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Visivelmente desinteressado do São Paulo neste ano, Aloísio (foto) deu um alô ao treinador Paulo Autuori (que pediu sua compra para o tricolor paulista no final de 2005) e conseguiu descolar um contrato de 11 meses com o Al-Rayyan, time do Qatar, por U$ 1 milhão (cerca de R$ 1,6 milhão). É justo: o cara está com 33 anos, quer fazer um belo pé de meia antes de pendurar as chuteiras e, afinal de contas, já tinha perdido vaga no time há muito tempo. Ser jogado para escanteio por Borges, Dagoberto, Adriano, Éder Luís e, por último, André Lima, não é mesmo uma situação muito favorável. Sua última partida marcante pelo São Paulo ocorreu há quase um ano, quando marcou o gol que despachou o Boca Juniors da Copa Sul-Americana. Pouco antes, aliás, pude ver uma estupenda atuação do alagoano, com dois golaços, nos 6 x 0 contra o Paraná, no Morumbi. Mas, após o tetracampeonato brasileiro, Aloísio se acomodou. E perdeu espaço.
No ano passado, cheguei a reclamar da improdutividade do atacante no São Paulo. Tudo bem que o tricolor terá um débito eterno com Aloísio, pela assistência magistral que deu para o volante Mineiro marcar o gol do título mundial contra o Liverpool, em dezembro de 2005. Mas não é possível que um time de centroavantes matadores como Serginho Chulapa (243 gols), Gino Orlando (239), França (182), Luís Fabiano (119) e Careca (115) tenha no ataque alguém que faça míseros 23 gols em 124 jogos, média de 0,18 por partida. Para se ter uma idéia, Kléber Pereira (acima) já fez 50 gols em 74 jogos pelo Santos, média de 0,67. É uma diferença abissal. Borges e Hugo, contratados em 2007, já fizeram 30 e 20 gols, respectivamente, pelo São Paulo. Claro, se formos falar em termos de títulos, Aloísio saiu-se muito bem nos quase três anos que defendeu o São Paulo: venceu um mundial e dois brasileiros. Mas o time perdeu vários jogos decisivos no período, alguns deles por inexplicáveis "apagões" - e falta de gols - do camisa 14.
Bom, mas que Aloísio seja feliz no Qatar. O que ficará para os são-paulinos, além do passe para Mineiro e dos muitos gols que deu puxando a marcação, fazendo o pivô ou sofrendo faltas para as cobranças de Rogério Ceni, é sua figura folclórica. O estilo trombador e a sinceridade do centroavante alagoano eram hilários. Em entrevista ao Leandro Canônico, do site Pelé.Net, por exemplo, Aloísio revelou uma história absurda de quando foi contratado pelo Rubin Kazan, da Rússia, em 2004: "Quando cheguei, os dirigentes me buscaram no aeroporto. Entrei na caminhonete e eles disseram que eu ficaria num hotel e depois procuraria apartamento. No local, vi um monte de gente de branco. Achei estranho, mas dormi lá e acordei no meio da noite escutando um monte de gritos. No dia seguinte, eu perguntei para a pessoa que estava responsável por mim o que tinha acontecido, porque parecia que alguém batia numa mulher. Daí que ele me explicou que, por falta de vaga nos hotéis, haviam me colocado num hospício. Aí eu disse que ia embora se não me tirassem de lá". Imaginem a situação do cabra...
Ps.: Me recuso a comentar qualquer coisa sobre o clássico de ontem, no Morumbi. Seria como teorizar sobre o vácuo, o vazio, o nada (igualzinho ao jogo do primeiro turno). Continuarei torcendo para que o Santos escape do rebaixamento. E para que o São Paulo consiga beliscar, ao menos, uma vaguinha na Libertadores. Mas até isso parece cada vez mais improvável.






















Fui convidado para escrever sobre Fórmula-1 neste site. Mas peço licença a vocês e ao Felipe Massa, que venceu sem contestação o GP da Europa (prova chatíssima disputada no belo circuito de rua de Valência), para falar um pouco sobre a campanha olímpica do Brasil em Pequim. Como alguns de vocês sabem, no último ano, por questões profissionais, mergulhei nas entranhas da estrutura que administra o esporte olímpico brasileiro. E dessa imersão tirei algumas conclusões que talvez ajudem a explicar o nosso desempenho apenas razoável na China (aliás, em todos os jogos anteriores), como bem definiu o presidente Lula (acima) no "Café com o presidente" de hoje.
Vamos a elas: nunca o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) recebeu tantos recursos e investimentos, sejam eles privados ou estatais, num ciclo olímpico. No total, passaram pelas mãos de Carlos Arthur Nuzman (à direita), presidente do COB, & companhia (leia-se: presidentes de confederações), cerca de R$ 1,2 bilhão. A maior parte desse dinheiro veio da Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias para COB, para as confederações de cada modalidade esportiva e para o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) - se bem que este último leva apenas 15% do bolo.
Como se nota, o problema deixou de ser a falta crônica de recursos e passou a ser a gestão deles. O COB, que tem como fonte própria apenas as verbas dos seus patrocinadores, administra esse dinheiro alheio como bem entende. O resultado disso é que esportes sem muita expressão e visibilidade acabam recebendo migalhas. São modalidades como tiro esportivo (à esquerda), lutas, levantamento de peso e tênis de mesa, só para citar algumas, que, para outros países, são verdadeiras usinas de medalhas. Por isso, se quiser ser uma potência olímpica, o Brasil terá que olhar mais para os esportes nanicos.
Como maior financiador do esporte de alto rendimento no país, o governo federal não pode se omitir da tarefa de fiscalizar e acompanhar o uso dos seus recursos, sejam eles diretos ou indiretos. Mas peralá: longe de mim defender uma intervenção federal na atividade. O que sugiro é a participação de todos os segmentos envolvidos, governo, COB, confederações e atletas, na decisão de como e onde aplicar esse dinheiro. O que não dá para aceitar é alguém administrando os bônus e repassando os ônus. Aí a vara quebra, o cavalo refuga, o uniforme encolhe e o país anda para trás na conquista de medalhas olímpicas (acima, à direita).















