pingaiada...

domingo, fevereiro 22, 2009

O carnaval engajado

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“E um dia afinal/tinham direito a uma alegria fugaz/uma ofegante epidemia/que se chamava carnaval”. Era assim que Chico Buarque, em um quase samba-enredo, fazia o epitáfio da ditadura militar brasileira na épica “Vai Passar”. Não foi o primeiro e nem será o último a misturar a temática do carnaval com política. Aliás, a música foi utiilizada também para a derrotada campanha de FHC à prefeitura de São Paulo em 1985. O contexto da democratização facilitou a vida do então peemedebista, mas parece que Chico Buarque não se orgulha muito do fato não...

Curiosamente, no Brasil, em geral quem é muito afeito ao debate político costuma rejeitar as folias momescas, preferindo o descanso ou o refúgio daquilo que alguns chamam de apologia da alienação, festa comercial, exaltação de narcotraficantes, coisificação da mulher e várias outras críticas das bem pertinentes, aliás. Mas há muitos exemplos de associação de um dos temas-chaves desse blogue com os festejos celebrizados no Brasil.  

Se o evento midiático mais forte do carnaval é o desfile das esolas de samba do Rio de Janeiro, lá também surgiram alguns sambas-enredo bem-feitos e "engajados". A Caprichosos de Pilares se notabilizou na arte de trabalhar temas algo espinhosos com muito bom humor e seu apogue aconteceu no ano de 1985 (vídeo abaixo). Pedindo eleições diretas, o samba lembrava o passado sem inflação e pedia "Quero votar!". "Diretamente, o povo escolhia o presidente/Se comia mais feijão/Vovó botava a poupança no colchão/Hoje está tudo mudado/Tem muita gente no lugar errado".



A lembrança de outros tempos promovida pela letra também tinha uma auto-crítica, sobre a mudança de estilo dos desfiles de então e evocando a saudação aos sambistas antigos, culminando em um dos refrões mais célebres da história do carnaval. "Onde andam vocês, ô ô ô/Antigos carnavais?/Os sambistas imortais/Bordados de poesia/Velhos tempos que não voltam mais/E no progresso da folia.../Tem bumbum de fora pra chuchu/Qualquer dia é todo mundo nu...".

Sambas reflexivos e excelentes também foram a tônica de 1988, centenário da abolição da escravatura. Se a Vila Isabel venceu o carnaval homenageando Zumbi, figura à época ainda negligenciada por boa parte dos historiadores e ignorada nos livros de escola, certamente o samba mais cantado foi entoado por Jamelão, na Mangueira (vídeo abaixo). A letra questionava as condições do negro depois da abolição:"Será/Que já raiou a liberdade/Ou se foi tudo ilusão/Será/ que a Lei Áurea tão sonhada/Há tanto tempo assinada/Não foi o fim da escravidão". O refrão é, sem dúvida, um dos mais significativos da história da Sapucaí. "Pergunte ao Criador/Pergunte ao Criador/ quem pintou essa aquarela/Livre do açoite da senzala/Preso na miséria da favela". Virou até aula no exterior...



Ainda no Rio de Janeiro, também não dá pra esquecer o samba campeão da Vila Isabel em 2006, Soy loco por ti América - A Vila canta a latinidade. A polêmica surgiu por conta do patrocínio da PDVSA, estatal petrolífera venezuelana. Claro que a celeuma se deu por envolver Hugo Chávez, outros apoios financeiros comuns, como de prefeituras, governos de estado e até de ongs ambientalistas foram - e continuam sendo - solenemente ignorados e pouco discutidos pela mídia dita imparcial...

Mas o importante é que hoje carnaval e política se misturam à vontade sim. Sindicatos, como os bancários do Rio de Janeiro, que aproveitam a data para dar seu recado e defender o uso de preservativos, por exemplo. E serve até, quem diria, para explicar Karl Marx (vídeo abaixo). Portanto, não se envergonhe em curtir o samba nesse carnaval, ó, amante da política! Engajamento é que não vai faltar...

sábado, fevereiro 21, 2009

Reação da Lusa para Palmeiras no Paulista

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O título poderia ser "Keirrison breca arrancada da Portuguesa", já que a equipe não perde desde a segunda rodada e vinha de duas vitórias. Mas o foco inevitável é no líder do campeonato e seu tropeço. O empate no Canindé entre Portuguesa e Palmeiras representou o fim do 100% de aproveitamento do alviverde no Paulista, depois de perder na Libertadores a invencibilidade na temporada em jogos oficiais. O time continua sem perder na competição e com um ponto a mais do que o segundo, Corinthians, ainda com uma partida a menos.

