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Por Vitor Nuzzi
Arrisco dizer que a maioria dos boleiros não gosta de ver aquelas notas que saem nas páginas de esporte após as rodadas. Eles estão certos. Nota para atuação de jogador é a mesma coisa que avaliação de jurado para escola de samba no carnaval. O fulano dá 9.4 para a escola x, enquanto beltrano manda 8.8 para a mesma escola, no mesmo quesito. Quem pode explicar essa diferença de 0.6?Para nota de jogadores, então, é pior. Um dá 9 e fala que o sujeito arrebentou e outro garante que o mesmo jogador pouco produziu (como se tivesse índice de produtividade em jogo de futebol) e dá 6. Isso quando a crítica dá a impressão que você viu outro jogo.
Chegou, então, a hora da vingança dos boleiros. Como diria Vandré, o cipó de aroeira de volta no lombo de quem mandou dar. É a vez de os jornalistas serem avaliados. E não adiantar chiar na coletiva!
Revisor: ficou tão preocupado com vírgula que deixou passar uma "paralisação" com z. Sem contar aquela concordância, a maioria "foram"... Foi mal. Nota 3.
Redator 1: como diria o poeta, abusou da regra 3. Tanto acostumou no recorta-e-cola que copiou um trecho inteiro escrito de um outro jogo. Merecia expulsão. Zero.
Redator 2: falou que o centroavante estava sumidão no jogo, mas sem ninguém pra tabelar e com três zagueiros em cima, queria o quê? Olha melhor na próxima. Nota 4.
Repórter 1: não prestou atenção no que rolava na entrevista e fez a mesmíssima pergunta que o colega havia feito dois minutos atrás. Pede pra sair! Nota 2.
Repórter 2: derrubou a pauta, perdeu as anotações, chegou atrasado... Já levou cartão amarelo e não se emenda. Quer ganhar o Troféu Balada? Nota 1.
Repórter 3: não quis passar informação pro colega? Passa a bola, fominha! Nota 4.
Comentarista 1: treino é treino, jogo é jogo. Futebol é caixinha de surpresas. Não tem mais time bobo no futebol. Nem ouvinte, que não aguenta mais ouvir chavão. Hora de reciclar. Nota 5.
Comentarista 2: o time A dominava até os 15 minutos, quando sofreu o gol e se desestruturou. Ou: o time B insistia no jogo aéreo... Ou ainda: o time C precisa justificar o favoritismo em campo. Fala sério, quantas vezes você já ouviu isso? Troca o disco. Nota 5.
Editor: trocou uma palavra-chave na matéria especial e cortou a matéria pelo joelho. Para arrematar, pôs um título nada-a-ver. A galera vaiou na arquibancada. Nota 4.
Arte/foto: trocou as fotos, as legendas... Reclamou da fotografia, que reclamou da arte, que reclamou do técnico. O time se perdeu em campo. Nota 2.
* Vitor Nuzzi gosta de futebol em qualquer época. Pôs os pés num estádio pela primeira vez aos 10 anos (tem 45) e não pretende tirá-los tão cedo, façam o que fizerem com a pobre bola. A sua seleção do São Paulo que viu jogar é Rogério; Zé Teodoro, Oscar, Dario Pereyra e Serginho; Chicão, Cafu, Raí e Pedro Rocha; Careca e Serginho Chulapa.