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Escutava a partida pela rádio CBN no primeiro tempo enquanto me dirigia a um evento familiar em que seria absoluta minoria como torcedor peixeiro. Durante o caminho, só escutava jogadores do Santos mencionados na transmissão quando o comentarista Vitor Birner disse que o São Paulo era mais ofensivo que o Santos àquela altura, perto dos 30 minutos. Então, o locutor Deva Pascovitch deu um dado surpreendente para um clássico. Até aquele momento o Alvinegro tinha 64% da posse de bola, enquanto o Tricolor tinha 36%.
O comentarista se espantou com o dado, mas tentou justificar dizendo que a postura ofensiva são-paulina era porque ele tentava marcar o Santos no campo adversário. Contudo, o escrete litorâneo conseguia fazer a transição para o ataque tranquilamente. Curiosa a noção de ofensividade aplicada no caso mas, vendo depois os melhores momentos, foi possível ver que a formação de Dorival Junior fazia com que o time tivesse de fato mais facilidade na transição.
Para isso, o técnico sacou Pará e deslocou Wesley para a lateral-direita, o que foi uma bela sacada. Não fragilizou mais um setor que já era fragilizado e deu velocidade nos contra-ataques por aquele lado. Fora isso, Marquinhos na meia também deu um mais técnica para que a equipe chegasse à frente e soubesse tocar a bola quando necessário, sendo incisiva no momento oportuno.
Cheguei ao reduto são-paulino na hora da cobrança do pênalti de Neymar. Feito o tento, um tricolor não conteve a raiva e exclamou: "Humilhou o Rogério Ceni!". O segundo tempo prometia e eu teria que me conter.
A segunda etapa começava equilibrada, mas Ricardo Gomes sacou Washington e colocou Cléber Santana, tentando ganhar a disputa no meio de campo. E conseguiu por algum tempo. O São Paulo passou a buscar o resultado e jogar mais no campo alvinegro, embora não tenha tido, até fazer o gol, chances claras de marcar, exceção feita a um chute de Jean aos 17.
Após o empate aos 22, a partida seguiu equilibrada, e Zé Eduardo entrou no lugar de Marquinhos. Robinho já estava em campo no lugar de André e o Santos voltou a se movimentar com velocidade no ataque. Aos 30, depois de uma bela tabela com Neymar, Robinho finalizou (entendi que ele errou o chute) e Ceni salvou. Mas aos 41 não houve como evitar o gol alvinegro. Zé Eduardo dominou a bola na meia, passou para Wesley que descia na direita e o cruzamento veio para Robinho, de letra, completar diante de um ajoelhado goleiro tricolor.
De novo, o Santos exibiu lampejos de futebol-arte o que, para o futebol que se joga aqui hoje, não é pouca coisa. E Robinho mostrou o que pode fazer pela equipe e também pela seleção. Ainda que muitos torçam o nariz, ele será imprescindível para a equipe de Dunga.
Rogério Ceni, durante o intervalo, trocou algumas palavras com Neymar. A TV estava com o volume baixo e não vi o que teria sido dito. Depois, li que o arqueiro tricolor "avisou" o moleque que era para ele "aproveitar para fazer isso no Brasil, pois não é permitido na Europa. Isso não é paradinha, e sim um paradão". E reclamou completando, tal como Boris Casoy, que tem posições políticas semelhantes à dele, dizendo que "isso é uma vergonha".
Curiosamente, Ceni já fez paradinha, (pra quem não viu, o Victor do Blá Blá Gol recuperou uma delas, veja aqui). Claro que a ética de alguns boleiros é bastante maleável, basta classificar uma coisa como "paradinha" e outra como "paradona" que o dilema moral se resolve. Talvez ele tenha esquecido apenas que se adiantar na cobrança dos pênaltis é ilegal, e se alguém for ver onde o goleiro estava após a finta de Neymar, vai ter dimensão do quanto ele preza as regras do futebol.
Seria mais fácil se o goleiro pedisse que Neymar respeitasse os mais velhos.