Gols só saíram no segundo tempo, dois de Keirrison aos 8 (de pênalti) e aos 15. Com 2 a 0, os visitantes reduziram o ritmo e a Lusa acelerou. Edno, de pênalti, e Christian empataram a partida.

A produtividade mais baixa do Palmeiras, o nervosismo de Diego Souza e a falha da defesa no segundo gol da Portuguesa não podem ser atribuídos à derrota na partida contra a LDU.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Em busca do marafo perdido – Capítulo 3

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MARCÃO PALHARES

Eram duas da tarde e eu seguia uma bunda pela avenida principal. A mulher entrou numa casa de artigos para bebês e eu fui atrás, hipnotizado. Um vendedor me perguntou o que eu queria ali e me tirou do transe. Encabulado, comprei um jogo de babadores (algo muito apropriado para o vexame do meu instinto carnal mal reprimido). Peguei o embrulho, dei de presente para um padre que esbarrou em mim na calçada e corri sedento para o bar da esquina. Fazia um calor piauiense e já fui pedindo a primeira gelada. Tomei em quatro goles e puxei outra. Havia um cara de boina xadrez e anel de pedra vermelha, com um violão. E outro, com a camisa do Tuna Luso, tocando pandeiro. Ali por perto, no balcão, uma moça tinha os olhos fixos neles. Não era tão feia quanto parecia. Com o tempo, achei até que foi ficando interessante.

Devidamente encervejado, pedi um rabo de galo para reforçar. Pra comer só tinha ovo cozido, daqueles azuis, boiando num vidro de líquido nefasto. Pensei em pedir algum lanche, mas a visão de uma gaiola de periquitos cheia de excrementos, bem perto da chapa, me fez considerar que a mesma talvez não estivesse muito limpa. Talvez. A moça, que exalava um desodorante deveras enjoativo, dizia ao violeiro que era cantora. Queria dar uma canja. O homem palitou os dentes com a unha comprida do mindinho esquerdo e, entediado, assentiu. Ela escolheu uma música do Julio Iglesias, "Coração enamorado", e soltou o gogó. Deus pai todo poderoso!

Além de desafinada, a moça gaguejava e tinha uns cacoetes estranhos, ora adiantando, ora atrasando a letra. "Não pergunta nem responde/ Simplesmente satisfaz/ Sonhar/ Que existe amor cada vez mais". Uma voz aguda, irritante, perfurante. Mas o manguaça levou a música até o final no violão e, educado, agradeceu a "cantora". Ela até insinuou um "Agora toca aquela...", mas o pandeirista se encarregou de atravessar a inconveniente e apressou a voz num samba do Benito di Paula: "Você/ Ficou sem jeito e encabulada/ Ficou parada sem saber de nada...". Não sei se a moça percebeu a maldade da letra e o corte que levou do Tuna Luso, mas se calou com a sua boca sem feijão.

Eu já estava ali pelo segundo copo de Jurubeba Leão do Norte e me apiedei da criatura. Sentimentalismo de pinguço. Amor, paixão, casamento. Tudo isso passa pela cabeça de uma pessoa que começou o dia seguindo uma bunda e prosseguiu deglutindo nove cervejas, cinco doses de pinga da pior espécie com vermute barato e três jurubebas. "Você vem sempre aqui?", me lembro de ter perguntado. Não sei o que houve. Na cena seguinte, a moça estava no meu colo. Eu apertei sua mão e a marca dos meus dedos ficou impressa. Não entendi. Ela disse algo sobre doença de pele, erisipela, fungos ou coisa parecida. Depois me beijou, com hálito de Tatuzinho e tubaína de uva.

No pequeno apartamento, os colchões eram separados por varais com lençóis. Uma mulher gorda e com touca na cabeça, fumando, fazia miojo numa caçarola. Não tenho certeza, mas acho que me deitei e apaguei. A moça não gostou muito, pois buscou um balde com roupas de molho e atirou sobre mim. Fiquei atônito, no colchão encharcado. Houve bate-boca, a mulher do cigarro ameaçou me jogar o miojo na cara. Assim que tive a oportunidade, abri a porta e saí correndo. A moça do bar veio atrás, pelas escadas, me dando vassouradas. Cheguei à rua e entrei no primeiro táxi que vi, ainda molhado e fedendo sabão em pó vagabundo.

Parei num buteco de periferia e pedi um conhaque. O rádio tocava Julio Iglesias e comecei a divagar. Depois da décima segunda cerveja, me convenci de que tinha conhecido o amor da minha vida. Estava decidido: eu iria procurá-la. Não a moça, mas a mulher da touca, cigarro e miojo. Uma deusa! A vida é assim. Ninguém escapa.

(Continua quando o autor estiver sóbrio o suficiente para escrever...)

A culpa é do Esqueleto!

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Fuçando no Youtube, encontrei essa pérola de sabedoria e iluminação trazida até nós pelo homem mais forte do universo. Acompanhem a explicação de ninguém menos que He-Man para os desvarios do sistema financeiro.

Kléber, treze minutos, dois gols e dois cartões amarelos

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Foto: Vipcomm/Divulgação


Na estreia do Cruzeiro na Libertadores vinha sem gols quando o técnico Adilson Batista resolveu promover a primeira participação do atacante Kléber na equipe. Um minuto depois, de pênalti – sem árbitro mineiro, que fique claro – os mineiros saíram na frente do Estudiantes. Depois, Kléber fez dois gols e dois cartões amarelos. Não completou 15 minutos em campo. A primeira advertência foi por tirar a camisa na comemoração do gol. A segunda, a expulsão portanto, aconteceu aos 28 minutos, em uma falta sobre Verón.

Foram primeiros passos dignos de quem já foi chamado de "a besta" e contra quem se praguejou um futuro de Sandro Goiano. Mas também explicam porque a torcida do palmeiras reclamou tanto de sua saída.

Para o Cruzeiro, o cometa azul, segundo o Carlão, sacramentou a manutenção dos 100% de aproveitamento na temporada, coisa que o Palmeiras infelizmente não fez.

Sport
Outro brasileiro que iniciou sua trajetória na competição continental foi o Sport de Recife – e de Nelsinho Baptista e de camisa amarela. Venceu o Colo Colo no Monumental em Santiago do Chile por 2 a 1. No grupo, está empatado com a LDU com três pontos. Como foi o melhor resultado entre as equipes brasileiras, merecia mais do que apenas ser citado nesse post.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Paulo Maluf eterno

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Com meses de atraso, cumpro aqui o dever de repassar algo de interessante do livro "Ele - Maluf, trajetória da audácia", de Tão Gomes de Pinto (Ediouro, 2008). É claro que, de política, tem 400 causos interessantes, mas, pela falta de espaço, pincei um ou outro. Procurei atentar para fatos relacionados ao futebol e à cachaça, que também regristro aqui. Numa análise geral, gostei do livro, apesar de não ter o menor apreço pelo empresário e político Maluf, que chegou a ser preso em 2005.

Mas não se pode negar que é uma figuraça. Capaz de frases lapidares como essa: "Domingo na minha casa os meus filhos e netos comem quibes feitos pela nossa cozinheira. A minha sogra tem quarenta bisnetos que comem quibes e esfirras". Ou então de um incrível bom humor e auto-sarcasmo: "No município de Peruíbe, encontrei um muro com uma pichação gigante e uma seta apontando para o mar: 'Oceano Atlântico, obra de Maluf'". E de gestos de politicagem matreira como, numa cidade do interior de São Paulo, passar três horas decorando o obituário do jornalzinho local para saber, na ponta da língua, quais famílias (de eleitores, lógico) estavam passando pela dor do luto - e que mereceram suas condolências. Mas vamos a alguns trechos do livro:

Futebol
Maluf se orgulha de ter demolido a antiga concha acústica (foto à direita) do estádio Pacaembu em 1969, quando assumiu o cargo de prefeito nomeado (ou "biônico") em São Paulo, para construir o setor de arquibancadas que atualmente é conhecido como Tobogã. A obra causa polêmica ainda hoje, pois muita gente diz que a capacidade do estádio diminuiu, em vez de crescer. O governador José Serra (PSDB) chegou até a cogitar a hipótese de reconstruir a concha acústica. Já Maluf defende o Tobogã: "É incrível, mas é uma obra minha. Fui lá duas vezes durante a construção e inaugurei numa partida do Corinthians x Cruzeiro, de Belo Horizonte, em companhia do Carlos Caldeira Filho, dono da Folha. Ampliei a capacidade do Pacaembu de 35 mil para 44 mil torcedores". Há controvérsias...

Política
Como disse, o livro tem história a dar com pau, como, por exemplo, os bastidores da eleição indireta que derrotou Maluf e elegeu Tancredo Neves presidente, em 1985. Mas uma que me chamou a atenção, pela cara de pau, foi essa: "Durante o governo Geisel, em 1976, houve o desastre na Via Dutra e o Juscelino [Kubitschek] faleceu. Quatro anos depois, eu era governador de São Paulo e recebi um pedido de audiência de d. Sara Kubitschek. Imediatamente concedi-lhe a audiência e ela veio com o dr. Renato Azeredo, que é pai do atual senador Eduardo Azeredo e foi governador de Minas. (...) E d. Sara me pediu um auxílio para a construção do Memorial JK, em Brasília. (...) E disse: 'D. sara, quanto a senhora precisa para terminar esse memorial?'. Ela disse: 'Governador, preciso de 50 milhões de cruzeiros'. Na época devia ser uns 3 milhões de dólares. Como o dólar desvalorizou muito, seria hoje equivalente a uns 30 milhões de dólares. (...) Mandei uma mensagem para a Assembléia Legislativa de São Paulo, mas usei um truque. Porque São Paulo só poderia investir fora do seu território se fosse autorizado por lei. (...) O meu truque foi o seguinte: na minha exposição de motivos, eu pedia esse crédito suplementar sob a alegação de que Juscelino tinha sido o melhor governador que São Paulo havia tido. Se quiser ver, está lá nos anais. (...) Mas a verdade é que foi a colocação da indústria automobilística em São Paulo (...) que deu grande impulso ao Estado". Taí: foi assim que "doamos" mais de 60 milhões de reais para o Memorial JK (foto acima).

Cachaça
Uma passagem que Maluf fala de bebida mistura também bastidores políticos. Quando Paulo Egydio (foto à direita) era governador de São Paulo, na década de 1970, tentou abortar a carreira política de Maluf. "Do 'turco' eu me livrei!", chegou a afirmar ao senador Antonio Balbino, da Bahia. A estratégia era encostar Maluf num cargo em uma empresa fomentadora de exportação que praticamente nem existia. Mas o "turco" ainda tentou negociar a situação na manguaça: "Era uma noite muito fria. Fomos tomar um uísque e, naturalmente, decidir qual seria meu futuro no governo. Para minha sorte, ele não cumpriu nada do que prometera". Maluf declinou do convite para o cargo obscuro e voltou para a direção da empresa Eucatex. Depois, retomou a politicagem na Associação Comercial de São Paulo e, em seguida, conseguiu suceder o próprio Paulo Egydio no governo do Estado. De fato, uma raposa velha...

Provocação
Não poderia encerrar o post sem reproduzir a provocação de Maluf ao atual governo tucano de São Paulo, em relação ao desabamento de um trecho da obra da nova linha do Metrô: "Aquilo foi um erro de concepção do projeto do goveno e da Companhia do Metrô. Eles deveriam ter escolhido um projeto de execução mais fácil, como nós fizemos na Linha 1. Se tivessem escolhido um projeto diferente na Linha 4, aquela travessia poderia custar dez vezes menos. Porque uma ponte é muito mais barata do que um túnel". Tudo bem que crítica do Maluf é sempre discutível, mas ele traz à tona uma pauta que a imprensinha insiste em ignorar, para poupar o tão precioso PSDB.

PQFMTMNETA 7 - Ademar Braga, técnico corintiano (2006)

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Breve introdução aos que não conhecem a série: PQFMTMNETA é abreviação para "Parece que faz muito tempo, mas nem é tanto assim". Nesse espaço, mostraremos eventos do futebol acontecidos há, no máximo, cinco anos, que causaram polêmica na sua época, e que depois caíram no esquecimento.


PQFMTMNETA 7 - Ademar Braga, técnico corintiano (2006)

A última participação do Corinthians em uma Libertadores está na mente de quase todos os aficcionados por futebol. Pudera: o desfecho da empreitada alvinegra foi inesquecível. A derrota, a eliminação e, principalmente, o quebra-quebra que se viu no Pacaembu após o Corinthians perder para o River Plate ficaram em definitivo como um dos episódios mais marcantes do futebol brasileiro.

Mas apesar dessa lembrança, há um aspecto daquele jogo que dificilmente é respondido no bate-pronto por quem gosta de futebol. Quem era o técnico do Corinthians naquele dia? Antônio Lopes, campeão brasileiro meses antes? Geninho, imortalizado pelo "pega-pega" diante do mesmo River em 2003? Daniel Passarella, figura emblemática da parceria MSI/Corinthians?

Nada disso. O treinador alvinegro era Ademar Braga.

Braga é mais um entre tantos os interinos do futebol brasileiro que acabam ficando no cargo por mais tempo que previam. Ele integrava a comissão técnica do Corinthians desde 2005, como auxiliar. Chegou ao Parque São Jorge após uma carreira vasta, que teve início no futebol do Rio e passagens pelo chamado "mundo árabe".

Era apenas um assistente no Timão quando Antônio Lopes começou a balançar no cargo. O delegado nunca tinha chegado a emplacar no Parque São Jorge, verdade seja dita, apesar de ser o técnico do título brasileiro de 2005. Quando ele caiu, Ademar veio à tona e assumiu como interino. Mas de repente a diretoria corintiana resolveu bancar Braga, e afirmou que ele seria o técnico do time até o final da Libertadores.

Vale lembrar que aquela Libertadores era uma verdadeira obsessão no Corinthians. Trata-se do título mais importante que o clube não tem (e que todos os rivais têm, o que intensifica a meta), e, no contexto de 2006, era o que coroaria o projeto MSI. Todas as fichas do Corinthians e sua parceira estavam naquele campeonato. Mas não deu certo. O time até que fazia boa campanha no torneio, mas desandou quando teve o River pela frente. Perdeu por 3x2 na Argentina e até se animou para o jogo de volta; mas, no Pacaembu, o River sufocou o Corinthians e venceu, de virada, por 3x1.

Pouco após a eliminação na Libertadores acabava a era Ademar Braga. Ele perdeu o cargo para Geninho, que conseguiu fazer campanha ainda mais pífia. Foi o desfecho de uma rápida estada no mainstream de um técnico que chamou a atenção menos por inovações táticas do que pelo seu comportamento - a fala richarlysoniana e uma auto-declarada metrossexualidade fizeram de Ademar figura rara no mundo do futebol.

Comentários de um não-sãopaulino sobre um empate inusitado

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Passei o dia esperando que algum dos tricolores do Futepoca escrevesse sobre o empate de quarta-feira diante do Independiente de Medellin, em pleno Morumbi. Desde cedo já estava com meu comentário pronto, independentemente do teor do post que viesse. Como não veio, aí vão meus comentários:

1) Nunca tinha achado o Hernanes cai-cai. No jogo de ontem ele não foi bem, e teve seus momentos de tentar cavar faltas. Engraçado que em outros lances ele se segurava em pé tomando pernada. Vá entender...
2) Quando os meias não jogam o São Paulo é só balãozinho na área.
3) Alguém precisa aprender a marcar a jogada de pivô do Borges, que é muito bem feita, embora nem sempre dê resultado.
4) O Muricy, com razão, não confia em sua defesa neste ano. Caio Ribeiro, comentarista da globo, torceu mais que a vizinhança perto de casa. Mas não entendeu isso.
5) André Dias deveria ter sido expulso. Talvez duas vezes.
6) André Lima também, por um cotovelaço dentro da área.
7) O goleiro paraguaio Aldo Bobadilla foi impecável no jogo todo, até os 48 minutos quando espanou uma bola.



Ficou sem continuidade e bem restrito. Os comentaristas que completem.